28.10.2014 Views

Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei.pdf - Intranet

Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei.pdf - Intranet

Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei.pdf - Intranet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– Não sei. Mas ela geralmente escolhe este meio para se manifestar. Talvez por ser<br />

a fonte da vida; somos gera<strong>do</strong>s no meio da água, durante nove meses permanecemos nela.<br />

“A água é o símbolo <strong>do</strong> Poder da mulher, o poder que nenhum homem – por mais<br />

ilumina<strong>do</strong> ou perfeito que seja – pode almejar.”<br />

Ele pára por um momento, mas logo retoma a conversa.<br />

– Em cada religião, e em cada tradição, Ela se manifesta de uma maneira – mas<br />

sempre se manifesta. Como sou católico, consigo enxergá-la quan<strong>do</strong> estou diante da Virgem Maria.<br />

Me pega pelas mãos, e, em menos de cinco minutos de caminhada, saímos de Saint-<br />

Savin. Passamos por uma coluna na estrada – com algo estranho em cima: uma cruz, e a imagem da<br />

Virgem no lugar onde devia estar Jesus Cristo. Lembro suas palavras, e fico surpresa com a<br />

coincidência.<br />

Agora estamos completamente envoltos pela escuridão e pela bruma. Começo a me<br />

imaginar na água, no ventre materno – onde o tempo e o pensamento não existem. Tu<strong>do</strong> o que ele<br />

está dizen<strong>do</strong> parece fazer senti<strong>do</strong>, um senti<strong>do</strong> terrível. Lembro-me da senhora na conferência.<br />

Lembro-me da moça me levan<strong>do</strong> até a praça. Também ela dissera que a água era o símbolo da<br />

D<strong>eu</strong>sa.<br />

– A vinte quilômetros daqui existe uma gruta – continua. – Em 11 de fevereiro de<br />

1858, uma menina juntava lenha ali perto com duas outras crianças. Era uma garota frágil, asmática,<br />

cuja pobreza chegava à beira da miséria. <strong>Na</strong>quele dia de inverno, teve me<strong>do</strong> de atravessar um<br />

pequeno riacho; podia se molhar, cair <strong>do</strong>ente, e s<strong>eu</strong>s pais precisavam <strong>do</strong> pouco dinheiro que<br />

ganhava como pastora.<br />

“Foi então que uma mulher vestida de branco, com duas rosas <strong>do</strong>uradas nos pés,<br />

aparec<strong>eu</strong>. Tratou a menina como se fosse uma princesa, pediu por favor que voltasse ali um<br />

determina<strong>do</strong> número de vezes, e desaparec<strong>eu</strong>. As duas outras crianças, que a tinham visto em<br />

transe, logo espalharam a história.<br />

“A partir daí, começou um longo calvá<strong>rio</strong> para ela. Foi presa, e exigiram que<br />

negasse tu<strong>do</strong>. Foi tentada com dinheiro, para que pedisse favores especiais à Aparição. Nos<br />

primeiros dias, sua família era insultada em praça pública – diziam que ela fazia tu<strong>do</strong> aquilo para<br />

chamar a atenção.<br />

“A menina – que se chamava Bernadette – não tinha a menor idéia <strong>do</strong> que estava<br />

ven<strong>do</strong>. Chamava a tal senhora de ‘Aquilo’, e s<strong>eu</strong>s pais, aflitos, foram buscar socorro junto ao padre<br />

da aldeia. O padre sugeriu que, na próxima aparição, ela perguntasse o nome da tal mulher.<br />

“Bernadette fez o que o padre man<strong>do</strong>u, mas a resposta foi apenas um sorriso.<br />

‘Aquilo’ aparec<strong>eu</strong> um total de dezoito vezes, a maior parte delas sem dizer nada. Em uma destas<br />

vezes, pede para que a menina beije a terra. Mesmo sem entender, Bernadette faz o que ‘Aquilo’<br />

manda. Um dia, pede para a menina cavar um buraco no chão da gruta. Bernadette obedece, e logo<br />

surge um pouco de água lamacenta – porque ali eram guarda<strong>do</strong>s porcos.<br />

“– Beba esta água – diz a senhora.<br />

“A água está tão suja que Bernadette pega e joga fora por três vezes, sem coragem<br />

de levar à boca. Mas termina obedecen<strong>do</strong>, embora repugnada. No lugar onde cavou, mais água<br />

começa a brotar. Um homem cego de um olho passa algumas gotas no rosto, e recupera a visão.<br />

Uma mulher, desesperada porque s<strong>eu</strong> filho recém-nasci<strong>do</strong> estava morren<strong>do</strong>, mergulha o menino na<br />

fonte – num dia em que a temperatura havia caí<strong>do</strong> abaixo de zero. O menino fica cura<strong>do</strong>.<br />

“Aos poucos a notícia se espalha, e milhares de pessoas começam a acorrer ao<br />

local. A menina continua insistin<strong>do</strong> em saber o nome da senhora, mas ela apenas sorri.<br />

“Até que, um belo dia, ‘Aquilo’ se vira para Bernadette e diz:<br />

“– Eu sou a Imaculada Conceição.<br />

“Satisfeita, a menina vai corren<strong>do</strong> contar ao pároco.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!