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Dissertação Daniel Brinckmann Teixeira - Unisc

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU<br />

MESTRADO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL<br />

<strong>Daniel</strong> <strong>Brinckmann</strong> <strong>Teixeira</strong><br />

ANÁLISE DO DESEMPENHO TECNOLÓGICO E AMBIENTAL DE PRODUTOS<br />

CERÂMICOS CONTENDO RESÍDUO INDUSTRIAL COMO MATERIAL<br />

AGREGADO<br />

Santa Cruz do Sul<br />

2012


2<br />

<strong>Daniel</strong> <strong>Brinckmann</strong> <strong>Teixeira</strong><br />

ANÁLISE DO DESEMPENHO TECNOLÓGICO E AMBIENTAL DE PRODUTOS<br />

CERÂMICOS CONTENDO RESÍDUO INDUSTRIAL COMO MATERIAL<br />

AGREGADO<br />

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-<br />

Graduação Strictu Sensu – Mestrado em<br />

Tecnologia Ambiental da Universidade de<br />

Santa Cruz do Sul, na área de concentração:<br />

Reciclagem, Tratamento e Disposição de<br />

Resíduos Sólidos, como requisito parcial para<br />

obtenção do título de Mestre em Tecnologia<br />

Ambiental.<br />

Profª. Orientadora: Dra. Adriane Lawisch<br />

Rodríguez<br />

Santa Cruz do Sul<br />

2012


3<br />

UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU<br />

MESTRADO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL<br />

A Comissão da Banca de Avaliação Examinadora, abaixo assinada, aprova a<br />

Dissertação de Mestrado:<br />

ANÁLISE DO DESEMPENHO TECNOLÓGICO E AMBIENTAL DE PRODUTOS<br />

CERÂMICOS CONTENDO RESÍDUO INDUSTRIAL COMO MATERIAL<br />

AGREGADO<br />

Elaborada por: <strong>Daniel</strong> <strong>Brinckmann</strong> <strong>Teixeira</strong><br />

COMISSÃO DA BANCA EXAMINADORA:<br />

Profª. Dra. Adriane de Assis Lawisch Rodríguez<br />

Professora Orientadora - UNISC<br />

Prof. Dr. Ênio Leandro Machado<br />

Professor Examinador - UNISC<br />

Profª. Dra. <strong>Daniel</strong>a Lupinacci Villanova<br />

Professora Examinadora - IFRS


4<br />

Aos profissionais que fazem da Tecnologia Ambiental uma realidade, e da realidade atual,<br />

que faz da Tecnologia Ambiental uma ferramenta indispensável e perspicaz na investigação<br />

de processos sustentáveis. Que a sustentabilidade seja um ideal e um estilo de vida para as<br />

próximas gerações. Aperfeiçoar-se de forma iterativa é extremamente necessário na busca do<br />

equilíbrio ambiental, social e econômico dessa e das gerações que ainda estão por vir.


5<br />

“Não há nenhuma receita pronta que garanta<br />

o êxito em matéria de desenvolvimento. No<br />

entanto existem pelo menos duas afirmações<br />

certas que podemos fazer: se o<br />

desenvolvimento se encontra em nosso futuro,<br />

não será com as idéias do passado que o<br />

alcançaremos; e se o desenvolvimento é um<br />

produto da própria comunidade, não serão<br />

outros, a não ser seus próprios membros que o<br />

construirão”.<br />

Boissier


6<br />

AGRADECIMENTOS<br />

No princípio existem mais dúvidas do que certezas. Mas desde o começo uma<br />

convicção, sempre há ainda, onde quer que se encontre seu nível de conhecimento, o que<br />

aprender. Na busca por esse ideal de alcançar um nível de formação como pós-graduado,<br />

algumas situações e pessoas foram determinantes, a todos fica meu agradecimento.<br />

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) dentro<br />

do Programa de Suporte as Universidades Particulares (PROSUP) pela bolsa dedicação parcial<br />

junto ao Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu – Mestrado em Tecnologia Ambiental,<br />

pela oportunidade única de complementar os conhecimentos necessários ao desempenho da<br />

função de engenheiro.<br />

Agradeço sempre a Deus, por ter proporcionado o lar que eu necessitava e o corpo<br />

físico que merecia de acordo com minhas necessidades e adiantamento. Também agradeço<br />

pelos pais que tive (e sempre terei, pois afinal nos acompanham nessa e em todas as outras<br />

jornadas), Orlando <strong>Teixeira</strong> e Sirlei Beatris <strong>Brinckmann</strong>, pela vida, por me educar e me<br />

apontar sempre o melhor caminho.<br />

Sou grato a Profª. Dra. Adriane Lawisch Rodríguez e a Profª. MSc. Cláudia Mendes<br />

Mählmann, por terem me viabilizado a primeira experiência acadêmica como Bolsista de<br />

Iniciação Científica da Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado do Rio Grande do Sul<br />

(FAPERGS), e desde então, cada uma ao seu modo, indicar o norte, me permitindo<br />

aperfeiçoamento constante.<br />

Destacaria também a influência sempre positiva dos ensinamentos passados pelo Prof.<br />

Dr. Ênio Leandro Machado ao longo das disciplinas, das orientações em trabalhos e da prática<br />

em docência orientada junto à disciplina de Tecnologia de Materiais Cerâmicos, Vítreos e<br />

Metálicos lecionada para a grade curricular do Curso de Química Industrial.<br />

Conduzo a Profª. Dra. Tania Maria Basegio e ao Prof. Dr. Carlos Pérez Bergmann, um<br />

agradecimento especial por conceder a possibilidade de utilizar a estrutura física e recursos<br />

humanos do Laboratório de Cerâmica (LACER) da Universidade Federal do Rio Grande do<br />

Sul (UFRGS).<br />

Como agradecer e retribuir? Que eu tenha tempo e saúde para fazê-lo! Espero sincera e<br />

verdadeiramente poder viver da engenharia e fazer tecnologia. A meu ver, além de um muito<br />

obrigado, essa seria a melhor forma de demonstrar que os esforços em mim depositados foram<br />

de um todo válidos; pensar, agir, desenvolver meu país.


7<br />

RESUMO<br />

O presente trabalho investigou os efeitos da agregação de um resíduo industrial como matériaprima<br />

secundária para a obtenção de uma massa cerâmica com propriedades específicas. O<br />

resíduo industrial utilizado foi o pó de fumo gerado nas diferentes etapas do processamento do<br />

tabaco cedido por uma indústria da cidade de Santa Cruz do Sul. A argila utilizada como<br />

matriz cerâmica partiu de uma jazida de lavra mineral de uma indústria localizada na cidade<br />

de Candelária. O resíduo e a argila utilizada nesse estudo foram caracterizados quanto a sua<br />

composição química, mineralógica e granulométrica. Foram elaboradas amostras com teor de<br />

3, 5 e 10% em massa de resíduo agregado para obtenção de corpos de prova. Os corpos de<br />

prova foram submetidos a temperaturas de queima de 950, 1050 e 1150 ºC com taxa de<br />

aquecimento de 150 ºC/h e patamar de queima de 8 horas. Após a etapa de queima os corpos<br />

cerâmicos foram caracterizados quanto ao seu desempenho tecnológico, tendo sido avaliadas<br />

suas propriedades físicas (retração linear, absorção de água e porosidade aparente) e<br />

mecânicas (resistência a flexão a quatro pontos), e também quanto ao seu desempenho<br />

ambiental, tendo sido avaliadas a concentração de elementos perigosos após o ensaio de<br />

lixiviação (ABNT NBR 10005) e solubilização (ABNT NBR 10006). Do ponto de vista<br />

tecnológico as amostras elaboradas comportaram-se tipicamente como materiais cerâmicos<br />

tradicionais, sendo que com a elevação da temperatura de queima ocorreu uma redução da<br />

absorção de água e da porosidade aparente e aumento da retração linear. Em relação ao<br />

desempenho ambiental os corpos cerâmicos elaborados não apresentaram em sua composição<br />

elementos considerados pela ABNT NBR 10005 no ensaio de lixiviação para classificá-los<br />

como classe I - perigosos ou classe II - não perigosos. Em relação a ABNT NBR 10006, os<br />

corpos cerâmicos elaborados com adição de 10% de resíduo queimados nas temperaturas de<br />

950 ºC e 1150 ºC foram classificados como classe II A – não inertes, indicando a não<br />

imobilização do resíduo dentro da estrutura cerâmica. Os corpos cerâmicos contendo 10% de<br />

resíduo e submetidos à temperatura de queima de 1050 ºC foram classificados como classe II<br />

B – inerte. De acordo com os resultados atingidos nesse trabalho, a experiência de agregar pó<br />

de fumo em material cerâmico mostrou-se viável do ponto de vista tecnológico e ambiental,<br />

desde que respeitada à concentração de resíduo sugerida, bem como observados os parâmetros<br />

de processamento indicados (temperatura e patamar de queima) no presente estudo<br />

investigativo.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Resíduo, tabaco, incorporação, argila, cerâmica.


8<br />

ABSTRACT<br />

The aim of this work was to investigate the effect of addition of industrial waste as a<br />

secondary raw material to obtain ceramic parts with specific properties. The industrial waste<br />

used in this work was powder generated in different stages of a tobacco processing industry<br />

localized in Santa Cruz do Sul, RS, Brazil. The clay used as ceramic matrix came from an<br />

open pit mining located in city of Candelaria, RS, Brazil. The residue and clay used in study<br />

were characterized for their both chemical and mineralogical composition and particle size<br />

distribution. Ceramics specimens were subjected to firing temperatures of 950 ºC, 1050 ºC<br />

and 1150 ºC at heating rate of 150 ºC/h and using a plateau burning of eight hours. After<br />

firing, the ceramic samples were characterized according to their technological performance,<br />

i.e., their physical (linear shrinkage, water absorption and apparent porosity) and mechanical<br />

properties (compression strength under 4-point bending test). The environmental performance<br />

of these material were also evaluated assessing the concentration of hazardous elements after<br />

leaching tests according to ABNT NBR 10005 and solubilisation test (ABNT NBR 10006).<br />

From technological viewpoint the prepared samples behaved as traditional ceramics. The<br />

results also showed that increasing firing temperature reduce water absorption, apparent<br />

porosity and increase the linear shrinkage of the tested ceramics samples. In relation to the<br />

environmental performance the ceramic samples do not lixiviated any element, considered by<br />

the ABNT NBR 10005, to classify it a Class I – hazardous waste. Using solubilisation test<br />

according to ABNT NBR 10006, the ceramic specimens produced with the addition of 10%<br />

(w/w) residue, and burned at temperatures of 950 ºC and 1150 ºC were rated as Class II A –<br />

not inert waste, indicating that elements of added waste can be solubilised of the ceramic<br />

structure. The ceramic specimens containing 10% (w/w) residue, and subjected to the firing<br />

temperature 1050 ºC, were classified as Class II B – inert residue. According to the results<br />

obtained in this work, addition of tobacco powder to a ceramic matrix proved to be feasible in<br />

terms of technological and environmental point of view, since be respected the suggested<br />

residue concentration and observing the indicated process parameters (temperature and firing<br />

level) in this work.<br />

KEYS WORD: Residue, tobacco, aggregation, clay, ceramics.


9<br />

LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 1 - Fluxograma sintetizado do processo produtivo. ...................................................... 19<br />

Figura 2 - Equipamento para extrusão. ..................................................................................... 20<br />

Figura 3 - Mesa de corte das peças extrusadas. ........................................................................ 21<br />

Figura 4 - Túneis para secagem forçada. .................................................................................. 22<br />

Figura 5 - Esquema de beneficiamento de fumo. ..................................................................... 28<br />

Figura 6 - Fluxograma dos procedimentos metodológicos adotados. ...................................... 30<br />

Figura 7 - Argila.. ..................................................................................................................... 31<br />

Figura 8 - Pó de fumo. .............................................................................................................. 31<br />

Figura 9 - Moinho de bolas....................................................................................................... 32<br />

Figura 10 - Agitador de peneiras.. ............................................................................................ 33<br />

Figura 11 - Prensa utilizada no estudo.. ................................................................................... 36<br />

Figura 12 - Corpos de prova após conformação por prensagem. ............................................. 36<br />

Figura 13 - Corpos de prova em placa refratária contendo alumina. ....................................... 37<br />

Figura 14 - Representação para ensaio de resistência mecânica à flexão a quatro pontos. ...... 40<br />

Figura 15 - Seccionamento dos corpos de prova.. .................................................................... 41<br />

Figura 16 - Análise granulométrica por difração a laser da argila após moagem. ................... 44<br />

Figura 17 - Análise granulométrica por difração a laser do pó de fumo após moagem. .......... 45<br />

Figura 18 - Retração linear em função da temperatura de queima. .......................................... 48<br />

Figura 19 - Absorção de água após 24h em função da temperatura de queima. ...................... 49<br />

Figura 20 - Porosidade aparente em função da temperatura de queima. .................................. 50<br />

Figura 21 - Resistência mecânica em função da temperatura de queima. ................................ 51<br />

Figura 22 – Amostras preparadas para solubilização. .............................................................. 53


10<br />

LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 1 - Absorção de água e resistência mecânica conforme as normas técnicas. ............... 18<br />

Tabela 2 - Ensaios para caracterização das matérias-primas. ................................................... 33<br />

Tabela 3 - Amostras formuladas para o estudo. ....................................................................... 35<br />

Tabela 4 - Valores representativos da análise granulométrica da argila e do resíduo. ............. 45<br />

Tabela 5 - Composição química das matérias-primas. ............................................................. 46<br />

Tabela 6 - Resultados para o ensaio de solubilização. ............................................................. 53


11<br />

SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 13<br />

2 OBJETIVO....................................................................................................................15<br />

2.1 Objetivo geral ............................................................................................................... 15<br />

2.2 Objetivos específicos .................................................................................................... 15<br />

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 16<br />

3.1 Cerâmica: Histórico, definição e classificações ........................................................... 16<br />

3.2 Propriedades da cerâmica e suas aplicações ................................................................. 17<br />

3.3 Indústria e o processo produtivo de cerâmica .............................................................. 18<br />

3.4 Definição e classificação dos resíduos sólidos ............................................................. 23<br />

3.5 Incorporação de resíduos em material cerâmico .......................................................... 24<br />

3.6 Geração de pó de fumo ................................................................................................. 26<br />

4 METODOLOGIA ......................................................................................................... 30<br />

4.1 Delineamento da pesquisa ............................................................................................ 30<br />

4.2 Preparação prévia das matérias-primas ........................................................................ 31<br />

4.3 Caracterização das matérias-primas ............................................................................. 33<br />

4.3.1 Propriedades físicas ...................................................................................................... 34<br />

4.3.2 Composição química .................................................................................................... 34<br />

4.3.3 Composição mineralógica ............................................................................................ 34<br />

4.4 Formulações e conformação dos corpos de prova ........................................................ 34<br />

4.5 Secagem e queima ........................................................................................................ 37<br />

4.6 Caracterização dos corpos cerâmicos ........................................................................... 37<br />

4.6.1 Propriedades fìsicas ...................................................................................................... 38<br />

4.6.2 Propriedades mecânicas ................................................................................................ 39<br />

4.6.3 Caracterização ambiental .............................................................................................. 40<br />

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................ 44<br />

5.1 Caracterização das matérias-primas ............................................................................. 44<br />

5.1.1 Propriedades físicas ...................................................................................................... 44<br />

5.1.2 Composição química .................................................................................................... 46<br />

5.1.3 Composição mineralógica ............................................................................................ 47<br />

5.2 Caracterização dos corpos cerâmicos ........................................................................... 47<br />

5.2.1 Propriedades físicas ...................................................................................................... 47<br />

5.2.2 Resistência mecânica .................................................................................................... 51


12<br />

5.2.3 Ensaios ambientais ....................................................................................................... 52<br />

6 CONCLUSÕES .................................................................................................................. 55<br />

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................................................. 57<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 58<br />

ANEXO I – VALORES MÉDIOS E DESVIO PADRÃO PARA RL, AA, PA E RM ........... 62<br />

ANEXO II – LAUDOS DAS ANÁLISES QUÍMICAS .......................................................... 63


13<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

As atividades industriais são responsáveis pela geração de resíduos sólidos em<br />

proporções significativas. Além do volume, os resíduos originados apresentam grande<br />

variedade em sua composição, sendo que, o pó de fumo é um resíduo de origem restrita da<br />

cadeia produtiva do tabaco composto basicamente por óxido de silício.<br />

A indústria cerâmica ganha destaque no gerenciamento de resíduos industriais e<br />

urbanos, em virtude de possuir elevado volume de produção, características físico-químicas<br />

das matérias-primas cerâmicas e particularidades do processamento, apresentando potencial<br />

de receber uma ampla gama de resíduos, tornando-se assim uma opção para a destinação dos<br />

mesmos (WENDER e BALDO, 1998).<br />

Resíduos da serragem de granitos, da cinza de casca de arroz, de lama vermelha<br />

oriunda do processo Bayer, de lixívia de glicerina, de cinzas de carvão, da indústria de<br />

celulose, de lodos de estações de tratamento (água e efluentes), já foram misturados com<br />

massas argilosas em porcentagens diversas, sob diferentes métodos de conformação (extrusão<br />

e prensagem) e variadas temperaturas de queima, visando à solidificação/estabilização de<br />

elementos perigosos presentes na composição desses resíduos (MARTINS et al., 2005).<br />

O setor fumageiro gera anualmente toneladas de pó de fumo oriundas do<br />

processamento das folhas de tabaco, o qual tem como destino final a disposição no solo como<br />

corretivo agrícola. Este material, composto de matéria orgânica e inorgânica (argila, sílica,<br />

etc.), além dos nutrientes tradicionais, possui cargas de metais pesados, que podem ser<br />

acumuladas no solo ou nas culturas plantadas sobre os solos utilizados. Em contrapartida,<br />

ainda não se tem um conhecimento completo do comportamento da degradação dos<br />

compostos orgânicos contidos nos restos de tabaco. Como exemplo, não se conhece a<br />

dinâmica da degradação da nicotina no meio ambiente nem suas consequências para o solo e<br />

para as plantas nele cultivado. Dessa forma, a busca de uma alternativa ambientalmente mais<br />

correta da destinação deste material pode significar ganhos ambientais e economia de recursos<br />

naturais.<br />

Uma alternativa para a reutilização deste material pode ser a sua incorporação como<br />

aditivo em produtos cerâmicos. A solidificação/estabilização do resíduo em uma estrutura<br />

cerâmica, com acompanhamento do desempenho tecnológico e ambiental das massas obtidas,<br />

poderia ser aplicável como alternativa a resolução dessa questão.<br />

A avaliação criteriosa das propriedades tecnológicas (absorção de água, resistência<br />

mecânica, etc.), junto com uma detalhada avaliação ambiental dos extratos de lixiviado e


14<br />

solubilizado, é fator determinante no intuito de incorporar o pó de fumo como matéria-prima<br />

secundária para obtenção de material cerâmico que atendam as normas pertinentes.<br />

Esse trabalho objetiva fornecer subsídios, contribuindo através da análise do<br />

desempenho tecnológico e ambiental de corpos cerâmicos obtidos com a agregação de pó de<br />

fumo como matéria-prima secundária, contribuindo para destinação do resíduo gerado no<br />

setor fumageiro e reduzindo a utilização de matéria-prima argilosa pela indústria cerâmica.


15<br />

2 OBJETIVOS<br />

2.1 Objetivo geral<br />

O presente trabalho investigativo de pesquisa propõe-se a realizar a avaliação<br />

tecnológica e ambiental de produtos cerâmicos utilizando diferentes teores de resíduo<br />

industrial (pó de fumo) como material agregado.<br />

2.2 Objetivos específicos<br />

Para a alcançar o objetivo proposto, é necessário:<br />

- Caracterizar a argila utilizada como matéria-prima quanto às suas características<br />

físicas, químicas e mineralógicas;<br />

- Caracterizar o resíduo industrial utilizado como material agregado (pó de fumo)<br />

quanto às suas características físicas, químicas e mineralógicas;<br />

- Obter corpos de prova contendo resíduo industrial em três diferentes concentrações<br />

em sua composição; e<br />

- Avaliar os efeitos do teor de pó de fumo e da temperatura de queima sobre as<br />

propriedades tecnológicas e ambientais dos produtos cerâmicos.


16<br />

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

3.1 Cerâmica: histórico, definição e classificações<br />

A história da cerâmica remonta a pré-história, quando o homem começou a usar e<br />

dominar o fogo e aprendeu que o calor fixava a forma dos materiais terrosos, tendendo a<br />

torná-los estáveis na água. Antigos produtores de tijolos cerâmicos queimados aprenderam sua<br />

arte pela experiência, sem ter conhecimento real do processo que a finalizava. Eles<br />

aprenderam rapidamente que as argilas não tinham as mesmas propriedades e somente certas<br />

argilas eram usadas para certos produtos e aplicações (GRIM, 1962).<br />

O tijolo é o mais antigo material de construção feito pelo homem, inventado<br />

aproximadamente 10000 anos atrás. É simples, resistente, durável e pode ser moldado para<br />

diversos usos (BEALL, 1997).<br />

A palavra Cerâmica é derivada do grego “keramos” que significa queimar ou<br />

queimado (SENAI, 2007).<br />

A cerâmica pode ser definida como compostos sólidos que são formados pela<br />

aplicação de calor e, às vezes, calor e pressão, compreendendo pelo menos dois elementos,<br />

sendo que um deles é um não metal ou um sólido não metálico. O outro elemento pode ser um<br />

metal ou outro sólido não metálico elementar. De uma forma mais simples, define-se como<br />

cerâmica "a arte e a ciência de fazer e usar artigos sólidos, que têm como componente<br />

essencial a argila, e são compostas em grande parte de materiais inorgânicos não metálicos"<br />

(KINGERY, 1960). Em outras palavras, o que não é um metal, nem semicondutor ou nem<br />

polímero é uma cerâmica.<br />

Conforme Van Vlack (1970), o termo cerâmica é mais familiar como um adjetivo para<br />

designar certos objetos de arte, entretanto, para o engenheiro, os materiais cerâmicos<br />

abrangem uma grande variedade de substâncias naturais e sintéticas tais como vidro, tijolos,<br />

pedras, concreto, abrasivos, vidrados para porcelana, isolantes dielétricos, materiais<br />

magnéticos não-metálicos, refratários para altas temperaturas e muitas outras, sendo que as<br />

características que esses materiais tem em comum é que são constituídos por metais e nãometais:<br />

O composto MgO é um exemplo típico de um material cerâmico, é largamente usado<br />

como refratário pois pode suportar temperaturas muito elevadas (1650 a 2500 ºC)<br />

sem se dissociar ou fundir. A argila também é um material cerâmico comum só que


17<br />

mais complexo que o MgO. A argila mais simles é Al 2 Si 2 O 5 (OH) 4 . Forma uma<br />

estrutura cristalina com quatro unidades diferentes: Al, Si, O e o radical (OH).<br />

Embora não sejam tão simples como os metais os materiais cerâmicos podem ser<br />

compreendidos em termos das estruturas daqueles (pág. 201).<br />

Os materiais cerâmicos podem ser divididos em três categorias: os materiais<br />

cristalinos, que incluem silicatos tradicionais, e muitos compostos óxidos e não óxidos<br />

largamente utilizados tanto na indústria tradicional quanto em tecnologias avançadas; os<br />

vidros, que são sólidos não cristalinos com composições comparáveis aos cerâmicos<br />

cristalinos sendo que a ausência de cristalinidade é resultado de técnicas de processamento<br />

específicas o que proporciona propriedades óticas e mecânicas únicas; e os vitrocerâmicos,<br />

que são cerâmicos cristalinos inicialmente formados por vidros e cristalizados por métodos<br />

controlados (SHACKELFORD, 1996).<br />

Os cerâmicos são compostos por no mínimo dois elementos e freqüentemente sua<br />

estrutura cristalina é mais complexa do que em metais, sendo que as ligações atômicas variam<br />

da puramente iônica para totalmente covalente, e muitos cerâmicos exibem uma combinação<br />

destes dois tipos de ligação (CALLISTER, 2002).<br />

3.2 Propriedades da cerâmica e suas aplicações<br />

Muitas das propriedades mecânicas discutidas para metais são igualmente importantes<br />

para os cerâmicos ou vidros em aplicações estruturais e a natureza diferente destes “não<br />

metais” levam a comportamentos mecânicos únicos (SHACKELFORD, 1996).<br />

Devido às suas ligações iônicas e covalentes, muitos cerâmicos são duros, possuem<br />

baixa resistência ao impacto e falta de plasticidade. Também devido à natureza das ligações,<br />

os materiais cerâmicos têm, intrinsecamente, uma baixa tenacidade. De um modo geral, os<br />

materiais cerâmicos são relativamente frágeis, sendo que a resistência à tração pode variar<br />

muito, os materiais cerâmicos também apresentam uma grande diferença entre as suas<br />

resistências à tração e à compressão (SMITH, 1998 apud VILLANOVA, 2004).<br />

Além das argilas existem outros materiais utilizados pela indústria cerâmica<br />

contemporânea para fabricação de seus produtos que, misturados as argilas, produzem as<br />

chamadas massas ou pastas cerâmicas, cada qual com características específicas, como os<br />

anti-plásticos, que reduzem o encolhimento das argilas quando secam, ou os fundentes, que<br />

reduzem a temperatura de vitrificação da massa. Além destes materiais, pode-se adicionar à


18<br />

massa outros ingredientes como quartzo, feldspato, caulim, talco, dolomita, carbonato de<br />

cálcio e bentonita, dependendo da aplicação a que se destinam os produtos elaborados<br />

(ARRUDA, 2007). Na Tabela 1, observam-se alguns parâmetros normatizados conforme<br />

aplicação a que se destinam determinadas cerâmicas.<br />

Tabela 1 - Absorção de água e resistência mecânica conforme as normas técnicas.<br />

Materiais cerâmicos Absorção de água Resistência mecânica<br />

Telhas<br />

NBR 8947 (ABNT, 1985) Os<br />

valores podem ser ≤ 18%<br />

NBR 7172 (ABNT, 1987) e NBR<br />

9601 (ABNT, 1986) Os valores<br />

podem variar entre 6,8 a 12,7 MPa<br />

dependendo do tipo de telha<br />

Blocos cerâmicos<br />

NBR 7171 (ABNT, 1972) Os<br />

valores podem ser entre 8 e 18%<br />

Divide-se em classes de acordo<br />

com a aplicação, onde o valor<br />

mínimo corresponde a 1 MPa<br />

Placas cerâmicas de revestimento NBR 13817 (ABNT, 1997) Pode<br />

variar entre 0,5 a 10%, ou ainda<br />

NBR 13818 (ABNT, 1997) Pode<br />

atingir valores entre 15 e 35 MPa,<br />

valores superiores a esses ou superiores a esse, dependo do<br />

dependendo da aplicação (grés, tipo de aplicação a que se destina<br />

porcelanato, porosos, etc.)<br />

Fonte: ABNT apud TELOEKEN (2010).<br />

3.3 Indústria e o processo produtivo de cerâmica<br />

A indústria cerâmica de revestimento/vedação ou estrutural utiliza uma mistura de<br />

argilas e outras matérias-primas inorgânicas, queimadas a altas temperaturas para a fabricação<br />

de produtos diversos, desempenhando importante papel na economia do país, com<br />

participação estimada em 1% no Produto Interno Bruto (PIB). A evolução das indústrias<br />

brasileiras, em função da abundância de matérias-primas naturais, fontes de energia e<br />

disponibilidade de tecnologias embutidas nos equipamentos industriais fez com que diversos<br />

tipos de produtos do setor atingissem um patamar apreciável nas exportações do país<br />

(CETESB, 2008).<br />

Um grande desafio da indústria cerâmica é produzir com eficiência e qualidade,<br />

minimizando o desperdício. Grande parte do processo é mecanizada, o que teoricamente<br />

levaria a um índice de perda mais baixo, porém não é isso que ocorre na prática. Na<br />

homogeneização, quando constatada uma mistura não adequada, seja por quantidade de<br />

resíduos presentes ou pela baixa resistência mecânica, o lote de produtos cerâmicos produzido


19<br />

é descartado na íntegra devido à baixa qualidade apresentada. Outra etapa do processo, com<br />

elevadas perdas, é o transporte do setor de expedição da indústria cerâmica até o local de<br />

manuseio na obra para aplicação na construção civil (PEDROTI, 2000).<br />

O processo produtivo de cerâmica é composto, em suma, pelas etapas descritas no<br />

fluxograma da Figura 1.<br />

Figura 1 - Fluxograma sintetizado do processo produtivo.<br />

Fonte: SENAI, 2007.<br />

A extração da argila para a produção cerâmica ocorre em jazidas licenciadas pelos<br />

órgãos ambientais competentes e, de acordo com suas características e a necessidade da<br />

indústria, é transportada até a área de sazonamento no pátio da empresa.<br />

O sazonamento consiste na estocagem de argila a céu aberto em períodos de tempo que<br />

variam de seis meses a dois anos. A disposição temporária deste material aos efeitos das<br />

intempéries provoca a lavagem de sais solúveis, o alívio de tensões nos blocos de argilas,<br />

melhora sua plasticidade e provoca a homogeneização da distribuição de umidade. As argilas<br />

são depositadas em camadas nos pátios das indústrias, onde a espessura e alternância das<br />

camadas dependem dos tipos de argilas e das propriedades desejadas da mistura final. A<br />

exposição ao intemperismo confere às argilas características tecnológicas superiores àquelas<br />

do material diretamente extraído da jazida. A melhor trabalhabilidade das mesmas nos<br />

equipamentos de conformação e nas demais etapas do processo produtivo proporciona ganhos


20<br />

de produtividade, permitindo melhorias significativas na qualidade do produto final<br />

(GAIDZINSKI, 2006).<br />

Depois de obedecido o período de sazonamento, a matéria-prima argilosa é estocada<br />

dentro de recintos fechados e livres de intempéries naturais (chuva, sol e vento) que possam<br />

alterar suas características obtidas após o período de sazonamento.<br />

Dentro desses recintos é realizada a pré-elaboração da massa argilosa utilizando<br />

diferentes tipos de argilas sazonadas anteriormente. Após serem pré-elaboradas as misturas<br />

com os diferentes tipos de argilas disponíveis, essa massa é introduzida em um caixão<br />

alimentador responsável por alimentar o moedor/desintegrador. Após o processo de moagem,<br />

para garantir a correta homogeneização da mistura, a massa moída é introduzida em um<br />

homogeneizador originando uma mistura homogênea, de diferentes argilas para fabricação de<br />

um determinado tipo de produto de acordo com as especificações requeridas, como por<br />

exemplo, retração durante a queima e resistência mecânica (ARRUDA, 2007).<br />

Existem diversos processos para dar forma às peças cerâmicas, e a seleção de cada um<br />

deles depende fundamentalmente das características do produto, tais como geometria e<br />

dimensões, propriedades das matérias-primas e fatores econômicos. Entre os processos,<br />

podemos citar: colagem/fundição em molde; prensagem; extrusão e torneamento. Destes, o<br />

mais habitualmente empregado é a extrusão (SENAI, 2007).<br />

A máquina usual de extrusão é conhecida como maromba ou simplesmente extrusora,<br />

tendo um exemplo desse equipamento indicado na Figura 2.<br />

Figura 2 - Equipamento para extrusão.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2010.


21<br />

A maromba possui a função de homogeneizar, desagregar e compactar as massas<br />

cerâmicas dando forma ao produto desejado. A extrusão é o método mais utilizado na<br />

indústria de cerâmica estrutural, por ser mais econômico, porém, gera produtos de menor<br />

valor agregado. Esse método emprega a massa na forma de uma pasta plástica e rígida, que é<br />

forçada através de um molde para formar uma coluna contínua, a qual pode ser cortada em<br />

comprimentos apropriados (PEDROTI, 2000).<br />

Paralelamente ao processo por extrusão, a conformação por prensagem também é<br />

bastante empregada na fabricação de produtos cerâmicos, originando produtos de maior valor<br />

agregado. O objetivo do processo de conformação por prensagem é formar o revestimento<br />

cerâmico no formato específico a partir da massa devidamente preparada. Os principais<br />

materiais de ingresso nesta etapa do processo produtivo são os pós (PEREIRA, 2004).<br />

A prensagem consiste na compactação do pó através da aplicação de uma pressão,<br />

normalmente variando entre 20 a 50 Mpa (de 200 a 500 kg/cm²). A aplicação da pressão<br />

deforma, reassenta e coloca os grãos da massa em íntimo contato, resultando assim em um<br />

produto compactado e cru. Desta maneira o produto fica dotado de características mecânicas<br />

suficientes para resistir à solicitação que a peça terá que suportar nas sucessivas operações até<br />

a queima (PEREIRA, 2004).<br />

A operação da prensagem é realizada em dois tempos (duas descidas do punção no<br />

molde) com o objetivo de se obter uma expulsão eficaz do ar contido na massa (a qual ocorre<br />

de fato depois da primeira prensagem, no momento em que o punção se afasta do molde).<br />

Após conformadas, as peças são encaminhadas a uma mesa de corte como indicado na<br />

Figura 3, onde são cortadas conforme as dimensões desejadas.<br />

Figura 3 - Mesa de corte das peças extrusadas.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2010.


22<br />

Os produtos extrusados saem da maromba com percentual de umidade em torno de<br />

25% em média. Para evitar trincas, rachaduras ou até mesmo quebra total devido à dilatação<br />

térmica na etapa de queima, os produtos extrusados são obrigatoriamente levados a locais de<br />

espera em temperatura ambiente, onde permanecem por aproximadamente 24h, e após isso,<br />

são introduzidos nos túneis secadores equipados com ventiladores e sopradores de ar quente<br />

normalmente proveniente do próprio túnel de queima (forno) da indústria.<br />

Posteriormente, a secagem das peças ocorre em túneis secadores, chamada de secagem<br />

forçada, conforme exemplificado na Figura 4.<br />

Figura 4 - Túneis para secagem forçada.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2010.<br />

O objetivo da secagem forçada é reduzir o percentual de água contido nas peças de<br />

cerâmica para algo < 5%. Isso garante o menor índice de perdas durante o processo de<br />

queima, que consiste em remover essa umidade residual e proceder a sinterização das peças<br />

cerâmicas no forno túnel.<br />

A queima, processo subseqüente, é a etapa mais importante de todo processo<br />

produtivo, sendo durante essa etapa que se manifestam várias propriedades das argilas através<br />

das transformações físicas, químicas e mecânicas causadas pela ação do fogo. Nesta etapa de<br />

queima, estão presentes quatro fases: pré-aquecimento, caldeamento, patamar e resfriamento<br />

(ARRUDA, 2007).


23<br />

3.4 Definição e classificação dos resíduos sólidos<br />

Cientes das conseqüências futuras para a subsistência das próximas gerações criou-se,<br />

a partir da década de 50, uma consciência ambiental por parte do homem. Muitas iniciativas<br />

foram adotadas dentro das indústrias e da própria sociedade urbana a fim de despertar para a<br />

questão ecológica. Da década de 50 até os dias atuais muito se evoluiu no aspecto de<br />

minimização de danos ao ambiente, pois, até então o pensamento humano era voltado para a<br />

disposição dos resíduos, sejam eles sólidos ou líquidos, da forma mais conveniente para o<br />

gerador. A partir da década de 70 e meados dos anos 80 surgiram debates em torno não só da<br />

disposição, mas do tratamento de resíduos, desde então, busca-se uma melhor compreensão<br />

das questões ambientais e sua interação com o homem (DOMENÉCH, 1993).<br />

O processo de transformação industrial pelo qual passam as matérias-primas extraídas<br />

da natureza torna-se cada dia mais complexo pelo avanço da tecnologia, tornando muitas<br />

dessas transformações irreversíveis. Isto, aliado a estrutura consumista vigente, leva a geração<br />

contínua e crescente de resíduos, exigindo, portanto, uma política séria e estruturada sobre a<br />

problemática da origem e do destino final desses resíduos (SCHNEIDER et al., 2001).<br />

Resíduo é toda e qualquer substância e objeto no estado sólido ou semi-sólido<br />

proveniente de atividades industriais, domésticas, hospitalares, comerciais, agrícolas, de<br />

serviços e varrição que não são passíveis de reaproveitamento, ou seja, resíduo é tudo aquilo<br />

que foi usado e não possui mais utilidade, ou ainda em uma definição bastante específica, é<br />

tudo o que é gerado como consequência não desejada de uma atividade humana<br />

(DOMENÉCH, 1993).<br />

O gerenciamento de resíduos refere-se ao conjunto articulado de ações normativas,<br />

operacionais, financeiras e de planejamento baseadas em critérios sanitários, culturais,<br />

estéticos e econômicos para a geração, manejo, tratamento e disposição final dos resíduos<br />

sólidos, sendo que essa gestão dos resíduos sólidos aparece como um dos assuntos mais<br />

relevantes para atingir o desenvolvimento sustentável em todos os países (MANDELLI,<br />

1997).<br />

No Brasil os resíduos são classificados quanto ao risco potencial ao meio ambiente e à<br />

saúde pública em função das suas características. As normas que regem a correta disposição<br />

dos resíduos sólidos são: NBR 10004 (Classificação), NBR 10005 (Lixiviação) e NBR 10006<br />

(Solubilização).<br />

Conforme a ABNT 10004/2004, os resíduos são classificados em: resíduos classe I –<br />

perigosos ou resíduos classe II - não perigosos. Os resíduos perigosos são aqueles que


24<br />

apresentam características de periculosidade à saúde pública e ao ambiente em função de suas<br />

propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas. Os não perigosos são aqueles que não<br />

apresentam características que possam provocar mortalidade a população ou incidência de<br />

danos ao equilíbrio do ambiente natural.<br />

Uma vez classificados como classe II - não perigosos, faz-se necessário a classificação<br />

em resíduos classe II A - não inertes ou resíduos classe II B - inertes. Para serem classificados<br />

com não inertes os resíduos devem apresentar solubilidade de elementos em água,<br />

combustibilidade ou biodegradabilidade. Para receberem a classificação de inertes, os resíduos<br />

não devem ter nenhum de seus elementos constituintes solubilizados ou lixiviados a<br />

concentrações superiores aos padrões constantes nas NBR 10005 e 10006.<br />

3.5 Incorporação de resíduos em material cerâmico<br />

Vários são os resíduos industriais absorvidos pela indústria cerâmica, podendo-se citar<br />

os resíduos de mineração, da indústria do papel e celulose, metalúrgica, energética, entre<br />

outros, que independentemente de sua origem, têm utilização cada dia maior como matériasprimas<br />

alternativas na indústria cerâmica. Na incorporação de resíduos, é extremamente<br />

importante abordar a capacidade de inertização, verificando através de ensaios de lixiviação e<br />

solubilização a imobilização de elementos perigosos presentes nos resíduos utilizados como<br />

agregado por parte dos materiais cerâmicos (MENEZES et al., 2002).<br />

Particularmente, a solidificação/estabilização de resíduos nocivos é considerada um<br />

processo de estabilização ambientalmente correto, em virtude da grande resistência química<br />

dos produtos obtidos à maioria das condições ambientais, resistência esta relacionada ao fato<br />

dos componentes nocivos, essencialmente metais pesados, efetuarem ligações em nível<br />

atômico nas estruturas produzidas (PISCIELLA et al., 2001).<br />

As cinzas volantes e os resíduos oriundos da incineração de rejeitos urbanos, poderiam<br />

ser enquadrados em algum dos outros grupos já descritos, todavia, em virtude de suas<br />

peculiaridades e, principalmente, do grande enfoque mundial que recebem nos últimos anos,<br />

em especial na Europa e em alguns países da Ásia, acabam por enquadrar-se em um grupo à<br />

parte (MENEZES et al., 2002).<br />

As quantidades de resíduos redutores de plasticidade incorporados às matrizes<br />

cerâmicas podem variar entre 10 e 60%, provocando ligeiras mudanças nas propriedades<br />

mecânicas, retração e absorção de água (SABRAH e EBIED, 1987). Alguns anos atrás eram<br />

feitas pequenas adições às massas cerâmicas (em torno de 10 a 20%); todavia, estas aplicações


25<br />

não eram suficientes para absorver as enormes quantidades de rejeito, passando alguns<br />

estudos, principalmente na Europa, a analisar o uso de formulações compostas com elevado<br />

teor de resíduos (> 50%) chegando a trabalharem com formulações compostas exclusivamente<br />

por resíduos (100%). Neste ponto, é interessante ressaltar que os resíduos definidos como<br />

redutores de plasticidade, não necessariamente atuam apenas reduzindo a plasticidade,<br />

podendo atuar também como agentes formadores de fase vítrea, sendo fator de grande<br />

influência no sucesso da aplicação desses resíduos na produção de tijolos, revestimentos, grés<br />

e produtos de baixa absorção de água (RAIGÓN et al., 1996).<br />

A principal característica dos resíduos fundentes é a de produzir diminuição na<br />

temperatura de maturação do corpo cerâmico, possibilitando redução do consumo energético,<br />

graças às novas características da massa cerâmica. Esses resíduos são geralmente provenientes<br />

da lama de esmaltação das cerâmicas e dos rejeitos da indústria mecânica e metalúrgica e têm<br />

uma composição sílico-aluminosa (> 50%) com porcentagens variáveis de metais pesados (em<br />

alguns casos bem elevadas), alcalinos e alcalinos terrosos, com presença frequente de Cr, Co,<br />

Ni, Cd, Cu, Zn, Pb, etc. (DOMÍNGUEZ e ULLMANN, 1996). Outros exemplos de estudos<br />

bem sucedidos são a utilização de rejeito de água de unidades de galvanização e de resíduos<br />

de escória de alto forno na produção de tijolos, telhas, blocos e revestimentos cerâmicos,<br />

atingindo boa inertização dos agentes poluentes presentes (ELWAN e HASSAN, 1998).<br />

Não apenas a produção de peças cerâmicas rústicas (tijolos, telhas, revestimentos etc),<br />

mas também setores de cerâmica fina podem absorver resíduos fundentes, a exemplo da<br />

utilização de rejeitos provenientes da indústria metalúrgica na produção de vidrados<br />

cerâmicos, fibras de vidro, ligantes para abrasivos, dentre outros (HERMANN, 1998;<br />

YALÇIN e SERVINÇ, 2000).<br />

Em geral, os resíduos combustíveis são provenientes de processos industriais que<br />

contêm elevado teor de substâncias orgânicas e lhes conferem alto poder calorífico. Esta<br />

categoria inclui os resíduos das estações de tratamento de rejeitos urbanos, resíduos da<br />

exploração de carvão, resíduos da indústria têxtil e de curtume, resíduos derivados da extração<br />

e refino do petróleo e da indústria do papel e madeira (MENEZES et al., 2002).<br />

A utilização de resíduos combustíveis por parte das indústrias cerâmicas pode ser<br />

efetuada de duas maneiras: por incorporação dos resíduos à massa cerâmica ou mistura com<br />

os combustíveis responsáveis pela queima do corpo cerâmico, sendo que, em ambos os casos,<br />

é utilizado o poder calorífico dos resíduos para auxiliar na queima. Formulações estudadas<br />

com emprego de resíduos combustíveis em massas cerâmicas variam de valores inferiores a<br />

10% a valores em torno de 50% (MENEZES et al., 2002).


26<br />

O uso de materiais combustíveis como auxiliares de queima pode chegar a propiciar<br />

economia energética da ordem dos 45%; todavia, muitos cuidados devem ser tomados ao se<br />

fazer uso de resíduos na queima, já que podem liberar vários gases altamente nocivos à saúde<br />

humana, sendo altamente recomendado o uso de filtros para gases (existem filtros apenas para<br />

particulados) quando utilizar esses resíduos, o que é indispensável, mas, muitas vezes, é<br />

ignorado por vários produtores cerâmicos, seja por falta de informações (pequenos<br />

produtores) ou falta de responsabilidade ambiental. E é aproveitando o desconhecimento ou a<br />

irresponsabilidade de alguns produtores que várias indústrias conseguem eliminar seus<br />

resíduos através da queima barata em olarias, indústrias de revestimento e cimento<br />

(MENEZES et al., 2002).<br />

As cinzas volantes e os resíduos oriundos da incineração de rejeitos urbanos; poderiam<br />

ser enquadrados em algum dos outros grupos já descritos; todavia em virtude de suas<br />

peculiaridades e, principalmente, do grande enfoque mundial que recebem nos últimos anos,<br />

em especial na Europa e em alguns países da Ásia, alguns autores os enquadram em um grupo<br />

à parte. A grande quantidade de pesquisa voltada para a reciclagem de cinzas volantes está<br />

relacionada aos milhões de toneladas de cinzas produzidas pelos países que têm grande parte<br />

dos seus sistemas elétricos baseados em centrais termoelétricas. Essas cinzas volantes são<br />

correntemente depositadas ou utilizadas como aterro, o que causa um impacto ambiental<br />

altamente negativo, em virtude da potencialidade de lixiviação de substâncias tóxicas para o<br />

solo e o lençol freático, da mudança da composição elementar da vegetação que cresce nas<br />

circunvizinhanças dos depósitos e do aumento de elementos tóxicos através da cadeia<br />

alimentar (EROL et al., 2000).<br />

Atividades industriais pertinentes à utilização de cinzas volantes em artigos<br />

economicamente viáveis têm recebido larga popularidade nas últimas décadas em várias áreas,<br />

como a produção de cimento e concreto e de tijolos; todavia, a quantidade utilizada de cinzas<br />

volantes ainda é muito pequena e, consequentemente, novas formas para sua utilização como<br />

matéria-prima cerâmica, são pesquisadas (BOCCACCINI et al., 1997).<br />

3.6 Geração de pó de fumo<br />

A região do Vale do Rio Pardo caracteriza-se por ser a maior produtora de tabaco do<br />

país, possuindo as maiores empresas e as maiores produções em áreas plantadas. É<br />

reconhecida mundialmente pela sua produção de tabaco, sendo responsável por cerca de 50 %


27<br />

da produção do fumo do sul do país, conforme dados da safra colhida em 2010 (SINDIFUMO,<br />

2011).<br />

Essa realidade é fruto de um processo, no qual os imigrantes alemães, que aqui se<br />

instalaram a partir de meados do século XX, tiveram importante participação. Exploradas em<br />

regime familiar as propriedades para plantio, na década de 1850 já se destacavam na produção<br />

e na exportação de produtos coloniais, como a banha e o tabaco. A primeira empresa a se<br />

instalar na região foi no início do século XX, trazendo consigo as primeiras inovações<br />

tecnológicas na produção. Atualmente, a região conta com 12 empresas do ramo fumageiro<br />

que agregam qualidade de vida a seus funcionários e a sociedade na qual estão inseridas e são<br />

as principais responsáveis pelo desenvolvimento econômico da região (SINDIFUMO, 2011).<br />

Desenvolvida em quase 800 municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e<br />

Paraná, a produção de fumo, em fase de comercialização, alcançou 744 mil toneladas na safra<br />

