Revista Biotecnologia
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O cajueiro é encontrado praticamente<br />
em todos os estados brasileiros,<br />
contudo adapta-se melhor às condições<br />
ecológicas do litoral do Nordeste. Existe no<br />
País uma tradição de aproveitamento do<br />
pedúnculo ou falso-fruto do cajueiro que<br />
reside na transformação em produtos variados<br />
como sucos, sorvetes, doces diversos<br />
(compota, cristalizado, ameixa, massa), licor,<br />
mel, geléias, cajuína, refrigerantes<br />
gaseificados e aguardente. Há relatos de<br />
alguns desses produtos que datam do<br />
século XVII.<br />
Apesar de o Brasil ser o berço do<br />
cajueiro e de as missões colonizadoras<br />
encontrarem o indígena brasileiro utilizando<br />
essa espécie para diversos fins, a exploração<br />
do cajueiro com finalidade econômica,<br />
durante alguns séculos, ficou restrita ao<br />
consumo local, nas zonas produtoras. A<br />
espécie que é cultivada principalmente nos<br />
estados do Nordeste, distinguindo-se o<br />
Ceará como o maior produtor, não teve<br />
destaque na economia nordestina, e nem<br />
mesmo na cearense, antes das quatro primeiras<br />
décadas do século XX (Leite, 1994).<br />
Até o início da década de 50, a<br />
produção de castanha (fruto verdadeiro)<br />
era essencialmente extrativa. As primeiras<br />
tentativas para<br />
estabelecer plantios de cajueiro com fins<br />
comerciais foram efetuadas no município<br />
de Pacajus, no Ceará. Nesse município, no<br />
Campo Experimental de Pacajus, então<br />
pertencente ao Ministério da Agricultura,<br />
em 1956,<br />
o governo federal instalou uma coleção de<br />
matrizes de cajueiro para pesquisa agronômica.<br />
Posteriormente, a introdução de plantas<br />
de cajueiro anão precoce nesse campo<br />
experimental, originadas de uma população<br />
natural do município cearense de<br />
Maranguape, é hoje considerada o marco<br />
histórico do melhoramento genético dessa<br />
espécie.<br />
A partir dos incentivos fiscais da<br />
Superintendência de Desenvolvimento do<br />
Nordeste (SUDENE), na segunda metade da<br />
década de 60, consolidou-se o parque<br />
processador de castanha, com fábricas<br />
concentradas no estado do Ceará e algumas<br />
unidades no Rio Grande do Norte e no<br />
Piauí. Para abastecer essas unidades, ocorreu<br />
um notável crescimento da área plantada<br />
com cajueiros, que possibilitou a<br />
elevação da produção. Assim, a agroindústria<br />
do caju passou a ter importante papel<br />
econômico e social, pois, além de empregar<br />
grande contingente de pessoas, participa<br />
de forma expressiva na geração de<br />
divisas externas, com valores médios anuais<br />
próximos de 150 milhões de dólares<br />
(Paula Pessoa et al., 1995).<br />
As pesquisas com cajueiro, particularmente<br />
aquelas direcionadas para obtenção<br />
de material melhorado, foram então<br />
dinamizadas, dando origem às primeiras<br />
plantas matrizes fornecedoras de sementes<br />
para o plantio comercial. Até aquela época,<br />
os cajueirais eram formados por sementes<br />
que não sofreram nenhum processo de<br />
seleção, com exceção feita para o peso e,<br />
algumas vezes, para a densidade e sanidade<br />
das sementes. Nenhum desses processos<br />
foi eficiente para assegurar a qualidade<br />
do material genético utilizado.<br />
O desconhecimento das qualidades<br />
das plantas matrizes e polinizadoras,<br />
quando da obtenção de sementes para o<br />
plantio, acarretou pomares bastante<br />
desuniformes, tanto nos aspectos<br />
morfológicos quanto fisiológicos, do que<br />
resultou, conseqüentemente, grande variedade<br />
na produção, com valores médios<br />
muito abaixo do potencial da espécie. Essa<br />
18 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento