ANDREI TARKOVSKI - Instituto Moreira Salles
ANDREI TARKOVSKI - Instituto Moreira Salles
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assumem a responsabilidade dos outros. “Personagens<br />
que, movidas por uma força anterior,<br />
agem com total liberdade, embora cercadas<br />
por outros que não se movem porque não<br />
contam com liberdade interior”, eles são um<br />
modo de concentrar num personagem a questão<br />
de Andrei Roublev. São, talvez, um modo<br />
de representar a arte numa persona, – processo<br />
análogo àquele usado para fixar o tempo num<br />
acontecimento concreto. São uma resposta ou<br />
pelo menos um convite a perguntar de novo<br />
a questão de Andrei e de Andrei (de Roublev<br />
e de Tarkovski) entre a destruição de Vladimir<br />
e o sino de Boriska: “A arte é necessária?<br />
Quem precisa dela? Na verdade, alguém precisa<br />
dela?”<br />
3.<br />
Talvez seja possivel identificar em dois episódios<br />
de Andrei Roublev a origem, ou um dos<br />
pontos de origem, dos adultos-crianças da segunda<br />
realidade dos filmes Tarkovski: O assalto<br />
e O sino. Os outros episódios do filme (que se<br />
compõe de um prólogo, sete episódios e um<br />
epílogo) são igualmente significativos, mas estes<br />
dois se destacam. E o segundo, um canto<br />
à criatividade, parece vir em resposta ao primeiro,<br />
um lamento diante de uma ação destruidora.<br />
Em O assalto, tártaros massacram a<br />
população da cidade de Vladimir. Em O sino,<br />
um jovem constrói um grande sino com uma<br />
técnica que ele mesmo inventou, mas atribuiu<br />
a seu pai para ser aceito pelos líderes da aldeia.<br />
Não são poucos os planos que retratam diretamente<br />
a violência do assalto à população de<br />
Vladimir. Não são poucos os planos que documentam<br />
a técnica usada pelo jovem Boriska<br />
para construir o sino. Mas a câmera, nestes<br />
momentos, não exatamente descreve o que os<br />
personagens fazem. Não age como a câmera<br />
de um documentário nem como a de uma ficção<br />
naturalista: ela registra mais a atmosfera<br />
em torno do acontecimento (sua aridez, sua<br />
umidade) do que o acontecimento propriamente<br />
dito. Assim, a violência do massacre é<br />
contada em imagens dos rostos dos agressores<br />
e a construção do sino, em imagens da tensão<br />
resultante do esforço para criar alguma coisa,<br />
do risco de assumir uma tarefa aparentemente<br />
irrealizável por um jovem de pouca experiência.<br />
Para contar uma história do século XV de<br />
uma perspectiva contemporânea, para man-<br />
<strong>ANDREI</strong> <strong>TARKOVSKI</strong>