nº 4 - Julho / Agosto 2010 - Sociedade Brasileira de Oftalmologia
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Oftalmomiíase pós-traumática: relato <strong>de</strong> caso e revisão <strong>de</strong> literatura<br />
267<br />
Em seguida o paciente foi encaminhado ao centro<br />
<strong>de</strong> imaginologia para tomada <strong>de</strong> tomografia e avaliação<br />
do grau <strong>de</strong> comprometimento intraorbitário e encaminhamento<br />
ao serviço <strong>de</strong> residência em oftalmologia<br />
<strong>de</strong> outro hospital.<br />
Quarenta e oito horas após a segunda intervenção e<br />
após o <strong>de</strong>saparecimento do e<strong>de</strong>ma observou-se<br />
oftalmoplegia com <strong>de</strong>svio superior do globo ocular, opacida<strong>de</strong><br />
da córnea e amaurose direita, evoluindo com sinéquia<br />
da pálpebra superior à conjuntiva episcleral (Figura 4).<br />
Após a avaliação pelo serviço <strong>de</strong> oftalmologia<br />
optou-se pela preservação do globo ocular seguida <strong>de</strong><br />
reparo da fratura orbitozigomática com fixação por placas<br />
e parafusos.<br />
DISCUSSÃO<br />
O quadro <strong>de</strong> miíase no ser humano espelha péssimas<br />
condições <strong>de</strong> higiene e cuidados e, normalmente<br />
ocorre nos pacientes acometidos <strong>de</strong> doenças necrosantes<br />
como as ulcero-granulomatosas ou tumorais.<br />
Frequentemente, ocorre em pacientes idosos ou<br />
com transtornos mentais, alcólatras e <strong>de</strong>sassistidos.<br />
Essas pessoas po<strong>de</strong>m ficar expostas à postura <strong>de</strong><br />
moscas, vendo-se acometidas <strong>de</strong> miíase, o que sugere o<br />
caso relatado, on<strong>de</strong> o paciente refere ter ficado <strong>de</strong>sacordado<br />
e provavelmente exposto às moscas.<br />
Roupas sujas com alimentos, fluidos corporais ou<br />
pus são altamente atrativas para moscas causadoras <strong>de</strong><br />
miíase.<br />
Rao (9) relatou três casos <strong>de</strong> miíase nasal e observou<br />
que ulceras nasais e rinorreia que tenham cheiro<br />
ruim são atrativos para que as moscas <strong>de</strong>ixem seus ovos,<br />
enquanto os pacientes estão dormindo. (12)<br />
Pessoas sãs po<strong>de</strong>m ser acometidas quando a<br />
miíase é provocada por uma larva biontófoga (que se<br />
alimenta <strong>de</strong> tecidos vivos) e apresentar quadro <strong>de</strong> hemorragias<br />
ou comprometimento do sistema nervoso central,<br />
po<strong>de</strong>ndo levar o paciente a óbito.<br />
A miíase cutânea ou cavitária po<strong>de</strong> provocar <strong>de</strong>struição<br />
maciça dos tecidos como as cavida<strong>de</strong>s bucal, nasal,<br />
ocular ou sinusais e ainda estar acompanhada por<br />
intensas reações inflamatórias e infecciosas secundárias,<br />
expondo o paciente ao risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma<br />
bacteremia ou septicemia em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma infecção<br />
secundária. (13)<br />
Quesada et al. <strong>de</strong>screveram um caso <strong>de</strong> miíase<br />
nasal e <strong>de</strong>tectaram também a presença do Oestrus ovis<br />
invadindo, inclusive, os seios maxilares. (14)<br />
Denion et al., num estudo retrospectivo <strong>de</strong><br />
oftamomiíase externa, afirmaram que a Dermatobia<br />
hominis é o agente causador da maioria das miíases humanas.<br />
(15)<br />
Na Europa, América do Norte, Austrália, Ásia e<br />
África, o ser humano po<strong>de</strong> ser contaminado principalmente<br />
na conjuntiva ocular e mucosa nasal por larvas<br />
<strong>de</strong> Oestrus ovis, que normalmente se <strong>de</strong>senvolve em seios<br />
frontais <strong>de</strong> ovinos. (16-17)<br />
Há relatos <strong>de</strong> aparecimento <strong>de</strong> miíases em pacientes<br />
com lesões cavitárias, como colesteatomas na orelha<br />
média, tumores nasais, tumores orais, anais ou vaginais<br />
e oftálmicos, assim como lesões da pele. (16-18)<br />
Gregory et al. (19) e Baliga et al. (20) relatam que a<br />
maioria dos casos <strong>de</strong> miíase orbitária é causada pela<br />
família <strong>de</strong> mosca Oestrus ovis.<br />
Quanto ao tratamento, tem-se tentado vários métodos<br />
como a remoção mecânica e <strong>de</strong>bridamento e medicação<br />
para combater infecções secundárias e dor.<br />
Deve-se observar o quadro clínico do doente e<br />
condições <strong>de</strong> higiene e, posteriormente, proce<strong>de</strong>r a remoção<br />
mecânica das larvas, remoção dos tecidos<br />
necróticos e uso <strong>de</strong> medicamentos tópicos e sistêmicos. (13)<br />
O tratamento sistêmico no combate às infecções<br />
secundárias e também no combate às larvas <strong>de</strong> localização<br />
cavitária é atualmente utilizada (13,15,21-9) e recomendada<br />
o uso <strong>de</strong> antimicrobianos no combate a infecções<br />
secundárias.<br />
Vários métodos já foram <strong>de</strong>scritos para o tratamento<br />
clínico da miíase humana. Historicamente, há<br />
referência ao uso <strong>de</strong> vários antissépticos, asfixiantes e<br />
mercuriais utilizados na forma <strong>de</strong> lavagens nasais, inalações,<br />
instilações em orelha externa e <strong>de</strong> forma<br />
sistêmica.<br />
Foram feitas várias tentativas <strong>de</strong> forçar a saída<br />
das larvas com medicamentos tópicos asfixiantes como<br />
o iodofórmio em pó.<br />
Em miíases cavitárias, a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> todas as<br />
larvas torna-se impossível, e o uso <strong>de</strong>sses medicamentos<br />
po<strong>de</strong>m torná-las agitadas e migrarem para regiões profundas<br />
<strong>de</strong> difícil acesso.<br />
Medicamentos sistêmicos como o óleo canforado,<br />
o oxicianureto <strong>de</strong> mercúrio, o sulfureto <strong>de</strong> mercúrio foram<br />
tentados para expulsar as larvas com resultados<br />
pouco eficazes.<br />
A ivermectina <strong>de</strong> uso oral tem sido <strong>de</strong>scrita na literatura<br />
para o tratamento <strong>de</strong> miíase, usada em dose única<br />
<strong>de</strong> 200 µg/Kg, obtendo-se resolução do quadro em 48 horas.<br />
(23) Apresenta uma absorção rápida, com elevada concentração<br />
sanguínea em relativamente pouco tempo. (24)<br />
A ivermectina usada na dosagem <strong>de</strong> 300 µg/kg<br />
Rev Bras Oftalmol. <strong>2010</strong>; 69 (4): 264-8