Confira o Boletim na Ãntegra - Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
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O mo<strong>de</strong>lo brasileiro <strong>de</strong> prevenção à lavagem<br />
<strong>de</strong> dinheiro: as repercussões da Ação Pe<strong>na</strong>l 470<br />
Eduardo Saad-Diniz<br />
A compreensão dos mo<strong>de</strong>los jurídico-pe<strong>na</strong>is <strong>de</strong> prevenção à<br />
lavagem <strong>de</strong> dinheiro no Brasil reveste <strong>de</strong> atualida<strong>de</strong> um problema<br />
que ainda em 1972 foi trazido por Klaus Tie<strong>de</strong>mann: “qual meio<br />
jurídico-pe<strong>na</strong>l seria o preferencial para um combate efi caz da<br />
crimi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> econômica?”. (1) A eficácia da prevenção aos <strong>de</strong>litos<br />
econômicos po<strong>de</strong> ser entendida <strong>de</strong> forma um tanto mais significativa<br />
do que o simples i<strong>de</strong>ário econômico “o crime não compensa”, segundo<br />
o qual bastava uma simples equação entre o cálculo dos rendimentos<br />
da ativida<strong>de</strong> ilícita e os custos da responsabilida<strong>de</strong> pe<strong>na</strong>l correlata. O<br />
problema suscitado por Tie<strong>de</strong>mann remonta, em verda<strong>de</strong>, à capacida<strong>de</strong><br />
que po<strong>de</strong> manifestar o Direito Pe<strong>na</strong>l <strong>na</strong> regulação estratégica do<br />
funcio<strong>na</strong>mento dos mercados, se po<strong>de</strong>m as normas pe<strong>na</strong>is, pelos<br />
processos <strong>de</strong> crimi<strong>na</strong>lização ou <strong>de</strong>scrimi<strong>na</strong>lização, produzirem efeitos<br />
positivos por meio da intervenção <strong>na</strong> or<strong>de</strong>m jurídica do mercado,<br />
elaborando mecanismos <strong>de</strong> proteção dos indivíduos em face da<br />
crescente danosida<strong>de</strong> social que lhes é imposta pelo po<strong>de</strong>r econômico<br />
das organizações empresariais.<br />
Assumindo o alto grau <strong>de</strong> especialização da crimi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong><br />
econômica e da lavagem <strong>de</strong> dinheiro, o problema do caminho<br />
preferencial para o Direito Pe<strong>na</strong>l <strong>de</strong>ixa exposto o a<strong>na</strong>cronismo <strong>de</strong><br />
suas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> representação tradicio<strong>na</strong>is, adstritas a padrões<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>veres jurídicos e atribuição <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> individual<br />
puramente reativos, em contraposição a uma socieda<strong>de</strong> econômica<br />
pós-tradicio<strong>na</strong>l, que di<strong>na</strong>miza a <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> <strong>de</strong>veres e dilui a<br />
responsabilida<strong>de</strong> no âmbito das organizações. E é justamente por<br />
essa razão que a legislação pe<strong>na</strong>l econômica brasileira recente,<br />
em maior ou menor medida integrada ao mo<strong>de</strong>lo constitucio<strong>na</strong>l<br />
<strong>de</strong> proteção da or<strong>de</strong>m socioeconômica (art. 170 e ss. da CF/1988),<br />
procura introduzir no or<strong>de</strong><strong>na</strong>mento jurídico-pe<strong>na</strong>l instrumentos<br />
dogmáticos que <strong>de</strong>em conta da elaboração <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
