A VIDA E A ARTE DE ANTÃNIO RAMOS DE ALMEID A - Câmara ...
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A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
2<br />
Museu do Neo-Realismo<br />
Coordenador<br />
David Santos<br />
Conservação e investigação<br />
David Santos<br />
Paula Monteiro<br />
Helena Seita<br />
Inventariação e catalogação<br />
Paula Monteiro<br />
Helena Seita<br />
Odete Belo<br />
Lurdes Pina<br />
Serviço Educativo<br />
Virgínia Figueiredo<br />
Lídia Agostinho<br />
Fernando Marques<br />
Eugénia Ventura<br />
Comunicação e Relações Públicas<br />
Fátima Faria Roque<br />
Comunicação e edição<br />
David Santos<br />
Fátima Faria Roque<br />
Fernando Marques<br />
Lurdes Aleixo<br />
Registo<br />
Lurdes Aleixo<br />
Fernando Marques<br />
Centro de Documentação/Biblioteca<br />
Odete Belo<br />
Lurdes Pina<br />
Secretariado<br />
Gabriela Candeias<br />
Vanda Arsénio<br />
Rececionistas-vigilantes<br />
Vanda Arsénio<br />
Tânia Cravo<br />
Rute Oliveira<br />
[ Exposição ]<br />
Organização<br />
Câmara Municipal<br />
de Vila Franca de Xira<br />
Museu do Neo-Realismo<br />
Curadoria<br />
António Pedro Pita<br />
Assistência de curadoria<br />
Fátima Faria Roque<br />
Seleção e org. documental<br />
António Pedro Pita<br />
David Santos<br />
Fátima Faria Roque<br />
Odete Belo<br />
Conceção e museografia<br />
David Santos<br />
António Pedro Pita<br />
Design da exposição<br />
Dulce Munhoz<br />
(DIMRP/SDPG)<br />
Coordenação de produção<br />
David Santos<br />
Fátima Faria Roque<br />
Produção<br />
David Santos<br />
Fátima Faria Roque<br />
Odete Belo<br />
Lurdes Aleixo<br />
Fernando Marques<br />
Secretariado<br />
Gabriela Candeias<br />
Vanda Arsénio<br />
Conservação<br />
Paula Monteiro<br />
Helena Seita<br />
Montagem<br />
David Santos<br />
António Pedro Pita<br />
Fátima Faria Roque<br />
Odete Belo<br />
Lurdes Aleixo<br />
Lurdes Pina<br />
Fernando Marques<br />
Vanda Arsénio<br />
DIMRP/SDPG<br />
Dulce Munhoz<br />
Miguel Oliveira<br />
DOVI/DOG:<br />
Ricardo Pereira/Pintura<br />
Rui Melo/Pintura<br />
Jorge Silva/Pintura<br />
Armindo Rosa/Pintura<br />
Gilberto Martins/Carpintaria<br />
José Travassos/Carpintaria<br />
José Leonel/Carpintaria<br />
João Dias/Carpintaria<br />
Oficina de Eletricidade<br />
Planeamento e logística<br />
David Santos<br />
Fátima Faria Roque<br />
Lurdes Aleixo<br />
Comunicação<br />
Fátima Faria Roque<br />
Fernando Marques<br />
DIMRP/SCPRP<br />
Filomena Serrazina<br />
Prazeres Tavares<br />
Serviço Educativo<br />
Virgínia Figueiredo<br />
Lídia Agostinho<br />
Fernando Marques<br />
Eugénia Ventura<br />
Maria João Oliveira<br />
Seguros<br />
Allianz Seguros<br />
[ Catálogo ]<br />
Edição<br />
Câmara Municipal<br />
de Vila Franca de Xira,<br />
Museu do Neo-Realismo<br />
e Fundação Calouste<br />
Gulbenkian, julho de 2013<br />
Organização e coordenação editorial<br />
David Santos<br />
Fátima Faria Roque<br />
Textos<br />
Maria da Luz Rosinha<br />
David Santos<br />
António Pedro Pita<br />
Maria do Rosário Ramada<br />
Pinho Barbosa<br />
Valéria Paiva<br />
Produção<br />
Fátima Faria Roque<br />
Susana Vale (DIMRP/SDPG)<br />
Apoio à produção<br />
Odete Belo<br />
Lurdes Pina<br />
Investigação e org. documental<br />
António Pedro Pita<br />
David Santos<br />
Fátima Faria Roque<br />
Odete Belo<br />
Catalogação<br />
Odete Belo<br />
Design gráfico<br />
Susana Vale (DIMRP/SDPG)<br />
Fotografia e digitalização<br />
Odete Belo<br />
Sara Pereira<br />
Revisão<br />
Fátima Faria Roque<br />
Odete Belo<br />
Lurdes Aleixo<br />
Produção gráfica:<br />
Pré-impressão, Impressão<br />
e Acabamento<br />
Santos & Oliveira, Lda.<br />
ISBN<br />
978-989-98502-0-0<br />
Depósito Legal<br />
XXXXXX/XX<br />
Tiragem<br />
600 exemplares<br />
Museu do Neo-Realismo<br />
Rua Alves Redol, 45<br />
2600-099 Vila Franca de Xira<br />
neorealismo@cm-vfxira.pt<br />
www.museudoneorealismo.pt<br />
© Museu do Neo-Realismo<br />
© Dos textos e das fotografias, os autores<br />
Organização:<br />
Patrocínio:<br />
Apoios:<br />
CAPA: Reprodução de fotografia de António<br />
Ramos de Almeida. – In: Cadernos de cultura:<br />
suplemento do jornal de Vila do Conde. – Nº<br />
297 (18 Jul. 1985) CAT 171
4<br />
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida
Maria da Luz Rosinha<br />
Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira<br />
António Ramos de Almeida:<br />
convicção e coerência de um humanista<br />
Natural de Olinda, cidade situada no Estado de Pernambuco, no Brasil 1 ,<br />
António Ramos de Almeida regressa a Portugal muito jovem, fixando raízes<br />
em Vila do Conde e, mais tarde, no Porto. Advogado de profissão, o seu<br />
percurso foi vincado, quer pelas amizades que fomentou ao longo da vida em diferentes<br />
círculos da intelectualidade portuguesa – nomeadamente com os neorrealistas –, quer<br />
pela intensa reflexão acerca do contexto social, económico e político da sua época<br />
(fosse o de Portugal ou o do Brasil), quer ainda pela sua participação cívica ativa, de<br />
que é exemplo a sua colaboração na campanha presidencial do General Humberto<br />
Delgado.<br />
Ensaísta profícuo, poeta e crítico literário, o autor que agora ocupa a Sala de<br />
Exposições de Literatura Contemporânea do Museu do Neo-Realismo, manteve,<br />
ao longo da sua vida, um profundo interesse pela arte, mas também pela sociologia,<br />
política e literatura, com contributos regulares em jornais, revistas e periódicos de<br />
assinalável significado na história da arte e, em particular, da literatura em Portugal,<br />
como: Seara Nova, Presença, O Diabo, Sol Nascente, Manifesto, ou Vértice, títulos que<br />
acolheram, aliás, muitos dos artigos e ensaios de maior relevância no panorama do<br />
movimento neorrealista português.<br />
Humanista convicto e defensor de ideais democráticos, António Ramos de<br />
Almeida deixou-nos um significativo legado, parte do qual temos hoje a honra de dar<br />
a conhecer, nesta Exposição Biobibliográfica, resultado do trabalho de investigação<br />
levado a cabo pelo Prof. Doutor António Pedro Pita, da Universidade de Coimbra, a<br />
quem desde já formulo os sinceros agradecimentos do nosso Município.<br />
Às filhas de António Ramos de Almeida, Maria Antónia e Ana Maria – e nelas,<br />
aos familiares de Ramos de Almeida que participaram neste projeto –, quero deixar<br />
um imenso apreço pela colaboração com o Museu do Neo-Realismo, nomeadamente,<br />
no que respeita à cedência de documentos do espólio de António Ramos de Almeida,<br />
peças essenciais à compreensão do contexto de uma época que, apesar de nos ser tão<br />
próxima, tem ainda muito a revelar, nomeadamente no que se refere ao movimento<br />
neorrealista, objeto principal da existência deste Museu.<br />
Uma última palavra de agradecimento à Fundação Calouste Gulbenkian, que<br />
mais uma vez concedeu ao Museu do Neo-Realismo um importante apoio à realização<br />
deste catálogo.<br />
5<br />
1 Olinda foi declarada Património Histórico e Cultural da Humanidade em 1982.<br />
CAT 26
6<br />
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida
David Santos<br />
COOR<strong>DE</strong>NADOR DO MUSEU DO NEO-REALISMO<br />
No centenário do nascimento de<br />
António Ramos de Almeida<br />
O<br />
Museu do Neo-Realismo tem vindo a promover, em especial na sua sala<br />
dedicada às exposições de literatura, uma particular atenção aos autores que<br />
fizeram ou contribuíram de algum modo para a amplitude do movimento<br />
neorrealista português. Desde outubro de 2007, escritores como Arquimedes da Silva<br />
Santos, Urbano Tavares Rodrigues, Mário Braga ou António Borges Coelho, entre outros,<br />
foram objeto de estudo, a partir da consulta direta dos seus espólios e enquadrados pelas<br />
mais recentes linhas de investigação literária e historiográfica. É nossa convicção ser esse<br />
o melhor e mais edificante caminho para uma verdadeira homenagem.<br />
Desta vez, a escolha recaiu no poeta e ensaísta portuense António Ramos de<br />
Almeida. O autor de Sinfonia da Guerra (1939) e de A Arte e a Vida (1941), faria cem anos em<br />
2012 e é ainda nesse contexto evocativo que o Museu do Neo-Realismo apresenta agora<br />
uma exposição biobibliográfica sobre alguém que teve um papel decisivo no âmbito da<br />
poesia neorrelista e na divulgação e aprofundamento no nosso país da literatura brasileira<br />
de inspiração social. Nascido em Olinda, no Brasil, Ramos de Almeida manteve sempre<br />
uma ligação estreita com a cultura do “país irmão” e soube, como poucos, fazer a ponte<br />
entre os dois lados do Atlântico. Este aspeto particular é, aliás, um dos pontos centrais<br />
revelados pela investigação liderada e conduzida pelo Professor Doutor António Pedro<br />
Pita a propósito da presente exposição. A sua rigorosa curadoria, bem como o seu ensaio e<br />
ainda os textos agora publicados de Valéria Paiva e Maria do Rosário Barbosa vêm provar<br />
que António Ramos de Almeida é um autor de relevo no contexto do neorrealismo, e não<br />
só. A todos manifesto o meu profundo agradecimento pelo trabalho realizado.<br />
O meu maior e mais sentido agradecimento vai, naturalmente, para a família de<br />
António Ramos de Almeida, em particular para as suas filhas Maria Antónia e Ana Maria,<br />
que com toda a disponibilidade nos receberam, manifestando uma rara sensibilidade<br />
sobre o valor cultural do espólio que têm à sua guarda e que agora pretendem doar a este<br />
Museu. O seu gesto e a confiança que depositaram desde logo na nossa instituição jamais<br />
serão esquecidos.<br />
Por fim, gostaria de destacar a determinação e o envolvimento de Fátima Faria<br />
Roque em todo o processo de assistência de curadoria da exposição e na coordenação<br />
editorial do catálogo que a acompanha. Ainda à Odete Belo e à equipa do Centro de<br />
Documentação do Museu do Neo-Realismo quero manifestar o meu agradecimento<br />
pelo profissionalismo manifestado em todos os momentos solicitados. Às designers<br />
Susana Vale e Dulce Munhoz, o reconhecimento pelo excelente trabalho em torno da<br />
imagem do catálogo e da exposição. A todos os técnicos do Município de Vila Franca de<br />
Xira que contribuíram para o êxito desta exposição, agradeço a dinâmica e o empenho<br />
colocados nas diversas fases da sua realização.<br />
7<br />
CAT 143
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
8<br />
A Vida e a Arte de<br />
António<br />
Ramos de Almeida<br />
António Pedro Pita
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
António pedro pita 1<br />
António Ramos de Almeida não chegou a publicar o livro anunciado em 1947,<br />
com o título A marcha para o Neo-Realismo, por ele próprio caraterizado como uma<br />
espécie de prólogo à história do movimento: simultaneamente roteiro (do caminho<br />
“que nós fomos obrigados a trilhar”) e explicitação (de que “o neo-realismo foi muito<br />
antes da verdadeira consciência que nós tivemos dele, uma aspiração profunda e uma<br />
necessidade imperiosa daqueles que começaram” 2 ). No mesmo depoimento, faz uma<br />
revelação: “tenho três discursos pronunciados em 1934 e 1935 – em Coimbra – que<br />
provam essa primeira etape, ainda vaga e nebulosa, ainda anterior, até, à polémica<br />
Arte Pura – Arte Social” 3 .<br />
O depoimento não se alarga em pormenores. Esta última observação é, contudo,<br />
suficiente para fortalecer a hipótese de todos aqueles que insistem na necessidade de<br />
situar ainda na primeira metade dos anos trinta as condições de génese histórico-cultural<br />
do que ganhará, a partir de 1938, o nome de “neorrealismo”.<br />
Infelizmente, esses discursos ainda não foram encontrados. No entanto, o<br />
artigo estampado em Manifesto, nº 2 (Fevereiro. 1936) já é esclarecedor. A revista<br />
Manifesto, recordemo-lo, é um dos lugares de dissolução da rápida (e porventura<br />
nunca completamente estabelecida) hegemonia literária presencista. Miguel Torga e<br />
Albano Nogueira inscrevem a consciência literária em linhas de força cuja nitidez de<br />
demarcação do universo presencista assenta numa discreta (mas real) permeabilidade<br />
às preocupações dos movimentos de artistas e intelectuais que marcaram sobretudo<br />
a Europa. Manifesto não é, como presença também não fora, uma revista situada nos<br />
limites da imprensa estudantil. Corresponde a uma posição intelectual (e não exclusiva<br />
ou predominantemente literária ou artística), sustentada na colaboração diversificada<br />
de nomes como Paulo Quintela, Bento de Jesus Caraça, Fernando Lopes-Graça ou<br />
Sílvio Lima 4 , sem esquecer a transcrição de um discurso de André Malraux sobre “A<br />
obra de arte”, pronunciado no Congresso Internacional dos Escritores para a Defesa<br />
da Cultura, realizado em 1935.<br />
O tema de “depoimento” de António Ramos de Almeida – “Novos e velhos” 5 –<br />
