03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

não mais como cópias <strong>de</strong>feituosas dos homens, mas como corpos acabados e singulares. O<br />

discurso científico recorre à natureza para justificar e legitimar o papel <strong>de</strong> cada sexo na<br />

socieda<strong>de</strong>, já que ele estaria inscrito na própria natureza (Ibid.).<br />

Até meados do século XVII, as mulheres eram tidas pela medicina como portadoras<br />

<strong>de</strong> um mistério a ser <strong>de</strong>svendado, consi<strong>de</strong>radas um tabu para os homens e para os médicos.<br />

A ciência buscava atrelar sua condição biológica a um conteúdo moral, on<strong>de</strong> essa natureza<br />

feminina explicaria e revelaria tanto sua patologia quanto sua moral (DEL PRIORE, 1995).<br />

Alguns autores, como Berriot-Salvadore (1991), Del Priore (1995), Laqueur (2001)<br />

e Roh<strong>de</strong>n (2001) esclarecem que foi a partir do <strong>de</strong>senvolvimento do estudo da anatomia,<br />

que esse conhecimento da “natureza” das mulheres e da função <strong>de</strong> cada sexo passaram a<br />

influenciar o modo <strong>de</strong> pensar as suas diferenças na or<strong>de</strong>m do mundo e da socieda<strong>de</strong>.<br />

Especialida<strong>de</strong>s médicas, como a ginecologia e a obstetrícia, surgem para explicar a<br />

“inferiorida<strong>de</strong>” social da mulher, verificada e constatada com bases na ciência.<br />

De acordo com Berriot-Salvadore (1991), a principal característica do discurso<br />

médico era o <strong>de</strong> servir a um discurso dominante da elite – jurídicos, teológicos, científicos -<br />

para assegurar e justificar o papel social reservado às mulheres na família e na socieda<strong>de</strong>.<br />

O tema do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> disciplinarização do sexo aparece <strong>de</strong><br />

forma recorrente em trabalhos como <strong>de</strong> Berriot-Salvadore (1991), Del Priore (1995, 1997),<br />

Foucault (2003), Laqueur (2001), Nunes (1982), Roh<strong>de</strong>n (2001), Vieira (2002a), tendo<br />

como eixo norteador a normatização do corpo da mulher através <strong>de</strong> códigos <strong>de</strong><br />

comportamentos vigentes estabelecidos por preceitos morais sob a forma <strong>de</strong> normas<br />

médicas, jurídicas e religiosas subordinadas aos interesses do Estado.<br />

A medicina utilizou-se do seu conhecimento sobre a fisiologia das mulheres para,<br />

através <strong>de</strong> um discurso sobre o físico, estabelecer uma ação moralizante, num projeto<br />

calcado pela Igreja, com o mo<strong>de</strong>lo da “boa-e-santa-mãe”, valorizando o matrimônio, e pelo<br />

Estado, com o “aprisionamento” da mulher no interior <strong>de</strong> seu lar (DEL PRIORE, 1995).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!