Dissertação Fernando Sansone de Carvalho - Unisc
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1<br />
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL – MESTRADO<br />
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM GESTÃO E TECNOLOGIA AMBIENTAL<br />
<strong>Fernando</strong> <strong>Sansone</strong> <strong>de</strong> <strong>Carvalho</strong><br />
A ECOEFICIÊNCIA DOS PROCESSOS DO SISTEMA DE GESTÃO DE UMA FÁBRICA DE<br />
COLCHÕES E ESTOFADOS BASEADO NAS SUAS NÃO CONFORMIDADES – ESTUDO DE CASO<br />
Santa Cruz do Sul, agosto <strong>de</strong> 2011
2<br />
<strong>Fernando</strong> <strong>Sansone</strong> <strong>de</strong> <strong>Carvalho</strong><br />
A ECOEFICIÊNCIA DOS PROCESSOS DO SISTEMA DE GESTÃO DE UMA FÁBRICA DE<br />
COLCHÕES E ESTOFADOS BASEADO NAS SUAS NÃO CONFORMIDADES – ESTUDO DE CASO<br />
Dissertação apresentada ao Programa <strong>de</strong> Pós-<br />
Graduação – Mestrado em Tecnologia Ambiental, Área<br />
<strong>de</strong> Concentração em Gestão e Tecnologia,<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Cruz do Sul – UNISC, como<br />
requisito parcial para a obtenção do título <strong>de</strong> Mestre<br />
em Tecnologia Ambiental.<br />
Orientador: Prof. Dr. Jorge André Ribas Moraes<br />
Co-orientador: Prof. Dr. Enio Leandro Machado<br />
Santa Cruz do Sul, agosto <strong>de</strong> 2011
3<br />
RESUMO<br />
Este trabalho apresenta uma proposta <strong>de</strong> indicador inovador <strong>de</strong>ntro da Tecnologia<br />
Ambiental, que é a avaliação da ecoeficiência <strong>de</strong> uma empresa pelo viés <strong>de</strong> suas não<br />
conformida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu sistema <strong>de</strong> gestão. Esta é uma nova abordagem que não <strong>de</strong>scarta as<br />
tradicionais ferramentas <strong>de</strong> avaliação da ecoeficiencia <strong>de</strong> uma empresa; ela na verda<strong>de</strong><br />
incrementa as avaliações e baseia-se no controle da exceção ou das não conformida<strong>de</strong>s<br />
ocorridas. As ferramenas tradicionais consi<strong>de</strong>ram os valores <strong>de</strong> medição dos processos<br />
adotados a partir da premissa <strong>de</strong> que o processo sempre será executado com perfeição e<br />
sem erros, sendo que, na prática, qualquer processo é passível <strong>de</strong> erro ou não conformida<strong>de</strong><br />
e, para cada não conformida<strong>de</strong>, existe um gasto financeiro para consertá-lo ou remediá-lo<br />
com a utilização <strong>de</strong> recursos ambientais, seja matéria-prima, insumos, embalagens, água ou<br />
energia. O estudo foi feito em uma indústria <strong>de</strong> colchões e estofados, tendo valida<strong>de</strong> para<br />
qualquer empresa. A metodologia utilizada para essa pesquisa baseou-se nos estudos da<br />
curva ABC; levantamento das não conformida<strong>de</strong>s do processo selecionado; utilização da<br />
ferramenta GAIA – Gerenciamento <strong>de</strong> Aspectos e Impactos Ambientais; Matriz <strong>de</strong> Leopold;<br />
Avaliação <strong>de</strong> Aspectos e Impactos Ambientais; as quais serviram <strong>de</strong> balisadores para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do indicador proposto – INCA – Indicador <strong>de</strong> Não Conformida<strong>de</strong> e<br />
Ambiental; o qual po<strong>de</strong>rá ser implementado pelas organizações visando uma gestão capaz<br />
<strong>de</strong> sistematizar a produção sustentável.<br />
Palavras-chave: não conformida<strong>de</strong>, indicador ambiental, ecoeficiência ambiental, colchões e<br />
estofados.
4<br />
ABSTRACT<br />
This paper proposes a novel indicator in the Environmental Technology, which is the<br />
evaluation of eco-efficiency of a company from the perspective of its non-compliance of its<br />
management system. This is a new approach that does not rule out the traditional tools of<br />
eco-efficiency assessment of a company, it actually increases the assessments and is based<br />
on control of non-compliance or exception occurred. Tools to consi<strong>de</strong>r the values of<br />
traditional measurement of processes adopted from the premise that the process will always<br />
run smoothly and without error, and in practice any process is error-prone or noncompliance,<br />
and for each non-compliance, there is a finance expense for repair or remedy it<br />
with the use of environmental resources, whether raw materials, supplies, packaging, water<br />
or energy. The study was done in an industry mattresses and upholstery furniture, and<br />
applies to any company. The methodology for this research was based on studies of the ABC<br />
curve; survey of non-compliance of the selected process; use of the tool GAIA -<br />
Gerenciamento <strong>de</strong> Aspectos e Impactos Ambientais; Leopold Matrix, Evaluation of<br />
Environmental Aspects and Impacts, which served as tag for the <strong>de</strong>velopment of the<br />
proposed - INCA - Indicador <strong>de</strong> Não Conformida<strong>de</strong> e Ambiental, which may be implemented<br />
by organizations seeking a management able to systematize sustainable production.<br />
Keywords: non-conformities, environmental indicator, environmental eco-efficiency,<br />
mattresses and upholstery furniture.
5<br />
LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />
Figura 1: Exemplo <strong>de</strong> estrutura e <strong>de</strong> preenchimento das RNC’s .........……………..................... 15<br />
Figura 2: Relatório <strong>de</strong> Ação Corretiva/Relatório <strong>de</strong> Ação Preventiva .......…....……………......... 17<br />
Figura 3: Detalhamento das principais etapas utilizadas na metodologia da pesquisa ......... 18<br />
Figura 4: Aspectos relevantes para as diferentes categorias <strong>de</strong> indicadores <strong>de</strong><br />
ecoeficiência ...................................................................................................…..................... 32<br />
Figura 5: Avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ambiental e seus indicadores segundo a norma ISO<br />
14031 .................................................................................................................………............ 33<br />
Figura 6: Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ambiental operacional – indústria ...........……………... 33<br />
Figura 7: Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ambiental operacional – serviços .............……………... 34<br />
Figura 8: Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> gestão ambiental ................................…………….... 34<br />
Figura 9: Vista aérea da unida<strong>de</strong> fabril <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>lária (2009) ...........................……………....... 43<br />
Figura 10: Fabricação do bloco <strong>de</strong> espuma .......................................................……………....... 44<br />
Figura 11: Descrição <strong>de</strong> Processo DP 11 – Produção <strong>de</strong> Espuma .....................……………........ 45<br />
Figura 12: Laminadora <strong>de</strong> mantas .....................................................................……………....... 46<br />
Figura 13: Volume <strong>de</strong> resíduo gerado na montagem dos colchões ................……………......... 47<br />
Figura 14: Produto para avaliação ................................................................……………............ 49
6<br />
LISTA DE TABELAS<br />
Tabela 1 – Classificação da severida<strong>de</strong> dos aspectos <strong>de</strong> saída ................……………................. 37<br />
Tabela 2 – Classificação da probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência ............................……………............. 38<br />
Tabela 3 – Referencial para Classificação da Sustentabilida<strong>de</strong> do Negócio .....……………........ 58
7<br />
LISTA DE ABREVIATURAS<br />
5W2H<br />
AIA<br />
CNTL<br />
CONAMA<br />
DDS<br />
EEA<br />
EMA<br />
EMAS<br />
EMS<br />
EPA<br />
GAIA<br />
IEFM<br />
ISO<br />
MOVERGS<br />
NBR<br />
ONU<br />
PDCA<br />
PF<br />
PR<br />
RAC/RAP<br />
RES<br />
RNC<br />
RNRE<br />
RRE<br />
RS<br />
SENAI<br />
SGA<br />
SGQ<br />
TDI<br />
TNT<br />
What, When, Where, Why, Who, How, How Much<br />
Avaliação <strong>de</strong> Impacto Ambiental<br />
Centro Nacional <strong>de</strong> Tecnologias Limpas<br />
Conselho Nacional do Meio Ambiente<br />
Divisão para o Desenvolvimento Sustentável<br />
European Environmental Agency<br />
Environmental Management Accounting<br />
Environmental Management and Audit Scheme<br />
Environmental Management System<br />
Environmental Protection Agency<br />
Gerenciamento <strong>de</strong> Aspectos e Impactos Ambientais<br />
Índice <strong>de</strong> Eficiência do Fluxo <strong>de</strong> Massa<br />
International Organization for Standardization<br />
Associação das Indústrias <strong>de</strong> Móveis do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />
Norma Brasileira<br />
Organização das Nações Unidas<br />
Plan (planejamento), Do (execução), Check (verificação), Act (ação)<br />
Produto Final<br />
Produto Reutilizável<br />
Relatório <strong>de</strong> Ação Corretiva/Preventiva<br />
Recurso classificado como Resíduo<br />
Relatório <strong>de</strong> Não Conformida<strong>de</strong>s<br />
Recurso Não Renovável Econômico<br />
Recurso Renovável Econômico<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />
Serviço Nacional <strong>de</strong> Aprendizagem Industrial<br />
Sistema <strong>de</strong> Gestão Ambiental<br />
Sistema <strong>de</strong> Gestão da Qualida<strong>de</strong><br />
Tolueno Diisocianato<br />
Tecido Não Tecido
8<br />
UNISC<br />
WBCSD<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Cruz do Sul<br />
World Business Council for Sustainable Development
9<br />
LISTA DE QUADROS<br />
Quadro 1: Classificação da severida<strong>de</strong> dos aspectos <strong>de</strong> saída ........……………......................... 37<br />
Quadro 2: Classificação dos requisitos legais ...............................................……………............ 38<br />
Quadro 3: Classificação das medidas <strong>de</strong> controle .........................................……………........... 39<br />
Quadro 4: Entradas e Saídas do processo produtivo para a fabricação <strong>de</strong> colchões ………….. 48<br />
Quadro 5: Resumo da curva ABC or<strong>de</strong>nada por lucro ........................................................... 49<br />
Quadro 6: Balanço <strong>de</strong> Material .........................................................................……………....... 50<br />
Quadro 7: Avaliação <strong>de</strong> Aspectos Ambientais ..................................................……………........ 55<br />
Quadro 8: Matriz <strong>de</strong> Leopold ................................................................................……………... 56<br />
Quadro 9: Verificação da Sustentabilida<strong>de</strong> da Organização ..............................…………......... 57<br />
Quadro 10: RNC – Registro <strong>de</strong> Não Conformida<strong>de</strong>s ......................................……………........... 60<br />
Quadro 11: Relatório <strong>de</strong> Não Conformida<strong>de</strong>s alterado ......................................……………...... 63<br />
Quadro 12: INCA – Indicador <strong>de</strong> Não Conformida<strong>de</strong> e Ambiental .......................…………….... 66
10<br />
SUMÁRIO<br />
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11<br />
1.1. Objetivos .......................................................................................…........................... 12<br />
1.1.1. Objetivo geral ............................................................….............................................. 12<br />
1.1.2. Objetivos específicos .................................................................................................. 12<br />
1.2. Justificativa ................................................................................................................. 13<br />
1.3. Metodologia ............................................................................................................... 14<br />
1.4. Estrutura do trabalho ................................................................................................. 18<br />
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................. 19<br />
2.1. Histórico do Setor <strong>de</strong> Colchões no Brasil .................................................................... 19<br />
2.2. Competitivida<strong>de</strong> das Indústrias <strong>de</strong> Colchões .............................................................. 21<br />
2.3. Gestão Ambiental e o Setor <strong>de</strong> Colchões ................................................................... 22<br />
2.4. Impacto Ambiental e Ecoeficiência ............................................................................ 23<br />
2.5. Ecogestão e as Não Conformida<strong>de</strong>s do Sistema <strong>de</strong> Gestão ....…………………................ 26<br />
2.6. Ferramentas <strong>de</strong> Gestão .............................................................................................. 27<br />
2.6.1. Curva ABC <strong>de</strong> Produtos .............................................................................................. 28<br />
2.6.2. Diagrama <strong>de</strong> Ishikawa ................................................................................................ 28<br />
2.6.3. Não Conformida<strong>de</strong> ..................................................................................................... 29<br />
2.6.4. Indicadores <strong>de</strong> Desempenho ...................................................................................... 30<br />
2.7. Ferramentas Ambientais ............................................................................................ 30<br />
2.7.1. Indicadores <strong>de</strong> Ecoeficiência .................................................................…................... 31<br />
2.7.1.1. Índice <strong>de</strong> Eficiência do Fluxo <strong>de</strong> Massa ........................................................... 35<br />
2.7.2. Avaliação <strong>de</strong> Aspectos Ambientais ............................................................................. 36<br />
2.7.3. Matriz <strong>de</strong> Leopold ....................................................................................................... 39<br />
2.7.4. Gerenciamento <strong>de</strong> Aspectos e Impactos Ambientais – GAIA ..................................... 40<br />
3. RESULTADOS ..................................................................................................................... 42<br />
3.1. Processo Produtivo <strong>de</strong> Colchões ..............................................…................................ 42<br />
3.1.1. Etapas do Processo ..................................................................................................... 43<br />
3.1.1.1. Fabricação da Espuma ........................................................….......................... 43
11<br />
3.1.1.2. Laminação das Mantas ..............................................…................................... 45<br />
3.1.1.3. Montagem do Colchão ......................................…........................................... 46<br />
3.1.1.4. Embalagem ..................................................................................................... 47<br />
3.2. Classificação dos produtos da empresa pela curva ABC ............................................. 48<br />
3.3. Diagnóstico do processo produtivo do produto selecionado .......................…………... 50<br />
3.3.1. Não Conformida<strong>de</strong>s encontradas ............................................................................... 59<br />
3.4. Prognóstico do processo produtivo ...............................................……....................... 61<br />
3.5. Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho da Ecogestão .......................….....….............................. 64<br />
4. CONCLUSÃO .................................................................................….................................. 68<br />
4.1. Implicações Gerenciais ............................................................................................... 68<br />
4.2. Implicações Ambientais .............................................................................................. 69<br />
4.3. Indicações para outras pesquisas ............................................................................... 70<br />
4.4. Consi<strong>de</strong>rações finais ................................................................................................... 71<br />
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 72
11<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Atualmente as questões ambientais ganham cada vez mais <strong>de</strong>staque na mídia, seja<br />
pelo noticiário <strong>de</strong> catástrofes atribuídas às mudanças climáticas ou por flagrantes <strong>de</strong> crimes<br />
ambientais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas. De uma forma ou <strong>de</strong> outra, é notório que existe um<br />
crescente interesse da população sobre as questões ambientais que veio na carona da<br />
evolução industrial.<br />
Hoje, o po<strong>de</strong>r público começa a fiscalizar mais as empresas por meio <strong>de</strong> legislações<br />
cada vez mais rigorosas, com aplicações <strong>de</strong> pesadas multas e, inclusive, com prisões <strong>de</strong><br />
alguns empresários acusados <strong>de</strong> crime ambiental. Com isso fica claro que a tecnologia e o<br />
conhecimento na área ambiental serão impulsionados e o número <strong>de</strong> estudos abordando o<br />
tema aumentará, visando o melhor entendimento do assunto e melhores formas <strong>de</strong><br />
vivermos <strong>de</strong> forma sustentável em nosso planeta, garantindo a perpetuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa<br />
espécie.<br />
Alguns dos benefícios <strong>de</strong> um trabalho científico aplicado no âmbito empresarial po<strong>de</strong>m<br />
ser: melhorar um processo, aperfeiçoar os resultados <strong>de</strong> uma empresa e solucionar ou<br />
mitigar um problema ambiental.<br />
Dentro <strong>de</strong> empresas que possuem um universo numeroso <strong>de</strong> produtos, processos,<br />
setores, etc., é muito comum, nestes casos, adotar estudos que foquem <strong>de</strong> alguma forma<br />
naqueles que sejam mais representativos e importantes <strong>de</strong>ntro da organização, sendo um<br />
dos caminhos mais comuns o trabalho com a curva ABC.<br />
Esta pesquisa também abrangeu alguns <strong>de</strong>stes propósitos citados anteriormente, haja<br />
visto que não existem muitas publicações referentes especificamente ao <strong>de</strong>sempenho<br />
ambiental da área da indústria <strong>de</strong> colchões no sul do país.<br />
É comum, em algumas organizações <strong>de</strong>ste segmento, haver uma preocupação com a<br />
imagem da empresa alinhada com as questões ambientais, aumentando suas vendas e<br />
melhorando sua imagem através da adoção <strong>de</strong> “selos ver<strong>de</strong>s”, que não são fruto <strong>de</strong> um<br />
organismo certificador ou algo <strong>de</strong>sta natureza. Suas agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> criam os selos e<br />
os colocam em seus produtos, a fim <strong>de</strong> melhorar a imagem da empresa e dos seus produtos.<br />
Os conceitos <strong>de</strong> eficiência ambiental, produção mais limpa, ecoeficiência, etc., <strong>de</strong>vem<br />
ser encarados com certa relativida<strong>de</strong>, pois eles são referência entre um método atual <strong>de</strong>
‘12<br />
fazer as coisas e um novo método que consegue, <strong>de</strong> alguma forma, impactar menos o<br />
ambiente (ou trazer algum benefício); mas, com o passar do tempo, são inventados outros<br />
“novos métodos” e a referência para dizer o que é ecoeficiente, ou produzido <strong>de</strong> forma mais<br />
limpa, passa a ser sempre a última tecnologia empregada.<br />
Desta forma, propõe-se, em primeiro lugar, fazer um diagnóstico da situação atual da<br />
organização, visando i<strong>de</strong>ntificar o que a empresa produz erroneamente <strong>de</strong>ntro ou fora do<br />
seu controle; ou o que ela executa <strong>de</strong>snecessariamente, <strong>de</strong>signado nesse trabalho <strong>de</strong> não<br />
conformida<strong>de</strong>s; para <strong>de</strong>pois, aplicando ferramentas consagradas <strong>de</strong> avaliação ambiental,<br />
levantar os pontos críticos da produção do seu principal produto, propor melhorias nos<br />
processos produtivos e, em seguida, criar indicadores <strong>de</strong> controle e sistematizar o novo<br />
método <strong>de</strong> fazer as coisas.<br />
1.1. Objetivos<br />
1.1.1. Objetivo geral<br />
Aplicar procedimentos <strong>de</strong> Diagnóstico e Prognóstico da Ecogestão para uma empresa<br />
produtora <strong>de</strong> Colchões.<br />
1.1.2. Objetivos específicos<br />
Classificar os produtos da empresa selecionada pela curva ABC;<br />
Diagramar o processo produtivo do produto selecionado, que foi <strong>de</strong>terminado pela<br />
curva ABC;<br />
I<strong>de</strong>ntificar os impactos ambientais gerados pelo produto selecionado a partir da curva<br />
ABC;
‘13<br />
Priorizar e elaborar proposições para a a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> não conformida<strong>de</strong>s ambientais e<br />
econômicas;<br />
Propor indicadores <strong>de</strong> gestão capazes <strong>de</strong> sistematizar a produção sustentável.<br />
1.2. Justificativa<br />
No mercado <strong>de</strong> colchões do Brasil as empresas têm a atuação dos concorrentes em<br />
âmbito regional, não sofrendo uma ação efetiva <strong>de</strong> fábricas geograficamente distantes. Uma<br />
das hipóteses para essa ocorrência é que há um gran<strong>de</strong> volume dos produtos<br />
manufaturados e um impacto no custo do frete para transportar os produtos até os clientes.<br />
Esse fato faz com que as empresas, <strong>de</strong> modo geral, vivam em uma realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pouca<br />
concorrência e com pouco interesse na mudança ou na melhoria dos seus processos, salvo<br />
quando surge, por exemplo, uma ação forte da concorrência ou a força <strong>de</strong> uma lei<br />
ambiental, fazendo com que saiam da inércia para promover alguma modificação. Sendo<br />
assim, essa área da indústria tem muito a evoluir e este trabalho visa a contribuir no sentido<br />
<strong>de</strong> melhorar o <strong>de</strong>sempenho ambiental e, por consequência, os resultados financeiros<br />
daquelas organizações.<br />
A classificação dos produtos pela curva ABC é importante porque existe uma gran<strong>de</strong><br />
varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos na empresa e o trabalho seria extenso <strong>de</strong>mais caso fossem<br />
abordados todos, ao passo que, através da classificação pela curva ABC, po<strong>de</strong>-se dirigir os<br />
esforços àqueles que são os mais representativos em termos <strong>de</strong> vendas, <strong>de</strong> volume<br />
produzido e <strong>de</strong> faturamento.<br />
O monitoramento da gestão ambiental por meio <strong>de</strong> indicadores traz como benefício<br />
para as organizações a possibilida<strong>de</strong> da medição, já que só se gerencia o que se me<strong>de</strong>, sendo<br />
possível, inclusive, a comparação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho entre empresas.<br />
As normas brasileiras da série NBR ISO 14001 (certificação ambiental), 14031 e 14032<br />
(que tratam da Gestão Ambiental – Diretrizes para avaliação do <strong>de</strong>sempenho ambiental e<br />
exemplos da avaliação, respectivamente) são adotadas por algumas empresas e, como são<br />
normas internacionais, po<strong>de</strong>m ser usadas para comparativo <strong>de</strong> qualquer empresa.<br />
A realida<strong>de</strong> é que poucas são as empresas <strong>de</strong>sse segmento que possuem a certificação<br />
na norma ISO 14001; e mesmo as que têm, não adotam os mesmos indicadores e a forma <strong>de</strong><br />
gerenciamento do seu sistema, o que dificulta o comparativo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhos.