traz à cena argumentativa um tópico que se tornará cada vez mais comum na retórica<br />
emergente. “Novo” significa consciente do “nosso momento histórico”, o momento<br />
9<br />
1 Professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Coordenador científico do CEIS20 – Centro<br />
de Estudos Interdisciplinares do Século XX.<br />
2 Vértice, vol. IV (1947), p. 470-1.<br />
3 É possível que uma obra de “crítica e polémica” intitulada Falando ao Povo sobre a Arte, reunião de “conferências e discursos”,<br />
anunciada como “A publicar” em A arte e a vida, previsse reeditar estas conferências. Mas nunca foi publicada.<br />
4 “A revista nasceu de um grupo que já tem maioridade intelectual: Dr. Paulo Quintela, Carlos Sinde [Alberto Martins de<br />
Carvalho], Lopes Graça, António Madeira [Branquinho da Fonseca], João Farinha, etc.”, terá oportunidade de escrever<br />
António Ramos de Almeida, num outro texto. O sublinhado é meu.<br />
5 António Ramos de Almeida, “Um depoimento – Novos e velhos” in Manifesto, nº 2, fevereiro. 1936.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
10<br />
de uma transformação civilizacional em processo de doloroso adiamento: “A Grande<br />
Guerra deveria ter posto fim a uma civilização, e não pôs; em nome dos mesmos<br />
valores que a desencadearam reuniram-se os representantes dos povos que fizerem<br />
a paz, a paz armada em que temos vivido. A velha civilização aí está!... Agravaram-se<br />
apenas os seus males, as suas mazelas e os seus vícios e nós os homens de hoje é que<br />
sofremos; por isso é sobre nós que pesa a missão de realizar aquilo que os outros<br />
não realizaram”. A linha de demarcação é, pois, muito nítida: “velhos são aqueles que<br />
ainda vivem do outro lado da grande guerra e os novos são os outros. A questão dos<br />
velhos e dos novos não é pois uma questão de idade, é uma questão de cultura e de<br />
sensibilidade”. Esta conclusão vai alimentar a robustez da argumentação polémica,<br />
tanto mais importante quanto o critério de legitimação das novas ideias será menos<br />
de ordem geracional do que de ordem ideológico-doutrinária. Entre os que são<br />
“conscientemente novos” e os que são “conscientemente velhos”, sublinha António<br />
Ramos de Almeida, “não pode haver solução de continuidade possível, porque nós<br />
não seremos apenas pacíficos sucessores, nem iremos sacrificar as nossas energias ao<br />
serviço de ideias e de valores que cheiram a podridão e a bafio”. O requinte polémico<br />
chega ao ponto de voltar, sem citá-los, contra o programático individualismo de<br />
matriz regiana, a ressonância de alguns famosos versos do “Cântico Negro” que<br />
poeticamente o configurara: “Não, meus senhores, nós não poderemos seguir jamais<br />
os vossos caminhos porque temos os nossos”.<br />
Um ano depois, é no jornal Humanidade que António Ramos de Almeida traça<br />
um “Panorama Literário da mocidade de Coimbra e a necessidade do revigoramento<br />
mental das novas gerações” 6 , ilustrado com um desenho de Fernando Namora.<br />
Nele encontramos a notícia da iminente publicação de Cadernos da Juventude, a<br />
experiência editorial que é o concentrado primitivo da autoconsciência desse grupo<br />
ainda inominado mas já ativo: “atualmente um núcleo de rapazes pretende começar<br />
uma nova campanha, abrir outra época na mocidade coimbrã. O que carateriza os<br />
rapazes de hoje é uma adesão profunda ao seu mundo, uma comunhão com as suas<br />
misérias e as suas virtudes, uma fuga dos subjetivismos doentios e sobretudo uma<br />
renúncia às esquisitices formais que foram o conteúdo de certa corrente da literatura<br />
contemporânea”. Não será excessivo sublinhar a referência à pretensão de “abrir uma<br />
outra época”, ou “uma nova era”, como escreve noutro passo.<br />
Revisitará esse ano-chave de 1937, vinte anos mais tarde, nestes termos: “só em<br />
1937, na verdade [...] foi que um grupo de jovens – profundamente interessados por<br />
uma literatura mais humanizada e por uma cultura consequente – se lançou abertamente<br />
não já somente numa simples querela de princípios com a «presença» mas na realização de novas<br />
obras que fossem buscar as suas raízes na vida do Povo e nas inquietações ideológicas,<br />
éticas, económicas e históricas que a Humanidade dramaticamente atravessava” 7 .<br />
6 António Ramos de Almeida, “Panorama Literário da mocidade de Coimbra e a necessidade do revigoramento mental das<br />
novas gerações” in Humanidade, nº 39, 4. Dezembro. 1937.<br />
7 Idem, “Rodapé quinzenal de crítica literária – O Homem Disfarçado de Fernando Namora” in Jornal de Notícias / Suplemento<br />
Literário, nº 221, 5.janeiro.1958.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />
Entretanto, António Ramos de Almeida participara ativamente na afirmação<br />
estético-cultural do “neorrealismo”. Em vários artigos publicados nas revistas de referência<br />
como O Diabo ou Sol Nascente, de que são exemplo as “Notas para o Neo-realismo”,<br />
dispersas tal como a maior parte da sua produção de índole crítico-jornalística, e sobretudo<br />
na conferência de 1941, intitulada A arte e a vida, António Ramos de Almeida propõe<br />
um neo-realismo, que deveremos hoje pôr em relação com o neorrealismo de Mário<br />
Dionísio, o neo-realismo de Óscar Lopes ou o neorrealismo de Mário Sacramento 8 –<br />
que são o mesmo neorrealismo e outros neorrealismos.<br />
Ainda não foi possível levantar a totalidade dessa produção 9 . Muito menos<br />
proceder a uma avaliação ponderada do que, nela, traduz quer o enunciado dogmático<br />
em que, como tendência polarizada por uma aspiração hegemónica, o neorrealismo se<br />
pensou a si próprio quer as profundas tensões congénitas que não menos o caraterizam<br />
e das quais a chamada “polémica interna” será a oportunidade explosiva.<br />
Mas o que talvez caraterize o movimento de pensamento de António Ramos de<br />
Almeida, é uma deriva do (neo) realismo como categoria estética para um (neo) realismo<br />
como critério crítico.<br />
A arte e a vida, célebre conferência pronunciada em 1941 e logo publicada<br />
(a Drª Rosário Barbosa, neste mesmo volume, traz ao conhecimento público<br />
elementos inéditos relativos a algumas circunstâncias dessa edição), procede a<br />
uma espécie de balanço do que significaram a génese e as primeiras produções<br />
do neorrealismo português – numa leitura que aspira ser, ao mesmo tempo, a<br />
enunciação das grandes coordenadas de uma nova categoria estética.<br />
São duas as teses fundamentais: primeiro, toda a arte é artifício; segundo, toda<br />
a arte tem como finalidade imaginária a realização da vida.<br />
A poética de António Ramos de Almeida é assim, ao mesmo tempo, analítica<br />
e afirmativa. Desdobra-se em três aspetos centrais: o primeiro, respeita à justificação<br />
da tese da deformação da arte; o segundo, prende-se com a historicidade das expressões<br />
artísticas; o último, trata de problemas relativos à chamada arte moderna.<br />
A deformação da obra de arte tem, digamos, um fundamento ontológico: significa<br />
que “a realidade é inapreensível na sua plena totalidade, impossível de cópia ou<br />
pastiche” 10 , que é impossível captá-la “em todos os seus cambiantes, em toda a sua<br />
complexidade, na sua permanente mutação” 11 . Ao artista está reservado o papel de<br />
mediador, é por ele que “a realidade passa para a obra de arte” 12 .<br />
11<br />
8 Cf. António Pedro Pita, “A árvore e o espelho. Elementos para a fundamentação da heterogeneidade neo-realista” in Conflito<br />
e unidade no neo-realismo português, Campo das Letras, Porto, 2002, p. 225-241.<br />
9 Mas as colaborações em Sol Nascente e em Vértice foram já levantadas, respetivamente, por Luís Crespo de Andrade, Sol<br />
Nascente. Da cultura republicana e anarquista ao neo-realismo, Campo das Letras, Porto, 2007, p. 134 e Carlos Santarém<br />
Andrade, Vértice – Índice de autores 1942-1986, Coimbra, 1987, p. 15.<br />
10 António Ramos de Almeida, A arte e a vida, Livraria Editora Latina, col. Cadernos Azuis, Porto, 1941, p. 16.<br />
11 Idem, ibidem, p. 17.<br />
12 Idem, ibidem, p. 19.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
12<br />
CAT 22<br />
CAT 22<br />
Panorama literário da mocidade de Coimbra<br />
e a necessidade do revigoramento mental<br />
das novas gerações / António Ramos de<br />
Almeida. - V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod.<br />
ampl.: Sépia<br />
Reprodução do artigo. - In: Humanidade,<br />
Nº 39 (4 Dez. 1937). - Contém desenho<br />
evocativo de Fernando Namora<br />
Fotocópia cedida pelo Dr. António Pedro<br />
Pita<br />
CAT 161<br />
A arte e a vida: para esclarecimento e<br />
compreensão da literatura moderna<br />
portuguesa e da estéril polémica arte pura e<br />
arte social / António Ramos de Almeida. -<br />
Porto : Livraria Joaquim Maria Costa, 1941.<br />
- 40, [3] p. ; 19 cm. - (Cadernos Azuis ; 2)<br />
MNR ALM/ENS/2525<br />
CAT 161<br />
CAT 12<br />
Novos e velhos/ António Ramos de Almeida<br />
In: Manifesto. - Nº 2 (Fev. 1936) p.12<br />
Revista mensal. - Foram editados só os nºs:<br />
1, 2, 3<br />
col. João Paulo L. Campos<br />
CAT 12
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
14<br />
É impossível uma relação imediata com o mundo. É necessário construir imagens,<br />
expressões desse mundo. Mas nem todas as expressões são artísticas. Só pode falar-se<br />
de expressão artística quando os meios específicos de uma arte (a cor na pintura; o som<br />
na música) transcendem a imediatidade da sua natureza e da sua utilização: “o pintor será aquele<br />
que pode pintar mais do que as cores, embora se sirva de cores para pintar esse mais” 13 .<br />
Visando uma tal finalidade, a arte, pelos seus modos específicos, deve realizar a vida.<br />
Por isso, a importância atribuída ao cinema: “no cinema ouve-se, vê-se, quer dizer, a<br />
realidade é apanhada flagrantemente no seu todo e sobretudo no seu movimento, isto<br />
é, o cinema é mais do que a expressão da realidade, é aquela expressão – ou tende a ser<br />
– que esteticamente melhor realiza a vida, embora todas as outras espécies de expressão<br />
estética pretendam também realizá-la” 14 . O cinema exemplifica a contradição que toda a<br />
arte é: um artifício que aspira apagar-se em nome da própria realização imediata da vida,<br />
um determinado procedimento que opera com recursos formais que se deverão apagar<br />
para que seja possível a mais larga comunicação.<br />
A arte apela 15 : por isso é que, para António Ramos de Almeida, pode falar de<br />
um problema da arte moderna. No horizonte da comunicabilidade integral, que é o<br />
seu, a chamada arte moderna consuma a rutura com o público pelo exacerbamento<br />
de processos formais, que criam uma realidade mais do que a exprimem. Escreve:<br />
“nas artes plásticas o divórcio entre o artista e a realidade ainda é mais flagrante: na<br />
pintura esse divórcio vê-se. Cada escola de pintura moderna julga ter descoberto a<br />
realidade, uma realidade que toda a gente julga ser real. Quer dizer: a realidade num<br />
quadro nada tem a ver com a realidade na vida, com a realidade real, permitam-me<br />
o tautologismo. Eis porque os olhos habituados a ver a realidade da vida ficaram<br />
escandalizados diante da pintura moderna” 16 .<br />
Neste ponto, a importância do artista mostra-se. Como mediação concretamente<br />
enraizada numa determinada situação histórica, o artista (“vínculo humano que une a<br />
realidade viva à realidade estética, […] através do qual a realidade passa para a obra de<br />
arte” 17 ) transporta para a obra de arte – tenha ou não consciência disso – a situação<br />
histórica de que tem experiência. A experiência do artista, posto que toda a experiência<br />
é experiência histórica, funda a historicidade da experiência estética.<br />
Se, nas considerações relativas ao conceito de deformação, António Ramos de<br />
Almeida poderia ter em mente um ensaio famoso de João Gaspar Simões 18 , aliás<br />
também incorporado no pensamento neorrealista por Mário Dionísio 19 , agora defronta<br />
13 Idem, ibidem, p. 15 (sublinhado meu).<br />
14 Idem, ibidem, p. 18.<br />
15 Cf. Idem, ibidem, p. 25.<br />
16 Idem, ibidem, p. 39.<br />
17 Idem, ibidem, p. 19 (sublinhado meu).<br />
18 João Gaspar Simões, “Deformação, génese de toda a arte” in presença, nº 45, junho. 1935, p. 7-11. Cf. a análise de António<br />
Ramos de Almeida, “A propósito dos «Novos Temas» de João Gaspar Simões in O Diabo, nº 225, 14.janeiro.1939; nº 226,<br />
21.janeiro.1939; nº 229, 11.fevereiro.1939.<br />
19 O artista deve “deformar, deformar sempre até onde esta palavra (liberta do sentido etimológico) possa significar dar nova<br />
forma, escolher a forma capaz, a única, de dar a toda a gente claramente aquilo que queremos revelar” (M. Dionísio, “Ficha<br />
5” in Seara Nova, nº 765, 11.abril.1942, p. 132).
