Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Passam também a <strong>de</strong>sconfiarem das parteiras, <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r excessivo, e <strong>de</strong><br />
segredos passados <strong>de</strong> geração em geração. Obras que tiveram mais influência na história da<br />
obstetrícia – as do alemão Rösslin, do clínico francês Ambroise Paré, do português<br />
Rodrigues Castro e Mauriceau (BERRIOT-SALVADORE, 1991).<br />
A prática da obstetrícia passou a ser dominada pelos médicos, exigindo <strong>de</strong>les uma<br />
prática mais humana no que se refere ao sofrimento das mulheres na hora do parto e um<br />
maior respeito pela vida <strong>de</strong>las, em <strong>de</strong>corrência das muitas mulheres que morreram ou<br />
sofreram mutilações provocadas por erros das parteiras ou por cirurgiões <strong>de</strong>spreparados<br />
(VIEIRA, 2002). Essa compaixão, como aponta Berriot-Salvadore (1991), era<br />
acompanhada <strong>de</strong> um sentimento ambivalente. Ao mesmo tempo em que possibilitou<br />
melhoras na vida das mulheres, <strong>de</strong>ixou claro que não era possível realizar partos sem a<br />
intervenção médica:<br />
“A carida<strong>de</strong> do clínico é proporcional (...) ao sentimento da sua superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
homem, tão miserável lhe parece a condição feminina, sujeita às mais numerosas<br />
doenças e a mais difícil das provas, o parto” (BERRIOT-SALVADORE, 1991, p.<br />
449)<br />
No Brasil colonial, a prática <strong>de</strong> partejar também era função exclusiva <strong>de</strong> comadres,<br />
apara<strong>de</strong>iras, até o século XIX, inclusive para as mulheres ricas e nobres (VEIRA, 2002).<br />
Muitas vezes elas eram as únicas fontes <strong>de</strong> cuidado médico das mulheres (KARASCH,<br />
2000). Elas exerciam o que se chamava <strong>de</strong> uma medicina rústica, associando seus<br />
conhecimentos sobre ervas medicinais, medicamentos caseiros, trocavam entre elas<br />
informações, fórmulas, transmitindo e difundindo esses conhecimentos <strong>de</strong> geração para<br />
geração, sobressaindo-se como “doutores sem título”, tecendo um conhecimento informal<br />
sobre o corpo da mulher (ARAÚJO, 1997; DEL PRIORE, 1995).<br />
Devido a extensão territorial do país, muitas <strong>de</strong>ssas mulheres também exerciam uma<br />
medicina informal nas zonas rurais e nos povoados, conforme nos conta Del Priore (1997),<br />
já que a maioria dos médicos, poucos no total, encontravam-se nas principais vilas, cida<strong>de</strong>s