02.09.2014 Views

ANDREI TARKOVSKI - Instituto Moreira Salles

ANDREI TARKOVSKI - Instituto Moreira Salles

ANDREI TARKOVSKI - Instituto Moreira Salles

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A diferença básica é que a prosa e a poesia se<br />

servem de palavras, ao passo que o filme nasce<br />

da observação direta da vida. Isto é a base da<br />

poesia cinematográfica. A imagem cinematográfica<br />

é, por natureza, a observação de fenômenos<br />

que se desenrolam no tempo”.<br />

No cinema, portanto, pelo menos à primeira<br />

vista, temos um registro da vida, a realidade<br />

para ser vista uma segunda vez com emoção.<br />

Não uma cópia conforme do mundo, mas a realidade<br />

emocional. Ou, como dizia Eisenstein,<br />

a natureza não-indiferente, o mundo tal como<br />

ele é percebido pela natureza humana. Tarkovski<br />

parece estar de acordo com Eisenstein em<br />

um ponto – “a imagem cinematográfica é um<br />

conflito entre a realidade tal como ela aparece<br />

aos nossos olhos, e que queremos registrar<br />

no filme, e tal como temos consciência dela”<br />

– mas em total desacordo com a ideia de montagem<br />

tal como afirmada na década de 1920:<br />

“a imagem cinematográfica nasce durante a<br />

filmagem e só existe no interior do plano. Por<br />

isso dedico atenção especial ao passar do tempo<br />

dentro de cada plano de um filme, procuro<br />

fixar e reproduzir o tempo com toda precisão<br />

possível. A montagem apenas articula os planos,<br />

mas a vida de cada um deles, como a vida<br />

do organismo que eles formam, depende do<br />

tempo que corre dentro deles como veias que<br />

transportam o sangue de um corpo”.<br />

Andrei Roublev, por exemplo, “história do mais<br />

importante pintor russo do século XV contada<br />

de uma perspectiva contemporânea”, de<br />

acordo com o subtítulo do filme. Na aparência<br />

falta algo essencial para passar a sensação de<br />

estar diante do mundo como ele é. Falta algo<br />

que todo espectador espera encontrar quando<br />

o cinema promete contar a história de um<br />

pintor – falta o colorido. O filme é em preto e<br />

branco em parte porque Tarkovski considera a<br />

fotografia colorida menos real, “algo tão exótico<br />

e artificial quanto um retrato colorido de<br />

um parente”; e em parte porque para ser fiel à<br />

história de Roublev, “que viveu num mundo<br />

dominado pela brutalidade, é necessário dizer<br />

que em volta dele não existia espaço para a<br />

alegria das cores. O mundo em que Roublev<br />

viveu, podemos reconhecer hoje, era um mundo<br />

em preto e branco”. Cor, só mesmo na segunda<br />

realidade que ele criou em sua pintura.<br />

<strong>ANDREI</strong> <strong>TARKOVSKI</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!