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />
a tese exemplar do presencismo enunciada por José Régio logo no primeiro número<br />
da famosa revista 20 : a de que a transposição estética da mais profunda experiência<br />
individual implicava a subjetividade. Para António Ramos de Almeida, não. Na exata<br />
medida em que a historicidade da experiência é irredutível e em que, por conseguinte,<br />
não há experiência que não seja histórica, toda a arte fica presa ao momento em que<br />
nasceu, situada no interior dos grandes conflitos sociais e mentais, e votada a uma<br />
posteridade tanto mais duradoura quanto mais penetrantemente elaborar a situação<br />
conflitual de que nasce.<br />
Creio que está aqui um dos traços definidores da poética neorrealista segundo<br />
Ramos de Almeida: a vinculação à situação em que nasce, o papel mobilizador<br />
essencial 21 e uma noção documental da posteridade das obras de arte: “As grandes<br />
iniquidades, as grandes injustiças sociais específicas de cada época histórica, os<br />
dramas passionais, onde a consciência do grupo dominante chega para esmagar<br />
até os impulsos mais naturais e elevados do homem, os preconceitos próprios e<br />
dominantes das sociedades fechadas pelo predomínio cego de uma classe, surgem em<br />
todas as obras primas da arte, quer o artista seja Cervantes e escreva o Dom Quixote;<br />
Shakespeare e escreva o Romeu e Julieta” 22 .<br />
Poderíamos perguntar, com o Marx da Contribuição para a Crítica da Economia<br />
Política 23 , se os motivos de emoção estética que sobrevivem nessas e noutras obras, e que<br />
ainda nos fazem lê-las, resultam do facto de documentarem tais conflitualidades; ou se<br />
não é a circunstância de Cervantes ou Shakespeare ou Tolstoi ou Balzac escreverem mais<br />
do que as palavras com as palavras que usam. António Ramos de Almeida, contudo,<br />
prende esse excesso (esse mais) à própria época 24 por meio da noção de cultura, um<br />
autêntico pressuposto da sua reflexão. O mais da expressão artística é o contributo da<br />
arte (da beleza, da imaginação) para a construção da cultura própria de cada época,<br />
de par com as descobertas científicas, os inventos técnicos, etc.: “a cultura representa<br />
[...] a interdependência de todas as descobertas, certezas e aventuras do conhecimento<br />
humano que, partindo da realidade, agem sobre a realidade, aprofundando e alargando<br />
o âmbito de uma conquista cada vez mais larga, mais ampla e mais profunda sobre o<br />
mundo externo e sobre ele próprio” 25 .<br />
15<br />
20 José Régio, “Literatura viva” in presença, nº 1, 10.março.1927.<br />
21 Leia-se este outro passo da obra que estamos a seguir: “a Arte fala aos sentidos, é dirigida à compreensão das multidões das<br />
massas – qualquer artista pretende ser compreendido por todos – enquanto que as doutrinas filosóficas dirigem-se à razão<br />
e, embora tendam para a universalização, tal universalização só pode realizar-se pelo convencimento individual de cada um”<br />
(p. 25).<br />
22 Idem, ibidem, p. 25.<br />
23 “A dificuldade não está em compreender que a arte grega e a epopeia estão ligadas a certa forma de desenvolvimento social.<br />
A dificuldade reside no facto de nos proporcionarem ainda um prazer estético e de terem ainda para nós, em certos aspectos,<br />
o valor de normas e de modelos inacessíveis” (Karl Marx, Contribuição para a Crítica da Economia Política, Editorial<br />
Estampa, Lisboa, 2ª ed., 1975, p. 240).<br />
24 Cf.: “é a essa densidade material e humana, a esse poder de penetração no fundo da sua época e ao poder simultâneo de<br />
técnica formal reveladora que os idealistas acoimam metafisicamente de eternidade” (António Ramos de Almeida, “Notas<br />
para o neo-realismo” in O Diabo, nº 315, 5. maio.1940).<br />
25 Idem, A arte e a vida, p. 10.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
16<br />
A arte pertence, pois, ao dispositivo de integração da cultura. Subverte na<br />
medida exata em que constrói, todo o ímpeto subversivo está inscrito no sentido da<br />
sua finalidade, no conceito da sua integração numa visão global do mundo.<br />
Assim, pode afirmar-se que a arte é um discurso ideológico insubstituível e<br />
que a polémica arte pura / arte social é, simplesmente, uma querela: “toda a arte é<br />
simultaneamente pura e social. Pura, na medida em que é expressão estética sincera,<br />
espontânea e livre de uma consciência humana [...] Social, não só por ser o homem<br />
um ser social – mas na medida em que nos revela a relação desse homem com outros<br />
homens e, sobretudo, na medida em que o artista, como ser social que é, exprime<br />
os dramas sociais, políticos e morais da sociedade de que faz parte, colocando-se na<br />
posição do grupo a que pertence” 26 .<br />
É no quadro desta compreensão alargada da inscrição social do processo artístico<br />
que vai decorrer a intensa atividade de António Ramos de Almeida. Na avaliação<br />
retroativa que dela podemos fazer agora, é possível reconhecer as consequências de<br />
uma certa “dispersão” 27 . Não estou certo de que seja a palavra adequada. Sobreveio<br />
a António Ramos de Almeida, inadiável, aquela mesma urgência que consumiu um<br />
Mário Sacramento: o imperativo (a um tempo cultural, político e artístico) de intervir<br />
em várias áreas particularmente sensíveis para o projeto de vida que tornaram seu.<br />
No caso de António Ramos de Almeida, pode dizer-se que esse projeto de vida<br />
tem três desdobramentos fundamentais: uma intuição poética do mundo; a inserção<br />
da transformação materialista da consciência intelectual portuguesa na nossa própria<br />
história cultural e política; a valorização da mediação cultural e da intervenção regular no<br />
espaço público. Além do sempre inacabado processo de aproximação luso-brasileira, de<br />
que António Ramos de Almeida é um dos grandes pioneiros e sobre o qual a Doutora<br />
Valéria Paiva escreve neste volume.<br />
O poeta António Ramos de Almeida apresentou-se publicamente, em 1938,<br />
com um pequeno livro de poemas intitulado Sinal de Alarme. Prestar atenção a obras<br />
como esta – mas há outras: Sedução de José Marmelo e Silva, publicada em Coimbra<br />
pela Livraria Portugália de Augusto dos Santos Abranches em 1937 28 ; Ilusão da Morte<br />
de Afonso Ribeiro, novelas publicadas em 1938 – é uma condição imprescindível para<br />
recontextualizar a génese do neorrealismo.<br />
No caso de António Ramos de Almeida, quer esse Sinal de Alarme, quer Sinfonia da<br />
Guerra, de 1939 (com prefácio e posfácio de Rodrigo Soares e de Joaquim Namorado,<br />
respetivamente), quer mesmo o longo poema de amor intitulado Sêde, editado em<br />
26 Idem, ibidem, p. 58-59.<br />
27 Uma nota não-assinada destaca, em Vértice (vol. XXI (1961), p. 210), o contributo de António Ramos de Almeida para a<br />
afirmação do neorrealismo e para a formação de uma verdadeira comunidade luso-brasileira. Mas observa que a obra legada<br />
“ressente-se da dispersão e de uma certa falta de amadurecimento”.<br />
28 No Jornal de Notícias / Suplemento Literário, nº1, 22. fevereiro. 1953, num dos “Perfis indiscretos”, consagrado a Afonso<br />
Duarte, António Ramos de Almeida evoca os tempos em que “surgimos na liça, o Marmelo e Silva, com «Sedução» e eu<br />
com «Sinal de Alarme», em 1937, e pouco depois, Fernando Namora e João José Cochofel, respetivamente com «Relevos»<br />
e «Instantes»”.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />
1944, aos quais devemos acrescentar Vulcão (1956), todos mergulham, mais do que na<br />
apreensão da guerra, no sentimento de que este é um mundo que acaba: “podes crer,<br />
meu amor, / É este o mundo que vai acabar”, como se lê no último fragmento de<br />
Sêde, intitulado “Profecia”. Ora, como dizer em arte a perceção da iminência histórica<br />
(que não significa cronológica) de uma transformação civilizacional, sempre pensada<br />
não se reduzindo a uma estrita dimensão política – essa é talvez a questão mais geral<br />
do neorrealismo.<br />
Não foi outro senão Joaquim Namorado que chamou a atenção para o seguinte: a<br />
“formulação ideológica” destes problemas “torna-se extremamente difícil, em virtude,<br />
primeiramente, de não existir no campo artístico um estudo aprofundado, metódico<br />
e específico destes problemas, tratados quase sempre em aspetos particulares ou à<br />
margem do desenvolvimento de outros. Os textos sobre arte e literatura dos filósofos<br />
materialistas são na maior parte dos casos fragmentos de trabalho incidindo sobre<br />
outros assuntos”.<br />
Não é tanto, pois, desconhecimento ou conhecimento precário. É de uma<br />
efetiva insuficiência teórica que deve falar-se. Mais: esta insuficiência de teoria<br />
prende-se com uma insuficiência da tradição – sobretudo, no campo literário, da<br />
tradição realista. Ainda nas palavras de Joaquim Namorado, “aos jovens escritores<br />
dos anos 30 punha-se o imperativo da criação de técnicas suscetíveis de exprimir o<br />
seu modo de entender o mundo” inspirando-se “nas tradições da nossa literatura<br />
popular [...] nas conquistas de certo romance moderno, em Michael Gold, em Istrati,<br />
em Steinbeck, Hemingway e nas experiências do romance brasileiro”; punha-se o<br />
problema de conquistar “um estilo apropriado às suas conceções do mundo e da<br />
vida; seria pedagógico comparar os modos como Mário Dionísio, Carlos de Oliveira,<br />
Namora, Cardoso Pires, Afonso Ribeiro e Abelaira atacaram e resolveram (ou não)<br />
o mesmo problema. Daí sairia pelo menos destruída a afirmação da uniformidade<br />
e realismo dos escritores neorrealistas”.<br />
É, pois, já a um neorrealismo ainda não nomeado que pertencem as referidas<br />
obras de José Marmelo e Silva, Afonso Ribeiro e António Ramos de Almeida.<br />
Que se trata, neste caso, de uma determinada intuição poética – é indubitável. A obra<br />
poética de António Ramos de Almeida não responde à letra de Maiakovski quanto<br />
à definição de “mandato social”: identificar a existência na sociedade de problemas<br />
cuja solução só pode imaginar-se através de uma obra poética. É descritiva,<br />
mantém-se no plano da denúncia e da mobilização. Mas um tal desencontro com,<br />
por exemplo, a radicalidade de Maiakovski é constituinte do neorrealismo.<br />
Mas as razões em que assenta esta (chamemos-lhe) limitação da obra poética<br />
aclaram os motivos do empenho de António Ramos de Almeida na intervenção regular<br />
no espaço público. A palavra poética é contagiosa, a palavra justa gera comunidade, é<br />
necessário alargar mais e mais o círculo da eficácia sentimental. Os “fundos” no Jornal<br />
de Notícias, crónicas escritas em cima da hora e sobre a atualidade, são vistas como<br />
conversas. Não são reflexões teóricas: mas um fluir do e no quotidiano (português ou<br />
não) capaz de pôr a claro algumas questões problemáticas.<br />
17
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
18<br />
A fundação do “Suplemento Literário” do «Jornal de Notícias» especializa<br />
essa intervenção. O cronista não desaparece, a atenção ao quotidiano mantém-se,<br />
mas António Ramos de Almeida abre uma outra frente: alargar a possibilidade de<br />
encontro do público com a literatura. O diagnóstico é instigante: “nunca a Literatura<br />
em Portugal tomou a projeção popular de hoje em dia. As homenagens prestadas o<br />
ano passado aos Poetas Teixeira de Pascoaes e João de Barros, o alvoroço que causou<br />
a recente visita de Jaime Cortesão, a Mensagem que os leitores e admiradores de<br />
Ferreira de Castro lhe vão enviar pela passagem do 25º aniversário da publicação dos<br />
«Emigrantes», provam o apreço, mais, a gratidão e a estima cordiais dos portugueses<br />
pelos valores mais representativos da sua Literatura [...]” 29 .<br />
O número crescente de suplementos literários em diários de Lisboa e do<br />
Porto – a inexistência de estudos impede o alargamento da geografia – é um aspeto<br />
dessa projeção popular porque “não há processo mais eficaz, mais relevante, mais<br />
consequente de levar a Literatura, no complexo de todos os seus problemas e valores,<br />
às grandes massas leitoras”.<br />
Essa ainda inexistente história dos suplementos literários é um obstáculo<br />
a que a iniciativa de António Ramos de Almeida ganhe escala e contexto. Mas há<br />
alguns traços gerais que são, mesmo assim, permitidos: o “Suplemento” consagrou<br />
minuciosa atenção ao que podemos considerar a vida cultural nortenha ou portuense<br />
mas não no registo neutro da informação, antes concebendo-se como acelerador da<br />
atenção. Não será excessivo tomar de empréstimo a Antonio Gramsci a noção de<br />
“organizador coletivo” e imaginá-la como tema, imperativo ou legenda da instituição<br />
de um “campo literário” consistente e duradouro.<br />
Além disso, o “Suplemento Literário” do «JN» torna-se um ponto de encontro<br />
de consagrados e estreantes, além de contar quinzenalmente com o Rodapé de crítica<br />
literária e de alguns saborosíssimos Perfis indiscretos do próprio António Ramos de<br />
Almeida.<br />
Nestas páginas fluentes, normalmente breves, amiúde retrospetivas ou memoriais,<br />
António Ramos de Almeida está na posse de uma maturidade compreensiva, sempre<br />
mais interessada na ótica cultural da integração do que na iniciativa vanguardista da<br />
rutura.<br />
No mesmo sentido embora menos conhecida e a requerer uma aturada<br />
pesquisa autónoma é a iniciativa da Sociedade Editora Norte. A sua constituição em<br />
1942 obriga a situá-la na constelação editorial que o campo neorrealista está a definir<br />
desde o início da década: Novo Cancioneiro (1941) e Novos Prosadores (1943) mas<br />
também os Cadernos Azuis e, de certo modo, a Biblioteca Cosmos de Bento de Jesus<br />
Caraça (1941).<br />
29 António Ramos de Almeida, “A vez da literatura” in Jornal de Notícias / Suplemento Literário, nº 1, 22. fevereiro.1953.
19<br />
CAT 44<br />
CAT 44<br />
Sedução: novela / José Marmelo e Silva; capa<br />
Luis Filipe de Abreu. – Edição definitiva. –<br />
Lisboa: Estúdios Cor, 1960. – 180 p.; 20 cm.<br />
– (Latitude; 42).<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos<br />
de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
CAT 44
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
20<br />
Entre as obras editadas pela SEN, contam-se Meridianos de arte e literatura: uma<br />
antologia de escritores modernos, organizada por Carlos Barroso em 1950 e, neste mesmo<br />
ano, o volume de dispersos de Soeiro Pereira Gomes, Refúgio Perdido; em 1951, publica<br />
Engrenagem de Soeiro Pereira Gomes.<br />
A integração, esse traço decisivo da sua conceção de cultura, subjaz igualmente,<br />
a meu ver, ao interesse de António Ramos de Almeida pelo devir do republicanismo<br />
português.<br />
Entendemos esta expressão em sentido estrito 30 . Ora, um dos pontos mais<br />
interessantes do que podemos chamar a transformação da consciência intelectual<br />
portuguesa em curso desde a primeira metade dos anos 30, é, num único e por<br />
vezes rápido processo (que, por vezes, a Guerra de Espanha acelerou brutalmente)<br />
a identificação dos limites do pensamento republicano (em resposta aos quais o<br />
Centro Republicano Académico de Coimbra lança o programa que deveria consistir<br />
em “republicanizar a República”), o reconhecimento da justeza do marxismo como<br />
discurso de emancipação em linha com todos os outros discursos da tradição<br />
iluminista, a vinculação política à esquerda do republicanismo clássico, colocando<br />
sob suspeita o socialismo da II Internacional.<br />
É na estrita consideração da situação portuguesa no quadro internacional que<br />
um grupo de jovens com interesses intelectuais começa a definir, cada um por si, o<br />
seu caminho. E, mas só depois, em estádios variados de amadurecimento coletivo.<br />
A matriz republicana perdurará no ideário de António Ramos de Almeida<br />
como um nunca acabado interesse intelectual de que são prova uma Antologia<br />
do Pensamento Republicano que planeou e dirigiria (a concretizar-se), e o trabalho,<br />
longamente amadurecido, sobre Bernardino Machado, que concretizado em<br />
antologia de textos precedido de estudo interpretativo, deveria inaugurar a referida<br />
Antologia. Mas perdura, para além disso, como pressuposto político necessário,<br />
embora suscetível de aprofundamento no plano social.<br />
A conquista definitiva de Bernardino Machado foi, para António Ramos<br />
de Almeida, a instauração política, científica e, por isso, ideológica, de uma<br />
antropologização geral.<br />
Ora, é neste quadro que Ramos de Almeida vai instalar o imperativo de uma<br />
historicização integral das práticas humanas.<br />
O trânsito de uma a outra não é imediato nem pacífico. Mas é fundamental: se<br />
há nele um elemento de justeza, e é este elemento de justeza que o torna um requisito<br />
necessário, nem por isso o cientismo republicano deixa de ser, como ideologia teórica,<br />
insuficiente e incompatível com a historicização das práticas humanas.<br />
30 Em sentido lato, seria importante considerar demoradamente, entre outras páginas, os ensaios que consagrou a João de<br />
Barros e a Raúl Brandão.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />
Mas não deixa de ser expressivo que o legado de António Ramos de Almeida,<br />
aquela obra que fica como derradeiro envio ou última palavra seja o seu confronto, a<br />
sua apreensão crítica mas sempre compreensiva, com o pensamento de Bernardino<br />
Machado.<br />
Mais: que as últimas páginas de O pensamento activo de Bernardino Machado<br />
transcrevam fragmentos de um escrito tardio do insigne republicano, de certo modo<br />
subordinadas a este mote: “Unir os homens pela razão, eis o supremo problema<br />
social”.<br />
Não será difícil surpreender aqui o problema do próprio António Ramos<br />
de Almeida. Pelo menos, um dos problemas centrais do seu envolvimento cívico.<br />
Porque os homens unem-se também – esta diferença com o republicanismo clássico<br />
é irredutível – pela afetividade e pelo sentimento, como a arte no-lo mostra.<br />
A permanente reflexão sobre a literatura brasileira constitui o campo privilegiado<br />
desta convicção. É no aprofundamento do significado da literatura brasileira que<br />
aquilo a que poderíamos chamar a dimensão cognitiva da literatura mais se revela.<br />
De 1938 é o ensaio intitulado “O romance brasileiro contemporâneo através<br />
de seus principais intérpretes”, publicado na revista Sol Nascente desdobrado em<br />
dois artigos, o primeiro consagrado a Jorge Amado e o segundo a José Lins do Rego<br />
e Amando Fontes.<br />
Mas vinha de mais longe o conhecimento pormenorizado e o acompanhamento<br />
atento da atualidade literária brasileira. O menino de engenho de José Lins do Rego,<br />
publicado em 1932, lê-o nas avenidas do Jardim Botânico coimbrão menos de um<br />
ano depois. Não será excessivo, por isso, conjeturar a centralidade do seu papel como<br />
intermediário na difusão desse chamado “romance regionalista” em Portugal.<br />
A conferência A nova descoberta do Brasil, pronunciada no dia 3 de maio de 1944<br />
e nesse mesmo ano editada num pequeno volume 31 constitui uma primeira fixação<br />
global da complexa relação de António Ramos de Almeida com o Brasil 32 – plasmada,<br />
aliás, nos múltiplos sentidos do título.<br />
O achamento histórico do Brasil, a descoberta do Brasil pelo jovem António<br />
Ramos de Almeida, a descoberta do Brasil pelos próprios brasileiros e a descoberta<br />
21<br />
31 António Ramos de Almeida, A nova descoberta do Brasil, Editorial Fenianos, Porto, 1944. Foi inicialmente uma conferência<br />
pronunciada no dia 3 de maio do mesmo ano no Salão Nobre do Clube Fenianos Portuenses, numa sessão presidida<br />
pelo Dr. Mauro de Freitas, Cônsul do Brasil no Porto. Doze anos depois, no mesmo dia 3 de maio (Jornal de Notícias, 3.<br />
maio.1956), António Ramos de Almeida volta ao tema e reforça a necessidade prática (quer dizer, ao mesmo tempo, política<br />
e cultural) da aproximação entre os dois países, fazendo coincidir o seu comentário com as palavras de Pedro Calmon,<br />
que estava em Portugal para comemorar justamente o dia 3 de maio e discursou na Academia das Ciências sobre a língua<br />
portuguesa.<br />
32 Além da edição autónoma, a conferência fará parte da obra Para a compreensão da cultura no Brasil, Maranus, Porto, 1950.<br />
Nela estão reunidos outros significativos ensaios de temática brasileira (“Castro Alves, génio poético do Brasil”, “A conquista<br />
da expressão brasileira” e “Para a compreensão de Rui Barbosa, Jurisconsulto da Democracia e da Paz”). Apesar de não<br />
reunir todos os escritos referentes ao mesmo tema, a esta obra deveremos regressar, noutra oportunidade, para reconstituir<br />
o amplo horizonte em que António Ramos de Almeida situava a valorização da “literatura regionalista”.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
22<br />
(isto é: o reconhecimento) do Brasil pela comunidade internacional são diferentes<br />
tópicos que confluem nessa reflexão apaixonada que – no entanto – é, porventura<br />
acima de tudo, a consagração da importância cognitiva da literatura.<br />
A partir da convicção de que “tudo o que se construiu no Brasil foi [...] produto<br />
de trabalho árduo e penoso, lutas de suor, de sangue, de lágrimas e de ideias, sem<br />
as quais nada se faz de grande neste mundo”, é lícito perguntar onde poderemos<br />
“descobrir os segredos das grandes lutas”, onde é que o devir-nação toma consciência<br />
de si próprio. Resposta: é na literatura, são “os poetas, os romancistas, os historiadores,<br />
os ensaístas, sobretudo os das novas gerações, aqueles que mostraram ao mundo a<br />
grandeza e a extensão do seu país”. Mais: “eles são a linguagem da selva, da ‘caatinga’<br />
e dos pampas, a palavra eloquente das florestas, dos rios e dos homens; representam<br />
sobretudo a luta admirável do homem que saiu das tribos, da escravatura e conquistou<br />
a liberdade, porta aberta à amplidão do Futuro”. É o que designa por “conquista da<br />
expressão brasileira”.<br />
Esquematicamente, é certo; rapidamente, sem dúvida – mas está aqui uma<br />
conceção de literatura.<br />
A literatura não distrai, não evade, não decora. A literatura também não é,<br />
simplesmente, a expressão de consciências individuais. A literatura que simplesmente<br />
distrai, evade ou decora está dessintonizada do seu próprio tempo. Ora, pertence a<br />
uma pré-compreensão geracional, partilhada por António Ramos de Almeida, que é<br />
possível, que é historicamente necessário construir os fundamentos dessa sintonia<br />
entre a arte e o tempo, isto é, entre o acontecimento histórico e os modos de expressão<br />
artística do acontecimento histórico.<br />
A arte deve fazer conhecer: e não, simplesmente, referir, ilustrar. Fazer conhecer<br />
significa mostrar o sentido de um acontecimento.<br />
A identificação destas características singulariza a “literatura regionalista”<br />
de outras práticas literárias e investe a sua difusão entre nós de um alcance<br />
completamente diferente da mera “divulgação” de autores brasileiros.<br />
Num artigo sobre O Amanuense Belmiro de Ciro dos Anjos, escreve: “Os romances<br />
de Graciliano Ramos, José Américo de Almeida, José Lins do Rego, Jorge Amado,<br />
Amando Fontes, Raquel Queirós, Erico Veríssimo chegaram de chofre, como um<br />
duche sobre uma sensibilidade leitora e crítica embutada pelo decandentismo mórbido<br />
do romance europeu que usara e abusara das escavações psicológicas. O romance<br />
brasileiro irrompia como qualquer coisa de diferente, repleto de força e de vida de um<br />
humanismo novo, onde os problemas concretos e reais da sociedade e do indivíduo se<br />
misturavam uns nos outros [...]”.<br />
Uma leitura “neorrealista” do modernismo, que reduz a valorização da<br />
linguagem ao subjetivismo e permanece numa estrita e estreita noção do que seja<br />
a análise psicológica conjuga-se, neste passo, com uma universalização da ficção<br />
brasileira “regionalista”. É como se se afirmasse, por outras palavras que o romance
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida | António Pedro Pita<br />
do século XX precisou dessa ficção regionalista para captar dimensões universais da<br />
condição humana. Ou: que o romance regionalista é um dos caminhos para estabelecer<br />
as bases de uma nova ficção. Ou ainda: foi na ficção regionalista brasileira que uma<br />
universalidade concreta da condição humana ganhou configuração e voz.<br />
Esta hipótese altera e enriquece a relação entre as culturas brasileira e portuguesa<br />
através do neorrealismo: não se trata só unicamente de divulgar, de fazer conhecer<br />
num país os valores artísticos do outro país ou de definir as bases de uma qualquer<br />
“comunidade”.<br />
Nem estamos também, simplesmente, no plano da “influência”, que é o<br />
dispositivo mais referido para caraterizar a receção da literatura brasileira pela<br />
literatura portuguesa.<br />
A validade da hipótese aberta por António Ramos de Almeida sugere que a<br />
influência dê lugar à mediação e, neste deslocamento, seja alterado o campo literário<br />
de que falamos.<br />
Logo, o que a literatura brasileira traz suscetível de inscrever-se na fundamentação<br />
estética do “neorrealismo” é, pelo simples facto de existir, a noção de que é possível<br />
uma outra prática literária, em que uma determinada consciência histórica ganha forma<br />
artística num espaço do modernismo.<br />
Hipótese que repercute muito para além da literatura portuguesa e da<br />
literatura brasileira e obriga a uma reconsideração aprofundada de todos os aspetos<br />
envolvidos.<br />
A hipótese de António Ramos de Almeida pode, mesmo, obrigar a uma revisão<br />
da história do neorrealismo e, nela, da receção da literatura “regionalista”. É que, como<br />
já vimos, o neorrealismo de António Ramos de Almeida não é um “neorrealismo”<br />
comum.<br />
A polémica arte pura – arte social é o resultado de um determinado amadurecimento<br />
político-doutrinário inicialmente vago e nebuloso, mas já real, em 1934 e 1935;<br />
amadurecimento (isto é: o esclarecimento de uma consciência de si) que envolve a<br />
irredutibilidade da arte e, em particular, da literatura.<br />
Uma revisão do “neorrealismo” que valorize estas indicações como alíneas<br />
pertinentes vai resultar, por certo, numa pesquisa que já não se centra em Portugal<br />
e no Brasil (embora seja impossível sem eles) mas envolve o desenho de todo<br />
um “campo literário” gerado pelo que me permitiria chamar a “positividade da<br />
experiência” (em contraponto da “pobreza da experiência” que a lucidez trágica de<br />
Walter Benjamin identificou na posteridade da Primeira Guerra).<br />
Mas este é um outro programa de trabalhos.<br />
23
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
24<br />
António<br />
Ramos de Almeida e a<br />
Livraria Latina Editora:<br />
contextos e dinâmicas<br />
Maria do Rosário Ramada Pinho Barbosa
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora:<br />
contextos e dinâmicas<br />
Maria do Rosário Ramada Pinho Barbosa 1<br />
Este texto não se limita a recensear as obras de António Ramos de Almeida,<br />
publicadas pela Livraria Latina Editora, porquanto nos fornece circunstanciadas<br />
informações sobre os contextos editoriais em que elas surgiram e as dinâmicas sociais,<br />
culturais e políticas em que elas se desenvolveram.<br />
Quais os mecanismos de conceção e produção dessas obras? Qual o seu impacto<br />
no tecido social? Que processos de comercialização e circulação foram desenhados?<br />
De que modo se repercutiram na imprensa? Estas são algumas das questões de que<br />
nos ocupamos neste estudo.<br />
Para além do elenco das obras de António Ramos de Almeida, elemento<br />
básico e de todos conhecido, acrescentamos e apresentamos um corpus documental<br />
– pertencente ao espólio de Henrique Perdigão, fundador da Latina – constituído<br />
por recortes de publicações periódicas, livros de registo de assinantes e de ofertas,<br />
manuscritos, alguns deles autógrafos, e datiloscritos de e para o autor ou a ele, direta<br />
ou indiretamente, associados, que nos permite interpretar a atividade da Livraria<br />
Latina Editora como mediador cultural no tecido social, histórico e cultural na década<br />
de 40 do século XX.<br />
25<br />
Henrique Perdigão e a Livraria Latina Editora<br />
Chamava-se Henrique Perdigão. Pelo que foi e pela sua ação, no campo da<br />
cultura, trazemos à memória a figura deste autodidata, persistente e empreendedor,<br />
que marcou uma época nos setores livreiro e editorial em Portugal.<br />
Este homem de letras, nascido na cidade do Porto em 1888 e emigrado ainda<br />
criança para o Brasil, legou-nos uma obra de inegável valor. Cedo manifestou um<br />
acentuado gosto pelos livros, pela leitura, pela escrita, pela literatura e pela lusofonia<br />
pelo que, em 1934, após duas décadas de trabalho, viu publicada a primeira edição do<br />
Dicionário universal de literatura: bio-bibliográfico e cronológico 2 , obra louvada pela Academia<br />
das Sciências de Lisboa e pela Academia Brasileira de Letras. Esgotado o título, deu à<br />
estampa, em 1940, uma segunda edição ampliada e ilustrada 3 . Sócio da Associação de<br />
Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Henrique Perdigão foi colaborador assíduo<br />
da Imprensa, designadamente do Diário do Porto entre 1926 e 1927, do Século em 1928,<br />
1 Professora na Escola Superior de Educação / Politécnico do Porto; investigadora no Centro de Investigação e Inovação em<br />
Educação (InED); doutoranda em Estudos Contemporâneos no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da<br />
Universidade de Coimbra.<br />
2 PERDIGÃO, Henrique – Dicionário universal de literatura: bio-bibliográfico e cronológico. Barcelos: Portucalense, 1934.<br />
3 PERDIGÃO, Henrique – Dicionário universal de literatura: bio-bibliográfico e cronológico. 2.ª ed. rev. Porto: Edições Lopes<br />
da Silva, 1940.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
26<br />
d’O Comércio do Porto entre 1930 e 1931, sendo ainda representante no Porto da revista<br />
Fémina em 1934. Mas, se os seus trabalhos literários merecem apreço e destaque, foi<br />
como livreiro e editor que mais se distinguiu, publicando obras de autores consagrados<br />
a par de escritores em início de carreira.<br />
Mesmo perante um cenário restritivo, de contingências várias definidas pelo Estado<br />
Novo, e, por isso, um ambiente pouco propício a novos projetos, dedicou-se a uma<br />
prática de mediação cultural alicerçada em dinâmicas consentâneas com a emancipação<br />
do campo editorial português e a consagração da difusão da língua portuguesa. Constituiu<br />
em outubro de 1941 uma sociedade e, em 15 de janeiro de 1942, inaugurou, no Porto,<br />
um novo “centro cultural” 4 , a Livraria Latina Editora. Em prol da divulgação do livro, e<br />
fora da máquina política ou a ela associada, foi “a primeira a instituir prémios literários” 5 ,<br />
lançando, logo no dia de abertura, um Concurso Literário dirigido a autores de língua<br />
portuguesa. Seguiu-se um outro, no ano subsequente, no âmbito das comemorações do<br />
seu primeiro aniversário 6 .<br />
O percurso editorial da Livraria Latina Editora manifestou-se desde o início da<br />
sua atividade e traduziu-se na edição de um livro de Henrique Perdigão, intitulado As<br />
escolas filosóficas através dos tempos: quadro cronológico desde os Jónios à actualidade 7 , na publicação<br />
das obras vencedoras das duas edições dos Concursos Literários, seguindo-se obras de<br />
autores cimeiros da literatura portuguesa e mundial. Contam-se, entre eles, os nomes de<br />
António Ramos de Almeida, Teixeira de Pascoaes, António Botto, João Gaspar Simões,<br />
Jaime Brasil, Manuel de Azevedo, Manuel do Nascimento, Emília de Sousa Costa,<br />
Aurora Jardim, Francisco Keil do Amaral, José Hermano Saraiva, Fausto Duarte, Carlos<br />
Babo, Guilherme Gama, Henrique Marques Júnior, Laura Chaves, Somerset Maugham,<br />
Molière, Walter Scott, Rabelais, Charles Dickens, Panaït Istrait, Henrique Sienkiewicz e<br />
Dostoievsky. Até ao final da década de 40, a Livraria Latina Editora publicou cerca de<br />
cinquenta livros, do ensaio à poesia, do romance ao conto, do livro técnico ao manual<br />
escolar. Fez ainda nascer a coleção cultural Cadernos Azuis, a coleção infantil Pinóquio e<br />
a coleção Autores Notáveis.<br />
António Ramos de Almeida e os ensaios sobre Antero de Quental nos<br />
Cadernos Azuis<br />
António Ramos de Almeida viu algumas das suas obras editadas pela Livraria<br />
Latina Editora, designadamente na coleção Cadernos Azuis dirigida por Manuel de<br />
Azevedo (1916-1984).<br />
4 <strong>RAMOS</strong>, Manuel – Editor Henrique Perdigão: um homem que honrou o Porto: a propósito do seu centenário. Jornal de<br />
Notícias. Porto, ano 102, n.º 20 (21 de junho de 1989) p. 10.<br />
5 SANTOS, Alfredo Ribeiro dos – História literária do Porto através das suas publicações periódicas. Porto: Edições Afrontamento,<br />
2009, p. 360.<br />
6 Em 1942, o primeiro Concurso foi consagrado ao romance e, no ano seguinte, ao conto.<br />
7 PERDIGÃO, Henrique – As escolas filosóficas através dos tempos: quadro cronológico desde os Jónios à actualidade. Porto:<br />
Livraria Latina Editora, 1942.
