Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
masculino. 13 A apropriação do corpo feminino, como objeto <strong>de</strong> saber e <strong>de</strong> prática, permite<br />
que os mo<strong>de</strong>los médicos para as mulheres apresentem características <strong>de</strong>finidas <strong>de</strong> acordo<br />
com as expectativas da socieda<strong>de</strong>. É neste contexto, que a medicalização daquele corpo se<br />
consolida, <strong>de</strong>vido não só ao interesse científico em ‘<strong>de</strong>svendá-lo’, como também <strong>de</strong><br />
entendê-lo (DEL PRIORE, 1995; ROHDEN, 2001).<br />
Como conta Del Priore (1997), o saber da medicina sobre o corpo da mulher foi<br />
construído por uma visão androcêntrica e estigmatizante do olhar masculino, que<br />
consi<strong>de</strong>rava as mulheres portadoras <strong>de</strong> um mistério, cujos corpos eram tidos como “um<br />
palco nebuloso e obscuro”. Esse olhar era fruto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sconhecimento da anatomia, da<br />
ignorância da fisiologia e das fantasias sobre esse corpo (DEL PRIORE, 1995). Segundo<br />
Bourdieu (1999), esse processo <strong>de</strong> construção histórica da sexualida<strong>de</strong> fez surgir uma<br />
concepção do pensamento androcêntrico, cuja or<strong>de</strong>m seria <strong>de</strong>terminada pela incorporação<br />
<strong>de</strong> um preconceito <strong>de</strong>sfavorável contra o feminino.<br />
Uma suposta ‘natureza feminina’ funda o discurso qualitativo médico-social.<br />
Intervenções médicas foram realizadas com o intuito <strong>de</strong> ampliarem o processo <strong>de</strong><br />
medicalização do corpo feminino, on<strong>de</strong> o saber das mulheres sobre seu próprio corpo<br />
passaria a ser interpretado como um saber <strong>de</strong>squalificado (VIEIRA, 2002a) e que se<br />
esten<strong>de</strong>ria até os dias atuais:<br />
Geralmente a gente confia no médico, afinal ele é o médico, o doutor. É um<br />
homem, doutor. E a gente é mulher, tem peito e não sabe <strong>de</strong> nada (Marina, reunião<br />
das mães – 10 set. 2002). 14<br />
Segundo Vieira (2002a), a discussão da medicalização na socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal iniciouse<br />
em 1970 e entendia que as concepções que norteavam a medicalização do corpo da<br />
mulher o tomavam exclusivamente como entida<strong>de</strong> biológica, reduzindo-o ao seu aspecto<br />
orgânico, além <strong>de</strong> ter transformado esse corpo em objeto <strong>de</strong> saber e <strong>de</strong> prática dominado<br />
13 A este respeito, Roh<strong>de</strong>n (2001) acrescenta que a especificida<strong>de</strong> da medicalização que ocorre nos corpos dos<br />
homens está relacionada com fatores externos que ocorrem com esses corpos e que po<strong>de</strong>m afetar a sua<br />
<strong>de</strong>scendência, no caso as doenças como a sífilis.<br />
14 Relato obtido durante meu trabalho <strong>de</strong> campo.