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A VIDA E A ARTE DE ANTÓNIO RAMOS DE ALMEID A - Câmara ...

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A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

2<br />

Museu do Neo-Realismo<br />

Coordenador<br />

David Santos<br />

Conservação e investigação<br />

David Santos<br />

Paula Monteiro<br />

Helena Seita<br />

Inventariação e catalogação<br />

Paula Monteiro<br />

Helena Seita<br />

Odete Belo<br />

Lurdes Pina<br />

Serviço Educativo<br />

Virgínia Figueiredo<br />

Lídia Agostinho<br />

Fernando Marques<br />

Eugénia Ventura<br />

Comunicação e Relações Públicas<br />

Fátima Faria Roque<br />

Comunicação e edição<br />

David Santos<br />

Fátima Faria Roque<br />

Fernando Marques<br />

Lurdes Aleixo<br />

Registo<br />

Lurdes Aleixo<br />

Fernando Marques<br />

Centro de Documentação/Biblioteca<br />

Odete Belo<br />

Lurdes Pina<br />

Secretariado<br />

Gabriela Candeias<br />

Vanda Arsénio<br />

Rececionistas-vigilantes<br />

Vanda Arsénio<br />

Tânia Cravo<br />

Rute Oliveira<br />

[ Exposição ]<br />

Organização<br />

Câmara Municipal<br />

de Vila Franca de Xira<br />

Museu do Neo-Realismo<br />

Curadoria<br />

António Pedro Pita<br />

Assistência de curadoria<br />

Fátima Faria Roque<br />

Seleção e org. documental<br />

António Pedro Pita<br />

David Santos<br />

Fátima Faria Roque<br />

Odete Belo<br />

Conceção e museografia<br />

David Santos<br />

António Pedro Pita<br />

Design da exposição<br />

Dulce Munhoz<br />

(DIMRP/SDPG)<br />

Coordenação de produção<br />

David Santos<br />

Fátima Faria Roque<br />

Produção<br />

David Santos<br />

Fátima Faria Roque<br />

Odete Belo<br />

Lurdes Aleixo<br />

Fernando Marques<br />

Secretariado<br />

Gabriela Candeias<br />

Vanda Arsénio<br />

Conservação<br />

Paula Monteiro<br />

Helena Seita<br />

Montagem<br />

David Santos<br />

António Pedro Pita<br />

Fátima Faria Roque<br />

Odete Belo<br />

Lurdes Aleixo<br />

Lurdes Pina<br />

Fernando Marques<br />

Vanda Arsénio<br />

DIMRP/SDPG<br />

Dulce Munhoz<br />

Miguel Oliveira<br />

DOVI/DOG:<br />

Ricardo Pereira/Pintura<br />

Rui Melo/Pintura<br />

Jorge Silva/Pintura<br />

Armindo Rosa/Pintura<br />

Gilberto Martins/Carpintaria<br />

José Travassos/Carpintaria<br />

José Leonel/Carpintaria<br />

João Dias/Carpintaria<br />

Oficina de Eletricidade<br />

Planeamento e logística<br />

David Santos<br />

Fátima Faria Roque<br />

Lurdes Aleixo<br />

Comunicação<br />

Fátima Faria Roque<br />

Fernando Marques<br />

DIMRP/SCPRP<br />

Filomena Serrazina<br />

Prazeres Tavares<br />

Serviço Educativo<br />

Virgínia Figueiredo<br />

Lídia Agostinho<br />

Fernando Marques<br />

Eugénia Ventura<br />

Maria João Oliveira<br />

Seguros<br />

Allianz Seguros<br />

[ Catálogo ]<br />

Edição<br />

Câmara Municipal<br />

de Vila Franca de Xira,<br />

Museu do Neo-Realismo<br />

e Fundação Calouste<br />

Gulbenkian, julho de 2013<br />

Organização e coordenação editorial<br />

David Santos<br />

Fátima Faria Roque<br />

Textos<br />

Maria da Luz Rosinha<br />

David Santos<br />

António Pedro Pita<br />

Maria do Rosário Ramada<br />

Pinho Barbosa<br />

Valéria Paiva<br />

Produção<br />

Fátima Faria Roque<br />

Susana Vale (DIMRP/SDPG)<br />

Apoio à produção<br />

Odete Belo<br />

Lurdes Pina<br />

Investigação e org. documental<br />

António Pedro Pita<br />

David Santos<br />

Fátima Faria Roque<br />

Odete Belo<br />

Catalogação<br />

Odete Belo<br />

Design gráfico<br />

Susana Vale (DIMRP/SDPG)<br />

Fotografia e digitalização<br />

Odete Belo<br />

Sara Pereira<br />

Revisão<br />

Fátima Faria Roque<br />

Odete Belo<br />

Lurdes Aleixo<br />

Produção gráfica:<br />

Pré-impressão, Impressão<br />

e Acabamento<br />

Santos & Oliveira, Lda.<br />

ISBN<br />

978-989-98502-0-0<br />

Depósito Legal<br />

XXXXXX/XX<br />

Tiragem<br />

600 exemplares<br />

Museu do Neo-Realismo<br />

Rua Alves Redol, 45<br />

2600-099 Vila Franca de Xira<br />

neorealismo@cm-vfxira.pt<br />

www.museudoneorealismo.pt<br />

© Museu do Neo-Realismo<br />

© Dos textos e das fotografias, os autores<br />

Organização:<br />

Patrocínio:<br />

Apoios:<br />

CAPA: Reprodução de fotografia de António<br />

Ramos de Almeida. – In: Cadernos de cultura:<br />

suplemento do jornal de Vila do Conde. – Nº<br />

297 (18 Jul. 1985) CAT 171


4<br />

A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida


Maria da Luz Rosinha<br />

Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira<br />

António Ramos de Almeida:<br />

convicção e coerência de um humanista<br />

Natural de Olinda, cidade situada no Estado de Pernambuco, no Brasil 1 ,<br />

António Ramos de Almeida regressa a Portugal muito jovem, fixando raízes<br />

em Vila do Conde e, mais tarde, no Porto. Advogado de profissão, o seu<br />

percurso foi vincado, quer pelas amizades que fomentou ao longo da vida em diferentes<br />

círculos da intelectualidade portuguesa – nomeadamente com os neorrealistas –, quer<br />

pela intensa reflexão acerca do contexto social, económico e político da sua época<br />

(fosse o de Portugal ou o do Brasil), quer ainda pela sua participação cívica ativa, de<br />

que é exemplo a sua colaboração na campanha presidencial do General Humberto<br />

Delgado.<br />

Ensaísta profícuo, poeta e crítico literário, o autor que agora ocupa a Sala de<br />

Exposições de Literatura Contemporânea do Museu do Neo-Realismo, manteve,<br />

ao longo da sua vida, um profundo interesse pela arte, mas também pela sociologia,<br />

política e literatura, com contributos regulares em jornais, revistas e periódicos de<br />

assinalável significado na história da arte e, em particular, da literatura em Portugal,<br />

como: Seara Nova, Presença, O Diabo, Sol Nascente, Manifesto, ou Vértice, títulos que<br />

acolheram, aliás, muitos dos artigos e ensaios de maior relevância no panorama do<br />

movimento neorrealista português.<br />

Humanista convicto e defensor de ideais democráticos, António Ramos de<br />

Almeida deixou-nos um significativo legado, parte do qual temos hoje a honra de dar<br />

a conhecer, nesta Exposição Biobibliográfica, resultado do trabalho de investigação<br />

levado a cabo pelo Prof. Doutor António Pedro Pita, da Universidade de Coimbra, a<br />

quem desde já formulo os sinceros agradecimentos do nosso Município.<br />

Às filhas de António Ramos de Almeida, Maria Antónia e Ana Maria – e nelas,<br />

aos familiares de Ramos de Almeida que participaram neste projeto –, quero deixar<br />

um imenso apreço pela colaboração com o Museu do Neo-Realismo, nomeadamente,<br />

no que respeita à cedência de documentos do espólio de António Ramos de Almeida,<br />

peças essenciais à compreensão do contexto de uma época que, apesar de nos ser tão<br />

próxima, tem ainda muito a revelar, nomeadamente no que se refere ao movimento<br />

neorrealista, objeto principal da existência deste Museu.<br />

Uma última palavra de agradecimento à Fundação Calouste Gulbenkian, que<br />

mais uma vez concedeu ao Museu do Neo-Realismo um importante apoio à realização<br />

deste catálogo.<br />

5<br />

1 Olinda foi declarada Património Histórico e Cultural da Humanidade em 1982.<br />

CAT 26


6<br />

A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida


David Santos<br />

COOR<strong>DE</strong>NADOR DO MUSEU DO NEO-REALISMO<br />

No centenário do nascimento de<br />

António Ramos de Almeida<br />

O<br />

Museu do Neo-Realismo tem vindo a promover, em especial na sua sala<br />

dedicada às exposições de literatura, uma particular atenção aos autores que<br />

fizeram ou contribuíram de algum modo para a amplitude do movimento<br />

neorrealista português. Desde outubro de 2007, escritores como Arquimedes da Silva<br />

Santos, Urbano Tavares Rodrigues, Mário Braga ou António Borges Coelho, entre outros,<br />

foram objeto de estudo, a partir da consulta direta dos seus espólios e enquadrados pelas<br />

mais recentes linhas de investigação literária e historiográfica. É nossa convicção ser esse<br />

o melhor e mais edificante caminho para uma verdadeira homenagem.<br />

Desta vez, a escolha recaiu no poeta e ensaísta portuense António Ramos de<br />

Almeida. O autor de Sinfonia da Guerra (1939) e de A Arte e a Vida (1941), faria cem anos em<br />

2012 e é ainda nesse contexto evocativo que o Museu do Neo-Realismo apresenta agora<br />

uma exposição biobibliográfica sobre alguém que teve um papel decisivo no âmbito da<br />

poesia neorrelista e na divulgação e aprofundamento no nosso país da literatura brasileira<br />

de inspiração social. Nascido em Olinda, no Brasil, Ramos de Almeida manteve sempre<br />

uma ligação estreita com a cultura do “país irmão” e soube, como poucos, fazer a ponte<br />

entre os dois lados do Atlântico. Este aspeto particular é, aliás, um dos pontos centrais<br />

revelados pela investigação liderada e conduzida pelo Professor Doutor António Pedro<br />

Pita a propósito da presente exposição. A sua rigorosa curadoria, bem como o seu ensaio e<br />

ainda os textos agora publicados de Valéria Paiva e Maria do Rosário Barbosa vêm provar<br />

que António Ramos de Almeida é um autor de relevo no contexto do neorrealismo, e não<br />

só. A todos manifesto o meu profundo agradecimento pelo trabalho realizado.<br />

O meu maior e mais sentido agradecimento vai, naturalmente, para a família de<br />

António Ramos de Almeida, em particular para as suas filhas Maria Antónia e Ana Maria,<br />

que com toda a disponibilidade nos receberam, manifestando uma rara sensibilidade<br />

sobre o valor cultural do espólio que têm à sua guarda e que agora pretendem doar a este<br />

Museu. O seu gesto e a confiança que depositaram desde logo na nossa instituição jamais<br />

serão esquecidos.<br />

Por fim, gostaria de destacar a determinação e o envolvimento de Fátima Faria<br />

Roque em todo o processo de assistência de curadoria da exposição e na coordenação<br />

editorial do catálogo que a acompanha. Ainda à Odete Belo e à equipa do Centro de<br />

Documentação do Museu do Neo-Realismo quero manifestar o meu agradecimento<br />

pelo profissionalismo manifestado em todos os momentos solicitados. Às designers<br />

Susana Vale e Dulce Munhoz, o reconhecimento pelo excelente trabalho em torno da<br />

imagem do catálogo e da exposição. A todos os técnicos do Município de Vila Franca de<br />

Xira que contribuíram para o êxito desta exposição, agradeço a dinâmica e o empenho<br />

colocados nas diversas fases da sua realização.<br />

7<br />

CAT 143


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

8<br />

A Vida e a Arte de<br />

António<br />

Ramos de Almeida<br />

António Pedro Pita


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />

A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

António pedro pita 1<br />

António Ramos de Almeida não chegou a publicar o livro anunciado em 1947,<br />

com o título A marcha para o Neo-Realismo, por ele próprio caraterizado como uma<br />

espécie de prólogo à história do movimento: simultaneamente roteiro (do caminho<br />

“que nós fomos obrigados a trilhar”) e explicitação (de que “o neo-realismo foi muito<br />

antes da verdadeira consciência que nós tivemos dele, uma aspiração profunda e uma<br />

necessidade imperiosa daqueles que começaram” 2 ). No mesmo depoimento, faz uma<br />

revelação: “tenho três discursos pronunciados em 1934 e 1935 – em Coimbra – que<br />

provam essa primeira etape, ainda vaga e nebulosa, ainda anterior, até, à polémica<br />

Arte Pura – Arte Social” 3 .<br />

O depoimento não se alarga em pormenores. Esta última observação é, contudo,<br />

suficiente para fortalecer a hipótese de todos aqueles que insistem na necessidade de<br />

situar ainda na primeira metade dos anos trinta as condições de génese histórico-cultural<br />

do que ganhará, a partir de 1938, o nome de “neorrealismo”.<br />

Infelizmente, esses discursos ainda não foram encontrados. No entanto, o<br />

artigo estampado em Manifesto, nº 2 (Fevereiro. 1936) já é esclarecedor. A revista<br />

Manifesto, recordemo-lo, é um dos lugares de dissolução da rápida (e porventura<br />

nunca completamente estabelecida) hegemonia literária presencista. Miguel Torga e<br />

Albano Nogueira inscrevem a consciência literária em linhas de força cuja nitidez de<br />

demarcação do universo presencista assenta numa discreta (mas real) permeabilidade<br />

às preocupações dos movimentos de artistas e intelectuais que marcaram sobretudo<br />

a Europa. Manifesto não é, como presença também não fora, uma revista situada nos<br />

limites da imprensa estudantil. Corresponde a uma posição intelectual (e não exclusiva<br />

ou predominantemente literária ou artística), sustentada na colaboração diversificada<br />

de nomes como Paulo Quintela, Bento de Jesus Caraça, Fernando Lopes-Graça ou<br />

Sílvio Lima 4 , sem esquecer a transcrição de um discurso de André Malraux sobre “A<br />

obra de arte”, pronunciado no Congresso Internacional dos Escritores para a Defesa<br />

da Cultura, realizado em 1935.<br />

O tema de “depoimento” de António Ramos de Almeida – “Novos e velhos” 5 –<br />

traz à cena argumentativa um tópico que se tornará cada vez mais comum na retórica<br />

emergente. “Novo” significa consciente do “nosso momento histórico”, o momento<br />

9<br />

1 Professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Coordenador científico do CEIS20 – Centro<br />

de Estudos Interdisciplinares do Século XX.<br />

2 Vértice, vol. IV (1947), p. 470-1.<br />

3 É possível que uma obra de “crítica e polémica” intitulada Falando ao Povo sobre a Arte, reunião de “conferências e discursos”,<br />

anunciada como “A publicar” em A arte e a vida, previsse reeditar estas conferências. Mas nunca foi publicada.<br />

4 “A revista nasceu de um grupo que já tem maioridade intelectual: Dr. Paulo Quintela, Carlos Sinde [Alberto Martins de<br />

Carvalho], Lopes Graça, António Madeira [Branquinho da Fonseca], João Farinha, etc.”, terá oportunidade de escrever<br />

António Ramos de Almeida, num outro texto. O sublinhado é meu.<br />

5 António Ramos de Almeida, “Um depoimento – Novos e velhos” in Manifesto, nº 2, fevereiro. 1936.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

10<br />

de uma transformação civilizacional em processo de doloroso adiamento: “A Grande<br />

Guerra deveria ter posto fim a uma civilização, e não pôs; em nome dos mesmos<br />

valores que a desencadearam reuniram-se os representantes dos povos que fizerem<br />

a paz, a paz armada em que temos vivido. A velha civilização aí está!... Agravaram-se<br />

apenas os seus males, as suas mazelas e os seus vícios e nós os homens de hoje é que<br />

sofremos; por isso é sobre nós que pesa a missão de realizar aquilo que os outros<br />

não realizaram”. A linha de demarcação é, pois, muito nítida: “velhos são aqueles que<br />

ainda vivem do outro lado da grande guerra e os novos são os outros. A questão dos<br />

velhos e dos novos não é pois uma questão de idade, é uma questão de cultura e de<br />

sensibilidade”. Esta conclusão vai alimentar a robustez da argumentação polémica,<br />

tanto mais importante quanto o critério de legitimação das novas ideias será menos<br />

de ordem geracional do que de ordem ideológico-doutrinária. Entre os que são<br />

“conscientemente novos” e os que são “conscientemente velhos”, sublinha António<br />

Ramos de Almeida, “não pode haver solução de continuidade possível, porque nós<br />

não seremos apenas pacíficos sucessores, nem iremos sacrificar as nossas energias ao<br />

serviço de ideias e de valores que cheiram a podridão e a bafio”. O requinte polémico<br />

chega ao ponto de voltar, sem citá-los, contra o programático individualismo de<br />

matriz regiana, a ressonância de alguns famosos versos do “Cântico Negro” que<br />

poeticamente o configurara: “Não, meus senhores, nós não poderemos seguir jamais<br />

os vossos caminhos porque temos os nossos”.<br />

Um ano depois, é no jornal Humanidade que António Ramos de Almeida traça<br />

um “Panorama Literário da mocidade de Coimbra e a necessidade do revigoramento<br />

mental das novas gerações” 6 , ilustrado com um desenho de Fernando Namora.<br />

Nele encontramos a notícia da iminente publicação de Cadernos da Juventude, a<br />

experiência editorial que é o concentrado primitivo da autoconsciência desse grupo<br />

ainda inominado mas já ativo: “atualmente um núcleo de rapazes pretende começar<br />

uma nova campanha, abrir outra época na mocidade coimbrã. O que carateriza os<br />

rapazes de hoje é uma adesão profunda ao seu mundo, uma comunhão com as suas<br />

misérias e as suas virtudes, uma fuga dos subjetivismos doentios e sobretudo uma<br />

renúncia às esquisitices formais que foram o conteúdo de certa corrente da literatura<br />

contemporânea”. Não será excessivo sublinhar a referência à pretensão de “abrir uma<br />

outra época”, ou “uma nova era”, como escreve noutro passo.<br />

Revisitará esse ano-chave de 1937, vinte anos mais tarde, nestes termos: “só em<br />

1937, na verdade [...] foi que um grupo de jovens – profundamente interessados por<br />

uma literatura mais humanizada e por uma cultura consequente – se lançou abertamente<br />

não já somente numa simples querela de princípios com a «presença» mas na realização de novas<br />

obras que fossem buscar as suas raízes na vida do Povo e nas inquietações ideológicas,<br />

éticas, económicas e históricas que a Humanidade dramaticamente atravessava” 7 .<br />

6 António Ramos de Almeida, “Panorama Literário da mocidade de Coimbra e a necessidade do revigoramento mental das<br />

novas gerações” in Humanidade, nº 39, 4. Dezembro. 1937.<br />

7 Idem, “Rodapé quinzenal de crítica literária – O Homem Disfarçado de Fernando Namora” in Jornal de Notícias / Suplemento<br />

Literário, nº 221, 5.janeiro.1958.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />

Entretanto, António Ramos de Almeida participara ativamente na afirmação<br />

estético-cultural do “neorrealismo”. Em vários artigos publicados nas revistas de referência<br />

como O Diabo ou Sol Nascente, de que são exemplo as “Notas para o Neo-realismo”,<br />

dispersas tal como a maior parte da sua produção de índole crítico-jornalística, e sobretudo<br />

na conferência de 1941, intitulada A arte e a vida, António Ramos de Almeida propõe<br />

um neo-realismo, que deveremos hoje pôr em relação com o neorrealismo de Mário<br />

Dionísio, o neo-realismo de Óscar Lopes ou o neorrealismo de Mário Sacramento 8 –<br />

que são o mesmo neorrealismo e outros neorrealismos.<br />

Ainda não foi possível levantar a totalidade dessa produção 9 . Muito menos<br />

proceder a uma avaliação ponderada do que, nela, traduz quer o enunciado dogmático<br />

em que, como tendência polarizada por uma aspiração hegemónica, o neorrealismo se<br />

pensou a si próprio quer as profundas tensões congénitas que não menos o caraterizam<br />

e das quais a chamada “polémica interna” será a oportunidade explosiva.<br />

Mas o que talvez caraterize o movimento de pensamento de António Ramos de<br />

Almeida, é uma deriva do (neo) realismo como categoria estética para um (neo) realismo<br />

como critério crítico.<br />

A arte e a vida, célebre conferência pronunciada em 1941 e logo publicada<br />

(a Drª Rosário Barbosa, neste mesmo volume, traz ao conhecimento público<br />

elementos inéditos relativos a algumas circunstâncias dessa edição), procede a<br />

uma espécie de balanço do que significaram a génese e as primeiras produções<br />

do neorrealismo português – numa leitura que aspira ser, ao mesmo tempo, a<br />

enunciação das grandes coordenadas de uma nova categoria estética.<br />

São duas as teses fundamentais: primeiro, toda a arte é artifício; segundo, toda<br />

a arte tem como finalidade imaginária a realização da vida.<br />

A poética de António Ramos de Almeida é assim, ao mesmo tempo, analítica<br />

e afirmativa. Desdobra-se em três aspetos centrais: o primeiro, respeita à justificação<br />

da tese da deformação da arte; o segundo, prende-se com a historicidade das expressões<br />

artísticas; o último, trata de problemas relativos à chamada arte moderna.<br />

A deformação da obra de arte tem, digamos, um fundamento ontológico: significa<br />

que “a realidade é inapreensível na sua plena totalidade, impossível de cópia ou<br />

pastiche” 10 , que é impossível captá-la “em todos os seus cambiantes, em toda a sua<br />

complexidade, na sua permanente mutação” 11 . Ao artista está reservado o papel de<br />

mediador, é por ele que “a realidade passa para a obra de arte” 12 .<br />

11<br />

8 Cf. António Pedro Pita, “A árvore e o espelho. Elementos para a fundamentação da heterogeneidade neo-realista” in Conflito<br />

e unidade no neo-realismo português, Campo das Letras, Porto, 2002, p. 225-241.<br />

9 Mas as colaborações em Sol Nascente e em Vértice foram já levantadas, respetivamente, por Luís Crespo de Andrade, Sol<br />

Nascente. Da cultura republicana e anarquista ao neo-realismo, Campo das Letras, Porto, 2007, p. 134 e Carlos Santarém<br />

Andrade, Vértice – Índice de autores 1942-1986, Coimbra, 1987, p. 15.<br />

10 António Ramos de Almeida, A arte e a vida, Livraria Editora Latina, col. Cadernos Azuis, Porto, 1941, p. 16.<br />

11 Idem, ibidem, p. 17.<br />

12 Idem, ibidem, p. 19.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

12<br />

CAT 22<br />

CAT 22<br />

Panorama literário da mocidade de Coimbra<br />

e a necessidade do revigoramento mental<br />

das novas gerações / António Ramos de<br />

Almeida. - V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod.<br />

ampl.: Sépia<br />

Reprodução do artigo. - In: Humanidade,<br />

Nº 39 (4 Dez. 1937). - Contém desenho<br />

evocativo de Fernando Namora<br />

Fotocópia cedida pelo Dr. António Pedro<br />

Pita<br />

CAT 161<br />

A arte e a vida: para esclarecimento e<br />

compreensão da literatura moderna<br />

portuguesa e da estéril polémica arte pura e<br />

arte social / António Ramos de Almeida. -<br />

Porto : Livraria Joaquim Maria Costa, 1941.<br />

- 40, [3] p. ; 19 cm. - (Cadernos Azuis ; 2)<br />

MNR ALM/ENS/2525<br />

CAT 161<br />

CAT 12<br />

Novos e velhos/ António Ramos de Almeida<br />

In: Manifesto. - Nº 2 (Fev. 1936) p.12<br />

Revista mensal. - Foram editados só os nºs:<br />

1, 2, 3<br />

col. João Paulo L. Campos<br />

CAT 12


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

14<br />

É impossível uma relação imediata com o mundo. É necessário construir imagens,<br />

expressões desse mundo. Mas nem todas as expressões são artísticas. Só pode falar-se<br />

de expressão artística quando os meios específicos de uma arte (a cor na pintura; o som<br />

na música) transcendem a imediatidade da sua natureza e da sua utilização: “o pintor será aquele<br />

que pode pintar mais do que as cores, embora se sirva de cores para pintar esse mais” 13 .<br />

Visando uma tal finalidade, a arte, pelos seus modos específicos, deve realizar a vida.<br />

Por isso, a importância atribuída ao cinema: “no cinema ouve-se, vê-se, quer dizer, a<br />

realidade é apanhada flagrantemente no seu todo e sobretudo no seu movimento, isto<br />

é, o cinema é mais do que a expressão da realidade, é aquela expressão – ou tende a ser<br />

– que esteticamente melhor realiza a vida, embora todas as outras espécies de expressão<br />

estética pretendam também realizá-la” 14 . O cinema exemplifica a contradição que toda a<br />

arte é: um artifício que aspira apagar-se em nome da própria realização imediata da vida,<br />

um determinado procedimento que opera com recursos formais que se deverão apagar<br />

para que seja possível a mais larga comunicação.<br />

A arte apela 15 : por isso é que, para António Ramos de Almeida, pode falar de<br />

um problema da arte moderna. No horizonte da comunicabilidade integral, que é o<br />

seu, a chamada arte moderna consuma a rutura com o público pelo exacerbamento<br />

de processos formais, que criam uma realidade mais do que a exprimem. Escreve:<br />

“nas artes plásticas o divórcio entre o artista e a realidade ainda é mais flagrante: na<br />

pintura esse divórcio vê-se. Cada escola de pintura moderna julga ter descoberto a<br />

realidade, uma realidade que toda a gente julga ser real. Quer dizer: a realidade num<br />

quadro nada tem a ver com a realidade na vida, com a realidade real, permitam-me<br />

o tautologismo. Eis porque os olhos habituados a ver a realidade da vida ficaram<br />

escandalizados diante da pintura moderna” 16 .<br />

Neste ponto, a importância do artista mostra-se. Como mediação concretamente<br />

enraizada numa determinada situação histórica, o artista (“vínculo humano que une a<br />

realidade viva à realidade estética, […] através do qual a realidade passa para a obra de<br />

arte” 17 ) transporta para a obra de arte – tenha ou não consciência disso – a situação<br />

histórica de que tem experiência. A experiência do artista, posto que toda a experiência<br />

é experiência histórica, funda a historicidade da experiência estética.<br />

Se, nas considerações relativas ao conceito de deformação, António Ramos de<br />

Almeida poderia ter em mente um ensaio famoso de João Gaspar Simões 18 , aliás<br />

também incorporado no pensamento neorrealista por Mário Dionísio 19 , agora defronta<br />

13 Idem, ibidem, p. 15 (sublinhado meu).<br />

14 Idem, ibidem, p. 18.<br />

15 Cf. Idem, ibidem, p. 25.<br />

16 Idem, ibidem, p. 39.<br />

17 Idem, ibidem, p. 19 (sublinhado meu).<br />

18 João Gaspar Simões, “Deformação, génese de toda a arte” in presença, nº 45, junho. 1935, p. 7-11. Cf. a análise de António<br />

Ramos de Almeida, “A propósito dos «Novos Temas» de João Gaspar Simões in O Diabo, nº 225, 14.janeiro.1939; nº 226,<br />

21.janeiro.1939; nº 229, 11.fevereiro.1939.<br />

19 O artista deve “deformar, deformar sempre até onde esta palavra (liberta do sentido etimológico) possa significar dar nova<br />

forma, escolher a forma capaz, a única, de dar a toda a gente claramente aquilo que queremos revelar” (M. Dionísio, “Ficha<br />

5” in Seara Nova, nº 765, 11.abril.1942, p. 132).


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />

a tese exemplar do presencismo enunciada por José Régio logo no primeiro número<br />

da famosa revista 20 : a de que a transposição estética da mais profunda experiência<br />

individual implicava a subjetividade. Para António Ramos de Almeida, não. Na exata<br />

medida em que a historicidade da experiência é irredutível e em que, por conseguinte,<br />

não há experiência que não seja histórica, toda a arte fica presa ao momento em que<br />

nasceu, situada no interior dos grandes conflitos sociais e mentais, e votada a uma<br />

posteridade tanto mais duradoura quanto mais penetrantemente elaborar a situação<br />

conflitual de que nasce.<br />

Creio que está aqui um dos traços definidores da poética neorrealista segundo<br />

Ramos de Almeida: a vinculação à situação em que nasce, o papel mobilizador<br />

essencial 21 e uma noção documental da posteridade das obras de arte: “As grandes<br />

iniquidades, as grandes injustiças sociais específicas de cada época histórica, os<br />

dramas passionais, onde a consciência do grupo dominante chega para esmagar<br />

até os impulsos mais naturais e elevados do homem, os preconceitos próprios e<br />

dominantes das sociedades fechadas pelo predomínio cego de uma classe, surgem em<br />

todas as obras primas da arte, quer o artista seja Cervantes e escreva o Dom Quixote;<br />

Shakespeare e escreva o Romeu e Julieta” 22 .<br />

Poderíamos perguntar, com o Marx da Contribuição para a Crítica da Economia<br />

Política 23 , se os motivos de emoção estética que sobrevivem nessas e noutras obras, e que<br />

ainda nos fazem lê-las, resultam do facto de documentarem tais conflitualidades; ou se<br />

não é a circunstância de Cervantes ou Shakespeare ou Tolstoi ou Balzac escreverem mais<br />

do que as palavras com as palavras que usam. António Ramos de Almeida, contudo,<br />

prende esse excesso (esse mais) à própria época 24 por meio da noção de cultura, um<br />

autêntico pressuposto da sua reflexão. O mais da expressão artística é o contributo da<br />

arte (da beleza, da imaginação) para a construção da cultura própria de cada época,<br />

de par com as descobertas científicas, os inventos técnicos, etc.: “a cultura representa<br />

[...] a interdependência de todas as descobertas, certezas e aventuras do conhecimento<br />

humano que, partindo da realidade, agem sobre a realidade, aprofundando e alargando<br />

o âmbito de uma conquista cada vez mais larga, mais ampla e mais profunda sobre o<br />

mundo externo e sobre ele próprio” 25 .<br />

15<br />

20 José Régio, “Literatura viva” in presença, nº 1, 10.março.1927.<br />

21 Leia-se este outro passo da obra que estamos a seguir: “a Arte fala aos sentidos, é dirigida à compreensão das multidões das<br />

massas – qualquer artista pretende ser compreendido por todos – enquanto que as doutrinas filosóficas dirigem-se à razão<br />

e, embora tendam para a universalização, tal universalização só pode realizar-se pelo convencimento individual de cada um”<br />

(p. 25).<br />

22 Idem, ibidem, p. 25.<br />

23 “A dificuldade não está em compreender que a arte grega e a epopeia estão ligadas a certa forma de desenvolvimento social.<br />

A dificuldade reside no facto de nos proporcionarem ainda um prazer estético e de terem ainda para nós, em certos aspectos,<br />

o valor de normas e de modelos inacessíveis” (Karl Marx, Contribuição para a Crítica da Economia Política, Editorial<br />

Estampa, Lisboa, 2ª ed., 1975, p. 240).<br />

24 Cf.: “é a essa densidade material e humana, a esse poder de penetração no fundo da sua época e ao poder simultâneo de<br />

técnica formal reveladora que os idealistas acoimam metafisicamente de eternidade” (António Ramos de Almeida, “Notas<br />

para o neo-realismo” in O Diabo, nº 315, 5. maio.1940).<br />

25 Idem, A arte e a vida, p. 10.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

16<br />

A arte pertence, pois, ao dispositivo de integração da cultura. Subverte na<br />

medida exata em que constrói, todo o ímpeto subversivo está inscrito no sentido da<br />

sua finalidade, no conceito da sua integração numa visão global do mundo.<br />

Assim, pode afirmar-se que a arte é um discurso ideológico insubstituível e<br />

que a polémica arte pura / arte social é, simplesmente, uma querela: “toda a arte é<br />

simultaneamente pura e social. Pura, na medida em que é expressão estética sincera,<br />

espontânea e livre de uma consciência humana [...] Social, não só por ser o homem<br />

um ser social – mas na medida em que nos revela a relação desse homem com outros<br />

homens e, sobretudo, na medida em que o artista, como ser social que é, exprime<br />

os dramas sociais, políticos e morais da sociedade de que faz parte, colocando-se na<br />

posição do grupo a que pertence” 26 .<br />

É no quadro desta compreensão alargada da inscrição social do processo artístico<br />

que vai decorrer a intensa atividade de António Ramos de Almeida. Na avaliação<br />

retroativa que dela podemos fazer agora, é possível reconhecer as consequências de<br />

uma certa “dispersão” 27 . Não estou certo de que seja a palavra adequada. Sobreveio<br />

a António Ramos de Almeida, inadiável, aquela mesma urgência que consumiu um<br />

Mário Sacramento: o imperativo (a um tempo cultural, político e artístico) de intervir<br />

em várias áreas particularmente sensíveis para o projeto de vida que tornaram seu.<br />

No caso de António Ramos de Almeida, pode dizer-se que esse projeto de vida<br />

tem três desdobramentos fundamentais: uma intuição poética do mundo; a inserção<br />

da transformação materialista da consciência intelectual portuguesa na nossa própria<br />

história cultural e política; a valorização da mediação cultural e da intervenção regular no<br />

espaço público. Além do sempre inacabado processo de aproximação luso-brasileira, de<br />

que António Ramos de Almeida é um dos grandes pioneiros e sobre o qual a Doutora<br />

Valéria Paiva escreve neste volume.<br />

O poeta António Ramos de Almeida apresentou-se publicamente, em 1938,<br />

com um pequeno livro de poemas intitulado Sinal de Alarme. Prestar atenção a obras<br />

como esta – mas há outras: Sedução de José Marmelo e Silva, publicada em Coimbra<br />

pela Livraria Portugália de Augusto dos Santos Abranches em 1937 28 ; Ilusão da Morte<br />

de Afonso Ribeiro, novelas publicadas em 1938 – é uma condição imprescindível para<br />

recontextualizar a génese do neorrealismo.<br />

No caso de António Ramos de Almeida, quer esse Sinal de Alarme, quer Sinfonia da<br />

Guerra, de 1939 (com prefácio e posfácio de Rodrigo Soares e de Joaquim Namorado,<br />

respetivamente), quer mesmo o longo poema de amor intitulado Sêde, editado em<br />

26 Idem, ibidem, p. 58-59.<br />

27 Uma nota não-assinada destaca, em Vértice (vol. XXI (1961), p. 210), o contributo de António Ramos de Almeida para a<br />

afirmação do neorrealismo e para a formação de uma verdadeira comunidade luso-brasileira. Mas observa que a obra legada<br />