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
A coleção, publicada entre 1941 e 1945, “pela acessibilidade do seu preço e<br />
linguagem simples e clara como os problemas serão expostos, constituem um sério<br />
esforço de cultura popular. Nos seus volumes, cuidadosamente selecionados, serão<br />
abordados todos os assuntos de interesse geral, compreendendo” 8 cinco secções:<br />
Contos e Novelas, para “obras inéditas, ou pouco conhecidas no nosso meio, de<br />
prosadores nacionais e estrangeiros que, pelas qualidades literárias, riqueza psicológica<br />
e projecção humana, merecem ser divulgadas” 9 ; Os Homens e as Idéias, consagrada<br />
a “estudos sôbre as principais correntes políticas, sociais, económicas e filosóficas,<br />
assim como ensaios biográficos das grandes figuras da humanidade” 10 ; Literatura e<br />
Arte, para “pequenos ensaios sôbre tôdas as manifestações de carácter artístico e<br />
literário. Escolas e tendências. Principais figuras” 11 ; A Evolução da Humanidade, sobre<br />
“o homem através dos séculos na sua luta constante pelo progresso e bem estar<br />
da humanidade. As grandes descobertas e conquistas da História” 12 e, finalmente,<br />
Problemas Contemporâneos, secção em que “vários problemas do nosso tempo serão<br />
divulgados por especialistas numa linguagem clara e acessível a toda a gente. Serão<br />
tratados problemas de Ciência, Técnica, Pedagogia, Economia, Desporto, etc.” 13 . Dos<br />
seus doze títulos, da autoria de Manuel de Azevedo, António Ramos de Almeida<br />
(1912-1961), Júlio Filipe, Jorge Vítor, João Pedro de Andrade (1902-1974), Somerset<br />
Maugham (1874-1965), Duarte Pires de Lima (1917-1943) e Francisco Keil do Amaral<br />
(1910-1975), os números dois, três e quatro não foram editados pela Latina 14 :<br />
27<br />
AZEVEDO, Manuel de – O cinema em marcha: ensaio. 2.ª ed. Porto: Livraria<br />
Latina Editora, 1944 (Cadernos Azuis: Problemas Contemporâneos; n.º 1).<br />
<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero de Quental: infância e juventude. Porto:<br />
Livraria Latina Editora, 1943 (Cadernos Azuis: Os Homens e as Idéias; n. º 5). Vol. I.<br />
<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero de Quental: infância e juventude. Porto:<br />
Livraria Latina Editora, 1943 (Cadernos Azuis: Os Homens e as Idéias; n. º 6). Vol.<br />
II.<br />
ANDRA<strong>DE</strong>, João Pedro de – A poesia da moderníssima geração: génese duma atitude<br />
poética: ensaio. Porto: Livraria Latina Editora, 1943 (Cadernos Azuis: Literatura e Arte;<br />
n.º 7).<br />
MAUGHAM, Somerset – A carta: novela. Porto: Livraria Latina Editora, 1943<br />
(Cadernos Azuis: Contos e Novelas; n.º 8).<br />
8 Brochura de apresentação da coleção Cadernos Azuis.<br />
9 Idem.<br />
10 Idem.<br />
11 Idem.<br />
12 Idem.<br />
13 Idem.<br />
14 <strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – A arte e a vida, 1941; FILIPE, Júlio – Aurora e crepúsculo duma idade, 1942 e VÍTOR,<br />
Jorge – Nasceu um maltês!: contos, 1942 são editados pela Livraria Joaquim Maria da Costa, do Porto, embora igualmente<br />
dirigidos por Manuel de Azevedo.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
28<br />
<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero<br />
de Quental: infância e juventude. Porto: Livraria<br />
Latina Editora, 1943 (Cadernos Azuis: Os<br />
Homens e as Idéias; n. º 5). Vol. I.
29<br />
<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero<br />
de Quental: infância e juventude. Porto: Livraria<br />
Latina Editora, 1943 (Cadernos Azuis: Os<br />
Homens e as Idéias; n. º 6). Vol. II.<br />
<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero de<br />
Quental: apogeu, decadência e morte. Porto: Livraria<br />
Latina Editora, 1944 (Cadernos Azuis: Os<br />
Homens e as Idéias; n. os 9 e 10).
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
30<br />
<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Antero de Quental: apogeu, decadência e morte. Porto:<br />
Livraria Latina Editora, 1944 (Cadernos Azuis: Os Homens e as Idéias; n. os 9 e 10).<br />
LIMA, Duarte Pires de – História breve duma teoria. A Relatividade e breve ensaio<br />
sôbre o modernismo. Porto: Livraria Latina Editora, 1944 (Cadernos Azuis: A Evolução<br />
da Humanidade; n.º 11).<br />
AMARAL, Francisco Keil do – O problema da habitação. Porto: Livraria Latina<br />
Editora, 1945 (Cadernos Azuis: Problemas Contemporâneos; n.º 12).<br />
Verificamos, pois, que quatro dos doze títulos dos Cadernos Azuis se centram na<br />
vida de Antero de Quental (1842-1891).<br />
Nos números cinco e seis, António Ramos de Almeida retrata a infância e juventude<br />
abordando respetivamente A pátria e «A encantada e quási fantástica Coimbra» e a Vida<br />
coerente e aventurosa. A Latina iniciou a sua venda e distribuição em 25 de fevereiro de<br />
1943, tendo publicitado o seu lançamento no Jornal de Notícias, n’O Comércio do Porto,<br />
no Século, no Diário Popular e no Diário de Lisboa.<br />
Nos números nove e dez, sobre apogeu, decadência e morte, é refletida a Acção<br />
revolucionária, política e cultural; A decadência e O refúgio de Vila do Conde e A morte.<br />
Comemorando o segundo aniversário da Latina, este número duplo deu à estampa,<br />
em 15 de janeiro de 1944, com anúncios publicitários n’O Primeiro de Janeiro e no<br />
Século.<br />
No Livro de Assinaturas da Livraria Latina Editora encontram-se registados<br />
como assinantes destas publicações pessoas particulares e instituições, seguidos da<br />
respetiva proveniência, designadamente Luiz Roseira Abrunhosa (Covas do Douro),<br />
António Albuquerque (Évora), Joaquim Henriques Alexandre (Torres Novas), Álvaro<br />
Ramalho Alves (Torres Vedras), Mário Henrique do Amaral (Lisboa), Atilano dos<br />
Reis Ambrósio (Vila Franca de Xira), José Alexandre (Portimão), António Lopes<br />
Bastos (Vila Franca de Xira), Victor Hugo Portugal Branco (Lisboa), Remígio Baptista<br />
(Porto), Biblioteca do Ateneu Artístico Vilafranquense (Vila Franca de Xira), Silvino<br />
Calçada (Alcobaça), José António de Castro (Ílhavo), Armando G. Martins Coelho<br />
(Porto), Alfredo Coelho (Mirandela), Álvaro Santinho Coelho (S. Marcos da Serra),<br />
Fernando Couto (Instituto Comercial do Porto), Rui Cochofel (Caldas de Aregos),<br />
José dos Santos Dias (Alcácer do Sal), Telmo da Fonseca (Sabrosa), Saturnino Gameiro<br />
(Setúbal) Maria de Lurdes da Silva Gomes (Porto), Arnaldo Gouveia (Alcácer do Sal),<br />
José Maria Gueifão (Gavião, Alto Alentejo), António da Silva Guimarães (Porto),<br />
Carlos Augusto Gaspar (Vila Franca de Xira), Joaquim J. Lagoa Júnior (Portimão),<br />
Inácio José Alves Júnior (Torres Novas), Francisco Rocha Levezinho (Vila Franca<br />
de Xira), Alberto Gomes Maia (Coruche), Rogério Castro Martins (Porto), José dos<br />
Santos Marques (Lisboa), Vasco L. Moreira Marques (Espinho), António Nunes da<br />
Mata (Évora), Américo Ferreira Martins (Gondomar), Ramiro Nunes (Coruche),<br />
Manuel A. Pinto (Faro), Adelino Gonçalves Pinto (Silves), Fernando Pesca (Lisboa),
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
António Segismundo Pinto (Lisboa), Sebastião de Resende (Albergaria-a-Velha),<br />
João de Oliveira Rodrigues (Figueira da Foz), Firmino da Silva Rosado (Coruche),<br />
Joaquim Rodrigues (Alcácer do Sal), Fernando Soares (Amarante), José Lopes dos<br />
Santos (Torres Novas), António Santos (Setúbal), Jorge S. Santos (Porto), Rogério<br />
de Sousa (Porto), Carlos da Costa Silva (Paredes de Coura), Eduardo Sousa Vieira<br />
(Torres Novas) e Luiz Vieira (Batalha).<br />
O espólio integra ainda um Livro de Ofertas de Edições, do qual retiramos a<br />
lista de ofertas dos números 5 e 6 referentes aos anos 1943 e 1944: autor, Manuel<br />
de Azevedo, O Primeiro de Janeiro (Manuel de Azevedo, Jaime Brasil e redação), Jornal<br />
de Notícias (biblioteca e Aurora Jardim), O Comércio do Porto, Mário Vasconcelos e Sá,<br />
Século, Diário de Notícias, Diário Popular (Casais Monteiro e redação), Diário de Lisboa<br />
(João Gaspar Simões e redação), Novidades, República, Sol (Campos Lima e redação),<br />
Abel Salazar, Brotéria, Ocidente, Carlos Sombrio, Semana Tirsense, Raul Ardeiro, Daniel<br />
da Silva, Correio do Minho, Sousa Costa, Mota Ferreira, Paulo Freire, Jornal do Comércio,<br />
Armando Ferreira, Oldemiro César, Joaquim Costa, Livraria Lello, Seara Nova<br />
(Câmara Reis, Sidónio Muralha, Mário Dionísio, Agostinho da Silva, Fernando Lopes<br />
Graça e redação), Octávio Rodrigues de Campos, João Maria Ferreira, Maria do Lar,<br />
José Régio, João Pedro de Andrade, Adolfo Casais Monteiro, João Gaspar Simões,<br />
António de Sousa, Octávio Sérgio, Fernando Pinto Loureiro, Lino Lima, António<br />
Salgado, Manuel Mendes, Livraria Antunes, Secretariado de Propaganda Nacional<br />
(Diretor, José Alvelos e Tavares de Almeida), Fraga Lamares, Luiz Amaro, Raul<br />
Azevedo, Viagem (Conde de Ornelas e Rebelo de Bettencourt), Gil Vicente, Mário<br />
Portocarrero Casimiro, Jorge Vernex, José Osório de Oliveira, Ferreira de Castro,<br />
Casa da Imprensa e do Livro, Augusto Guerra, União Nacional, Julieta Ferrão e<br />
Vida Mundial.<br />
No mesmo Livro de Ofertas de Edições encontramos ainda referência às ofertas<br />
dos n. os 9 e 10 alusivas ao ano 1944: autor, Manuel de Azevedo, Sousa Pinto, Luiz<br />
Amaro, Luiz Botelho de Sousa, Oldemiro César, O Primeiro de Janeiro (Jaime Brasil),<br />
Jornal de Notícias, O Comércio do Porto, Seara Nova, Diário de Lisboa (João Gaspar Simões),<br />
Diário Popular (Casais Monteiro), Jornal do Comércio, Jorge Vernex, João Maria Ferreira,<br />
Mário Mota, Brotéria, Livraria Lello, Maria do Lar, Secretariado, Instituto Britânico,<br />
Livraria Antunes, Viagem (Rebelo de Bettencourt), Emília Sousa Costa, Julieta Ferrão,<br />
Casa da Imprensa e do Livro, A. Guerra e Mário Portocarrero Casimiro.<br />
Estes ensaios de António Ramos de Almeida, sobre Antero de Quental,<br />
foram largamente mencionados na imprensa. Entre esses registos encontramos<br />
artigos de Jaime Brasil (O Primeiro de Janeiro), João Gaspar Simões (Diário de Lisboa),<br />
Álvaro Salema (Vida Mundial Ilustrada), José Trajano (Jornal do Comércio, suplemento<br />
Domingo), Celso Pontes (Estrela do Minho), Carlos Sombrio (Gazeta de Coimbra),<br />
Jorge Vernex (O Ilhavense), João Maria Ferreira (Gazeta de Cantanhede) e Jorge de<br />
Lencastre (O Setubalense) e ainda outros nos jornais Semana Tirsense, Diário Popular,<br />
Jornal de Notícias, O Comércio do Porto e na revista Seara Nova.<br />
31
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
Semana Tirsense<br />
32<br />
“Foi posta á venda uma obra sobre Antero de Quental, infância e juventude,<br />
por António Ramos de Almeida, trabalho que faz parte de «Cadernos Azuis», edição<br />
muito interessante da conceituada Livraria Latina Editora, da rua de Santa Catarina<br />
n.º 2 a 10, do Pôrto.<br />
São dois volumes de bela apresentação, que encerram varios Sonetos do genial<br />
poeta, e em que o seu autor se refere a Antero, fazendo a evocação da sua vida, da sua<br />
grande obra e da sua figura extraordinaria de homem.<br />
Especial cuidado dedicou a Livraria Latina Editora á publicação do livro, que<br />
foi apresentado com magnifico aspecto, pelo que é crédora de todos os encómios.<br />
Gratos pelos volumes oferecidos a esta redacção” 15 .<br />
Gazeta de Coimbra<br />
“Mais um trabalho, mais um estudo sôbre o imortal autor dos «Sonetos».<br />
Nunca são demais os estudos àcêrca dos grandes valores. E Antero bem merece ser<br />
lembrado de quando em quando, para que a chama fulgurante, a centelha diamantina<br />
do seu talento continue erguida junto das sucessivas gerações que vão despontando.<br />
Êste estudo, firmado por António Ramos de Almeida, pertence aos «Cadernos<br />
azuis» – «Os Homens e as Ideias», – da Livraria Latina, do Pôrto, a quem não<br />
regateamos louvores pelo seu labor editorial.<br />
Temos presente os dois cadernos – I e II – subordinados à infância e juventude<br />
do Poeta que, como muito bem diz o autor do estudo, «continua mais vivo do que<br />
muitos que ainda não morreram».<br />
Não pretendeu o sr. António Ramos de Almeida dar-nos uma biografia, antes<br />
procurou isolar-se do chamado ambiente íntimo que muitas vezes conduz ao elogio<br />
das personagens estudadas.<br />
Não apresentando Antero como idolo, interpretou-o serenamente, e até um<br />
ou outro traço que se nos afigura de ficção literária, ajuda a compor o estudo, não<br />
alterando o perfil do Poeta.<br />
Nestas cento e tantas páginas que abrangem os dois cadernos, foi todo o espaço<br />
aproveitado com acentuada dignidade literária. Apraz-nos não só registar o facto, mas<br />
apontá-lo como motivo de mérito para o autor do estudo.<br />
Terminada, no II caderno a Infância e Juventude de Antero, vai seguir-se,<br />
segundo a nota final, apogeu e morte do Poeta. Aguardamos a conclusão do estudo,<br />
