ANDREI TARKOVSKI - Instituto Moreira Salles
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A diferença básica é que a prosa e a poesia se<br />
servem de palavras, ao passo que o filme nasce<br />
da observação direta da vida. Isto é a base da<br />
poesia cinematográfica. A imagem cinematográfica<br />
é, por natureza, a observação de fenômenos<br />
que se desenrolam no tempo”.<br />
No cinema, portanto, pelo menos à primeira<br />
vista, temos um registro da vida, a realidade<br />
para ser vista uma segunda vez com emoção.<br />
Não uma cópia conforme do mundo, mas a realidade<br />
emocional. Ou, como dizia Eisenstein,<br />
a natureza não-indiferente, o mundo tal como<br />
ele é percebido pela natureza humana. Tarkovski<br />
parece estar de acordo com Eisenstein em<br />
um ponto – “a imagem cinematográfica é um<br />
conflito entre a realidade tal como ela aparece<br />
aos nossos olhos, e que queremos registrar<br />
no filme, e tal como temos consciência dela”<br />
– mas em total desacordo com a ideia de montagem<br />
tal como afirmada na década de 1920:<br />
“a imagem cinematográfica nasce durante a<br />
filmagem e só existe no interior do plano. Por<br />
isso dedico atenção especial ao passar do tempo<br />
dentro de cada plano de um filme, procuro<br />
fixar e reproduzir o tempo com toda precisão<br />
possível. A montagem apenas articula os planos,<br />
mas a vida de cada um deles, como a vida<br />
do organismo que eles formam, depende do<br />
tempo que corre dentro deles como veias que<br />
transportam o sangue de um corpo”.<br />
Andrei Roublev, por exemplo, “história do mais<br />
importante pintor russo do século XV contada<br />
de uma perspectiva contemporânea”, de<br />
acordo com o subtítulo do filme. Na aparência<br />
falta algo essencial para passar a sensação de<br />
estar diante do mundo como ele é. Falta algo<br />
que todo espectador espera encontrar quando<br />
o cinema promete contar a história de um<br />
pintor – falta o colorido. O filme é em preto e<br />
branco em parte porque Tarkovski considera a<br />
fotografia colorida menos real, “algo tão exótico<br />
e artificial quanto um retrato colorido de<br />
um parente”; e em parte porque para ser fiel à<br />
história de Roublev, “que viveu num mundo<br />
dominado pela brutalidade, é necessário dizer<br />
que em volta dele não existia espaço para a<br />
alegria das cores. O mundo em que Roublev<br />
viveu, podemos reconhecer hoje, era um mundo<br />
em preto e branco”. Cor, só mesmo na segunda<br />
realidade que ele criou em sua pintura.<br />
<strong>ANDREI</strong> <strong>TARKOVSKI</strong>