Ca<strong>de</strong>rnos do CNLF, Vol. XVI, Nº 03 – <strong>Livro</strong> <strong>de</strong> <strong>Minicursos</strong> e <strong>Oficinas</strong> http://www.soportugues.com.br/secoes/maltratando/maltratando5.php. Acesso em 16-05-2012. http://www.soportugues.com.br/secoes/maltratando/maltratando10.php. Acesso em: 16-05-2012. (ABAURRE, 2008, p. 230) Ou seja, os autores <strong>de</strong>sses textos “não têm” o domínio da “Norma Culta”, logo, segundo o aluno citado, “não têm” capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prestar um bom serviço, “não têm” voz ou respeito no mundo escrito e “não têm” voz na socieda<strong>de</strong>. Nosso foco nas próximas páginas não será sobre os critérios que norteiam as correções e o cotidiano do ensino da Produção Textual, que serão problematizados futuramente em um capítulo <strong>de</strong> nossa tese. Entretanto, é sempre necessário <strong>de</strong>senhar o cenário em que estamos, e diante <strong>de</strong> tal não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> nos remetermos aos conceitos, às práticas discursivas ou políticas que permeiam a hora da escrita. Nesta linha <strong>de</strong> pensamento, ressaltamos que o que para muitos possa parecer somente o ensino <strong>de</strong> um dos critérios <strong>de</strong> correção da escrita <strong>de</strong> “um texto ou um bom texto” e “consequentemente” <strong>de</strong> acordo com a norma “culta”, seguindo regras gramaticais, é preciso enten<strong>de</strong>r que: 32
Ca<strong>de</strong>rnos do CNLF, Vol. XVI, Nº 03 – <strong>Livro</strong> <strong>de</strong> <strong>Minicursos</strong> e <strong>Oficinas</strong> “Como para toda prática <strong>de</strong> linguagem entre grupos diferentes (índios/brancos, professor/aluno, classe alta/classe baixa etc), as interlocuções [...] não se <strong>de</strong>vem ao domínio estrito das formas da gramática. As diferenças existem, mas são <strong>de</strong> outra or<strong>de</strong>m e tocam a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> sócio-política-i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong>sses grupos [...] resultam das relações <strong>de</strong> força – isto é dos diferentes lugares sociais que os locutores ocupam e que significam em suas vozes – e das relações, ou melhor, dos conflitos <strong>de</strong> sentidos, diríamos, mesmo, <strong>de</strong> luta pela legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes sentidos” (ORLANDI, GUIMARÃES e TARALLO, 1989, p. 08) (grifos dos autores). Então, o que é para os sujeitos “professor/aluno” um bom texto? Antes que inicie sua busca pela biblioteca mental e emocional, tiremos o adjetivo bom da frase, pois, para alcançarmos um bom texto é preciso antes, para a maioria dos mortais, escrever textos e textos. Sigamos para um dia em que uma aparentemente simples pergunta revelou mais do que as já concluídas leituras <strong>de</strong> alguns livros didáticos sobre Redação. Vamos para o dia em que mais uma aula <strong>de</strong> Produção Textual se iniciava, mas <strong>de</strong>ssa vez um pouco diferente. Como na maioria dos anos e escolas brasileiras, em fevereiro iniciamos mais um ano letivo e, consequentemente, conhecemos nossas novas turmas. Mas o planejamento daquele ano tinha mudado um pouco. Queria saber dos alunos, afinal, o que eles consi<strong>de</strong>ravam um texto? A pergunta foi tirada <strong>de</strong> um livro didático, mas nas aulas anteriores ou ela não era feita às turmas ou quando feita eram “ouvidos” somente os que “sabiam” a resposta, seguida da <strong>de</strong>finição/explicação dada pelo autor. Então, após uma conversa inicial com os novos alunos, escrevi a curta e aparente simples pergunta: 4. O que é um texto? Definir tal conceito po<strong>de</strong> parecer para muitos um novo embarque no assustador trem fantasma da Redação Minhas férias. Afinal, todos os estudantes alfabetizados já leram, fizerem provas e, provavelmente, já escreveram um texto. Logo, para que ter <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir? Entretanto, não é a <strong>de</strong>finição que objetivávamos, mas justamente conhecer os estudantes, pois como aponta Orlandi, “o discurso pedagógico não dá importância à compreensão: ou aluno já tem as condições favoráveis ou ele <strong>de</strong>cora, repete, imita” (ORLANDI, 1987, p. 187). Imitar, este é o verbo que muitas vezes ocupa o lugar do escrever um texto. Como po<strong>de</strong>mos fazer algo que não enten<strong>de</strong>mos muito bem o que seja? Como produzir um texto se não enten<strong>de</strong>mos a(s) palavra(s) para além <strong>de</strong> seu seus sentidos mais básicos? É preciso compreen<strong>de</strong>rmos o que é a palavra - esta célula, corpo, poro, cérebro, vida e humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um texto -, e, para tal, recorremos à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Bakhtin : “a palavra é o signo i<strong>de</strong>ológico por excelência; ela registra as menores variações das relações sociais, mas isso não vale somente para os sistemas i<strong>de</strong>ológicos constituídos, já que a ‘i<strong>de</strong>ologia do cotidiano’, que se exprime na vida corrente, é o cadinho on<strong>de</strong> se formam e se renovam as i<strong>de</strong>ologias constituídas” (BAKHTIN, 1990, p. 16). Mas quando chegamos aos nossos primeiros dias <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> Produção Textual e não temos i<strong>de</strong>ia do que os futuros escritores enten<strong>de</strong>m como processo <strong>de</strong> escrever, não estamos trazendo para nossas salas <strong>de</strong> aula as angústias <strong>de</strong> se entrar em um túnel escuro sem sabermos a que momento nos <strong>de</strong>pararemos com um novo ou terrível fantasma? Sabemos que sairemos do túnel em alguns minutos, ou melhor, algumas 25 a 30 linhas <strong>de</strong>pois, mas quando chegarmos aos nossos <strong>de</strong>stinos saberemos como narrar os sustos e medos? Sempre há os que gostam do terror, do suspense, do in<strong>de</strong>finido!, pensará o leitor. Porém, não no momento <strong>de</strong> ser avaliado, principalmente em uma Produção Textual. Nesse momento é preciso tudo às claras, regras bem <strong>de</strong>finidas, critérios os mais justos e imparciais possíveis. É preciso realmente compreen<strong>de</strong>r o que é um texto para que produzi-lo não seja sempre um terrível trem cheio <strong>de</strong> fantasma, medos e gritos que não se sabe <strong>de</strong> quem vem. E quem fica em silencio está menos assustado? Voltemos àquele fevereiro na sala <strong>de</strong> aula. Após lançada a pergunta acima e mais outras quatro que serão apresentadas posteriormente, um silêncio preocupante tomou conta da sala, 33
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