com justificado interesse” 16 .<br />
15 Semana Tirsense. Santo Tirso (7 de março de 1943).<br />
16 SOMBRIO, Carlos – Bibliografia. Gazeta de Coimbra. Coimbra (1 de abril de 1943).
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
Jornal de Notícias<br />
“Muito se tem escrito sôbre o imortal autor dos «Sonetos», o poeta de suma<br />
grandeza cuja vida foi uma chama constantemente agitada pelo vento.<br />
Nêste belo trabalho, cheio de personalidade e vibração, não nos é descrita a<br />
sua biografia, tão conhecida, mas sim o que o autor desejou comunicar ao leitor:<br />
«dar o seu vulto no todo da sua complexidade, através da sua evolução de homem<br />
responsável, de escritor e de artista.»<br />
Revela os vícios e as virtudes da sua acção e a projecção da sua obra sem<br />
parcialidades nem subjectivista «parti-pris» – usando apenas um instrumento: a<br />
verdade.<br />
Descreve o autor a vida tumultuosa do poeta em Coimbra, analisa a sua obra,<br />
traça o quadro em que figuram as grandes personalidades contemporâneas.<br />
Nêstes dois volumes da preciosa colecção «Cadernos Azuis», é tratado Antero<br />
de Quental na infância e na juventude. O trabalho ficará concluído com o estudo<br />
«apogeu e morte» que brevemente será publicado.<br />
A reprodução dum inédito busto do Poeta, autoria do ilustre artista dr. Abel<br />
Salazar, mais enriquece o marcante ensaio” 17 .<br />
33<br />
Seara Nova<br />
“[...] António Ramos de Almeida, apaixonado pela grandeza e pela complexidade<br />
da figura, meteu ombros a essa tarefa, e deu-nos, em dois tomos da colecção de<br />
Cadernos Azuis, a primeira parte dum estudo biográfico. Julgo que o facto de ter<br />
abandonado tudo o que houve de circunstancial e inconseqüente na vida da figura<br />
evocada não tira a êste estudo o carácter de biografia, de que Ramos de Almeida<br />
parece defender-se. Biografia não é o elogio dum caso pessoal, como R. de A. pensa,<br />
mas sim o aproveitamento de tudo o que ocorre de significativo numa vida.<br />
Procurou Ramos de Almeida narrar a evolução do grande poeta e doutrinário,<br />
desde a infância contemplativa e mística na Ilha de S. Miguel até às pugnas literárias<br />
e políticas que culminariam com a publicação dos opúsculos «Bom senso e bom<br />
gosto» e «Portugal perante a revolução de Espanha». As páginas dos dois livrinhos<br />
evocam em tons vivos a figura excepcional de quem se poderia dizer, como Romain<br />
Rolland disse de Tolstoi, que foi o menos literato dos escritores. O biógrafo não<br />
se contentou em dar os movimentos exteriores do homem, quer chefiando uma<br />
insurreição académica e transladando-se, com trezentos companheiros, de Coimbra<br />
para o Pôrto, quer encafuando-se no fundo duma oficina de tipografia em Paris,<br />
a-fim de pôr de acordo a sua acção cotidiana com as suas idéas socialistas: quis ir mais<br />
17 Jornal de Notícias. Porto (24 de abril de 1943).
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
34<br />
longe e mais fundo, pretendendo reproduzir as circunstâncias históricas e sociais que<br />
explicam a figura e a tornaram possível, bem como buscar dentro da consciência do<br />
próprio Antero as determinantes dos seus actos.<br />
O caso de Antero tem de ser encarado com amplitude de visão e sem restrições<br />
de qualquer espécie, para que, com a obra do poeta e do panfletário, que iniciou<br />
uma época literária e ajudou a criar o espírito crítico em Portugal, fique igualmente<br />
explicada a sociedade do seu tempo. Ramos de Almeida aproximou-se por vezes desta<br />
finalidade, que foi em parte a sua. As páginas em que se relatam as lutas académicas<br />
são animadas e flagrantes. Não ficou, possivelmente, assinalado como seria para<br />
desejar o ambiente social, que não se confinava a Coimbra e ao reaccionarismo<br />
do reitor Sousa Pinto. Sabemos vagamente que ao tempo da revolta académica era<br />
presidente do Conselho o Duque de Loulé, mas a evolução do pensamento de Antero,<br />
satisfatòriamente explicada quanto ao ambiente intelectual e às fontes culturais, fica<br />
um tanto obscura se para a entendermos integralmente quisermos inteirar-nos das<br />
condições económicas do país. A Coimbra romântica da boémia e de João de Deus,<br />
que ao princípio seduziria Antero inspirando-lhe as composições das Primaveras<br />
Românticas, e que mais tarde se transmudaria no foco da inquietação da mocidade<br />
literária, prestes a tornar-se a mocidade política, está bem descrita no opúsculo,<br />
embora dificilmente possamos, através dela, ajuizar do sincronismo social.<br />
A obra do poeta tem, nesta primeira parte, uma crítica quási exclusivamente<br />
dirigida às ideas tratadas nas composições que se transcrevem, no todo ou em<br />
trechos. As Odes Modernas são, efetivamente, um livro de ideas postas em poesia por<br />
um homem que atribuía à Poesia uma «alta missão» e que não supunha antagónicos<br />
princípios como êste: «A Poesia é a confissão sincera do pensamento mais íntimo de<br />
uma idade» a «A Poesia moderna é a voz da Revolução», porque, segundo êle, era no<br />
espírito de revolta que a sua geração vivia e respirava. Com tudo o que as ideas e a<br />
expressão tenham perdido de frescura e de verdadeira profundidade, com tudo o que<br />
encontramos hoje de precário no espírito poético de muitas composições, o certo<br />
é que Odes Modernas, representaram um golpe vibrante dirigido à secura clássica da<br />
época representada em Castilho, são espírito ultra-romântico de que eram portadores<br />
os bardos reunidos em volta do autor de A Noite do Castelo.<br />
Alguns sonetos documentam fases do pensamento de Antero e das suas crises<br />
metafísicas e afectivas. É pena que nem sempre as transcrições de sonetos e trechos<br />
das Odes fôssem revistas com cuidado. Numerosos versos aparecem com incorrecções<br />
que lhes alteram o sentido e o ritmo. Os versos finais dos sonetos transcritos na pág. 27<br />
do tômo I e 40 do tomo II apresentam desses descuidos. Também a interpretação que<br />
Ramos de Almeida dá a alguns dos sonetos me não parece sempre das mais correctas.<br />
Jugo, por exemplo, que o último soneto da série A Idea, aquêle que começa: Lá! Mas<br />
aonde é lá? Aonde? – Espera não é dos que com mais propriedade se podem chamar<br />
pessimistas. Antero coloca a idea, a feia virgem desdenhosa, não no espaço do mundo<br />
orgânico, mas no céu incorruptivel da Consciência. Para êle há sempre um refúgio onde
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
retemperar a alma triste, a alma chorosa, onde adormecer a antiga e secular ferida. O pouco<br />
cuidado nas transcrições prejudica igualmente a interpretação do segundo soneto de<br />
Tese e antítese em cujo último terceto que é assim:<br />
Combatei pois na terra árida e bruta<br />
Tê que a revolta a remoïnhar da luta<br />
Tê que a fecunde o sangue dos heróis!<br />
Aparece omitido o pronome a dos dois versos finais. Isto leva Ramos de<br />
Almeida a escrever: «A intolerância do ideal puro cedia lugar à voz que mandava<br />
combater até que se fecundasse o sangue dos heróis.»<br />
Aparte destes senões, que um maior cuidado na transcrição dos versos teria<br />
evitado, e que é de desejar não apareçam na segunda parte do trabalho, o estudo de<br />
Ramos de Almeida representa uma valiosa contribuïção para a compreensão da figura<br />
de Antero e do seu tempo” 18 .<br />
35<br />
O Primeiro de Janeiro<br />
“Ao noticiar o aparecimento dos dois primeiros tomos do ensaio biográfico-crítico<br />
«Antero de Quental», da autoria do sr. dr. António Ramos de Almeida, lamentamos o<br />
erro editorial que levara a fraccionar essa obra em cadernos, publicados com intervalos.<br />
Só agora apareceu o fim dêsse trabalho, reünindo num só tomo os dois cadernos de que<br />
deveria compôr-se. Com mais forte razão ainda, agora que podemos avaliar a magnitude<br />
da obra, lastimamos não ter sido publicada, como devia, em um só volume. Merecia-o<br />
a figura de Antero de Quental, sem par nas letras portuguesas; merecia-o, também, o<br />
notável estudo do sr. dr. Ramos de Almeida, completo, profundo e escrito com grande<br />
nobreza.<br />
Obra de investigação e de crítica, a cada passo documentada com pensamentos<br />
e afirmações de Antero, tirados dos seus poemas, dos seus artigos, das cartas aos<br />
amigos, é, sob êsse aspecto, modelar, tal a arte com que o autor soube engastar<br />
essas gemas preciosas no oiro fino do seu estilo. O esfôrço, porém, do autor em<br />
compreender e fazer compreender a figura complexa do pensador, em explicar as<br />
suas atitudes, em esclarecer pontos que uma crítica ignorante ou malévola deixara<br />
obscuros, sobrepassa tudo o mais do seu trabalho.<br />
A biografia do escritor Antero de Quental, aliás rigorosa nas datas, nos<br />
pormenores, em tudo quanto é do domínio da história, quási se anula ante êsse<br />
propósito de revelação do Homem, na sua grandiosa personalidade. O Santo laico<br />
encontrou o panegerista à sua medida. Era preciso ser poeta, como o autor, para<br />
captar as ressonâncias profundas dos «Sonetos» magníficos; era preciso ser um<br />
18 Seara Nova. Lisboa, ano XXII, n.º 839 (11 de setembro de 1943) p. 43-44.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
36<br />
estudioso dos problemas sociais para sentir a atitude de Antero ao debruçar-se sôbre<br />
êsses mesmos problemas. Certo, o autor, aqui e ali marca, a sua própria evolução,<br />
assinalando o que no socialismo de Antero houve de vago e utópico. É, porém, com<br />
uma ternura filial que interpreta o pensamento do grande antepassado e o desfibra e<br />
analisa, expondo-o, em todo o seu fulgor, aos homens de hoje.<br />
A segunda parte do trabalho do sr. dr. Ramos de Almeida, agora publicada, é a<br />
mais rica e cheia de vibração. Nela estuda o apogeu da vida do poeta e pensador e a<br />
paixão e morte do homem. Nestas, apenas evocadas na sua trágica majestade, não se<br />
detem muito; mas ao recordar aquele período de actividade que vai das Conferências<br />
do Casino até a segunda ida para Ponta Delgada, pode dizer-se ter o autor erguido<br />
o mais belo dos monumentos à memória do Poeta. Subtil análise é a que faz das<br />
inquietações religiosas de Antero e da sua sublimação que o levou a atingir uma espécie<br />
de ascese, aliás sem nada de místico. Considera o autor como uma manifestação do<br />
«complexo de inferioridade» a recusa do pensador a aceitar a candidatura de deputado.<br />
Talvez não fôsse. A terminologia psicanalítica ao entrar na linguagem comum sofreu<br />
alterações semânticas que permitem erróneas interpretações. A atitude de Antero foi<br />
obra da «censura do Eu» e, portanto, manifestação de inteligência superior, produto<br />
não só da auto-crítica como duma sócio-crítica penetrante e coerente.<br />
Em tudo, até no rebater do assêrto de ter Antero traído aqueles cujas angústias<br />
quis lenir, fez o sr. dr. Ramos de Almeida uma obra de justiça intelectual, de verdade<br />
histórica, sem deixar, contudo, de pôr um humano calor de ternura no modelar da<br />
figura portentosa. Assim o ensaio «Antero de Quental», a despeito da sua pobreza<br />
editorial, ficará como uma das mais completas e belas obras até hoje escritas sôbre<br />
o Santo laico que a geração de 70 reverenciou como um apóstolo e os homens de<br />
amanhã admirarão como um precursor” 19 .<br />
Diário Popular<br />
“Na colecção «Cadernos Azuis» que a Livraria Latina tem publicado apareceram<br />
agora os n. os 9 e 10 que correspondem a um só volume, sobre o «Apogeu, decadência<br />
e morte» dêsse extraordinário poeta que foi Antero de Quental. O estudo agora<br />
publicado completa o que, na mesma colecção, António Ramos de Almeida publicou<br />
e que referia, especialmente, a sua Infância e Juventude. [...]<br />
No caso do trabalho de António Ramos de Almeida o interesse é duplo porque<br />
o autor conseguiu, de maneira brilhante, mostrar o drama de uma vida, que, numa<br />
intensidade pasmosa, sentiu os mais violentos problemas da especulação filosófica da<br />
sua época. A sua obra não está ainda convenientemente estudada nem, porventura,<br />
19 [BRASIL, Jaime] – “Antero de Quental”, por António Ramos de Almeida. O Primeiro de Janeiro. Porto, ano 76, n.º 31 (2<br />
de fevereiro de 1944) p. 8. Uma parte do artigo foi reproduzida na badana da obra Eça: <strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de –<br />
Eça. Porto: Livraria Latina Editora, 1945.