2006/2007, cujo volume foi cultivado em 362 mil hectares, pelas 184 mil famílias de<br />

agricultores integrados que participaram desse ciclo produtivo, num universo de<br />

aproximadamente 900 mil pessoas no meio rural. Na safra 2005/2006 a receita proporcionada<br />

aos produtores foi da ordem de R$ 3,2 bilhões. Os processos de beneficiamento de fumo vêm<br />

proporcionando cerca de 30 mil empregos diretos nas empresas do setor instaladas no Paraná,<br />

Santa Catarina e Rio Grande do Sul (SINDIFUMO, 2007)<br />

O resíduo pó de fumo é um resíduo sólido gerado constantemente nas indústrias de<br />

tabaco, devido a degradações e atritos que a folha de fumo recebe ao longo do processo de<br />

beneficiamento. O pó de fumo é um material predominantemente orgânico e rico em fibras,<br />

originado na degradação das partículas do tabaco, com índice de granulometria aquém das<br />

especificações de aceitação do mercado.<br />

Conforme PORTARIA Nº 016, de 19 de janeiro de 1982, define-se como pó de fumo<br />

os resíduos finais provenientes da destala mecânica do tabaco e que compreende o pó e<br />

resíduos de tamanho ínfimo. Segundo a NBR 10.004 o pó de fumo é um resíduo do tipo<br />

sólido, pertencente à Classe II - Não Inerte, que o caracteriza como: resíduo que não apresenta<br />

periculosidade, porém não inertes; pode ter propriedades tais como: combustibilidade,<br />

biodegradabilidade ou solubilidade em água. A produção de pó de fumo corresponde a 2,5%<br />

da safra anual de tabaco na região do Vale do Rio Pardo (MACEDO, 2007).<br />

As seções de beneficiamento são as maiores responsáveis pela geração do resíduo em<br />

uma indústria de tabaco, ilustrado na Figura 5, sendo que os maiores índices ocorrem no<br />

processo de destala mecânica que é efetuado a fim de separar o talo da folha de fumo. A<br />

retirada do resíduo do fluxo do processo ocorre através de sistemas de sucção (Bleed-offs) que


28<br />

o destinam a uma seção da empresa, denominado como central do pó. Nesta são segregados e<br />

reaproveitados de acordo com a sua área superficial e granulometria. Esta segregação ocorre<br />

através de um agitador mecânico (MACEDO, 2007).<br />

Figura 5 - Esquema de beneficiamento de fumo.<br />

Fonte: Adaptado de MACEDO, 2007.<br />

O resíduo gerado, e que consequentemente não poderá ser reaproveitado nos<br />

processos, é destinado a áreas licenciadas pela FEPAM e depositados em solo agrícola,<br />

seguindo as parametrizações impostas pelo órgão. Para efetuar uma destinação<br />

ambientalmente adequada e reconhecida pelo órgão fiscalizador a empresa deve manter sob<br />

seu rigoroso controle, a aplicação dos resíduos na propriedade licenciada, observando as taxas<br />

de aplicação recomendadas, a disposição em áreas compatíveis (afastamento de açudes e<br />

córregos, eliminação de áreas com declividade acima de 15 %), a adoção de práticas<br />

conservacionistas, a adição ou não de fertilizantes, entre outros aspectos. O resíduo pó de<br />

fumo pode ser uma importante fonte de biomassa e potássio, com potencialidade de<br />

reciclagem na terra, e abastecimento dos macro nutrientes requeridos para o crescimento das


29<br />

plantas. Paralelamente, deve ser observado cuidadosamente e monitoradas as aplicações<br />

devido aos índices de potássio, os conteúdos de nitrogênio e os efeitos de alcalinidade de terra<br />

que podem limitar a taxa de aplicação agronômica.


30<br />

4 METODOLOGIA<br />

4.1 Delineamento da pesquisa<br />

Os procedimentos experimentais adotados para elaboração do presente estudo foram<br />

realizados conforme sequência descrita no fluxograma da Figura 6. O desenvolvimento dessa<br />

pesquisa consistiu em caracterizar a argila e o resíduo industrial disponíveis como matériasprima,<br />

obter corpos de prova para ensaios tecnológicos e ambientais com diferentes<br />

concentrações do resíduo em suas formulações, e proceder a queima em diferentes<br />

temperaturas para averiguar as possíveis implicações dessa variável nas propriedades<br />

tecnológicas e ambientais dos corpos de prova obtidos.<br />

Figura 6 - Fluxograma dos procedimentos metodológicos adotados.


31<br />

4.2 Preparação prévia das matérias-primas<br />

Foram selecionadas como matérias-primas uma argila oriunda de uma cerâmica da<br />

cidade de Candelária, conforme a Figura 7, e o resíduo industrial pó de fumo proveniente da<br />

indústria fumageira da cidade de Santa Cruz do Sul, conforme a Figura 8.<br />

Figura 7 - Argila.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.<br />

Figura 8 - Pó de fumo.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.


32<br />

Após coletadas, as amostras das matérias-primas selecionadas foram encaminhadas ao<br />

Laboratório de Processo Cerâmico da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), onde<br />

foram preparadas para os posteriores procedimentos de caracterização, conformação,<br />

processamento de secagem e queima, e ensaios tecnológicos e ambientais.<br />

No laboratório as amostras de argila e de resíduo foram secas em temperatura ambiente<br />

por pelo menos 24h e, após respeitado esse período, foram secas em estufa a 110 ºC ± 5 ºC,<br />

por um período de 24h.<br />

Após terem sido devidamente secas, as amostras foram cominuídas em moinho de<br />

bolas, conforme exemplifica a Figura 9. A massa fixa de bolas presente no moinho para<br />

efetuar a moagem foi equivalente a 150g para cada 500g de material a ser cominuido. O<br />

material foi moído durante longos períodos que variaram entre 2 a 3h, até que apresentassem<br />

granulometria satisfatória para proceder o peneiramento.<br />

Figura 9 - Moinho de bolas.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.<br />

Após a etapa de moagem, as matérias-primas foram submetidas ao processo de<br />

peneiramento sob agitação em uma estrutura vibratória com o objetivo de agitar o material e<br />

forçar sua passagem pela peneira, como nos mostra a Figura 10. As amostras foram<br />

submetidas a peneiramento em peneira ABNT 80 # (abertura de180 µm), até ser 100%<br />

passante.


33<br />

Figura 10 - Agitador de peneiras.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.<br />

4.3 Caracterização das matérias-primas<br />

Após terem sido preparadas, sendo submetidas a secagem, moagem e peneiramento na<br />

estrutura disponível no Laboratório de Processo Cerâmico da UNISC, as matérias-primas em<br />

quantidades suficiente para produção dos corpos de prova e demais caracterizações<br />

necessárias, foram encaminhadas ao Laboratório de Materiais Cerâmicos (LACER) junto ao<br />

Departamento de Materiais (DEMAT) da Escola de Engenharia da Universidade Federal do<br />

Rio Grande do Sul (UFRGS) para a produção dos corpos cerâmicos e demais caracterizações,<br />

cujo detalhamento encontra-se na Tabela 2.<br />

Tabela 2 - Ensaios para caracterização das matérias-primas.<br />

Ensaio/Análise Finalidade Condição Quantia<br />

Difração a laser Composição física (granulometria) ABNT 325 # 5g<br />

Fluorescência de raios-X Composição química (perda ao fogo) ABNT 325 # 4g<br />

Difração raios-X Composição mineralógica (fases da argila) ABNT 325 # 5g<br />

Foram encaminhados ao LACER o equivalente a 10 kg de argila e 3 kg de pó de fumo<br />

devidamente secos, moídos e peneirados, para proceder as etapas de caracterização das<br />

matérias-primas e conformação de corpos de prova.


34<br />

4.3.1 Propriedades físicas<br />

A análise granulométrica das matérias-primas utilizadas foi realizada após moagem e<br />

peneiramento em ABNT 325 #, utilizando o método de difração a laser no equipamento<br />

Particle Size Distribution Cilas 1180 I.<br />

4.3.2 Composição química<br />

A análise química das matérias-primas utilizadas foi realizada após moagem e<br />

peneiramento em ABNT 325 #, utilizando o método de fluorescência de raios X no<br />

equipamento Shimadzu Sequential X-ray Fluorescence Spctrometer.<br />

4.3.3 Composição mineralógica<br />

A análise de composição mineralógica das matérias-primas foi realizada através do<br />

método de difração de raios X para determinar as fases presentes na argila. As medidas foram<br />

feitas utilizando o método do pó para preparação das amostras em peneira ABNT 325 #. Para<br />

a análise mineralógica foi utilizado o equipamento Philips, modelo X’Pert MPD.<br />

4.4 Formulações e conformação dos corpos de prova<br />

Para a verificação da influência da adição do resíduo industrial nas propriedades<br />

tecnológicas e ambientais dos corpos de prova cerâmicos foram desenvolvidas as formulações<br />

indicadas na Tabela 3.


35<br />

Tabela 3 - Amostras formuladas para o estudo.<br />

AMOSTRA ARGILA (%) em massa RESÍDUO (%) em massa QUEIMA<br />

A 100 0 950 ºC<br />

B 97 3 950 ºC<br />

C 95 5 950 ºC<br />

D 90 10 950 ºC<br />

E 100 0 1050 ºC<br />

F 97 3 1050 ºC<br />

G 95 5 1050 ºC<br />

H 90 10 1050 ºC<br />

I 100 0 1150 ºC<br />

J 97 3 1150 ºC<br />

K 95 5 1150 ºC<br />

L 90 10 1150 ºC<br />

Em todas as formulações estudadas a argila foi mantida como base para a obtenção de<br />

produtos cerâmicos. Não foi obtida uma amostra com 100% de resíduo para comparações<br />

devido à inviabilidade dessa proposta, visto que o pó de fumo é um material orgânico e é<br />

calcinado totalmente nas temperaturas utilizadas.<br />

Após a preparação e dosagem das matérias-primas, conforme as formulações<br />

estipuladas, as amostras foram misturadas e homogeneizadas a seco em moinho planetário.<br />

Foi adicionado um percentual de água em torno de 5%, conferindo ligeira umidade às<br />

amostras formuladas, evitando dessa maneira perdas das amostras na forma de pós durante a<br />

conformação. Após isso, as amostras foram granuladas por peneiramento, utilizando para isso<br />

uma peneira ABNT 20 # (abertura de 850 µm) e um pincel para induzir a passagem da massa<br />

pela peneira selecionada.<br />

O método de conformação adotado foi a prensagem uniaxial com pressão de 40 MPa<br />

na prensa hidráulica apontada na Figura 11.


36<br />

Figura 11 - Prensa utilizada no estudo.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.<br />

Os corpos de prova, indicados na Figura 12, foram obtidos nas dimensões de uma<br />

matriz com medidas de 20 x 60 mm 2 (largura x comprimento), sendo que a espessura foi<br />

variável conforme as amostras apresentavam maior ou menor teor de resíduos em sua<br />

composição. O tempo de prensagem foi fixado em 15 segundos para cada corpo de prova.<br />

Figura 12 - Corpos de prova após conformação por prensagem.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.<br />

Após a etapa de conformação, os corpos de prova tiveram suas medidas de largura,<br />

espessura e comprimento averiguadas com paquímetro digital, bem como o peso verificado<br />

em uma balança analítica e marcados para posterior controle de propriedades.


