03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

e <strong>de</strong> suas conquistas para as mulheres, apesar <strong>de</strong> ter acontecido com menos<br />

questionamentos do que ocorrera nos outros países. Outra característica diferente, em<br />

relação a essa inserção, foi a concepção que se tinha “<strong>de</strong> que as mulheres seriam as<br />

profissionais a<strong>de</strong>quadas para aten<strong>de</strong>r as outras mulheres e as crianças” (Ibid., p. 8), on<strong>de</strong><br />

estivesse presente a questão sobre reprodução e infância (Ibid.).<br />

Para os médicos, se o corpo da mulher estava apto para a maternida<strong>de</strong> e a<br />

procriação, mães e filhos teriam que ser indissociáveis. Cabia exclusivamente à mãe a<br />

criação dos filhos, dando ênfase ao cuidado <strong>de</strong> sua saú<strong>de</strong> física e mental. “Tornar os laços<br />

entre mães e filhos naturalmente indissolúveis. Da observação dos médicos sobre o corpo<br />

da mulher, no período colonial, nasceu uma <strong>de</strong>finição antropológica sobre uma natureza da<br />

mulher, que estaria estreitamente ligada à maternida<strong>de</strong>” (DEL PRIORE, 1995).<br />

A mulher passa a ser <strong>de</strong>finida por uma or<strong>de</strong>m médico-sócio-moral, sendo sua<br />

função orgânica e sua constituição física as bases para se legitimar tais pressupostos. Cabia<br />

à mulher seguir o que a sua natureza lhe <strong>de</strong>ra, legitimado por um discurso médico que<br />

confinava a mulher a um papel social <strong>de</strong> mulher saudável, feliz, mãe <strong>de</strong> família e guardiã<br />

das virtu<strong>de</strong>s e dos valores eternos (BERRIOT-SALVADORE, 1991).<br />

É nesta perspectiva que, no final do século XVIII, se passou a estabelecer um lugar<br />

privilegiado para as mulheres nos hospitais, através do estabelecimento <strong>de</strong> maternida<strong>de</strong>s e<br />

<strong>de</strong> criações <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consultas ginecológicas, que aliavam o saber médico com a<br />

eficácia da terapia (FOUCAULT, 2003b). Até então, os acessos aos leitos <strong>de</strong>sses hospitais<br />

eram proibidos para esses médicos-ginecologistas (ROHDEN, 2001).<br />

Corbain (1991) assinala que o médico torna-se íntimo da família abastada, e suas<br />

orientações, como a higiene, passam a ser seguidas com rigor por essas: o médico passa a<br />

conhecer a intimida<strong>de</strong> da família, alia-se, principalmente, com as mulheres, por serem elas<br />

“que gerenciam as coisas da saú<strong>de</strong>” (Ibid., p. 595) no interior da família. O autor atesta<br />

ainda que essa obediência às instruções médicas tem, como conseqüência, uma apropriação<br />

dos conhecimentos que eram transmitidos <strong>de</strong> mãe para filha.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!