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
nunca o estará se atentarmos na sua grandiosidade, mas o trabalho agora publicado<br />
constitui um valioso elemento para o seu estudo, razão porque merece ser lido por<br />
quantos encontram em Antero um Poeta e um Homem” 20 .<br />
Gazeta de Cantanhede<br />
“Livraria Latina Editora celebrou no passado dia 15 de Janeiro o 2.º aniversário<br />
da sua fundação.<br />
Livraria moderna, no mais lato sentido da palavra, ela celebrou o seu 2.º aniversário<br />
com a publicação de três obras literárias: Vida e Obras de Zola por A. Luquet, Arte de<br />
amar de uma cabecinha louca, romance de Sousa Costa e Antero de Quental por Ramos de<br />
Almeida. [...]<br />
Antero de Quental – apogeu, decadência e morte, de António Ramos de Almeida,<br />
faz parte dos Cadernos Azuis – n. os 9 e 10.<br />
Nos n. os 5 e 6 já êste escritor tratara de Antero de Quental – infância e<br />
juventude.<br />
Com a saída dos n. os 9 e 10 fica concluído o estudo que Ramos de Almeida faz,<br />
proficientemente, sobre aquêle notável escritor.<br />
Há a registar, com louvor, êste trabalho sobre Antero de Quental por ser feito<br />
com desenvolvimento, com inteligência, com certa originalidade.<br />
É um estudo que foge da vulgaridade de outros sobre o mesmo assunto.<br />
O autor encarou o ilustre biografado pelo seu prisma e dêle estudou,<br />
desenvolvidamente a faceta humana” 21 .<br />
37<br />
Jornal do Comércio. Suplemento Domingo<br />
“António Ramos de Almeida prossegue na sua análise da vida de um dos seres<br />
mais torturados pelo pensamento que jámais viveram em Portugal e até no mundo.<br />
«Antero de Quental», publicado nos cadernos azuis, da Livraria Latina, cujo<br />
esforço editorial se deve também pôr em merecido relevo, é uma biografia crítica do<br />
apóstolo de novas escolas e novas doutrinas que tam grande influência havia de ter na<br />
nossa vida intelectual e até mesmo na nossa vida política.<br />
No primeiro volume era a juventude do poeta que se analisava; neste é o seu<br />
apogeu, de cadência e morte. De Decadência fala o dr. Ramos de Almeida. Não<br />
sabemos, contudo, se se poderá aplicar semelhante palavra a quem toda a vida foi<br />
20 Diário Popular. Lisboa, ano II, n.º 488 (3 de fevereiro de 1944) p. 8.<br />
21 FERREIRA, João Maria – De tudo. Gazeta de Cantanhede. Cantanhede, ano XXVII, n.º 1381 (5 de fevereiro de 1944)<br />
p. 4.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
38<br />
de tam irregulares sentimentos como Antero; não nos parece que o pensamento do<br />
poeta tenha enfraquecido – ou decaído – nos últimos tempos de sua vida. Se as suas<br />
torturas físicas foram mais intensas, foram-no também as suas torturas morais, o<br />
que não significa forçosamente decadência. Não se manifestam elas bem nítidas, na<br />
primeira fase da sua vida literária?<br />
O estudo do Dr. Ramos Dias [leia-se de Almeida] é caracterizado por uma<br />
sólida documentação e por um desprêzo das opiniões já formadas e por quási todos<br />
aceites que só o recomendam e valorizam” 22 .<br />
O Ilhavense<br />
“Em volume elegante, apresentou Henrique Perdigão, da Livraria Latina, os<br />
n.os 9 e 10 dos seus Cadernos Azuis. O autor é António Ramos de Almeida que trata<br />
do apogeu, decadência e morte do célebre sonetista açoreano, como já tratou da sua<br />
infância e juventude nos n.os 5 e 6. Antero de Quental é estudado sob um aspecto<br />
novo, o revolucionário e internacionalista e, aqui, nem sempre objectivamente, pois<br />
Ramos de Almeida força a nota para fazer um trabalho com outras finalidades que<br />
não são o simples conhecimento e a mera interpretação de Antero. Boa apresentação,<br />
como sempre, da Latina Editora do Porto” 23 .<br />
O Setubalense<br />
“Antero de Quental – esse génio poético que atingiu na poesia portuguesa um dos<br />
mais altos lugares, esse vencido da vida que foi expoente da metafísica na nossa história<br />
literária – acaba de encontrar em António Ramos de Almeida uma apreciação à sua obra<br />
literária e social através do livro «ANTERO <strong>DE</strong> QUENTAL», editado pela Livraria<br />
Latina. É o 2.º e ultimo volume que sobre Antero o autor publica. Do primeiro volume<br />
já nos ocupamos nestas colunas em devido tempo. Falêmos deste 2.º volume em que o<br />
autor foca o apogeu, a decadência e a dramática morte do Poeta.<br />
O livro é de sentido crítico. É um ensaio equilibrado. O trabalho documenta-se<br />
sobre as páginas de prosa social, um socialismo dum cérebro iluminado por uma fé<br />
extraordináriamente ardente, um Socialismo pelo qual o Poeta batalhou inflamadamente,<br />
gritando aos quatro ventos períodos como êste: «O capital é o rei do Mundo: é mais: é<br />
um deus, o deus desta sociedade corrupta e injusta, mas um deus feito à imagem dela,<br />
como ela corruptor, injusto, tirânico! O resto, o que fica depois dêsse roubo legal e<br />
organizado, é o que se atira, quási como esmola, ao trabalhador, com o nome odioso<br />
de salário! O salário, resumindo em si todas as injustiças, todas as oposições, todas<br />
as misérias da sociedade actual, será de futuro o grande acto de acusação e o corpo<br />
22 Jornal do Comércio. Lisboa, ano 91, n.º 27117 (6 de fevereiro de 1944) p. 3. Suplemento Domingo.<br />
23 VERNEX, Jorge – Processos sumários. O Ilhavense. Ílhavo, ano 33, n.º 1430 (10 de fevereiro de 1944) p. 3.
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
de delito contra essa sociedade – e já hoje começa a ser no tribunal da consciência<br />
popular!» Mas se era assim quando se exprimia Antero no sentido revolucionario, era<br />
também assim que êle, verdadeira sensibilidade poética, que cantava:<br />
Num sonho todo feito de incerteza,<br />
de noturna e indizível piedade,<br />
é que eu vi teu olhar de piedade<br />
e (mais que piedade) de tristeza…<br />
Um místico sofrer uma ventura<br />
feita só do perdão, só da ternura<br />
e da paz da nossa hora derradeira…<br />
Ó visão visão triste e piedosa!<br />
Fita-me assim calada, assim chorosa.<br />
E deixa-me sonhar a vida inteira!<br />
É assim que Ramos de Almeida foca a obra poética de Antero: dando-nos páginas<br />
do seu labor, acompanhadas de passos da sua vida, com comentários que merecem<br />
alguns deles certa reflexão. O trabalho de Ramos de Almeida, é bom mas está muito<br />
longe de alcançar a excelência e a profunda crítica do «ANTERO», notável estudo do<br />
Dr. Fidelino de Figueiredo, «Great atraction», editado pelo Departamento Municipal<br />
de Cultura de S. Paulo, volume grande de 224 páginas, bastante documentado, que se<br />
torna de indispensável consulta para o conhecimento mais exacto e completo dessa<br />
forte personalidade das nossas Letras” 24 .<br />
39<br />
O Comércio do Porto<br />
“«Cadernos Azuis» – Na colecção «Cadernos Azuis» (Os Homens e as Ideias)<br />
acabam de aparecer, reunidos do mesmo volume, os n. os 9 e 10 de tão interessante<br />
série bibliográfica. Intitula-se «Antero de Quental» e é da autoria de António Ramos<br />
de Almeida. Estudo de crítica, análise e exaltação, «Antero de Quental» – que tem o<br />
sub-título de «Apogeu, decadência e morte» – é um trabalho consciencioso. Edição<br />
da Livraria Latina, do Pôrto” 25 .<br />
Estrela do Minho<br />
“A Livraria Latina Editora editou, recentemente, duas obras que, pela idoneidade<br />
e valor dos seus autores e pela contextura e oportunidade dos livros, merecem-nos<br />
não só as melhores referências, mas também o nosso franco aplauso.<br />
24 LENCASTRE, Jorge de – Bibliografia. O Setubalense. Setúbal, ano XXVIII, n.º 7964 (15 de fevereiro de 1944) p. 3.<br />
25 O Comércio do Porto. Porto, ano LXXXIX, n.º 51 (22 de fevereiro de 1944) p. 6.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
40<br />
O nosso franco aplauso estende-se à «Latina»; com efeito, a iniciativa de<br />
editar Vida e Obras de Zola e Antero de Quental mostra uma atitude e revela uma<br />
responsabilidade que precisa não passe despercebida, mostrando aos editores a<br />
compreensão do leitor.<br />
Apresentar a um público de conhecimentos limitados e sem crítica por<br />
acostumado à desagradável e excessiva zurrapa que por tôda a parte e por tôda a<br />
gente lhe é servida em baixelas integrais ou em púcaros de barro, dois escritores<br />
e duas obras de que andamos precisados e que é mister surjam, se desejamos uma<br />
cultura séria e eficaz capaz de nos levar àquele estágio atingido por certos povos,<br />
capacita-nos que a Livraria Latina deseja, possivelmente, dirigir o seu labor editorial<br />
no sentido de dar ao mercado português (ao povo, por conseqüência) as obras que até<br />
hoje lhe tem faltado: trabalhos e divulgações inteligentes, sérias e competentes.<br />
Pensamos assim, porque julgamos que tal atitude implica a responsabilidade de<br />
continuar a trilhar tão belo e soalheiro caminho [...]” 26 .<br />
Diário de Lisboa<br />
“António Ramos de Almeida, que acaba de nos dar a ultima parte do seu<br />
estudo sobre Antero de Quental, critico-biografico sobre Antero de Quental, também<br />
procurou ocupar-se de uma figura a propósito da qual lhe seria grato discorrer. Antero<br />
de Quental – Apogeu, Decadencia e Morte (Livraria Latina, Porto) é o desta ultima parte do<br />
seu trabalho. Ao ocupar-me há tempos aqui mesmo das duas primeiras partes desta sua<br />
monografia, tive ocasião de referir o tom caloroso em que Ramos de Almeida apoiava<br />
tudo quanto na obra de Antero estava de acordo com as suas ideias, dêle, critico. Nesse<br />
calor se traíam, então, algumas frases de pouca objectividade interpretativa levando, por<br />
vezes, o seu autor a descer ao nível da polemica. Nesta ultima parte, a objectividade é<br />
maior. Há mais sereno reflectir nas considerações de Ramos de Almeida, não obstante<br />
se denunciar aqui, muito mais ainda que no estudo da mocidade do poeta dos Sonetos, a<br />
propensão para interpretar tendenciosamente a obra do grande escritor. A biografia e o<br />
estudo do poeta são relegados, pode dizer-se, para segundo plano. Ramos de Almeida<br />
compraz-se em estudar a fase socialista de Antero, insistindo demasiado nessa sua<br />
tendência em detrimento da outra: a fase verdadeiramente importante para quem queira<br />
penetrar fundo no estudo da evolução psicológica e filosófica do grande escritor. Aliás,<br />
Ramos de Almeida proclama, quasi em cada pagina, que as ideias sociais do poeta<br />
das Odes Modernas são extremamente ingénuas. Mais uma razão, parece-nos, para<br />
atentar de preferência naquilo em que Antero não era positivamente de uma grande<br />
ingenuidade.<br />
26 PONTES, Celso – Bom Caminho. Estrela do Minho. Vila Nova de Famalicão, ano 49, n.º 2519 (27 de fevereiro de 1944)<br />
p. 4.
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
O estudo da existência de um homem tão complexo não se compadece,<br />
realmente, com parcialismos de ordem social ou politica. A atitude socializante de<br />
Antero era uma das modalidades que assumia nêle aquela ansia de perfeição moral<br />
tão inquieta e pateticamente documentada nos seus sonetos. É certo que para um<br />
espirito como Ramos de Almeida – espirito avido de proselitismo – compreender<br />
e aprofundar importa muito menos que afirmar e fazer adeptos. Ingenuo embora,<br />
Antero de Quental, no seu apogeu, sempre lutou pelo ideal que arrebata o seu<br />
biografo. É compreensivel portanto que seja a esse período da existencia do poeta que<br />
Ramos de Almeida consagra os seus entusiasmos. À medida que a morte se aproxima<br />
e que êle vai renunciando á luta colectiva a favor do combate consigo mesmo, Ramos<br />
de Almeida esfria. Os grandes problemas íntimos da personalidade já não parecem<br />
merecer-lhe grande atenção. O sentimento de classe aparece, para que Ramos de<br />
Almeida possa explicar mais airosamente aquilo mesmo que transcende os limites da<br />
sua interpretação. «No fundo de Antero, escreve êle, ficou sempre, apesar da sua luta<br />
titanica, o peso do passado, a sua consciencia de classe, o resto da sua fé religiosa,<br />
o virus da metafisica, gritando a sua libertação e a sua vitoria». De facto, é comodo<br />
explicar assim o que, afinal, de outra maneira se arriscaria a não ter explicação. Tenho<br />
receio de que, dentro de alguns anos, possa vir a acontecer a Ramos de Almeida o que<br />
presentemente está acontecendo a Antero de Quental, quando estudado por espiritos<br />
da estirpe do autor dêste estudo. A ingenuidade com que o critico o brinda quasi em<br />
cada pagina do seu estudo – voltar-se-á um dia contra aqueles que se supõem na posse<br />
da ciencia da personalidade e então ver-se-á quem era realmente ingenuo: aquele que<br />
tudo julga compreender graças á maravilhosa panaceia que reduz o homem a um jôgo<br />
de factores economicos e sociais ou aqueloutro cuja vida foi uma busca angustiosa<br />
da Verdade inatingivel. Não quero menosprezar com isto o trabalho de Ramos de<br />
Almeida, onde se afirmam valiosas qualidades de exposição e um coerente criterio<br />
doutrinario. Que êste estudo seja um ensaio para mais largos vôos no porvir é o<br />
que sinceramente desejo. Oxalá, porém, nessa altura já em Ramos de Almeida tenha<br />
amadurecido a auto-critica, presentemente verde ainda, e que seja ela, antes de mais<br />
ninguem, a segredar-lhe ao ouvido: «cuidado com as ingenuidades, meu velho»” 27 .<br />
41<br />
Vida Mundial Ilustrada<br />
“Nas biografias e estudos críticos publicados desde o centenário do nascimento<br />
de Antero sôbre essa estranha e inesgotável figura da vida portuguesa, o trabalho<br />
de António Ramos de Almeida em três tomos dos «Cadernos Azuis» foi um dos<br />
mais úteis e oportunos. Para isso concorrem igualmente as suas qualidades e os seus<br />
defeitos – a simplicidade e clareza da narrativa e a falta de novidade audaciosa nas<br />
interpretações.<br />
27 SIMÕES, João Gaspar – Os livros da semana. Diário de Lisboa. Lisboa, ano 24, n.º 7674 (6 de abril de 1944). Uma parte<br />
do artigo foi reproduzida na badana da obra Eça: <strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Eça. Porto: Livraria Latina Editora,<br />
1945.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
42<br />
É um êrro muito vulgar supôr-se que a personalidade e a obra de Antero<br />
podem ser «tratadas» literàriamente com objectividade, isto é, com rigorosa sujeição<br />
ao objecto estudado, com imparcial e exacto julgamento, sem tese e sem critérios<br />
pessoais. No entanto, ninguém estranha, como seria lógico esperar-se, que em tal caso<br />
a personalidade e a obra literária apareçam íntima e estreitamente ligadas, sem que<br />
possam separar-se uma da outra e constituindo problemas humanos intercorrentes<br />
que nunca se conseguem desarticular.<br />
Em princípio (como intuito prévio e nos primeiros passos do seu trabalho)<br />
Ramos de Almeida deixou arrastar-se por essa ilusão. Justamente porque Antero não<br />
é um escritor, nem um homem que se observe em obras definidas, mas um problema<br />
de múltiplos aspectos, o seu julgamento na mais larga riqueza de sentidos só pode<br />
efectuar-se através de uma perspectiva crítica tão fundamentada quanto possível,<br />
tão profunda quanto puder ser, relativista e interpretativa, portanto pessoal. Não se<br />
percebe bem o que Ramos de Almeida pretende quando afirma que êste trabalho<br />
«não é uma tese porque fugi a criar em tôrno do poeta dos «Sonetos» mais uma teoria<br />
mistificadora». Para um público mal instruído e mal informado como o nosso, pode<br />
