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Parto e Maternidade - Seminário Internacional Fazendo Gênero

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Em primeiro lugar, a redução e o enxugamento do Estado, orientações da política neoliberal<br />

que implicam na responsabilização do indivíduo pela promoção da sua própria condição de bemestar.<br />

Dessa forma a proliferação de políticas e programas que repassem aos indivíduos a<br />

responsabilidade pela sua situação econômica, política e social, tem por base esta lógica.<br />

Um segundo processo refere-se ao aprofundamento das desigualdades econômicas, sociais e<br />

culturais que decorre da conjunção da racionalidade neoliberal com o processo de globalização que<br />

impacta mais fortemente a vida das mulheres (sobretudo as mais pobres), em todo o mundo.<br />

O terceiro aspecto aponta a produção e desenvolvimento crescente de conhecimentos e<br />

novas tecnologias que descrevem e monitoram, antecipada e minuciosamente o desenvolvimento<br />

físico, cognitivo e emocional do feto e da criança, inscrevendo-o em uma ‘gramática da<br />

probabilidade e do risco’. Com ela, determinados grupos de mulheres são re-conhecidos,<br />

classificados e valorados como ‘mães de risco’ e transformados em sujeitos de práticas<br />

assistenciais, educativas e de controle sistemáticas e estandartizadas.<br />

Por último, as disputas que se vinculam ou desdobram tanto de políticas de estado quanto de<br />

lutas de movimentos sociais como o feminismo e o de defesa dos direitos humanos, no âmbito das<br />

quais a noção de direitos humanos universais é multiplicada e fraturada instituindo novos ‘sujeitos<br />

de direito’ como o feto, por exemplo, cujos direitos incidem sobre, contestam, ou colocam em<br />

suspenso os direitos de outros sujeitos com os quais estes se relacionam. Nesse contexto, condições<br />

de concepção, “ambientes” intra-uterinos e relações ‘saudáveis’ com o feto no útero e com a<br />

criança na primeira infância são concebidos e normatizados como direitos destes sujeitos e as<br />

mulheres que não oferecem ou produzem essas condições, ambientes e relações são posicionadas<br />

como desviantes, negligentes, ignorantes ou como criminosas em potencial.<br />

São, fundamentalmente, esses modos pelos quais mulheres e mães vêm sendo posicionadas<br />

e interpeladas por essas discursividades que constituem o que vimos chamando de ‘politização<br />

contemporânea do feminino e da maternidade’ em nosso grupo de orientação.<br />

Os diversos estudos realizados no âmbito do Grupo de Estudos de Educação e Relações de<br />

<strong>Gênero</strong>, que buscaram compreender e problematizar que significados e atribuições políticas e<br />

programas endereçados à família e às mulheres-mães produzem e veiculam nos permitem dizer que:<br />

1 – estes programas e políticas funcionam como artefatos culturais e que através de seus<br />

ensinamentos produzem identidades; 2 – suas medidas educativas pretendem transformar modos de<br />

ser e viver daqueles indivíduos que se encontram em situações de risco; 3 – nessas políticas e<br />

programas parte dos atributos da maternidade tem ligação com as representações de maternidade<br />

construídas durante os séculos XVIII e XIX, ou seja, há uma ressignificação e uma re-elaboração<br />

destes atributos para sua incorporação nas políticas e programas; 4 – há a incorporação e influência<br />

de reivindicações de movimentos sociais e de conhecimentos legitimados e autorizados a prescrever

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