37<br />

4.5 Secagem e queima<br />

Mesmo com percentual de umidade baixo, após conformadas por prensagem, as<br />

amostras foram submetidas à secagem em temperatura ambiente pelo período de 24h, e após,<br />

por mais 24h em estufa com temperatura de 110 ºC ± 5 ºC.<br />

Após a etapa de secagem os corpos de prova foram novamente medidos e pesados para<br />

avaliar a retração de secagem e demais propriedades.<br />

Respeitada a etapa de secagem, as amostras foram acondicionadas em placas de<br />

refratário contendo alumina, conforme mostra a Figura 13 e posteriormente conduzidas a<br />

queima em forno elétrico. A etapa de queima ocorreu em três diferentes temperaturas (950,<br />

1050 e 1150 ºC) com taxa de aquecimento de 150 ºC/h e patamar de queima de 8h.<br />

Figura 13 - Corpos de prova em placa refratária contendo alumina.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.<br />

Após o processo de queima e resfriamento, os corpos de prova tiveram novamente suas<br />

medidas de largura, espessura e comprimento verificadas. Após esse processo, além do peso<br />

seco de cada corpo de prova, foram verificados o peso úmido (após permanecer 24h imerso<br />

em água destilada) e o peso imerso quando imerso em água.<br />

4.6 Caracterização dos corpos cerâmicos<br />

Após realizadas as etapas de conformação, secagem e queima, os corpos cerâmicos<br />

obtidos foram caracterizados conforme seu comportamento tecnológico e ambiental. Para isso<br />

foram desenvolvidos ensaios físicos (retração linear, absorção de água e porosidade),


38<br />

mecânicos (resistência mecânica a flexão em quatro pontos) e ambientais (lixiviação e<br />

solubilização) dos corpos de prova originados.<br />

4.6.1 Propriedades fìsicas<br />

Absorção de água: ASTM C – 373/94-88<br />

A absorção de água representa o aumento de peso do material úmido em relação ao<br />

seco. Este parâmetro pode ser avaliado através da relação entre os pesos seco e úmido dos<br />

corpos cerâmicos. A obtenção do peso úmido requer a imersão dos corpos cerâmicos em água<br />

por, no mínimo, 24h. O peso úmido é determinado após a retirada da água superficial do<br />

corpo-de-prova. A absorção de água foi determinada através da Equação 1.<br />

AA<br />

<br />

M<br />

<br />

<br />

M<br />

M<br />

u<br />

i<br />

s<br />

<br />

*100<br />

<br />

(Equação 1)<br />

Onde:<br />

AA = absorção de água (%);<br />

Mu = massa do corpo cerâmico saturado com água (g);<br />

Ms = massa do corpo cerâmico após secagem (g); e<br />

Mi = massa do corpo cerâmico imerso em água (g).<br />

Retração linear: ASTM C – 210/95<br />

A retração linear de queima é obtida de acordo com a Equação 2, que relaciona as<br />

dimensões dos corpos cerâmicos após a secagem e após a queima.<br />

RLQ<br />

<br />

<br />

<br />

L<br />

s<br />

<br />

L<br />

s<br />

L<br />

q<br />

<br />

<br />

*100<br />

<br />

(Equação 2)<br />

Onde:<br />

RLQ = retração linear de queima (%);<br />

Lq = comprimento do corpo cerâmico após queima (mm); e


39<br />

Ls = comprimento do corpo cerâmico após secagem (mm).<br />

Porosidade aparente: ASTM C – 373/94-88<br />

Para realizar o ensaio de porosidade aparente, os corpos cerâmicos tem seus pesos<br />

aferidos após secagem e queima. Para complementar o ensaio, é necessário conhecer os pesos<br />

dos corpos cerâmicos úmidos, isto é, após 24h de saturação em água e também do corpo<br />

cerâmico quando imerso em água. Conhecidas essas incógnitas, aplica-se a Equação 3.<br />

PA<br />

<br />

M<br />

<br />

M<br />

u<br />

u<br />

M<br />

M<br />

s<br />

i<br />

<br />

*100<br />

<br />

(Equação 3)<br />

Onde:<br />

PA = porosidade aparente (%);<br />

Mu = massa do corpo cerâmico saturado com água (g);<br />

Ms = massa do corpo cerâmico após secagem (g); e<br />

Mi = massa do corpo cerâmico imerso em água (g).<br />

4.6.2 Propriedades mecânicas<br />

Resistência mecânica à flexão a quatro pontos: ASTM C – 133/97<br />

A resistência mecânica é determinada em relação à oposição oferecida pelo corpo de<br />

prova quando flexionado a quatro pontos. O ensaio foi realizado em uma máquina universal<br />

de ensaios marca ATS modelo 1105 C, com célula de carga de 50 kN, velocidade de ensaio de<br />

0,5 mm/min, no sentido de compressão e início do ensaio em 2N. Somente os corpos<br />

cerâmicos que foram submetidos ao processo de queima passaram por esse ensaio, não tendo<br />

sido avaliada a resistência mecânica a verde.<br />

A caracterização quanto à resistência mecânica por flexão a quatro pontos, é realizada<br />

conforme esquema indicado na Figura 14, onde a distância l corresponde a 15 mm e a<br />

distância L corresponde a 30 mm.


40<br />

Figura 14 - Representação para ensaio de resistência mecânica à flexão a quatro pontos.<br />

Fonte: Adaptado de TELOEKEN (2010).<br />

Conhecendo as incógnitas b, d, l e L, a resistência de cada corpo cerâmico é calculada<br />

conforme a Equação 4, que relaciona os parâmetros empregados no cálculo da resistência<br />

mecânica a flexão a quatro pontos.<br />

TRF<br />

<br />

<br />

<br />

3. P.<br />

L l<br />

2<br />

2. b. h<br />

(Equação 4)<br />

Onde:<br />

TRF = tensão de ruptura à flexão (MPa);<br />

P = carga de ruptura após secagem (N);<br />

(L - l )= diferença entre as distâncias dos apoios do corpo-de-prova (mm);<br />

b = largura do corpo cerâmico (mm); e<br />

h = altura do corpo cerâmico, (mm).<br />

4.6.3 Caracterização ambiental<br />

A caracterização ambiental do aspecto da incorporação de diferentes teores de pó de<br />

fumo em material cerâmico, para a eventual aplicação na indústria cerâmica, foi avaliado em<br />

função dos ensaios de lixiviação e solubilização.<br />

Esses ensaios têm por objetivo avaliar o potencial de inertização do resíduo industrial<br />

em questão dentro da estrutura cerâmica. Isso é verificado pela presença dos elementos<br />

indicados na NBR 10004/2004 através de análises químicas dos extratos de lixiviado e


41<br />

solubilizado das diferentes amostras estudadas, considerando o teor de resíduo presente em<br />

cada amostra bem como a temperatura e patamar adotados no processo de queima.<br />

Lixiviação: NBR 10005<br />

O ensaio ambiental de lixiviação é realizado conforme a NBR 10005 para<br />

procedimento de obtenção de extrato de lixiviado de resíduos sólidos, que fixa os requisitos<br />

exigíveis para diferenciar os resíduos classificados pela ABNT NBR 10004 como Classe I –<br />

perigosos e Classe II – não perigosos.<br />

Para execução desse ensaio são observadas as definições e requisitos constantes na<br />

NBR 10005, sendo seguidos conforme especificado na norma ou adaptados quando possível e<br />

viável, sem apresentar interferência na interpretação de resultados.<br />

A realização do ensaio de lixiviação consiste em determinar a capacidade de<br />

transferência de substâncias orgânicas e inorgânicas presentes no resíduo sólido, e que<br />

teoricamente seriam inertizadas na estrutura cerâmica, para o meio líquido extrator,<br />

classificando o extrato de lixiviado conforme os parâmatros estipulados para a presença de<br />

cada elemento químico referenciado pela norma.<br />

Para o ensaio de lixiviação os corpos cerâmicos foram seccionados após a etapa de<br />

secagem, conforme a Figura 15, na forma de cubos para atender ao que dita a NBR 10005,<br />

garantindo que as amostras tenham tamanho inferior a peneira de malha 9,5 mm.<br />

Figura 15 - Seccionamento dos corpos de prova.<br />

Fonte: Registro fotográfico do autor, 2011.<br />

Depois de seccionados, secos e queimados, uma parcela dos corpos de prova é<br />

utilizada para efetuar as determinações preliminares constantes na norma. Com uma amostra


42<br />

de 5g determina-se qual a solução de extração a ser utilizada como meio extrator. Essa<br />

solução é determinada em função do pH apresentado pela solução originada através do ensaio<br />

preliminar com os 5g de amostra.<br />

Após determinada a solução de extração, realiza-se o preparo da solução que servirá de<br />

meio extrator para o ensaio de lixiviação. Definidos os reagentes a serem empregados no<br />

preparo da solução de extração, procede-se a formulação da mesma,<br />

Para cada amostra de 50g de material a ser lixiviado é necessário o preparo de 1 litro<br />

de solução de extração. Depois de proceder o preparo da solução em quantidade suficiente<br />

para as amostras em questão, realiza-se o ensaio sob agitação pelo período de 18h ± 2h.<br />

Obedecido ao período de tempo estipulado pela norma, retiram-se os frascos contendo<br />

as soluções de extração e procede-se a filtragem do extrato lixiviado em um sistema com<br />

bomba de vácuo, com membrana filtrante de 0,8 µm de porosidade.<br />

Depois de filtrado, os extratos de lixiviado são encaminhados para análise química por<br />

absorção atômica a fim de determinar a concentração dos elementos presentes no extrato de<br />

lixiviado de resíduos sólidos e compatível com o constante no anexo F da ABNT NBR<br />

10004/2004.<br />

Solubilização: NBR 10006<br />

O ensaio ambiental de solubilizaçãoo é realizado conforme a NBR 10006 para<br />

procedimento de obtenção de extrato de solubilizado de resíduos sólidos, que fixa os<br />

requisitos exigíveis para diferenciar os resíduos classificados pela ABNT NBR 10004/2004<br />

como Classe II A – não inertes e Classe II B – inertes.<br />

Para execução desse ensaio são observadas as definições e requisitos constantes na<br />

NBR 10006, sendo seguidos conforme especificado na norma ou adaptados quando possível e<br />

viável, sem apresentar interferência na interpretação de resultados.<br />

Nesse ensaio é utilizada água deionizada, sem correção do pH, obedecendo a razão<br />

líquido/sólido igual a quatro.<br />

A exemplo do ensaio de lixiviação, as amostras utilizadas para o ensaio de<br />

solubilização devem apresentar diâmetro ≤ 9,5 mm. Nesse ensaio foi utilizada uma amostra<br />

representativa de 125g de material para 500mL de água.<br />

Uma vez determinados os valores, as amostras foram acondicionadas em frascos com<br />

capacidade de 1 litro e agitadas constantemente durante o período de 5 minutos.<br />

Depois de agitar as amostras pelo período necessário, os frascos foram selados com<br />

filme plástico e permaneceram em repouso pelo período de 7 dias.


43<br />

Após o período estipulado pela norma, a fase sólida do solubilizado é separada da<br />

líquida pelo processo de filtração utilizando membrana filtrante com porosidade de 0,45 µm.<br />

A fase líquida é então enviada para análise química por absorção atômica,<br />

determinando a concentração dos elementos presentes no extrato de solubilizado de resíduos<br />

sólidos e compatível com o constante no anexo G da ABNT NBR 10004/2004.


44<br />

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

A seguir, são apresentados os resultados obtidos em relação aos objetivos propostos,<br />

referentes à caracterização física, química e mineralógica das matérias-primas utilizadas no<br />

trabalho, à caracterização tecnológica dos corpos de prova considerando as propriedades<br />

físicas e mecânicas e, também, a viabilidade ambiental dos mesmos em função dos resultados<br />

obtidos após os ensaios de lixiviação e solubilização.<br />

5.1 Caracterização das matérias-primas<br />

5.1.1 Propriedades físicas<br />

A seguir, nas Figuras 16 e 17, apresentam-se os resultados da análise granulométrica<br />

por difração a laser da argila e do pó de fumo respectivamente. Pode-se observar que a argila<br />

apresenta granulometria bastante dispersa, ou seja, com o diâmetro variando em ampla faixa<br />

de tamanhos de partícula, enquanto o pó de fumo apresenta comportamento menos disperso.<br />

Figura 16 - Análise granulométrica por difração a laser da argila após moagem.