“ressente-se da dispersão e de uma certa falta de amadurecimento”.<br />

28 No Jornal de Notícias / Suplemento Literário, nº1, 22. fevereiro. 1953, num dos “Perfis indiscretos”, consagrado a Afonso<br />

Duarte, António Ramos de Almeida evoca os tempos em que “surgimos na liça, o Marmelo e Silva, com «Sedução» e eu<br />

com «Sinal de Alarme», em 1937, e pouco depois, Fernando Namora e João José Cochofel, respetivamente com «Relevos»<br />

e «Instantes»”.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />

1944, aos quais devemos acrescentar Vulcão (1956), todos mergulham, mais do que na<br />

apreensão da guerra, no sentimento de que este é um mundo que acaba: “podes crer,<br />

meu amor, / É este o mundo que vai acabar”, como se lê no último fragmento de<br />

Sêde, intitulado “Profecia”. Ora, como dizer em arte a perceção da iminência histórica<br />

(que não significa cronológica) de uma transformação civilizacional, sempre pensada<br />

não se reduzindo a uma estrita dimensão política – essa é talvez a questão mais geral<br />

do neorrealismo.<br />

Não foi outro senão Joaquim Namorado que chamou a atenção para o seguinte: a<br />

“formulação ideológica” destes problemas “torna-se extremamente difícil, em virtude,<br />

primeiramente, de não existir no campo artístico um estudo aprofundado, metódico<br />

e específico destes problemas, tratados quase sempre em aspetos particulares ou à<br />

margem do desenvolvimento de outros. Os textos sobre arte e literatura dos filósofos<br />

materialistas são na maior parte dos casos fragmentos de trabalho incidindo sobre<br />

outros assuntos”.<br />

Não é tanto, pois, desconhecimento ou conhecimento precário. É de uma<br />

efetiva insuficiência teórica que deve falar-se. Mais: esta insuficiência de teoria<br />

prende-se com uma insuficiência da tradição – sobretudo, no campo literário, da<br />

tradição realista. Ainda nas palavras de Joaquim Namorado, “aos jovens escritores<br />

dos anos 30 punha-se o imperativo da criação de técnicas suscetíveis de exprimir o<br />

seu modo de entender o mundo” inspirando-se “nas tradições da nossa literatura<br />

popular [...] nas conquistas de certo romance moderno, em Michael Gold, em Istrati,<br />

em Steinbeck, Hemingway e nas experiências do romance brasileiro”; punha-se o<br />

problema de conquistar “um estilo apropriado às suas conceções do mundo e da<br />

vida; seria pedagógico comparar os modos como Mário Dionísio, Carlos de Oliveira,<br />

Namora, Cardoso Pires, Afonso Ribeiro e Abelaira atacaram e resolveram (ou não)<br />

o mesmo problema. Daí sairia pelo menos destruída a afirmação da uniformidade<br />

e realismo dos escritores neorrealistas”.<br />

É, pois, já a um neorrealismo ainda não nomeado que pertencem as referidas<br />

obras de José Marmelo e Silva, Afonso Ribeiro e António Ramos de Almeida.<br />

Que se trata, neste caso, de uma determinada intuição poética – é indubitável. A obra<br />

poética de António Ramos de Almeida não responde à letra de Maiakovski quanto<br />

à definição de “mandato social”: identificar a existência na sociedade de problemas<br />

cuja solução só pode imaginar-se através de uma obra poética. É descritiva,<br />

mantém-se no plano da denúncia e da mobilização. Mas um tal desencontro com,<br />

por exemplo, a radicalidade de Maiakovski é constituinte do neorrealismo.<br />

Mas as razões em que assenta esta (chamemos-lhe) limitação da obra poética<br />

aclaram os motivos do empenho de António Ramos de Almeida na intervenção regular<br />

no espaço público. A palavra poética é contagiosa, a palavra justa gera comunidade, é<br />

necessário alargar mais e mais o círculo da eficácia sentimental. Os “fundos” no Jornal<br />

de Notícias, crónicas escritas em cima da hora e sobre a atualidade, são vistas como<br />

conversas. Não são reflexões teóricas: mas um fluir do e no quotidiano (português ou<br />

não) capaz de pôr a claro algumas questões problemáticas.<br />

17


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

18<br />

A fundação do “Suplemento Literário” do «Jornal de Notícias» especializa<br />

essa intervenção. O cronista não desaparece, a atenção ao quotidiano mantém-se,<br />

mas António Ramos de Almeida abre uma outra frente: alargar a possibilidade de<br />

encontro do público com a literatura. O diagnóstico é instigante: “nunca a Literatura<br />

em Portugal tomou a projeção popular de hoje em dia. As homenagens prestadas o<br />

ano passado aos Poetas Teixeira de Pascoaes e João de Barros, o alvoroço que causou<br />

a recente visita de Jaime Cortesão, a Mensagem que os leitores e admiradores de<br />

Ferreira de Castro lhe vão enviar pela passagem do 25º aniversário da publicação dos<br />

«Emigrantes», provam o apreço, mais, a gratidão e a estima cordiais dos portugueses<br />

pelos valores mais representativos da sua Literatura [...]” 29 .<br />

O número crescente de suplementos literários em diários de Lisboa e do<br />

Porto – a inexistência de estudos impede o alargamento da geografia – é um aspeto<br />

dessa projeção popular porque “não há processo mais eficaz, mais relevante, mais<br />

consequente de levar a Literatura, no complexo de todos os seus problemas e valores,<br />

às grandes massas leitoras”.<br />

Essa ainda inexistente história dos suplementos literários é um obstáculo<br />

a que a iniciativa de António Ramos de Almeida ganhe escala e contexto. Mas há<br />

alguns traços gerais que são, mesmo assim, permitidos: o “Suplemento” consagrou<br />

minuciosa atenção ao que podemos considerar a vida cultural nortenha ou portuense<br />

mas não no registo neutro da informação, antes concebendo-se como acelerador da<br />

atenção. Não será excessivo tomar de empréstimo a Antonio Gramsci a noção de<br />

“organizador coletivo” e imaginá-la como tema, imperativo ou legenda da instituição<br />

de um “campo literário” consistente e duradouro.<br />

Além disso, o “Suplemento Literário” do «JN» torna-se um ponto de encontro<br />

de consagrados e estreantes, além de contar quinzenalmente com o Rodapé de crítica<br />

literária e de alguns saborosíssimos Perfis indiscretos do próprio António Ramos de<br />

Almeida.<br />

Nestas páginas fluentes, normalmente breves, amiúde retrospetivas ou memoriais,<br />

António Ramos de Almeida está na posse de uma maturidade compreensiva, sempre<br />

mais interessada na ótica cultural da integração do que na iniciativa vanguardista da<br />

rutura.<br />

No mesmo sentido embora menos conhecida e a requerer uma aturada<br />

pesquisa autónoma é a iniciativa da Sociedade Editora Norte. A sua constituição em<br />

1942 obriga a situá-la na constelação editorial que o campo neorrealista está a definir<br />

desde o início da década: Novo Cancioneiro (1941) e Novos Prosadores (1943) mas<br />

também os Cadernos Azuis e, de certo modo, a Biblioteca Cosmos de Bento de Jesus<br />

Caraça (1941).<br />

29 António Ramos de Almeida, “A vez da literatura” in Jornal de Notícias / Suplemento Literário, nº 1, 22. fevereiro.1953.


19<br />

CAT 44<br />

CAT 44<br />

Sedução: novela / José Marmelo e Silva; capa<br />

Luis Filipe de Abreu. – Edição definitiva. –<br />

Lisboa: Estúdios Cor, 1960. – 180 p.; 20 cm.<br />

– (Latitude; 42).<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos<br />

de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

CAT 44


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

20<br />

Entre as obras editadas pela SEN, contam-se Meridianos de arte e literatura: uma<br />

antologia de escritores modernos, organizada por Carlos Barroso em 1950 e, neste mesmo<br />

ano, o volume de dispersos de Soeiro Pereira Gomes, Refúgio Perdido; em 1951, publica<br />

Engrenagem de Soeiro Pereira Gomes.<br />

A integração, esse traço decisivo da sua conceção de cultura, subjaz igualmente,<br />

a meu ver, ao interesse de António Ramos de Almeida pelo devir do republicanismo<br />

português.<br />

Entendemos esta expressão em sentido estrito 30 . Ora, um dos pontos mais<br />

interessantes do que podemos chamar a transformação da consciência intelectual<br />

portuguesa em curso desde a primeira metade dos anos 30, é, num único e por<br />

vezes rápido processo (que, por vezes, a Guerra de Espanha acelerou brutalmente)<br />

a identificação dos limites do pensamento republicano (em resposta aos quais o<br />

Centro Republicano Académico de Coimbra lança o programa que deveria consistir<br />

em “republicanizar a República”), o reconhecimento da justeza do marxismo como<br />

discurso de emancipação em linha com todos os outros discursos da tradição<br />

iluminista, a vinculação política à esquerda do republicanismo clássico, colocando<br />

sob suspeita o socialismo da II Internacional.<br />

É na estrita consideração da situação portuguesa no quadro internacional que<br />

um grupo de jovens com interesses intelectuais começa a definir, cada um por si, o<br />

seu caminho. E, mas só depois, em estádios variados de amadurecimento coletivo.<br />

A matriz republicana perdurará no ideário de António Ramos de Almeida<br />

como um nunca acabado interesse intelectual de que são prova uma Antologia<br />

do Pensamento Republicano que planeou e dirigiria (a concretizar-se), e o trabalho,<br />

longamente amadurecido, sobre Bernardino Machado, que concretizado em<br />

antologia de textos precedido de estudo interpretativo, deveria inaugurar a referida<br />

Antologia. Mas perdura, para além disso, como pressuposto político necessário,<br />

embora suscetível de aprofundamento no plano social.<br />

A conquista definitiva de Bernardino Machado foi, para António Ramos<br />

de Almeida, a instauração política, científica e, por isso, ideológica, de uma<br />

antropologização geral.<br />

Ora, é neste quadro que Ramos de Almeida vai instalar o imperativo de uma<br />

historicização integral das práticas humanas.<br />

O trânsito de uma a outra não é imediato nem pacífico. Mas é fundamental: se<br />

há nele um elemento de justeza, e é este elemento de justeza que o torna um requisito<br />

necessário, nem por isso o cientismo republicano deixa de ser, como ideologia teórica,<br />

insuficiente e incompatível com a historicização das práticas humanas.<br />

30 Em sentido lato, seria importante considerar demoradamente, entre outras páginas, os ensaios que consagrou a João de<br />

Barros e a Raúl Brandão.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />

Mas não deixa de ser expressivo que o legado de António Ramos de Almeida,<br />

aquela obra que fica como derradeiro envio ou última palavra seja o seu confronto, a<br />

sua apreensão crítica mas sempre compreensiva, com o pensamento de Bernardino<br />

Machado.<br />

Mais: que as últimas páginas de O pensamento activo de Bernardino Machado<br />

transcrevam fragmentos de um escrito tardio do insigne republicano, de certo modo<br />

subordinadas a este mote: “Unir os homens pela razão, eis o supremo problema<br />

social”.<br />

Não será difícil surpreender aqui o problema do próprio António Ramos<br />

de Almeida. Pelo menos, um dos problemas centrais do seu envolvimento cívico.<br />

Porque os homens unem-se também – esta diferença com o republicanismo clássico<br />

é irredutível – pela afetividade e pelo sentimento, como a arte no-lo mostra.<br />

A permanente reflexão sobre a literatura brasileira constitui o campo privilegiado<br />

desta convicção. É no aprofundamento do significado da literatura brasileira que<br />

aquilo a que poderíamos chamar a dimensão cognitiva da literatura mais se revela.<br />

De 1938 é o ensaio intitulado “O romance brasileiro contemporâneo através<br />

de seus principais intérpretes”, publicado na revista Sol Nascente desdobrado em<br />

dois artigos, o primeiro consagrado a Jorge Amado e o segundo a José Lins do Rego<br />

e Amando Fontes.<br />

Mas vinha de mais longe o conhecimento pormenorizado e o acompanhamento<br />

atento da atualidade literária brasileira. O menino de engenho de José Lins do Rego,<br />

publicado em 1932, lê-o nas avenidas do Jardim Botânico coimbrão menos de um<br />

ano depois. Não será excessivo, por isso, conjeturar a centralidade do seu papel como<br />

intermediário na difusão desse chamado “romance regionalista” em Portugal.<br />

A conferência A nova descoberta do Brasil, pronunciada no dia 3 de maio de 1944<br />

e nesse mesmo ano editada num pequeno volume 31 constitui uma primeira fixação<br />

global da complexa relação de António Ramos de Almeida com o Brasil 32 – plasmada,<br />

aliás, nos múltiplos sentidos do título.<br />

O achamento histórico do Brasil, a descoberta do Brasil pelo jovem António<br />

Ramos de Almeida, a descoberta do Brasil pelos próprios brasileiros e a descoberta<br />

21<br />

31 António Ramos de Almeida, A nova descoberta do Brasil, Editorial Fenianos, Porto, 1944. Foi inicialmente uma conferência<br />

pronunciada no dia 3 de maio do mesmo ano no Salão Nobre do Clube Fenianos Portuenses, numa sessão presidida<br />

pelo Dr. Mauro de Freitas, Cônsul do Brasil no Porto. Doze anos depois, no mesmo dia 3 de maio (Jornal de Notícias, 3.<br />

maio.1956), António Ramos de Almeida volta ao tema e reforça a necessidade prática (quer dizer, ao mesmo tempo, política<br />

e cultural) da aproximação entre os dois países, fazendo coincidir o seu comentário com as palavras de Pedro Calmon,<br />

que estava em Portugal para comemorar justamente o dia 3 de maio e discursou na Academia das Ciências sobre a língua<br />

portuguesa.<br />

32 Além da edição autónoma, a conferência fará parte da obra Para a compreensão da cultura no Brasil, Maranus, Porto, 1950.<br />

Nela estão reunidos outros significativos ensaios de temática brasileira (“Castro Alves, génio poético do Brasil”, “A conquista<br />

da expressão brasileira” e “Para a compreensão de Rui Barbosa, Jurisconsulto da Democracia e da Paz”). Apesar de não<br />

reunir todos os escritos referentes ao mesmo tema, a esta obra deveremos regressar, noutra oportunidade, para reconstituir<br />

o amplo horizonte em que António Ramos de Almeida situava a valorização da “literatura regionalista”.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

22<br />

(isto é: o reconhecimento) do Brasil pela comunidade internacional são diferentes<br />

tópicos que confluem nessa reflexão apaixonada que – no entanto – é, porventura<br />

acima de tudo, a consagração da importância cognitiva da literatura.<br />

A partir da convicção de que “tudo o que se construiu no Brasil foi [...] produto<br />

de trabalho árduo e penoso, lutas de suor, de sangue, de lágrimas e de ideias, sem<br />

as quais nada se faz de grande neste mundo”, é lícito perguntar onde poderemos<br />

“descobrir os segredos das grandes lutas”, onde é que o devir-nação toma consciência<br />

de si próprio. Resposta: é na literatura, são “os poetas, os romancistas, os historiadores,<br />

os ensaístas, sobretudo os das novas gerações, aqueles que mostraram ao mundo a<br />

grandeza e a extensão do seu país”. Mais: “eles são a linguagem da selva, da ‘caatinga’<br />

e dos pampas, a palavra eloquente das florestas, dos rios e dos homens; representam<br />

sobretudo a luta admirável do homem que saiu das tribos, da escravatura e conquistou<br />

a liberdade, porta aberta à amplidão do Futuro”. É o que designa por “conquista da<br />

expressão brasileira”.<br />

Esquematicamente, é certo; rapidamente, sem dúvida – mas está aqui uma<br />

conceção de literatura.<br />

A literatura não distrai, não evade, não decora. A literatura também não é,<br />

simplesmente, a expressão de consciências individuais. A literatura que simplesmente<br />

distrai, evade ou decora está dessintonizada do seu próprio tempo. Ora, pertence a<br />

uma pré-compreensão geracional, partilhada por António Ramos de Almeida, que é<br />

possível, que é historicamente necessário construir os fundamentos dessa sintonia<br />

entre a arte e o tempo, isto é, entre o acontecimento histórico e os modos de expressão<br />

artística do acontecimento histórico.<br />

A arte deve fazer conhecer: e não, simplesmente, referir, ilustrar. Fazer conhecer<br />

significa mostrar o sentido de um acontecimento.<br />

A identificação destas características singulariza a “literatura regionalista”<br />

de outras práticas literárias e investe a sua difusão entre nós de um alcance<br />

completamente diferente da mera “divulgação” de autores brasileiros.<br />

Num artigo sobre O Amanuense Belmiro de Ciro dos Anjos, escreve: “Os romances<br />

de Graciliano Ramos, José Américo de Almeida, José Lins do Rego, Jorge Amado,<br />

Amando Fontes, Raquel Queirós, Erico Veríssimo chegaram de chofre, como um<br />

duche sobre uma sensibilidade leitora e crítica embutada pelo decandentismo mórbido<br />

do romance europeu que usara e abusara das escavações psicológicas. O romance<br />

brasileiro irrompia como qualquer coisa de diferente, repleto de força e de vida de um<br />

humanismo novo, onde os problemas concretos e reais da sociedade e do indivíduo se<br />

misturavam uns nos outros [...]”.<br />

Uma leitura “neorrealista” do modernismo, que reduz a valorização da<br />

linguagem ao subjetivismo e permanece numa estrita e estreita noção do que seja<br />

a análise psicológica conjuga-se, neste passo, com uma universalização da ficção<br />

brasileira “regionalista”. É como se se afirmasse, por outras palavras que o romance


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />

do século XX precisou dessa ficção regionalista para captar dimensões universais da<br />

condição humana. Ou: que o romance regionalista é um dos caminhos para estabelecer<br />

as bases de uma nova ficção. Ou ainda: foi na ficção regionalista brasileira que uma<br />

universalidade concreta da condição humana ganhou configuração e voz.<br />

Esta hipótese altera e enriquece a relação entre as culturas brasileira e portuguesa<br />

através do neorrealismo: não se trata só unicamente de divulgar, de fazer conhecer<br />

num país os valores artísticos do outro país ou de definir as bases de uma qualquer<br />

“comunidade”.<br />

Nem estamos também, simplesmente, no plano da “influência”, que é o<br />

dispositivo mais referido para caraterizar a receção da literatura brasileira pela<br />

literatura portuguesa.<br />

A validade da hipótese aberta por António Ramos de Almeida sugere que a<br />

influência dê lugar à mediação e, neste deslocamento, seja alterado o campo literário<br />

de que falamos.<br />

Logo, o que a literatura brasileira traz suscetível de inscrever-se na fundamentação<br />

estética do “neorrealismo” é, pelo simples facto de existir, a noção de que é possível<br />

uma outra prática literária, em que uma determinada consciência histórica ganha forma<br />

artística num espaço do modernismo.<br />

Hipótese que repercute muito para além da literatura portuguesa e da<br />

literatura brasileira e obriga a uma reconsideração aprofundada de todos os aspetos<br />

envolvidos.<br />

A hipótese de António Ramos de Almeida pode, mesmo, obrigar a uma revisão<br />

da história do neorrealismo e, nela, da receção da literatura “regionalista”. É que, como<br />

já vimos, o neorrealismo de António Ramos de Almeida não é um “neorrealismo”<br />

comum.<br />

A polémica arte pura – arte social é o resultado de um determinado amadurecimento<br />

político-doutrinário inicialmente vago e nebuloso, mas já real, em 1934 e 1935;<br />

amadurecimento (isto é: o esclarecimento de uma consciência de si) que envolve a<br />

irredutibilidade da arte e, em particular, da literatura.<br />

Uma revisão do “neorrealismo” que valorize estas indicações como alíneas<br />

pertinentes vai resultar, por certo, numa pesquisa que já não se centra em Portugal<br />

e no Brasil (embora seja impossível sem eles) mas envolve o desenho de todo<br />

um “campo literário” gerado pelo que me permitiria chamar a “positividade da<br />

experiência” (em contraponto da “pobreza da experiência” que a lucidez trágica de<br />

Walter Benjamin identificou na posteridade da Primeira Guerra).<br />

Mas este é um outro programa de trabalhos.<br />

23


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

24<br />

António<br />

Ramos de Almeida e a<br />

Livraria Latina Editora:<br />

contextos e dinâmicas<br />

Maria do Rosário Ramada Pinho Barbosa


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora:<br />

contextos e dinâmicas<br />

Maria do Rosário Ramada Pinho Barbosa 1<br />

Este texto não se limita a recensear as obras de António Ramos de Almeida,<br />

publicadas pela Livraria Latina Editora, porquanto nos fornece circunstanciadas<br />

informações sobre os contextos editoriais em que elas surgiram e as dinâmicas sociais,<br />

culturais e políticas em que elas se desenvolveram.<br />

Quais os mecanismos de conceção e produção dessas obras? Qual o seu impacto<br />

no tecido social? Que processos de comercialização e circulação foram desenhados?<br />

De que modo se repercutiram na imprensa? Estas são algumas das questões de que<br />

nos ocupamos neste estudo.<br />

Para além do elenco das obras de António Ramos de Almeida, elemento<br />

básico e de todos conhecido, acrescentamos e apresentamos um corpus documental<br />

– pertencente ao espólio de Henrique Perdigão, fundador da Latina – constituído<br />

por recortes de publicações periódicas, livros de registo de assinantes e de ofertas,<br />

manuscritos, alguns deles autógrafos, e datiloscritos de e para o autor ou a ele, direta<br />

ou indiretamente, associados, que nos permite interpretar a atividade da Livraria<br />

Latina Editora como mediador cultural no tecido social, histórico e cultural na década<br />

de 40 do século XX.<br />

25<br />

Henrique Perdigão e a Livraria Latina Editora<br />

Chamava-se Henrique Perdigão. Pelo que foi e pela sua ação, no campo da<br />

cultura, trazemos à memória a figura deste autodidata, persistente e empreendedor,<br />

que marcou uma época nos setores livreiro e editorial em Portugal.<br />

Este homem de letras, nascido na cidade do Porto em 1888 e emigrado ainda<br />

criança para o Brasil, legou-nos uma obra de inegável valor. Cedo manifestou um<br />

acentuado gosto pelos livros, pela leitura, pela escrita, pela literatura e pela lusofonia<br />

pelo que, em 1934, após duas décadas de trabalho, viu publicada a primeira edição do<br />

Dicionário universal de literatura: bio-bibliográfico e cronológico 2 , obra louvada pela Academia<br />

das Sciências de Lisboa e pela Academia Brasileira de Letras. Esgotado o título, deu à<br />

estampa, em 1940, uma segunda edição ampliada e ilustrada 3 . Sócio da Associação de<br />

Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Henrique Perdigão foi colaborador assíduo<br />

da Imprensa, designadamente do Diário do Porto entre 1926 e 1927, do Século em 1928,<br />

1 Professora na Escola Superior de Educação / Politécnico do Porto; investigadora no Centro de Investigação e Inovação em<br />

Educação (InED); doutoranda em Estudos Contemporâneos no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da<br />

Universidade de Coimbra.<br />

2 PERDIGÃO, Henrique – Dicionário universal de literatura: bio-bibliográfico e cronológico. Barcelos: Portucalense, 1934.<br />

3 PERDIGÃO, Henrique – Dicionário universal de literatura: bio-bibliográfico e cronológico. 2.ª ed. rev. Porto: Edições Lopes<br />

da Silva, 1940.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

26<br />

d’O Comércio do Porto entre 1930 e 1931, sendo ainda representante no Porto da revista<br />

Fémina em 1934. Mas, se os seus trabalhos literários merecem apreço e destaque, foi<br />

como livreiro e editor que mais se distinguiu, publicando obras de autores consagrados<br />

a par de escritores em início de carreira.<br />

Mesmo perante um cenário restritivo, de contingências várias definidas pelo Estado<br />

Novo, e, por isso, um ambiente pouco propício a novos projetos, dedicou-se a uma<br />

prática de mediação cultural alicerçada em dinâmicas consentâneas com a emancipação<br />

do campo editorial português e a consagração da difusão da língua portuguesa. Constituiu<br />

em outubro de 1941 uma sociedade e, em 15 de janeiro de 1942, inaugurou, no Porto,<br />

um novo “centro cultural” 4 , a Livraria Latina Editora. Em prol da divulgação do livro, e<br />

fora da máquina política ou a ela associada, foi “a primeira a instituir prémios literários” 5 ,<br />

lançando, logo no dia de abertura, um Concurso Literário dirigido a autores de língua<br />

portuguesa. Seguiu-se um outro, no ano subsequente, no âmbito das comemorações do<br />

seu primeiro aniversário 6 .<br />

O percurso editorial da Livraria Latina Editora manifestou-se desde o início da<br />

sua atividade e traduziu-se na edição de um livro de Henrique Perdigão, intitulado As<br />

escolas filosóficas através dos tempos: quadro cronológico desde os Jónios à actualidade 7 , na publicação<br />

das obras vencedoras das duas edições dos Concursos Literários, seguindo-se obras de<br />

autores cimeiros da literatura portuguesa e mundial. Contam-se, entre eles, os nomes de<br />

António Ramos de Almeida, Teixeira de Pascoaes, António Botto, João Gaspar Simões,<br />

Jaime Brasil, Manuel de Azevedo, Manuel do Nascimento, Emília de Sousa Costa,<br />

Aurora Jardim, Francisco Keil do Amaral, José Hermano Saraiva, Fausto Duarte, Carlos<br />

Babo, Guilherme Gama, Henrique Marques Júnior, Laura Chaves, Somerset Maugham,<br />

Molière, Walter Scott, Rabelais, Charles Dickens, Panaït Istrait, Henrique Sienkiewicz e<br />

Dostoievsky. Até ao final da década de 40, a Livraria Latina Editora publicou cerca de<br />

cinquenta livros, do ensaio à poesia, do romance ao conto, do livro técnico ao manual<br />

escolar. Fez ainda nascer a coleção cultural Cadernos Azuis, a coleção infantil Pinóquio e<br />

a coleção Autores Notáveis.<br />

António Ramos de Almeida e os ensaios sobre Antero de Quental nos<br />

Cadernos Azuis<br />

António Ramos de Almeida viu algumas das suas obras editadas pela Livraria<br />

Latina Editora, designadamente na coleção Cadernos Azuis dirigida por Manuel de<br />

Azevedo (1916-1984).<br />

4 <strong>RAMOS</strong>, Manuel – Editor Henrique Perdigão: um homem que honrou o Porto: a propósito do seu centenário. Jornal de<br />

Notícias. Porto, ano 102, n.º 20 (21 de junho de 1989) p. 10.<br />

5 SANTOS, Alfredo Ribeiro dos – História literária do Porto através das suas publicações periódicas. Porto: Edições Afrontamento,<br />

2009, p. 360.<br />

6 Em 1942, o primeiro Concurso foi consagrado ao romance e, no ano seguinte, ao conto.<br />

7 PERDIGÃO, Henrique – As escolas filosóficas através dos tempos: quadro cronológico desde os Jónios à actualidade. Porto:<br />

Livraria Latina Editora, 1942.


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

A coleção, publicada entre 1941 e 1945, “pela acessibilidade do seu preço e<br />

linguagem simples e clara como os problemas serão expostos, constituem um sério<br />

esforço de cultura popular. Nos seus volumes, cuidadosamente selecionados, serão<br />

abordados todos os assuntos de interesse geral, compreendendo” 8 cinco secções:<br />

Contos e Novelas, para “obras inéditas, ou pouco conhecidas no nosso meio, de<br />

prosadores nacionais e estrangeiros que, pelas qualidades literárias, riqueza psicológica<br />

e projecção humana, merecem ser divulgadas” 9 ; Os Homens e as Idéias, consagrada<br />

a “estudos sôbre as principais correntes políticas, sociais, económicas e filosóficas,<br />

assim como ensaios biográficos das grandes figuras da humanidade” 10 ; Literatura e<br />

Arte, para “pequenos ensaios sôbre tôdas as manifestações de carácter artístico e<br />

literário. Escolas e tendências. Principais figuras” 11 ; A Evolução da Humanidade, sobre<br />

“o homem através dos séculos na sua luta constante pelo progresso e bem estar<br />

da humanidade. As grandes descobertas e conquistas da História” 12 e, finalmente,<br />

Problemas Contemporâneos, secção em que “vários problemas do nosso tempo serão<br />

divulgados por especialistas numa linguagem clara e acessível a toda a gente. Serão<br />

tratados problemas de Ciência, Técnica, Pedagogia, Economia, Desporto, etc.” 13 . Dos<br />

seus doze títulos, da autoria de Manuel de Azevedo, António Ramos de Almeida<br />

(1912-1961), Júlio Filipe, Jorge Vítor, João Pedro de Andrade (1902-1974), Somerset<br />

Maugham (1874-1965), Duarte Pires de Lima (1917-1943) e Francisco Keil do Amaral<br />

(1910-1975), os números dois, três e quatro não foram editados pela Latina 14 :<br />

27<br />

AZEVEDO, Manuel de – O cinema em marcha: ensaio. 2.ª ed. Porto: Livraria<br />

Latina Editora, 1944 (Cadernos Azuis: Problemas Contemporâneos; n.º 1).<br />

<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero de Quental: infância e juventude. Porto:<br />

Livraria Latina Editora, 1943 (Cadernos Azuis: Os Homens e as Idéias; n. º 5). Vol. I.<br />

<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero de Quental: infância e juventude. Porto:<br />

Livraria Latina Editora, 1943 (Cadernos Azuis: Os Homens e as Idéias; n. º 6). Vol.<br />

II.<br />

ANDRA<strong>DE</strong>, João Pedro de – A poesia da moderníssima geração: génese duma atitude<br />

poética: ensaio. Porto: Livraria Latina Editora, 1943 (Cadernos Azuis: Literatura e Arte;<br />

n.º 7).<br />

MAUGHAM, Somerset – A carta: novela. Porto: Livraria Latina Editora, 1943<br />

(Cadernos Azuis: Contos e Novelas; n.º 8).<br />

8 Brochura de apresentação da coleção Cadernos Azuis.<br />

9 Idem.<br />

10 Idem.<br />

11 Idem.<br />

12 Idem.<br />

13 Idem.<br />

14 <strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – A arte e a vida, 1941; FILIPE, Júlio – Aurora e crepúsculo duma idade, 1942 e VÍTOR,<br />

Jorge – Nasceu um maltês!: contos, 1942 são editados pela Livraria Joaquim Maria da Costa, do Porto, embora igualmente<br />

dirigidos por Manuel de Azevedo.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

28<br />

<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero<br />

de Quental: infância e juventude. Porto: Livraria<br />

Latina Editora, 1943 (Cadernos Azuis: Os<br />

Homens e as Idéias; n. º 5). Vol. I.


29<br />

<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero<br />

de Quental: infância e juventude. Porto: Livraria<br />

Latina Editora, 1943 (Cadernos Azuis: Os<br />

Homens e as Idéias; n. º 6). Vol. II.<br />

<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero de<br />

Quental: apogeu, decadência e morte. Porto: Livraria<br />

Latina Editora, 1944 (Cadernos Azuis: Os<br />

Homens e as Idéias; n. os 9 e 10).


