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A República e a Estrada de Ferro Therezopolis. Estudo sobre uma ...

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sempre, substituíra-se o já e já! Quanto moroso, senão estéril no<br />

natural egoísmo, o pesado trabalho da terra, com seus hábitos<br />

arraigados, rotineiros! A indústria, sim, eis o legítimo escopo <strong>de</strong> um<br />

gran<strong>de</strong> povo mo<strong>de</strong>rno e que tem <strong>de</strong> aproveitar todas as lições da<br />

experiência e da civilização; a indústria, <strong>de</strong>mocrática nos seus intuitos,<br />

célere nos resultados, a fazer a felicida<strong>de</strong> dos operários, a valorizar e<br />

tresdobrar os capitais dos plutocratas, sempre em avanço e a progredir,<br />

tipo da verda<strong>de</strong>ira energia americana e a <strong>de</strong>sbancar, com seus<br />

inúmeros maquinismos, que dispensariam quase <strong>de</strong> todo o auxílio<br />

braçal, tudo quanto pu<strong>de</strong>sse haver <strong>de</strong> melhor e mais aperfeiçoado nos<br />

mercados estrangeiros! (TAUNAY, 1971, p.21)<br />

Chama a atenção, na narrativa <strong>de</strong> Taunay, que o mito da fonte inesgotável <strong>de</strong><br />

riquezas promove também a harmonização dos interesses antagônicos das classes<br />

sociais, consi<strong>de</strong>rando ser a indústria capaz <strong>de</strong> simultaneamente “fazer a felicida<strong>de</strong> dos<br />

operários” e “tresdobrar os capitais dos plutocratas”, além <strong>de</strong> dispensar “quase <strong>de</strong> todo o<br />

auxílio braçal”. O capitalista funcionante nem aparece nesta mitologia <strong>de</strong>scolada da<br />

produção material da realida<strong>de</strong> social. Toda a produção <strong>de</strong> riqueza está subsumida na<br />

ativida<strong>de</strong> do plutocrata e nos maquinismos da indústria que acabavam com o lento e<br />

pesado trabalho da terra. Esta visão contemporânea do “encilhamento” nos ajuda a<br />

compreen<strong>de</strong>r sob que argumentos a política econômica a serviço dos capitais<br />

monetários nacionais e estrangeiros foi implantada, eclipsando as contradições entre o<br />

processo <strong>de</strong> extração acelerada <strong>de</strong> lucro e a suposta “felicida<strong>de</strong> dos operários”. A<br />

questão do trabalho não <strong>de</strong>mandava a atenção, pois a escravidão fora abolida por lei no<br />

fim do Império e a ilusão da indústria que a República divulgou dizia que ela se<br />

encarregaria do bem-estar social por sua própria natureza.<br />

Em sua pesquisa <strong>sobre</strong> o projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> na selva que representou a<br />

ferrovia Ma<strong>de</strong>ira-Mamoré, Francisco Foot Hardman se <strong>de</strong>dicou a enten<strong>de</strong>r a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

fantasmagoria presente na dimensão simbólica das ferrovias, dando origem à sua obra<br />

Trem-fantasma. No prólogo, o autor explica que o impulso para a pesquisa foi buscar<br />

enten<strong>de</strong>r este fenômeno:<br />

Inquietaram-me <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a intensida<strong>de</strong> e rapi<strong>de</strong>z com que a<br />

Ma<strong>de</strong>ira-Mamoré virou lenda, com que seus vagões e locomotivas<br />

passaram ao imaginário como fantasmas. A incursão que ensaiei tem<br />

muito a ver com essas aparições. A partir daí, o trânsito do reino das<br />

fantasmagorias para o mundo dos espetáculos foi <strong>de</strong>corrência<br />

inevitável, e quase imediata. A Ma<strong>de</strong>ira-Mamoré era o espetáculo<br />

privilegiado da civilização capitalista na selva. (HARDMAN, 2005,<br />

p.25)<br />

Anais do XXVI Simpósio Nacional <strong>de</strong> História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 17

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