45<br />

Figura 17 - Análise granulométrica por difração a laser do pó de fumo após moagem.<br />

A Tabela 3 apresenta o resultado dos dados de distribuição granulométrica da argila e<br />

do pó de fumo utilizados como matérias-primas nesse trabalho. D 10 , D 50 e D 90 são<br />

percentagens (10, 50 e 90%) nas quais as partículas encontram-se abaixo do especificado.<br />

Tabela 4 - Valores representativos da análise granulométrica da argila e do resíduo.<br />

Matéria-prima D 10 (µm) D 50 (µm) D 90 (µm) D médio (µm)<br />

Argila 1,07 7,48 23,1 10,07<br />

Pó de fumo 9,25 31,16 51,81 31,2<br />

Observa-se que os diâmetros médios apresentam valores relativamente dispersos,<br />

sendo que o diâmetro médio das partículas de pó de fumo é superior a granulometria média da<br />

argila. Esse fator pode dificultar a obtenção de corpos de prova homogêneos, facilitando o<br />

surgimento de trincas o que afeta diretamente o desempenho de resistência mecânica do<br />

material obtido a partir de resíduo industrial como agregado em um material cerâmico.


46<br />

5.1.2 Composição química<br />

A composição química da argila e do pó de fumo, em óxidos, através do ensaio de<br />

fluorescência é apresentada na Tabela 5.<br />

Tabela 5 - Composição química das matérias-primas.<br />

Composto Pó de fumo (%) Argila (%)<br />

SiO 2 32,77 44,23<br />

CaO 0,05 15,74<br />

Al2O 3 9,7 8,02<br />

K 2 O 0,38 7,44<br />

Fe 2 O 3 1,86 6,42<br />

P 2 O 5 0,01 2,08<br />

SO 3 - 1,98<br />

Cl - 1,49<br />

TiO 2 0,35 1,33<br />

MgO 0,24 1,11<br />

MnO 0,01 0,41<br />

ZrO 2 0,03 0,13<br />

Na 2 O - 0,08<br />

SrO - 0,07<br />

ZnO - 0,03<br />

Rb 2 O 0,0041 0,02<br />

Y 2 O 3 0,0019 -<br />

Perda ao Fogo 54,54 9,34<br />

Conforme indicado na Tabela 5, a argila é constituída basicamente por sílica (44,23 %<br />

de SiO 2 ), cal (15,74% de CaO), alumina (8,02% de Al 2 O 3 ), potássio (7,44% de K 2 O) e ferro<br />

(6,42% de Fe 2 O 3 ). Apresenta ainda, de forma menos significativa em sua composição, fósforo,<br />

enxofre, cloro, titânio, magnésio e manganês.<br />

Conforme Souza Santos (1975) apud Figueiredo (2008), a argila utilizada nesse estudo<br />

encontra percentuais de SiO 2 , Fe 2 O 3 e Al 2 O 3 nas faixas de concentração que a caracterizam<br />

como sendo uma típica cerâmica vermelha: SiO 2 (43,2 a 77,6%), Fe 2 O 3 (1,36 a 9,6%) e Al 2 O 3<br />

(9,9 a 38%).<br />

O resíduo industrial pó de fumo apresenta elevada perda ao fogo (54,54%), sendo<br />

composto basicamente por sílica (32,77%), alumina (9,7%) e ferro (1,86%). Segundo Macedo


47<br />

(2007) estes resultados podem ser obtidos em amostras de pó de fumo retiradas das partes<br />

inferiores do pé de tabaco, onde geralmente as folhas apresentam maior concentração de sílica<br />

devido a proximidade com o solo.<br />

5.1.3 Composição mineralógica<br />

Uma análise mineralógica representativa das fases formadas para a argila e o pó de<br />

fumo foi realizada a fim de verificar os argilominerais presentes nas argilas.<br />

Para a amostra de argila foram verificadas as presenças dos picos referentes aos planos<br />

cristalinos das fases mineralógicas quartzo e caolinita.<br />

Para a amostra de pó de fumo foram verificadas as presenças dos picos referentes aos<br />

planos cristalinos das fases mineralógicas quartzo e silicato de alumínio.<br />

5.2 Caracterização dos corpos cerâmicos<br />

Os resultados expostos nos gráficos são as médias obtidas a partir das medidas<br />

realizadas considerando-se em um total de 10 corpos de prova. Os valores de desvio padrão<br />

das médias consideradas encontram-se no Anexo I.<br />

5.2.1 Propriedades físicas<br />

Retração linear:<br />

A retração linear constitui-se numa importante propriedade física usada para determinar<br />

e controlar as dimensões do produto cerâmico final, além de estar relacionada ao grau de<br />

sinterização do material (VIANA et al., 2010). O gráfico da Figura 18 apresenta os resultados<br />

de retração linear em função da temperatura de queima para os corpos cerâmicos estudados.


Retração Linear (%)<br />

48<br />

100%A 0%R 97%A 3%R 95%A 5%R 90%A 10%R<br />

4<br />

3,5<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

900 950 1000 1050 1100 1150 1200<br />

Temperatura (ºC)<br />

Figura 18 - Retração linear em função da temperatura de queima.<br />

De um modo geral, percebe-se o aumento da retração linear em função do aumento da<br />

temperatura utilizada na queima, tanto para a formulação composta apenas de argila como<br />

para as formulações contendo percentuais de pó de fumo como agregado.<br />

Nos corpos cerâmicos com adição de resíduo em teor de 5%, observa-se um<br />

comportamento linear relacionado às temperaturas de queima versus retração linear. A<br />

formulação contendo 10% de resíduo apresentou elevação da retração com a elevação das<br />

temperaturas utilizadas.<br />

Nos corpos cerâmicos sem a incorporação de resíduos a retração linear foi mais elevada<br />

para a temperatura de 1050 ºC, tendo um relativo decréscimo quando queimados a 1150 ºC.<br />

Para as amostras com 3% de resíduo, também observou-se esse comportamento, maior<br />

retração na temperatura de 1050 ºC com ligeira queda para o parâmetro na temperatura de<br />

1150 ºC.<br />

Conforme Dondi (2003) apud Viana et al. (2010), os valores de retração linear obtido no<br />

presente trabalho para as diferentes formulações estudadas estão compreendidos na faixa<br />

apropriada para fabricação de produtos de cerâmica vermelha para construção civil. Com<br />

percentuais de retração variando no intervalo de ≈ 1 até 3,5%, os corpos cerâmicos<br />

apresentam boa estabilidade dimensional.<br />

Além disso, a elevação das temperaturas de queima utilizadas convergindo para o<br />

aumento da retração linear contribui para maior densificação, redução de volume e diminuição


AA em 24h (%)<br />

49<br />

da porosidade, com a difusão como processo predominante (RANDALL, 1991 apud<br />

TELOEKEN, 2010).<br />

Absorção de água em 24h:<br />

O gráfico da Figura 19 expõe os resultados para o parâmetro absorção de água em 24h.<br />

100%A 0%R 97%A 3%R 95%A 5%R 90%A 10%R<br />

9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

900 950 1000 1050 1100 1150 1200<br />

Temperatura (ºC)<br />

Figura 19 - Absorção de água após 24h em função da temperatura de queima.<br />

Analisando os dados expostos, percebe-se redução da absorção com o aumento da<br />

temperatura de queima. Isto pode ser atribuído à granulometria extremamente baixa da argila<br />

(D médio = 10,07µm), o que contribui para uma reatividade muito mais eficiente durante as<br />

reações de sinterização, conforme indicado na literatura (ANDRADE et al., 2005).<br />

Para a temperatura de 1050 ºC a redução desse parâmetro apresentou-se mais nítida,<br />

isso pode indicar que nessa temperatura, muito provavelmente, tenha se iniciado a formação<br />

de uma massa vítrea, contribuindo para a redução da porosidade inerente a este tipo de<br />

processamento respondendo pela menor absorção de água.<br />

No entanto, com temperatura de queima de 1150 ºC, os corpos cerâmicos sem adição de<br />

resíduos, bem como os corpos com adição de 10% de resíduo apresentaram maior tendência<br />

em absorver água. Já os materiais contendo 3% e 5% de resíduo apresentaram comportamento


Porosidade Aparente (%)<br />

50<br />

linear, tendo reduzida sua capacidade de absorção de água conforme o aumento da<br />

temperatura de queima.<br />

Porosidade aparente:<br />

No gráfico da Figura 20 encontram-se expostos os resultados para porosidade aparente.<br />

100%A 0%R 97%A 3%R 95%A 5%R 90%A 10%R<br />

18<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

900 950 1000 1050 1100 1150 1200<br />

Temperatura (ºC)<br />

Figura 20 - Porosidade aparente em função da temperatura de queima.<br />

Um corpo qualquer que apresente poros abertos em sua estrutura, quando em contato<br />

com água tende a absorvê-la. O volume de água absorvido em função do tempo de contato é<br />

praticamente igual ao volume de poros abertos do corpo. A quantidade de poros presente em<br />

um corpo cerâmico é um bom indicativo da eficiência do processo de sinterização, visto que<br />

quando bem sinterizados apresentam quantidade mínima de poros acusando queima ideal<br />

(SENAI, 2007).<br />

A diminuição da porosidade aparente pode estar associada, segundo Bragança (2002)<br />

apud Silva (2010), ao processo de sinterização via fase vítrea, devido ao aumento de sua<br />

densificação. Conforme o gráfico indica, nas maiores temperaturas de queima (1050 e 1150<br />

ºC) a porosidade apresenta tendência de redução. Esse comportamento pode, também, estar<br />

correlacionado com uma melhor distribuição granulométrica ocasionada pela adição de uma<br />

fração mais grosseira de resíduo, visto que, nas amostras contendo maiores teores de resíduo<br />

agregado (5 e 10%), os valores médios de porosidade aparente apresentados são menores.


Resistência Mecânica (MPa)<br />

51<br />

5.2.2 Resistência mecânica<br />

Resistência mecânica a flexão a quatro pontos:<br />

No gráfico da Figura 21, se encontram detalhados os valores obtidos para resistência<br />

mecânica a flexão a quatro pontos.<br />

100%A 0%R 97%A 3%R 95%A 5%R 90%A 10%R<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

900 950 1000 1050 1100 1150 1200<br />

Temperatura (ºC)<br />

Figura 21 - Resistência mecânica em função da temperatura de queima.<br />

O aumento da resistência mecânica está diretamente relacionado à temperatura de<br />

queima, pois o aumento da mesma proporciona ao material maior densificação (SILVA, 2010)<br />

Os corpos cerâmicos contendo resíduo apresentam menor resistência mecânica quando<br />

comparados ao corpo cerâmico contendo apenas argila quando queimadas a 950 ºC e 1050 ºC.<br />

Esse comportamento não se repete quando os corpos cerâmicos são submetidos à temperatura<br />

de queima de 1150 ºC, na qual as amostras contendo 3% e 5% de resíduos apresentam<br />

resistência mecânica superior a amostra contendo apenas argila, que por sua vez, apresenta<br />

resistência mecânica muito próxima a amostra contendo 10% de resíduo em sua composição.<br />

Esse acréscimo na resistência está previsto na literatura para pequenos teores (3% e<br />

5%) de resíduo agregados, visto que obtém-se melhor grau de compactação dos corpos<br />

cerâmicos no processo de conformação, melhorando suas propriedades após a queima.