‘14<br />
1.3. Metodologia<br />
A Metodologia tem como função posicionar os pesquisadores e ajudá-los a refletir e a<br />
instigar um novo olhar sobre o mundo: um olhar curioso, indagador e criativo (SILVA, 2001).<br />
Neste trabalho, a metodologia usada foi uma pesquisa <strong>de</strong> natureza aplicada, com<br />
abordagem qualitativa <strong>de</strong> objetivo exploratório procedido como estudo <strong>de</strong> caso,<br />
<strong>de</strong>senvolvido em uma empresa fabricante <strong>de</strong> colchões do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />
Os levantamentos dos dados ocorreram por meio <strong>de</strong> entrevistas semiestruturadas ao<br />
gerente da área industrial, visando obter o conhecimento do processo produtivo para<br />
posterior análise e propor críticas e sugestões <strong>de</strong> melhorias. Também se evi<strong>de</strong>nciou o<br />
processo por meio <strong>de</strong> registros fotográficos, os quais serviram para <strong>de</strong>monstrar como a<br />
organização processa seus produtos e como ocorrem as não conformida<strong>de</strong>s.<br />
Após a caracterização da empresa estudada e da família <strong>de</strong> produtos escolhida para a<br />
investigação, a qual foi feita a partir da aplicação da curva ABC (WERKEMA, 1995), também<br />
se utilizou <strong>de</strong> ferramentas <strong>de</strong> diagnóstico para i<strong>de</strong>ntificar os impactos ambientais por meio<br />
da Matriz <strong>de</strong> Leopold (LEOPOLD, 1971); Avaliação <strong>de</strong> Aspectos e Impactos Ambientais<br />
(SENAI/CNTL, 2003); Indicador <strong>de</strong> Ecoeficiência <strong>de</strong> Fluxos <strong>de</strong> Massa – IEFM (OLIVEIRA et al,<br />
2005) e Gerenciamento <strong>de</strong> Aspectos e Impacto Ambiental – GAIA (LERÍPIO, 2000).<br />
As não conformida<strong>de</strong>s foram relacionadas partindo <strong>de</strong> informações existentes na<br />
empresa e por ela disponibilizadas. Toda e qualquer ocorrência <strong>de</strong> não conformida<strong>de</strong>, em<br />
qualquer que seja a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer processo, é registrada em um documento<br />
chamado <strong>de</strong> Relatório <strong>de</strong> Não Conformida<strong>de</strong>, ou simplesmente RNC. Estas não<br />
conformida<strong>de</strong>s foram à base para o início do levantamento dos dados utilizados para<br />
verificar a ecoeficiência dos processos <strong>de</strong>ntro do sistema <strong>de</strong> gestão, uma vez que cada não<br />
conformida<strong>de</strong> resulta em <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> recursos para efetuar sua correção.<br />
A metodologia para a etapa <strong>de</strong> prognóstico foi apoiada em trabalhos <strong>de</strong><br />
implementação <strong>de</strong> Produção Mais Limpa do CNTL – Centro Nacional <strong>de</strong> Tecnologias Limpas<br />
SENAI-RS (SENAI, 2003). Cumprida esta etapa, priorizaram-se as proposições para a<br />
a<strong>de</strong>quação das não conformida<strong>de</strong>s ambientais e econômicas encontradas. Para a solução
‘15<br />
das não conformida<strong>de</strong>s utilizou-se o método científico <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas, baseado<br />
na metodologia do PDCA (Plan, Do, Check e Action) adotado pela empresa, o qual aponta<br />
para dois caminhos: um para não conformida<strong>de</strong>s que geram impactos pouco expressivos no<br />
negócio da empresa e outro que gera impactos significativos.<br />
No caso <strong>de</strong> gerar pouco impacto no negócio da empresa, após o registro da não<br />
conformida<strong>de</strong>, i<strong>de</strong>ntifica-se o responsável pelo registro e o responsável pela tomada da ação<br />
corretiva, que <strong>de</strong>ve ser igualmente registrada no RNC, incluindo a data na qual foi<br />
preenchido o registro, conforme fragmento <strong>de</strong> documento da empresa representada na<br />
figura 1:<br />
Figura 1: Exemplo <strong>de</strong> estrutura e <strong>de</strong> preenchimento das RNC’s<br />
Já no caso em que há a geração <strong>de</strong> impactos significativos no negócio da empresa,<br />
<strong>de</strong>ve-se adotar uma ação imediata para interromper os efeitos da não conformida<strong>de</strong>.<br />
Caso não haja urgência para a tomada <strong>de</strong> uma ação imediata, reúne-se as pessoas com<br />
conhecimento técnico para ajudar a resolver a não conformida<strong>de</strong>, gestores das áreas <strong>de</strong><br />
interesse, responsáveis diretos pela ocorrência ou afetados diretamente com o problema,<br />
i<strong>de</strong>ntificando-se a causa raiz da não conformida<strong>de</strong>, relacionando suas origens ou principais<br />
causas <strong>de</strong> acordo com os 6 grupos:<br />
• Mão <strong>de</strong> obra: negligência, falta <strong>de</strong> treinamento <strong>de</strong> pessoal, inaptidão,<br />
<strong>de</strong>scumprimento do padrão, falta <strong>de</strong> comunicação, etc.;<br />
• Material: <strong>de</strong>sacordo com o padrão, mudança, dosagem errada, fora <strong>de</strong> valida<strong>de</strong>,<br />
conservação ina<strong>de</strong>quada, manuseio ina<strong>de</strong>quado, preparo errado, <strong>de</strong>feito, compra errada <strong>de</strong><br />
material, entrega errada, etc.;<br />
• Método: falta ou inexistência <strong>de</strong> método formal para a realização da tarefa,<br />
método ina<strong>de</strong>quado ou ineficiente, acesso ao método difícil ou impossível, ritmo<br />
ina<strong>de</strong>quado, processo <strong>de</strong> fabricação ina<strong>de</strong>quado ou ultrapassado, etc.;
‘16<br />
• Meio ambiente: leiaute ina<strong>de</strong>quado, ergonomia falha, intempéries, iluminação<br />
<strong>de</strong>ficiente, ventilação ineficiente, falta <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>sastres climáticos,<br />
sazonalida<strong>de</strong>, mercado, etc.;<br />
• Máquinas: Equipamento com <strong>de</strong>feito, falta <strong>de</strong> manutenção preditiva ou preventiva,<br />
<strong>de</strong>fasagem tecnológica, <strong>de</strong>sgaste, regulagem ina<strong>de</strong>quada, projeto ultrapassado (obsoleto),<br />
erro <strong>de</strong> operação da máquina, etc.; e<br />
• Medidas: dimensional fora do padrão, falta ou inexistência <strong>de</strong> padrão <strong>de</strong><br />
medidas, falta <strong>de</strong> calibração dos instrumentos <strong>de</strong> medida, erro <strong>de</strong> dosagem, super ou<br />
subdimensionamento, falta <strong>de</strong> instrumento <strong>de</strong> medida, etc.<br />
I<strong>de</strong>ntificados os grupos que po<strong>de</strong>m ser as causas da não conformida<strong>de</strong>, procura-se, a<br />
partir <strong>de</strong>sse levantamento prévio, <strong>de</strong>scobrir a causa principal que gerou o efeito, valendo-se<br />
do consenso do grupo.<br />
Para as causas fundamentais é criado um plano <strong>de</strong> ação baseado no 5W2H (What,<br />
When, Where, Why, Who, How, How Much) resumido em: ações a serem tomadas para<br />
impedir que a não conformida<strong>de</strong> ocorra novamente, local on<strong>de</strong> a ação <strong>de</strong>ve ser<br />
implementada, quem será o responsável pela implementação, prazo estipulado para<br />
conclusão e dia em que a ação foi efetivamente implementada. Além do registro dos<br />
participantes, também há um espaço para o acompanhamento, que é o fechamento <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciada a eficácia das ações.<br />
A figura 2 apresenta o relatório utilizado pela empresa para o preenchimento dos<br />
RAC/RAP para a solução ou a prevenção da não conformida<strong>de</strong>:
‘17<br />
Figura 2: Relatório <strong>de</strong> Ação Corretiva/Relatório <strong>de</strong> Ação Preventiva<br />
Por fim, é feita a proposição da criação <strong>de</strong> indicadores <strong>de</strong> gestão para acompanhar a<br />
evolução da sistematização<br />
da produção sustentável.<br />
A figura 3 mostra o fluxograma com o <strong>de</strong>talhamento das principais etapas utilizadas na<br />
metodologia <strong>de</strong>sta pesquisa.
‘18<br />
Figura 3: Detalhamento das principais etapas utilizadas na metodologia da pesquisa<br />
1.4. Estrutura do trabalho<br />
No primeiro capítulo é apresentada a introdução, com a <strong>de</strong>scrição dos objetivos (gerais<br />
e específicos), a justificativa da escolha da área estudada e a metodologia utilizada para a<br />
chegada aos resultados <strong>de</strong>sejados.<br />
O segundo capítulo apresenta o <strong>de</strong>senvolvimento do corpo do trabalho, no qual a<br />
revisão bibliográfica fundamenta-se por meio do estado da arte, revendo os conceitos <strong>de</strong><br />
autores sobre as metodologias aplicadas e as <strong>de</strong>finições mais aceitas no meio científico.<br />
O terceiro capítulo aborda a <strong>de</strong>scrição dos processos produtivos do principal produto<br />
escolhido a partir da curva ABC, seguido <strong>de</strong> um diagnóstico das não conformida<strong>de</strong>s<br />
encontradas. Após um prognóstico dos processos analisados, dos resultados obtidos e da<br />
aplicação da metodologia,<br />
sugere-se se o monitoramento do sistema por meio <strong>de</strong> indicadores.<br />
A conclusão apresenta o fechamento do trabalho, trazendo algumas recomendações<br />
para trabalhos futuros e a avaliação dos objetivos propostos, se estes foram atendidos ou<br />
não.
‘19<br />
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />
2.1. Histórico do Setor <strong>de</strong> Colchões no Brasil<br />
No Brasil, o setor <strong>de</strong> colchões está integrado ao contexto do segmento moveleiro.<br />
Neste sentido, a abordagem inicial nesta etapa será feita para o setor moveleiro.<br />
O setor moveleiro é composto por várias indústrias dos segmentos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, metal<br />
e outros materiais em todo território nacional. A indústria brasileira <strong>de</strong> móveis está entre as<br />
mais importantes do segmento das Indústrias <strong>de</strong> Transformação no País, não só pela<br />
importância do valor da sua produção, mas também pela sua geração <strong>de</strong> empregos <strong>de</strong>ntro<br />
da indústria nacional.<br />
Segundo fontes da Associação das Indústrias <strong>de</strong> Móveis do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul – MOVERGS, <strong>de</strong> 2009, no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul existem 2,7 mil indústrias moveleiras. No<br />
Brasil, são 14.657 indústrias. A indústria moveleira gaúcha é formada por um conjunto <strong>de</strong><br />
2.700 empresas, das quais 86% produzem móveis <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, 8% móveis <strong>de</strong> metal, cerca <strong>de</strong><br />
5% móveis estofados e 1% outros móveis.<br />
O setor <strong>de</strong> móveis gaúcho é composto principalmente por pequenas e médias<br />
empresas, cerca <strong>de</strong> 42% faturam até R$600 mil/mês; 16% faturam <strong>de</strong> R$ 601 mil a R$ 1,2<br />
milhões; 32% faturam <strong>de</strong> R$ 1,2 a R$5 milhões/mês e apenas 10% faturam acima <strong>de</strong> R$ 5<br />
milhões/mês. No RS, o setor moveleiro emprega aproximadamente 39 mil pessoas. No Brasil<br />
são 239.688 mil empregados.<br />
Sobre a indústria moveleira gaúcha, em 2009, ainda segundo a MOVERGS:<br />
• Houve faturamento <strong>de</strong> R$3,85 bilhões, representando 18% do Faturamento<br />
Nacional;<br />
• Houve exportação <strong>de</strong> U$200 milhões, representando 28% das Exportações<br />
Nacionais;<br />
• As exportações do estado representam 9,9% sobre o valor total do faturamento; e<br />
• A indústria <strong>de</strong> móveis gaúcha é responsável por 18% da produção nacional e por<br />
28% das exportações brasileiras.<br />
Em valores monetários, o setor produziu, em 2009, R$19 bilhões, o que é equivalente a<br />
1,3% do valor do faturamento da indústria <strong>de</strong> transformação, aí excluídas as indústrias<br />
extrativas mineral e a construção civil.