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

30<br />

<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero de Quental: apogeu, decadência e morte. Porto:<br />

Livraria Latina Editora, 1944 (Cadernos Azuis: Os Homens e as Idéias; n. os 9 e 10).<br />

LIMA, Duarte Pires de – História breve duma teoria. A Relatividade e breve ensaio<br />

sôbre o modernismo. Porto: Livraria Latina Editora, 1944 (Cadernos Azuis: A Evolução<br />

da Humanidade; n.º 11).<br />

AMARAL, Francisco Keil do – O problema da habitação. Porto: Livraria Latina<br />

Editora, 1945 (Cadernos Azuis: Problemas Contemporâneos; n.º 12).<br />

Verificamos, pois, que quatro dos doze títulos dos Cadernos Azuis se centram na<br />

vida de Antero de Quental (1842-1891).<br />

Nos números cinco e seis, António Ramos de Almeida retrata a infância e juventude<br />

abordando respetivamente A pátria e «A encantada e quási fantástica Coimbra» e a Vida<br />

coerente e aventurosa. A Latina iniciou a sua venda e distribuição em 25 de fevereiro de<br />

1943, tendo publicitado o seu lançamento no Jornal de Notícias, n’O Comércio do Porto,<br />

no Século, no Diário Popular e no Diário de Lisboa.<br />

Nos números nove e dez, sobre apogeu, decadência e morte, é refletida a Acção<br />

revolucionária, política e cultural; A decadência e O refúgio de Vila do Conde e A morte.<br />

Comemorando o segundo aniversário da Latina, este número duplo deu à estampa,<br />

em 15 de janeiro de 1944, com anúncios publicitários n’O Primeiro de Janeiro e no<br />

Século.<br />

No Livro de Assinaturas da Livraria Latina Editora encontram-se registados<br />

como assinantes destas publicações pessoas particulares e instituições, seguidos da<br />

respetiva proveniência, designadamente Luiz Roseira Abrunhosa (Covas do Douro),<br />

António Albuquerque (Évora), Joaquim Henriques Alexandre (Torres Novas), Álvaro<br />

Ramalho Alves (Torres Vedras), Mário Henrique do Amaral (Lisboa), Atilano dos<br />

Reis Ambrósio (Vila Franca de Xira), José Alexandre (Portimão), António Lopes<br />

Bastos (Vila Franca de Xira), Victor Hugo Portugal Branco (Lisboa), Remígio Baptista<br />

(Porto), Biblioteca do Ateneu Artístico Vilafranquense (Vila Franca de Xira), Silvino<br />

Calçada (Alcobaça), José António de Castro (Ílhavo), Armando G. Martins Coelho<br />

(Porto), Alfredo Coelho (Mirandela), Álvaro Santinho Coelho (S. Marcos da Serra),<br />

Fernando Couto (Instituto Comercial do Porto), Rui Cochofel (Caldas de Aregos),<br />

José dos Santos Dias (Alcácer do Sal), Telmo da Fonseca (Sabrosa), Saturnino Gameiro<br />

(Setúbal) Maria de Lurdes da Silva Gomes (Porto), Arnaldo Gouveia (Alcácer do Sal),<br />

José Maria Gueifão (Gavião, Alto Alentejo), António da Silva Guimarães (Porto),<br />

Carlos Augusto Gaspar (Vila Franca de Xira), Joaquim J. Lagoa Júnior (Portimão),<br />

Inácio José Alves Júnior (Torres Novas), Francisco Rocha Levezinho (Vila Franca<br />

de Xira), Alberto Gomes Maia (Coruche), Rogério Castro Martins (Porto), José dos<br />

Santos Marques (Lisboa), Vasco L. Moreira Marques (Espinho), António Nunes da<br />

Mata (Évora), Américo Ferreira Martins (Gondomar), Ramiro Nunes (Coruche),<br />

Manuel A. Pinto (Faro), Adelino Gonçalves Pinto (Silves), Fernando Pesca (Lisboa),


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

António Segismundo Pinto (Lisboa), Sebastião de Resende (Albergaria-a-Velha),<br />

João de Oliveira Rodrigues (Figueira da Foz), Firmino da Silva Rosado (Coruche),<br />

Joaquim Rodrigues (Alcácer do Sal), Fernando Soares (Amarante), José Lopes dos<br />

Santos (Torres Novas), António Santos (Setúbal), Jorge S. Santos (Porto), Rogério<br />

de Sousa (Porto), Carlos da Costa Silva (Paredes de Coura), Eduardo Sousa Vieira<br />

(Torres Novas) e Luiz Vieira (Batalha).<br />

O espólio integra ainda um Livro de Ofertas de Edições, do qual retiramos a<br />

lista de ofertas dos números 5 e 6 referentes aos anos 1943 e 1944: autor, Manuel<br />

de Azevedo, O Primeiro de Janeiro (Manuel de Azevedo, Jaime Brasil e redação), Jornal<br />

de Notícias (biblioteca e Aurora Jardim), O Comércio do Porto, Mário Vasconcelos e Sá,<br />

Século, Diário de Notícias, Diário Popular (Casais Monteiro e redação), Diário de Lisboa<br />

(João Gaspar Simões e redação), Novidades, República, Sol (Campos Lima e redação),<br />

Abel Salazar, Brotéria, Ocidente, Carlos Sombrio, Semana Tirsense, Raul Ardeiro, Daniel<br />

da Silva, Correio do Minho, Sousa Costa, Mota Ferreira, Paulo Freire, Jornal do Comércio,<br />

Armando Ferreira, Oldemiro César, Joaquim Costa, Livraria Lello, Seara Nova<br />

(Câmara Reis, Sidónio Muralha, Mário Dionísio, Agostinho da Silva, Fernando Lopes<br />

Graça e redação), Octávio Rodrigues de Campos, João Maria Ferreira, Maria do Lar,<br />

José Régio, João Pedro de Andrade, Adolfo Casais Monteiro, João Gaspar Simões,<br />

António de Sousa, Octávio Sérgio, Fernando Pinto Loureiro, Lino Lima, António<br />

Salgado, Manuel Mendes, Livraria Antunes, Secretariado de Propaganda Nacional<br />

(Diretor, José Alvelos e Tavares de Almeida), Fraga Lamares, Luiz Amaro, Raul<br />

Azevedo, Viagem (Conde de Ornelas e Rebelo de Bettencourt), Gil Vicente, Mário<br />

Portocarrero Casimiro, Jorge Vernex, José Osório de Oliveira, Ferreira de Castro,<br />

Casa da Imprensa e do Livro, Augusto Guerra, União Nacional, Julieta Ferrão e<br />

Vida Mundial.<br />

No mesmo Livro de Ofertas de Edições encontramos ainda referência às ofertas<br />

dos n. os 9 e 10 alusivas ao ano 1944: autor, Manuel de Azevedo, Sousa Pinto, Luiz<br />

Amaro, Luiz Botelho de Sousa, Oldemiro César, O Primeiro de Janeiro (Jaime Brasil),<br />

Jornal de Notícias, O Comércio do Porto, Seara Nova, Diário de Lisboa (João Gaspar Simões),<br />

Diário Popular (Casais Monteiro), Jornal do Comércio, Jorge Vernex, João Maria Ferreira,<br />

Mário Mota, Brotéria, Livraria Lello, Maria do Lar, Secretariado, Instituto Britânico,<br />

Livraria Antunes, Viagem (Rebelo de Bettencourt), Emília Sousa Costa, Julieta Ferrão,<br />

Casa da Imprensa e do Livro, A. Guerra e Mário Portocarrero Casimiro.<br />

Estes ensaios de António Ramos de Almeida, sobre Antero de Quental,<br />

foram largamente mencionados na imprensa. Entre esses registos encontramos<br />

artigos de Jaime Brasil (O Primeiro de Janeiro), João Gaspar Simões (Diário de Lisboa),<br />

Álvaro Salema (Vida Mundial Ilustrada), José Trajano (Jornal do Comércio, suplemento<br />

Domingo), Celso Pontes (Estrela do Minho), Carlos Sombrio (Gazeta de Coimbra),<br />

Jorge Vernex (O Ilhavense), João Maria Ferreira (Gazeta de Cantanhede) e Jorge de<br />

Lencastre (O Setubalense) e ainda outros nos jornais Semana Tirsense, Diário Popular,<br />

Jornal de Notícias, O Comércio do Porto e na revista Seara Nova.<br />

31


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

Semana Tirsense<br />

32<br />

“Foi posta á venda uma obra sobre Antero de Quental, infância e juventude,<br />

por António Ramos de Almeida, trabalho que faz parte de «Cadernos Azuis», edição<br />

muito interessante da conceituada Livraria Latina Editora, da rua de Santa Catarina<br />

n.º 2 a 10, do Pôrto.<br />

São dois volumes de bela apresentação, que encerram varios Sonetos do genial<br />

poeta, e em que o seu autor se refere a Antero, fazendo a evocação da sua vida, da sua<br />

grande obra e da sua figura extraordinaria de homem.<br />

Especial cuidado dedicou a Livraria Latina Editora á publicação do livro, que<br />

foi apresentado com magnifico aspecto, pelo que é crédora de todos os encómios.<br />

Gratos pelos volumes oferecidos a esta redacção” 15 .<br />

Gazeta de Coimbra<br />

“Mais um trabalho, mais um estudo sôbre o imortal autor dos «Sonetos».<br />

Nunca são demais os estudos àcêrca dos grandes valores. E Antero bem merece ser<br />

lembrado de quando em quando, para que a chama fulgurante, a centelha diamantina<br />

do seu talento continue erguida junto das sucessivas gerações que vão despontando.<br />

Êste estudo, firmado por António Ramos de Almeida, pertence aos «Cadernos<br />

azuis» – «Os Homens e as Ideias», – da Livraria Latina, do Pôrto, a quem não<br />

regateamos louvores pelo seu labor editorial.<br />

Temos presente os dois cadernos – I e II – subordinados à infância e juventude<br />

do Poeta que, como muito bem diz o autor do estudo, «continua mais vivo do que<br />

muitos que ainda não morreram».<br />

Não pretendeu o sr. António Ramos de Almeida dar-nos uma biografia, antes<br />

procurou isolar-se do chamado ambiente íntimo que muitas vezes conduz ao elogio<br />

das personagens estudadas.<br />

Não apresentando Antero como idolo, interpretou-o serenamente, e até um<br />

ou outro traço que se nos afigura de ficção literária, ajuda a compor o estudo, não<br />

alterando o perfil do Poeta.<br />

Nestas cento e tantas páginas que abrangem os dois cadernos, foi todo o espaço<br />

aproveitado com acentuada dignidade literária. Apraz-nos não só registar o facto, mas<br />

apontá-lo como motivo de mérito para o autor do estudo.<br />

Terminada, no II caderno a Infância e Juventude de Antero, vai seguir-se,<br />

segundo a nota final, apogeu e morte do Poeta. Aguardamos a conclusão do estudo,<br />

com justificado interesse” 16 .<br />

15 Semana Tirsense. Santo Tirso (7 de março de 1943).<br />

16 SOMBRIO, Carlos – Bibliografia. Gazeta de Coimbra. Coimbra (1 de abril de 1943).


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

Jornal de Notícias<br />

“Muito se tem escrito sôbre o imortal autor dos «Sonetos», o poeta de suma<br />

grandeza cuja vida foi uma chama constantemente agitada pelo vento.<br />

Nêste belo trabalho, cheio de personalidade e vibração, não nos é descrita a<br />

sua biografia, tão conhecida, mas sim o que o autor desejou comunicar ao leitor:<br />

«dar o seu vulto no todo da sua complexidade, através da sua evolução de homem<br />

responsável, de escritor e de artista.»<br />

Revela os vícios e as virtudes da sua acção e a projecção da sua obra sem<br />

parcialidades nem subjectivista «parti-pris» – usando apenas um instrumento: a<br />

verdade.<br />

Descreve o autor a vida tumultuosa do poeta em Coimbra, analisa a sua obra,<br />

traça o quadro em que figuram as grandes personalidades contemporâneas.<br />

Nêstes dois volumes da preciosa colecção «Cadernos Azuis», é tratado Antero<br />

de Quental na infância e na juventude. O trabalho ficará concluído com o estudo<br />

«apogeu e morte» que brevemente será publicado.<br />

A reprodução dum inédito busto do Poeta, autoria do ilustre artista dr. Abel<br />

Salazar, mais enriquece o marcante ensaio” 17 .<br />

33<br />

Seara Nova<br />

“[...] António Ramos de Almeida, apaixonado pela grandeza e pela complexidade<br />

da figura, meteu ombros a essa tarefa, e deu-nos, em dois tomos da colecção de<br />

Cadernos Azuis, a primeira parte dum estudo biográfico. Julgo que o facto de ter<br />

abandonado tudo o que houve de circunstancial e inconseqüente na vida da figura<br />

evocada não tira a êste estudo o carácter de biografia, de que Ramos de Almeida<br />

parece defender-se. Biografia não é o elogio dum caso pessoal, como R. de A. pensa,<br />

mas sim o aproveitamento de tudo o que ocorre de significativo numa vida.<br />

Procurou Ramos de Almeida narrar a evolução do grande poeta e doutrinário,<br />

desde a infância contemplativa e mística na Ilha de S. Miguel até às pugnas literárias<br />

e políticas que culminariam com a publicação dos opúsculos «Bom senso e bom<br />

gosto» e «Portugal perante a revolução de Espanha». As páginas dos dois livrinhos<br />

evocam em tons vivos a figura excepcional de quem se poderia dizer, como Romain<br />

Rolland disse de Tolstoi, que foi o menos literato dos escritores. O biógrafo não<br />

se contentou em dar os movimentos exteriores do homem, quer chefiando uma<br />

insurreição académica e transladando-se, com trezentos companheiros, de Coimbra<br />

para o Pôrto, quer encafuando-se no fundo duma oficina de tipografia em Paris,<br />

a-fim de pôr de acordo a sua acção cotidiana com as suas idéas socialistas: quis ir mais<br />

17 Jornal de Notícias. Porto (24 de abril de 1943).


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

34<br />

longe e mais fundo, pretendendo reproduzir as circunstâncias históricas e sociais que<br />

explicam a figura e a tornaram possível, bem como buscar dentro da consciência do<br />

próprio Antero as determinantes dos seus actos.<br />

O caso de Antero tem de ser encarado com amplitude de visão e sem restrições<br />

de qualquer espécie, para que, com a obra do poeta e do panfletário, que iniciou<br />

uma época literária e ajudou a criar o espírito crítico em Portugal, fique igualmente<br />

explicada a sociedade do seu tempo. Ramos de Almeida aproximou-se por vezes desta<br />

finalidade, que foi em parte a sua. As páginas em que se relatam as lutas académicas<br />

são animadas e flagrantes. Não ficou, possivelmente, assinalado como seria para<br />

desejar o ambiente social, que não se confinava a Coimbra e ao reaccionarismo<br />

do reitor Sousa Pinto. Sabemos vagamente que ao tempo da revolta académica era<br />

presidente do Conselho o Duque de Loulé, mas a evolução do pensamento de Antero,<br />

satisfatòriamente explicada quanto ao ambiente intelectual e às fontes culturais, fica<br />

um tanto obscura se para a entendermos integralmente quisermos inteirar-nos das<br />

condições económicas do país. A Coimbra romântica da boémia e de João de Deus,<br />

que ao princípio seduziria Antero inspirando-lhe as composições das Primaveras<br />

Românticas, e que mais tarde se transmudaria no foco da inquietação da mocidade<br />

literária, prestes a tornar-se a mocidade política, está bem descrita no opúsculo,<br />

embora dificilmente possamos, através dela, ajuizar do sincronismo social.<br />

A obra do poeta tem, nesta primeira parte, uma crítica quási exclusivamente<br />

dirigida às ideas tratadas nas composições que se transcrevem, no todo ou em<br />

trechos. As Odes Modernas são, efetivamente, um livro de ideas postas em poesia por<br />

um homem que atribuía à Poesia uma «alta missão» e que não supunha antagónicos<br />

princípios como êste: «A Poesia é a confissão sincera do pensamento mais íntimo de<br />

uma idade» a «A Poesia moderna é a voz da Revolução», porque, segundo êle, era no<br />

espírito de revolta que a sua geração vivia e respirava. Com tudo o que as ideas e a<br />

expressão tenham perdido de frescura e de verdadeira profundidade, com tudo o que<br />

encontramos hoje de precário no espírito poético de muitas composições, o certo<br />

é que Odes Modernas, representaram um golpe vibrante dirigido à secura clássica da<br />

época representada em Castilho, são espírito ultra-romântico de que eram portadores<br />

os bardos reunidos em volta do autor de A Noite do Castelo.<br />

Alguns sonetos documentam fases do pensamento de Antero e das suas crises<br />

metafísicas e afectivas. É pena que nem sempre as transcrições de sonetos e trechos<br />

das Odes fôssem revistas com cuidado. Numerosos versos aparecem com incorrecções<br />

que lhes alteram o sentido e o ritmo. Os versos finais dos sonetos transcritos na pág. 27<br />

do tômo I e 40 do tomo II apresentam desses descuidos. Também a interpretação que<br />

Ramos de Almeida dá a alguns dos sonetos me não parece sempre das mais correctas.<br />

Jugo, por exemplo, que o último soneto da série A Idea, aquêle que começa: Lá! Mas<br />

aonde é lá? Aonde? – Espera não é dos que com mais propriedade se podem chamar<br />

pessimistas. Antero coloca a idea, a feia virgem desdenhosa, não no espaço do mundo<br />

orgânico, mas no céu incorruptivel da Consciência. Para êle há sempre um refúgio onde


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

retemperar a alma triste, a alma chorosa, onde adormecer a antiga e secular ferida. O pouco<br />

cuidado nas transcrições prejudica igualmente a interpretação do segundo soneto de<br />

Tese e antítese em cujo último terceto que é assim:<br />

Combatei pois na terra árida e bruta<br />

Tê que a revolta a remoïnhar da luta<br />

Tê que a fecunde o sangue dos heróis!<br />

Aparece omitido o pronome a dos dois versos finais. Isto leva Ramos de<br />

Almeida a escrever: «A intolerância do ideal puro cedia lugar à voz que mandava<br />

combater até que se fecundasse o sangue dos heróis.»<br />

Aparte destes senões, que um maior cuidado na transcrição dos versos teria<br />

evitado, e que é de desejar não apareçam na segunda parte do trabalho, o estudo de<br />

Ramos de Almeida representa uma valiosa contribuïção para a compreensão da figura<br />

de Antero e do seu tempo” 18 .<br />

35<br />

O Primeiro de Janeiro<br />

“Ao noticiar o aparecimento dos dois primeiros tomos do ensaio biográfico-crítico<br />

«Antero de Quental», da autoria do sr. dr. António Ramos de Almeida, lamentamos o<br />

erro editorial que levara a fraccionar essa obra em cadernos, publicados com intervalos.<br />

Só agora apareceu o fim dêsse trabalho, reünindo num só tomo os dois cadernos de que<br />

deveria compôr-se. Com mais forte razão ainda, agora que podemos avaliar a magnitude<br />

da obra, lastimamos não ter sido publicada, como devia, em um só volume. Merecia-o<br />

a figura de Antero de Quental, sem par nas letras portuguesas; merecia-o, também, o<br />

notável estudo do sr. dr. Ramos de Almeida, completo, profundo e escrito com grande<br />

nobreza.<br />

Obra de investigação e de crítica, a cada passo documentada com pensamentos<br />

e afirmações de Antero, tirados dos seus poemas, dos seus artigos, das cartas aos<br />

amigos, é, sob êsse aspecto, modelar, tal a arte com que o autor soube engastar<br />

essas gemas preciosas no oiro fino do seu estilo. O esfôrço, porém, do autor em<br />

compreender e fazer compreender a figura complexa do pensador, em explicar as<br />

suas atitudes, em esclarecer pontos que uma crítica ignorante ou malévola deixara<br />

obscuros, sobrepassa tudo o mais do seu trabalho.<br />

A biografia do escritor Antero de Quental, aliás rigorosa nas datas, nos<br />

pormenores, em tudo quanto é do domínio da história, quási se anula ante êsse<br />

propósito de revelação do Homem, na sua grandiosa personalidade. O Santo laico<br />

encontrou o panegerista à sua medida. Era preciso ser poeta, como o autor, para<br />

captar as ressonâncias profundas dos «Sonetos» magníficos; era preciso ser um<br />

18 Seara Nova. Lisboa, ano XXII, n.º 839 (11 de setembro de 1943) p. 43-44.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

36<br />

estudioso dos problemas sociais para sentir a atitude de Antero ao debruçar-se sôbre<br />

êsses mesmos problemas. Certo, o autor, aqui e ali marca, a sua própria evolução,<br />

assinalando o que no socialismo de Antero houve de vago e utópico. É, porém, com<br />

uma ternura filial que interpreta o pensamento do grande antepassado e o desfibra e<br />

analisa, expondo-o, em todo o seu fulgor, aos homens de hoje.<br />

A segunda parte do trabalho do sr. dr. Ramos de Almeida, agora publicada, é a<br />

mais rica e cheia de vibração. Nela estuda o apogeu da vida do poeta e pensador e a<br />

paixão e morte do homem. Nestas, apenas evocadas na sua trágica majestade, não se<br />

detem muito; mas ao recordar aquele período de actividade que vai das Conferências<br />

do Casino até a segunda ida para Ponta Delgada, pode dizer-se ter o autor erguido<br />

o mais belo dos monumentos à memória do Poeta. Subtil análise é a que faz das<br />

inquietações religiosas de Antero e da sua sublimação que o levou a atingir uma espécie<br />

de ascese, aliás sem nada de místico. Considera o autor como uma manifestação do<br />

«complexo de inferioridade» a recusa do pensador a aceitar a candidatura de deputado.<br />

Talvez não fôsse. A terminologia psicanalítica ao entrar na linguagem comum sofreu<br />

alterações semânticas que permitem erróneas interpretações. A atitude de Antero foi<br />

obra da «censura do Eu» e, portanto, manifestação de inteligência superior, produto<br />

não só da auto-crítica como duma sócio-crítica penetrante e coerente.<br />

Em tudo, até no rebater do assêrto de ter Antero traído aqueles cujas angústias<br />

quis lenir, fez o sr. dr. Ramos de Almeida uma obra de justiça intelectual, de verdade<br />

histórica, sem deixar, contudo, de pôr um humano calor de ternura no modelar da<br />

figura portentosa. Assim o ensaio «Antero de Quental», a despeito da sua pobreza<br />

editorial, ficará como uma das mais completas e belas obras até hoje escritas sôbre<br />

o Santo laico que a geração de 70 reverenciou como um apóstolo e os homens de<br />

amanhã admirarão como um precursor” 19 .<br />

Diário Popular<br />

“Na colecção «Cadernos Azuis» que a Livraria Latina tem publicado apareceram<br />

agora os n. os 9 e 10 que correspondem a um só volume, sobre o «Apogeu, decadência<br />

e morte» dêsse extraordinário poeta que foi Antero de Quental. O estudo agora<br />

publicado completa o que, na mesma colecção, António Ramos de Almeida publicou<br />

e que referia, especialmente, a sua Infância e Juventude. [...]<br />

No caso do trabalho de António Ramos de Almeida o interesse é duplo porque<br />

o autor conseguiu, de maneira brilhante, mostrar o drama de uma vida, que, numa<br />

intensidade pasmosa, sentiu os mais violentos problemas da especulação filosófica da<br />

sua época. A sua obra não está ainda convenientemente estudada nem, porventura,<br />

19 [BRASIL, Jaime] – “Antero de Quental”, por António Ramos de Almeida. O Primeiro de Janeiro. Porto, ano 76, n.º 31 (2<br />

de fevereiro de 1944) p. 8. Uma parte do artigo foi reproduzida na badana da obra Eça: <strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de –<br />

Eça. Porto: Livraria Latina Editora, 1945.


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

nunca o estará se atentarmos na sua grandiosidade, mas o trabalho agora publicado<br />

constitui um valioso elemento para o seu estudo, razão porque merece ser lido por<br />

quantos encontram em Antero um Poeta e um Homem” 20 .<br />

Gazeta de Cantanhede<br />

“Livraria Latina Editora celebrou no passado dia 15 de Janeiro o 2.º aniversário<br />

da sua fundação.<br />

Livraria moderna, no mais lato sentido da palavra, ela celebrou o seu 2.º aniversário<br />

com a publicação de três obras literárias: Vida e Obras de Zola por A. Luquet, Arte de<br />

amar de uma cabecinha louca, romance de Sousa Costa e Antero de Quental por Ramos de<br />

Almeida. [...]<br />

Antero de Quental – apogeu, decadência e morte, de António Ramos de Almeida,<br />

faz parte dos Cadernos Azuis – n. os 9 e 10.<br />

Nos n. os 5 e 6 já êste escritor tratara de Antero de Quental – infância e<br />

juventude.<br />

Com a saída dos n. os 9 e 10 fica concluído o estudo que Ramos de Almeida faz,<br />

proficientemente, sobre aquêle notável escritor.<br />

Há a registar, com louvor, êste trabalho sobre Antero de Quental por ser feito<br />

com desenvolvimento, com inteligência, com certa originalidade.<br />

É um estudo que foge da vulgaridade de outros sobre o mesmo assunto.<br />

O autor encarou o ilustre biografado pelo seu prisma e dêle estudou,<br />

desenvolvidamente a faceta humana” 21 .<br />

37<br />

Jornal do Comércio. Suplemento Domingo<br />

“António Ramos de Almeida prossegue na sua análise da vida de um dos seres<br />

mais torturados pelo pensamento que jámais viveram em Portugal e até no mundo.<br />

«Antero de Quental», publicado nos cadernos azuis, da Livraria Latina, cujo<br />

esforço editorial se deve também pôr em merecido relevo, é uma biografia crítica do<br />

apóstolo de novas escolas e novas doutrinas que tam grande influência havia de ter na<br />

nossa vida intelectual e até mesmo na nossa vida política.<br />

No primeiro volume era a juventude do poeta que se analisava; neste é o seu<br />

apogeu, de cadência e morte. De Decadência fala o dr. Ramos de Almeida. Não<br />

sabemos, contudo, se se poderá aplicar semelhante palavra a quem toda a vida foi<br />

20 Diário Popular. Lisboa, ano II, n.º 488 (3 de fevereiro de 1944) p. 8.<br />

21 FERREIRA, João Maria – De tudo. Gazeta de Cantanhede. Cantanhede, ano XXVII, n.º 1381 (5 de fevereiro de 1944)<br />

p. 4.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

38<br />

de tam irregulares sentimentos como Antero; não nos parece que o pensamento do<br />

poeta tenha enfraquecido – ou decaído – nos últimos tempos de sua vida. Se as suas<br />

torturas físicas foram mais intensas, foram-no também as suas torturas morais, o<br />

que não significa forçosamente decadência. Não se manifestam elas bem nítidas, na<br />

primeira fase da sua vida literária?<br />

O estudo do Dr. Ramos Dias [leia-se de Almeida] é caracterizado por uma<br />

sólida documentação e por um desprêzo das opiniões já formadas e por quási todos<br />

aceites que só o recomendam e valorizam” 22 .<br />

O Ilhavense<br />

“Em volume elegante, apresentou Henrique Perdigão, da Livraria Latina, os<br />

n.os 9 e 10 dos seus Cadernos Azuis. O autor é António Ramos de Almeida que trata<br />

do apogeu, decadência e morte do célebre sonetista açoreano, como já tratou da sua<br />

infância e juventude nos n.os 5 e 6. Antero de Quental é estudado sob um aspecto<br />

novo, o revolucionário e internacionalista e, aqui, nem sempre objectivamente, pois<br />

Ramos de Almeida força a nota para fazer um trabalho com outras finalidades que<br />

não são o simples conhecimento e a mera interpretação de Antero. Boa apresentação,<br />

como sempre, da Latina Editora do Porto” 23 .<br />

O Setubalense<br />

“Antero de Quental – esse génio poético que atingiu na poesia portuguesa um dos<br />

mais altos lugares, esse vencido da vida que foi expoente da metafísica na nossa história<br />

literária – acaba de encontrar em António Ramos de Almeida uma apreciação à sua obra<br />

literária e social através do livro «ANTERO <strong>DE</strong> QUENTAL», editado pela Livraria<br />

Latina. É o 2.º e ultimo volume que sobre Antero o autor publica. Do primeiro volume<br />

já nos ocupamos nestas colunas em devido tempo. Falêmos deste 2.º volume em que o<br />

autor foca o apogeu, a decadência e a dramática morte do Poeta.<br />

O livro é de sentido crítico. É um ensaio equilibrado. O trabalho documenta-se<br />

sobre as páginas de prosa social, um socialismo dum cérebro iluminado por uma fé<br />

extraordináriamente ardente, um Socialismo pelo qual o Poeta batalhou inflamadamente,<br />

gritando aos quatro ventos períodos como êste: «O capital é o rei do Mundo: é mais: é<br />

um deus, o deus desta sociedade corrupta e injusta, mas um deus feito à imagem dela,<br />

como ela corruptor, injusto, tirânico! O resto, o que fica depois dêsse roubo legal e<br />

organizado, é o que se atira, quási como esmola, ao trabalhador, com o nome odioso<br />

de salário! O salário, resumindo em si todas as injustiças, todas as oposições, todas<br />

as misérias da sociedade actual, será de futuro o grande acto de acusação e o corpo<br />

22 Jornal do Comércio. Lisboa, ano 91, n.º 27117 (6 de fevereiro de 1944) p. 3. Suplemento Domingo.<br />

23 VERNEX, Jorge – Processos sumários. O Ilhavense. Ílhavo, ano 33, n.º 1430 (10 de fevereiro de 1944) p. 3.


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

de delito contra essa sociedade – e já hoje começa a ser no tribunal da consciência<br />

popular!» Mas se era assim quando se exprimia Antero no sentido revolucionario, era<br />

também assim que êle, verdadeira sensibilidade poética, que cantava:<br />

Num sonho todo feito de incerteza,<br />

de noturna e indizível piedade,<br />

é que eu vi teu olhar de piedade<br />

e (mais que piedade) de tristeza…<br />

Um místico sofrer uma ventura<br />

feita só do perdão, só da ternura<br />

e da paz da nossa hora derradeira…<br />

Ó visão visão triste e piedosa!<br />

Fita-me assim calada, assim chorosa.<br />

E deixa-me sonhar a vida inteira!<br />

É assim que Ramos de Almeida foca a obra poética de Antero: dando-nos páginas<br />

do seu labor, acompanhadas de passos da sua vida, com comentários que merecem<br />

alguns deles certa reflexão. O trabalho de Ramos de Almeida, é bom mas está muito<br />

longe de alcançar a excelência e a profunda crítica do «ANTERO», notável estudo do<br />

Dr. Fidelino de Figueiredo, «Great atraction», editado pelo Departamento Municipal<br />

de Cultura de S. Paulo, volume grande de 224 páginas, bastante documentado, que se<br />

torna de indispensável consulta para o conhecimento mais exacto e completo dessa<br />

forte personalidade das nossas Letras” 24 .<br />

39<br />

O Comércio do Porto<br />

“«Cadernos Azuis» – Na colecção «Cadernos Azuis» (Os Homens e as Ideias)<br />

acabam de aparecer, reunidos do mesmo volume, os n. os 9 e 10 de tão interessante<br />

série bibliográfica. Intitula-se «Antero de Quental» e é da autoria de António Ramos<br />

de Almeida. Estudo de crítica, análise e exaltação, «Antero de Quental» – que tem o<br />

sub-título de «Apogeu, decadência e morte» – é um trabalho consciencioso. Edição<br />

da Livraria Latina, do Pôrto” 25 .<br />

Estrela do Minho<br />

“A Livraria Latina Editora editou, recentemente, duas obras que, pela idoneidade<br />

e valor dos seus autores e pela contextura e oportunidade dos livros, merecem-nos<br />

não só as melhores referências, mas também o nosso franco aplauso.<br />

24 LENCASTRE, Jorge de – Bibliografia. O Setubalense. Setúbal, ano XXVIII, n.º 7964 (15 de fevereiro de 1944) p. 3.<br />

25 O Comércio do Porto. Porto, ano LXXXIX, n.º 51 (22 de fevereiro de 1944) p. 6.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

40<br />

O nosso franco aplauso estende-se à «Latina»; com efeito, a iniciativa de<br />

editar Vida e Obras de Zola e Antero de Quental mostra uma atitude e revela uma<br />

responsabilidade que precisa não passe despercebida, mostrando aos editores a<br />

compreensão do leitor.<br />

Apresentar a um público de conhecimentos limitados e sem crítica por<br />

acostumado à desagradável e excessiva zurrapa que por tôda a parte e por tôda a<br />

gente lhe é servida em baixelas integrais ou em púcaros de barro, dois escritores<br />

e duas obras de que andamos precisados e que é mister surjam, se desejamos uma<br />

cultura séria e eficaz capaz de nos levar àquele estágio atingido por certos povos,<br />

capacita-nos que a Livraria Latina deseja, possivelmente, dirigir o seu labor editorial<br />

no sentido de dar ao mercado português (ao povo, por conseqüência) as obras que até<br />

hoje lhe tem faltado: trabalhos e divulgações inteligentes, sérias e competentes.<br />

Pensamos assim, porque julgamos que tal atitude implica a responsabilidade de<br />

continuar a trilhar tão belo e soalheiro caminho [...]” 26 .<br />

Diário de Lisboa<br />

“António Ramos de Almeida, que acaba de nos dar a ultima parte do seu<br />

estudo sobre Antero de Quental, critico-biografico sobre Antero de Quental, também<br />

procurou ocupar-se de uma figura a propósito da qual lhe seria grato discorrer. Antero<br />

de Quental – Apogeu, Decadencia e Morte (Livraria Latina, Porto) é o desta ultima parte do<br />

seu trabalho. Ao ocupar-me há tempos aqui mesmo das duas primeiras partes desta sua<br />

monografia, tive ocasião de referir o tom caloroso em que Ramos de Almeida apoiava<br />

tudo quanto na obra de Antero estava de acordo com as suas ideias, dêle, critico. Nesse<br />

calor se traíam, então, algumas frases de pouca objectividade interpretativa levando, por<br />

vezes, o seu autor a descer ao nível da polemica. Nesta ultima parte, a objectividade é<br />

maior. Há mais sereno reflectir nas considerações de Ramos de Almeida, não obstante<br />

se denunciar aqui, muito mais ainda que no estudo da mocidade do poeta dos Sonetos, a<br />

propensão para interpretar tendenciosamente a obra do grande escritor. A biografia e o<br />

estudo do poeta são relegados, pode dizer-se, para segundo plano. Ramos de Almeida<br />

compraz-se em estudar a fase socialista de Antero, insistindo demasiado nessa sua<br />

tendência em detrimento da outra: a fase verdadeiramente importante para quem queira<br />

penetrar fundo no estudo da evolução psicológica e filosófica do grande escritor. Aliás,<br />

Ramos de Almeida proclama, quasi em cada pagina, que as ideias sociais do poeta<br />

das Odes Modernas são extremamente ingénuas. Mais uma razão, parece-nos, para<br />

atentar de preferência naquilo em que Antero não era positivamente de uma grande<br />

ingenuidade.<br />

26 PONTES, Celso – Bom Caminho. Estrela do Minho. Vila Nova de Famalicão, ano 49, n.º 2519 (27 de fevereiro de 1944)<br />

p. 4.