52<br />

(OKONGWU, 1988 apud SILVA, 2010). Já o excesso de resíduo agregado (10%) promove a<br />

formação de pequenas bolsas dentro da microestrutura do corpo cerâmico quando<br />

conformado, e após a queima, isso resulta em microtrincas que são falhas na estrutura do<br />

corpo conformado mais sujeitas ao rompimento durante os ensaios (MONTEIRO, 2005 apud<br />

SILVA, 2010).<br />

Segundo Carty (2008) apud Teloeken (2010), a porosidade possui influência marcante<br />

sobre a resistência mecânica de materiais cerâmicos, uma vez que o poro é um concentrador<br />

de tensões, causando maiores defeitos na microestrutura quando os corpos cerâmicos<br />

apresentam maior porosidade. Esse comportamento é observado para as amostras avaliadas no<br />

presente estudo, visto que as temperaturas de queima que conferiram menor porosidade aos<br />

materiais foram as mesmas que apresentaram melhor resposta quando submetidas ao ensaio<br />

mecânico.<br />

5.2.3 Ensaios ambientais<br />

Lixiviação:<br />

Dentro das determinações preliminares exigidas pela NBR 10005, foi realizado o<br />

ensaio para determinação da solução de extração. Nesse ensaio todas as amostras em questão<br />

apresentaram pH inferior a 5. Em virtude disso utilizou-se a solução de extração número 1,<br />

composta por 5,7 mL de acético glacial, 64,3 mL de NaOH e água destilada, desionizada e<br />

isenta de orgânicos para lixiviação de voláteis e não-volatéis, sendo que o pH dessa solução<br />

encontrou-se dentro da faixa estipulada pela NBR de 4,93 ± 0,05.<br />

De acordo com o constante no anexo F da NBR 10004, o resíduo industrial utilizado<br />

no estudo em questão não apresentou concentração dos elementos que a NBR considera para<br />

classificar os extratos de lixiviado como classe I – perigosos ou classe II – não perigosos.<br />

Dessa forma, podemos afirmar que o extrato de lixiviado obtido nesse ensaio, pelo fato<br />

da ausência de elementos dentro do limite estipulado pela norma, classificaria o extrato como<br />

classe II – não perigoso.<br />

Solubilização:<br />

Seguiram-se as exigências da NBR 10006 para o procedimento de obtenção de extrato<br />

de solubilizado, conforme Figura 22, onde observa-se as amostras preparadas após o período<br />

de 5 minutos de agitação conforme estipulado pela norma.


53<br />

Figura 22 – Amostras preparadas para solubilização.<br />

Após a execução desse ensaio foram analisados os extratos de solubilizado das<br />

amostras conforme exposto na Tabela 6.<br />

Tabela 6 - Resultados para o ensaio de solubilização.<br />

SOLUBILIZAÇÃO<br />

FORMULAÇÃO QUEIMA Al < 0,2 mg/L* Fe < 0,3 mg/L* Mn < 0,1 mg/L*<br />

100%A 0%R 950 ºC 2,07 0,1 0,13<br />

90%A 10%R 950 ºC 0,71 0,06 0,04<br />

90%A 10%R 1050 ºC < 0,01 < 0,02 < 0,02<br />

90%A 10%R 1150 ºC 0,31 < 0,02 < 0,02<br />

* Limites estabelecidos conforme anexo G da ABNT 2004 NBR 10006.<br />

Conforme a Tabela 6, as amostras processadas na temperatura de 950 ºC, sem adição<br />

de resíduo e com teor de resíduo igual a 10% apresentaram valores de concentração para Al<br />

(2,07 e 0,71 mg/L) que extrapolaram o limite estabelecido pelo anexo G da NBR 10004, que<br />

dispõe sobre os limites máximos de concentração no extrato de solubilizado. Ainda para<br />

amostra sem adição de resíduo em sua composição foi observado um valor acima do


54<br />

permitido pela norma para concentração de Mn (0,13 mg/L). Dessa forma o extrato dessas<br />

duas formulações processadas a 950 ºC fica classificado como cClasse II A - não inertes, em<br />

função da presença desses elementos nas referidas concentrações.<br />

Para as amostras contendo 10% de resíduo em sua composição e processadas a<br />

temperatura de 1150 ºC, a concentração do elemento Al (0,31 mg/L) no extrato de<br />

solubilizado classifica-o como classe II A - não inerte.<br />

Já para as amostras contendo 10% de resíduo em sua composição e processadas na<br />

temperatura de 1050 ºC, nenhum elemento presente extrapolou os limites impostos pela NBR<br />

10004, sendo assim classificado como resíduo classe II B - inerte.


55<br />

6 CONCLUSÕES<br />

A realização da presente pesquisa permitiu concluir que:<br />

Em relação às propriedades tecnológicas dos corpos de prova contendo resíduo<br />

industrial como material agregado, verificou-se que a utilização de pó de fumo como material<br />

agregado a massa cerâmica possibilitou a conformação e o processamento de corpos<br />

cerâmicos com propriedades interessantes para aplicação industrial.<br />

Após caracterização dos corpos de prova obtidos com adição de resíduos em diferentes<br />

teores e submetidos a diferentes temperaturas de queima, esses apresentaram propriedades<br />

físicas e mecânicas, como a absorção de água e resistência a flexão, dentro das normas<br />

técnicas existentes. Para os parâmetros citados anteriormente, as normas para a fabricação de<br />

tijolos e blocos cerâmicos exigem valores de absorção de água entre encontram-se entre 8 e<br />

18%, já para resistência mecânica estão divididos em classes, sendo o valor mínimo<br />

apresentado de 1MPa.<br />

De uma forma geral, sintetizando os resultados dos ensaios físicos-mecânicos obtidos,<br />

pode-se afirmar que a absorção de água e a porosidade aparente diminuem com o aumento da<br />

temperatura de queima, enquanto que a retração linear aumenta com a elevação da<br />

temperatura de queima.<br />

Em relação às propriedades ambientais dos corpos de prova contendo resíduo<br />

industrial como material agregado, os corpos de prova contendo resíduo industrial em teores<br />

de 10% e processados nas temperaturas de 950 e 1150 ºC, quando submetidos ao ensaio de<br />

solubilização acabaram classificados como classe II A - não inertes, o que indica a não<br />

imobilização do resíduo dentro da estrutura cerâmica.<br />

Entretanto, os corpos cerâmicos contendo 10% de resíduo e processados na<br />

temperatura de 1050 ºC, apresentaram-se como classe II B - inertes, indicando boa<br />

imobilização dos agentes contaminantes em sua estrutura, o que viabiliza sua utilização como<br />

matéria-prima para a produção de produtos cerâmicos tradicionais.<br />

De qualquer forma, a viabilização do emprego do resíduo industrial pó de fumo como<br />

material agregado em produtos cerâmicos é viável, desde que respeitados os teores de<br />

concentração, bem como a temperatura de queima adequada para promover a inertização dos<br />

elementos perigosos dentro da estrutura cerâmica.<br />

Para execução do presente trabalho, desde sua concepção até os resultados atingidos,<br />

foram enfrentadas algumas limitações de caráter técnico. Deste modo, valores descritos em


56<br />

determinados ensaios podem apresentar discrepância se replicados, mesmo utilizando<br />

matérias-primas oriundas de uma mesma fonte.<br />

Destacar-se-iam como fatores limitantes:<br />

I) Aleatoriedade da argila utilizada na obtenção dos corpos de prova, sendo coletada de<br />

uma jazida pertencente a uma empresa cerâmica da região de Candelária que pode apresentar<br />

variações em suas características (químicas e mineralógicas) quando da necessidade de uma<br />

nova amostragem;<br />

II) Aleatoriedade do resíduo utilizado no estudo, uma vez que o pó de fumo<br />

empregado na obtenção dos corpos de prova foi fornecido por uma indústria geradora, e uma<br />

nova amostragem pode fornecer resíduo com características (químicas e mineralógicas)<br />

diferentes;<br />

III) Utilização do processo de conformação por prensagem, sendo que industrialmente<br />

adota-se o processo de conformação por extrusão para a produção de blocos e tijolos<br />

cerâmicos. Essa diferença no método de conformação pode influenciar nos resultados<br />

alcançados nessa pesquisa, vindo a alterar o comportamento físico-mecânico e ambiental do<br />

material cerâmico contendo resíduo industrial como agregado, quando do interesse em aplicálos<br />

a nível industrial; e<br />

IV) Utilização do processo de queima em forno elétrico, sendo que, na indústria adotase<br />

o processo de queima em forno túnel, o qual apresenta diferentes taxas de aquecimento e<br />

patamares de queima. Esse fator também pode influenciar o comportamento físico-mecânico e<br />

ambiental do material cerâmico contendo resíduo industrial como agregado obtido nessa<br />

pesquisa.


57<br />

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS<br />

Em função da realização do presente estudo, sugere-se que novas pesquisas possam ser<br />

realizadas tendo como foco:<br />

I) Avaliar o comportamento físico-mecânico e ambiental de material cerâmico<br />

contendo pó de fumo como material agregado através da conformação de corpos de prova<br />

pelo processo de extrusão;<br />

II) Avaliar o comportamento físico-mecânico e ambiental de material cerâmico<br />

contendo pó de fumo como material agregado, promovendo a etapa de queima em forno túnel<br />

industrial; e<br />

III) Avaliar o comportamento físico-mecânico e ambiental de material cerâmico<br />

contendo diferentes teores de pó de fumo como material agregado, ou ainda, avaliar o<br />

comportamento de corpos de prova obtidos a partir da incorporação de outros resíduos<br />

industriais ou urbanos como lodos de estações de tratamento (urbanos e industriais), areia de<br />

fundição, resíduos das atividades de marmoarias, chamote da própria indústria cerâmica,<br />

materiais orgânicos (casca de arroz, torta de girassol após produção do biodiesel, canola, etc.)<br />

e demais resíduos que apresentarem potencial de utilização.<br />

Essas sugestões aparecem de forma a complementar os resultados do presente trabalho<br />

viabilizando a real aplicação do resíduo industrial pó de fumo como matéria-prima na<br />

obtenção de produtos cerâmicos, bem como, de outros resíduos.<br />

Ainda destacaria que demais estudos realizados na linha de pesquisa reciclagem,<br />

tratamento e disposição de resíduos sólidos, visando incorporação de resíduos em material<br />

cerâmico são determinantes na geração de novos conhecimentos que venham a auxiliar os<br />

profissionais da área da engenharia e tecnologia na resolução de problemas de cunho<br />

ambiental.


58<br />

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.


62<br />

ANEXO I – Valores médios e desvio padrão para RL, AA, PA e RM<br />

Temperaturas 950 ºC 1050 ºC 1150 ºC<br />

Formulação AA AA AA<br />

100%A 0%R 7,8 ± 0,42 2,54 ± 0,28 4,14 ± 0,52<br />

97%A 3%R 6,92 ± 0,61 5,55 ± 0,42 2,69 ± 0,61<br />

95%A 5%R 5,12 ± 0,85 2,51 ± 0,47 0,58 ± 0,29<br />

90%A 10%R 3,26 ± 0,44 0,69 ± ,041 1,62 ± 0,28<br />

Temperaturas 950 ºC 1050 ºC 1150 ºC<br />

Formulação PA PA PA<br />

100%A 0%R 15,33 ± 0,75 5,45 ± 0,57 8,65 ± 1,02<br />

97%A 3%R 13,42 ± 1,20 11,20 ± 0,79 5,65 ± 1,23<br />

95%A 5%R 10,09 ± 1,60 5,25 ± 0,95 1,23 ± 0,62<br />

90%A 10%R 6,48 ± 0,84 1,43 ± 084 3,26 ± 054<br />

Temperaturas 950 ºC 1050 ºC 1150 ºC<br />

Formulação RL RL RL<br />

100%A 0%R 0,94 ± 0,18 3,48 ± 1,43 2,81 ± 0,90<br />

97%A 3%R 1,83 ± 1,89 2,73 ± 0,10 2,57 ± 0,22<br />

95%A 5%R 1,46 ± 0,39 2,19 ± 0,11 2,92 ± 0,44<br />

90%A 10%R 1,33 ± 0,25 2,99 ± 0,27 3,15 ± 0,14<br />

Temperaturas 950 ºC 1050 ºC 1150 ºC<br />

Formulação RM (Mpa) RM (Mpa) RM (Mpa)<br />

100%A 0%R 1,78 ± 0,12 5,73 ± 0,98 4,45 ± 0,72<br />

97%A 3%R 1,76 ± 0,12 3,49 ± 0,46 5,88 ± 1,28<br />

95%A 5%R 1,82 ± 0,23 2,76 ± 0,21 5,78 ± 1,43<br />

90%A 10%R 0,62 ± 0,07 2,83 ± 0,40 4,52 ± 0,71


ANEXO II – Laudos das análises químicas<br />

63

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