‘20<br />
As indústrias <strong>de</strong> colchões não têm uma entida<strong>de</strong> nacional <strong>de</strong> classe separada; no geral,<br />
estão associadas junto a outras indústrias <strong>de</strong> móveis no Brasil, talvez pelo fato <strong>de</strong> as<br />
indústrias <strong>de</strong> colchões não movimentarem um valor consi<strong>de</strong>rável, já que representam<br />
menos <strong>de</strong> 5% do setor moveleiro.<br />
Essa indústria vem há muito tempo trabalhando no sentido <strong>de</strong> satisfazer uma<br />
necessida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> todos, que é a <strong>de</strong> todos os dias dormirem para repor suas energias,<br />
sendo que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre o homem buscou o melhor e mais confortável lugar para dormir.<br />
Foi esta busca que fez os ancestrais do homem <strong>de</strong>senvolverem os colchões, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os mais<br />
primitivos (feitos <strong>de</strong> pele <strong>de</strong> animais e folhas) aos mais sofisticados que existem hoje em dia.<br />
Com o passar do tempo o colchão foi virando um verda<strong>de</strong>iro símbolo do luxo, isso<br />
aconteceu nas culturas mais avançadas tais quais as Egípcias, Romanas e Gregas.<br />
Em 3400 a.c. o Rei Tut dormia em uma cama feita <strong>de</strong> ébano (ma<strong>de</strong>ira nobre),<br />
enquanto os cidadãos dormiam sobre folhas <strong>de</strong> palmeira. Estima-se que o primeiro<br />
colchão foi <strong>de</strong>senvolvido pelos romanos. Ele era feito <strong>de</strong> palha, pelos <strong>de</strong> animais,<br />
algodão e lã. Além disso, os romanos ainda <strong>de</strong>senvolveram o primeiro colchão <strong>de</strong><br />
água, diferente <strong>de</strong> hoje em dia, ele era utilizado com água morna para <strong>de</strong>ixar a<br />
pessoa com sono, assim como uma banheira. A primeira cama <strong>de</strong>senvolvida foi no<br />
século XVI. O colchão era colocado sobre uma treliça <strong>de</strong> cordas fixas em uma<br />
estrutura regular <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. A primeira pessoa que começou a fazer colchões<br />
como forma <strong>de</strong> negócio foi Daniel Hayness, que era um fabricante <strong>de</strong> máquinas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scaroçar algodão, que acabou inventando uma máquina que comprimia algodão.<br />
Seu colchão (<strong>de</strong> algodão) ficou tão famoso que ele patenteou sua marca em 1889,<br />
e ficou conhecido como o “colchão <strong>de</strong> Sealy”, porque a cida<strong>de</strong> em que morava era<br />
Sealy, Texas. A estrutura <strong>de</strong> molas surgiu após a revolução industrial, e utilizada<br />
primeiramente em assentos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ira. Na forma <strong>de</strong> colchão, ela foi inventada por<br />
Herinch Westphal. Um dos maiores problemas, por volta <strong>de</strong> 1900, era a freqüência<br />
em que se encontrava insetos nos colchões, pois os mesmos tinham enchimento<br />
orgânico não tratado. Já os colchões <strong>de</strong> algodão tinham um gran<strong>de</strong> problema em<br />
climas quentes e úmidos, eles tinham uma gran<strong>de</strong> chance <strong>de</strong> mofar, isso diminuiu<br />
muito com a invenção <strong>de</strong> novas tecnologias. Outro problema enfrentado por volta<br />
do anos 50 e 60 nos colchões <strong>de</strong> algodão diferentemente dos <strong>de</strong> mola ou espuma,<br />
é que ficavam mais firmes ao envelhecerem. Os colchões <strong>de</strong> molas começaram a<br />
aparecer mais por volta dos anos 20, mas suas vendas cresceram após o término da<br />
2ª Guerra Mundial. Após pouco tempo <strong>de</strong> mercado além dos tamanhos tradicionais<br />
surgiram os tamanhos king e queen. O látex surgiu durante a guerra para substituir<br />
a borracha, e após algum tempo, passou a ser utilizado na fabricação <strong>de</strong> colchões e<br />
travesseiros. Os tecidos metalassê (bordados) tomaram o mercado no final dos<br />
anos 50 começo dos anos 60, dominando o mercado até hoje. Muitas empresas<br />
foram surgindo na década <strong>de</strong> 50, mas logo <strong>de</strong>sapareceram do mercado. Com o<br />
aumento da tecnologia vários tipos <strong>de</strong> molejo foram surgindo no mercado,<br />
proporcionando um conforto maior ao dormir. No início o molejo era formado por<br />
simples molas cônicas ou bi-cônicas, feitas a mão. Hoje os tipos <strong>de</strong> colchão variam<br />
entre vários fabricantes e também entre vários tipos <strong>de</strong> molejo que po<strong>de</strong>m ser:<br />
Bonel, Superlastic, LFK, Posturepedic, DSS (Dual Suport Sistem), Pocket, Beatyrest e<br />
outros. (http://www.colchoes.com/voce_sabia.htm).
‘21<br />
A indústria <strong>de</strong> colchões <strong>de</strong> espuma no Brasil iniciou em São Paulo, no final dos anos 50,<br />
com a Orion, e tomou força daí em diante dividindo o espaço dos colchões <strong>de</strong> mola. Com a<br />
intensificação do uso das espumas, permitiu às empresas também utilizar este material para<br />
fabricação <strong>de</strong> móveis estofados, fazendo com que gran<strong>de</strong> parte das empresas fabricantes <strong>de</strong><br />
colchões pu<strong>de</strong>ssem fabricar estofados.<br />
Neste contexto, ampliaram-se muito as fábricas <strong>de</strong> colchões no final do século<br />
passado, aproveitando o momento <strong>de</strong> franca expansão na substituição dos colchões <strong>de</strong><br />
palha e algodão, primeiro por colchões <strong>de</strong> espuma e <strong>de</strong>pois por colchões <strong>de</strong> mola com base<br />
(dispensando o conjunto colchão + cama), que são as chamadas camas Box.<br />
2.2. Competitivida<strong>de</strong> das Indústrias <strong>de</strong> Colchões<br />
A indústria <strong>de</strong> colchões tem uma característica marcante: atuar regionalmente <strong>de</strong>vido<br />
ao gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> seus produtos e o impacto do frete para a exploração <strong>de</strong> mercados<br />
muito distantes. Em função disso, as indústrias estão geralmente muito próximas dos<br />
mercados consumidores e sofrem concorrência <strong>de</strong> outras empresas regionais, ficando<br />
praticamente <strong>de</strong> fora a competição com produtos globais fabricados nos diversos cantos do<br />
mundo.<br />
Esse panorama faz com que os produtos sejam <strong>de</strong> preço elevado, com <strong>de</strong>mora no<br />
atendimento, pouca preocupação com a satisfação <strong>de</strong> seus clientes e a única ameaça é a<br />
empresa vizinha. Neste contexto, é vista como um gran<strong>de</strong> avanço qualquer melhoria<br />
aplicada nestas empresas, principalmente tecnologias recentes <strong>de</strong> cunho ambiental, como a<br />
Produção mais Limpa ou ecoeficiência, que po<strong>de</strong>m colocar em evidência qualquer empresa<br />
<strong>de</strong>ste setor <strong>de</strong>vido ao ineditismo e à falta <strong>de</strong> iniciativa das <strong>de</strong>mais concorrentes.<br />
Atualmente, no Brasil, poucos produtos <strong>de</strong> cunho ambiental são vistos no mercado <strong>de</strong><br />
colchões; são praticamente inexistentes empresas que têm suas plantas fabris adotando<br />
conceitos <strong>de</strong> produção mais limpa, ou mesmo que, no mínimo, já tenham feito algum<br />
levantamento <strong>de</strong> sua ecoeficiência.
‘22<br />
2.3. Gestão Ambiental e o Setor <strong>de</strong> Colchões<br />
A socieda<strong>de</strong> atualmente está voltando seus olhos cada vez mais para as questões<br />
ambientais. Entre uma das fontes poluidoras mais comuns estão os produtos que a empresa<br />
<strong>de</strong> colchões utiliza para sua fabricação e durante o uso dos produtos, o que acaba<br />
impactando o ambiente. A socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixa pressão para os fabricantes, que tem mais<br />
recursos financeiros para amenizar o problema e também <strong>de</strong>senvolvem tecnologias capazes<br />
<strong>de</strong> mitigar ou reduzir a geração dos rejeitos durante e após a sua produção.<br />
O certo é que cada vez mais as questões ambientais estarão em evidência e as<br />
empresas po<strong>de</strong>m tirar proveito disto, “[...] po<strong>de</strong>mos citar o exemplo dos produtos que<br />
utilizam a preservação ambiental como recurso estrutural e elementar nas campanhas <strong>de</strong><br />
divulgação e marketing. Tais produtos caminham naturalmente na vantagem daqueles que<br />
não lidam com essas questões emergentes e fundamentais [...].” (CUNHA, 2009, p.55).<br />
Existem alguns esforços dos fabricantes no que tange ao uso <strong>de</strong> matérias-primas<br />
renováveis em substituição aos produtos tradicionais oriundos <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong><br />
petróleo, como é o caso das espumas provenientes <strong>de</strong> poliol vegetal, sendo que a espuma é<br />
a matéria básica dos colchões. No entanto, ações como esta, que são apontadas como<br />
benéficas ao meio ambiente, não são diferenciais para as empresas, pois as matérias-primas<br />
alternativas <strong>de</strong>senvolvidas pelas indústrias <strong>de</strong> base estão disponíveis a todos os fabricantes<br />
<strong>de</strong> colchões, ficando difícil a diferenciação se todos têm o mesmo acesso.<br />
As gran<strong>de</strong>s diferenciações <strong>de</strong>vem estar no processo interno <strong>de</strong> cada fábrica <strong>de</strong><br />
colchões bem como nas suas estratégias <strong>de</strong> novos produtos <strong>de</strong> apelo ambiental, gerando um<br />
ganho ambiental e financeiro para a empresa através do emprego <strong>de</strong> tecnologias limpas e da<br />
ecoeficiência. Em uma empresa <strong>de</strong> colchões normalmente existem poucos resíduos se<br />
comparados ao volume produzido, mas ainda assim existem oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> melhoria nos<br />
processos. Consi<strong>de</strong>rando-se os resíduos gerados no processo <strong>de</strong> produção, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar<br />
como os principais: resíduos <strong>de</strong> produtos químicos da fabricação da espuma (poliol), aparas<br />
<strong>de</strong> tecido, espuma expandida e serragem <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />
As principais experiências <strong>de</strong> gestão ambiental para um setor semelhante ao <strong>de</strong><br />
colchões estão <strong>de</strong>scritas para o setor moveleiro, que está sendo utilizado <strong>de</strong> base<br />
comparativa por aproximação entre os dois setores.
‘23<br />
O trabalho <strong>de</strong> Grael e Oliveira (2010) aborda uma integração entre dois sistemas,<br />
certificáveis pelas normas ISO 9001 e ISO 14001, em um estudo <strong>de</strong> caso <strong>de</strong> uma empresa do<br />
setor moveleiro, no qual busca-se tirar proveito com a integração do Sistema <strong>de</strong> Gestão da<br />
Qualida<strong>de</strong> (SGQ) e do Sistema <strong>de</strong> Gestão Ambiental (SGA). O trabalho resulta em 11<br />
proposições práticas para a integração entre os sistemas, a saber:<br />
• Compromisso da alta administração;<br />
• Apoio administrativo, financeiro e pessoal;<br />
• Serviços <strong>de</strong> consultoria;<br />
• Coor<strong>de</strong>nação do programa <strong>de</strong> integração;<br />
• Interface entre os sistemas;<br />
• Capacitação técnico-gerencial;<br />
• Sistema <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança;<br />
• Prospecção, avaliação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> fornecedores;<br />
• Sistema <strong>de</strong> informação;<br />
• Indicadores; e<br />
• Comunicação com o cliente.<br />
A agência americana <strong>de</strong> proteção ambiental, EPA – Environmental Protection Agency,<br />
apresenta um manual com as melhores práticas <strong>de</strong> gestão para a prevenção <strong>de</strong> poluição<br />
para indústrias fabricantes <strong>de</strong> espuma (EPA, 1996), como no caso da empresa estuda, mas é<br />
uma situação que aborda a prevenção da poluição e não apresenta relação com falhas ou<br />
não conformida<strong>de</strong>s. Ou seja, o material que é específico para o tipo <strong>de</strong> empresa similar a do<br />
estudo não aborda as questões-chave <strong>de</strong>ste trabalho, que é a relação entre a gestão, a<br />
ecoeficiência e as não conformida<strong>de</strong>s.<br />
2.4. Impacto Ambiental e Ecoeficiência<br />
Conforme a Resolução n.° 01/86 do CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente,<br />
Impacto Ambiental po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como:
‘24<br />
Qualquer alteração das proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e biológicas do meio<br />
ambiente, causada por qualquer forma <strong>de</strong> matéria ou energia resultante das<br />
ativida<strong>de</strong>s humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saú<strong>de</strong>, a segurança e o<br />
bem-estar da população; as ativida<strong>de</strong>s sociais e econômicas; a biota e a qualida<strong>de</strong><br />
dos recursos ambientais (p.1).<br />
No início do processo <strong>de</strong> industrialização, as empresas não tinham preocupação com<br />
os impactos ambientais e simplesmente faziam suas ativida<strong>de</strong>s e, mais tar<strong>de</strong>, apareceria, ou<br />
não, algum dano ou impacto ao meio ambiente, e a opinião pública tomava conhecimento<br />
somente <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s catástrofes ambientais.<br />
Hoje os novos empreendimentos já necessitam avaliar seus impactos antes do início <strong>de</strong><br />
suas ativida<strong>de</strong>s, ainda na forma <strong>de</strong> projeto, a chamada Avaliação <strong>de</strong> Impacto Ambiental –<br />
AIA, que é <strong>de</strong>scrito por Jay et al. (2007) como a avaliação dos efeitos que po<strong>de</strong>m surgir a<br />
partir <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> projeto (ou outra ação) que afete significativamente o ambiente. É um<br />
processo sistemático que consi<strong>de</strong>ra os possíveis impactos antes <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre<br />
se <strong>de</strong>verá ser dada autorização para uma proposta prosseguir ou não. A AIA exige, entre<br />
outros itens, a publicação <strong>de</strong> um relatório <strong>de</strong> AIA para <strong>de</strong>screver os prováveis impactos<br />
significativos em <strong>de</strong>talhes. A consulta e a participação do público são partes integrantes da<br />
presente avaliação. A AIA é, portanto, uma antecipação ou uma ferramenta <strong>de</strong><br />
gerenciamento ambiental participativa.<br />
Segundo Delavy (2009), o processo industrial será mais ecoeficiente, quanto maior for<br />
a relação entre a massa dos seus recursos renováveis e dos não renováveis. Por recurso<br />
econômico se enten<strong>de</strong> todos os insumos adquiridos pela empresa, os quais possuem valor<br />
econômico agregado provindo dos seus processamentos. Além <strong>de</strong> poupar gastos ao<br />
processar seus próprios insumos, a empresa ecoeficiente po<strong>de</strong>rá ter um controle mais<br />
amplo sobre a ativida<strong>de</strong> no que se refere à minimização das alterações causadas por esta<br />
sobre o ecossistema. O processo também será mais ecoeficiente na medida em que se<br />
aperfeiçoe o aproveitamento dos seus recursos, gerando menos resíduos, eliminando ou<br />
mitigando os impactos ambientais. Com relação à saída dos produtos, <strong>de</strong>ve-se maximizar a<br />