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

O estudo da existência de um homem tão complexo não se compadece,<br />

realmente, com parcialismos de ordem social ou politica. A atitude socializante de<br />

Antero era uma das modalidades que assumia nêle aquela ansia de perfeição moral<br />

tão inquieta e pateticamente documentada nos seus sonetos. É certo que para um<br />

espirito como Ramos de Almeida – espirito avido de proselitismo – compreender<br />

e aprofundar importa muito menos que afirmar e fazer adeptos. Ingenuo embora,<br />

Antero de Quental, no seu apogeu, sempre lutou pelo ideal que arrebata o seu<br />

biografo. É compreensivel portanto que seja a esse período da existencia do poeta que<br />

Ramos de Almeida consagra os seus entusiasmos. À medida que a morte se aproxima<br />

e que êle vai renunciando á luta colectiva a favor do combate consigo mesmo, Ramos<br />

de Almeida esfria. Os grandes problemas íntimos da personalidade já não parecem<br />

merecer-lhe grande atenção. O sentimento de classe aparece, para que Ramos de<br />

Almeida possa explicar mais airosamente aquilo mesmo que transcende os limites da<br />

sua interpretação. «No fundo de Antero, escreve êle, ficou sempre, apesar da sua luta<br />

titanica, o peso do passado, a sua consciencia de classe, o resto da sua fé religiosa,<br />

o virus da metafisica, gritando a sua libertação e a sua vitoria». De facto, é comodo<br />

explicar assim o que, afinal, de outra maneira se arriscaria a não ter explicação. Tenho<br />

receio de que, dentro de alguns anos, possa vir a acontecer a Ramos de Almeida o que<br />

presentemente está acontecendo a Antero de Quental, quando estudado por espiritos<br />

da estirpe do autor dêste estudo. A ingenuidade com que o critico o brinda quasi em<br />

cada pagina do seu estudo – voltar-se-á um dia contra aqueles que se supõem na posse<br />

da ciencia da personalidade e então ver-se-á quem era realmente ingenuo: aquele que<br />

tudo julga compreender graças á maravilhosa panaceia que reduz o homem a um jôgo<br />

de factores economicos e sociais ou aqueloutro cuja vida foi uma busca angustiosa<br />

da Verdade inatingivel. Não quero menosprezar com isto o trabalho de Ramos de<br />

Almeida, onde se afirmam valiosas qualidades de exposição e um coerente criterio<br />

doutrinario. Que êste estudo seja um ensaio para mais largos vôos no porvir é o<br />

que sinceramente desejo. Oxalá, porém, nessa altura já em Ramos de Almeida tenha<br />

amadurecido a auto-critica, presentemente verde ainda, e que seja ela, antes de mais<br />

ninguem, a segredar-lhe ao ouvido: «cuidado com as ingenuidades, meu velho»” 27 .<br />

41<br />

Vida Mundial Ilustrada<br />

“Nas biografias e estudos críticos publicados desde o centenário do nascimento<br />

de Antero sôbre essa estranha e inesgotável figura da vida portuguesa, o trabalho<br />

de António Ramos de Almeida em três tomos dos «Cadernos Azuis» foi um dos<br />

mais úteis e oportunos. Para isso concorrem igualmente as suas qualidades e os seus<br />

defeitos – a simplicidade e clareza da narrativa e a falta de novidade audaciosa nas<br />

interpretações.<br />

27 SIMÕES, João Gaspar – Os livros da semana. Diário de Lisboa. Lisboa, ano 24, n.º 7674 (6 de abril de 1944). Uma parte<br />

do artigo foi reproduzida na badana da obra Eça: <strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Eça. Porto: Livraria Latina Editora,<br />

1945.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

42<br />

É um êrro muito vulgar supôr-se que a personalidade e a obra de Antero<br />

podem ser «tratadas» literàriamente com objectividade, isto é, com rigorosa sujeição<br />

ao objecto estudado, com imparcial e exacto julgamento, sem tese e sem critérios<br />

pessoais. No entanto, ninguém estranha, como seria lógico esperar-se, que em tal caso<br />

a personalidade e a obra literária apareçam íntima e estreitamente ligadas, sem que<br />

possam separar-se uma da outra e constituindo problemas humanos intercorrentes<br />

que nunca se conseguem desarticular.<br />

Em princípio (como intuito prévio e nos primeiros passos do seu trabalho)<br />

Ramos de Almeida deixou arrastar-se por essa ilusão. Justamente porque Antero não<br />

é um escritor, nem um homem que se observe em obras definidas, mas um problema<br />

de múltiplos aspectos, o seu julgamento na mais larga riqueza de sentidos só pode<br />

efectuar-se através de uma perspectiva crítica tão fundamentada quanto possível,<br />

tão profunda quanto puder ser, relativista e interpretativa, portanto pessoal. Não se<br />

percebe bem o que Ramos de Almeida pretende quando afirma que êste trabalho<br />

«não é uma tese porque fugi a criar em tôrno do poeta dos «Sonetos» mais uma teoria<br />

mistificadora». Para um público mal instruído e mal informado como o nosso, pode<br />

muito bem ser a pior das mistificações, em certos casos, apresentar a figura de Antero,<br />

juntamente com a análise descritiva da sua obra, sem as versar no mais largo domínio<br />

da teoría.<br />

Neste estudo, felizmente, a capacidade intelectual do autor riu-se do seu propósito.<br />

O que realizou não foi uma obra sem teoria e sem tese – foi o outro objectivo que<br />

muito bem expôs e muito bem cumpriu. «Interpretar Antero na totalidade das suas<br />

qualidades e dos seus defeitos, vendo-o à luz do condicionamento humano e social<br />

em que viveu nos fins do século passado». Para o conseguir submeteu-se a tudo o que<br />

faz o inteligente apreciador de Antero: ficção literária, reconstituïção de ambientes,<br />

interpretações ousadas e discutíveis. Tão discutíveis que realmente nos aparece muitas<br />

vezes em plena expressão do seu grande conteúdo êsse dramático, emocionante,<br />

perturbador Antero que nunca terá o seu «estudo definitivo». Se o poeta dos «Sonetos»<br />

foi pouco contemplativo e anti-plástico; se foi «o mais gigantesco lutador de todos<br />

os mitos do estabelecido»; se o idealismo o atraiçoou ou foi êle que traíu, pela vida<br />

e pela morte, o autêntico idealismo; se a acção anteriana pode desmentir a idéia, se<br />

pode explicar-se apenas pela ingenuidade o seu idealismo revolucionário – tudo isso<br />

são teses que a boa garra crítica de Ramos de Almeida exprimiu com largueza; e o seu<br />

maior mérito está precisamente em oferecer aos que as lerem a melhor adesão que é<br />

o estímulo a outra análise crítica dos mesmos temas.<br />

Quando o autor dêste trabalho biográfico se diminue é nas páginas, bastante<br />

numerosas, em que o narrativo predomina sôbre o interpretativo; e como<br />

inconvenientes acessórios da obra, podem mencionar-se ainda o fracasso no estudo<br />

das influências que sofreu Antero; a indecisão, sentimentalidade vulgar, paisagismo<br />

externo exagerado no estudo da infância e adolescência do poeta; a evasão do problema<br />

da morte de Antero, que é um dos elementos fundamentais da sua vida e da sua obra


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

– talvez o mais arrebatador para quem o julgar na integridade da sua significação<br />

humana. Não se pode dizer também que Ramos de Almeida soubesse apreciar com<br />

a amplitude necessária à questão, não muito difícil mas com extrema actualidade, das<br />

relações de Antero com o socialismo do seu tempo; da compreensão que teve ou não<br />

teve da época político-social que atravessou e, sobretudo das razões que o desviaram<br />

(ou mesmo fizeram ignorar) do socialismo científico já então formulado. No restante,<br />

que é muito, êste biógrafo de Antero soube reconhecer e exprimir o que mais importa<br />

da sua sedutora personalidade para as gerações novas. Até o entusiasmo na admiração<br />

constitue uma virtude neste livro, para quem se habitua a encontrar neste país, a<br />

amarga e gelada indiferença dos medíocres pelos que os ultrapassam. Sincero e justo,<br />

apaixonado pelas grandes e generosas devoções do génio ao destino comum que a<br />

outros parece banal, Ramos de Almeida soube identificar-se com o seu nobre têma e<br />

viver nêle com toda a alma. Isso basta para que da obra irradie uma simpatia humana<br />

e uma sugestão compreensiva que aos leitores dirá quási tanto como a mais profunda<br />

e séria especulação crítica.” 28 .<br />

43<br />

Diário de Lisboa<br />

“[...] Ramos de Almeida concluiu a publicação do seu Antero de Quental, apogeu,<br />

decadência e morte, obra cheia de propósitos definidos em que o entusiasmo esmaga por<br />

vezes a serenidade expositiva [...]” 29 .<br />

Jornal do Comércio. Suplemento Domingo<br />

“Os Cadernos sôbre Antero revelariam um escritor de garra, se êle já não<br />

estivesse revelado. Os nossos ensaistas escrevem na generalidade em estilo impessoal,<br />

morto, frio e, por vezes, horrìvelmente maçador. António Ramos de Almeida, pelo<br />

contrário, é duma pujança, duma força, duma versatibilidade raras senão únicas na<br />

actualidade. Repleto de imagens audaciosas e vibrantes, o estilo de António Ramos de<br />

Almeida ganha neste estudo as gamas do descritivo, do explicativo, do interpretativo,<br />

do crítico com uma naturalidade impressionante [...].<br />

Ter revelado o Antero Humano parece-me ter sido essa a grande preocupação<br />

de António Ramos de Almeida – como êle próprio o diz na nota inicial ao trabalho.<br />

Se o foi conseguiu-o de maneira mais perfeita. Antero era até aí um mito, uma<br />

tese, uma cousa obscura e complicada. António Ramos de Almeida deu-nos a sua<br />

grandeza humana, revelando as suas fraquezas, sem o diminuir e os seus êrros sem o<br />

menosprezar” 30 .<br />

28 SALEMA, Álvaro – Literatura: Antero de Quental por António Ramos de Almeida. Vida Mundial Ilustrada. Lisboa, ano<br />

III, n.º 152 (13 de abril de 1944) p. 20. Uma parte do artigo foi reproduzida na badana da obra Eça: <strong>ALMEID</strong>A, António<br />

Ramos de – Eça. Porto: Livraria Latina Editora, 1945.<br />

29 SIMÕES, João Gaspar – A literatura em 1944: um ano literário sob o signo de Eça de Queiroz. Diário de Lisboa. Lisboa,<br />

ano 24, n.º 7938 (30 de dezembro de 1944) p. 17.<br />

30 TRAJANO, José – Jornal do Comércio. Suplemento Domingo. O artigo foi reproduzido na badana da obra Eça: ALMEI-<br />

DA, António Ramos de – Eça. Porto: Livraria Latina Editora, 1945.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

António Ramos de Almeida e o ensaio sobre Eça de Queiroz<br />

No âmbito do centenário do nascimento de Eça de Queiroz, em 1945, a Livraria<br />

Latina Editora publicou mais um ensaio de António Ramos de Almeida. Confiando<br />

ao autor, cerca de um ano antes, a conceção deste trabalho, anunciou na imprensa,<br />

desde abril de 1944, a sua edição.<br />

44<br />

<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Eça. Porto: Livraria Latina Editora, 1945.<br />

No Livro de Ofertas de Edições encontram-se mencionados, em outubro de 1945,<br />

data do início da sua comercialização, os nomes do autor e de Licínio Perdigão, Casa<br />

Museu Guerra Junqueiro, Mário Eleutério, Bertrand, José Filipe C. Silva, O Século,<br />

Diário de Notícias, Democracia do Sul, Notícias de Melgaço, O Século Ilustrado, Vida Mundial<br />

Ilustrada, Reconquista, Semana Tirsense, Brados do Alentejo, Gazeta de Cantanhede, Diário<br />

de Lisboa, República, Beira Vouga, Ocidente, Emissora Nacional, Brotéria, Seara Nova,<br />

Julieta Ferrão, João Maria Ferreira, Oldemiro César, Mário Portocarrero Casimiro,<br />

Jorge Vernex, Zeferino Moura, Correio dos Açores, João Pedro de Andrade, Leite<br />

Faria, Teixeira da Rocha, Carlos Sombrio, Livraria Lello, Araújo Lima, Portucale, Pinto<br />

Azevedo Júnior, A. Nascimento e Maria do Lar.<br />

Para além da publicidade n’O Primeiro de Janeiro, O Comércio do Porto, Diário de<br />

Notícias, Diário de Lisboa, o ensaio de António Ramos de Almeida sobre Eça surgiu em<br />

vários momentos nas páginas da imprensa escrita, designadamente através de artigos<br />

assinados por Celso Pontes (Estrela do Minho), J. Mendes (Brotéria), Vasco de Lemos<br />

Mourisca (Beira Vouga) e João Maria Ferreira (Estrela do Minho) e ainda nos jornais<br />

Gazeta de Coimbra, Gazeta Literária, Flôr do Tâmega, Democracia do Sul, O Século Ilustrado e<br />

O Comércio da Póvoa de Varzim.<br />

Estrela do Minho<br />

“[...] No próximo ano comemorar-se-á o primeiro centenário do nascimento<br />

de Eça de Queiroz, do actualíssimo Eça, dêsse magnífico escritor de que e de quem<br />

conhecemos menos, apesar de darmos a liceus, ruas, praças, jardins e monumentos o<br />

seu nome, do que muitos povos se nos avantajam em cultura e de que deles falamos<br />

com um ignorante desdém.<br />

Pois bem, com vistas a um alargamento de cultura, preparem-se os homens<br />

cultos, os pedagogos, os críticos, os homens de idéias e de acções para assentarem num<br />

plano de realizações sérias, capazes de tornar Eça melhor conhecido, por mais lido;<br />

compreendido e por melhor estudado; e para pô-lo, artista, sim, mas desatualizado<br />

por falta do ambiente e do meio que gera os Acácios, os Amaros, os Pachecos, etc.,<br />

que nos esmagam e não nos deixam ir mais além [...].


<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Eça. Porto:<br />

Livraria Latina Editora, 1945.<br />

45


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

46<br />

Mas quem, editorialmente, estudará, ordenará e nos dará boas e acessíveis<br />

publicações? Quem chamará a si tão magnífica iniciativa?<br />

A Livraria Latina tomou uma posição nítida ao festejar o seu segundo aniversário<br />

e o Norte espera uma editorial nortenha que se mostre à altura de compreender a<br />

nossa situação cultural e que a resolva.<br />

Que caminho irá percorrer agora a Latina Editora? Chamará a si, entre outras,<br />

boas iniciativas, a de dar ao País os livros de que carece sôbre Eça de Queiroz?<br />

A Latina tomou uma atitude aplaudível e o caminho aliciante que se lhe depara,<br />

não a deixará paralizada a pensar e a publicar livros que tão pouco dão a pêso” 31 .<br />

Gazeta de Coimbra<br />

“Com a aproximação da data centenária do nascimento de Eça de Queiroz, parece<br />

esboçar-se certo movimento de simpatia com a ideia de se celebrar condignamente<br />

essa data [...].<br />

No ano de 1945 passa esse centenário, o centenário do autor de «O crime do<br />

padre Amaro», de «A ilustre casa de Ramires», de «Os Maias», da «Correspondência<br />

de Fradique Mendes». Para que êle seja condignamente celebrado, é mister que se<br />

vão lançando, desde já, os alicerces para essa comemoração. Nada de guardar, como<br />

é nosso uso, para a última hora, o que deve ser feito com tempo e a tempo e horas<br />

preparar-se [...].<br />

Sabemos que uma importante livraria do Pôrto, apesar de contar simplesmente<br />

dois anos de existência, mas que, assim mesmo, tem desenvolvido já grande actividade<br />

editorial, publicará, sobre a obra de Eça de Queiroz, um volume por ocasião da data<br />

do referido 1.º centenário do nascimento do escritor.<br />

Referimo-nos à «Livraria Latina» que é dirigida pelo sr. Henrique Perdigão,<br />

autor do «Dicionário Universal de Literatura», de que, em 1940, se publicou a 2.ª<br />

edição ampliada” 32 .<br />

Gazeta Literária<br />

“O poeta e ensaísta António Ramos de Almeida, que recentemente publicou<br />

um notável estudo biográfico-crítico de Antero de Quental, vai publicar uma obra<br />

sôbre Eça de Queiroz, que será editada pela Latina Editora, desta cidade. Depois dos<br />

exaustivos estudos de Alvaro Lins, Viana Moog e Clovis Ramalhete, publicados no<br />

Brasil, será o trabalho de Ramos de Almeida a primeira obra de fôlego publicada em<br />

Portugal sôbre o grande romancista. Sabemos que mais do que da figura do homem,<br />

o ensaísta português se ocupará da crítica das obras de Eça” 33 .<br />

31 PONTES, Celso – Bom Caminho. Estrela do Minho. Vila Nova de Famalicão (27 de fevereiro de 1944).<br />

32 Gazeta de Coimbra. Coimbra, ano 33, n.º 4679 (18 de abril de 1944) p. 2.<br />

33 Gazeta Literária. Porto (29 de abril de 1944).


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

Flôr do Tâmega<br />

“Sai brevemente a público êste trabalho do escritor e poeta da moderna geração<br />

Dr. Ramos de Almeida, contribuição da Latina nas comemorações do centenário do<br />

nascimento de Eça” 34 .<br />

Democracia do Sul<br />

“A Livraria Latina Editora, do Porto, quiz contribuir para as merecidas<br />

comemorações do centenário de Eça de Queiroz, que agora vão ter lugar. E fê-lo<br />

com a publicação do livro «Eça», onde o seu autor, António Ramos de Almeida,<br />

fez minuciosa e pormenorizada análise ao incomparável escritor, à sua obra, vista e<br />

apreciada sob variados aspectos, à sua vida, etc.<br />

No prefácio dizem os editores: «Durante vários anos, desenvolveu-se entre<br />

nós uma larga campanha de descrédito com que se procurou, em vão, atingir não<br />

só o genial Eça, mas também toda a notável geração de 70. A inevitável reacção<br />

do bom senso e da justiça, em relação a esses homens, começou a surgir no Brasil,<br />

a que algumas vozes isoladas de portugueses ousaram vir juntar-se. Entretanto, a<br />

imortalidade da Obra de Eça não se compadeceu com tão inútil campanha e o preito<br />

de admiração e de respeito que hoje lhe rende toda a moderna geração da cultura<br />

portuguesa, constitui, portanto, não apenas um dever de justiça, mas também de<br />

necessária e imperativa reabilitação».<br />

Para que os nossos leitores possam avaliar do espirito criterioso do autor deste<br />

livro, no capitulo intitulado «Eça para além dos cem anos», ao referir-se ao presente<br />

ano – ao ano do centenário de Eça –, diz: «A época das Ditaduras feneceu. Os Hitlers<br />

e os Mussolines, dois símbolos da tirania que sairam das massas para as trair e se<br />

bandearem, desapareceram tràgicamente da vida política da Europa. O fascismo<br />

rendeu-se incondicionalmente. O dístico Eleições Livres tornou-se a palavra de ordem<br />

na Europa Ocidental.» E mais adiante diz: «Neste instante histórico em que parece<br />

que vamos assistir a uma viragem, Eça surge-nos como o romancista português que<br />

nos lega o mapa social e humano de uma época, o testamento de uma classe, a crítica<br />

de uma sociedade».<br />

«Eça» é, sob todos os aspectos – literário, histórico e social – o mais completo<br />

e perfeito livro que àcêrca do grande escritor surge no ano em que se vai celebrar o<br />

seu 1.º centenário.<br />

À Livraria Latina Editora agradecemos a oferta desta obra que já se encontra à<br />

venda nas livrarias desta cidade” 35 .<br />

47<br />

34 Flôr do Tâmega. Amarante, ano 60, n.º 3056 (26 de agosto de 1945) p. 3.<br />

35 Democracia do Sul. Évora (11 de novembro de 1945).


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

O Século Ilustrado<br />

48<br />

“Mais uma contribuição para a comemoração centenária do nascimento de Eça<br />

de Queiroz. O autor, que já em «Antero de Quental» tinha afirmado as suas qualidades<br />

de critico analista, apresenta-nos no seu «Eça» o homem, o artista, o ideologo, o<br />

«dandy», o humorista, o autor de caricaturas que ficaram como simbolos e que – ai<br />

de nós – como simbolos vivos existem hoje como existiram ao tempo dessa «geração<br />

de 70».<br />

Estudo demorado, muita observação, acertado criterio, revela êste volume que é<br />

mais uma voz clara que nos traz duas afirmações: uma que nos envaidece e outra que<br />

nos faz tristeza: 1.ª: Tivemos um grande romancista no século passado, um grande<br />

escritor que mereceu a comemoração centenaria do seu nascimento. 2.ª: Vamos<br />

caminhando velozmente para outra comemoração centenaria que deverá ser feita em<br />

silencio: a da ausencia dum segundo Eça.<br />

«Crime do padre Amaro», «Maias», «Primo Basilio» representam, na quasi<br />

totalidade, a bagagem literaria dum seculo no campo da literatura de ficção. Esta<br />

pobreza que eleva Eça de Queiroz não é de molde a envaidecer-nos a pintura que<br />

êle nos legou da nossa psicologia estreita e ainda não se desvaneceu. Duas ou três<br />

gerações têm tido o cuidado de a manter longe do sol e bem encaixilhada para que<br />

não desbote o colorido. Cuidado êste que se, por um lado prova a continuidade da<br />

raça, por outro afirma o nosso hábito de progredir «ou ralenti».<br />

E a nossa galeria de retratos continuará a mostrar aos turistas do espirito a<br />

Sanjoaneira, o Carlos da Maia, o Basilio, o conego Dias, o Palma Cavalão e êsse<br />

Jacinto farto de requintes e campainhas electricas a redimir na quinta de Tormes a<br />

orelheira, a couve penca e o tamanco.<br />

Num assomo de óptimismo saudavel pensemos que se de 70 para cá tivessem<br />

aparecido cinco ou seis Eças no nosso mundo das letras não teriamos agora o prazer<br />

de lêr tantas obras escritas em homenagem àquele que foi o unico.<br />

Por tudo, «Eça», de Ramos de Almeida, é dos mais completos estudos que até<br />

agora apareceram sôbre o grande escritor que a si próprio se designava como «pobre<br />

homem da Povoa de Varzim»” 36 .<br />

Estrela do Minho<br />

“Eça de Queiroz está na ordem do dia, pelo que os livros, os livrinhos e os<br />

livrescos que, sobre o grande romancista, se têm publicado são em número quase<br />

infinito.<br />

De três livros – livros autênticos e bons – eu vou dizer a minha impressão pela<br />

ordem do seu recebimento, que é sempre a melhor para não ferir susceptibilidades.<br />

36 O Século Ilustrado. Lisboa (1 de dezembro de 1945).


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

O primeiro que, sobre Eça, veio pousar sôbre a minha mesa de trabalho,<br />

enviado pelos editores: Dr. Renato Perdigão e Mário Perdigão, foi o livro Eça do<br />

sr. António Ramos de Almeida.<br />

Livraria Latina Editora, de que são proprietários os dois ilustres editores acima<br />

citados fizeram uma bem cuidada edição deste trabalho do distinto ensaísta.<br />

E bem o mereceu o autor que, tratando de Eça, o estuda em todas as modalidades<br />

do seu talento e, também, como homem, integrado na sociedade do seu tempo.<br />

Neste trabalho do ilustre ensaísta há a notar a minúcia de cada capítulo, que é<br />

uma faceta da obra do ensaiado ou dele próprio, como homem, e a maneira como<br />

essa observação é feita; maneira que nada tem de impessoal.<br />

Ao contrário de outros ensaístas, monótonos na linguagem e de forma apagada<br />

e fria, Ramos de Almeida, tem uma linguagem viva, expressão forte, forma rica e<br />

delicada, onde aparecem alguns neologismos.<br />

A obra e vida social de Eça é desfibrada com verdade e elegância e muitas vezes,<br />

comentada com coerente critério.<br />

Parece-me ser este o maior trabalho sôbre Eça, pelo menos aquele que melhor<br />

estuda e analisa, em profundidade, a obra do Mestre romancista, que foi Eça de<br />

Queiroz.<br />

Mas o certo é que António Ramos de Almeida mais uma vez nos mostra, como<br />

muito bem se diz na Nota dos Editores, «as suas excepcionais qualidades de biógrafo,<br />

crítico literário e observador personalíssimo e arguto dos homens e das coisas».<br />

E, com a publicação deste bom trabalho, a Livraria Latina Editora deu,<br />

patrioticamente e brilhantemente, uma valiosa contribuição para as Comemorações<br />

do Centenário de Eça de Queiroz [...]” 37 .<br />

49<br />

Gazeta de Coimbra<br />

“Pode classificar-se de apreciável contributo não só para o centenário de Eça de<br />

Queiroz, ou seja a celebração duma data memorável, mas também para a divulgação<br />

da obra tão fecunda como magistral, do romancista insigne, êste estudo «Eça».<br />

Vê-se que Ramos de Almeida estava intimamente familiarizado com o grande<br />

prosador, o que não quer dizer que se não tenha integrado mais profundamente na<br />

vasta obra queiroziana, para exprimir tão amplamente a sua análise.<br />

«A obra literária de Eça de Queiroz, – diz o autor – é daquelas que pela sua<br />

complexidade e rica variedade, não se limita, nem se define.<br />

37 FERREIRA, João Maria – Chá das Cinco: Da minha estante. Estrela do Minho. Vila Nova de Famalicão, ano 51, n.º 2614<br />

(16 de dezembro de 1945) p. 2.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

50<br />

Querer sustê-la na nossa mão, firmemente, é impossível, porque escorrega e<br />

se esgueira por entre os dedos como se fosse visgo. Repleta de contradições e de<br />

paradoxos, a obra de Eça é o retrato em corpo inteiro, dêle próprio».<br />

Ramos de Almeida analisa, comenta, clamando: «Eu apenas quis dizer dêle a<br />

verdade, nada mais. Basta de mistifica-lo, de glosá-lo, de explorá-lo».<br />

O autor, ao apresentar êste amplo estudo crítico, ergue a sua voz contra as<br />

injustiças que tenham pretendido obscurecer a obra que viverá dentro do seu halo<br />

de glória imperecível, marcando a intensa actividade do escritor que serviu as nossas<br />

letras com o cunho pessoal da sua ironia inimitável, e do seu fulgurante talento, tudo<br />

tão alto que, como diz Ramos de Almeida neste valioso estudo, Eça «continua vivo, a<br />

pontos de se tornar presente e actual»” 38 .<br />

O Comércio da Póvoa de Varzim<br />

“Passou êste ano o centenário do nascimento de Eça de Queiroz. Tôda a gente<br />

o sabe, de o ver escrito de há uns tempos para cá. António Ramos de Almeida – já<br />

conhecido e apreciado em poesia («Sinal de Alarme», «Sinfonia da Guerra», «Sêde»),<br />

em conferências («A arte e a vida», «A nova descoberta do Brasil») e num estudo<br />

critico sôbre Antero de Quental – veio falar-nos de Eça. Edição da Livraria Latina,<br />

em apresentação de capa felicíssima.<br />

O trabalho de Ramos de Almeida é magistral. Honesto, desmistificador,<br />

acessível. Classifica de Ensaios o livro e, de facto, cada um dos 12 capítulos é um<br />

ensaio completo e perfeito.<br />

Eça de Queiroz é-nos apresentado a uma luz nova – luz que esclarece, diz a<br />

autêntica verdade, não repetindo elogios acacianos e classificações tendenciosas. E Eça<br />

não sai apequenado de tal estudo consciencioso. Pelo contrário. Sentimo-lo maior porque<br />

mais humano, mais humano porque mais próximo de nós, mais compreensível.<br />

Ramos de Almeida estuda em conjunto o seu escritor e os dois que escreveram<br />

os romances mais lindos em Portugal: Camilo com o Amor de Perdição e Júlio Diniz com<br />

As Pupilas do Senhor Reitor. «Se, nas obras romanescas de Eça, as convenções acabam<br />

por vencer e dominar as paixões; nas de Camilo os convencionalismos nunca vencem<br />

e são antes as paixões humanas que acabam por triunfar, sobrepondo-se e reduzindo<br />

todas as convenções. E assim é o povo.» «O humanitarismo piegas e o idealismo<br />

fácil que emergem da obra de Júlio Diniz, transformam-no num escritor querido do<br />

povo português, simultâneamente mistificado por idealismos fáceis e humanitarismos<br />

piegas.» «Eça só poderá ser um escritor popular quando as classes trabalhadoras,<br />

que constituem a maioria do povo, superarem a sua ignorância primitiva, isto é,<br />

quando puderem atingir por meio de cultura – o que só conseguirão depois da sua<br />

38 Gazeta de Coimbra. Coimbra, ano 35, n.º 4925 (18 de dezembro de 1945) p. 2.


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

libertação económica – a crítica subtil da obra de Eça de Queiroz e mais tôdas as<br />

outras profundas virtualidades humanas e estéticas que nela residem.»<br />

Fala-nos, com honestidade, da posição de Eça perante a realidade imediata, em<br />

ensaios que parecem anular-se e que docemente, afinal, os dois Eças que é necessário<br />

distinguir: um que esteve sempre à margem de qualquer acção e, outro que descreveu<br />

e criticou a sociedade do seu tempo.<br />

Diz-nos do poder corrosivo da obra eciana, da sua observação perspicaz da<br />

«decadência das classes dirigentes, nas suas ideias informadoras e nas suas tradições<br />

decrépitas, no ridículo das suas velharias e na pomposa fraseologia das mistificações,<br />

que ainda hoje perduram.» E mostra-nos como «ninguém, entre nós apontou com<br />

mais verdade os vícios, os ridículos, as falsidades daqueles que por diferentes caminhos<br />

atingiram os lugares de comando e de domínio».<br />

Ramos de Almeida abre os olhos a muita gente atacando com decisão um<br />

dos pontos de mais polémica: que foi Eça politicamente? Todos o têm pretendido<br />

levar para o seu grupinho. «Eça de Queiroz tem sido rotulado de tudo: democrata,<br />

socialista, bolchevista, anarquista e nacionalista, apesar de ser quási sempre apodado<br />

de desnacionalizante e extrangeirado.» Mas «Eça não desfralda qualquer bandeira,<br />

antes pelo contrário, coloca diante de si uma missão: descobrir a realidade. As suas<br />

Farpas representam um esforço honesto de desmistificação da realidade que não foi<br />

igualado por nenhum dos seus contemporâneos, sobretudo, porque todos se deixaram<br />

dominar por uma mística.»<br />

Tem o autor vários ensaios sôbre os romances de Eça. Sôbre os romances, sôbre<br />

as caricaturas e os símbolos, sôbre os contos, as crónicas, os artigos e ainda sôbre as<br />

cartas. Crítica circunstanciada e esclarecedora. Padrão notável que ficará a marcar uma<br />

época. O condicionalismo em que viveu o escritor, o ambiente dos romances – tudo<br />

é considerado e julgado imparcialmente. Mas seria demasiado extenso se passasse a<br />

descrever do trabalho de Ramos de Almeida. Peor ainda se me alargasse às influências<br />

e ao estilo e à ironia e à sátira que o autor investiga com argúcia e minúcia. Apenas<br />

para finalizar me quero reflectir ao último capítulo.<br />

«Eça para além dos cem anos» é um capítulo formidável. Começa por historiar,<br />

à luz do materialismo dialéctico, o que êste ano de 1945 representa para a evolução<br />

da humanidade. «Para lá de tôdas as nebulosas mistificações que ainda restam, todos<br />

nós sentimos que neste ano de 1945, o Homem se voltou decididamente para o<br />

Futuro e que, apesar de todas as marras que ainda restam, cortou com o passado. A<br />

consciência humana venceu mais um interregno, cuja vigência demorava».<br />

Primeiro, a decomposição. «Cada vez mais devassa, mais decadente, mais pôdre,<br />

no uso sumptuário do seu poderio económico, político e social, a classe dominante<br />

acelerou desde o fim da guerra 14-18 – cujos resultados conseguiu ainda ludibriar e<br />

trair – a sua marcha para a falência e o fim.» Depois o clarear do novo dia. «A época<br />

das Ditaduras feneceu. Os Hitlers e os Mussolines, dois símbolos da tirania que saíram<br />

51


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

52<br />

das massas para as trair e se bandearem, desapareceram tragicamente da vida política<br />

da Europa.»<br />

O ano da Vitória – precisamente o do Centenário de Eça. Ramos de Almeida<br />

aproveita a coincidência para contar a sobrevivência do grande escritor. «Neste instante<br />

histórico em que parece que vamos assistir a uma viragem, Eça surge-nos como<br />

um romancista português, que nos lega o mapa social e humanos de uma época, o<br />

testamento de uma classe, a crítica de uma sociedade. É o mais próximo de todos os<br />

escritores do passado, porque a sua obra dá presença a esse passado.»<br />

Eis o livro de Ramos de Almeida sôbre Eça de Queiroz. Eis um modelo de<br />

crítica honesta, consciente e acessível. Obra que se impõe na literatura nova que está<br />

rejuvenescendo Portugal” 39 .<br />

Beira Vouga<br />

“Ramos de Almeida, o ensaísta de Antero, traz-nos agora o seu depoïmento<br />

sôbre Eça de Queiroz. Este último livro veio completar a impressão que já tinha do<br />

seu autor. Ramos de Almeida é um ensaísta, mas não é um crítico literário. E no ensaio<br />

tem virtudes muito apreciáveis: capacidade de jogar com ideias gerais, qualidade de ver<br />

o essencial, dom de levantar hipóteses, entusiasmo para rebater opiniões divergentes<br />

da sua e um estilo quente e fogoso (por vezes manchado de exclamações). Como<br />

crítico literário ponho-lhe restrições. O mesmo dom de erguer hipóteses, porventura<br />

alicerçadas em subtilezas que podem falsear a finalidade da obra, parece-me muito<br />

escorregadio em crítica literária. Uma hipótese, sem ser documentada, tem sempre<br />

um cunho de aventura que a crítica literária nâo pode acolher de ânimo leve. Ramos<br />

de Almeida, por outro lado, adere demais às personalidades que foca. Quase que<br />

combate por elas!<br />

Neste livro as manchas do romancista, diluem-se na prosa forte do ensaísta.<br />

Ramos de Almeida tem a qualidade de ver o essencial, mas deixa escapar, por vezes,<br />

pormenores úteis para a visão de conjunto da obra literária. Vê o essencial, nos<br />

romances de Eça, mas não tira as necessárias conclusões que nos habilitem a formular<br />

um juizo, que não seja parcelar, sôbre a estética do romancista.<br />

Tanto quanto nos permite o espaço, vamos fazer uma digressão pelo livro de<br />

Ramos de Almeida. Fá-la-emos por tópicos, a traços largos, discutindo pouco, mesmo<br />

o que seja muito discutível.<br />

O livro começa com a comparação entre Camilo e Eça, feita com inteligência.<br />

A comparação pode resumir-se nisto: mais península em Camilo e menos península<br />

em Eça. Dum lado a fôrça das paixões incendiadas, doutro lado os «empurrões do instinto»,<br />

o «preamar do cio», o «alarido áspero dos desejos» como aponta Moniz Barreto.<br />

39 O Comércio da Póvoa de Varzim. Póvoa de Varzim (22 de dezembro de 1945).


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

Ramos de Almeida tem, a seguir, uma bela observação acêrca do pouco vulto<br />

que tem o povo na obra de Eça. Eça viu a classe popular como um diplomata.<br />

Para ele o povo foi uma mera curiosidade.<br />

Torga chegou a dizer, condenando este alheamento, que havia salões a mais e<br />

suor a menos nos romances de Eça. Ramos de Almeida explica: as classes populares não<br />

tinham, ainda, consciência autónoma e conclui – «uma classe social só adquire expansão<br />

romanesca quando adquire consciência de classe».<br />

Noutro passo da sua obra, Ramos de Almeida pretende, cautelosamente, identificar<br />

a condessa de Govarinho com uma amante que Eça teria tido em New-Castle. É uma<br />

hipótese gratuita. Afirmar, em literatura, apoiado em meras presunções é perigoso<br />

e arriscado. A não ser que Ramos de Almeida tenha algum documento que ilumine a<br />

questão.<br />

Mais adiante o ensaísta, levado pelo tal vício de levantar hipóteses, aventura:<br />

«se Eça fôsse para Paris 10 ou 15 anos antes, talvez a sua obra tivesse tido outro rumo!»<br />

Por este processo até se podia imaginar o rumo da obra de Eça, se ele tivesse<br />

ido para Paris em 1940! O próprio Ramos de Almeida nota o deslise e interroga-se:<br />

«Mas para que criar hipóteses?...»<br />

É a pergunta que o leitor lhe faz. Construir hipóteses, a maior parte delas<br />

simples jôgo de raciocínio, pouco consistentes, não me parece o papel do crítico.<br />

Noutro capítulo, Ramos de Almeida perfilha a expressão de Castelo Branco<br />

Chaves que chama a atitude essencial de Eça – «espectatorismo», vincando que o<br />

romancista se sentou à margem da vida, enquanto ela passava. É uma expressão penetrante<br />

e singularmente feliz.<br />

Mas Ramos de Almeida, logo na página 163, tem uma ligeira contradição. Se Eça<br />

era um espectador irónico da vida, se Eça estava sentado á margem, se Eça não aderia,<br />

como é que ele: «sofria com a decadência que o cercava e o seu sofrimento se transformava em esperança<br />

que brotou no mais fundo da sua consciência?»<br />

Parece-me sofrimento demais!<br />

Eça apresentou-se, na verdade, como castigador da sociedade. Ele mesmo o<br />

diz em carta a Teófilo. Nós, porém, temos o direito de perguntar até que ponto Eça,<br />

nessa carta, pretendia justificar o Primo Basílio, e até que ponto essa carta representava<br />

uma atitude de verdadeira preocupação social. Em todo o caso, Eça devia sofrer pouco<br />

com a decadência que o cercava. Tudo o que não fôsse motivo artístico não o interessava<br />

grandemente. Mesmo algumas cartas a Oliveira Martins sôbre política, são cartas<br />

cintilantes, de indivíduo que se preocupa em ser cintilante e nada mais.<br />

Será prudente não complicar a personalidade de Eça, inventando um drama<br />

(a não ser as dramáticas contas do alfaiate!) na estética Queiroziana.<br />

53


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

54<br />

Ramos de Almeida alinha com Gaspar Simões quando afirma que Eça escreveu<br />

quase todo o «Mistério da Estrada de Sintra». Simões gasta umas páginas com deduções<br />

para tornar sólido o seu modo de ver.<br />

Ramos de Almeida não apresenta razões, limita-se a afirmar.<br />

Parece-me que a opinião não é pacífica e não ficou, ainda, suficientemente<br />

esclarecida. É, também, muito discutível e discutido qual será o melhor romance de<br />

Eça. Ramos de Almeida com Oliveira Martins e Fialho inclina-se, abertamente, para<br />

«O Crime do Padre Amaro». É uma opinião.<br />

Ainda, há bem pouco tempo, Régio e Gaspar Simões discutiram, indirectamente<br />

é certo, nas páginas de «O Primeiro de Janeiro», o assunto. Gaspar Simões escreveu,<br />

então, um magnífico artigo sôbre «Os Maias». Por um lado (não interessa, eu bem sei!)<br />

prefiro «Os Maias».<br />

Onde Ramos de Almeida se me afigurou extraordinàriamente feliz foi na<br />

apreciação de «A Relíquia».<br />

Tem, mesmo, um momento de rara penetração quando aborda a presumível<br />

incoerência do sonho do Raposão.<br />

Quase todos os biógrafos e estudiosos de Eça dão razão, neste ponto, à crítica<br />

de Pinheiro Chagas. Ramos de Almeida vê o problema hàbilmente e talvez seja<br />

interpretação a considerar.<br />

A pulhice de Raposão era uma «estratégia» que o meio beato e a necessidade de<br />

não o hostilizar, lhe impunham. E assim, conclui o autor, «se o sonho do Raposão está em<br />

contrário ao Raposão é porque para Eça êle era realmente o contrário daquilo que o meio beato o<br />

fizera ser» [...]” 40 .<br />

Brotéria<br />

“Nos dois livros anteriores de Fidelino de Figueiredo e Vieira de Almeida, leva-se<br />

a bem o diletantismo desprendido de Eça de Queiroz e a sua ausência de conclusão. As<br />

opressões do pensamento só vinham da extrema direita. Da outra banda, nada a temer<br />

para a inteligência. O primeiro daqueles críticos chegava a insistir na falsidade histórica<br />

da obra queirozeana, mas sem lhe ligar importância de maior. Se tudo se passava no<br />

campo meramente artístico, e o artista não tem de prestar contas daquilo que diz...<br />

Outros vieram, porém, que acreditam nas próprias ideias e tiram conclusões das<br />

dos outros. Entre esses, está o livro de Ramos de Almeida. Todo êle intrìnsecamente<br />

animado da ideologia comunista, um mérito pelo menos apresenta a nossos olhos:<br />

o da coerência com o sistema, e o da crença na influência da arte na vida.<br />

40 MOURISCA, Vasco de Lemos – Movimento literário. Beira Vouga. Albergaria-a-Velha, ano 5, n.º 33 (20 de fevereiro de<br />

1946) p. 4. Suplemento ASA.


