nº 4 - Julho / Agosto 2010 - Sociedade Brasileira de Oftalmologia
nº 4 - Julho / Agosto 2010 - Sociedade Brasileira de Oftalmologia
nº 4 - Julho / Agosto 2010 - Sociedade Brasileira de Oftalmologia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Oftalmomiíase pós-traumática: relato <strong>de</strong> caso e revisão <strong>de</strong> literatura<br />
265<br />
INTRODUÇÃO<br />
Otermo miíase (grego myia, mosca e iasis,<br />
afecção, moléstia) inicialmente foi introduzido<br />
por F. W. Hope, (1) como sendo uma afecção<br />
causada pela presença <strong>de</strong> larvas <strong>de</strong> moscas em órgãos e<br />
tecidos do homem ou <strong>de</strong> outros animais vertebrados, on<strong>de</strong><br />
se nutrem, pelo menos durante certo período, dos tecidos<br />
vivos ou mortos do hospe<strong>de</strong>iro, <strong>de</strong> suas substâncias corporais<br />
líquidas ou do alimento por ele ingerido (2) e evoluem<br />
como parasitos. (3)<br />
Trata-se <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> patologia muito frequente<br />
nos pacientes <strong>de</strong> regiões tropicais, com nível<br />
sócioeconômico baixo, íntimo contato com animais, ou<br />
ainda naqueles com higiene corporal precária, alcoólatras,<br />
pacientes epilépticos e em <strong>de</strong>ficientes mentais ou<br />
saú<strong>de</strong> geral <strong>de</strong>bilitada. (4)<br />
Quanto ao local <strong>de</strong> ocorrência, elas po<strong>de</strong>m ser<br />
cutâneas, subcutâneas ou cavitárias (seios da face, nariz,<br />
olhos, ouvidos e boca) po<strong>de</strong>ndo esta última resultar em<br />
morte do hospe<strong>de</strong>iro. (5)<br />
Po<strong>de</strong>m ser úteis ao hospe<strong>de</strong>iro, pois auxiliam na<br />
extração <strong>de</strong> tecido necrótico, há relato <strong>de</strong> terem sido<br />
usadas para o <strong>de</strong>bridamento terapêutico <strong>de</strong> feridas. (6)<br />
Segundo Pessoa, (7) as miíases são classificadas em<br />
dois gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> acordo com os aspectos biológicos<br />
evolutivos:<br />
a) biontófagas ou obrigatórias: quando as larvas<br />
são capazes <strong>de</strong> invadir tecidos sadios ou feridas recentes.<br />
b) necrobiontófagas ou facultativas, que são larvas<br />
invasoras secundárias <strong>de</strong> tecidos necrosados, vivendo como<br />
saprófitas <strong>de</strong> feridas e cavida<strong>de</strong>s pré-existentes.<br />
A C. hominivorax é a mosca conhecida por "varejeira"<br />
ou "mosca da bicheira" e foi <strong>de</strong>scrita, pela primeira<br />
vez, como parasita em seios frontais e das fossas<br />
nasais do homem em 1970. (8)<br />
Suas larvas são biontófagas obrigatórias e suas<br />
fêmeas <strong>de</strong>positam <strong>de</strong> cada vez, <strong>de</strong> 20 a 400 ovos em<br />
feridas, arranhões, etc., eclodindo em menos <strong>de</strong> 1 dia,<br />
invadindo tecidos sãos, on<strong>de</strong> causam feridas profundas e<br />
supuradas.<br />
As larvas que eclo<strong>de</strong>m em 24 horas são vorazes e<br />
<strong>de</strong>stroem tecidos sãos, po<strong>de</strong>ndo acarretar hemorragias<br />
graves, quando se proliferam em cavida<strong>de</strong>s. (9)<br />
As larvas ten<strong>de</strong>m a abandonar o hospe<strong>de</strong>iro após<br />
4 a 8 dias e dar continuida<strong>de</strong> ao ciclo biológico, que em<br />
condições favoráveis se completa <strong>de</strong> 21 a 24 dias, fora do<br />
hospe<strong>de</strong>iro primário.<br />
Po<strong>de</strong>m atravessar tecidos íntegros, causando uma<br />
miíase furunculosa.<br />
A oftalmomiíase refere-se à invasão das pálpebras,<br />
conjuntiva, córnea, segmento anterior, segmento posterior<br />
ou órbita pela larva. (10) A órbita afetada por um<br />
quadro <strong>de</strong> miíase quase sempre está relacionada a processos<br />
necróticos em neoplasias.<br />
O diagnóstico é clínico através da visualização<br />
direta das larvas ou fibroscopia, po<strong>de</strong>ndo ser usados exames<br />
complementares como tomografia computadorizada<br />
para avaliar a extensão do envolvimento e a invasão <strong>de</strong><br />
tecidos vizinhos.<br />
Existem várias formas <strong>de</strong> tratamento da miíase<br />
<strong>de</strong>scritas e a escolha do tratamento varia em cada caso,<br />
segundo o número <strong>de</strong> larvas e o tecido envolvido.<br />
O tratamento escolhido normalmente é o mecâ-<br />
Figura 1: E<strong>de</strong>ma periorbitário e ptose palpebral; Miíase açular<br />
Rev Bras Oftalmol. <strong>2010</strong>; 69 (4): 264-8