massa do produto final, agregando valor econômico, e a massa que é reintegrada ao<br />
processo. Ou seja, da massa total <strong>de</strong> saída <strong>de</strong>ve se obter o mínimo <strong>de</strong> resíduos.<br />
Nesse contexto, a política nacional <strong>de</strong> resíduos sólidos (BRASIL, 2010) reforça a<br />
implantação da chamada logística reversa, reforçando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> verticalização da<br />
produção para retornar ao máximo, não apenas resíduos, mas também produtos que
‘25<br />
tenham rejeição para serem reaproveitados no processo produtivo. Isto reforçará como lei a<br />
ecoeficiência.<br />
Em alguns casos estudados por Ferreira et al. (2008), <strong>de</strong> empresas que formam a base<br />
da principal matéria-prima do setor moveleiro, no caso a ma<strong>de</strong>ira, nota-se que já existem<br />
empresas (uma das três estudadas) que trabalham no sentido da logística reversa,<br />
<strong>de</strong>stinando as sobras do corte das ma<strong>de</strong>iras para venda <strong>de</strong> um novo produto do portfólio<br />
<strong>de</strong>sta empresa, que é <strong>de</strong>stinado à geração <strong>de</strong> energia no funcionamento <strong>de</strong> estufas <strong>de</strong><br />
secagem <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e outros produtos.<br />
Ainda no setor moveleiro, Pizzinatto et al. (2007) i<strong>de</strong>ntificaram, através <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong><br />
caso, uma empresa que efetivamente obteve ganho com o uso da logística reversa a partir<br />
<strong>de</strong> um problema que esta tinha, que era o valor e o tempo muito alto gastos com assistência<br />
técnica, os quais foram diminuídos em função da adoção <strong>de</strong>ste sistema.<br />
Po<strong>de</strong>-se utilizar dos conceitos da Logística Reversa para o caso em estudo – Indústria<br />
<strong>de</strong> Colchões e Estofados, pois esta se caractriza como uma empresa <strong>de</strong> transformação em<br />
massa, como é o caso da Indústria <strong>de</strong> Transformação <strong>de</strong> vidros on<strong>de</strong>, Gonçalves e Marins<br />
(2006) aplicaram o procedimento <strong>de</strong> logística reversa para o setor <strong>de</strong> laminação <strong>de</strong> vidros<br />
consi<strong>de</strong>rando a recuperação das aparas <strong>de</strong> vidro e polivinilbutiral<strong>de</strong>ído. Aspectos logísticos<br />
como a organização <strong>de</strong> área <strong>de</strong> armazenamento transitório <strong>de</strong>stas aparas e a logística <strong>de</strong><br />
transporte para o fornecedor das matérias-primas foram consi<strong>de</strong>rados. Dessa maneira, para<br />
uma unida<strong>de</strong> do produto final, com área nominal <strong>de</strong> 250m 2 , foi possível, com a aplicação da<br />
logística reversa, reduzir perdas com as aparas entre US$122,50 e US$245,00 por unida<strong>de</strong> do<br />
produto final (ou seja, <strong>de</strong> US$0,49/m 2 a US$0,98/m 2 ). Outro aspecto importante <strong>de</strong>ste<br />
trabalho foi a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ofertar aos clientes <strong>de</strong> vidro laminado, que, ao participarem<br />
do processo <strong>de</strong> logística reversa, teriam <strong>de</strong>scontos entre 1,5% a 2,5% no preço da matériaprima.<br />
Também foi consi<strong>de</strong>rado que os custos <strong>de</strong> reprocesso e <strong>de</strong> transporte das aparas<br />
po<strong>de</strong>riam ser reduzidos caso fosse negociada uma política <strong>de</strong> fretes <strong>de</strong> retorno mais<br />
apropriada.<br />
Existe o registro <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> caso, <strong>de</strong>scrito por Argenta (2007), focado na redução<br />
dos impactos ambientais no setor moveleiro (que engloba os colchões e estofados) <strong>de</strong> uma<br />
cida<strong>de</strong> próxima à cida<strong>de</strong> da empresa estudada, on<strong>de</strong> foram constatados os setores da<br />
pintura e acabamento como os processos e subprocessos com significativa relevância<br />
ambiental, mas que não estão presentes na indústria <strong>de</strong> colchões e estofados. O trabalho
‘26<br />
ainda mostra que as empresas da região carecem <strong>de</strong> uma participação ativa no<br />
cumprimento <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> ambiental e que existe espaço para um trabalho <strong>de</strong><br />
produção mais limpa com redução do consumo <strong>de</strong> energia e matéria-prima <strong>de</strong>squalificada.<br />
2.5. Ecogestão e as Não Conformida<strong>de</strong>s do Sistema <strong>de</strong> Gestão<br />
A Ecogestão e as Não Conformida<strong>de</strong>s do Sistema <strong>de</strong> Gestão estão sendo tratadas<br />
juntas neste trabalho <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> ser esta a base ou o ponto-chave <strong>de</strong> todo o estudo;<br />
então, preten<strong>de</strong>-se, assim, julgar a ecoeficiência da empresa baseada na sua ecogestão, ou<br />
melhor, na eficiência do seu processo <strong>de</strong> gestão através <strong>de</strong> suas não conformida<strong>de</strong>s do<br />
sistema <strong>de</strong> gestão.<br />
Para tanto é importante revisar alguns conceitos e <strong>de</strong>finir outros com base nos estudos<br />
já feitos, pois os conceitos dos itens citados anteriormente são novos e não são unânimes e<br />
<strong>de</strong> uso corrente para a vasta maioria das empresas, principalmente no uso do dia a dia no<br />
Brasil.<br />
Segundo o Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável – WBCSD (World<br />
Business Council for Sustainable Development), a ecoeficiência é alcançada pela entrega <strong>de</strong><br />
mercadorias a preços competitivos e serviços que satisfaçam as necessida<strong>de</strong>s humanas e<br />
tragam qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, enquanto reduz progressivamente os impactos ecológicos e a<br />
intensida<strong>de</strong> do uso <strong>de</strong> recursos.<br />
De acordo com Erkko et al. (2005), o conceito <strong>de</strong> ecoeficiência surgiu na década <strong>de</strong><br />
1990 como sendo a busca nos negócios pelo <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e se tornou<br />
habitual para <strong>de</strong>fini-lo como uma combinação <strong>de</strong> eficiências econômicas e ambientais<br />
(ecológicas).<br />
Muitos estudos <strong>de</strong> ecoeficiência abordam a Contabilida<strong>de</strong> da Gestão Ambiental ou, em<br />
inglês, Environmental Management Accounting – EMA, inclusive com incentivo da Divisão<br />
para o Desenvolvimento Sustentável (DDS), da Organização das Nações Unidas – ONU, em<br />
cooperação com um número <strong>de</strong> órgãos governamentais e especialistas não governamentais.<br />
Conforme Jasch (2003), o foco central da Contabilida<strong>de</strong> da Gestão Ambiental po<strong>de</strong> ser<br />
especificado nos procedimentos da metodologia EMA, os quais estabelecem um controle<br />
para a avaliação do total das <strong>de</strong>spesas ambientais anualmente: redução e tratamento das<br />
emissões, disposição <strong>de</strong> resíduos e operacionalida<strong>de</strong> da gestão e da proteção ambiental.
‘27<br />
Além disso, é um novo <strong>de</strong>safio para a maioria das empresas. O valor <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> material<br />
que, ao final do processo, não virou produto e seus custos <strong>de</strong> produção são adicionados.<br />
Esta soma total frequentemente oferece um quadro assustador dos custos anuais <strong>de</strong><br />
ineficiência e incita as empresas à melhoria <strong>de</strong> seus sistemas <strong>de</strong> informações. Assim sendo,<br />
as opções para melhorar a eficiência do fluxo <strong>de</strong> material na produção <strong>de</strong>ve ser o principal<br />
objetivo da produção mais limpa.<br />
Na Europa há o regulamento Environmental Management and Audit Scheme – EMAS<br />
(Reg. CE 761/01), que é o regime comunitário implementado pela Comissão Europeia <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1993 e serve para a implementação <strong>de</strong> um Sistema <strong>de</strong> Gestão Ambiental – SGA ou, em<br />
inglês, Environmental Management System – EMS, <strong>de</strong> qualquer organização.<br />
O sistema EMS foi inicialmente proposto pela Comissão Europeia e pela ISO como<br />
favorito <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> instrumentos políticos que permitem às empresas perseguir,<br />
simultaneamente, objetivos ambientais e metas competitivas <strong>de</strong> uma forma sinergética<br />
(IRALDO et al, 2009).<br />
Com estes mecanismos, há o SGA da organização, que po<strong>de</strong> ser incrementado pelo<br />
EMA, ligando os gastos com questões ambientais <strong>de</strong> uma empresa à contabilida<strong>de</strong>. Para<br />
auditar este processo existe o EMAS, que faz o acompanhamento e o registro dos<br />
acontecimentos.<br />
2.6. Ferramentas <strong>de</strong> Gestão<br />
Fazer o trabalho <strong>de</strong> gestão requer o uso <strong>de</strong> ferramentas que aju<strong>de</strong>m e facilitem o<br />
trabalho do gestor, po<strong>de</strong>ndo estas ser dos mais variados tipos e aplicações, e que são criadas<br />
e aperfeiçoadas constantemente buscando otimizar os resultados obtidos.<br />
As ferramentas <strong>de</strong> gestão po<strong>de</strong>m servir para diversas aplicações e po<strong>de</strong>m ter<br />
aplicações muito específicas. A seguir são apresentadas algumas ferramentas utilizadas no<br />
estudo.
‘28<br />
2.6.1. Curva ABC <strong>de</strong> Produtos<br />
A Curva ABC, também conhecida como curva 80-20, é baseada no teorema do<br />
economista Vilfredo Pareto, que viveu na Itália, no século XIX. Em estudo sobre a renda e a<br />
riqueza, ele observou que uma parcela pequena da população, em torno <strong>de</strong> 20%, era a que<br />
concentrava a gran<strong>de</strong> parte da riqueza (cerca <strong>de</strong> 80%).<br />
De acordo com Werkema (1995), o princípio <strong>de</strong> Pareto estabelece que os problemas<br />
relacionados à qualida<strong>de</strong> (percentual <strong>de</strong> itens <strong>de</strong>feituosos, número <strong>de</strong> reclamações <strong>de</strong><br />
clientes, modos <strong>de</strong> falhas <strong>de</strong> máquinas, perdas <strong>de</strong> produção, gastos com reparos <strong>de</strong><br />
produtos <strong>de</strong>ntro do prazo <strong>de</strong> garantia, ocorrências <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, atrasos na<br />
entrega <strong>de</strong> produtos, entre outros), os quais se traduzem sob a forma <strong>de</strong> perdas, po<strong>de</strong>m ser<br />
classificados em duas categorias: os “pouco vitais” e os “muitos triviais”. Os pouco vitais<br />
representam um pequeno número <strong>de</strong> problemas, mas que, no entanto, resultam em<br />
gran<strong>de</strong>s perdas para a empresa. Já os muito triviais são uma extensa lista <strong>de</strong> problemas, mas<br />
que, apesar <strong>de</strong> seu gran<strong>de</strong> número, convertem-se em perdas pouco significativas. Em outras<br />
palavras, o princípio <strong>de</strong> Pareto estabelece que a solução <strong>de</strong> cinco ou seis <strong>de</strong>stes problemas<br />
po<strong>de</strong>rá representar uma redução <strong>de</strong> 80 a 90% das perdas que a empresa vem sofrendo<br />
<strong>de</strong>vido à ocorrência <strong>de</strong> todos os problemas existentes.<br />
A curva ABC é um método <strong>de</strong> classificação <strong>de</strong> informações para que sejam separados<br />
os itens <strong>de</strong> maior importância ou impacto, os quais são, normalmente, em menor número<br />
(CARVALHO, 2002). Partindo da classificação pela curva ABC, é possível priorizar ações a<br />
partir <strong>de</strong> on<strong>de</strong> geram mais resultado e abordar um menor número <strong>de</strong> itens.<br />
2.6.2. Diagrama <strong>de</strong> Ishikawa<br />
O Diagrama <strong>de</strong> Ishikawa, também conhecido como diagrama <strong>de</strong> causa e efeito, é uma<br />
ferramenta <strong>de</strong> gestão que serve para cruzar a relação entre o resultado <strong>de</strong> um processo<br />
(efeito) e os fatores <strong>de</strong>ste processo (causas) que afeta o resultado.<br />
Frequentemente, o resultado <strong>de</strong> interesse do processo constitui um problema a ser<br />
solucionado e, então, o diagrama <strong>de</strong> causa e efeito é utilizado para sumarizar e representar<br />
as possíveis causas do problema consi<strong>de</strong>rado, atuando como um guia para a i<strong>de</strong>ntificação da
‘29<br />
causa fundamental <strong>de</strong>ste problema e para a <strong>de</strong>terminação das medidas corretivas que<br />
<strong>de</strong>verão ser adotadas (WERMEKA, 1995).<br />
2.6.3. Não Conformida<strong>de</strong><br />
A não conformida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser entendida como sendo apenas o oposto daquilo que<br />
está conforme; sendo assim, é necessário <strong>de</strong>finir o que é conformida<strong>de</strong>.<br />
Segundo o dicionário Michaelis (2009), conformida<strong>de</strong> é a qualida<strong>de</strong> do que é conforme<br />
ou <strong>de</strong> quem se conforma. Dentro <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> gestão empresarial, conformida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />
ser entendida como sendo o atendimento à forma estabelecida <strong>de</strong> se fazer as coisas, ou o<br />
jeito certo <strong>de</strong> fazer as coisas.<br />
De acordo com Mubarack 1 , o trabalho <strong>de</strong> um gestor é administrar o caos, que é o<br />
estado natural que uma empresa atinge quando o gerenciamento não é feito (informação<br />
verbal), ambiente i<strong>de</strong>al para que ocorram incontáveis erros, em outras palavras, inúmeras<br />
não conformida<strong>de</strong>s.<br />
Um trabalho básico <strong>de</strong> gestão em uma empresa passa por registrar as ativida<strong>de</strong>s<br />
importantes, a fim <strong>de</strong> comprovar e <strong>de</strong>ixar histórico, para futuras auditorias, <strong>de</strong> que<br />
<strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong> ou etapa <strong>de</strong> um processo foi cumprida <strong>de</strong> acordo com os<br />
procedimentos estabelecidos. Tão importante quanto registrar o que é esperado que seja<br />
feito, que dará o resultado esperado, também é importante se ter o registro do que não<br />
ocorreu ou do que não ocorreu conforme o esperado, o que po<strong>de</strong> não gerar consequências,<br />
como po<strong>de</strong> ter consequências gravíssimas, <strong>de</strong>terminando inclusive o encerramento das<br />
ativida<strong>de</strong>s.<br />
O registro do que não foi feito <strong>de</strong> acordo com o esperado em uma empresa (não<br />
conformida<strong>de</strong>s) ajuda ela a apren<strong>de</strong>r com seus erros, revisando seus procedimentos,<br />
melhorando seus processos e criando mecanismos <strong>de</strong> gestão capazes <strong>de</strong> impedir que o<br />
mesmo erro torne a acontecer. Através dos registros das não conformida<strong>de</strong>s também se<br />
po<strong>de</strong> fazer um monitoramento que indique o quão bom está o <strong>de</strong>sempenho das ativida<strong>de</strong>s.<br />
____________________________<br />
1<br />
Paulo Ricardo Mubarack é consultor <strong>de</strong> empresas e a informação foi passada em treinamento, em 2006, na<br />
empresa Xalingo Brinquedos Ind. e Com.
