A República e a Estrada de Ferro Therezopolis. Estudo sobre uma ...
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tomados pelo Brasil após a proclamação da República. Conservador convicto, com<br />
carreira política iniciada na Guerra do Paraguai e terminada em 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />
1889, Alfredo d‟Escragnolle Taunay, nos oferece valiosas informações a respeito da<br />
generalização da ativida<strong>de</strong> financeira em suas Cenas contemporâneas da Bolsa do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro em 1890, 1891 e 1892, subtítulo da obra:<br />
Por <strong>sobre</strong> todos pairava <strong>uma</strong> ansieda<strong>de</strong> opressora, <strong>de</strong>liquescente, <strong>de</strong><br />
esperanças e receios, como que fluido in<strong>de</strong>finível, elétrico, febril,<br />
intenso, que, emergindo do seio da multidão, a envolvia em pesada<br />
atmosfera com prenúncios e flutuações <strong>de</strong> temporal certo, inevitável,<br />
mas ainda distante, longe, bem longe – a fome do ouro, a se<strong>de</strong> da<br />
riqueza, a sofreguidão do luxo, da posse, do <strong>de</strong>sperdício, da<br />
ostentação, do triunfo, tudo isso <strong>de</strong>pressa, muito <strong>de</strong>pressa, <strong>de</strong> um dia<br />
para o outro!<br />
Também nos rostos alegres e <strong>de</strong>sfeitos em riso, alguns não sombrios<br />
mas preocupados e sérios, se expandia <strong>uma</strong> alacrida<strong>de</strong> contrafeita,<br />
reflexos <strong>de</strong> sentimentos encontrados, a consciência <strong>de</strong> se estar<br />
empenhado até aos olhos num brinquedo, quando não jogo, perigoso,<br />
travado <strong>de</strong> riscos e <strong>de</strong>sastres iminentes, mas atraente, sedutor,<br />
irresistível. (TAUNAY, 1971, p.18)<br />
A <strong>de</strong>scrição da atmosfera que envolvia o novo “jogo <strong>de</strong> azar” do país vai ao<br />
encontro do que Virgínia Fontes <strong>de</strong>nomina um fetiche potencializado, que resulta da<br />
experiência imediata dos proprietários <strong>de</strong> massas <strong>de</strong> capital monetário espelhada para o<br />
conjunto da massa social. A autora adverte que a percepção unilateral do processo,<br />
referenciada no ponto <strong>de</strong> vista do capital monetário, po<strong>de</strong> contribuir à generalização dos<br />
mitos <strong>de</strong> que os lucros seriam produzidos na gestão intelectual dos riscos e taxas e que<br />
não haveria, portanto, função para o trabalho vivo. “Em outros termos, dissemina a<br />
suposição <strong>de</strong> que haja ativida<strong>de</strong>s puramente monetárias, sem envolvimento com os<br />
processos produtivos, como um puro produto da multiplicação do capital” (FONTES,<br />
2010, p.26).<br />
Este mito da multiplicação do capital através da pura ativida<strong>de</strong> financeira, no<br />
Brasil republicano que não se industrializara durante o período do capitalismo<br />
concorrencial e que conheceu o capital monetário ao mesmo tempo em que se instalava<br />
a ativida<strong>de</strong> industrial, surge na obra <strong>de</strong> Taunay mesclado a <strong>uma</strong> visão fantasmagórica da<br />
indústria, gerando riqueza a partir da simples especulação.<br />
Parecia in<strong>de</strong>clinável acabar <strong>de</strong> <strong>uma</strong> vez com todas as antigas práticas,<br />
transformar, quanto antes, as velhas tendências brasileiras <strong>de</strong><br />
acautelada morosida<strong>de</strong> e paciente procrastinação. Ao amanhã <strong>de</strong> todo<br />
Anais do XXVI Simpósio Nacional <strong>de</strong> História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 16