A República e a Estrada de Ferro Therezopolis. Estudo sobre uma ...
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fundar a E. F. T. Tendo sido apresentados alguns antece<strong>de</strong>ntes da história da cida<strong>de</strong> e da<br />
empresa, nos <strong>de</strong>dicaremos à compreensão do contexto político e econômico em que ela<br />
foi fundada, assim como a i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> que foi revestida.<br />
Governo Provisório, “encilhamento” e i<strong>de</strong>ologia do progresso<br />
Antes <strong>de</strong> prosseguirmos à análise da conjuntura política e econômica em que foi<br />
concebido o projeto da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teresópolis e sua ferrovia, procuraremos fundamentar<br />
a i<strong>de</strong>ia que fazemos <strong>de</strong> “progresso”, central na compreensão da i<strong>de</strong>ologia republicana e<br />
liberal. Em seu já referido trabalho <strong>de</strong> tese <strong>de</strong> doutorado, André Azevedo traça <strong>uma</strong><br />
evolução histórica dos conceitos <strong>de</strong> “civilização” e “progresso” que nos permite<br />
observar aproximações e diferenças entre os mesmos. Surgido no século XVIII e<br />
tributário do Iluminismo, “civilização” seria um termo que abrangia <strong>uma</strong> série <strong>de</strong> novas<br />
i<strong>de</strong>ias não contidas em seu antecessor, “civilité”, que aplicava-se às regras <strong>de</strong> poli<strong>de</strong>z e<br />
etiqueta do Antigo Regime. Assim, “civilização” refere-se tanto ao <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
campo econômico como ao da História e, principalmente, à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>uma</strong> ação, o ato <strong>de</strong><br />
civilizar.<br />
O termo "civilização" expressa a consciência que o Oci<strong>de</strong>nte tem <strong>de</strong> si<br />
mesmo. Sua maneira <strong>de</strong> autoperceber-se, <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r-se como agente<br />
privilegiado <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento histórico que conduziria a um<br />
mundo sempre melhor, governado pela razão e seu movimento <strong>de</strong><br />
expansão. A própria idéia <strong>de</strong> movimento é característica à idéia <strong>de</strong><br />
civilização, pois esta era entendida como um processo dotado <strong>de</strong><br />
movimento firme e constante que se traduz em diversas formas<br />
<strong>de</strong>stinadas sempre à superação. A percepção da civilização como<br />
processo é típica da própria consciência histórica <strong>de</strong>senvolvida na<br />
Europa do século XVIII, que impulsionou o historicismo. Tal aspecto<br />
da idéia <strong>de</strong> civilização iria aproximá-la da idéia <strong>de</strong> progresso,<br />
suscitando <strong>uma</strong> imbricação que se esten<strong>de</strong>ria ao longo do século XIX.<br />
Muito embora tal imbricação tenha se <strong>de</strong>lineado e generalizado mais<br />
fortemente no Oitocentos, ela já está presente mesmo na origem, que<br />
nasce no século XVIII, não muito após a idéia <strong>de</strong> progresso.<br />
(AZEVEDO, 2003, pp.30-31)<br />
Havendo surgido no mesmo contexto, ambos os termos <strong>de</strong>notam um movimento<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento material, no entanto, “civilização” refere-se também a valores<br />
morais e intelectuais. Para Guizot, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “progresso” contida na <strong>de</strong> “civilização”,<br />
Anais do XXVI Simpósio Nacional <strong>de</strong> História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 10