‘30<br />
Toda não conformida<strong>de</strong> gera um retrabalho, seja para ser refeito alguma ativida<strong>de</strong>, ou<br />
para corrigir problemas causados por ela e, com isso, está se gastando mais recursos do que<br />
seria necessário. Desperdiçar recursos é totalmente oposto aos conceitos ambientais e, na<br />
medida em que as empresas <strong>de</strong>sperdiçam menos, elas estão também sendo mais<br />
ecoeficientes em seus processos.<br />
2.6.4. Indicadores <strong>de</strong> Desempenho<br />
De acordo com Duarte e Ferreira (2006), indicadores po<strong>de</strong>m ser entendidos como<br />
representações quantitativas <strong>de</strong> resultados, situações ou ocorrências, constituindo-se em<br />
po<strong>de</strong>rosa ferramenta gerencial para o monitoramento, mensuração e avaliação da qualida<strong>de</strong><br />
e produtivida<strong>de</strong>.<br />
A medição do <strong>de</strong>sempenho tradicional tem como principal preocupação a medição em<br />
termos do uso eficiente dos recursos. Os indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho mais comuns são a<br />
produtivida<strong>de</strong>, o retorno sobre os investimentos, o custo padrão, etc. (MARTINS, 1998).<br />
Através <strong>de</strong> indicadores po<strong>de</strong>-se fazer uma avaliação da gestão sobre um processo e<br />
seu <strong>de</strong>sempenho, mas é importante que a medição do <strong>de</strong>sempenho seja feita não apenas<br />
para planejar, induzir e controlar, mas também para diagnosticar. Ainda segundo Martins<br />
(1998), neste sentido é importante ir sofisticando a medição <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho conforme a<br />
empresa vai passando pelos níveis <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> na implementação da gestão (encenando,<br />
<strong>de</strong>monstrando, comprometendo e incorporando).<br />
2.7. Ferramentas Ambientais<br />
As ferramentas ambientais têm o objetivo <strong>de</strong> auxiliar no entendimento, medição,<br />
avaliação ou caracterização dos aspectos ambientais <strong>de</strong> uma empresa. Em síntese, são<br />
ferramentas para permitir o mínimo <strong>de</strong> gerenciamento ambiental na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
empresa.<br />
A NBR ISO 14031 consi<strong>de</strong>ra como indicadores <strong>de</strong> condição ambiental as características<br />
<strong>de</strong> impacto na biosfera, a qualida<strong>de</strong> do ar e da água, a geração <strong>de</strong> resíduos e as condições do
‘31<br />
solo, tanto em uma área local como regional. Entre várias ferramentas existentes, algumas<br />
importantes utilizadas na elaboração <strong>de</strong>ste trabalho foram revisadas para auxiliar no<br />
entendimento, na utilização e nos cálculos.<br />
2.7.1. Indicadores <strong>de</strong> Ecoeficiência<br />
Os indicadores <strong>de</strong> ecoeficiência são amplamente utilizados com a função <strong>de</strong><br />
apresentar um número que representa o estágio <strong>de</strong> evolução do processo, po<strong>de</strong>ndo<br />
também ser uma ferramenta <strong>de</strong> diagnóstico <strong>de</strong> um processo.<br />
Para o estabelecimento dos indicadores <strong>de</strong> ecoeficiência o WBCSD relaciona os<br />
seguintes itens: <strong>de</strong>smaterialização; <strong>de</strong>senergização; redução do uso <strong>de</strong> substâncias tóxicas;<br />
aumento da reciclabilida<strong>de</strong> dos produtos; recursos renováveis; utilização <strong>de</strong> energias limpas;<br />
concepção <strong>de</strong> produtos com ampliação <strong>de</strong> vida útil e intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> serviços<br />
ambientalmente “amigáveis” em situação <strong>de</strong> escolha pelo cliente (ERKKO et al., 2005).<br />
O WBCSD diz, ainda, que os indicadores ambientais <strong>de</strong>vem seguir os seguintes<br />
princípios (EEA, 2001):<br />
• Ser relevantes para a proteção do meio ambiente, para a saú<strong>de</strong> humana e para a<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida;<br />
• Informar e servir <strong>de</strong> base para os tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão quanto ao <strong>de</strong>sempenho<br />
ambiental <strong>de</strong> uma organização;<br />
• Reconhecer a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócios;<br />
• Promover a comparação e permitir acompanhar a evolução ao longo do tempo;<br />
• Ser bem <strong>de</strong>finidos, <strong>de</strong> fácil mensuração e verificação;<br />
• Ser <strong>de</strong> fácil compreensão e significativos para todas as partes interessadas;<br />
• Abranger todos os processos <strong>de</strong> uma empresa ou organização, incluindo produtos e<br />
serviços, enfocando principalmente os processos que estão sob seu controle e gestão direta;<br />
e<br />
• Reconhecer outros aspectos importantes do negócio como fornecedores e o uso<br />
dos produtos durante a sua abordagem.
‘32<br />
Os indicadores po<strong>de</strong>m ser divididos em três diferentes categorias, o que também está<br />
alinhado com a terminologia adotada pelas Normas ISO 14000, e estas são associadas a/ao:<br />
• Valor do produto ou serviço;<br />
• Influência ambiental relativa à fabricação ou criação do serviço ou produto; e<br />
• Influência ambiental associada ao uso do serviço ou produto.<br />
Para cada categoria são relacionados os seus aspectos significativos, como<br />
apresentado na figura 4.<br />
Figura 4: Aspectos relevantes para as diferentes categorias <strong>de</strong> indicadores <strong>de</strong> ecoeficiência.<br />
Fonte: WBCSD, 2011<br />
De acordo com Piotto (2003), os indicadores são classificados em dois grupos:<br />
a) Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, contendo os <strong>de</strong> gestão e os operacionais; e<br />
b) indicadores <strong>de</strong> condição ambiental, conforme está indicado na figura 5.<br />
Segundo o sistema europeu <strong>de</strong> certificação <strong>de</strong> gestão ambiental – EMAS, os<br />
indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ambiental são divididos em (EMAS, 2000):<br />
• Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho operacional industrial (figura 6);<br />
• Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> serviços (figura 7); e<br />
• Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho do sistema <strong>de</strong> gestão (figura 8).
‘33<br />
Figura 5: Avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ambiental e seus indicadores segundo a norma ISO 14031.<br />
Fonte: ABNT (2001)<br />
Figura 6: Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ambiental operacional – indústria.<br />
Fonte: EMAS (2000)
‘34<br />
Figura 7: Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ambiental operacional – serviços.<br />
Fonte: EMAS (2000)<br />
Figura 8: Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> gestão ambiental.<br />
Fonte: EMAS (2000)<br />
Caberá, portanto, a cada organização selecionar os indicadores relevantes ao seu<br />
negócio, as <strong>de</strong>mandas legais e as partes interessadas (PIOTTO, 2003, p. 81).<br />
Os indicadores adotados foram com base no mo<strong>de</strong>lo proposto por Oliveira et al (2005)<br />
e apresentado no 23º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Engenharia Sanitária e Ambiental.
‘35<br />
2.7.1.1. Índice <strong>de</strong> Eficiência do Fluxo <strong>de</strong> Massa<br />
O conceito <strong>de</strong> ecoeficiência enfoca equilibrar a proteção ambiental e a prevenção da<br />
poluição com as necessida<strong>de</strong>s econômicas das empresas. O objetivo <strong>de</strong> estruturar um<br />
indicador <strong>de</strong> ecoeficiência dos fluxos <strong>de</strong> massa para a avaliação dos impactos ambientais <strong>de</strong><br />
processos industriais é aplicá-lo para medir a sua ecoeficiência ou <strong>de</strong>finir por opções <strong>de</strong><br />
investimento com melhor <strong>de</strong>sempenho ambiental, ou mais ecoeficiente. Os critérios <strong>de</strong><br />
uniformização e agrupamento <strong>de</strong> dados estão em função do fluxo <strong>de</strong> informações. O<br />
Indicador <strong>de</strong> Renovabilida<strong>de</strong> (IR), o Indicador <strong>de</strong> Produtivida<strong>de</strong> (IP) e o Indicador <strong>de</strong> Redução<br />
<strong>de</strong> Resíduo (IRR) foram <strong>de</strong>finidos como os três indicadores primários que integram o<br />
Indicador <strong>de</strong> Ecoeficiência <strong>de</strong> Fluxos <strong>de</strong> Massa (IEFM), <strong>de</strong>talhados a seguir:<br />
• Indicador <strong>de</strong> Renovabilida<strong>de</strong> – IR<br />
Mostra um quociente entre o somatório da massa <strong>de</strong> recurso renovável econômico e a<br />
massa <strong>de</strong> recurso renovável não econômico dividido pela massa total <strong>de</strong> recursos,<br />
apresentando a relação do uso <strong>de</strong> materiais renováveis nos produtos.<br />
• Indicador <strong>de</strong> Produtivida<strong>de</strong> – IP<br />
Este indicador relaciona a divisão da massa <strong>de</strong> produto final <strong>de</strong> valor econômico pela<br />
massa <strong>de</strong> recursos utilizada, resultando na proporção entre o que se consegue transformar<br />
em produto <strong>de</strong> todo material que é utilizado, em resumo, é a eficiência do processo.<br />
• Indicador <strong>de</strong> Redução <strong>de</strong> Resíduo – IRR<br />
É calculado como o quociente do somatório <strong>de</strong> massa do produto final agregado <strong>de</strong><br />
valor econômico e a massa total do produto reutilizado dividido pelo somatório <strong>de</strong> massa do<br />
produto final agregado <strong>de</strong> valor econômico mais a massa total do produto reutilizado mais a<br />
massa do resíduo. Ele monitora o impacto do resíduo do processo em comparação com o<br />
que se utiliza <strong>de</strong> material <strong>de</strong> reaproveitamento e produto final.
‘36<br />
• Indicador <strong>de</strong> Ecoeficiência <strong>de</strong> Fluxos <strong>de</strong> Massa – IEFM<br />
Este índice é calculado pon<strong>de</strong>rando cada um dos índices anteriores com pesos e<br />
somando-se todos os resultados para dividir pelo somatório do valor dos pesos.<br />
Na composição do Indicador <strong>de</strong> Ecoeficiência <strong>de</strong> Fluxos <strong>de</strong> Massa (IEFM), aconselha-se<br />
que seja utilizado o método estatístico <strong>de</strong> média pon<strong>de</strong>rada como medida <strong>de</strong> tendência<br />
central dos dados, no qual os pesos são <strong>de</strong>terminados proporcionalmente à diferença entre<br />
o valor normalizado (1,0) e os resultados <strong>de</strong>stes indicadores, possibilitando uma maior<br />
ênfase àqueles que apresentem as piores situações.<br />
2.7.2. Avaliação <strong>de</strong> Aspectos Ambientais<br />
A avaliação <strong>de</strong> aspectos ambientais tem sua importância baseada na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
impactos ambientais significativos promovidos pela ativida<strong>de</strong> da empresa.<br />
A metodologia utilizada para esta avaliação é baseada no Sistema <strong>de</strong> Gerenciamento<br />
Ambiental e Produção Mais Limpa do Centro Nacional <strong>de</strong> Tecnologias Limpas (CNTL, 2003).<br />
Esta metodologia permite i<strong>de</strong>ntificar os aspectos ambientais das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma empresa<br />
a partir do seu fluxograma <strong>de</strong> processo, <strong>de</strong>terminar os impactos ambientais associados a<br />
estes aspectos e avaliar sua importância. Na sequência, há a necessida<strong>de</strong> do preenchimento<br />
do quadro da Avaliação <strong>de</strong> Aspectos Ambientais, iniciando por:<br />
IDENTIFICAÇÃO<br />
a) Inicia-se o processo pela i<strong>de</strong>ntificação do número da operação/etapa<br />
relacionada com o fluxograma do processo produtivo.<br />
b) Faz-se a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> todos os aspectos <strong>de</strong> entrada e saída partindo do<br />
fluxograma do processo produtivo. Tais aspectos <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>scritos contemplando o maior<br />
número possível <strong>de</strong> informações como, por exemplo: concentração, vazão, fluxo, tipos <strong>de</strong><br />
substâncias, etc.<br />
EXAME<br />
a) Deve-se registrar a manifestação dos impactos supondo que não exista<br />
nenhuma forma <strong>de</strong> controle <strong>de</strong>stes impactos.
‘37<br />
b) Atribui-se valores <strong>de</strong> severida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 1 a 3, para os aspectos <strong>de</strong> saída <strong>de</strong> acordo<br />
com o quadro 1:<br />
Quadro 1: Classificação da severida<strong>de</strong> dos aspectos <strong>de</strong> saída<br />
Fonte: CNTL (2003)<br />
c) Atribui-se valores <strong>de</strong> severida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 1 a 4, para os aspectos <strong>de</strong> entrada,<br />
conforme mostra a tabela 1:<br />
Tabela 1 – Classificação da severida<strong>de</strong> dos aspectos <strong>de</strong> saída<br />
Fonte: CNTL (2003)
‘38<br />
d) Atribui-se valores <strong>de</strong> 1 a 3 para a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência dos aspectos<br />
associada ao impacto em análise, conforme tabela 2:<br />
Tabela 2 – Classificação da probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência<br />
Fonte: CNTL (2003)<br />
e) Calcula-se a importância do impacto medida pelo produto resultante da<br />
severida<strong>de</strong> e probabilida<strong>de</strong>.<br />
I = S (severida<strong>de</strong>) x P (probabilida<strong>de</strong>)<br />
AVALIAÇÃO<br />
a) Atribui-se valor 0 ou 5 para o aspecto ambiental, se está relacionado a um ou<br />
mais requisitos legais, e respon<strong>de</strong>-se à seguinte pergunta, <strong>de</strong> acordo com o quadro 2: “Existe<br />
requisito legal relacionado ao aspecto em análise?”.<br />
NÃO Atribuir valor “0”.<br />
SIM Atribuir valor “5”.<br />
Quadro 2: Classificação dos requisitos legais<br />
Fonte: CNTL (2003)<br />
b) Atribui-se valor <strong>de</strong> 0 a 6 para as medidas <strong>de</strong> controle e respon<strong>de</strong>-se à seguinte<br />
pergunta, <strong>de</strong> acordo com o quadro 3: “A empresa possui medida <strong>de</strong> controle para evitar ou<br />
minimizar o impacto ambiental que o aspecto em análise po<strong>de</strong>rá causar?”.
‘39<br />
SIM, é eficaz e/ou aten<strong>de</strong> a legislação Atribuir valor “0”.<br />
SIM, mas NÃO é eficaz e/ou NÃO aten<strong>de</strong> a legislação<br />
Atribuir valor “3”.<br />
NÃO<br />
Atribuir valor “6”.<br />
Quadro 3: Classificação das medidas <strong>de</strong> controle<br />
Fonte: CNTL (2003)<br />
Caso o impacto ambiental em análise já possua medida <strong>de</strong> controle, a mesma <strong>de</strong>ve ser<br />
registrada na matriz <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> aspectos ambientais (última coluna da planilha).<br />
c) Encontra-se o resultado, que será dado pelo somatório do valor encontrado<br />
no item “importância do impacto”, valor atribuído a requisito legal e o valor atribuído à<br />
medida <strong>de</strong> controle.<br />
R = I + RL + MC<br />
d) Prioriza-se os impactos ambientais, os quais <strong>de</strong>vem ser priorizados conforme<br />
o Resultado (item anterior). Quanto mais elevado for este valor, mais significativo é o<br />
impacto ambiental em questão, <strong>de</strong>vendo, portanto, ser controlado.<br />
2.7.3. Matriz <strong>de</strong> Leopold<br />
A Matriz <strong>de</strong> Leopold (1971) permite apontar quais as características do impacto em<br />
cada tipo <strong>de</strong> meio (físico, biótico ou antrópico) <strong>de</strong> cada ativida<strong>de</strong> que é impactante no<br />
processo. Inicia-se <strong>de</strong>screvendo cada fase do processo a ser analisado e, em seguida, para<br />
cada uma das fases, <strong>de</strong>screve-se as ativida<strong>de</strong>s impactantes para, na sequência, preencher,<br />
no cruzamento da matriz <strong>de</strong> cada linha <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> com cada impacto nos meios, os<br />
seguintes conceitos, <strong>de</strong> acordo com a legenda:<br />
P – Positivo -> impacto positivo no meio.<br />
N – Negativo -> impacto negativo no meio.
