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Confira o Boletim na Íntegra - Instituto Brasileiro de Ciências Criminais

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Publicação do<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>Brasileiro</strong> <strong>de</strong> Ciências Crimi<strong>na</strong>is<br />

12<br />

feito em nossa obra sobre a lavagem <strong>de</strong> dinheiro. (3) O importante é mudar a<br />

postura em relação à análise da questão e verificar se a conduta do agente se<br />

manteve <strong>de</strong>ntro do marco profissio<strong>na</strong>l esperado (ato neutro), olvidando-se<br />

do elemento subjetivo como questão primordial à imputação.<br />

Nesse sentido, se existe um “ato neutro” o julgador não <strong>de</strong>ve<br />

avaliar se o agente fi<strong>na</strong>nceiro teve “conhecimento” <strong>de</strong> estar intervindo<br />

instrumentalizado ou não em um <strong>de</strong>lito alheio, ou se dito conhecimento<br />

não houve, mas, po<strong>de</strong>ria ser adquirido com uma diligência ordinária.<br />

Nesses casos, não existe tipicida<strong>de</strong> objetiva simplesmente por faltar<br />

o risco juridicamente <strong>de</strong>saprovado, sendo <strong>de</strong>snecessário a<strong>na</strong>lisar o<br />

elemento subjetivo.<br />

Por fim, também é necessário que se a<strong>na</strong>lise que tipo <strong>de</strong> conexão<br />

existe entre o agente fi<strong>na</strong>nceiro e o sujeito que pratica o <strong>de</strong>lito, pois<br />

a conexão da ação inicialmente neutra com a realização <strong>de</strong> um <strong>de</strong>lito<br />

realizado por outro é requisito necessário, mas, não é suficiente para<br />

afirmar a tipicida<strong>de</strong> da conduta. É pressuposto da tipicida<strong>de</strong>, mas,<br />

não é elemento que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> a relevância pe<strong>na</strong>l da conduta. Somente a<br />

concorrência <strong>de</strong> especiais circunstâncias que permitam concluir a<br />

existência <strong>de</strong> forma clara e unívoca <strong>de</strong> uma especial relação <strong>de</strong> sentido<br />

<strong>de</strong>litivo entre a conduta inicialmente neutra e o <strong>de</strong>lito po<strong>de</strong> modificar o<br />

caráter neutro da conduta e convertê-la em típica. (4)<br />

Assim, a utilização <strong>de</strong> um critério normativo permite uma melhor<br />

<strong>de</strong>limitação <strong>na</strong> imputação, participação e responsabilida<strong>de</strong> pe<strong>na</strong>l dos agentes<br />

fi<strong>na</strong>nceiros. Nessa linha <strong>de</strong> argumentação, não é qualquer “colaboração”<br />

<strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> profissio<strong>na</strong>l que “favoreça” a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>litiva que<br />

po<strong>de</strong> ser justificada como típica. O dolo ou o mero conhecimento não são<br />

suficientes para <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>r a relevância pe<strong>na</strong>l da conduta, mesmo quando<br />

os conhecimentos especiais do autor <strong>de</strong>vam ser consi<strong>de</strong>rados para a<br />

<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ção da tipicida<strong>de</strong> da concreta conduta a<strong>na</strong>lisada. (5)<br />

Nesse breve estudo, fica registrado que o conhecimento ou a relação<br />

<strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> são elementos importantes para afirmar a participação<br />

crimi<strong>na</strong>l <strong>de</strong> um agente fi<strong>na</strong>nceiro, porém, não são suficientes ainda<br />

para que se possa ter um juízo <strong>de</strong> certeza. A limitação <strong>de</strong>ve ser feita<br />

por meio da imputação objetiva, ou seja, da verificação dos critérios <strong>de</strong><br />

interpretação normativa do tipo pe<strong>na</strong>l.<br />

De acordo com isso, no julgamento da Ação Pe<strong>na</strong>l 470 ficaria muito<br />

mais claro afirmar que o sujeito criou com o seu comportamento um<br />

risco juridicamente não permitido para que se lhe imputasse a conduta<br />

<strong>de</strong>scrita no tipo pe<strong>na</strong>l.<br />

De outro lado e ape<strong>na</strong>s para fi<strong>na</strong>lizar, <strong>de</strong>ve-se separar a questão da<br />

prova dos <strong>de</strong>litos tradicio<strong>na</strong>is para os <strong>de</strong>litos fi<strong>na</strong>nceiros. Neste caso,<br />