prevenção.<br />
Segundo este novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> prevenção, à indiferença da teoria<br />
do bem jurídico, haveria níveis <strong>de</strong> afetação social e instabilida<strong>de</strong> do<br />
or<strong>de</strong><strong>na</strong>mento jurídico suficientes para recomendar a proteção pe<strong>na</strong>l.<br />
Especificamente em relação ao <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> lavagem <strong>de</strong> dinheiro, a<br />
avaliação <strong>de</strong> Jens Bültesobre à danosida<strong>de</strong> social é bastante precisa:<br />
“(1) por meio da lavagem <strong>de</strong> dinheiro obtém-se o aumento <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r dos circuitos criminosos e terroristas, em razão dos recursos<br />
disponíveis a partir <strong>de</strong> fontes ilegais; (2) <strong>na</strong> lavagem <strong>de</strong> dinheiro,<br />
<strong>de</strong>litos não ape<strong>na</strong>s são acobertados, como valem a pe<strong>na</strong>. Isso faz<br />
mi<strong>na</strong>r a segurança jurídica e a confi ança no or<strong>de</strong><strong>na</strong>mento jurídico<br />
como um todo; (3) <strong>de</strong>corre da lavagem <strong>de</strong> dinheiro um efeito negativo<br />
<strong>na</strong> legitimação <strong>de</strong> instituições políticas, o que leva ao reforço da<br />
‘animosida<strong>de</strong> política’ e com isso, em últimas conseqüências,<br />
ao enfraquecimento da <strong>de</strong>mocracia enquanto tal; (4) não inci<strong>de</strong><br />
tributação sob o dinheiro lavado, afetando a receita; (5) o equilíbrio<br />
econômico e os mecanismos elementares <strong>de</strong> mercado po<strong>de</strong>m, por<br />
meio <strong>de</strong> volumosos fl uxos <strong>de</strong> capital, ser infl uenciados pela lavagem<br />
<strong>de</strong> dinheiro. Em casos extremos, perturbam-se as estruturas <strong>de</strong> todo<br />
o sistema estatal, levando seus cidadãos à miséria”. (2)<br />
O problema se tor<strong>na</strong> ainda mais complexo se os <strong>de</strong>litos econômicos<br />
e a lavagem <strong>de</strong> dinheiro mantêm vínculos com a corrupção política. Foi<br />
<strong>de</strong>sta íntima relação que se originou o julgamento da Ação Pe<strong>na</strong>l 470<br />
– o “escândalo do Mensalão” –, movido por “vazios <strong>de</strong> punibilida<strong>de</strong>”<br />
ou “sensação generalizada <strong>de</strong> impunida<strong>de</strong>” da socieda<strong>de</strong> brasileira<br />
9<br />
BOLETIM IBCCRIM - ISSN 1676-3661 -<br />
COORDENADOR-CHEFE:<br />
Rogério Fer<strong>na</strong>ndo Taffarello<br />
COORDENADORES ADJUNTOS:<br />
Cecília <strong>de</strong> Souza Santos,<br />
Cecilia Tripodi,<br />
José Carlos Abissamra Filho e<br />
Rafael Lira.<br />
CONSELHO EDITORIAL:<br />
Alberto Alonso Muñoz, Alexandre Pacheco Martins, A<strong>na</strong><br />
Elisa Liberatore S. Bechara, An<strong>de</strong>rson Bezerra Lopes,<br />
Andre Adriano Nascimento da Silva, André Azevedo,<br />
André Ricardo Godoy <strong>de</strong> Souza, Andre Pires <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />
Kehdi, Andrea Cristi<strong>na</strong> D´Angelo, Átila Pimenta Coelho<br />
Machado, Bruno Salles Pereira Ribeiro, Bruno Redondo,<br />
Carlos Roberto Isa, Caroline Braun, Cecilia Tripodi,<br />
Cláudia Barrilari, Christiany Pegorari, Conrado Almeida<br />
Corrêa Gontijo, Daniel Allan Burg, Daniel Del Cid, Danilo<br />
Dias Ticami, Danyelle da Silva Galvão, Diogo Duarte<br />