‘40<br />
D – Direto -> impacto direto no meio.<br />
I – Indireto -> impacto indireto no meio.<br />
L – Local -> impacto <strong>de</strong> abrangência local no meio.<br />
R – Regional -> impacto <strong>de</strong> abrangência regional no meio.<br />
E – Estratégico -> impacto estratégico no meio.<br />
C – Curto Prazo -> impacto da ativida<strong>de</strong> refletida no meio em curto prazo.<br />
M – Médio Prazo -> impacto da ativida<strong>de</strong> refletida no meio no médio prazo.<br />
O – Longo Prazo -> impacto da ativida<strong>de</strong> refletida no meio em longo prazo.<br />
T – Temporário -> impacto <strong>de</strong> caráter temporário no meio.<br />
Y – Cíclico -> impacto <strong>de</strong> caráter cíclico no meio.<br />
A – Permanente -> impacto <strong>de</strong> caráter permanente no meio.<br />
V – Reversível -> impacto <strong>de</strong> caráter reversível no meio.<br />
S – Irreversível -> impacto <strong>de</strong> caráter irreversível no meio.<br />
Cada meio é subdividido a fim <strong>de</strong> especificar <strong>de</strong>talhadamente em que parte que está<br />
sendo impactado e com quais características, ou até mesmo para verificar se não há nenhum<br />
impacto em algum aspecto do meio ou o próprio meio como um todo não é impactado pelas<br />
ativida<strong>de</strong>s do processo <strong>de</strong> empresa. Com esta matriz preenchida, tem-se uma visão<br />
qualitativa geral <strong>de</strong> qual meio está sendo impactado pelas ativida<strong>de</strong>s inerentes ao processo<br />
analisado com um nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhe bastante gran<strong>de</strong> se comparado com a Avaliação <strong>de</strong><br />
Aspectos Ambientais.<br />
2.7.4. Gerenciamento <strong>de</strong> Aspectos e Impactos Ambientais – GAIA<br />
O Gerenciamento <strong>de</strong> Aspectos e Impactos Ambientais – GAIA, uma metodologia<br />
<strong>de</strong>senvolvida por Lerípio (2001), apresenta uma forma <strong>de</strong> avaliar a sustentabilida<strong>de</strong> do<br />
negócio da empresa através <strong>de</strong> um índice que é gerado a partir do preenchimento <strong>de</strong> um<br />
questionário simples e direto, no qual as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resposta são: SIM, NÃO e NA (não<br />
aplicável). As questões abordadas são separadas por critérios conforme <strong>de</strong>scrito:<br />
• CRITÉRIO 1 – FORNECEDORES<br />
• CRITÉRIO 2 – PROCESSOS PRODUTIVOS
‘41<br />
a) Ecoeficiência do Processo Produtivo<br />
b) Nível <strong>de</strong> Tecnologia Utilizada no Processo<br />
c) Aspectos e Impactos Ambientais do Processo<br />
d) Indicadores Gerenciais<br />
e) Recursos Humanos na Organização<br />
f) Disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Capital<br />
• CRITÉRIO 3 – UTILIZAÇÃO DO PRODUTO/SERVIÇO<br />
• CRITÉRIO 4 – PRODUTO PÓS-CONSUMIDO<br />
Depois <strong>de</strong> respondido todo o questionário com a marcação <strong>de</strong> um “x” na resposta<br />
escolhida, a sustentabilida<strong>de</strong> do negócio é calculada em função da seguinte equação:<br />
Sustentabilida<strong>de</strong> do Negócio = TOTAL DE QUADROS VERDES X 100<br />
79 - TOTAL DE QUADROS AMARELOS<br />
O resultado <strong>de</strong>sta operação matemática é dado em percentual que <strong>de</strong>ve ser<br />
comparado com as faixas <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scritas para a i<strong>de</strong>ntificação do negócio da<br />
empresa quanto à sua sustentabilida<strong>de</strong>, que são 5:<br />
• CRÍTICA – VERMELHA –> Inferior a 30%<br />
• PÉSSIMA – LARANJA –> Entre 30% a 50%<br />
• ADEQUADA – AMARELA –> Entre 50% a 70%<br />
• BOA – AZUL –> Entre 70% a 90%<br />
• EXCELENTE – VERDE –> Superior a 90%
‘42<br />
3. RESULTADOS<br />
3.1. Processo Produtivo <strong>de</strong> Colchões<br />
Na empresa estudada são produzidos dois tipos básicos <strong>de</strong> colchões:<br />
• Colchões <strong>de</strong> espuma e<br />
• Colchões <strong>de</strong> molas.<br />
Os colchões <strong>de</strong> espuma são classificados <strong>de</strong> acordo com sua <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> que, em<br />
resumo, confere a capacida<strong>de</strong> ao colchão <strong>de</strong> suportar peso. São produzidos nas mais<br />
variadas medidas <strong>de</strong> espessuras, tendo por padrão as seguintes medidas <strong>de</strong> largura e<br />
comprimento, em centímetros: 78x188, 88x188, 128x188, 138x188, 158x198 e 193x203.<br />
Já os colchões <strong>de</strong> molas são divididos conforme o tipo <strong>de</strong> mola utilizado que, nesta<br />
empresa, po<strong>de</strong> ser:<br />
• Molas Bonnel: molas helicoidais <strong>de</strong> aço bicônicas, em forma <strong>de</strong> ampulheta,<br />
entrelaçadas entre si.<br />
• Molas Pocket: molas helicoidais <strong>de</strong> aço ensacadas individualmente com TNT (Tecido<br />
Não Tecido), formando carreiras que são unidas para formar o molejo.<br />
Além das molas, são adicionadas camadas <strong>de</strong> mantas nos colchões, que po<strong>de</strong>m ser:<br />
mantas <strong>de</strong> espumas, mantas <strong>de</strong> fibras siliconadas, mantas viscoelásticas ou qualquer outro<br />
material que forneça algum atributo ao colchão, conferindo-lhes conforto. Quanto às<br />
medidas, normalmente os colchões <strong>de</strong> mola são <strong>de</strong> espessura maior que os <strong>de</strong> espuma, já<br />
que a altura somente da estrutura das molas utilizadas não é inferior a 15cm, mas repetem<br />
as mesmas medidas <strong>de</strong> largura e comprimento.<br />
O gran<strong>de</strong> diferencial dos colchões produzidos é que são fabricadas bases para uso<br />
como suporte combinando com colchão, as chamadas camas Box, que dispensam o uso das<br />
tradicionais camas com estrados, fabricadas em aço ou ma<strong>de</strong>ira.<br />
Para aten<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> produtos (incluindo também estofados), a fábrica<br />
emprega aproximadamente 250 pessoas em uma área construída <strong>de</strong> 18mil m² e produz, em<br />
média, 800 colchões por dia.<br />
A fábrica conta com duas borda<strong>de</strong>iras, duas máquinas <strong>de</strong> fabricação <strong>de</strong> espuma (uma<br />
<strong>de</strong> caixote e outra cilíndrica), diversas máquinas <strong>de</strong> corte <strong>de</strong> espuma (vertical e horizontal),<br />
duas máquinas <strong>de</strong> fabricação das molas tipo Bonnel, duas máquinas <strong>de</strong> fabricação da faixa
‘43<br />
do colchão, uma cola<strong>de</strong>ira automática, além <strong>de</strong> diversas máquinas <strong>de</strong> costura para colchões.<br />
A figura 9 mostra a indústria selecionada e a sua localização no município <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>lária.<br />
Figura 9: Vista aérea da unida<strong>de</strong> fabril <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>lária (2009).<br />
3.1.1. Etapas do Processo<br />
Todo o processo produtivo dos colchões inicia-se com a fabricação dos blocos <strong>de</strong><br />
espuma, que são posteriormente laminados <strong>de</strong> acordo com seu uso na montagem do<br />
colchão que, por fim, é embalado para ser expedido aos clientes da empresa. Em seguida,<br />
todas estas etapas citadas são <strong>de</strong>talhadas e também são relacionados os rejeitos ou as<br />
saídas <strong>de</strong> cada processo.<br />
3.1.1.1. Fabricação da Espuma<br />
A produção <strong>de</strong> um colchão começa pela fabricação <strong>de</strong> um bloco <strong>de</strong> espuma feito<br />
basicamente pela mistura <strong>de</strong> dois componentes químicos: poliol e TDI - Tolueno<br />
diisocianato. Juntos, os dois componentes promovem uma reação exotérmica e causam uma<br />
aeração da mistura formando, por fim, a espuma.
‘44<br />
A mistura é <strong>de</strong>spejada em uma gran<strong>de</strong> forma com um revestimento <strong>de</strong> isolamento<br />
feito <strong>de</strong> filme plástico para evitar o contato da espuma com a forma; o filme da parte inferior<br />
fica <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> cada bloco, sendo o restante reaproveitado em outros ciclos, po<strong>de</strong>ndo ser<br />
<strong>de</strong>scartado para a reciclagem após uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ciclos. A figura 10 ilustra os<br />
filmes plásticos em volta da forma e na base do bloco que está fora da máquina.<br />
Figura 10: Fabricação do bloco <strong>de</strong> espuma<br />
Nesta etapa são gerados os resíduos mais impactantes ao meio ambiente, mas a maior<br />
quantida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> se dizer que é <strong>de</strong> refugos <strong>de</strong> blocos, o que po<strong>de</strong> acontecer eventualmente.<br />
Os refugos <strong>de</strong> blocos têm seu <strong>de</strong>stino para reprocesso, no qual serão transformados em<br />
flocos para uso em travesseiros ou em novas mantas <strong>de</strong> espuma aglomerada.<br />
O processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> espuma ainda não está totalmente padronizado pela<br />
empresa, o que po<strong>de</strong> gerar não conformida<strong>de</strong>s durante a sua execução. A fim <strong>de</strong> gerenciar e<br />
controlar o processo produtivo, a <strong>de</strong>scrição dos procedimentos a serem executados torna-se<br />
imperiosa. Mesmo tendo os procedimentos <strong>de</strong>finidos, as não conformida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ocorrer.<br />
O fluxograma da figura 11 corrobora a afirmação <strong>de</strong>scrita acima.
‘45<br />
Figura 11: Descrição <strong>de</strong> Processo DP 11 – Produção <strong>de</strong> Espuma<br />
3.1.1.2. Laminação das Mantas<br />
Uma vez preparado o bloco <strong>de</strong> espuma, ele segue para ser “fatiado” ou laminado em<br />
mantas das espessuras e <strong>de</strong>mais dimensões corretas para serem utilizadas nos colchões.<br />
Quando o bloco é produzido, sua camada mais externa ganha um aspecto diferente do<br />
interior, pois ela se apresenta mais dura e mais áspera, a qual é chamada <strong>de</strong> “cascão”. Ela<br />
<strong>de</strong>ve ser retirada no início do processo <strong>de</strong> laminação e tem seu uso principal para a
‘46<br />
fabricação <strong>de</strong> estofados, na qual sua característica não vai interferir na funcionalida<strong>de</strong> do<br />
produto.<br />
No processo <strong>de</strong> fabricação do bloco po<strong>de</strong>m ocorrer falhas internas que são<br />
evi<strong>de</strong>nciadas no momento da laminação; estas mantas são <strong>de</strong>scartadas da produção e são<br />
<strong>de</strong>stinadas para a fabricação <strong>de</strong> colchões <strong>de</strong> tamanho menor ou vão para o reprocesso na<br />
forma <strong>de</strong> flocos. Durante o corte, o bloco per<strong>de</strong> farelos <strong>de</strong> espuma, que são varridos no fim<br />
do dia e acumulados para o <strong>de</strong>scarte ou para o reprocesso, como po<strong>de</strong> ser observado na<br />
figura 12:<br />
Figura 12: Laminadora <strong>de</strong> mantas<br />
3.1.1.3. Montagem do Colchão<br />
Na fase <strong>de</strong> montagem do colchão há o emprego <strong>de</strong> maior número <strong>de</strong> matérias-primas<br />
diferentes, começando pelas mantas <strong>de</strong> espuma, que chegam cortadas no tamanho do qual<br />
será o colchão e <strong>de</strong>vem receber uma espécie <strong>de</strong> capa <strong>de</strong> tecido, o que lhe conferirá a<br />
aparência e o toque que o consumidor sentirá ao passar a mão no produto. A capa do tecido<br />
é composta por dois tampos e uma faixa que fica na lateral do colchão, ligando o tampo <strong>de</strong><br />
cima com o <strong>de</strong> baixo. O tampo, na sua gran<strong>de</strong> maioria, recebe um bordado que é composto
‘47<br />
por camadas, uma sobre a outra, e todas unidas pela linha do bordado. A camada começa<br />
com o TNT seguido <strong>de</strong> uma manta <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1 a 2cm <strong>de</strong> espessura e, em cima, um tecido<br />
que será o do mo<strong>de</strong>lo do colchão.<br />
Para possibilitar um bom acabamento entre o tampo e a faixa e permitir a costura,<br />
utiliza-se um cadarço ou viés costurado com equipamentos especiais. Eventualmente são<br />
cortadas no tampo algumas sobras para melhorar o aspecto da costura que, na gran<strong>de</strong><br />
maioria, são as responsáveis pelos maiores volumes <strong>de</strong> refugos ou resíduos <strong>de</strong>sta etapa do<br />
processo, evi<strong>de</strong>nciado na figura 13:<br />
Figura 13: Volume <strong>de</strong> resíduo gerado na montagem dos colchões.<br />
3.1.1.4. Embalagem<br />
Quando o produto é revisado e aprovado, este recebe um certificado <strong>de</strong> garantia e<br />
segue para ser embalado com um saco plástico, o qual tem sua extremida<strong>de</strong> selada em uma<br />
máquina seladora que corta e sela ao mesmo tempo, garantindo o lacre da embalagem e<br />
proteção. A apara da rebarba do saco plástico representa o maior volume dos rejeitos <strong>de</strong>sta<br />
etapa.<br />
Visto todo o processo pelo qual o colchão passa durante sua fabricação, as principais<br />
operações estão resumidas no quadro 4, que apresenta <strong>de</strong> forma sintética as entradas e as<br />
saídas do processo produtivo da fabricação do colchão:
‘48<br />
Entradas Operações - Etapas Saídas<br />
Plástico <strong>de</strong> isolamento<br />
Rejeito plásticos<br />
Água<br />
Água rejeitada<br />
Poliol Poliéter Fabricação da espuma Rejeitos químicos<br />
TDI<br />
Bloco bruto<br />
Catalisadores<br />
Refugos <strong>de</strong> espuma<br />
Aditivos<br />
Bloco <strong>de</strong> espuma<br />
Tecido<br />
Linha<br />
Cadarço<br />
Manta espuma<br />
Saco plástico<br />
Cantoneira <strong>de</strong> papelão<br />
Selo garantia papel<br />
Laminação das mantas<br />
Montagem do colchão<br />
Embalagem<br />
Quadro 4: Entradas e Saídas do processo produtivo para a fabricação <strong>de</strong> colchões<br />
Aparas<br />
Varredura<br />
Apara tecido<br />
Apara linha<br />
Apara cadarço<br />
Apara espuma<br />
Apara saco plástico<br />
A empresa fabrica uma ampla e variada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos, entre colchões <strong>de</strong><br />
espuma, colchões <strong>de</strong> mola, cama Box conjugada, cabeceiras, travesseiros, estofados e puffs,<br />
sendo que o mix torna-se gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais para um estudo <strong>de</strong> todo o universo, por isso, fez-se<br />
a classificação dos produtos <strong>de</strong> maior importância através da curva ABC.<br />
3.2. Classificação dos produtos da empresa pela curva ABC<br />
A curva ABC dos produtos da empresa está dividida <strong>de</strong> tal forma que os produtos da<br />
classe A respon<strong>de</strong>m por 80% do lucro operacional e estão distribuídos em aproximadamente<br />
11% do total dos produtos. Isso indica uma gran<strong>de</strong> concentração do lucro em poucos<br />
produtos e, para garantir os 20% restantes do lucro, a empresa precisa ter os outros 89% dos<br />
produtos no seu portfólio.<br />
Baseado na curva ABC, or<strong>de</strong>nada por lucro operacional, tem-se cerca <strong>de</strong> 110 itens da<br />
classe A respon<strong>de</strong>ndo por 80% do lucro, em um total <strong>de</strong> 983 itens. Dentre eles existem<br />
outros produtos <strong>de</strong> todas as linhas e com diferenciação <strong>de</strong> cores do mesmo produto como<br />
um item separado. O quadro 5 a seguir mostra um resumo da curva ABC:
‘49<br />
Produto Cor Desc. Produto % Acumulado<br />
918012 0 CAMA BOX GAZIN ELEGANCE 138X188X48 BORD 995051 6,15% 6,15%<br />
918006 0 CAMA BOX GAZIN IMPERIAL 138X188X48 BORD CONJUGADO 4,73% 10,88%<br />
911513 0 COLCHAO GAZIN CONFORT 138X25 2/PL BONNEL BORDADO. 2,84% 13,73%<br />
...<br />
949504 188 CJ ESTOFADO GAZIN FILADELFIA 3X2 LUG 0,19% 80,11%<br />
150970 0 BASE BOX GAZIN ETERNITY LOVE 138X188X28 995051 TNT 0,19% 80,30%<br />
...<br />
951100 272 SOFA-CAMA GAZIN PEQUIM 0,08% 90,03%<br />
151230 604 COLCHAO GAZIN ILHA BELA D28 128X188X15 BORD 0,08% 90,10%<br />
...<br />
949023 661 CJ ESTOFADO GAZIN TOQUIO 3X2 LUG 0,03% 95,00%<br />
150955 0 BASE BOX GAZIN MAX CONFORT 2010 138X188X23 995045 0,03% 95,03%<br />
...<br />
949045 240 CJ ESTOFADO GAZIN DUBAY 3X2 LUG 0,01% 99,22%<br />
...<br />
920260 251 ALMOFADA GAZIN 40X50 VALENCIA FLOCOS 0,00% 100,00%<br />
100,00% 100,00%<br />
Quadro 5: Resumo da curva ABC or<strong>de</strong>nada por lucro<br />
A curva ABC permite priorizar os esforços e ações para o emprego <strong>de</strong> tecnologias<br />
limpas visando à redução do impacto ambiental, utilizando, neste caso, o principal produto<br />
da classe A e, mesmo assim, tendo uma expressiva contribuição, apesar <strong>de</strong> estar sendo<br />
consi<strong>de</strong>rado um único produto. Como resultado <strong>de</strong>sta classificação e seleção do produto<br />
mais representativo <strong>de</strong>sta organização foi i<strong>de</strong>ntificado o produto Box Conjugado. A figura 14<br />
mostra o produto avaliado:<br />
Figura 14: Produto para avaliação
‘50<br />
3.3. Diagnóstico do processo produtivo do produto selecionado<br />
Inicialmente foi elaborado um balanço material dos processos pertinentes ao produto<br />
escolhido, <strong>de</strong>stacando as entradas e saídas em cada etapa, conforme o quadro 6:<br />
Quadro 6: Balanço <strong>de</strong> Material
‘51<br />
A partir <strong>de</strong>ste balanço, foram calculados os índices abaixo para a produção da espuma<br />
e da cama box conjugada com base nos dados do quadro 5:<br />
ÍNDICE DE RENOVABILIDADE<br />
o<br />
Para o bloco <strong>de</strong> espuma<br />
IR =<br />
(RRE + RRNE)<br />
RT<br />
Sendo:<br />
RT – massa total <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>scritos como entrada na linha “bloco <strong>de</strong> espuma”;<br />
RRE – massa <strong>de</strong> recurso renovável econômico <strong>de</strong>scrito como entrada na linha “agente<br />
expansor”; e<br />
RRNE – massa <strong>de</strong> recurso renovável não econômico que não está presente neste bloco.<br />
IR =<br />
(4,7 + 0)<br />
160<br />
IR = 0,029<br />
o<br />
Para a cama box conjugada<br />
IR = (RRE + RRNE)<br />
RT<br />
Sendo:<br />
RT – massa total <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>scritos como entrada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a linha “bloco aglomerado”<br />
até a linha “selo garantia papel”;<br />
RRE – massa <strong>de</strong> recurso renovável econômico na linha <strong>de</strong> entrada “caixa Box” mais a<br />
linha “cantoneira <strong>de</strong> papelão” mais a linha “selo garantia papel”;<br />
RRNE – massa <strong>de</strong> recurso renovável não econômico que não está presente.
