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A República e a Estrada de Ferro Therezopolis. Estudo sobre uma ...

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Partindo <strong>de</strong>sta inquietação, a dialética fantasmagoria/espetáculo nas<br />

representações a respeito da ferrovia, Hardman retroce<strong>de</strong> à urbe do século XIX para<br />

buscar na intimida<strong>de</strong> entre mecanismo e teatro, entre ferrovia e literatura mo<strong>de</strong>rnista, a<br />

origem <strong>de</strong>sse encantamento. Analisa o mercado mundial do período <strong>de</strong>stacando sua<br />

concretu<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada do <strong>de</strong>senvolvimento da ferrovia e da navegação a vapor, “o que<br />

vale dizer, nesse caso, que a forma fetiche das mercadorias estava <strong>de</strong>finitivamente<br />

liberada para encantar toda a h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>” (HARDMAN, 2005, p.26).<br />

Foot Hardman recorre a diversas obras literárias da época como meio <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificar os símbolos pelos quais a ferrovia tornou-se referência e aqueles a que esteve<br />

associada na visão <strong>de</strong> seus contemporâneos. Des<strong>de</strong> pelo menos 1830, afirma que<br />

pintores e literatos já representavam o espaço urbano das gran<strong>de</strong>s metrópoles a partir <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>-fantasma, espaço no qual se dariam aparições/<strong>de</strong>saparições<br />

fugazes, tendo nos meios <strong>de</strong> transporte o motor a lhe imprimir sua alta velocida<strong>de</strong>. O<br />

conto “Perspectiva Nesvki”, <strong>de</strong> Nicolai Gogol, é o primeiro texto que analisa <strong>de</strong>sta<br />

forma, observando referências ao caráter ilusório do progresso material em exibição<br />

n<strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> avenida <strong>de</strong> São Petersburgo. Em especial à noite, a luz <strong>de</strong>moníaca da rua<br />

provocaria o engano e o sonho.<br />

O tema ressurge quando Hardman analisa notas <strong>de</strong> viagem <strong>de</strong> Dostoievski à<br />

Europa Oci<strong>de</strong>ntal, escritas em 1863. Diferente <strong>de</strong> <strong>uma</strong> São Petersburgo fantasmagórica<br />

e fantástica e <strong>de</strong> <strong>uma</strong> Paris higienizada e or<strong>de</strong>nada, Londres é vista pelo autor como <strong>uma</strong><br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida por seu aspecto satânico. Ao <strong>de</strong>screver a Exposição Universal <strong>de</strong><br />

Londres, em 1862, apresenta seu caráter como terrível e titânico, um espetáculo do<br />

progresso material que é compreendido a partir da referência bíblica a Baal e diante do<br />

qual é necessária “muita resistência espiritual e muita negação para não ce<strong>de</strong>r, (...) não<br />

aceitar o existente como sendo o i<strong>de</strong>al” (HARDMAN, 2005, p.44).<br />

Da literatura russa, Francisco Foot Hardman toma ainda um conto <strong>de</strong> Tchékhov<br />

– “Um caso clínico”, <strong>de</strong> 1898. Ao buscar o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>uma</strong> paciente proprietária <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> fábrica têxtil, revela-se ao médico-narrador o aspecto <strong>de</strong>moníaco da fábrica como<br />

base das relações h<strong>uma</strong>nas no povoado suburbano. Assim como a representaria Fritz<br />

Lang em seu filme Metropolis (1927), a fábrica do conto <strong>de</strong> Tchékhov tem janelas<br />

iluminadas pelo fogo do forno que se assemelhavam aos olhos do <strong>de</strong>mônio e emite<br />

f<strong>uma</strong>ça e ruído que envolvem todos em um ambiente infernal.<br />

Anais do XXVI Simpósio Nacional <strong>de</strong> História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 18

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