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

Para êste Autor «Eça deixou [...] a verdadeira interpretação de uma classe<br />

que dominava e dirigia» (pág. 263); o «Portugal oficial, burguês, dominante e<br />

dominador foi chicoteado com requinte» (pág. 348); «Eça atacou sempre a ‘pátria’<br />

dos reaccionários» (pág. 370). Nisto, se pode resumir a interpretação que Ramos de<br />

Almeida, complacentemente, nos apresenta da obra de Eça. Tem razão, em buscar<br />

conclusões nessa obra, porque todo o artista, forçosamente, as fornece, nem que<br />

sejam senão as do seu cepticismo. O que seria para discutir, aqui, é se o romancista<br />

viu bem a realidade.<br />

Teve, êle, as intenções que o crítico dá como sentido da sua obra? Isso é o que já<br />

não tiramos muito a limpo dêste estudo. Dissemos, acima, que êle tinha o mértito da<br />

coerência, mas só o de uma coerência fundamental. Porque, no seu desenvolvimento,<br />

mostra uma tal pressa de composição e redacção, tal precipitação e incongruência de<br />

juizos, tal ausência de modos de ver pessoais, que dá a impressão de ter sido escrito<br />

a correr, por uma mentalidade a que o entusiasmo tirou o sentido da medida e dos<br />

cambiantes. A sintaxe dos períodos tropeça a cada passo; a boa composição cai em<br />

deslises como êste: «Camões que surgiu como uma cúpula com os pés já enterrados<br />

na decadência» (pág. 42); a morfologia apresenta anomalias como «sensaçorial»<br />

(pág. 271), «ritimo» (pág. 391), «relaixamento» (pág. 377), «Brunuitière» (pág. 276),<br />

demasiado sérias para serem gralhas; e a incoerência das opiniões, ora nos apresenta<br />

um Eça revolucionário simpatizante dos humildes como «uma das marcas essenciais da<br />

sua obra» (pág. 59), ora um «burguês com aspirações de ascender a fidalgo» (pág. 108) e um<br />

dandy que «esteve longe e perto de todos os acontecimentos e de tôdas as ideias do seu<br />

tempo» (pág. 131), «aparentemente uma espécie de camaleão que mudava constantemente<br />

de côr» (pág. 132); mas que, não sabemos como, «não teve medo ou pudor, olhou sempre<br />

para a Verdade» (pág. 275). A alumiar todos êstes pontos escuros, surge, por vezes, um<br />

anticlericalismo primário com as «poderosas forças de reacção armadas com as tochas da<br />

Inquisição» (pág. 43).<br />

Não; por mais que faça, o Autor não consegue arrastar Eça de Queiroz para o seu<br />

partido, apesar de o ver inscrito na Internacional. Êsse intento é a maior «mistificação»<br />

deste livro, que, por singular ironia, usa desta palavra, a propósito e a despropósito de<br />

tudo, com uma confiança ingénua no prestígio do vocábulo.<br />

Também aqui, o Conselheiro Acácio é empurrado, como um remorso, para<br />

o lado contrário. Mas, a págs. 365, a propósito da carta a Pinheiro Chagas, diz o<br />

Autor: «Nesse escrito, o talento humorístico de Eça é tão exuberante que nós temos<br />

a impressão de que êle sobra, quer dizer, ao lê-lo apetece comentar: É pena este<br />

homem ter tanto talento! Às vezes, abusa dele, como o bruto da força, o déspota<br />

do poder, ou o milionário do dinheiro». Esta frase não consegue quebrar de todo a<br />

solidariedade com Acácio. Lá diziam os admiradores exaltados de Pacheco: «Irra, que<br />

é ter talento demais!»” 41 .<br />

55<br />

41 MEN<strong>DE</strong>S, J. – Brotéria. Lisboa (abril de 1946).


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

Com uma tiragem de 2000 exemplares e impressa nas Oficinas Gráficas da<br />

Sociedade de Papelaria, Lda., esta obra encontra-se estruturada em doze capítulos:<br />

Eça cem anos depois; Eça – O Homem, a vida e a obra; Eça diletante, «dandy» e esteta; Eça – A<br />

realidade e as ideologias do seu tempo; Eça romântico e realista; Eça – O romancista e os romances;<br />

Eça e as suas personagens: das caricaturas aos símbolos; Eça – Os artigos, os contos, as crónicas e as<br />

cartas; Eça e as obras póstumas; Eça – As influências e o estilo; Eça humorista: a ironia e a sátira<br />

e Eça para lá dos cem anos. Transcrevemos na íntegra a Nota dos Editores:<br />

56<br />

“Ao comemorar-se, êste ano, o Centenário do Nascimento de Eça de Queiroz,<br />

a Livraria Latina Editora – consciente das suas responsabilidades culturais e certa de<br />

que a melhor maneira de homenagear o grande romancista português é compreendêlo<br />

e explicá-lo – decidiu contribuir, para essas Comemorações, com a publicação do<br />

presente trabalho.<br />

Durante vários anos, desenvolveu-se entre nós uma larga campanha de<br />

descrédito com que se procurou, em vão, atingir não só o genial Eça, mas também<br />

toda a notável geração de 70.<br />

A inevitável reacção do bom senso e da justiça, em relação a esses homens,<br />

começou a surgir no Brasil, a que algumas vozes isoladas de portugueses ousaram<br />

vir juntar-se.<br />

Entretanto, a imortalidade da Obra de Eça não se compadeceu com tão inútil<br />

campanha e o preito de admiração e de respeito que hoje lhe rende toda a moderna<br />

geração da cultura portuguesa, constitui, portanto, não apenas um dever de justiça,<br />

mas também de necessária e imperativa reabilitação.<br />

A Livraria Latina Editora procurou, portanto, oferecer uma obra que<br />

correspondesse realmente aos fins enunciados.<br />

Ao confiarmos – há cêrca de um ano – êsse trabalho a António Ramos de<br />

Almeida, certos estávamos de que o consagrado autor de «Antero de Quental» nêle<br />

encontraria nova oportunidade para demonstrar as suas excepcionais qualidades de<br />

biógrafo, crítico literário e observador personalíssimo e arguto dos homens e das<br />

coisas. Com o notável espírito de independência e de imparcialidade que o caracteriza,<br />

quer-nos parecer que Ramos de Almeida não desilude, com êste seu novo trabalho,<br />

aquele largo público que pelo seu mérito próprio conquistou e que se habituou a<br />

considerá-lo como um dos renovadores da actual cultura portuguesa.<br />

Entretanto, caberá ao Público e à Crítica o julgamento definitivo. Essa Crítica e<br />

êsse Público a quem devemos a glorificação de Eça de Queiroz, o que tanto bastaria<br />

para os considerar respeitáveis em todo o mundo das letras.<br />

Pela nossa parte sentimo-nos satisfeitos em poder render esta homenagem,<br />

modesta embora, ao romancista que, cem anos após o seu nascimento, é o mais actual<br />

das letras portuguesas” 42 .<br />

42 Nota dos editores in <strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Eça. Porto: Livraria Latina Editora, 1945, s.p.


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

António Ramos de Almeida e a Sêde da poesia<br />

A Livraria Latina Editora foi ainda depositária de inúmeras publicações, das<br />

quais evidenciamos a obra Sêde da autoria de António Ramos de Almeida.<br />

Impresso em 1944 nas Oficinas Gráficas da Sociedade de Papelaria, Lda. e<br />

comercializado a partir de 18 de novembro de 1944, o livro apresenta dezoito poemas<br />

com ilustrações de António Sampaio: Lápide; Encontro; Declaração; Liberdade; Sinceridade;<br />

Perdão; Pic-nic; Amor eterno; Recordação; Ausência; Saudade; A noite é bela; Tu; Destino; Um<br />

filho; Neutralidade; Passeio e Profecia. Encontramos publicidade à obra n’O Comércio do<br />

Porto, O Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Século e Diário Popular.<br />

Para além dos artigos n’O Primeiro de Janeiro, n’O Figueirense e no Diário de Lisboa<br />

(assinado por João Gaspar Simões), encontramos publicidade à obra n’O Comércio do<br />

Porto, O Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Século e Diário Popular.<br />

57<br />

O Primeiro de Janeiro<br />

“Em edição da Latina Editora, desta cidade, deve aparecer, brevemente, o<br />

volume de poemas «Sêde», da autoria do poeta e ensaísta Ramos de Almeida” 43 .<br />

O Figueirense<br />

“A Livraria Latina Editora, do Porto, inaugura a época literária com a publicação<br />

dos seguintes volumes: – «Mineiros», romance de Manuel do Nascimento; «Sêde»,<br />

poema do Dr. António Ramos de Almeida e «Fogo maldito», poema de Jerónimo de<br />

Almeida” 44 .<br />

Diário de Lisboa<br />

“[...] O ano poetico – foi ano de seca. Não devemos esquecer, no entanto<br />

que em 1944 apareceram as Poesias de Alvaro de Campos, uma das obras mais fortes e<br />

originais da poesia portuguesa de todos os tempos. Sofia de Melo Breyner, publicou<br />

um livro revelador, Poesia, e António Ramos de Almeida tentou de novo as musas<br />

com Sêde [...]” 45 .<br />

Revista Latina: um projeto não implementado<br />

A ação cultural da Livraria Latina Editora não se limitou, porém, à atividade<br />

editorial a que já fizemos referência. Henrique Perdigão pretendeu encetar uma nova<br />

43 O Primeiro de Janeiro. Porto, ano 75, n.º 343 (15 de dezembro de 1943) p. 6.<br />

44 O Figueirense. Figueira da Foz, ano 26, n.º 2465 (25 de novembro de 1944) p. 4.<br />

45 SIMÕES, João Gaspar – A literatura em 1944: um ano literário sob o signo de Eça de Queiroz. Diário de Lisboa. Lisboa,<br />

ano 24, n.º 7938 (30 de dezembro de 1944) p. 17.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

58<br />

<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Sêde:<br />

poema. [S. l.: s.n.], 1944.


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

aventura editorial, relançando uma revista ilustrada consagrada à cultura, a Revista<br />

Latina. O projeto, pelo intuito cultural e pelo valor dos colaboradores chamados ao<br />

primeiro número, merece ser conhecido nos seus pontos fundamentais.<br />

Henrique Perdigão, enquanto diretor da publicação, esboçou o propósito<br />

editorial dessa revista que se pretendia mensal e que compreendia quatro seções:<br />

Letras, Arte, Turismo e Cinema. A redação e a administração seriam da Livraria<br />

Latina Editora, o editor Alfredo Fonseca Santos 46 , o fundador J. Camacho Pereira 47 ,<br />

a composição e impressão das Oficinas Gráficas da Sociedade de Papelaria, Lda., no<br />

Porto. O seu lançamento fora anunciado para o dia 15 de abril de 1944.<br />

59<br />

Na nota de abertura, intitulada Duas palavras de apresentação, Henrique Perdigão<br />

esclarece:<br />

“[...]a Latina era, na sua primeira fase, essencialmente uma revista de turismo.<br />

Na nova fase que hoje inicia, com novo aspecto e nova direcção, ela pretende ser,<br />

acima de tudo, uma revista de Literatura e de Arte, se bem que o Turismo lhe continue<br />

a merecer a melhor atenção. E com o Turismo – cuja secção continua entregue a<br />

quem por êle já muito tem feito, – o Cinema e outras manifestações da Arte e do<br />

Progresso”.<br />

O editorial encerra deste modo:<br />

“Quem vem dirigir a Latina, entrando, como entra, numa arena onde, até agora,<br />

só como «diletante» tem actuado, conhece bem as suas insuficiências e inaptidões.<br />

Mas, como a boa vontade e o muito amor às Letras suprem, por vezes, os dons<br />

e primores da Inteligência, perdôe-se-nos o ousadio da incumbência que tomamos<br />

sôbre nós.<br />

De uma coisa, entretanto, podem todos ficar certos: é de que não vimos para<br />

aqui servir os nossos interesses particulares, ou da Emprêsa de que fazemos parte,<br />

mas única e exclusivamente a cultura em geral e o bom nome da Literatura Portuguesa,<br />

em particular.<br />

Dessa Literatura que, dentro do âmbito da sua expressão linguística – e com<br />

perdão dos derrotistas – de modo nenhum nos envergonha ou deprime – nem deste<br />

nem do outro lado do Atlântico.”<br />

Transcrevemos uma carta de Henrique Perdigão dirigida a José Alvelos<br />

(Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo), na qual se dá<br />

conta das caraterísticas da publicação e se solicita o despacho da licença requerida:<br />

46 Um dos sócios de Henrique Perdigão na Livraria Latina Editora, também sócio das Oficinas Gráficas da Sociedade de<br />

Papelaria, Lda., tipografia que se encarregou da impressão da maioria dos títulos publicados pela Latina.<br />

47 Proprietário e editor da primeira série.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

60<br />

Revista Latina (capa e nota de abertura para<br />

o n.º1, com lançamento previsto para 15 de<br />

abril de 1944).


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

“[...] uma revista mensal, de caracter literário e artístico, colaborada pelos<br />

nossos melhores valores actuais, e feita em papel de optima qualidade, enfim, revista<br />

que virá sem dúvida trazer ás Letras – e só ás Letras, pois tudo o que não diga respeito<br />

á política do espírito será dela inexoravelmente banido – qualquer coisa de novo,<br />

de belo e de util. Tem essa revista o nome de «Latina» e foi fundada já ha perto de<br />

14 anos, mas há muito tinha a sua publicação suspensa, saindo apenas um número<br />

de ano a ano para garantia de título. Só em papel para ela estão empatados já mais<br />

de 30 contos, pois como V. Exa. compreende sendo o papel, hoje, a nossa maior<br />

dificuldade, temos de nos prevenir para largo tempo, por quanto as tradições que a<br />

n/ Casa já alcançou não permitem que se crie uma revista para desaparecer passados<br />

2 ou 3 números. Não vimos com ela – é preciso frisar – criar fonte de receita para a n/<br />

Casa; muito pelo contrário, vimos é trazer-lhe um encargo não pequeno, pois que a<br />

receita de modo nenhum cobre a despeza, mesmo que vendida seja a tiragem. Só uma<br />

pequena publicidade que naturalmente iremos fazer – mas discreta, porque não<br />

queremos uma revista de anúncios – irá, hipoteticamente, fazer contrabalançar<br />

essas despezas. Tambem não vimos, ao contrário do que possam pensar, fazer da<br />

Revista um órgão de interesse da n/ Casa. Vimos, sim, é pô-la ao serviço geral<br />

das Letras, de todos os n/ colegas, do público, enfim, mantendo o fôgo sagrado<br />

da cultura do Espírito, que é o nosso fim principal.<br />

Ora ao contrário do que V. Exa. possa supor, eu não venho, a despeito do<br />

que dito fica, pedir qualquer auxílio material para a nova revista – auxílio que, aliás,<br />

não seria imerecido. Ouso vir é pedir a valiosa interferência de V. Exa. perante o<br />

digno Director desse Secretariado, ou de quem mais possa no caso influir, para que as<br />

licenças que se pediram á Censura no sentido de ser autorizada a saida da revista, sejam<br />

concedidas sem entraves. Quem pede essas licenças é o próprio proprietário da revista<br />

(é o seu nome J. Pereira) pois ele não nos quís vender o título, que lhe propusemos<br />

comprar, para que a publicação fosse só nossa. Assim e segundo o contracto que<br />

temos, a revista passará a ser da nossa direcção e administração exclusivas, mas dele<br />

a propriedade. Claro que nos não agrada nada esta situação, mas nós só a aceitamos<br />

pela dificuldade que sabemos que há de darem autorização para se fundarem revistas<br />

novas. Ora é sobre este ponto que venho, principalmente, valer-me de V. Exa: Dado o<br />

carácter que á revista vamos imprimir e á garantia que estamos dispostos a dar, como<br />

e quando nos seja exigida, não seria possível obter-se licença para publicarmos uma<br />

revista NOVA, desse género, que seria, então, só nossa e de todos os que ainda teem<br />

fé de que o Espírito não morre? É a esse respeito que desejava ouvir V. Exa., crente<br />

como estou, de que o assunto não poderá deixar de interessar o seu culto espírito,<br />

como também suponho que não deixará de interessar o Secretariado, que a iniciativas<br />

destas não costuma ficar indiferente” 48 .<br />

61<br />

48 Carta remetida por Henrique Perdigão a José Alvelos, em 6 de março de 1944.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

62<br />

Convém esclarecer que a primeira série da Latina: Revista de Intercâmbio entre os Povos<br />

Latinos e Panlatinismo se iniciou em maio de 1930. Encontramos, na sua ficha técnica,<br />

J. Pereira, como editor e proprietário, e Mário Peixoto como administrador. Dedicada<br />

essencialmente ao Turismo, com uma seção dirigida por J. Pereira, incorporava ainda<br />

outras áreas como Expansão, dirigida por Francisco António Corrêa; Paços e Solares,<br />

dirigida por Luciano Ribeiro; Sciencia, dirigida por Costa Lobo; Critica Literária, dirigida<br />

por Cunha e Vasconcelos; Arte, dirigida por Martinho da Fonseca e outras seções<br />

designadamente Economia, História, Tradições e Colónias. Entre os seus colaboradores<br />

registam-se os nomes de Alfredo Pimenta, Augusto Casimiro, Antero de Figueiredo,<br />

António Corrêa de Oliveira, António Ferro, António Saúde, António de Séves,<br />

Armando Cortesão, Armando Navarro, Cardoso Marta, Carlos Carneiro, Carlos<br />

Selvagem, Cristóvão Ayres, Egas Moniz, Ernesto Soares, Ernesto de Vasconcelos,<br />

Eugénio de Castro, Gago Coutinho, João Barreira, João Jardim de Vilhena, João de<br />

Barros, Joaquim Manso, José de Figueiredo, José Ferrão, José Joaquim de Almeida,<br />

José Leite de Vasconcelos, José Soares, Júlio Dantas, Laranjo Coelho, Lopes de<br />

Mendonça, Luiz Keil, Manuel Ribeiro, Norberto de Araújo, Pinheiro Correia, Raul<br />

Brandão, Reinaldo dos Santos, Samuel Maia, Sousa Costa, Teixeira de Pascoaes, Ultra<br />

Machado, Vieira Guimarães e Vieira da Silva.<br />

O primeiro número da segunda série teria quarenta e oito páginas, das quais<br />

dez estariam destinadas à publicidade no sentido de minimizar aos custos de edição.<br />

Henrique Perdigão ambicionou desenvolver uma revista de Crítica, para além da<br />

Literatura, da Arte, do Turismo e do Cinema. Para a sua seção literária, a revista<br />

tinha já garantida a participação de Campos Lima e de António Ramos de Almeida.<br />

Havia sido ainda solicitado a outras livrarias, designadamente à Livraria Portugália,<br />

de Lisboa, o envio de obras para crítica e apresentadas as diretrizes de inclusão de<br />

anúncios publicitários:<br />

“[...] vai reaparecer brevemente a Revista “Latina”, editada por n/ Casa, mas que<br />

vamos pôr, não a serviço nosso, mas das Letras, em geral, e de todos os n/ colegas,<br />

(e, por consequência, dos amigos, muito particularmente) mantendo nela uma secção<br />

desenvolvida, de crítica, que confiamos a 2 entidades idóneas e suficientemente<br />

conhecidas do n/ meio: os Drs. Campos Lima (pai) e Ramos de Almeida. Nesta<br />

conformidade estimaríamos que, de futuro, nos enviassem, para crítica, todas as<br />

v/ edições que desejassem ver referenciadas naquela secção e, independentemente<br />

disso, nos dessem sugestões de assuntos de interesse geral que nas páginas da citada<br />

revista devessem ser tratados com proveito para as Letras, para os autores e para nós<br />

próprios, editores. Estas nossas linhas teem, pois, duplo fim: dar-lhes conhecimento<br />

directo do que pretendemos fazer e pôr a «Latina» à inteira disposição dos amigos,<br />

pois que vossa ela passará, de certo modo, a ser, também, de futuro.


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

Se bem que discreta, a revista vai ter, ainda, um pouco de publicidade, pois<br />

impossível nos seria, sem ela, equilibrar a receita com a despeza. [...] Devemos<br />

esclarecer que os anúncios de página inteira (cujo custo em papel «couché» é de Esc.<br />

500$ e em «vergé» 450$) devem tanto quanto possível ser artísticos e, a levar gravura,<br />

destinados somente a pag. «couché» [...]” 49 .<br />

Sobre o artigo de António Ramos de Almeida, em carta de 21 de fevereiro de<br />

1944, Henrique Perdigão constata a excelência e a extensão do seu texto:<br />

“Prezado Amigo Sr. Dr. Ramos de Almeida<br />

Estou embaraçadíssimo e não sei, francamente, como resolver este «bico de<br />

obra». O seu artigo está excelente e agradou-me sob todos os pontos de vista, mas<br />

a extensão que lhe deu é absolutamente incomportavel com o tamanho da Revista,<br />

que tem só, como lhe disse, 48 pág., ou melhor, 38 pois que 10 são de anúncios.<br />

Ora, nessas 38 pág. ha literatura, ha arte, ha turismo e ha cinema, visto que não<br />

vamos fazer uma revista só de crítica, ainda que a crítica seja a parte que desejo mais<br />

desenvolvida.<br />

O seu artigo dá mais de meia duzia de páginas e ha também que contar com<br />

o do Dr. C. Lima, que já aqui tenho, e que pouco menos que isso dará. Para onde<br />

iríamos, assim?<br />

Ora, ha colaboração importante que não podemos pôr de parte, pois que ela<br />

nos vem trazer um número de leitores talvez maior que a crítica, pelo que – repito<br />

– não vejo possibilidade de resolvermos o caso a não ser desta maneira: ser o artigo<br />

alterado.<br />

Seja, porém, qual fôr a solução ela urge e, assim, pedia-lhe que sobre o caso<br />

me dissesse o que se lhe oferecesse, com a maior brevidade possivel. O ideal seria, se<br />

pudesse, chegar até cá para pessoalmente nos entendermos, inclusivamente a respeito<br />

do caso da edição do seu livro de versos” 50 .<br />

63<br />

Apesar de todos os esforços, o objetivo de Henrique Perdigão não foi conseguido<br />

e a Revista Latina não passou do limbo, porquanto “a Censura à Imprensa impediu-o<br />

de satisfazer esse desígnio. Henrique Perdigão não oferecia garantias ao regime...<br />

Estávamos em 1944” 51 . Foi precisamente em setembro desse ano que, regressando<br />

de uma viagem ao Brasil onde se deslocara para adquirir para a sua Livraria e para<br />

distribuição em Portugal uma avultada quantidade de livros de escritores brasileiros e<br />

traduções de autores estrangeiros, sofreu um trágico acidente de avião.<br />

49 Carta remetida pela Livraria Latina Editora à Livraria Portugália, Lisboa, em 9 de fevereiro de 1944.<br />

50 Carta remetida por Henrique Perdigão a António Ramos de Almeida, em 21 de fevereiro de 1944.<br />

51 <strong>RAMOS</strong>, Manuel – Editor Henrique Perdigão: um homem que honrou o Porto: a propósito do seu centenário. Jornal de<br />

Notícias. Porto, ano 102, n.º 20 (21 de junho de 1989) p. 10.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

64<br />

Ao pretendermos descortinar alguns contextos editoriais e as dinâmicas sociais,<br />

culturais e políticas em que as obras de António Ramos de Almeida, editadas pela<br />

Livraria Latina Editora, foram concebidas e se desenvolveram, podemos concluir<br />

que a Latina, ao assumir-se desde o primeiro momento como chancela de mediação<br />

cultural, atuou como agente ativo na esfera das ideias. Através dos documentos<br />

apresentados, pertencentes ao espólio de Henrique Perdigão, afiguraram-se alguns<br />

aspetos que podem iluminar o papel da Livraria Latina Editora, permitindo-nos<br />

perspetivar o alcance das suas publicações, os canais de circulação das obras do autor,<br />

o vigor e a amplitude com que foram comercializadas a par da oferta estratégica das<br />

suas edições. Possibilitaram-nos ainda concluir que não se restringiram aos limites do<br />

círculo portuense, onde foram editadas, mas, pelo contrário, o processo acabou por<br />

ser necessariamente extensivo a todo o país.<br />

A Livraria Latina Editora procurou ter ao seu alcance formas diversas de levar<br />

o livro aos leitores. Prosseguiu deliberadamente um plano alicerçado em dispositivos<br />

estratégicos tentando estimular o público para a sua leitura e aquisição. A título de<br />

exemplo, a coleção Cadernos Azuis, à semelhança de outras coleções, configurou um<br />

padrão a partir da proposição de um modelo que unificou, gráfica e esteticamente,<br />

a relação dos seus números organizando simultaneamente os campos de conceção<br />

e produção. Com propósitos de inserção no tecido social e imbuída de mecanismos<br />

de intervenção editorial na cultura e na sua configuração, programática e estética,<br />

a Latina adotou diversas fórmulas de exponenciar a promoção e difusão das suas<br />

edições. A par da publicidade dos seus títulos, nos principais jornais nacionais, os<br />

comentários inseridos, sistemática e estrategicamente, nas contracapas e badanas<br />

refletem assíduas e repetidas alusões às suas obras publicadas ou a publicar, dando a<br />

conhecer o estatuto e a qualidade intrínseca da Livraria Editora, o mérito do autor e<br />

das suas obras.<br />

Os mecanismos de propagação da sua intervenção editorial na cultura<br />

estabeleceram-se ainda na base das relações da Latina com os meios de comunicação<br />

social. Na imprensa podemos encontrar, com diferentes narrativas e discursos,<br />

o impacto das obras de António Ramos de Almeida nas principais publicações<br />

periódicas portuguesas, de que se destacam O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro,<br />

o Jornal de Notícias e a Gazeta Literária, do Porto; o Diário de Lisboa, o Diário Popular,<br />

o Jornal do Comércio, O Século Ilustrado, Brotéria e A Vida Mundial Ilustrada, de Lisboa;<br />

a Gazeta de Cantanhede; O Ilhavense, de Ílhavo; O Setubalense; a Estrela do Minho, de Vila<br />

Nova de Famalicão; a Gazeta de Coimbra; O Comércio da Póvoa de Varzim; O Figueirense,<br />

da Figueira da Foz, a Democracia do Sul, de Évora, a Semana Tirsense, de Santo Tirso<br />

e o Beira Vouga, de Albergaria-a-Velha. Atendendo a que uma parcela substantiva<br />

da história contemporânea emerge nas páginas da imprensa escrita, a compilação<br />

desses registos permitiu recolher a influência e a repercussão das obras de António<br />

Ramos de Almeida na imprensa na época em que foram editadas pela Livraria Latina<br />

Editora. Desde a credenciação editorial até às críticas acesas, conduzidas por visões


António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />

sustentadas, ou meras notas informativas, desprovidas de análise, podemos colher a<br />

notícia dos acontecimentos, a informação mais ou menos especializada e verificar o<br />

reflexo das e nas mentalidades.<br />

65


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

66<br />

António<br />

Ramos de Almeida<br />

e o Brasil<br />

Valéria paiva


António Ramos de Almeida e o Brasil | valéria paiva<br />

António Ramos de Almeida e o Brasil<br />

Valéria Paiva 1<br />

receção, em Portugal, da literatura de caráter social produzida no Brasil a partir<br />

A dos anos 1930 marcou uma inflexão no contexto mais amplo de intercâmbio<br />

luso-brasileiro então em curso, restringindo em alguma medida seu escopo para<br />

incorporá-lo ao debate sobre a função social da arte e essa inflexão, por sua vez,<br />

esteve relacionada à emergência e consolidação do neorrealismo como movimento<br />

cultural. É que, em meio à polêmica levada a cabo entre os jovens escritores que<br />

viriam a ser conhecidos como neorrealistas e os escritores ligados à revista Presença,<br />

a literatura social brasileira acabaria servindo como modelo para uma “literatura<br />

humana”. Contraposta à “literatura viva”, presencista, ela contribuiria, assim, para<br />

a definição de um novo paradigma literário que pretendia ser também uma crítica<br />

filosófica da cultura, entendida como o espaço simbólico de encontro entre a<br />

sociedade e a política.<br />

O fato de que o neorrealismo não contasse ainda com uma produção literária<br />

própria foi apontado, na época, e ainda o é, hoje em dia, como uma das prováveis<br />

razões para que os jovens escritores tenham prestado tanta atenção à literatura social<br />

brasileira dos anos 1930. Ademais, revelando o caráter dinâmico de qualquer processo<br />

de receção literária, a própria polêmica entre neorrealistas e presencistas acabaria por<br />

incidir também sobre a repercussão que essa literatura teria em Portugal. Entre 1937 e<br />

1939, são publicados inúmeros artigos que tratavam de obras e de escritores brasileiros,<br />

alguns já bastante conhecidos, como Jorge Amado e José Lins do Rêgo, e outros que<br />

se tornariam conhecidos a partir de então, como Erico Veríssimo, Graciliano Ramos<br />

e Jorge de Lima, por revistas que já podiam ser associadas, na época, ao movimento<br />

neorrealista, como Sol Nascente e O Diabo, mas também, por exemplo, pela Revista de<br />

Portugal, próxima ao grupo da Presença.<br />

António Ramos de Almeida que, muitos anos mais tarde, daria testemunho<br />

de seu envolvimento, na primeira metade da década de 1930, com a circulação de<br />

ideias que posteriormente conformariam o neorrealismo, publicaria na revista Sol<br />

Nascente, em agosto e dezembro de 1938, dois artigos que tratavam da nova literatura<br />

brasileira e dos escritores que, em suas palavras, podiam ser considerados então como<br />

seus principais intérpretes: Jorge Amado, Amando Fontes e José Lins do Rêgo 2 .<br />

Analisando os últimos três romances publicados por Jorge Amado – Capitães de Areia,<br />

Mar Morto e Jubiabá –, o que mais chamava a atenção de António Ramos era a maneira<br />

como o romancista conseguia retratar de maneira realista um ambiente de miséria<br />

e preconceitos dentro do qual, no entanto, se moviam personagens carregados<br />

de poesia e de sonho. Mais do que isso: em Jorge Amado, a opressão gerada por<br />

67<br />

1 Pós-doutoranda no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX - CEIS20 da Universidade de Coimbra.<br />

2 Sobre o testemunho de António Ramos de Almeida, ver Pita, António Pedro. Conflito e Unidade no Neo- realismo Português:<br />

arqueologia de uma problemática. Porto: Campo das Letras, 2002, especialmente p. 192-207, “O ensaísmo de António<br />

Ramos de Almeida: alguns tópicos”.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

68<br />

esse ambiente de miséria e preconceito acabava paradoxalmente por constituir um<br />

dispositivo que permitia ao herói romancesco reagir contra a situação a que estava<br />

submetido. Nesse sentido, concluía ele: “Jorge Amado dá-nos em toda a sua obra<br />

aquilo que um jovem crítico português chamou muito bem: sentido heroico da vida.<br />