‘52<br />
IR = [(192 + 6,144+0,02592)+(0)]<br />
335,31<br />
IR = 198,17<br />
335,31<br />
IR = 0,591<br />
ÍNDICE DE PRODUTIVIDADE<br />
o<br />
Para o bloco <strong>de</strong> espuma<br />
IP = PF<br />
RT<br />
Sendo:<br />
PF – massa do produto final agregado <strong>de</strong> valor econômico <strong>de</strong>scrito como entrada entre<br />
a linha “plástico <strong>de</strong> isolamento” e a linha “aditivos”, reduzido do somatório do valor <strong>de</strong> saída<br />
entre a linha “plástico refugado” e a linha “espuma refugada”, exceto a linha “bloco bruto”;<br />
RT – massa total <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>scritos como entrada na linha “bloco <strong>de</strong> espuma”.<br />
IP = [(0,4 + 4,7 + 100 + 50 + 0,5 + 5) - (0,002 + 0,06 + 0,006 + 0,6 + 16)<br />
160<br />
IP = 143,9<br />
160<br />
IP = 0,899<br />
o<br />
Para a cama box conjugada<br />
IP = PF<br />
RT
‘53<br />
Sendo:<br />
PF – massa do produto final agregado <strong>de</strong> valor econômico <strong>de</strong>scrito como entrada entre<br />
a linha “tecido” e a linha “selo garantia papel”, reduzido do somatório do valor <strong>de</strong> saída<br />
entre a linha “apara tecido” e a linha “apara papel”;<br />
RT – massa total <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>scritos como entrada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a linha “tecido” até a linha<br />
“selo garantia papel”.<br />
IP = [(16,52+0,00768+1,872+192+96+0,576+4,98+1,18+6,144+0,0259)-(1,22)]<br />
16,52+0,00768+1,872+192+96+0,576+4,98+1,18+6,144+0,0259<br />
IP = 318,09<br />
319,31<br />
IP = 0,996<br />
ÍNDICE DE REDUÇÃO DE RESÍDUO<br />
o<br />
Para o bloco <strong>de</strong> espuma<br />
IRR = PF+PR .<br />
PF+PR+RES<br />
Sendo:<br />
PF – massa do produto final agregado <strong>de</strong> valor econômico <strong>de</strong>scrito como entrada entre<br />
a linha “plástico <strong>de</strong> isolamento” e a linha “aditivos”, reduzido do somatório do valor <strong>de</strong> saída<br />
entre a linha “plástico refugado” e a linha “espuma refugada”, exceto a linha “bloco bruto”;<br />
PR – massa total do produto reutilizado <strong>de</strong>scrito como saída na linha “aparas”.<br />
RES – massa do resíduo <strong>de</strong>scrito como o somatório das saídas entre a linha “refugo<br />
plástico” e a linha “espuma refugada”, exceto a linha “bloco bruto”.<br />
IRR = 143,9+16 .<br />
143,9+16+0,668
‘54<br />
IRR = 159,9 .<br />
160<br />
IRR = 0,99<br />
ÍNDICE DE EFICIÊNCIA DO FLUXO DE MASSA<br />
o<br />
Para o bloco <strong>de</strong> espuma<br />
IEFM = [(IRxP1)+(IPxP2)+(IRRxP3)] .<br />
(P1+P2+P3)<br />
IEFM =<br />
0,029x0,95+0,899x0,05+0,99x0,0<br />
1<br />
IEFM = 0,076<br />
On<strong>de</strong> P1, P2 e P3 são pesos atribuídos dos indicadores.<br />
o<br />
Para a cama box conjugada<br />
IEFM = [(IRxP1)+(IPxP2)+(IRRxP3)] .<br />
(P1+P2+P3)<br />
IEFM =<br />
0,591x0,98+0,996x0,01+0,99x0,01<br />
1<br />
IEFM = 0,591
‘55<br />
On<strong>de</strong> P1, P2 e P3 são os pesos atribuídos aos indicadores.<br />
Em seguida foi feita a avaliação dos aspectos ambientais a fim <strong>de</strong> visualizar as etapas<br />
do processo, quais eram os itens mais críticos, os quais estão <strong>de</strong>scritos no quadro 6,<br />
adaptado do CNTL (2003).<br />
Partindo do quadro 7, observou-se que os itens que mais somaram pontos <strong>de</strong> acordo<br />
com as tabelas 1 e 2, das páginas 37 e 38, respectivamente, foram os produtos químicos,<br />
como: alcoóis e isocianatos, utilizados para a fabricação da espuma, e a cola usada para unir<br />
as mantas no molejo, indicando que são os itens que merecem gran<strong>de</strong> atenção e controle.<br />
Quadro 7: Avaliação <strong>de</strong> Aspectos Ambientais<br />
Na sequência, foram <strong>de</strong>scritas as características ambientais relevantes segundo a<br />
Matriz <strong>de</strong> Leopold. Esta matriz está apresentada no quadro 8:
‘56<br />
Quadro 8: Matriz <strong>de</strong> Leopold<br />
Também foi feita a verificação da sustentabilida<strong>de</strong> da empresa através do método<br />
GAIA – Gerenciamento <strong>de</strong> Aspectos e Impactos Ambientais, como mostra o quadro 9:
Quadro 9: Verificação da Sustentabilida<strong>de</strong> da Organização<br />
‘57
‘58<br />
Uma vez preenchido o quadro 9, sobre a Verificação da Sustentabilida<strong>de</strong> da<br />
Organização, tem-se o resultado automaticamente na última linha do referido quadro, que<br />
<strong>de</strong>ve ser comparado com a coluna RESULTADO (tabela 3):<br />
Tabela 3 – Referencial para Classificação da Sustentabilida<strong>de</strong> do Negócio<br />
RESULTADO<br />
Inferior a 30%<br />
Entre 30% a 50%<br />
Entre 50% a 70%<br />
Entre 70% a 90%<br />
Superior a 90%<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
CRÍTICA – VERMELHA<br />
PÉSSIMA – LARANJA<br />
ADEQUADA – AMARELA<br />
BOA – AZUL<br />
EXCELENTE – VERDE<br />
Levando-se em consi<strong>de</strong>ração a tabela anterior, conforme referencial <strong>de</strong> Lerípio (2000),<br />
o resultado <strong>de</strong> 64% indica que a empresa está na faixa dos 50% a 70%, da qual fazem parte<br />
as empresas que têm suas ativida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas a<strong>de</strong>quadas.<br />
3.3.1. Não Conformida<strong>de</strong>s encontradas<br />
Diz-se que é mais fácil controlar as exceções do que fazer o controle da regra, porque,<br />
na regra, o número <strong>de</strong> ocorrências é maior. Baseado neste princípio, consi<strong>de</strong>ra-se as não<br />
conformida<strong>de</strong>s como sendo a exceção, pois se imagina que em uma empresa a maior parte<br />
das ativida<strong>de</strong>s é feita <strong>de</strong> forma correta ou <strong>de</strong>ntro da conformida<strong>de</strong>. Quando uma ativida<strong>de</strong> é<br />
feita <strong>de</strong> forma errada, ou não conforme, há a geração <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> alguma natureza,<br />
seja <strong>de</strong> matéria-prima, <strong>de</strong> energia para refazer da maneira correta, <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra, entre<br />
outros.<br />
Do mesmo modo que é possível diminuir os impactos ambientais das empresas<br />
melhorando seus processos através da Produção mais Limpa, por exemplo, com a qual<br />
objetiva-se a redução do uso dos recursos e/ou reaproveitamento através <strong>de</strong> um novo<br />
processo imagina-se que é possível também conseguir um resultado satisfatório evitando a<br />
ocorrência das não conformida<strong>de</strong>s ao evitar o retrabalho e o <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> energia.
‘59<br />
Por esta ótica, teve-se a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fazer a melhoria da ecoeficiência da empresa através<br />
da redução e da prevenção das não conformida<strong>de</strong>s, o que, invariavelmente, contribui para a<br />
evolução do sistema <strong>de</strong> gestão e também evita todo um consumo <strong>de</strong> material energético<br />
utilizado no retrabalho <strong>de</strong> consertar a não conformida<strong>de</strong>. Para tanto, a empresa <strong>de</strong>u início,<br />
em 2010, a um registro incipiente das não conformida<strong>de</strong>s ocorridas, mesmo não sendo<br />
amplamente difundido o seu uso, nem registradas todas não conformida<strong>de</strong>s, pois este é um<br />
processo <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> cultura, coisa que não se consegue realizar em um curto espaço <strong>de</strong><br />
tempo sem o comprometimento da alta gerência.<br />
No período do primeiro semestre <strong>de</strong> 2010 obtiveram-se poucos registros <strong>de</strong> não<br />
conformida<strong>de</strong>s, seja por não registro da ocorrência ou por falhas <strong>de</strong> apontamento, esse<br />
número é muito menor do que as ocorrências das não conformida<strong>de</strong>s efetivas que po<strong>de</strong>m<br />
ser geradas. O quadro 10 representa o registro das não conformida<strong>de</strong>s encontradas e<br />
formalizadas:
Quadro 10: RNC – Registro <strong>de</strong> Não Conformida<strong>de</strong>s<br />
‘60
‘61<br />
3.4. Prognóstico do processo produtivo<br />
Com base no diagnóstico do processo produtivo feito e somado às não conformida<strong>de</strong>s<br />
encontradas, po<strong>de</strong>-se fazer o trabalho <strong>de</strong> prognóstico dos processos que envolvem a cama<br />
box conjugada sob a ótica ambiental.<br />
Inicialmente, através do balanço material, nota-se que, em linhas gerais, tem-se um<br />
pequeno percentual que não é transformado em produto (abaixo <strong>de</strong> 1%, segundo<br />
apresentado no quadro 5), indicando que, neste quesito, não está com % <strong>de</strong> transformação<br />
<strong>de</strong> um setor ineficiente como, por exemplo, o caso da construção civil, no qual os valores são<br />
muito maiores. Segundo Vieira (2009), apud Pinto (1999), a produção média <strong>de</strong> entulho no<br />
Brasil é estimada como sendo da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 0,50 toneladas por habitante por ano, chegando<br />
a correspon<strong>de</strong>r a 50% da massa dos resíduos sólidos urbanos, po<strong>de</strong>ndo, atualmente,<br />
apresentar valores superiores a esta estimativa.<br />
Não se encontram muitos trabalhos feitos neste setor <strong>de</strong> colchões, o que não permite<br />
saber se, em comparação com outras empresas concorrentes do mesmo setor, a empresa<br />
estudada tem um ótimo <strong>de</strong>sempenho ou apenas acompanha a realida<strong>de</strong> do tipo <strong>de</strong> processo<br />
usado no setor. Resta apenas dizer que, em comparação com outros setores da indústria, o<br />
percentual <strong>de</strong> aproveitamento po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado bom se comparado com o da<br />
construção civil.<br />
Com a avaliação dos aspectos ambientais, apresentado no quadro 7, <strong>de</strong>ntre cada etapa<br />
dos processos, po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar que quatro aspectos (três da etapa <strong>de</strong> fabricação da<br />
espuma e um da etapa <strong>de</strong> montagem do colchão) estão com os resultados <strong>de</strong> maior valor na<br />
somatória, indicando como sendo os aspectos prioritários a serem observados, controlados<br />
e reduzidos em termos da importância do impacto. Se estes itens não sofrerem nenhum<br />
controle ou nenhum acompanhamento, po<strong>de</strong>m ser muito impactantes ao ambiente no caso<br />
<strong>de</strong> qualquer não conformida<strong>de</strong> no processo produtivo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stes aspectos. Estes itens<br />
<strong>de</strong>vem ser gerenciados e acompanhados para evitar estes possíveis danos.<br />
Através da Matriz <strong>de</strong> Leopold, apresentada no quadro 8, observa-se que não há<br />
impactos no Meio Biótico durante todo o processo e que na etapa da embalagem só existe<br />
impacto no Meio Antrópico (a maioria impacto positivo).<br />
Na avaliação da hipótese GAIA da verificação da sustentabilida<strong>de</strong> do negócio há um<br />
resultado <strong>de</strong>ntro da faixa caracterizada como a<strong>de</strong>quado, mas isto se <strong>de</strong>ve mais pelo fato da
‘62<br />
empresa trabalhar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um ramo que não tem gran<strong>de</strong>s problemas ambientais do que<br />
por interesse genuíno da empresa em ser uma organização voltada à sustentabilida<strong>de</strong>.<br />
Quanto às não conformida<strong>de</strong>s observa-se que a cama box conjugada, que foi o<br />
produto escolhido, não teve registro <strong>de</strong> nenhuma não conformida<strong>de</strong> durante o período <strong>de</strong><br />
avaliação <strong>de</strong> seis meses, dando a impressão <strong>de</strong> que não existem problemas nos processos<br />
que acontecem durante toda a fabricação do produto escolhido, sendo que, na verda<strong>de</strong>,<br />
apenas não existe registro <strong>de</strong> não conformida<strong>de</strong>s.<br />
Com o registro das não conformida<strong>de</strong>s tem-se o levantamento do que não foi feito <strong>de</strong><br />
acordo com o esperado, sem nenhuma avaliação do que se per<strong>de</strong> em termos financeiros e<br />
também no aspecto ambiental. Por isso, criou-se um mo<strong>de</strong>lo aperfeiçoado do registro que<br />
abrangesse as questões não abordadas (financeiras e ambientais), apresentado no quadro<br />
11.<br />
A abordagem financeira apresenta o custo imediato para fazer certo, corrigir ou<br />
remediar a situação, assim como traçar uma avaliação a longo prazo dos prejuízos<br />
acarretados sem tomar nenhuma ação corretiva. Desta forma, fala-se na linguagem mais<br />
palpável para os investidores, ou seja, o quanto <strong>de</strong> dinheiro se joga fora fazendo as coisas<br />
erradas, já que os aspectos ambientais não provocam a sensibilização que <strong>de</strong>veriam nos<br />
empresários <strong>de</strong> modo geral.<br />
Junto com a avaliação financeira faz-se a pon<strong>de</strong>ração dos aspectos ambientais sobre o<br />
tripé transporte, energia e massa requerido <strong>de</strong>snecessariamente pela ocorrência da não<br />
conformida<strong>de</strong>.<br />
Com as duas avaliações, po<strong>de</strong>-se comparar o <strong>de</strong>sempenho ambiental e o custo<br />
financeiro <strong>de</strong> não fazer as coisas certas replicadas em qualquer empresa, inclusive com<br />
comparativos, mesmo sendo <strong>de</strong> ramos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s distintos, pois se avalia, em síntese, o<br />
<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> sua ecoeficiência do seu sistema <strong>de</strong> gestão baseado apenas nas suas não<br />
conformida<strong>de</strong>s.<br />
O resultado final é dado pela multiplicação entre os somatórios da parte Financeira e<br />
Ambiental, sendo o valor (adimensional) maior a não conformida<strong>de</strong> mais grave, como se<br />
po<strong>de</strong> observar no quadro 11:
Quadro 11: Relatório <strong>de</strong> Não Conformida<strong>de</strong>s alterado<br />
‘63
‘64<br />
Uma vez encontradas as não conformida<strong>de</strong>s mais expressivas e com maior impacto<br />
para a empresa analisada, pelo aspecto financeiro, mas também pon<strong>de</strong>radas sob a ótica<br />
ambiental, usa-se a mesma metodologia da empresa para a solução <strong>de</strong> problemas baseada<br />
na resolução das RAC/RAP’s, <strong>de</strong>talhada no final do capítulo 1.3 Metodologia.<br />
3.5. Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho da Ecogestão<br />
Muitas ferramentas baseadas em indicadores existem hoje em dia, mas os indicadores<br />
ambientais tradicionais como os <strong>de</strong>scritos no capítulo 2, subíndice 2.7.1. Indicadores <strong>de</strong><br />
Ecoeficiência, não abordam a não conformida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ocorrer em qualquer processo <strong>de</strong><br />
uma empresa e somente preveem uma situação i<strong>de</strong>al ou <strong>de</strong>sejada, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando o que<br />
acontece quando um processo não é executado <strong>de</strong> acordo com o esperado e seus resultados<br />
são previsíveis: <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> recursos financeiros e ambientais.<br />
Esta ligação entre estes dois gastos <strong>de</strong>snecessários <strong>de</strong>monstram uma ineficiência <strong>de</strong><br />
uma empresa e, como existe uso <strong>de</strong> recursos ambientais, po<strong>de</strong>mos dizer que isso influencia<br />
na ecoeficiência também. Partindo <strong>de</strong>ste princípio, passa-se a medir as não conformida<strong>de</strong>s e<br />
relaciona-se com a contabilida<strong>de</strong> ambiental.<br />
