A República e a Estrada de Ferro Therezopolis. Estudo sobre uma ...
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governos fe<strong>de</strong>ral e estadual, cálculo da produção <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> pés <strong>de</strong><br />
café, diretoria <strong>de</strong> velhos e sisudos politicões, <strong>de</strong> barão para cima,<br />
vistosos narizes <strong>de</strong> cera, comissão fiscal toda puxada a substância,<br />
gente <strong>de</strong> truz, <strong>de</strong>ssa que zela a sua reputação e só quer o bem do país.<br />
– On<strong>de</strong> ficava a tal estrada? perguntou Menezes.<br />
– Ora, quem lá sabia? Pelo menos ele, Roberto, não lhe po<strong>de</strong>ria dizer,<br />
ainda que já lhe tivessem passado pelas mãos milhares <strong>de</strong>stas ações.<br />
Era o que menos importava – zona riquíssima, terras ubérrimas, roxas,<br />
amarelas, <strong>de</strong> todas as cores. (TAUNAY, 1971, p.27)<br />
Taunay nos escreve com sarcasmo <strong>sobre</strong> os empreen<strong>de</strong>dores e suas empresas,<br />
<strong>de</strong>screvendo personagens que parecemos encontrar <strong>de</strong>scolados da ficção na história da<br />
E.F.T. Assim como na companhia ferroviária do Barão <strong>de</strong> Lamarim, a empresa<br />
presidida pelo Barão <strong>de</strong> Mesquita conseguiu reunir diversos nomes <strong>de</strong> peso em sua<br />
diretoria e seu conselho fiscal. O vice-presi<strong>de</strong>nte era o Viscon<strong>de</strong> da Costa Franco; o<br />
secretário, o Barão <strong>de</strong> Campoli<strong>de</strong>; o conselho fiscal composto pelo Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Carvalhães, Comendador Domingos Moitinho, e Custódio Martins <strong>de</strong> Souza (VIEIRA,<br />
1934, p.9).<br />
Fundação da E.F.T. e criação do município <strong>de</strong> Teresópolis<br />
Armando Vieira, filho <strong>de</strong> José Augusto Vieira 4 e diretor da E.F.T., é a referência<br />
principal a todos que escreveram <strong>sobre</strong> a história local e a exaltação ao gênio <strong>de</strong> seu pai<br />
é central na sua obra, fundadora do “mito” Vieira. Com seus livros José Augusto Vieira.<br />
A <strong>Estrada</strong> <strong>de</strong> <strong>Ferro</strong> e a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Therezopolis</strong>, <strong>de</strong> 1934, e <strong>Therezopolis</strong>, <strong>de</strong> 1938,<br />
publica as primeiras obras <strong>sobre</strong> a história do município e da E.F.T. A biografia <strong>de</strong> seu<br />
pai inaugura a interpretação mítica do papel <strong>de</strong> José Augusto Vieira na construção da<br />
estrada <strong>de</strong> ferro que segue como paradigma da literatura e têm status <strong>de</strong> memória oficial<br />
do município – “os inauditos esforços” do “homem visionário e obstinado” se<br />
repetiriam nas obras posteriores <strong>sobre</strong> a história local. Seu livro <strong>sobre</strong> a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Teresópolis apresenta <strong>uma</strong> sistematização <strong>de</strong> referências à região durante os períodos<br />
colonial e imperial, a partir <strong>de</strong> sua pesquisa, e durante o período republicano, vivido por<br />
ele junto a seu pai na construção da cida<strong>de</strong>, da ferrovia, na administração da E.F.T. e<br />
sua transferência ao Estado.<br />
4 Buscando evitar confusões, Armando Vieira será sempre referida aqui com nome completo. Quando nos<br />
referirmos simplesmente a Vieira, estamos falando <strong>de</strong> seu pai, José Augusto Vieira.<br />
Anais do XXVI Simpósio Nacional <strong>de</strong> História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 22