As misérias, as desgraças, a dor, não esmagam o homem mas sim são a mola essencial<br />

do sonho que os eleva e liberta” 3 .<br />

Em Os Corumbas, romance de estreia de Amando Fontes, somos apresentados a<br />

uma família que migra do interior à capital do estado de Alagoas buscando escapar da<br />

miséria. Como tragédia, todo esforço dos personagens para melhorar de vida era inútil<br />

porque, indo de encontro a forças desconhecidas, sua ação acabaria levando-os, ao final<br />

do romance, a uma situação ainda mais degradante que a inicial. Não estaríamos, pois,<br />

diante de uma história carregada de poesia e em que os personagens eram arrastados<br />

pelo sonho, como em Jorge Amado, diria António Ramos. Ainda que as personagens<br />

de Amando Fontes tivessem aquela porção de esperança necessária à vida, como<br />

qualquer ser humano, o que ressaltava em seu romance era a crua objetividade e a<br />

extrema imparcialidade com que narrava a história: “Amando Fontes não toma parti-pris<br />

frente aos seus personagens, não os favorece, não os precipita, deixa-os viver através<br />

de suas páginas tão naturalmente como na vida, abandonados às circunstâncias e às<br />

emergências do cotidiano” 4 .<br />

José Lins do Rêgo, cujo romance de estreia – Menino de Engenho, de 1932 – havia<br />

chegado às mãos de Ramos de Almeida já em 1933, era provavelmente o autor mais<br />

representativo dos romances cíclicos em voga no Brasil e talvez o mais sociológico<br />

dentro os novos romancistas, ao assumir o Nordeste como seu grande personagem<br />

e retratar, no ciclo da cana de açúcar, a decadência de toda uma forma de vida, como<br />

consequência da passagem do engenho à usina. Ademais, para Ramos de Almeida, em<br />

José Lins era claramente percetível uma caraterística presente, no entanto, em todos os<br />

romances e romancistas novos do Brasil, qual seja que as diferenças sociais remetiam<br />

aí a degraus do ponto de vista econômico, sem que chegasse a haver uma verdadeira<br />

diferenciação de classes no sentido cultural, como a que existia na Europa. Nesse<br />

sentido, todos os personagens “[...] vivem sem verdadeiros abismos, sem diferenças<br />

subtis de psicologia ou de cultura, sem as lutas de antagonismo latente e profundo<br />

que se verificam nas consciências de classe do velho mundo. Tudo é apenas uma<br />

diferenciação de posição social, mas onde só existem os degraus do econômico” 5 .<br />

De maneira explícita, no caso de Jorge Amado, e implícita, no de Amando<br />

Fontes, vê-se como António Ramos faria uso, nesses textos – como continuaria<br />

fazendo, anos depois –, das noções de neorromantismo e neorrealismo, tal como<br />

3 Almeida, António Ramos de. “O romance brasileiro através dos seus principais intérpretes, Jorge Amado”, Sol Nascente,<br />

N o 31, 15 de agosto de 1938, p. 7.<br />

4 Almeida, António Ramos de. “O Romance brasileiro contemporâneo, através dos seus principais intérpretes II, Amando<br />

Fontes e José Lins do Rêgo”, Sol Nascente, N o 32, 1o de dezembro de 1938, p. 6.<br />

5 Idem, ibidem, p. 7.


António Ramos de Almeida e o Brasil | valéria paiva<br />

elas seriam definidas por Joaquim Namorado 6 . E isso antes mesmo que os artigos<br />

de Namorado viessem à luz, confirmando a amizade que ligava os dois escritores e<br />

sugerindo também o papel deste último na organização de uma ação conjunta para a<br />

afirmação de um novo paradigma dentro do meio literário português. Assim mesmo,<br />

havia uma diferença em relação a Joaquim Namorado para a qual vale a pena chamar<br />

a atenção: é que, para Ramos de Almeida, o romance social brasileiro não era tão<br />

somente uma solução estética, ou um modelo de uma literatura humana em língua<br />

portuguesa. Seu caráter espontâneo e vivo, isto é, realista, tinha uma razão de ser que<br />

lhe importava explicar e que se explicava, para ele, em função da ausência de requinte<br />

como diferencial do novo mundo, desprovido do intelectualismo da velha Europa:<br />

“Quere dizer: o romance do Brasil não contém o requinte – teimo nesta palavra<br />

porque é significativa e precisa – mas em compensação possui outras forças ocultas<br />

que o dinamizam” 7 .<br />

O interesse pela história do Brasil – que permitiria, em última instância,<br />

compreender o caráter realista de sua moderna literatura – apareceria de maneira<br />

mais clara na análise da obra de José Lins do Rêgo. No Brasil, não haveria uma<br />

consciência de classe suficientemente desenvolvida que, correspondendo às<br />

diferentes posições sociais, permitisse encontrar, especialmente no caso da burguesia,<br />

as nuances de psicologia e cultura que encontrávamos nos personagens dos romances<br />

europeus, incluindo aí os romances portugueses. Os personagens dos romances<br />

brasileiros eram simples e bárbaros, e toda a problemática desses romances podia<br />

ser resumida às questões amorosas, à vivência de uma religiosidade mágica e à busca<br />

da liberdade como contrapartida de um sistema escravocrata formalmente abolido,<br />

mas socialmente vigente. O romance do Brasil não continha requinte, vale repetir,<br />

mas em compensação, devido às circunstâncias históricas e econômicas do país, tinha<br />

algo que os modernos romances europeus pareciam não ter – uma ânsia de liberdade,<br />

que era o sonho individual dos personagens centrais nele retratados e, para António<br />

Ramos de Almeida, dos próprios brasileiros.<br />

Nesses dois artigos publicados na revista Sol Nascente, em 1938, Ramos de<br />

Almeida opera com uma visão do fenômeno literário que, se não deixava de estabelecer<br />

uma relação causal entre estrutura e superestrutura enquanto esboço de uma teoria do<br />

romance, acabava paradoxalmente restringindo a noção de cultura à de consciência<br />

de classe e, se não é extrapolar demasiado, da classe burguesa: no Brasil, as diferenças<br />

sociais remetiam somente a degraus do ponto de vista econômico, os personagens<br />

dos romances brasileiros eram “simples, “bárbaros”... No mesmo sentido, afirmava,<br />

não existia entre Portugal e o novo romance brasileiro esse “[...] tabu de admiração<br />

que é o nos sentirmos retratados, analisados, sublimados esteticamente pelo talento<br />

e o gênio de um romancista” 8 . Apesar de sua condição peninsular, Portugal era visto<br />

69<br />

6 Nos referimos aos artigos de Joaquim Namorado, “Do neo-realismo: Amando Fontes”, publicado em O Diabo, N o 223, 31<br />

de dezembro de 1938; e “Do Neo-Romantismo: o sentido heroico da vida na obra de Jorge Amado”, Sol Nascente, Nº43-44,<br />

fevereiro-março de1940.<br />

7 Almeida, A. R., “O romance brasileiro através dos seus principais intérpretes, Jorge Amado”, opus cit., p. 7<br />

8 Almeida, A. R., “O Romance brasileiro contemporâneo, através dos seus principais intérpretes II, Amando Fontes e José<br />

Lins do Rêgo”, opus cit., p.7.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

70<br />

pelo autor como compartilhando a mesma angústia cultural que a Europa vivia –<br />

uma opinião que, bem vistas as coisas, não se distanciava tanto da posição sustentada<br />

por José Régio na famosa polêmica com Álvaro Cunhal e para quem o primitivismo<br />

caraterístico à literatura brasileira era plenamente compreensível, e mesmo aceitável,<br />

se considerássemos que se tratava de um país “jovem” 9 .<br />

Esse ponto é interessante. Já na década de 1940 – nas conferências que seriam<br />

posteriormente reunidas no livro Para a Compreensão da Cultura no Brasil, publicado em<br />

1950 –, o vocabulário relacionado ao primitivismo praticamente desapareceria dos<br />

textos de António Ramos de Almeida que diziam respeito ao Brasil e a distância entre<br />

Portugal e o novo romance brasileiro seria sutilmente reincorporada num quadro mais<br />

amplo que, pode-se supor, fosse o do capitalismo mundial. Assim, apesar de todas<br />

as diferenças que seguiam existindo entre os dois países, já então era oportuno e útil<br />

assinalar também “[...] seus pontos de contatos e de semelhança, sobretudo naquele<br />

particular em que são idênticos todos os problemas estruturais e superestruturais que<br />

se levantam numa certa forma de sociedade e de cultura” 10 .<br />

Para além da questão do primitivismo, o que parece importante sublinhar<br />

aqui é que, ao assumir uma perspetiva mais ampla, na qual Portugal e Brasil não<br />

deixavam de compartilhar a condição de países periféricos, Ramos de Almeida<br />

acabaria modificando em alguma medida sua interpretação do romance de 30, melhor<br />

dizendo, do seu significado dentro da história literária do Brasil, no que dizia respeito<br />

à sua evolução econômica, política e social, mas também do sentido que ele poderia<br />

assumir para a intelectualidade portuguesa. Já no final da conhecida conferência<br />

“A Nova Descoberta do Brasil”, de 1944, vemos que, ademais de farol para onde<br />

caminhava a moderna literatura, enquanto ânsia de superar a herança escravocrata, a<br />

liberdade passa a significar igualmente consciência da própria personalidade e essa era,<br />

finalmente, a grande descoberta de que valia a pena falar, conquanto descoberta de<br />

si mesmo: “O farol, o rio, o mar, isto é, a essência humanística da moderna literatura<br />

brasileira é a Liberdade. E Liberdade quere dizer consciência de personalidade” 11 .<br />

Esse ponto reaparece de maneira ainda mais consequente na conferência “A Conquista<br />

da Expressão Brasileira”, de 1948. Tomando a moderna literatura brasileira, como o cume<br />

de um longo processo, o autor recorre à história literária do Brasil – especialmente a que<br />

começa depois da Independência, com o Romantismo – para mostrar como a conquista<br />

de uma expressão própria foi o resultado de um avanço lento, mas progressivo, cuja<br />

“solução necessária”, em suas palavras, tinha de ser o encontro entre a forma e o conteúdo<br />

representado pelo romance social 12 . Nesse processo, algumas etapas e movimentos haveriam<br />

9 Cf. Régio, José. “Cartas Intemporais do Nosso Tempo XI: a um moço camarada, sobre qualquer possível influência do<br />

romance brasileiro na literatura portuguesa”. Seara Nova, 29 de abril de 1939.<br />

10 Almeida, António Ramos de. Para a Compreensão da Cultura no Brasil. Porto: Maranus, p. 127.<br />

11 Idem, ibidem, p. 60.<br />

12 “A libertação do Povo Brasileiro identifica-se com a libertação de todos os outros povos do mundo. O “índio” de Gonçalves<br />

Dias, o “Escravo” de Castro Alves, o “Sertão” de Euclides da Cunha, o Folclore dos Modernistas, foram sucessivos degraus,<br />

sucessivas etapas, sucessivas fases de um mesmo movimento. O Romance brasileiro é o fim, o términus, a solução necessária”,<br />

Idem, ibidem, p. 162.


71<br />

CAT 60<br />

CAT 62<br />

CAT 60<br />

[António Ramos de Almeida cumprimenta<br />

Jânio Quadros eleito Presidente da República<br />

Brasileira, em visita a Portugal] Portugal]. -<br />

[1961?]. – 1 Foto: sépia; 17 x 23 cm<br />

col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

CAT 62<br />

[António Ramos de Almeida com o ilustre<br />

romancista brasileiro, Erico Veríssimo]. –<br />

Porto: M. Teixeira, [1959]. – 1 Foto: sépia;<br />

22,5 x 16,5 cm<br />

col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

CAT 164<br />

A nova descoberta do Brasil / António Ramos<br />

de Almeida. - Porto : Editorial Fenianos, 1944<br />

. - 58 p. ; 19 cm. - (Editorial Fenianos ; 1)<br />

Conferência lida em 3 de Maio de 1944, no<br />

salão nobre do Clube Fenianos Portuenses. -<br />

Com dedicatória do autor a Álvaro Salema<br />

MNR ALM/ENS/2524<br />

CAT 164


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

72<br />

sido especialmente significativos – como o Indianismo e o Modernismo – tanto por suas<br />

contribuições concretas no que dizia respeito à linguagem, quanto por levar ao limite as<br />

contradições entre a expressão e seu conteúdo, permitindo sua posterior superação.<br />

“A Conquista da Expressão Brasileira”, de 1948, dá, pois, um passo além de<br />

“A Nova Descoberta do Brasil”, de 1944, ao assumir uma chave de leitura dialética<br />

da história e da literatura brasileiras. Em 1944, por exemplo, o Modernismo é<br />

interpretado como um movimento essencialmente aristocrático que, munido de um<br />

espírito destruidor, havia preparado o terreno para o advento de 1930. E se Ramos<br />

de Almeida não parecia totalmente convencido de que o havia feito no que dizia<br />

respeito à política, quer dizer, à Revolução de 1930, não parecia ter dúvidas sobre<br />

sua importância para o surgimento de uma literatura de caráter social. Assinala-se,<br />

no entanto, que em relação à natureza do movimento, assim como às suas consequências,<br />

essas conclusões remetem diretamente à conferência de Mário de Andrade, “O Movimento<br />

Modernista”, proferida, de fato, muito pouco tempo antes, em 1942. Mesmo as expressões<br />

que Ramos de Almeida utilizava aí – “espírito destruidor”, “preparar terreno”, “advento<br />

de 1930” – eram retiradas do texto de Mário 13 .<br />

Já em 1948, ao falar sobre “A Conquista da Expressão Brasileira” de uma<br />

perspetiva histórica e, como queremos crer, dialética, o depoimento de Mário de<br />

Andrade é matizado e a interpretação de Ramos de Almeida ganha um novo sentido.<br />

Por um lado, o modernismo brasileiro apareceria então, para ele, como refém do<br />

paradoxo de ter uma base social aristocrática e, ao mesmo tempo, sustentar uma<br />

ideologia nativista. O melhor exemplo desse paradoxo havia sido a pretensão de se<br />

inventar uma língua do Brasil, como se, tal como a opção por versos livres, uma<br />

língua pudesse surgir por pura deliberação, como se uma língua fosse, ao final,<br />

meramente uma questão de forma. Por outro lado, um novo elemento é incorporado<br />

à análise, servindo como contraponto ao movimento modernista. Trata-se da tradição<br />

intelectual que, remontando ao início do século, se consolidaria definitivamente nos<br />

anos 1930 com as obras de Gilberto Freire, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque<br />

de Holanda, entre muitos outros, e que se tornaria posteriormente conhecida como<br />

ensaísmo sociológico.<br />

Para António Ramos de Almeida, enquanto os modernistas se ocuparam de<br />

destruir as fórmulas convencionais que, na literatura e na arte, não encontravam<br />

qualquer raiz na realidade – sem, contudo, construir nada de novo a partir dessa<br />

destruição –, os intelectuais mais progressivos do país haviam se lançado a uma<br />

pesquisa exaustiva dos fatores materiais e ideológicos que, no presente e no passado,<br />

condicionaram sua história e conformaram “[...] a ascensão do povo brasileiro através<br />

das diferentes escalas da sua própria libertação” 14 . O romance de 30 não era mais, pois,<br />

uma consequência mais ou menos “natural” do Modernismo, mas a síntese entre dois<br />

momentos que, por sua vez, ele superaria: “Esse duplo condicionalismo: destruição<br />

13 Cf. Andrade, Mário de. Aspectos da Literatura Brasileira. São Paulo: L. Martins Editora, 5ª Ed, 1974, p. 231-255.<br />

14 Almeida, António Ramos de. Para a Compreensão da Cultura do Brasil, opus cit., p. 155.


António Ramos de Almeida e o Brasil | valéria paiva<br />

das fórmulas, das rotinas, dos preconceitos formais, realizados pelo Modernismo,<br />

por um lado; pesquisa exaustiva de todos os fatores materiais e ideológicos que<br />

contribuíram para a evolução da realidade brasileira, por outro; preparava o advento<br />

do moderno romance brasileiro” 15 . Nos romances surgidos nos anos 1930, tanto a<br />

linguagem quanto o conteúdo já eram, pois, a afirmação da realidade nacional no<br />

seu conjunto, “[...] no todo do seu complexo, econômico, político, social, moral,<br />

ideológico” 16 . A partir desse ponto, quer dizer, desse encontro entre a expressão e<br />

seu conteúdo humano e social, o Brasil passava a ser visto como mais um povo livre<br />

que combatia lado a lado com outros povos pela liberdade. E sua literatura, para além<br />

de uma solução estética, representava um exemplo positivo e concreto do avanço<br />

progressivo da Cultura – assim, com letras maiúsculas.<br />

A análise do Modernismo e de sua relação com o romance social de 1930<br />

revela muito da transformação do pensamento de António Ramos de Almeida a<br />

respeito do Brasil, da literatura brasileira e do que ambos poderiam representar para<br />

a intelectualidade portuguesa. De exemplo literário, destacável pelo ajustado das suas<br />

soluções estéticas, mas condicionada por uma estrutura social em muitos sentidos<br />

arcaica, a literatura de 30 passaria a representar a progressiva conscientização de um<br />

país por meio de seus intelectuais 17 . Ademais, o fato de que possamos ver claramente,<br />

na conferência de 1948, três momentos distintos, dos quais um – o romance social<br />

– seria a síntese, vem associada à defesa de que a realidade evoluía dialeticamente.<br />

Esse esquema de leitura, que primeiro opera uma negação dialética para em seguida<br />

conduzir o ouvinte/leitor a um momento de síntese, afirmativo, pode ser identificado<br />

tanto num texto de juventude – como a conhecida conferência “A Arte e a Vida”, de<br />

1936 –, quanto nos ensaios que Ramos de Almeida escreveria sobre Eça de Queirós<br />

e Antero de Quental, também na década de 1940 18 .<br />

Assim mesmo, o que gostaríamos de destacar aqui é que, se essa era uma<br />

posição cara a Ramos de Almeida desde a juventude, somente ao longo dos anos<br />

ela serviria de base à interpretação que faria do Brasil e da literatura brasileira.<br />

De fato, se prestarmos atenção à estrutura argumentativa da conferência<br />

“A Conquista da Expressão Brasileira”, de 1948, vemos que esse esquema de<br />

leitura se restringe, ademais, ao romance dos anos 1930, quer dizer, às condições<br />

que tornaram possível sua emergência, não operando em todas as etapas que<br />

o antecederam e que ele acabaria incorporando enquanto “solução necessária”.<br />

No caso do Indianismo de Gonçalves Dias e José de Alencar, por exemplo, as<br />

contradições resultadas, por um lado, de um progressivo abrasileiramento da<br />

linguagem a que se aliava, por outro, uma representação idealizada do índio e<br />

abstrata da natureza como símbolos nacionais, seriam superadas pela obra individual<br />

de Castro Alves.<br />

73<br />

15 Idem, ibidem, p. 156.<br />

16 Idem, ibidem, p. 159.<br />

17 Para esse ponto chamou a atenção Armando Ventura Ferreira, ainda em 1945, ao recensear “A Nova Descoberta do Brasil”.<br />

Cf. Ferreira apud Pita, opus cit., p. 200.<br />

18 Sobre este ponto, ver Pita, opus cit., p. 205-206.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

74<br />

Mas seriam superadas em parte. A poesia abolicionista de Castro Alves<br />

constituiria “o melhor da poesia social e revolucionária que se escreveu na língua<br />

portuguesa” 19 . Entretanto, apesar de sua obra avançar em direção a uma representação<br />

mais realista da natureza e do amor, tampouco ele deixaria de ser, na defesa da causa<br />

abolicionista, um idealista, impulsionado “por certa megalomania doentia e ridícula,<br />

comum nos poetas românticos” 20 . Para utilizar uma expressão alheia ao pensamento<br />

de António Ramos de Almeida: Castro Alves havia sido um gênio, sim, mas, como<br />

qualquer escritor, estava inevitavelmente limitado pela “consciência possível” de sua<br />

própria época. Assim mesmo, a enorme importância atribuída à poesia abolicionista<br />

de Castro Alves chama a atenção se consideramos que, para Ramos de Almeida, o<br />

aprofundamento na realidade social que ela havia representado somente encontraria<br />

paralelo n´Os Sertões, de Euclides da Cunha, já no século XX. No processo de<br />

conquista da expressão brasileira, Machado de Assis, considerado até então como o<br />

maior romancista do Brasil, mas conhecido por defender uma arte desvinculada da<br />

política mereceria de António Ramos de Almeida apenas uma brevíssima referência<br />

de não mais de duas linhas.<br />

Ao longo deste texto procuramos lançar luz sobre a relação entre António<br />

Ramos de Almeida e o Brasil através do que ele pensou e escreveu sobre a literatura<br />

brasileira. Assumimos o neorrealismo como ponto inicial porque foi com a emergência<br />

desse movimento – e como parte integrante dele – que António Ramos iniciaria<br />

sua atividade crítica e poética, e porque é muito difícil pensar a receção da literatura<br />

brasileira em Portugal nos anos 1930 sem nos referirmos à importância a ela atribuída<br />

pelos jovens escritores que conformaram esse movimento. Na medida em que, ao<br />

final, ambas as coisas se entrelaçam, destacamos da sua produção como crítico, nesse<br />

período, dois artigos publicados na revista Sol Nascente – sobre Jorge Amado, Amando<br />

Fontes e José Lins do Rêgo.<br />

A presença de José Lins do Rêgo, lado a lado com aqueles que seriam considerados<br />

– por Joaquim Namorado – como autores paradigmáticos do romance social brasileiro<br />

deixava entrever que o interesse de António Ramos de Almeida pelo Brasil não se<br />

restringia ao contexto polêmico em que seus artigos foram publicados, nem tampouco<br />

à tentativa de definir, nesse contexto, um modelo do que deveriam ser os romances<br />

neorrealistas, ou neorromânticos. Desde essa época, importava-lhe também entender<br />

as razões próprias ao desenvolvimento social que tornaram possível a emergência no<br />

Brasil, antes mesmo que em Portugal, de um romance capaz de exprimir os dramas da<br />

sua época, assim como lhe importaria, mais tarde, entender o significado desse romance<br />

para a história literária brasileira pensada como uma totalidade.<br />

As conferências proferidas ao longo dos anos 1940 são, nesse sentido,<br />

significativas. Quando o neorrealismo português já havia dado – tanto na poesia quanto<br />

na prosa – algumas de suas importantes obras e a referência à literatura brasileira<br />

19 Almeida, António Ramos de Almeida, Para a Compreensão da Cultura no Brasil, opus cit., p. 147.<br />

20 Idem, ibidem, p. 148.


António Ramos de Almeida e o Brasil | valéria paiva<br />

não era mais necessária, quando a “novidade” brasileira já havia sido incorporada<br />

aos novos romances portugueses e um crítico do porte de Mário Dionísio podia<br />

mesmo se reportar ao seu excesso de sentimentalismo, Ramos de Almeida seguiria<br />

escrevendo e, mais importante do que isso, pondo ênfase sobre o seu significado,<br />

para o Brasil e face ao mundo 21 . Tanto no contexto de sua receção em Portugal, quer<br />

dizer, no período da gênese do neorrealismo como movimento cultural, quanto nas<br />

décadas seguintes, vale a pena destacar, pois, que a “moderna literatura brasileira” não<br />

deixaria de ser para António Ramos de Almeida uma referência constante.<br />

Uma análise mais aprofundada de seu pensamento requereria, certamente,<br />

considerar as críticas que publicou ao longo dos anos 1950 no Suplemento Literário<br />

do Jornal de Notícias do Porto, assim como a rede de sociabilidade que sempre o ligaria,<br />

direta ou indiretamente, ao Brasil. As conferências que foram posteriormente reunidas<br />

no livro Para a compreensão da cultura no Brasil, por exemplo, ou foram prefaciadas<br />

por cônsules brasileiros, ou pronunciadas em sua presença. Merece destaque, nesse<br />

sentido, a correspondência, encontrada no espólio de Ramos de Almeida, referente a<br />

um “Clube” – assim, entre aspas – de cidadãos luso-brasileiros do Porto e ao Porto<br />

como capital natural do Luso-brasilianismo. Merece destaque, também, sua amizade<br />

com Renato de Mendonça que, além de cônsul, foi um estudioso da influência africana<br />

no português do Brasil e um divulgador da cultura brasileira no meio universitário<br />

estrangeiro.<br />

Nessa altura, contudo, em que a arte parece se encontrar com a vida, talvez não<br />

seja de todo mal, para terminar, voltar ao início, à descoberta primeira e “ingênua” do<br />

Brasil, à infância passada no Recife, evocada e reencontrada, muitos anos mais tarde,<br />

nos versos de Manuel Bandeira:<br />

Recife<br />

Não a Veneza americana<br />

Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais<br />

Não o Recife dos Mascates<br />

Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois –<br />

Recife das revoluções libertárias<br />

Mas o Recife sem história nem literatura<br />

Recife sem mais nada<br />

Recife da minha infância 22<br />

75<br />

21 Mário Dionísio se referiria ao caráter descritivo-sentimentalista da literatura brasileira muitos anos mais tarde, ao comentar<br />

a chegada da nova literatura estadunidense em Portugal no início dos anos 1940 e sua “influência” tanto sobre a composição<br />

de O Dia Cinzento, quanto com o que ocorreria daí em diante com o neorrealismo. Cf. Dionísio, M. Autobiografia. Lisboa:<br />

Edições “O Jornal”, 1987, p. 34.<br />

22 Bandeira, Manuel apud Almeida, A. R. Para a Compreensão da Cultura no Brasil, opus cit., p. 15.


76<br />

A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida


Referências Biográficas<br />

António Ramos de Almeida - Referências Biográficas 1<br />

… politicamente, liberal com a grande fé e o grande entusiasmo de um progressista convicto da<br />

sua doutrina socializante; literariamente, um dos mais audazes pioneiros do neo-realismo lusitano,<br />

“rugido de leão” na larga inspiração de uma nova era para a arte portuguesa; finalmente um<br />

devotado talento ao estudo das matérias sociais…<br />

In “Dr. Ramos de Almeida”, Caderno de Cultura - Suplemento do Jornal de Vila do<br />

Conde – n.º 306, 10 outubro 1985, p. 1.<br />

77<br />

António Ramos de Almeida nasceu a 18 de março de 1912, na cidade de Olinda,<br />

Estado de Pernambuco, Brasil. Filho de Serafim Martins de Almeida, emigrante<br />

português natural de Vila do Conde, no Brasil desde os 13 anos, e de Beatriz da<br />

Silva Ramos, brasileira de ascendência portuguesa, (o pai, António de Silva Ramos, é<br />

também um emigrante português, natural da freguesia de Árvore do concelho de Vila<br />

do Conde). Para além de António, o casal teve dois outros filhos, Serafim Martins de<br />

Almeida Júnior e Rosa Amélia Ramos de Almeida.<br />

Evocando esse tempo longínquo de uma infância impregnada de sons, cheiros<br />

e afetos caraterísticos da sua terra natal, António Ramos de Almeida recordaria mais<br />

tarde “[...] tudo que era simples, inefável, fácil e bom dos tempos da minha infância:<br />

brinquedos, canções, fantasmas, histórias, recordações, pessoas [...]” 2 .<br />

Aos 9 anos de idade (1921) e após ter frequentado uma escola particular, António<br />

Ramos de Almeida ingressa no Colégio Salesiano do Sagrado Coração de Jesus, no<br />

Recife. Nesse mesmo ano, a família Ramos de Almeida havia visitado Portugal, onde<br />

permaneceu por um período longo por motivos de saúde do pai de António.<br />

Em Agosto de 1924, Serafim Martins de Almeida abandona o Brasil,<br />

embarcando com a família a bordo do paquete brasileiro “Rui Barbosa”, rumo a<br />

Portugal e instalando-se em Vila do Conde.<br />

Até ao que, então, se designava como 5.º ano do liceu, António Ramos de<br />

Almeida e os seus irmãos estudam, em regime de internato, no Grande Colégio<br />

Universal, no Porto, concluindo António Ramos de Almeida esta fase de estudos no<br />

Colégio Almeida Garrett, na mesma cidade.<br />

É nesta época que António Ramos de Almeida conhece e convive com uma<br />

tertúlia de intelectuais onde figuram nomes como os de Casais Monteiro e José<br />

Marinho, entre outros, então estudantes da antiga Faculdade de Letras do Porto, que<br />

se juntavam habitualmente num dos cafés da baixa portuense, também frequentados<br />

por catedráticos como Leonardo Coimbra e Teixeira Rego.<br />

1 Composto com base no conjunto de textos publicados sob o título “Dr. Ramos de Almeida”, de Celso Pontes, em: Caderno<br />

de Cultura - Suplemento do Jornal de Vila do Conde - n.ºs 297 a 307, 18 julho 1985 a 17 outubro 1985.<br />

2 In “Dr. Ramos de Almeida”, Caderno de Cultura - Suplemento do Jornal de Vila do Conde – n.º 297, 18 julho 1985, p. 3.<br />

CAT 12


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

78<br />

CAT 3<br />

CAT 2<br />

CAT 3<br />

CAT 3<br />

[António Ramos de Almeida aos 7 anos de<br />

idade]. – [Recife], [1919]. – 1 foto: sépia; 4,5<br />

x 5,5 cm<br />

Com dedicatória no verso a “Á titia Isabel,<br />

com muitos beijos, oferecem os sobrinhos<br />

muito amiguinhos”<br />

col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

CAT 2<br />

[António Ramos de Almeida em bebé]. –<br />

[Recife], [1912] – 1 foto: sépia; 10,5 x 6,4 cm<br />

col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

CAT 6<br />

CAT 6<br />

[Fotografia de António Ramos de Almeida<br />

com seu Pai, sua Mãe e outros familiares]. –<br />

Vila Conde. - Casa Arizal, Alberto Henriques,<br />

[1950]. – 1 Foto: p&b; 8,5 x 5,5 cm<br />

col. Mª Antónia Ramos de Almeida


Referências Biográficas<br />

Em outubro de 1932, António Ramos de Almeida matricula-se no 1.º ano da<br />

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Ao longo de seis anos, a par dos<br />

estudos e com algum prejuízo futuro dos mesmos, colabora em jornais e revistas<br />

literárias de Coimbra, afirmando o seu caráter de intelectual progressista e atento aos<br />

problemas de um país enclausurado num regime ditatorial.<br />

Em julho de 1938 conclui a licenciatura em Direito, com uma tese inovadora<br />

para os padrões da época, intitulada “A Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen”,<br />

publicada no Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em<br />

1939.<br />

Datam de 1938 e 1939, respetivamente, os seus livros de poesia, intitulados<br />

“Sinal de Alarme “ e “Sinfonia de Guerra”.<br />

Regressa a Vila do Conde em 1939, no contexto da II Grande Guerra e, a 5 de<br />

setembro do ano seguinte, é celebrado o seu casamento com Maria Idalina Fernandes<br />

Carvalho. O casal terá três filhas: Ana Maria, Maria Manuel e Maria Antónia.<br />

Inicia nessa época um exaustivo estudo sobre a vida, o pensamento e a obra de<br />

Antero de Quental, publicado sob a forma de ensaio nos “Cadernos Azuis”, em três<br />

opúsculos, que a censura rapidamente condena e que a PI<strong>DE</strong> apreende, proibindo a<br />

sua circulação.<br />

Em março de 1941 escreve o ensaio “A Arte e a Vida”, também publicado em<br />

opúsculo.<br />

No âmbito da conferência que proferiu em 3 de maio de 1944 no Consulado<br />

Brasileiro, publica o ensaio apresentado na ocasião, intitulado “A Nova Descoberta<br />

do Brasil”.<br />

Em 1944, publica o livro de poemas “Sêde”.<br />

Em abril de 1950, muda a sua residência para o Porto, instalando-se, com a<br />

família, no 3.º andar de um prédio na Avenida Fernão de Magalhães.<br />

Entre 1950 e 1961, desenvolve, a par da carreira de advogado, intensa atividade<br />

como jornalista e colaborador – nomeadamente enquanto crítico literário – de vários<br />

periódicos e revistas. António Ramos de Almeida cedo manifestou o seu caráter de<br />

humanista e um profundo entusiamo pela política, como pela sociologia, literatura<br />

e arte. Nos jornais, destaque-se a sua colaboração em títulos como: “República”,<br />

“Diário de Lisboa”, “O Primeiro de Janeiro”, “Diário Popular” e “Jornal de Notícias”<br />

(onde chega a dirigir um suplemento literário semanal). Assinale-se também a sua<br />

colaboração assídua, como crítico literário, em jornais e revistas de cariz cultural e<br />

pendor claro de luta contra o regime, como “Seara Nova”, “Presença, “O Diabo”,<br />

“Sol Nascente”, “Manifesto” e “Vértice”.<br />

Em 1951, com apenas 39 anos de idade, os primeiros sintomas de doença<br />

atingem a vida de António Ramos de Almeida, não deixando, desde então, de se<br />

agravar o seu estado de saúde. Tal não o impediu, no entanto, de se envolver de modo<br />

79


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

80<br />

CAT 11<br />

CAT 9<br />

[António Ramos de Almeida, jovem<br />

estudante]. - [Coimbra]: [s. n.: s. d.] ]. – 1 Foto:<br />

sépia; 15,5 x 9 cm<br />

col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

CAT 9<br />

CAT 11<br />

[Caderno de apontamentos] A teoria pura do<br />

Direito / [António Ramos de Almeida]. – [S.<br />

l.: s. d.]. – 1 Caderno: orig. ms.: [91] fl.; 21,5<br />

x 16,5 cm<br />

Apontamentos, manuscritos, para o trabalho<br />

final de licenciatura, “ A teoria pura do<br />

Direito”<br />

col. Mª Antónia Ramos de Almeida


Referências Biográficas<br />

profundo e entusiasta em atividades de teor político e cultural, traduzindo umas e<br />

outras a sua postura de humanista e o seu espírito combativo face ao regime vigente.<br />

Membro do MUD (Movimento de Unidade Democrática), participa ativamente nas<br />

campanhas eleitorais das candidaturas presidenciais do Prof. Egas Moniz, do General<br />

Norton de Matos, do Almirante Quintão Meireles e do General Humberto Delgado.<br />

É ainda nestes anos que compõe um laborioso estudo sobre a vida e obra de<br />

Eça de Queiroz, publica o livro “Para a compreensão da cultura no Brasil” e conclui<br />

um trabalho sobre Bernardino Machado, apenas publicado após o 25 de abril de<br />

1974.<br />

Em julho de 1960, durante uma viagem pela Galiza, mais precisamente em<br />

Orense, a doença agrava-se. É internado em Espinho, numa Casa de Saúde dirigida<br />

pelo seu amigo, o médico Gomes de Almeida. Em dezembro desse mesmo ano<br />

morre a sua mãe, facto que vem debilitar ainda mais o já frágil estado de saúde de<br />

Ramos de Almeida.<br />

Por estes dias, escreve ao amigo brasileiro Paulo Cavalcanti, manifestando-lhe<br />

o seu desejo em rever a terra onde nasceu, Olinda, e com a qual manteve, ao longo<br />

da vida, forte relação, aliás bem patente nos inúmeros artigos e ensaios que escreveu<br />

acerca da vida económica e social, mas também da cultura popular do Brasil.<br />

A 18 de março de 1961, no dia em que completava 49 anos de idade, António<br />

Ramos de Almeida sofre um acidente cérebro-vascular, que determina a sua morte no<br />

dia 24 do mesmo mês, no Hospital da Ordem da Santíssima Trindade, no Porto.<br />

É velado em câmara ardente na sede da Associação dos Jornalistas e Homens<br />

de Letras do Porto, dando a imprensa significativo destaque ao homem e ao seu<br />

trabalho, sobretudo os jornais da chamada oposição democrática e, entre estes, o<br />

jornal “República” em particular. De idêntico modo, os jornais de Olinda evocaram<br />

António Ramos de Almeida, destacando-se o “Jornal do Recife”, onde Paulo<br />

Cavalcanti lhe prestou a sua homenagem pessoal, num artigo intitulado “Um Ilustre<br />

Filho de Olinda”.<br />

O funeral de António Ramos de Almeida teve lugar a 26 de março, para<br />

o cemitério de Vila do Conde, onde foi sepultado no jazigo da família. A<br />

cerimónia foi largamente participada pela população local e nela proferiram<br />

a palavra, “[...] o Dr. Alberto Uva, Presidente da Associação dos Jornalistas<br />

e Homens de Letras do Porto; Óscar Lopes, pela Sociedade Portuguesa de<br />

Escritores; Artur Santos Silva, pelos democratas do Porto; Acácio Gouveia,<br />

pelos condiscípulos de Direito e Gomes de Almeida pelos amigos do Porto<br />

para evocar o belo e raro exemplo de consciência moral e de independência<br />

mental do Dr. Ramos de Almeida, cujos fundamentos se revelaram na sua<br />

austera filosofia política e na sua invulnerável integridade intelectual [...]” 3 .<br />

81<br />

3 In “Dr. Ramos de Almeida”, Caderno de Cultura - Suplemento do Jornal de Vila do Conde – n.º 303, 19 setembro 1985, p. 3.


