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ANDREI TARKOVSKI - Instituto Moreira Salles

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apenas o que se mostra como um elemento<br />

do futuro filme, um componente essencial da<br />

imagem cinematográfica”.<br />

Para Tarkovski o cinema registra o tempo<br />

na forma de um acontecimento concreto.<br />

“O acontecimento pode ser um gesto, uma<br />

cena, até mesmo um objeto imóvel, contanto<br />

que esta imobilidade exista no curso real<br />

do tempo. Aí se encontra o específico da arte<br />

cinematográfica. Pode-se dizer que estes procedimentos<br />

são comuns a outras formas de<br />

arte. Pode-se dizer que o tempo é igualmente<br />

fundamental na música. É verdade. Mas o<br />

princípio é outro: a materialidade da vida só se<br />

encontra na música no limite de seu completo<br />

desaparecimento. A força do cinema, ao contrário,<br />

está na relação necessária e inseparável<br />

do filme com a matéria da realidade que nos<br />

cerca a cada instante”.<br />

Estas questões se encontram na origem de Andrei<br />

Roublev assim como este filme se encontra<br />

na origem do cinema que Tarkovski realizou<br />

depois dele. Por que a arte existe? - a pergunta<br />

formulada aqui repete-se nos filmes seguintes<br />

e a resposta esboçada aqui se estende pelos filmes<br />

seguintes, todos eles reafirmações de que<br />

a arte existe para revelar o sentido da vida. E<br />

mais, o personagem central do filme, o monge<br />

“que olha o mundo com olhos infantis, indefesos,<br />

e prega o amor e a bondade em meio<br />

às mais brutais e devastadoras formas de violência”,<br />

é um prenúncio dos personagens centrais<br />

de Solaris, Stalker, Nostalgia e O sacrifício,<br />

todos eles “pessoas incapazes de se adaptar à<br />

vida em termos práticos”. Andrei, na verdade,<br />

é um primeiro movimento em direção aos<br />

não-heróis dos filmes que Tarkovski realizou<br />

em seguida. Neles, personagens que “parecem<br />

crianças com motivações de adultos, adultoscrianças<br />

capazes de sacrificar-se em nome de<br />

um ideal nobre, de assumir a responsabilidade<br />

de outros”.<br />

Chris Kelvin (o astronauta na nave em órbita<br />

do planeta Solaris); Stalker (o guia do escritor<br />

e do cientista no passeio pela pantanosa<br />

e escura zona proibida); Andrei Gonchakov<br />

(o poeta que em Nostalgia protege a pequena<br />

vela como como quem paga uma promessa)<br />

ou Domenico (que, também em Nostalgia,<br />

tranca a família em casa para protegê-la do<br />

mundo) e Alexander (que em O sacrifício faz<br />

um voto de silêncio semelhante ao de Roublev<br />

e oferece sua casa em sacrifício para salvar o<br />

mundo) – todos eles, são adultos-crianças que<br />

“omo Como disse certa vez Dostoievski: ostoievski:<br />

A arte não espelha a vida.<br />

O artista não reproduz, produz.<br />

Cria a vida tal como ela não<br />

existia antes dele”.

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