O resultado foi o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma ferramenta chamada INCA – Indicador <strong>de</strong><br />
Não Conformida<strong>de</strong> e Ambiental, que faz uma interligação entre:<br />
a) Não conformida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma empresa;<br />
b) Gasto financeiro para remediar e estimativa se não eliminado o problema em<br />
12 meses; e<br />
c) Impacto ambiental e/ou uso <strong>de</strong> recurso pon<strong>de</strong>rado sob o ponto <strong>de</strong> vista: do<br />
transporte, da energia consumida e da massa <strong>de</strong> material <strong>de</strong>sperdiçada.<br />
O indicador é calculado atribuindo-se na coluna Financeiro/Imediato o valor em moeda<br />
que a não conformida<strong>de</strong> impactou à empresa no momento em que ocorreu a não<br />
conformida<strong>de</strong> ou, pelo simples fato <strong>de</strong> ter acontecido, acarretou gasto qualquer soma<br />
financeira.<br />
À coluna Longo prazo é atribuído o valor estipulado no caso <strong>de</strong> esta não conformida<strong>de</strong><br />
não ser resolvida em 12 meses e multiplicado pelo número <strong>de</strong> vezes em que se imagina que
‘65<br />
a tarefa se repita no período, consi<strong>de</strong>rando que a empresa continue repetindo o mesmo<br />
erro a cada vez que seja executada a mesma tarefa.<br />
O impacto referente ao transporte <strong>de</strong>ve ser pon<strong>de</strong>rado em função <strong>de</strong> valores entre<br />
zero e nove, sendo usado o zero quando a não conformida<strong>de</strong> não tem nada relacionado à<br />
transporte como, por exemplo, um erro em estoque no sistema <strong>de</strong> computador, e nove<br />
quando existe um gran<strong>de</strong> relação do transporte envolvido, por exemplo, uma mercadoria<br />
entregue erradamente a um cliente que se encontra muito longe. Este valor <strong>de</strong>ve ser<br />
atribuído na coluna Transporte, na parte “Ambiental”.<br />
A segunda coluna da parte “Ambiental” é on<strong>de</strong> se preenche a pon<strong>de</strong>ração da energia<br />
gasta, em valores entre zero e nove, sendo zero o caso que não envolve gasto <strong>de</strong> energia<br />
<strong>de</strong>corrente da não conformida<strong>de</strong>, e nove a situação mais extrema <strong>de</strong> gasto <strong>de</strong> energia como,<br />
por exemplo, um erro na manutenção <strong>de</strong> um equipamento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> energia<br />
elétrica e que passa a consumir ainda mais energia.<br />
Na última coluna que <strong>de</strong>ve ser preenchida da parte “Ambiental”, usa-se os mesmos<br />
critérios <strong>de</strong> zero a nove para massa: quando se consi<strong>de</strong>ra um gran<strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> massa, o<br />
valor adotado <strong>de</strong>ve ser máximo, e quando o consumo é nulo, adota-se zero.<br />
Para fazer o preenchimento <strong>de</strong>stas pon<strong>de</strong>rações é recomendado que se tenha um bom<br />
conhecimento dos produtos e processos da empresa, pois um <strong>de</strong>scompasso nesta fase po<strong>de</strong><br />
distorcer as conclusões.<br />
Por fim, somam-se os valores da parte “Financeira” e multiplica-se pelo somatório da<br />
parte “Ambiental”, o resultado é um valor absoluto adimensional que representa um valor<br />
comparável entre todas as não conformida<strong>de</strong>s, possibilitando a i<strong>de</strong>ntificação do que tem<br />
mais impacto, que é representado pela maior soma encontrada na coluna INCA. Na<br />
aplicação <strong>de</strong>ntro do relatório <strong>de</strong> RNC da empresa no período analisado, foi i<strong>de</strong>ntificado<br />
como sendo a não conformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior soma a número 14, com mostra o quadro 12:
Quadro 12: INCA – Indicador <strong>de</strong> Não Conformida<strong>de</strong> e Ambiental<br />
‘66
‘67<br />
Com esta ferramenta, é possível propor uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância para a resolução<br />
das não conformida<strong>de</strong>s, a comparação entre períodos e a evolução da ocorrência e o alcance<br />
dos valores do INCA em diversos períodos, inclusive possibilitando comparações entre<br />
empresas, mesmo que uma tenha poucas não conformida<strong>de</strong>s; uma já seria suficiente para<br />
medir, por exemplo, qual tem a não conformida<strong>de</strong> com maior valor. Em resumo, a empresa<br />
que tem apenas uma só não conformida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ter mais impacto na contabilida<strong>de</strong><br />
ambiental que o somatório <strong>de</strong> pequenos erros <strong>de</strong> outra empresa.<br />
Para promover uma sistematização, propõe-se à empresa estudada que se calcule<br />
mensalmente o INCA e que, além do cálculo do índice para cada não conformida<strong>de</strong> ocorrida<br />
e registrada, também se faça um somatório do índice a cada período (mensal, semestra,<br />
anual, etc.) a fim <strong>de</strong> observar a evolução da ecoeficiência ambiental baseada nas não<br />
conformida<strong>de</strong>s do seu sistema <strong>de</strong> gestão.
‘68<br />
4. CONCLUSÃO<br />
A contribuição <strong>de</strong>ixa por este trabalho ficou notória quando se aplicou as ferramentas<br />
tradicionais <strong>de</strong> valiação ambiental e elas não apontaram problemas mais graves com o<br />
processo da empresa, mostrando-se um negócio <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada, com índices<br />
indicando que apesar <strong>de</strong> usar matérias-primas não renováveis ainda assim tem eficiência no<br />
seu uso, sem ativida<strong>de</strong>s impactantes no meio biótico e com 3 matérias-primas críticas e que<br />
na sua maioria estão bem controladas. Resumindo parece ser uma fábrica <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ótimos<br />
padrões ambientais, mas que tem seu quadro favorável mudado a partir da aplicação do<br />
indicador INCA, que aponta problemas que não foram <strong>de</strong>tectados com outras ferramentas,<br />
expondo assim a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma avaliação sem esta nova ferramenta.<br />
O presente estudo <strong>de</strong> caso teve como propósito sugerir uma forma <strong>de</strong> documentar a<br />
ecoeficiência <strong>de</strong> uma empresa, observando seus erros, suas não conformida<strong>de</strong>s. O objetivo<br />
não foi olhar para o que se faz <strong>de</strong>ntro do esperado, mas sim, medir o que ocorreu fora dos<br />
padrões. Deste modo, têm-se duas abordagens feitas, uma sob o ponto <strong>de</strong> vista gerencial e<br />
outra sob o ponto <strong>de</strong> vista ambiental.<br />
4.1. Implicações Gerenciais<br />
Tradicionalmente as empresas utilizam algum sistema <strong>de</strong> gerenciamento oferecendo a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registro para posterior análise <strong>de</strong> tudo aquilo que não é feito conforme o<br />
esperado, as ditas não conformida<strong>de</strong>s.<br />
Na empresa estudada, o sistema <strong>de</strong> gestão ainda é muito incipiente, na qual os<br />
gestores não estão <strong>de</strong>vidamente aptos para julgarem como é imprescindível o fato <strong>de</strong> que se<br />
precisa medir e registrar para po<strong>de</strong>rem gerenciar as não conformida<strong>de</strong>s.<br />
Neste aspecto, observando estas consi<strong>de</strong>rações, acredita-se ser conveniente para a<br />
empresa se preocupar com os seguintes aspectos:<br />
• Os registros levantados das não conformida<strong>de</strong>s, estão representados no quadro 9 e<br />
<strong>de</strong>monstram que não são representativos <strong>de</strong> todas as ocorrências que aconteceram no<br />
período estudado, sendo isso comprovado com <strong>de</strong>poimentos informais colhidos entre os<br />
colaboradores e gerentes. Sem reconhecer e registrar os erros, não se po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e
‘69<br />
fornecer a base <strong>de</strong> informações capazes <strong>de</strong> solucionar e levar a empresa ao patamar <strong>de</strong><br />
gestão e <strong>de</strong>sempenho satisfatório.<br />
• O sistema <strong>de</strong> gestão existente, atualmente, é reconhecido como sendo <strong>de</strong> ações<br />
isoladas e não <strong>de</strong> forma sistemica. Na maioria das vezes, as ações corretivas apresentadas<br />
nos relatórios <strong>de</strong> não conformida<strong>de</strong>s são baseadas em comunicações informais, o que leva a<br />
empresa a repetir os mesmos erros ou acertos, <strong>de</strong> forma empírica.<br />
• A falta <strong>de</strong> formalida<strong>de</strong> na documentação da <strong>de</strong>scrição dos processos também<br />
favorece a ocorrência <strong>de</strong> erros, pois os padrões <strong>de</strong> execução das tarefas são passados <strong>de</strong><br />
maneira verbal e informal, com treinamentos práticos nos processos, sem a criação <strong>de</strong><br />
nenhuma instrução <strong>de</strong> trabalho ou procedimento operacional formalizado e sem a <strong>de</strong>finição<br />
clara e formal <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s por cada tarefa, bem como a <strong>de</strong>finição dos registros a<br />
serem preenchidos nas tarefas pertinentes. A consequência disso é <strong>de</strong>sastrosa, pois faltará<br />
sempre à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s e o registro dos erros, haverá <strong>de</strong>ficiência nos<br />
treinamentos e, o mais importante faltará informações imprescindíveis para que o gestor<br />
possa monitorar o seu sistema, e assim avançar em termos <strong>de</strong> melhorias e qualida<strong>de</strong> dos<br />
seus processos.<br />
4.2. Implicações Ambientais<br />
Várias foram às ferramentas <strong>de</strong> diagnóstico ambiental aplicadas neste estudo a fim <strong>de</strong><br />
medir o <strong>de</strong>sempenho ambiental e fornecer um parâmetro <strong>de</strong> como estão às questões<br />
ambientais na empresa estudada. Neste sentido, torna-se importante <strong>de</strong>stacar as seguintes<br />
recomendações que po<strong>de</strong>riam ser discutidas internamente na empresa para julgar sua<br />
importância e aplicabilida<strong>de</strong>:<br />
• O Índice <strong>de</strong> Eficiência do Fluxo <strong>de</strong> Massa – IEFM mostra que, por um lado a<br />
empresa não é gran<strong>de</strong> geradora <strong>de</strong> rejeitos, mas por outro, os processos dos produtos estão<br />
carregados <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> fonte não renovável, sendo um campo vasto para explorar com<br />
produtos que consomem menos matéria-prima <strong>de</strong> fonte não renovável.<br />
• Na Avaliação <strong>de</strong> Aspectos Ambientais ganham <strong>de</strong>staque três aspectos a serem<br />
monitorados e controlados, que são as matérias-primas da confecção da espuma<br />
(isocianatos e alcoóis), que hoje têm um controle do seu consumo; e a Cola a qual é usada
‘70<br />
no processo <strong>de</strong> união das espumas e montagem <strong>de</strong> colchões, po<strong>de</strong>-se pensar num melhor<br />
aproveitamento <strong>de</strong>sta, tendo e, vista a liberação <strong>de</strong> materiais voláteis.<br />
• Na avaliação pelos critérios da Matriz <strong>de</strong> Leopold existe uma série <strong>de</strong> impactos<br />
negativos que po<strong>de</strong>riam ser analisados caso a caso através <strong>de</strong> uma equipe valendo-se <strong>de</strong><br />
métodos científicos <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas.<br />
• O objetivo da metodologia GAIA é proporcionar a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />
através da adoção <strong>de</strong> padrões sustentáveis <strong>de</strong> produção e consumo (LERÍPIO, 2000 apud<br />
DELAVY, 2009) e, <strong>de</strong> acordo com o referencial <strong>de</strong> classificação do sistema GAIA realizado<br />
para a empresa selecionada, ela atingiu a marca percentual <strong>de</strong> 64% para a sustentabilida<strong>de</strong><br />
do negócio, a qual fica <strong>de</strong>ntro da faixa dita a<strong>de</strong>quada, mostrando que a empresa po<strong>de</strong>ria<br />
continuar no negócio em que atua e apenas revisar os critérios <strong>de</strong> avaliação na busca <strong>de</strong><br />
uma melhoria.<br />
4.3. Indicações para outras pesquisas<br />
Esta pesquisa <strong>de</strong>ixa uma base para, no futuro, outras pesquisas serem <strong>de</strong>senvolvidas,<br />
nas quais se faça a aplicação da metodologia <strong>de</strong>senvolvida em outras empresas <strong>de</strong><br />
segmentos diferentes para testar e comprovar se permanecem valendo as regras da<br />
medição da ecoeficiência <strong>de</strong> empresa baseada nas não conformida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu sistema <strong>de</strong><br />
gestão, inclusive sugerindo incrementos e adaptações ao mo<strong>de</strong>lo proposto neste trabalho.<br />
Ainda como sugestão para novos trabalhos cita-se:<br />
• Testar para verificar se as avaliações ambientais são similares em empresas <strong>de</strong><br />
segmentos iguais.<br />
• Verificar a relação entre a sustentabilida<strong>de</strong> do negócio e suas não conformida<strong>de</strong>s a<br />
fim <strong>de</strong> estabelecer uma relação entre elas, dizendo se um negócio com muitas não<br />
conformida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> ou não ser sustentável.<br />
• Levantar se há indicadores em uso em outras empresas que possam ser<br />
comparados entre elas no aspecto ambiental em função das suas não conformida<strong>de</strong>s.
‘71<br />
4.4. Consi<strong>de</strong>rações finais<br />
Este trabalho teve como objetivo fazer uma ligação entre as não conformida<strong>de</strong>s e a<br />
ecoeficiência da empresa estudada, propondo indicadores para sistematizar e medir o<br />
<strong>de</strong>sempenho do seu sistema <strong>de</strong> gestão. Entre os objetivos específicos selecionados, os<br />
mesmos foram atendidos através dos seguintes índices:<br />
• Classificar os produtos da empresa selecionada pela curva ABC, que está<br />
apresentada no capítulo 3, subíndice 3.2 Classificação dos produtos da empresa pela curva<br />
ABC.<br />
• Diagramar o processo produtivo do produto selecionado, associado às<br />
<strong>de</strong>terminações da curva ABC, <strong>de</strong>scrito no capítulo 3, subíndice 3.1 Processo Produtivo <strong>de</strong><br />
Colchões.<br />
• I<strong>de</strong>ntificar os impactos ambientais gerados pelo produto selecionado a partir da<br />
curva ABC, este objetivo está <strong>de</strong>scrito no capítulo 3, subíndice 3.3 Diagnóstico do processo<br />
produtivo do produto selecionado.<br />
• Priorizar e elaborar proposições para a a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> não conformida<strong>de</strong>s<br />
ambientais e econômicas, as quais estão apresentadas numa parte do capítulo 3, subíndice<br />
3.3.1 Não Conformida<strong>de</strong>s encontradas (priorização), e numa parte do capítulo 3, subíndice<br />
3.4. Prognóstico do processo produtivo (proposições), que, na verda<strong>de</strong>, não são as ditas<br />
“soluções” das não conformida<strong>de</strong>s encontradas durante o período do estudo, mas sim um<br />
caminho ou metodologia para perpetuar a resolução <strong>de</strong> todas as não conformida<strong>de</strong>s<br />
registradas e qualquer outra que aparecerá no futuro.<br />
• Propor indicadores <strong>de</strong> gestão capazes <strong>de</strong> sistematizar a produção sustentável,<br />
finalmente tratados no capítulo 3, subíndice 3.5. Indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho da Ecogestão.
‘72<br />
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