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

82<br />

CAT 10 CAT 10<br />

CAT 10<br />

[António Ramos de Almeida]. – Vila do<br />

Conde: Fot. J. Adriano, [s. d.]. – 1 Foto: sépia;<br />

17,5 x 11,5 cm<br />

Fotografia com dedicatória manuscrita, no<br />

verso, a sua futura esposa<br />

col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

CAT 86<br />

CAT 86<br />

[Teatro Experimental do Porto – TEP:<br />

fotografia de grupo]. – [Porto]: [1952-53]. – 1<br />

Foto: p&b; 12,8 x 17 cm<br />

Reconhecem-se na fotografia, além de Ramos<br />

de Almeida, Alexandre Babo, Eugénio de<br />

Andrade, João Villaret, Pedro Homem de<br />

Melo e João Menéres de Campos<br />

Col. João Paulo L. Campos


83<br />

CAT 80<br />

CAT 80<br />

[António Ramos de Almeida aquando da<br />

presença do General Humberto Delgado no<br />

Porto] [Porto]. - [1958]. – 1 foto: p&b; 12,5<br />

x 17<br />

Fotografia que documenta o envolvimento de<br />

Ramos de Almeida na campanha presidencial<br />

de Humberto Delgado<br />

col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

CAT 175<br />

[Informação sobre o facto de Antonio Ramos<br />

de Almeida estar presente à chegada do<br />

General Humberto Delgado ao aeroporto<br />

de Pedras Rubras, Porto, 1958]. - V. F. Xira:<br />

MNR, 2013. – Reprod. ampl.; 1 informação:<br />

color<br />

Reprodução de imagem cedida pelo ANTT.<br />

– Informação que refere que Antonio Ramos<br />

de Almeida esperou a chegada do General<br />

Humberto Delgado ao aeroporto de Pedras<br />

Rubras, quando este se dirigia de Lisboa para<br />

o Porto em viagem de propaganda eleitoral,<br />

para as eleições de 1958<br />

Arquivo Nacional Torre do Tombo<br />

PT-TT-PI<strong>DE</strong>-DGS-<strong>DE</strong>L-P-PI-10800-NT-<br />

3623<br />

CAT 175<br />

CAT 176<br />

[Fotografia de António Ramos de Almeida,<br />

Porto, 1952]. – V. F. Xira: MNR, 2013. -<br />

Reprod. ampl.: p&b<br />

Col. Ana Maria Ramos de Almeida<br />

CAT 176


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

84<br />

Três anos depois, a 10 de junho de 1964, os restos mortais de António Ramos<br />

de Almeida são trasladados para um mausoléu construído com o produto de uma<br />

subscrição pública e sob projeto do arquiteto Côrte Real. A PI<strong>DE</strong> marcou presença<br />

no evento solene, no qual Celso Pontes recordou o amigo e António José de Sousa<br />

Pereira transmitiu aos presentes a “Saudação a Ramos de Almeida”, enviada por José<br />

Régio. Um outro poeta, Castro Reis, leu a “Carta a Ramos de Almeida”, que Pedro<br />

Homem de Mello dirigiu à viúva do advogado e escritor. Por seu turno, o jornalista<br />

(e, à data, redator principal) do “Jornal de Notícias” Nuno Teixeira Neves, evocou<br />

também a figura de Ramos de Almeida, numa alocução intitulada “Uma Figura Viva<br />

entre os Homens”. Finalmente, Armando Bacelar, advogado e amigo de Ramos de<br />

Almeida, seu companheiro em muitos momentos de luta contra o regime salazarista,<br />

focou a personalidade pública e literária do homenageado.<br />

Também esta cerimónia foi seguida de perto pela imprensa nacional, com<br />

particular destaque para um artigo de Mário Soares no jornal “República”, na sua<br />

coluna “Fogo Solto”, em que dá conta da importância de Ramos de Almeida, ao<br />

nível da difusão, em Portugal, da cultura brasileira e dos seus principais nomes à<br />

época – sobretudo os escritores brasileiros dos anos 30: Graciliano Ramos, José<br />

Lins do Rego, Jorge Amado, Raquel Queirós, Erico Veríssimo –, recordando ainda a<br />

sua colaboração em revistas literárias como “Sol Nascente”, “Altitude”, “Vértice” e<br />

“Seara Nova” e a sua ligação às origens do movimento neorrealista português. Mário<br />

Soares apontava ainda, no mesmo artigo, as biografias de Eça de Queiroz e de Antero<br />

de Quental, da autoria de Ramos de Almeida e o seu trabalho – então inédito – sobre<br />

Bernardino Machado.<br />

Neste breve apontamento biográfico, não podemos deixar de referir outras<br />

vertentes da atividade de Ramos de Almeida enquanto intelectual empenhado na<br />

vida política e cultural daquele que foi o seu tempo. É o caso da sua participação<br />

ativa junto do movimento associativo de Vila do Conde (integrou a direção do Clube<br />

Fluvial Vilacondense) e do seu olhar atento e crítico face ao panorama que então<br />

caraterizava o teatro nacional. É assim que António Ramos de Almeida surge ligado,<br />

desde o momento da sua fundação, ao Teatro Experimental do Porto (TEP) e à<br />

figura incontornável de António Pedro, num projeto que pretendia fazer ressurgir a<br />

arte dramática em Portugal, através da subida a palco de obras clássicas da literatura<br />

nacional e estrangeira.


Bibliografia Ativa<br />

Bibliografia Ativa<br />

Estudos, ensaios, crítica literária<br />

“A Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen”, Dissertação de Licenciatura, in<br />

suplemento do Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 1939.<br />

“A arte e a vida: para esclarecimento e compreensão da literatura moderna portuguesa<br />

e da estéril polémica arte pura e arte social”, in Cadernos Azuis, 2, Porto, Livraria<br />

Joaquim Maria Costa, 1941, 2.ª edição, Porto, Livraria Latina, 1944.<br />

85<br />

“Antero de Quental: infância e juventude”, 2 vol., in Cadernos Azuis 5-6, Os homens e<br />

as ideias, Porto, Livraria Latina, 1943.<br />

“Antero de Quental: apogeu decadência e morte”, in Cadernos Azuis, 9-10, Os homens<br />

e as ideias, Porto, Livraria Latina, 1944.<br />

A nova descoberta do Brasil, Porto, Editorial Fenianos, 1944.<br />

Eça, Porto, Livraria Latina, 1945.<br />

Para a compreensão da cultura no Brasil, Marânus, Porto, [s. n.], 1950.<br />

Bernardino Machado, evocação de uma figura política, Porto, [s. n.], 1951.<br />

O pensamento activo de Bernardino Machado, Porto, Brasília Editora, 1974.<br />

Poesia<br />

Sinal de Alarme, Coimbra, [s. n.], 1938<br />

Sinfonia da guerra, Porto, Sol Nascente, 1939.<br />

Sêde, Porto, Livraria Latina, 1944.<br />

Vulcão, Lisboa, [s. n.], 1956.


86<br />

A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida


Catalogação<br />

Catalogação<br />

[1]<br />

[Cédula pessoal de António Ramos de Almeida]. – República Portuguesa.<br />

– Vila do Conde: R. P., 1949. – 1 Caderneta: 5 p; 14 x9,3 cm<br />

Cédula pessoal nº 366565, data de nascimento 18 de Março de 1912, em<br />

Olinda -Pernambuco<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[2]<br />

[António Ramos de Almeida em bebé]. – [Recife], [1912]. – 1 foto: sépia;<br />

10,5 x 6,4 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[3]<br />

[António Ramos de Almeida aos 7 anos de idade]. – [Recife], [1919]. – 1<br />

foto: sépia; 4,5 x 5,5 cm<br />

Com dedicatória no verso a “Á titia Isabel, com muitos beijos, oferecem os<br />

sobrinhos muito amiguinhos”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[4]<br />

Lembrança da primeira comunhão. – [Vila do Conde]: Padre Jerónimo R.,<br />

1922. – 1 Imagem: color; 21,5 x 13,5 cm<br />

Inscrição mst: Lembrança da primeira comunhão de António Ramos de<br />

Almeida na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, 28 de Maio de 1922. -<br />

Registo de Santo no centro do cartão, apresenta imagem da “Comunhão”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[5]<br />

Caderneta Escolar: António Ramos de Almeida / Liceu Rodrigues Freitas.<br />

– Porto, 1925 -1932. – 1 Caderneta: orig. mst.: 43 fl.;. + 1 requerimento;<br />

22,5 x 14,5 cm<br />

Aprovado no exame do Curso Complementar, em 13 de Julho de 1932<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[6]<br />

[Fotografia de António Ramos de Almeida com seu Pai, sua Mãe e outros<br />

familiares]. – Vila do Conde. - Casa Arizal, Alberto Henriques, [1950]. – 1<br />

Foto: p&b; 8,5 x 5,5 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[7]<br />

[Álbum de fotografias Ramos de Almeida em Coimbra e Vila do Conde]<br />

Photos. – Coimbra: Vila do Conde: Lisboa, 1932-35. – [19] p.; 10,5 x 17,5 cm<br />

Fotografia de António Ramos de Almeida, Jardim Botânico, Coimbra<br />

1935, p. [15]<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[8]<br />

[Família de António Ramos de Almeida e amigos próximos]. – Vila do<br />

Conde: Fot. J. Adriano, [s. d.]. – 1 Foto colada em cartão cinzento: sépia;<br />

24,5 x 20 cm<br />

Na fotografia reconhecem-se, entre outros, a Sr.ª D. Idalina, futura esposa de<br />

António Ramos de Almeida, e o filósofo Álvaro Ribeiro<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[9]<br />

[António Ramos de Almeida, jovem estudante]. - [Coimbra]: [s. n.: s. d.].<br />

– 1 Foto: sépia; 15,5 x 9 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[10]<br />

[António Ramos de Almeida]. – Vila do Conde: Fot. J. Adriano, [s. d.]. – 1<br />

Foto: sépia; 17,5 x 11,5 cm<br />

Fotografia com dedicatória manuscrita, no verso, a sua futura esposa<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[11]<br />

[Caderno de apontamentos] A teoria pura do Direito / [António Ramos de<br />

Almeida]. – [s. l.: s. d.]. – 1 Caderno: orig. ms.: [91] fl.;.; 21,5 x 16,5 cm<br />

Apontamentos, manuscritos, para o trabalho final de licenciatura, “ A teoria<br />

pura do Direito”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[12]<br />

[Livro do Curso]: IV ano Jurídico, 1936 / [Faculdade de Direito da<br />

Universidade de Coimbra]. - Coimbra: Universidade,1936. – [61] p.:il.;<br />

18 x 28 cm<br />

Com dedicatória de António Ramos de Almeida a Lina, 27 de Maio de<br />

1936. - Versos de João [Meneres de Campos], dedicados a António Ramos<br />

de Almeida p [17]. – Versos de António Ramos de Almeida dedicados a<br />

João Meneres de Castro, p [41]. - Caricatura da p. [17] em evidência: revista<br />

“Manifesto” na qual António Ramos de Almeida colaborou com o artigo<br />

“Novos e velhos”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

Novos e velhos / António Ramos de Almeida<br />

In: Manifesto. - Nº 20 (Fev. 1936) p.12<br />

Revista mensal. - Foram editados só os nºs: 1, 2, 3<br />

Col. João Paulo L. Campos<br />

[13]<br />

[António Ramos de Almeida em Coimbra]. – Coimbra: J. Batista<br />

Fotógrafo, 1957. – 1 foto: p&b; 10 x 16,5 cm<br />

Fotografia: reunião do curso de A. Ramos de Almeida, em Coimbra, 8 Jun.<br />

1957 [pertence a João Menéres de Campos]<br />

Col. João Paulo L. Campos<br />

[14]<br />

Cartão de Identidade: Sócio nº 37.687: Dr. António Ramos de Almeida /<br />

Futebol Clube do Porto. – Porto, [s. d.]. – 1 Cartão: orig. mst; 8 x 11,5 cm<br />

Cartão de associado do Futebol Clube do Porto com fotografia<br />

Evocação de António Ramos de Almeida / Paulo Pombo<br />

In: O Porto. – A. XXVI, nº 1021 (6 Mar. 1975), p 2, 5<br />

Jornal do Futebol Clube do Porto do qual António Ramos de Almeida era<br />

o associado 37.687<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[15]<br />

[Fotografia de António Ramos de Almeida com a sua esposa em<br />

acontecimento não identificado]. - [s. l.: s. n.], [s. d.]. – 1 Foto: p&b;<br />

13,5 x 9,3 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[16]<br />

[Reunião do curso de António Ramos de Almeida, em Coimbra, 8 de<br />

Junho]. – Coimbra: [s. n.], [1937-38]. – 1 Foto colada em cartão castanho:<br />

sépia; 35 x 25 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[17]<br />

Bilhete de Identidade: Sócio nº 15: Dr. António Ramos de Almeida /<br />

Centro Republicano Académico. – Coimbra, 1933-1934. – 1 Cartão: orig.<br />

mst; 11,5 x 7 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[18]<br />

Cédula Profissional de candidato a Advocacia: nº 105: António Ramos de<br />

Almeida / Ordem dos Advogados: Conselho Distrital do Porto, Delegação<br />

de Vila do Conde. – Vila do Conde, 19 Dez. 1938. – 1 Cédula: orig. mst: 1<br />

fl.; 12 x 22; dobr. em 12 x 7,5 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

Cédula Profissional de Advogado: nº 389: António Ramos de Almeida /<br />

Ordem dos Advogados: Conselho Distrital do Porto, Delegação de Vila do<br />

Conde. – Vila do Conde, 2 Abr. 1941. – 1 Cédula: orig. mst: 1 fl.; 12 x 22;<br />

dobr. em 12 x 7,5 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[19]<br />

Cartão de Identidade: Sócio nº 250: Dr. António Ramos de Almeida /<br />

Futebol Clube de Vila do Conde. – Vila do Conde, 1941 – 1 Cartão: orig.<br />

mst; 8,5 x 13 cm<br />

Cartão de associado desde 23 Mar. 1941, com fotografia<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

87<br />

CAT 55


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

88<br />

[20]<br />

[Caneta] PeliKan 400. – Germany: [Gunter Wagner], [1951-1954]<br />

Caneta tinta permanente castanha, tartaruga às riscas com aro<br />

e aparo dourado; 12,7 x 1,1 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[21]<br />

[Fotografia que documenta a inauguração da Rua Dr. António Ramos de<br />

Almeida, em Vila do Conde]. – [Vila do Conde], [s. d.]. - 1 Foto: p&b;<br />

23,5 x 17 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[22]<br />

Panorama literário da mocidade de Coimbra e a necessidade do<br />

revigoramento mental das novas gerações / António Ramos de Almeida.<br />

- V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: sépia<br />

Reprodução do artigo. - In: Humanidade, Nº 39 (4 Dez. 1937). - Contém<br />

desenho evocativo de Fernando Namora<br />

Fotocópia cedida pelo Dr. António Pedro Pita<br />

[23]<br />

Véspera: novela / [António Ramos de Almeida]. – [s. l.: s.n.], [1945].<br />

–125 p.; 21 cm<br />

Original datilografado da novela. – Novela várias vezes anunciada mas que<br />

permaneceu inédita<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[24]<br />

[Anúncio da novela inédita “Véspera”] / António Ramos de Almeida<br />

In: Vértice. – Vol. IV, nº 51, (Out. 1947), p. 470-471<br />

Novela de António Ramos de Almeida “Véspera”, várias vezes anunciada<br />

mas que permaneceu inédita<br />

Biblioteca particular Santos Silva<br />

MNR PP1<br />

[25]<br />

Meu caro António / Vértice, Joaquim [Namorado]. – Coimbra, [s. d.]. –<br />

Carta: orig. ms: 1 fl.; 27,4 x 21, 3 cm<br />

Inquérito da Vértice sobre a próxima época literária. – Carta de Joaquim<br />

Namorado a pedir que António Ramos de Almeida redija o texto como se<br />

estivesse a responder ao inquérito, e envie uma fotografia para publicar com<br />

as respostas.<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[26]<br />

Sinfonia da guerra: poema / António Ramos de Almeida; pref. Rodrigo Soares;<br />

pos-fácio Joaquim Namorado; des. João Alberto. - Porto: Sol Nascente, 1939.<br />

- 32 p.; 24 cm<br />

Biblioteca José Ferreira Monte<br />

MNR ALM/POE/4290<br />

[27]<br />

Prefácio [Sinfonia da Guerra] / Rodrigo Soares. – [s.l.], 1939. – 4 fl.;: orig.<br />

datiloscrito; 22 x 16 cm<br />

Original datiloscrito com emendas ms. - Prefácio do livro “Sinfonia da<br />

Guerra” de António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[28]<br />

Post-Fácio [Sinfonia da Guerra] / Joaquim Namorado. - [s. l.], [1939]. –<br />

2 fl.;: orig. ms; 22,5 x 16,5 cm<br />

Original manuscrito. - Posfácio do livro “Sinfonia da Guerra” de António<br />

Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[29]<br />

Querido António / Joaquim [Namorado]. – Coimbra, 26 Dez. 1939. -<br />

Carta: orig. ms: 2 fl.; 17,1 x 13 cm<br />

Carta de Joaquim Namorado dizendo “o teu livro (Sinfonia da Guerra) será<br />

modelo das nossas edições”. - Refere livro de contos de Alves Redol e o livro<br />

“Gaibéus”. - Refere que Álvaro Cunhal está internado no Hospital Militar<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[30]<br />

Amigo Ramos de Almeida… / Armando Bacelar. – Coimbra, 22 Jan. 1940.<br />

– Carta: orig. ms: 1 fl.; 26,4 x 20 cm<br />

Carta sobre o facto de “Sinfonia da guerra” se estar a vender bem, e da nota sobre o<br />

mesmo livro que o autor da carta (Armando Bacelar) escreveu para o “Sol”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[31]<br />

As três pessoas / Políbio Gomes dos Santos. - Coimbra: Portugália, 1938.<br />

- 55, [2] p.; 23 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[32]<br />

As sete partidas do mundo / Fernando Namora. - Coimbra: Portugália,1938.<br />

- 255, [9] p.; 20 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[33]<br />

Búzio: poesia / João José Cochofel. - Coimbra: [s. n.], 1940. - 45, [2] p.; 20 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Coimbra, 23<br />

Nov. 1939)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[34]<br />

As várias faces: teatro / Augusto dos Santos Abranches.<br />

- Coimbra: Portugália, 1943. - 21, [2] p.; 24 cm. - (Vértice. Teatro;1)<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Coimbra, Abr.<br />

1939)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[35]<br />

Os novos escritores e o movimento chamado “Neo-realismo” / Jaime Brasil.<br />

- [Porto]: [s. n.], 1945. - 15 p.; 23 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[36]<br />

Ambições e limites do cinema português: ensaio / Manuel de Azevedo. –<br />

Lisboa: [s. n.], 1945. – 39 p.; 19 cm.<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida, Porto (29 Abr.<br />

1945)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[37]<br />

Incomodidade: invenção do poeta; aviso à navegação; viagem ao país dos<br />

nefelibatas / Joaquim Namorado. – Coimbra: Atlântida, 1945. – 219 p;<br />

21 cm.<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[38]<br />

Maria / Afonso Ribeiro. - Porto: Editorial Ibérica. - 3 vol.; 21 cm<br />

Vol. 1: Escada de Serviço. - 1946. - 479, [1] p.<br />

Escada de Serviço é uma nova versão de outro romance publicado pelo autor<br />

em 1941, com o nome de Plano Inclinado. - Com dedicatória do autor a<br />

António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[39]<br />

O Riso Dissonante: poemas / Mário Dionísio. – Lisboa: Centro<br />

Bibliográfico, 1950. – 59 p.; 19 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa, Jun.<br />

1950)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[40]<br />

Canto de morte e amor / Afonso Duarte. - Coimbra: [s. n.], 1952. - 23 p.;<br />

26 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida


Catalogação<br />

[41]<br />

Olhos de água / Alves Redol. - Lisboa: Centro Bibliográfico, [1954]. - 343,<br />

[2] p.; 19 cm. - (Tempo Presente; 1)<br />

Ilustrações de Lima de Freitas. - Com dedicatória do autor a António<br />

Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[42]<br />

Agonia: romance / Manuel do Nascimento. - Lisboa: Sociedade de<br />

Expansão Cultural, (1954). - 165, [4] p.; 20 cm. - (Romance Português<br />

Contemporâneo)<br />

Capa de Manuel Ribeiro de Pavia. - Com dedicatória do autor a António<br />

Ramos de Almeida (Lisboa, 1 Fev. 1954)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[43]<br />

Serranos: contos / Mário Braga. - 2ª ed. - Coimbra: Coimbra Editora, 1955.<br />

- 127 p.; 19 cm<br />

Ilustrações de Cipriano Dourado. - Com dedicatória do autor a António<br />

Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[44]<br />

Sedução: novela / José Marmelo e Silva. – Edição definitiva. – Lisboa:<br />

Estúdios Cor, 1960. – 180 p.; 20 cm. – (Latitude; 42).<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida. - Capa Luís Filipe<br />

de Abreu<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[45]<br />

Honra-se a Direção convidando Vª. Exª. e sua Exma. Família a assistirem à<br />

conferência sob o título “A nova descoberta do Brasil” / Clube Fenianos<br />

Portugueses .- Porto, 29 Abr. 1944.- 1 Convite: orig. mst; 9 x 14,5 cm<br />

Convite dirigido a Ramos de Almeida e Família para assistir à conferência<br />

“A nova descoberta do Brasil”, com data de 29 Abr. 1944<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[46]<br />

Compra e venda: peça em três atos / [António Ramos de Almeida]. –<br />

[s. l.], [s. d.]. – 70 p.; 26 cm<br />

Original manuscrito e incompleto da peça de teatro “Compra e Venda peça<br />

em três atos<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[47]<br />

Castro Alves, génio poético do Brasil / António Ramos de Almeida. -<br />

Porto: [s. n.]; 1954. - 55 p.; 29 cm.<br />

Manuscrito do estudo “Castro Alves, génio poético do Brasil”, oferecido ao<br />

colega de curso e amigo João Menéres de Campos, em 8 Jan. 1954<br />

col. João Paulo L. Campos<br />

[48]<br />

Meu caro Ramos de Almeida / João Gaspar Simões. – Cascais, 19 Nov.<br />

1946. – Carta: orig. ms: 1 fl.; 30 x 18 cm<br />

Carta de João Gaspar Simões, pedindo rapidez na entrega do estudo sobre<br />

Pinheiro Chagas (19 Nov. 1946)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

Meu caro Ramos de Almeida / João Gaspar Simões. – Cascais, 2 Dez. 1946.<br />

– Carta: orig. ms: 1 fl.; 30 x 18 cm<br />

Carta de João Gaspar Simões, agradecimento pelo envio do ensaio original<br />

“Pinheiro Chagas<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[49]<br />

Epopeias, por António Marques Matias, Lisboa / António Ramos de<br />

Almeida<br />

In: Revista de Portugal.- Nº 1 (Out. 1937), p. 129-131<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[50]<br />

O romance brasileiro através dos seus principais intérpretes: Jorge Amado /<br />

António Ramos de Almeida<br />

In: Sol Nascente. – A. II, nº 31 (15 Ago.1938), p. 6, 7<br />

MNR PP 123<br />

[51]<br />

Na linha Quebrada da nossa época…:carta a Romain Rolland / António<br />

Ramos de Almeida<br />

In: Sol Nascente. – A. III, nº 34 (1 Mar.1939), p. 5<br />

MNR PP 123<br />

[52]<br />

As sete partidas do mundo: romance, por Fernando Namora. Edições<br />

Portugália, Coimbra / António Ramos de Almeida. - V. F. Xira: MNR,<br />

2013. - Reprod. ampl.: sépia<br />

Reprodução do artigo das pág. p. 48-50, publicado na Revista Presença, a.<br />

XII, série II (Nov. 1939)<br />

Imagens retiradas do site da Biblioteca Geral Digital<br />

Modo de acesso: https://bdigital.sib.uc.pt/bg4/UCBG-RP-1-5-s1_3/<br />

UCBG-RP-1-5-s1_3_master/UCBG-RP-1-5-s2/UCBG-RP-1-5-s2_<br />

item1/index.html<br />

[53]<br />

Mar vivo: poemas de João Campos, Edições Presença / António Ramos de<br />

Almeida<br />

In: Altitude. – Nº 2 (Abr. 1939), p. 11,12<br />

MNR PP 11<br />

[54]<br />

Cinema e realidade: desenhos imaginados: realidade imaginada, por<br />

Almada Negreiros / António Ramos de Almeida<br />

In: Altitude. – Nº 1 (Fev. 1939), p. 10, 11<br />

MNR PP 11<br />

[55]<br />

Nota sobre Raúl Brandão / António Ramos de Almeida<br />

In: Seara Nova. – Nº 1000-7 (26 Out. 1946) p. 182,183<br />

Número comemorativo do vigésimo quinto aniversário<br />

MNR PP 2<br />

[56]<br />

Notas para o Neo-Realismo / António Ramos de Almeida<br />

IN: Diabo. – A. VII, nº 313 (21 Set. 1940), p. 2<br />

MNR PP 92<br />

Notas para o Neo-Realismo / António Ramos de Almeida<br />

IN: Diabo. – A. VII, nº 315 (5 Out. 1940), p. 3<br />

MNR PP 92<br />

[57]<br />

Meu caro Ramos de Almeida / Ribeiro Couto. – Lisboa, 21 Nov. 1944. –<br />

Carta: orig. dat.: 1 fl.;.; 26,5 x 21 cm<br />

Carta de agradecimento pela referência ao seu nome (Ribeiro Couto) no<br />

texto da conferência de António Ramos de Almeida “A nova descoberta<br />

do Brasil“<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[58]<br />

Meu querido Ramos de Almeida / Embaixada do Brasil, Renato<br />

de Mendonça. – Madrid, 29 Out. 1950. - Carta: orig. ms:1 fl.;.;<br />

25,5 x 20,5 cm<br />

Carta de Renato Mendonça que refere o livro de António Ramos de Almeida<br />

“Para a compreensão da cultura no Brasil”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[59]<br />

Mensagem Luso-brasileira: ao Presidente Jânio Quadros / [António<br />

Ramos de Almeida]. – Porto, [1961]. – orig. datiloscrito, c/ emendas<br />

ms:1 fl.; 26,8 X 20,5 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[60]<br />

[António Ramos de Almeida cumprimenta Jânio Quadros eleito<br />

Presidente da República<br />

Brasileira, em visita a Portugal]. - [Portugal], [1961?]. – 1 Foto: sépia;<br />

17 x 23 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

89


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

90<br />

[61]<br />

[António Ramos de Almeida com Assis Chateaubriand]. – [s. l.], [s. d.]. –<br />

1 Foto: p&b; 17 x 12 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[62]<br />

[António Ramos de Almeida com o ilustre romancista brasileiro, Erico<br />

Veríssimo]. – Porto: M. Teixeira, [1959]. – 1 Foto: sépia; 22,5 x 16,5 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[63]<br />

Meu caro Ramos de Almeida / Publicações Europa América, Fernando<br />

Piteira Santos. – Lisboa, 22 Out. 1950. - Carta: orig. ms: 1 fl.; 21 x 14,8 cm<br />

Carta de Fernando Piteira Santos, manifestando o interesse de Publicações<br />

Europa-América em editar uma História da Literatura Brasileira, na<br />

coleção Saber<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[64]<br />

Exmo. Senhor: temos aguardado as suas notícias relativas ao volume<br />

sobre “História da literatura brasileira”… / Publicações Europa<br />

América, Francisco Lyon de Castro. – Lisboa, 23 Abr. 1952. - Carta:<br />

orig. dat.: 1 fl.; 21 x 15 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[65]<br />

Exmo. Senhor: agradecemos as vossas notícias relativas à “História da<br />

Literatura Brasileira” / Ler: jornal de letras artes e ciências, Francisco Lyon<br />

de Castro. – Lisboa, 8 Mai. 1952. - Carta: orig. dat.: 1 fl.; 26,2 x 20 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[66]<br />

A propósito do intercâmbio Luso-brasileiro / António Ramos de Almeida<br />

In: Ler: jornal de letras artes e ciências. – Nº 5 (Ago. 1952), p. 9<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[67]<br />

Dia longo: poesias escolhidas (1915-1943) / Ribeiro Couto. – Lisboa:<br />

Portugália, (1944). – 382 p.,19 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa, 1944)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[68]<br />

Evolução da poesia brasileira / Agrippino Grieco. – 2ª ed. - Rio de Janeiro :<br />

Livraria H. Antunes, [1944].- 248 p.;19 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Rio, Out.<br />

1944)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[69]<br />

Pequeña História del Brasil / Renato de Mendonça. – México: Secretaria<br />

de Educacion Publica, (1944). – 94 p.;19 cm. - (Biblioteca Enciclopédica<br />

Popular; 23)<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Porto, 30<br />

Jul.1946)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[70]<br />

O declínio do império e o ideal republicano no Brasil / Renato Mendonça.<br />

– Porto: Imprensa Portuguesa, 1948. – 32 p.; 25 cm<br />

Contém Retrato a óleo do autor por Diego Rivera (México, 1942). -<br />

Conferência realizada a 15 Nov. 1947 no Grupo de Estudos Brasileiros do<br />

Porto. - Separata da Revista “Brasil Cultural”. - A. II, nºs 2,3<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1948)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[71]<br />

Invenção de Orfeu / Jorge de Lima. – Rio de Janeiro: Livros de Portugal,<br />

(1952). – 431 p.; 19 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Rio de Janeiro,<br />

31 Set.1952)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[72]<br />

Homens, seres e coisas / José Lins do Rego. – Lisboa: Ministério da<br />

Educação e Saúde-Serviço de Documentação, 1952. – 77 p.;19 cm. -<br />

(Os cadernos de cultura)<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1952)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[73]<br />

O amanuense Belmiro: romance / Ciro dos Anjos. – Lisboa: Livros do<br />

Brasil, [1955]. – 182 p.; 22 cm. – (Livros do Brasil; 29)<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa, 20 Jul.<br />

1955)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[74]<br />

México: história de uma viagem / Erico Veríssimo. – Lisboa: Livros do<br />

Brasil, [1959]. – 337, [2] p.; 22 cm. – (Livros do Brasil; 33)<br />

Desenho do texto do autor. - Com dedicatória do autor a António Ramos<br />

de Almeida (25 Fev. 1959)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[75]<br />

Eça de Queiroz, agitador no Brasil / Paulo Cavalcanti. – Ed. Ilustrada.<br />

– São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959. – 367 p.; 19 cm. –<br />

(Brasiliana; 311)<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Recife, 21<br />

Jan. 1960)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[76]<br />

Deus lhe pague…: comédia completa em 3 actos divididos em 9 quadros /<br />

Joracy Camargo; pref. Procópia Ferreira. – 4ª ed. - Lisboa: Livros do Brasil,<br />

[1960]. – 182 p.; 22 cm. – (Livros do Brasil; 3).<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Porto, 11 Abr.<br />

1960)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[77]<br />

Exmº. Sr. Dr. Ramos de Almeida e prezado Camarada / Costa Barreto. -<br />

Lisboa, 26 Fev. 1953. - Carta: orig. ms.: 1 fl.; 27 x 21,4 cm<br />

Carta de Costa Barreto, felicitando pela fundação do “Suplemento Literário<br />

do Jornal de Notícias”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[78]<br />

António [Ramos de Almeida] querido: / Donatello. – [s. l.: s. d.]. - Carta:<br />

orig. ms.: 1 fl.; 25 x 20 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[79]<br />

A memória do centenário: Ramos de Almeida: um suplemento literário<br />

tornado “Lareira pública: “um homem bem sintonizado com os outros<br />

homens”<br />

In: Suplemento do “Jornal de Noticias”.- (25 Mai. 1988), p. 29<br />

A memória do centenário: matéria sobre o suplemento literário e a<br />

colaboração de A. Ramos de Almeida ( 25 Mai.1968)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[80]<br />

[António Ramos de Almeida aquando da presença do General Humberto<br />

Delgado no Porto]. - [Porto], [1958]. – 1 foto: p&b; 12,5 x 17<br />

Fotografia que documenta o envolvimento de Ramos de Almeida na<br />

campanha presidencial de Humberto Delgado<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[81]<br />