(...) o conhecimento ou a relação <strong>de</strong><br />

causalida<strong>de</strong> são elementos importantes<br />

para afirmar a participação crimi<strong>na</strong>l <strong>de</strong> um<br />

agente fi<strong>na</strong>nceiro, porém, não são suficientes<br />

ainda para que se possa ter um juízo <strong>de</strong><br />

certeza. A limitação <strong>de</strong>ve ser feita por<br />

meio da imputação objetiva (...)<br />

dificilmente teremos uma prova como no homicídio ou <strong>na</strong>s lesões,<br />

com o tradicio<strong>na</strong>l exame <strong>de</strong> corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito. Nos crimes fi<strong>na</strong>nceiros a<br />

questão é mais complexa e a prova se dará pelo conjunto dos indícios<br />

que <strong>de</strong>verão restar provados, (6) o mesmo ocorrendo com a teoria da<br />

autoria e da participação. Dificilmente o autor intelectual praticará<br />

a conduta típica, fato que não impe<strong>de</strong> o reconhecimento da autoria<br />

nesses <strong>de</strong>litos.<br />

Notas:<br />

(1) ROXIN, Claus. Autoría y domínio <strong>de</strong>l hecho em <strong>de</strong>recho pe<strong>na</strong>l. Traducción<br />

<strong>de</strong> Joaquín Cuello Contreras y José Luis Serrano González <strong>de</strong> Murillo.<br />

Madrid: Marcial Pons, 1998. p. 79 e ss.; CALLEGARI, André Luís. Lavagem<br />

<strong>de</strong> dinheiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 93 e ss.<br />

(2) GÓMEZ-TRELLES, Javier Sánchez-Vera. Lavado <strong>de</strong> activos: critérios <strong>de</strong><br />

imputación por la actuación <strong>de</strong> profesio<strong>na</strong>les (notários, empleados <strong>de</strong><br />

activida<strong>de</strong>s fi<strong>na</strong>ncieras, etc.). El sistema pe<strong>na</strong>l normativista. Bogotá:<br />

Universidad Exter<strong>na</strong>do <strong>de</strong> Colombia, 2008. p. 547.<br />

(3) CALLEGARI, André Luís. Lavagem <strong>de</strong> dinheiro cit., p. 151 e ss.<br />

(4) PÉREZ MANZANO, Merce<strong>de</strong>s. Neutralidad <strong>de</strong>lictiva y blanqueo <strong>de</strong> capitals:<br />

el ejercicio <strong>de</strong> la abocacía y la tipiciad <strong>de</strong>l <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> blanqueo <strong>de</strong> capitales.<br />

Política crimi<strong>na</strong>l y blanqueo <strong>de</strong> capitales. Marcial Pons: Madrid, 2009. p. 174.<br />

(5) I<strong>de</strong>m, p. 173.<br />

(6) MONTAÑES PARDO, Miguel Angel. La presunción <strong>de</strong> inocencia. Madrid:<br />

Aranzadi Editorial, 1999. p. 106 e ss.<br />

André Luís Callegari<br />

Doutor em Direito Pe<strong>na</strong>l pela<br />

Universidad Autónoma <strong>de</strong> Madrid.<br />

Professor <strong>de</strong> Direito Pe<strong>na</strong>l <strong>na</strong> Unisinos.<br />

Advogado.<br />

Brevíssimas observações sobre a gestão<br />

fraudulenta <strong>na</strong> AP 470/STF (caso mensalão)<br />

Marcelo Almeida Ruivo<br />

I. Acerca do sentido do comentário<br />

Há países – talvez não por mera coincidência, doutri<strong>na</strong>lmente<br />

robustos – nos quais o comentário e também a crítica às <strong>de</strong>cisões<br />

judiciais fazem parte da primeira or<strong>de</strong>m dos <strong>de</strong>veres do universitário.<br />

Cabe ao investigador acadêmico auxiliar o <strong>de</strong>cisor <strong>na</strong> orientação dos<br />

caminhos, <strong>na</strong> i<strong>de</strong>ntificação das razões, custos e consequências <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>da tomada <strong>de</strong> posição. Pois, sabidamente a amplitu<strong>de</strong> e o<br />

tempo para a reflexão e ajuizamento doutri<strong>na</strong>l não são equivalentes aos<br />

dispostos aos magistrados em face da necessida<strong>de</strong> da tempestiva solução<br />

das li<strong>de</strong>s processuais (ajuizamento judicial). Entre nós, tal prática segue,<br />

infelizmente, sem ter gran<strong>de</strong> frequência, razão pela qual a falta do hábito<br />

acrescenta alguma dificulda<strong>de</strong> a essa tarefa.<br />

Entre as diversas questões interessantíssimas que o julgamento do<br />

item V da AP 470 (gestão fraudulenta <strong>de</strong> instituição fi<strong>na</strong>nceira) convoca<br />

– por coerência com os limites da presente proposta – apontam-se quatro<br />

pontos essenciais. Parte-se <strong>de</strong> uma observação introdutória <strong>de</strong> cunho<br />

axiológico com inequívoco aproveitamento político-crimi<strong>na</strong>l e, a partir<br />

<strong>de</strong>ssa base, apresentam-se os comentários dogmáticos. Destaque-se que<br />

– em razão da intenção <strong>de</strong> estrita observância ao rigor dogmático – não<br />

se <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> remeter aos aprofundamentos a<strong>na</strong>líticos <strong>de</strong>senvolvidos <strong>na</strong><br />

ANO 21 - Nº 242 - JANEIRO/2013 - ISSN 1676-3661

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