<strong>de</strong> Parra, Douglas Lima Goulart, Eduardo Augusto<br />
Paglione, Eleonora Rangel Nacif, Fabia<strong>na</strong> Za<strong>na</strong>tta<br />
Via<strong>na</strong>, Felipe Mello <strong>de</strong> Almeida, Fer<strong>na</strong>nda Caroli<strong>na</strong> <strong>de</strong><br />
Araújo, Fer<strong>na</strong>ndo Gardi<strong>na</strong>li, Flávia Guimarães Leardini,<br />
Guilherme Lobo Marchioni, Hugo Leo<strong>na</strong>rdo, Ila<strong>na</strong><br />
Martins Luz, Jacqueline do Prado Valles, Jamil Chaim<br />
Alves, José Carlos Abissamra Filho, Jovacy Peter Filho,<br />
Karlis Mirra Novickis, Larissa Palermo Fra<strong>de</strong>, Leopoldo<br />
Stefanno Gonçalves Leone Louveira, Marcel Figueiredo<br />
Gonçalves, Marco Aurélio Florêncio Filho, Maria Jamile<br />
José, Matheus Silveira Pupo, Milene Maurício, Nathália<br />
Rocha <strong>de</strong> Lima, Pedro Beretta, Rafael Carlsson Gaudio<br />
Custódio, Rafael Fecury Nogueira, Rafael Lira, Re<strong>na</strong>to<br />
Stanziola Vieira, Rodrigo Nascimento Dall´Acqua,<br />
Tatia<strong>na</strong> <strong>de</strong> Oliveira Stoco, Theodoro Balducci <strong>de</strong><br />
Oliveira e Vinícius Lapeti<strong>na</strong>.<br />
COLABORADORES DE PESQUISA DE JURISPRUDÊNCIA:<br />
Allan Aparecido Gonçalves Pereira, A<strong>na</strong> Elisa L. Bechara,<br />
André Adriano Nascimento Silva, Andrea D’Angelo, Bru<strong>na</strong><br />
Torres Cal<strong>de</strong>ira Brant, Camila Austregesi lo Vargas do<br />
Amaral, Cássia Fer<strong>na</strong>nda Pereira, Cás sio Rebouças <strong>de</strong><br />
Moraes, Cecilia Tripodi, Chiavelli Facenda Falavigno,<br />
Daniel Del Cid, Débora Thaís <strong>de</strong> Melo, Diogo H. Duarte<br />
<strong>de</strong> Par ra, Eduardo Samoel Fonseca, Eduardo Velloso Roos,<br />
Érica Santoro Lins Ferraz, Fabiano Yuji Takaya<strong>na</strong>gi,<br />
Felipe Bertoni, Fer<strong>na</strong>nda Caroli<strong>na</strong> <strong>de</strong> Araujo, Giancarlo<br />
Silku<strong>na</strong>s Vay, Gustavo Teixeira, Indaiá Lima Mota, Isabella<br />
Leal Pardini, Jacqueline do Prado Valles, João Henrique<br />
Imperia, José Carlos Abissamra Filho, Leopoldo Stefanno<br />
Leone Louveira, Luís Fer<strong>na</strong>ndo Bravo <strong>de</strong> Barros, Marcela<br />
Venturini Diorio, Marcos <strong>de</strong> Oliveira, Matias Dallacqua<br />
Illg, Milene Mauricio, Mônica Tavares, Nathália Oliveira,<br />
Nathália Rocha <strong>de</strong> Lima, Natasha Tamara Prau<strong>de</strong> Dias,<br />
Orlando Corrêa da Paixão, Paulo Alberto Gonzales<br />
Godinho, Priscila Pamela dos Santos, Re<strong>na</strong>n Macedo<br />
Villares Guimarães, Re<strong>na</strong>to Silvestre Marinho, Re<strong>na</strong>to<br />
Wata<strong>na</strong>be <strong>de</strong> Morais, Ricardo Stuchi Marcos, Roberta<br />
Werlang Coelho, Suzane Cristi<strong>na</strong> da Silva, Thaís Ta<strong>na</strong>ka e<br />
Thaísa Bernhardt Ribeiro.<br />
PROJETO GRÁFICO:<br />
Lili Lungarezi - lililungarezi@gmail.com<br />
PRODUÇÃO GRÁFICA:<br />
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O <strong>Boletim</strong> do IBCCRIM circula exclusivamente entre os associados e<br />
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O conteúdo dos artigos publicados expressa a opinião dos autores,<br />
pela qual respon<strong>de</strong>m, e não representa necessariamente a opinião<br />
<strong>de</strong>ste <strong>Instituto</strong>.<br />
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ANO 21 - Nº 242 - JANEIRO/2013 - ISSN 1676-3661