[António Ramos de Almeida envolvido numa campanha eleitoral?]. -<br />

[s. l.: s. d.]. – 1 foto: p&b; 17,2 x 23, 3 cm<br />

Na fotografia reconhecem-se, entre outros, Virgínia Moura e<br />

Ruy Luís Gomes<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida


91<br />

CAT 143<br />

CAT 143<br />

Para uma antologia de pensamento<br />

republicano / Ramos de Almeida<br />

In: Vértice. – Vol. XXIV, nº 250-251 (Jul. -<br />

Ago. 1964), p.397-411<br />

Contém: Três poemas por Ramos de Almeida,<br />

p. 402-404.- Uma figura viva entre os homens<br />

por Nuno Teixeira Neves, p. 405-409. –<br />

Saudação a Ramos de Almeida por José Régio,<br />

p. 410,411. - Número 250-251 (Julho-Agosto.<br />

1964) de Vértice consagrado parcialmente a<br />

António Ramos de Almeida, com textos de<br />

José Régio e Nuno Teixeira Neves bem como<br />

um ensaio, sobre Bernardino Machado, e<br />

poemas de A. Ramos de Almeida<br />

MNR PP 1 CAT 143


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

92<br />

[82]<br />

Canta a alma lusíada! XXVII Concurso das Quadras de S. João<br />

In: Jornal de Noticias. – (24 Jun. 1955), p. 2<br />

Recorte que documenta a reunião do Júri do Concurso das Quadras de S.<br />

João 1955, organizado pelo “Jornal de Notícias”; reconhecem-se, além de<br />

António Ramos de Almeida, os poetas Egito Gonçalves e João Menéres de<br />

Campos<br />

Col. João Paulo L. Campos<br />

[83]<br />

Exmo. Senhor, de conformidade coma a conversa…/ Clube Português de<br />

Cinematografia. – Porto, 3 Out. 1948. - Carta: orig. dat.: 1 fl.; 27, 5 x 21,5 cm<br />

Carta enviada a António Ramos de Almeida, convite do Clube Português<br />

de Cinematografia para proferir palestra, em 10 Out. 1948<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[84]<br />

Meu caro Ramos de Almeida / António Pedro. – [Porto]: [1951-1952]. -<br />

Carta: orig. ms: 8 fl.; 17 x 10 cm<br />

Carta de António Pedro, lindíssima, sobre o início da atividade do Teatro<br />

Experimental do Porto e com referência a uma fotografia de Fernando<br />

Lemos, até agora não encontrada. – Os 1ºs estatutos to TEP datam de<br />

1951, estes Estatutos só seriam promulgados, por alvará do Governo Civil<br />

do Porto, em 21 de Outubro de 1952<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[85]<br />

[Teatro Experimental do Porto – TEP: ensaios]. – [Porto]: [1952-53]. – 1<br />

Foto: p&b; 27,5 x 12,5 cm<br />

O primeiro contacto, mediado por Eugénio de Andrade, entre elementos<br />

do TEP (Alexandre Babo) e António Pedro parece datar de fins de 1952. O<br />

primeiro espectáculo foi estreado em 18 Jun.1953<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[86]<br />

[Teatro Experimental do Porto – TEP: fotografia de grupo]. – [Porto]:<br />

[1952-53]. – 1 Foto: p&b; 12,8 x 17 cm<br />

Reconhecem-se na fotografia, além de Ramos de Almeida, Alexandre Babo,<br />

Eugénio de Andrade, João Villaret, Pedro Homem de Melo e João Menéres<br />

de Campos<br />

Col. João Paulo L. Campos<br />

[87]<br />

Prezado amigo / Almeida da Costa. - Coimbra, 16 Mai. 1956. – Carta: orig.<br />

ms: 1 fl.;.; 26,5 x 20,3 cm<br />

Carta solicitando a organização de um número especial do suplemento<br />

literário, por ocasião da homenagem ao poeta Afonso Duarte, em 1956<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[89]<br />

Meu prezado amigo / Vértice, Luís Albuquerque. – Coimbra, 6 Mai. 1952.<br />

- 1 Postal: il.; 10,4 x 15 cm<br />

Postal dos CTT ilustrado com a Torre de Belém. – Refere o discurso de<br />

homenagem a João de Barros<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[90]<br />

Meu caro Ramos de Almeida / Luís Albuquerque. – Coimbra, 11 Mai.<br />

1952. - Carta: orig. ms.: 1 fl.; 26,4 x 20, 2 cm<br />

Carta de Luís Albuquerque, pedindo texto para uma conferência sobre João<br />

de Barros 11 Mai.1952<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[91]<br />

Saudação a João de Barros / José Régio<br />

In: Vértice. - Vol. XII, nº 106 (Jun. 1952), p. 299, 300<br />

Poeta da humilde plenitude / António Ramos de Almeida<br />

In: Vértice. - Vol. XII, nº 106 (Jun. 1952), p. 301-310<br />

Escritor e orador / Agrippino Grieco<br />

In: Vértice. - Vol. XII, nº 106 (Jun. 1952), p. 311,312<br />

Artigos da homenagem a João de Barros<br />

MNR PP 1<br />

[92]<br />

Aspecto da homenagem a João de Barros na Sala da “Biblioteca José Régio”<br />

do Clube Fluvial Vilacondense. - V.F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.;<br />

1 Foto: p&b<br />

In: Vértice. -Vol. XII, nº106 (Jun. 1952), p. 313<br />

MNR PP 1<br />

[93]<br />

Querido amigo / João de Barros. – Santa Cruz, 23 Ago. 1951. - 1 Postal:<br />

p&b; 8,7 x 13,5 cm<br />

Postal ilustrado paisagem da Praia de Santa da Cruz<br />

Querido amigo / João de Barros. – [s. l.], 8 Out. 1951. - Carta: orig. ms:1<br />

fl.; 20,8 x 13,4 cm<br />

Agradece a oferta de um nº de “Renovação”<br />

Querido amigo e nobre camarada / João de Barros. – [s. l.], 5 Dez. 1953. -<br />

Carta: orig. ms:1 fl.; 17,8 x 13 cm<br />

Cartas de João de Barros, uma das quais (05 Dez.1953) agradecendo as<br />

gentilezas de A. Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[94]<br />

Humilde plenitude: poemas escolhidos / João de Barros. - Edição limitada.<br />

- Lisboa: Livros do Brasil, 1951. – 249, [3] p.; 24 cm.<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Out.1951)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[95]<br />

Meu caro António / Lino Lima. – [Lisboa], 21 Abr. 1953. - Carta: orig.<br />

ms: 1 fl.; 26,8 x 20 cm<br />

Carta de Lino Lima enviada da Cadeia do Aljube, Sala 2 A (21 Abr. 1953<br />

[António Ramos de Almeida com Lino Lima]. – [s. l.]: [s. d.]. – 1 Foto:<br />

sépia; 13,5 x 8,8 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[96]<br />

Meu prezado amigo / Ruy Luís Gomes. – Porto, 25 Jan. 1955. – Carta: orig.<br />

ms: 1 fl.; 26 x 19,5 cm<br />

Carta com carimbo de Censurado<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[97]<br />

O significado histórico e simbólico da homenagem ao Doutor António<br />

Luís Gomes / Ramos de Almeida<br />

In: República. – (22 Set.1952), p. 7,11<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[98]<br />

[Fotografia do Dr. António Luís Gomes]. - Lisboa: San Payo, 1951.<br />

– 1 Foto: sépia; 13,6 x 8,6<br />

Com dedicatória, no verso, do Dr. Luís Gomes a António Ramos de<br />

Almeida (4 Mai. 1952). - A homenagem ao Dr. Luís Gomes marca o<br />

vínculo de António Ramos de Almeida com o Republicanismo Clássico<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[99]<br />

[António Ramos de Almeida com o Dr. António Luís Gomes]. – Porto:<br />

Bazar Electro - Fot., 1952. – 1 Foto: p&b; 8,8 x 13,6 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[100]<br />

[António Ramos de Almeida com Tomaz da Fonseca, Jaime Cortesão,<br />

Teixeira de Pascoaes, Mário de Azevedo Gomes e Câmara Reys]. – [s. l.:<br />

s.d.]. – 1 Foto: p&b; 9 x 14 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[101]<br />

Dr. Ramos de Almeida / Jaime Isidoro. – Porto, Ago. 1960. - 1 Postal: color;<br />

10,5 x 15 cm<br />

Postal ilustrado com reprodução de óleo “Acrobate a la boule” de<br />

Pablo Picasso<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida


Catalogação<br />

[102]<br />

Meu caro Dr. Ramos de Almeida / Jaime Brasil. – Porto, 10 Mar. 1953. -<br />

Carta: orig. dact: 1 fl.; 21,6 x 17,9 cm<br />

Carta convite a Ramos de Almeida para participar como orador na<br />

homenagem a Ferreira de Castro, Porto<br />

Col. ª Antónia Ramos de Almeida<br />

[103]<br />

Nocturnos / Alberto Serpa. – [s.l.: s.n.], [1945]. - (Entregas de poesia; 12)<br />

Nocturnos, folheto de poesia de Alberto de Serpa, com dedicatória<br />

autografa a Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[104]<br />

Notícias do bloqueio: poema / Egito Gonçalves<br />

In: Árvore. – Nº 4 (1953)<br />

Pequeno cartaz com o poema “Notícias do bloqueio”, autografado por Egito<br />

Gonçalves<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[105]<br />

A morte do Poeta… / António Rebordão Navarro; Dinis Ramos<br />

In: Intervenção. – Coimbra: [Coimbra Editora. Ld.ª], p 9 -12<br />

Cinco poemas dedicados a António Ramos de Almeida: “ A morte do<br />

poeta”; “Um poema necessário”; “Deixa vir a noite nos teus passos”; “Sei<br />

que as árvores cresceram noutros lados”; “Quando me deitar levo o teu rosto”. –<br />

Dedicatória manuscrita dos autores a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[106]<br />

Querido amigo / Ferreira de Castro. – [s. l.], 14 Nov. 1957. - Carta: orig.<br />

ms: 1 fl.;.; 27 x 21 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[107]<br />

Meu caro Ramos de Almeida / António de Sousa. – Lisboa, Fev. 1954. -<br />

1 Bilhete-postal; 10,4 x 15 cm<br />

Refere o envio de livros pelo CTT, entre os quais, “Jangada”, “Livro de<br />

bordo” e “Linha da Terra”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[108]<br />

Linha de terra: poemas / António de Sousa. – Lisboa: Inquérito, 1951. –<br />

65 p.; 19 cm.<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Algés, Jan. 1954).<br />

- Desenho na capa de Manuel Ribeiro de Pavia<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[109]<br />

Ilha deserta / António de Sousa. – Coimbra: Presença,1937. – 78 p.; 24 cm<br />

Ilustração da capa Júlio [Pomar]. - Com dedicatória do autor a António<br />

Ramos de Almeida (Coimbra, Abr. 1937)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[110]<br />

Abismo: poemas / Adolpho Rocha. – Lisboa: Livros do Brasil, (1932). –<br />

27 p.; 20 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1936)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[111]<br />

Os quatro cavaleiros: poema / Tomaz Kim. - Lisboa: Portugália<br />

[depositária], [1943]. - 43, [5] p.; 25 cm. - (Cadernos de poesia)<br />

Capa de Manuel Ribeiro de Pavia. - Com dedicatória do autor a António<br />

Ramos de Almeida (15 Jan. 1943)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[112]<br />

Da academia do meu tempo aos estudantes de amanhã: conferência /<br />

António Macedo. - [s. l.: s. n.], 1945 (Porto: Tip. Mendonça). - 64 p.;19 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Natal, 1945). –<br />

Conferência dada em 16 de Maio de 1945, no Salão da Faculdade de Letras,<br />

a convite da Associação Académica de Coimbra<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[113]<br />

Retrato e lição de Gomes Leal: poema / Alberto de Serpa. – Porto: Livraria<br />

Portugália, (1948). – 14 p.; 19 cm<br />

Escrito e impresso no mês de Novembro de 1948, ano do 1º centenário do<br />

nascimento de Gomes Leal.<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[114]<br />

Histórias de mulheres / José Régio. – Porto: Livraria Portugália, (1946).<br />

– 342 p.; 19 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Portalegre,<br />

1946)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[115]<br />

Mãe terra / Papiniano Carlos. - Porto: Livraria Portugália, 1949. - 63 p.;<br />

22 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida. – Capa de<br />

Altino Maia<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[116]<br />

Ilha: poemas / João de Brito Câmara. – Coimbra, 1950 (Tip. Atlântida).<br />

- 96 p.; 18 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Tarrafal [?] Ago.<br />

1952)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[117]<br />

Pedro: romance / Manuel Mendes. – Lisboa: Sociedade de Expansão<br />

Cultural [distrib], (1954). – 223, [1] p.; 19 cm. - (Coleção romance<br />

português contemporâneo)<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa, 1954)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[118]<br />

As mãos e os frutos: poemas / Eugénio de Andrade. – Lisboa: Portugália<br />

Editora, 1948. – 57 p.; 20 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1953). - Capa de<br />

Manuel Ribeiro de Pavia<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[119]<br />

Arcas encoiradas: estudos, opiniões, fantasias / Aquilino Ribeiro. – 2ª ed. -<br />

Lisboa: Livraria Bertrand, [1953?]. – 290 p.; 19 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1953)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

Ramos de Almeida meu ilustre camarada: / Aquilino Ribeiro. – Lisboa, 22<br />

Out. 1957. - 1 postal: il.; 9 x 14 cm<br />

Postal ilustrado: imagem com legenda manuscrita por Aquilino Ribeiro<br />

“Casa de Romarigães, Trecho da Capela”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[120]<br />

O rapaz da camisola verde / Pedro Homem de Mello. - Porto: Saber, 1954.<br />

– 102, [2] p.; 19 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1954)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[121]<br />

Estudos sobre a cultura portuguesa do século XIX / Joaquim de Carvalho.<br />

– Coimbra: Universidade Coimbra, 1955. – Vol.; 22 cm. – (Acta<br />

Universitatis Conimbrigensis)<br />

Vol. I: Antheriana. - 321 p.<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Jul. 1955)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

93


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

94<br />

CAT 12<br />

CAT 23 CAT 23 CAT 32 CAT 32<br />

CAT 38 CAT 38 CAT 48 CAT 49


CAT 51 CAT 53 CAT 71 CAT 71<br />

95<br />

CAT 75 CAT 75 CAT 76 CAT 76<br />

CAT 114 CAT 114 CAT 117 CAT 117<br />

CAT 120 CAT 120 CAT 167 CAT 172


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

96<br />

[122]<br />

O guardador de automóveis / João Apolinário. – Porto: Autor, 1956.<br />

– 25 p.; 18 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida. – Capa e gravura<br />

de Gastão Seixas<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[123]<br />

A obra de José Régio: ensaio crítico seguido de um Inquérito ao autor<br />

criticado / Óscar Lopes. – Porto: [s.n.],1956. – 23 p.; 26 cm. - Separata da<br />

“Lusíada”, v. 3, nº 9<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (8 Mai.1957)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[124]<br />

Voz nua: líricas / Fausto José. - Braga: [s. n.], 1957. - 105 p.; 19 cm. –<br />

(Quatro ventos; 12)<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Douro, Aldeia<br />

do Lima, Abr. 1958)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[125]<br />

O tema da morte na moderna poesia portuguesa / Urbano Tavares<br />

Rodrigues<br />

In: Separata da revista “Graal”. - Nº 4 (1957), p. 3 -14<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[126]<br />

O vagabundo decepado: poema / Egito Gonçalves. – Porto: Notícias do<br />

Bloqueio, 1957. – 5 p.; 18 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Dez. 1957)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[127]<br />

Um fidalgo de pernas curtas: novela infantil / Ilse Losa. – Porto: Edições<br />

Marânus, 1958. – 98 p.; 20 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Dez.1957). –<br />

Desenhos Júlio Resende<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[128]<br />

Passaporte: poemas / Natália Correia. – Lisboa: [s. n.], 1958. – 60 p.;<br />

20 cm.<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (15 Jun. 1958)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[129]<br />

Filhas de Babilónia: novelas / Aquilino Ribeiro. – Lisboa: Livraria Bertrand,<br />

1959. – 343, [1], p.; 20 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa, 1959)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[130]<br />

O crime de aldeia velha: peça em 3 actos / Bernardo Santareno. – Lisboa:<br />

Edições Ática, 1959. – 242 p.; 20 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1960)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[131]<br />

Espelho de três faces: romance / Joaquim Paço D’ Arcos. - 3ª ed. – Lisboa:<br />

Guimarães Editores, (1959). - 455, [3] p.; 20 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa,<br />

Dez.1959)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[132]<br />

A invenção do amor e outros poemas / Daniel Filipe. – Lisboa: Sagitário,<br />

[1961]. – 65 p.; 19 cm.<br />

Com dedicatória a António Ramos de Almeida (Jan. 1961). - Capa Pilo<br />

da Silva<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[133]<br />

Dr. Ramos de Almeida: o seu falecimento<br />

In: [s.n.]. – [24. Mar.1961]<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[134]<br />

Dr. Ramos de Almeida: o seu funeral<br />

In: [s.n.]. – [24. Mar.1961]<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[135]<br />

O funeral do escritor António Ramos de Almeida constitui uma grande<br />

manifestação de pesar<br />

In: [s.n.]. – [25. Mar.1961], p. 3<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[136]<br />

[Telegrama de Condolências] / Grupo de Estudos Brasileiros, Amândio<br />

Marques. – Porto, 25<br />

Mar.1961 – 1 Telegrama l: 15 x 21,2 cm<br />

Telegrama de condolências do Grupo de Estudos Brasileiros<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[137]<br />

[Telegrama de Condolências] / Joaquim Paço D’ Arcos. – Porto, 24<br />

Mar.1961. – 1 Telegrama: 15 x 21,2 cm<br />

Telegrama de condolências de Joaquim Paço D’ Arcos e Maria da Graça<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[138]<br />

António Ramos de Almeida / Ferreira de Castro. – [s.l.: s.d.]. – 2 fl.; :<br />

texto dat;. 26,5 x 20,5 cm<br />

Um texto de Ferreira de Castro, intitulado “António Ramos de Almeida”,<br />

escrito por ocasião da morte de A. Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[139]<br />

Levamos a conhecimento de Vª Exª, que a trasladação dos restos mortais<br />

do nosso querido e saudoso amigo… / Comissão Pró Mausoléu “Ramos de<br />

Almeida”. – Vila do Conde, 23 Abr. 1694. – 2 Cartões + envelope: orig. dat.:<br />

14 x 10 cm<br />

Convite para a cerimónia de trasladação dos restos mortais de António<br />

Ramos de Almeida, dirigido à esposa, D. Lina Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[140]<br />

Minhas senhoras e meus senhores: perante a morada fúnebre de Ramos de<br />

Almeida / Nuno Teixeira Neves. - Vila do Conde, 10 Jun. 1964. - Texto:<br />

orig. dat. c/ emend. ms: 6 fl.; 27, 5 x 21<br />

Versão integral do texto, tal como foi lido em 10 do Junho de 1964 no<br />

Cemitério de Vila do Conde<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[141]<br />

Homenagem à memória do escritor António Ramos de Almeida<br />

In: Jornal de Noticias. - (11 Jun.1964)<br />

Cópia de artigo sobre a trasladação dos restos mortais de António Ramos de<br />

Almeida para Mausoléu em Vila do Conde<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[142]<br />

Homenagem a António Ramos de Almeida<br />

In: Vértice. – Nº 248-249, (Mai. - Jun.1949)<br />

Texto original datilografado da notícia publicada na Vértice nº 248-249. -<br />

Refere que o próximo Numero da “Vértice” será dedicado parcialmente a<br />

António Ramos de Almeida<br />

MNR Espólio Vértice<br />

[143]<br />

Para uma antologia de pensamento republicano / Ramos de Almeida<br />

In: Vértice. – Vol. XXIV, nº 250-251 ( Jul. - Ago. 1964), p.397-411<br />

Contém: Três poemas por Ramos de Almeida, p. 402-404.- Uma figura<br />

viva entre os homens por Nuno Teixeira Neves, p. 405-409. – Saudação


Catalogação<br />

a Ramos de Almeida por José Régio, p. 410,411. - Número 250-251<br />

( Julho-Agosto. 1964) de Vértice consagrado parcialmente a António<br />

Ramos de Almeida, com textos de José Régio e Nuno Teixeira Neves bem<br />

como um ensaio, sobre Bernardino Machado, e poemas de A. Ramos de<br />

Almeida<br />

MNR PP 1<br />

[144]<br />

Em Vila do Conde: prestada homenagem póstuma a dois ilustres<br />

democratas<br />

In: JN. - (5 Mai. 1977)<br />

Homenagem a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[145]<br />

António Ramos de Almeida: que os novos saibam / Celso Pontes<br />

In: Renovação: semanário. – A. XL, nº 1818 (Abr. 1977), p. 1, 2<br />

Semanário de Vila do Conde que refere que “ a partir de 25 do corrente o nome<br />

de António Ramos de Almeida figura na toponímia desta nossa terra”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[146]<br />

Saudade, Justiça e Amor: à memória do grande escritor que foi António<br />

Ramos de Almeida / Pedro Homem de Melo. – Porto, 24 Jun. 1979. –<br />

Carta + envelope: orig. ms: 1 fl.; 27 x 21 cm<br />

Carta dirigida a viúva e filhas de António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[147]<br />

Conferida a ordem de liberdade ao Dr. António Ramos de Almeida / Celso<br />

Pontes<br />

In: Jornal de Vila do Conde. – (21 Mar. 1985), última página<br />

O Presidente da República Grão-mestre das Ordens Portuguesas confere ao<br />

Dr. António Ramos de Almeida a título póstumo o grau de Comendador<br />

da Ordem da Liberdade<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[148]<br />

O cume estético-teórico de 1940: à memória de António Ramos de<br />

Almeida / Fernando Alvarenga<br />

In: JN: supl. cultura. – (8 Out. 1985), p.12<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[149]<br />

À Ex.ª Vereação da Câmara Municipal de Olinda- Pernambuco /<br />

Assembleia da República, Mário Soares. - Lisboa, 23 Jun. 1983. - carta : ms:<br />

2 fl.; 29 x 20,5 cm<br />

Carta manuscrita pelo 1º Ministro Mário Soares em nome do Governo<br />

Português agradecendo a distinção de “lembrar a memória de um grande<br />

português […] António Ramos de Almeida”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[150]<br />

Dona Lina / Paulo. - Recife, 10 de Mai.1983. – Carta: dat.: 1 fl.; 20,8 X 14,7 cm<br />

Carta enviada à esposa Maria Idalina Fernandes de Carvalho, refere a<br />

apresentação do projeto que irá dar a uma avenida em Olinda, Pernambuco<br />

o nome de António Ramos de Almeida. - No verso tem colada a resposta do<br />

Prefeito José Arnaldo do Amaral<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[151]<br />

António Ramos de Almeida «tem» avenida no Brasil<br />

In: JN. – (17 Jun. 1983)<br />

“Desde o passado dia 6 e Maio que um das principais avenidas da cidade de<br />

Olinda, em Pernambuco, no Brasil, passou a ter o nome do Dr. António<br />

Ramos de Almeida”<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[152]<br />

António Ramos de Almeida dá o nome a uma avenida na Pernambucana<br />

Olinda onde nasceu há 71 anos<br />

In: JN. – (28 Jun. 1983)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[153]<br />

Intervenção do Deputado António Macedo em 24 de Outubro de 1983<br />

/ Assembleia da República Grupo Parlamentar do Partido Socialista. –<br />

Pernambuco, 24 Out.1983. – texto: dat: 9 fl.; 27,8 x 20,4 cm<br />

Intervenção que refere a cerimónia que oficializará o cumprimento do<br />

projeto lei da Câmara Municipal, em cujo artigo 1ª se consigna que “ fica<br />

denominada escritor Ramos de Almeida a atual Avenida da Integração,<br />

localizada no Bairro do Jardim Atlântico”, Olinda, Pernambuco<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[154]<br />

Lina. Boa amiga / Lino Ferreira. – Olinda, 21 Out. 1983. - Carta: ms: 1fl.;<br />

28,9 x 20,4 cm<br />

Carta enviada à esposa, Maria Idalina Fernandes de Carvalho, acompanha<br />

manuscrito de discurso (6 fl.), que o autor pretende apresentar na<br />

Assembleia da República, sobre placa toponímica de António Ramos de<br />

Almeida.<br />

[155]<br />

Olinda recebe hoje portugueses para homenagear escritor<br />

In: Diário de Pernambuco. – (27 Out. 1983)<br />

Homenagem a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[156]<br />

[Sessão solene da homenagem a Ramos de Almeida em Olinda-<br />

Pernambuco]. - Olinda, 27 Out. 1983. – 1 Foto: color; 13,1 x 20,2 cm<br />

Sessão solene, Dr. Manuel de Almeida, presidente da Câmara Municipal de<br />

Vila do Conde, lê mensagens enviadas à mesa pela inauguração da placa<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[157]<br />

Olinda recorda figura de Ramos de Almeida<br />

In: Diário de Pernambuco. – Secção B (7 Nov. 1983), p 1<br />

Homenagem a António Ramos de Almeida. – Artigo que contém<br />

fotografia de Ramos de Almeida (à esquerda) ao lado de Lins do Rego e<br />

Alberto de Serpa, numa foto dos anos 50.<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[Fotografia de Ramos de Almeida (à esquerda) ao lado de Lins do Rego<br />

e Alberto de Serpa, numa foto dos anos 50]. – V. F. Xira: MNR, 2013. -<br />

Reprod. ampl.: pxb<br />

Reprodução de fotografia. - In: Diário de Pernambuco. – Secção B (7 Nov.<br />

1983), p 1<br />

[158]<br />

Maquiavel e outros estudos / Jorge de Sena. – Porto: Livraria paisagem,<br />

1974. – 217, [3] p.; 20 cm. – (Paisagem; 10)<br />

Prémio António Ramos de Almeida da feira do livro 1975, atribuído a Jorge<br />

de Sena.<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[159]<br />

Almanaque de lembranças Luso-Brasileiro / Alberto de Serpa. – 1ª ed. -<br />

Lisboa: Inquérito,1952. – 111 p.; 19 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida.- Desenho<br />

António Vaz Pereira<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[160]<br />

Novo almanaque de lembranças Luso-Brasileiro / Alberto de Serpa,<br />

Campos de Figueiredo, Carlos Drummond de Andrade, Francisco Costa,<br />

José Régio, Manuel Bandeira, Pedro Homem de Mello, Ribeiro Couto. –<br />

Porto: [s.n.],1954. – 29 p.;19 cm<br />

Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[161]<br />

A arte e a vida: para esclarecimento e compreensão da literatura<br />

moderna portuguesa e da estéril polémica arte pura e arte<br />

social / António Ramos de Almeida. - Porto: Livraria Joaquim<br />

Maria Costa, 1941. - 40, [3] p.; 19 cm. - (Cadernos Azuis ; 2)<br />

MNR ALM/ENS/2525<br />

97


A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

98<br />

[162]<br />

Antero de Quental: infância e juventude / António Ramos de Almeida.<br />

- Porto: Livraria Latina (1943). -2 vol.; 19 cm. - (Cadernos Azuis. Os<br />

homens e as ideias ; 5-6) 1º Vol.: 1943. - 62 p. 2º Vol.: 1943. - 67, [3] p. 1º<br />

vol.contém dedicatória do autor a Álvaro Salema<br />

MNR ALM/ENS/2513<br />

[163]<br />

Antero de Quental: apogeu decadência e morte / António<br />

Ramos de Almeida. - Porto: Livraria Latina, (1944). - 124,<br />

[3], p.; 19 cm. - (Cadernos Azuis. Os homens e as ideias; 9-10)<br />

MNR ALM/ENS/2515<br />

[164]<br />

A nova descoberta do Brasil / António Ramos de Almeida.<br />

- Porto: Editorial Fenianos,1944. - 58 p.;19 cm. - (Editorial Fenianos; 1)<br />

Conferência lida em 3 de Maio de 1944, no salão nobre do Clube<br />

Fenianos Portuenses. - Com dedicatória do autor a Álvaro Salema<br />

MNR ALM/ENS/2524<br />

[165]<br />

Sêde: poema / António Ramos de Almeida; il. António Sampaio.<br />

- Porto: Livraria Latina, 1944. - 30, [1] p.; 22 cm<br />

MNR ALM/POE/1772<br />

[166]<br />

Eça / António Ramos de Almeida. - Porto: Livraria Latina, 1945. - 402,<br />

[1] p.; 20 cm<br />

Comemorações do Centenário do Nascimento de Eça de Queirós<br />

MNR ALM/ENS/748<br />

[167]<br />

Vulcão: poemas / António (Ramos) de Almeida. - Lisboa: [s.n.], 1956.<br />

- 62 p.; 19 cm<br />

MNR ALM/POE/2597<br />

[168]<br />

O pensamento ativo de Bernardino Machado / António Ramos<br />

de Almeida. - Porto: Brasília Editora, 1974. - 254 p.; 19 cm<br />

Comemorações do 5 de Outubro, homenagem nacional a Bernardino<br />

Machado<br />

Biblioteca particular Santos Silva<br />

MNR ALM/ENS/5599<br />

[169]<br />

[Desenho a tinta da china] / [s.n.]. – [s.l.: s.d.]. – 1 Desenho: tinta da china<br />

s/ papel; 35,2 x 32 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[170]<br />

[Diploma de condecoração] Le grand Maistre des Anysetiers du Roy<br />

nomme ce jour Dr. António Ramos de Almeida, Jornalista, au grade du<br />

Mestre / Commanderie de l’ Orde des Anysetiers du Roy. – Sénéchal: [s.<br />

d.]. – 1 Diploma: il. color; 35 x 47 colado em cartolina 62 x 48,6 cm<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[171]<br />

[Dr. António Ramos de Almeida]. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod.<br />

ampl.: p&b<br />

Reprodução de fotografia de António Ramos de Almeida. – In: Cadernos<br />

de cultura: suplemento do jornal de Vila do Conde. – Nº 297 (18 Jul.<br />

1985)<br />

Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />

[172]<br />

Sinal de alarme: poemas / António Ramos de Almeida. – V. F. Xira: MNR,<br />

2013. - Reprod. ampl.: color<br />

Reprodução da capa do livro de “Sinal de alarme: poemas”, [s.l.: s.n.], (1938):<br />

(Coimbra, Tip. Atlântida)<br />

Imagem retirada do site da Livraria Ferreira<br />

Modo de acesso: http://www.livrariaferreira.pt/5813/<br />

SINAL+<strong>DE</strong>+ALARME<br />

[173]<br />

Exmº Senhor: conferência cultural/ António Manuel, Chefe de Posto.<br />

- V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.; 1 relatório extraordinário:<br />

color<br />

Reprodução de imagem cedida pelo ANTT. – Relatório datado de 22<br />

Mar. 1946, sobre a Conferência levada a cabo no salão do Bombeiros<br />

Voluntários, comemorativa do centenário de Eça de Queiroz. – O<br />

nome de António Ramos de Almeida é referido como sendo um dos<br />

organizadores da Conferência “ Embora com o rótulo de cultural a<br />

verdade é que foi uma reunião de todos os elementos desafectos à actual<br />

situação politica”<br />

Arquivo Nacional Torre do Tombo<br />

PT-TT-PI<strong>DE</strong>-DGS-<strong>DE</strong>L-P-PI-10800-NT-3623<br />

[174]<br />

[Informação sobre a participação de Antonio Ramos de Almeida na<br />

Comissão de Imprensa e Propaganda (Porto) para a candidatura do<br />

General Humberto Delgado]. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod.<br />

ampl.; 1 informação: color<br />

Reprodução de imagem cedida pelo ANTT. – Informação sobre a<br />

participação de Antonio Ramos de Almeida como fazendo parte da<br />

Comissão de Imprensa e Propaganda para a candidatura do General<br />

Humberto Delgado, à Presidência da República nas eleições de 1958<br />

Arquivo Nacional Torre do Tombo<br />

PT-TT-PI<strong>DE</strong>-DGS-<strong>DE</strong>L-P-PI-10800-NT-3623<br />

[175]<br />

[Informação sobre o facto de Antonio Ramos de Almeida estar<br />

presente à chegada do General Humberto Delgado ao aeroporto de<br />

Pedras Rubras, Porto, 1958]. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod.<br />

ampl.; 1 informação: color<br />

Reprodução de imagem cedida pelo ANTT. – Informação que refere<br />

que Antonio Ramos de Almeida esperou a chegada do General<br />

Humberto Delgado ao aeroporto de Pedras Rubras, quando este se<br />

dirigia de Lisboa para o Porto em viagem de propaganda eleitoral, para<br />

as eleições de 1958<br />

Arquivo Nacional Torre do Tombo<br />

PT-TT-PI<strong>DE</strong>-DGS-<strong>DE</strong>L-P-PI-10800-NT-3623<br />

[176]<br />

[Fotografia de António Ramos de Almeida, Porto, 1952]. – V. F. Xira:<br />

MNR, 2013. - Reprod. ampl.: p&b<br />

Col. Ana Maria Ramos de Almeida


Índice<br />

5<br />

António Ramos de Almeida: convicção e coerência de um humanista<br />

Maria da Luz Rosinha<br />

Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira<br />

7<br />

No centenário do nascimento de António Ramos de Almeida<br />

David Santos<br />

coordenador do museu do neo-realismo<br />

9<br />

A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

António Pedro Pita<br />

curador da exposição<br />

25<br />

António Ramos de Almeida e a Livraria Latina: contextos e dinâmicas<br />

Maria do Rosário Ramada Pinho Barbosa<br />

67<br />

António Ramos de Almeida e o Brasil<br />

Valéria Paiva<br />

77<br />

Referências Biográficas<br />

85<br />

Bibliografia Ativa<br />

87<br />

Catalogação


Relembrar António Ramos de Almeida, no âmbito do<br />

centenário do seu nascimento, é o propósito principal desta<br />

exposição, que pretende também possibilitar uma interpretação<br />

da obra e sinalizar um percurso.<br />

Sob o título A vida e a arte de António Ramos de Almeida, a<br />

exposição detém-se nos modos pelos quais este português de<br />

Olinda, com apaixonado vínculo brasileiro, se tornou figura central<br />

no conhecimento, entre nós, sobretudo da ficção dita regionalista;<br />

documenta a sua participação ativa (poemas, artigos doutrinários<br />

e um primeiro balanço crítico na conferência A arte e a vida, 1941),<br />

em Coimbra, na viragem cultural neorrealista desde os primeiros<br />

anos 30 e mostra como essa inspiração inicial se transforma<br />

num olhar e numa atitude, que serão o critério da impressionante<br />

atividade cívica e cultural, em que as demarcações necessárias (e as<br />

respetivas intransigências) se entrelaçam com uma larga visão que<br />

torna a cultura espaço de encontro de subjetividades contraditórias<br />

mas não incompatíveis.<br />

Precocemente falecido, os sinais de uma apaixonada existência<br />

no mundo permanecem.<br />

António Pedro Pita<br />

organização:<br />

patrocínio:<br />

apoios:

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