muito bem ser a pior das mistificações, em certos casos, apresentar a figura de Antero,<br />
juntamente com a análise descritiva da sua obra, sem as versar no mais largo domínio<br />
da teoría.<br />
Neste estudo, felizmente, a capacidade intelectual do autor riu-se do seu propósito.<br />
O que realizou não foi uma obra sem teoria e sem tese – foi o outro objectivo que<br />
muito bem expôs e muito bem cumpriu. «Interpretar Antero na totalidade das suas<br />
qualidades e dos seus defeitos, vendo-o à luz do condicionamento humano e social<br />
em que viveu nos fins do século passado». Para o conseguir submeteu-se a tudo o que<br />
faz o inteligente apreciador de Antero: ficção literária, reconstituïção de ambientes,<br />
interpretações ousadas e discutíveis. Tão discutíveis que realmente nos aparece muitas<br />
vezes em plena expressão do seu grande conteúdo êsse dramático, emocionante,<br />
perturbador Antero que nunca terá o seu «estudo definitivo». Se o poeta dos «Sonetos»<br />
foi pouco contemplativo e anti-plástico; se foi «o mais gigantesco lutador de todos<br />
os mitos do estabelecido»; se o idealismo o atraiçoou ou foi êle que traíu, pela vida<br />
e pela morte, o autêntico idealismo; se a acção anteriana pode desmentir a idéia, se<br />
pode explicar-se apenas pela ingenuidade o seu idealismo revolucionário – tudo isso<br />
são teses que a boa garra crítica de Ramos de Almeida exprimiu com largueza; e o seu<br />
maior mérito está precisamente em oferecer aos que as lerem a melhor adesão que é<br />
o estímulo a outra análise crítica dos mesmos temas.<br />
Quando o autor dêste trabalho biográfico se diminue é nas páginas, bastante<br />
numerosas, em que o narrativo predomina sôbre o interpretativo; e como<br />
inconvenientes acessórios da obra, podem mencionar-se ainda o fracasso no estudo<br />
das influências que sofreu Antero; a indecisão, sentimentalidade vulgar, paisagismo<br />
externo exagerado no estudo da infância e adolescência do poeta; a evasão do problema<br />
da morte de Antero, que é um dos elementos fundamentais da sua vida e da sua obra
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
– talvez o mais arrebatador para quem o julgar na integridade da sua significação<br />
humana. Não se pode dizer também que Ramos de Almeida soubesse apreciar com<br />
a amplitude necessária à questão, não muito difícil mas com extrema actualidade, das<br />
relações de Antero com o socialismo do seu tempo; da compreensão que teve ou não<br />
teve da época político-social que atravessou e, sobretudo das razões que o desviaram<br />
(ou mesmo fizeram ignorar) do socialismo científico já então formulado. No restante,<br />
que é muito, êste biógrafo de Antero soube reconhecer e exprimir o que mais importa<br />
da sua sedutora personalidade para as gerações novas. Até o entusiasmo na admiração<br />
constitue uma virtude neste livro, para quem se habitua a encontrar neste país, a<br />
amarga e gelada indiferença dos medíocres pelos que os ultrapassam. Sincero e justo,<br />
apaixonado pelas grandes e generosas devoções do génio ao destino comum que a<br />
outros parece banal, Ramos de Almeida soube identificar-se com o seu nobre têma e<br />
viver nêle com toda a alma. Isso basta para que da obra irradie uma simpatia humana<br />
e uma sugestão compreensiva que aos leitores dirá quási tanto como a mais profunda<br />
e séria especulação crítica.” 28 .<br />
43<br />
Diário de Lisboa<br />
“[...] Ramos de Almeida concluiu a publicação do seu Antero de Quental, apogeu,<br />
decadência e morte, obra cheia de propósitos definidos em que o entusiasmo esmaga por<br />
vezes a serenidade expositiva [...]” 29 .<br />
Jornal do Comércio. Suplemento Domingo<br />
“Os Cadernos sôbre Antero revelariam um escritor de garra, se êle já não<br />
estivesse revelado. Os nossos ensaistas escrevem na generalidade em estilo impessoal,<br />
morto, frio e, por vezes, horrìvelmente maçador. António Ramos de Almeida, pelo<br />
contrário, é duma pujança, duma força, duma versatibilidade raras senão únicas na<br />
actualidade. Repleto de imagens audaciosas e vibrantes, o estilo de António Ramos de<br />
Almeida ganha neste estudo as gamas do descritivo, do explicativo, do interpretativo,<br />
do crítico com uma naturalidade impressionante [...].<br />
Ter revelado o Antero Humano parece-me ter sido essa a grande preocupação<br />
de António Ramos de Almeida – como êle próprio o diz na nota inicial ao trabalho.<br />
Se o foi conseguiu-o de maneira mais perfeita. Antero era até aí um mito, uma<br />
tese, uma cousa obscura e complicada. António Ramos de Almeida deu-nos a sua<br />
grandeza humana, revelando as suas fraquezas, sem o diminuir e os seus êrros sem o<br />
menosprezar” 30 .<br />
28 SALEMA, Álvaro – Literatura: Antero de Quental por António Ramos de Almeida. Vida Mundial Ilustrada. Lisboa, ano<br />
III, n.º 152 (13 de abril de 1944) p. 20. Uma parte do artigo foi reproduzida na badana da obra Eça: <strong>ALMEID</strong>A, António<br />
Ramos de – Eça. Porto: Livraria Latina Editora, 1945.<br />
29 SIMÕES, João Gaspar – A literatura em 1944: um ano literário sob o signo de Eça de Queiroz. Diário de Lisboa. Lisboa,<br />
ano 24, n.º 7938 (30 de dezembro de 1944) p. 17.<br />
30 TRAJANO, José – Jornal do Comércio. Suplemento Domingo. O artigo foi reproduzido na badana da obra Eça: ALMEI-<br />
DA, António Ramos de – Eça. Porto: Livraria Latina Editora, 1945.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
António Ramos de Almeida e o ensaio sobre Eça de Queiroz<br />
No âmbito do centenário do nascimento de Eça de Queiroz, em 1945, a Livraria<br />
Latina Editora publicou mais um ensaio de António Ramos de Almeida. Confiando<br />
ao autor, cerca de um ano antes, a conceção deste trabalho, anunciou na imprensa,<br />
desde abril de 1944, a sua edição.<br />
44<br />
<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Eça. Porto: Livraria Latina Editora, 1945.<br />
No Livro de Ofertas de Edições encontram-se mencionados, em outubro de 1945,<br />
data do início da sua comercialização, os nomes do autor e de Licínio Perdigão, Casa<br />
Museu Guerra Junqueiro, Mário Eleutério, Bertrand, José Filipe C. Silva, O Século,<br />
Diário de Notícias, Democracia do Sul, Notícias de Melgaço, O Século Ilustrado, Vida Mundial<br />
Ilustrada, Reconquista, Semana Tirsense, Brados do Alentejo, Gazeta de Cantanhede, Diário<br />
de Lisboa, República, Beira Vouga, Ocidente, Emissora Nacional, Brotéria, Seara Nova,<br />
Julieta Ferrão, João Maria Ferreira, Oldemiro César, Mário Portocarrero Casimiro,<br />
Jorge Vernex, Zeferino Moura, Correio dos Açores, João Pedro de Andrade, Leite<br />
Faria, Teixeira da Rocha, Carlos Sombrio, Livraria Lello, Araújo Lima, Portucale, Pinto<br />
Azevedo Júnior, A. Nascimento e Maria do Lar.<br />
Para além da publicidade n’O Primeiro de Janeiro, O Comércio do Porto, Diário de<br />
Notícias, Diário de Lisboa, o ensaio de António Ramos de Almeida sobre Eça surgiu em<br />
vários momentos nas páginas da imprensa escrita, designadamente através de artigos<br />
assinados por Celso Pontes (Estrela do Minho), J. Mendes (Brotéria), Vasco de Lemos<br />
Mourisca (Beira Vouga) e João Maria Ferreira (Estrela do Minho) e ainda nos jornais<br />
Gazeta de Coimbra, Gazeta Literária, Flôr do Tâmega, Democracia do Sul, O Século Ilustrado e<br />
O Comércio da Póvoa de Varzim.<br />
Estrela do Minho<br />
“[...] No próximo ano comemorar-se-á o primeiro centenário do nascimento<br />
de Eça de Queiroz, do actualíssimo Eça, dêsse magnífico escritor de que e de quem<br />
conhecemos menos, apesar de darmos a liceus, ruas, praças, jardins e monumentos o<br />
seu nome, do que muitos povos se nos avantajam em cultura e de que deles falamos<br />
com um ignorante desdém.<br />
Pois bem, com vistas a um alargamento de cultura, preparem-se os homens<br />
cultos, os pedagogos, os críticos, os homens de idéias e de acções para assentarem num<br />
plano de realizações sérias, capazes de tornar Eça melhor conhecido, por mais lido;<br />
compreendido e por melhor estudado; e para pô-lo, artista, sim, mas desatualizado<br />
por falta do ambiente e do meio que gera os Acácios, os Amaros, os Pachecos, etc.,<br />
que nos esmagam e não nos deixam ir mais além [...].
<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Eça. Porto:<br />
Livraria Latina Editora, 1945.<br />
45
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
46<br />
Mas quem, editorialmente, estudará, ordenará e nos dará boas e acessíveis<br />
publicações? Quem chamará a si tão magnífica iniciativa?<br />
A Livraria Latina tomou uma posição nítida ao festejar o seu segundo aniversário<br />
e o Norte espera uma editorial nortenha que se mostre à altura de compreender a<br />
nossa situação cultural e que a resolva.<br />
Que caminho irá percorrer agora a Latina Editora? Chamará a si, entre outras,<br />
boas iniciativas, a de dar ao País os livros de que carece sôbre Eça de Queiroz?<br />
A Latina tomou uma atitude aplaudível e o caminho aliciante que se lhe depara,<br />
não a deixará paralizada a pensar e a publicar livros que tão pouco dão a pêso” 31 .<br />
Gazeta de Coimbra<br />
“Com a aproximação da data centenária do nascimento de Eça de Queiroz, parece<br />
esboçar-se certo movimento de simpatia com a ideia de se celebrar condignamente<br />
essa data [...].<br />
No ano de 1945 passa esse centenário, o centenário do autor de «O crime do<br />
padre Amaro», de «A ilustre casa de Ramires», de «Os Maias», da «Correspondência<br />
de Fradique Mendes». Para que êle seja condignamente celebrado, é mister que se<br />
vão lançando, desde já, os alicerces para essa comemoração. Nada de guardar, como<br />
é nosso uso, para a última hora, o que deve ser feito com tempo e a tempo e horas<br />
preparar-se [...].<br />
Sabemos que uma importante livraria do Pôrto, apesar de contar simplesmente<br />
dois anos de existência, mas que, assim mesmo, tem desenvolvido já grande actividade<br />
editorial, publicará, sobre a obra de Eça de Queiroz, um volume por ocasião da data<br />
do referido 1.º centenário do nascimento do escritor.<br />
Referimo-nos à «Livraria Latina» que é dirigida pelo sr. Henrique Perdigão,<br />
autor do «Dicionário Universal de Literatura», de que, em 1940, se publicou a 2.ª<br />
edição ampliada” 32 .<br />
Gazeta Literária<br />
“O poeta e ensaísta António Ramos de Almeida, que recentemente publicou<br />
um notável estudo biográfico-crítico de Antero de Quental, vai publicar uma obra<br />
sôbre Eça de Queiroz, que será editada pela Latina Editora, desta cidade. Depois dos<br />
exaustivos estudos de Alvaro Lins, Viana Moog e Clovis Ramalhete, publicados no<br />
Brasil, será o trabalho de Ramos de Almeida a primeira obra de fôlego publicada em<br />
Portugal sôbre o grande romancista. Sabemos que mais do que da figura do homem,<br />
o ensaísta português se ocupará da crítica das obras de Eça” 33 .<br />
31 PONTES, Celso – Bom Caminho. Estrela do Minho. Vila Nova de Famalicão (27 de fevereiro de 1944).<br />
32 Gazeta de Coimbra. Coimbra, ano 33, n.º 4679 (18 de abril de 1944) p. 2.<br />
33 Gazeta Literária. Porto (29 de abril de 1944).
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
Flôr do Tâmega<br />
“Sai brevemente a público êste trabalho do escritor e poeta da moderna geração<br />
Dr. Ramos de Almeida, contribuição da Latina nas comemorações do centenário do<br />
nascimento de Eça” 34 .<br />
Democracia do Sul<br />
“A Livraria Latina Editora, do Porto, quiz contribuir para as merecidas<br />
comemorações do centenário de Eça de Queiroz, que agora vão ter lugar. E fê-lo<br />
com a publicação do livro «Eça», onde o seu autor, António Ramos de Almeida,<br />
fez minuciosa e pormenorizada análise ao incomparável escritor, à sua obra, vista e<br />
apreciada sob variados aspectos, à sua vida, etc.<br />
No prefácio dizem os editores: «Durante vários anos, desenvolveu-se entre<br />
nós uma larga campanha de descrédito com que se procurou, em vão, atingir não<br />
só o genial Eça, mas também toda a notável geração de 70. A inevitável reacção<br />
do bom senso e da justiça, em relação a esses homens, começou a surgir no Brasil,<br />
a que algumas vozes isoladas de portugueses ousaram vir juntar-se. Entretanto, a<br />
imortalidade da Obra de Eça não se compadeceu com tão inútil campanha e o preito<br />
de admiração e de respeito que hoje lhe rende toda a moderna geração da cultura<br />
portuguesa, constitui, portanto, não apenas um dever de justiça, mas também de<br />
necessária e imperativa reabilitação».<br />
Para que os nossos leitores possam avaliar do espirito criterioso do autor deste<br />
livro, no capitulo intitulado «Eça para além dos cem anos», ao referir-se ao presente<br />
ano – ao ano do centenário de Eça –, diz: «A época das Ditaduras feneceu. Os Hitlers<br />
e os Mussolines, dois símbolos da tirania que sairam das massas para as trair e se<br />
bandearem, desapareceram tràgicamente da vida política da Europa. O fascismo<br />
rendeu-se incondicionalmente. O dístico Eleições Livres tornou-se a palavra de ordem<br />
na Europa Ocidental.» E mais adiante diz: «Neste instante histórico em que parece<br />
que vamos assistir a uma viragem, Eça surge-nos como o romancista português que<br />
nos lega o mapa social e humano de uma época, o testamento de uma classe, a crítica<br />
de uma sociedade».<br />
«Eça» é, sob todos os aspectos – literário, histórico e social – o mais completo<br />
e perfeito livro que àcêrca do grande escritor surge no ano em que se vai celebrar o<br />
seu 1.º centenário.<br />
À Livraria Latina Editora agradecemos a oferta desta obra que já se encontra à<br />
venda nas livrarias desta cidade” 35 .<br />
47<br />
34 Flôr do Tâmega. Amarante, ano 60, n.º 3056 (26 de agosto de 1945) p. 3.<br />
35 Democracia do Sul. Évora (11 de novembro de 1945).
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
O Século Ilustrado<br />
48<br />
“Mais uma contribuição para a comemoração centenária do nascimento de Eça<br />
de Queiroz. O autor, que já em «Antero de Quental» tinha afirmado as suas qualidades<br />
de critico analista, apresenta-nos no seu «Eça» o homem, o artista, o ideologo, o<br />
«dandy», o humorista, o autor de caricaturas que ficaram como simbolos e que – ai<br />
de nós – como simbolos vivos existem hoje como existiram ao tempo dessa «geração<br />
de 70».<br />
Estudo demorado, muita observação, acertado criterio, revela êste volume que é<br />
mais uma voz clara que nos traz duas afirmações: uma que nos envaidece e outra que<br />
nos faz tristeza: 1.ª: Tivemos um grande romancista no século passado, um grande<br />
escritor que mereceu a comemoração centenaria do seu nascimento. 2.ª: Vamos<br />
caminhando velozmente para outra comemoração centenaria que deverá ser feita em<br />
silencio: a da ausencia dum segundo Eça.<br />
«Crime do padre Amaro», «Maias», «Primo Basilio» representam, na quasi<br />
totalidade, a bagagem literaria dum seculo no campo da literatura de ficção. Esta<br />
pobreza que eleva Eça de Queiroz não é de molde a envaidecer-nos a pintura que<br />
êle nos legou da nossa psicologia estreita e ainda não se desvaneceu. Duas ou três<br />
gerações têm tido o cuidado de a manter longe do sol e bem encaixilhada para que<br />
não desbote o colorido. Cuidado êste que se, por um lado prova a continuidade da<br />
raça, por outro afirma o nosso hábito de progredir «ou ralenti».<br />
E a nossa galeria de retratos continuará a mostrar aos turistas do espirito a<br />
Sanjoaneira, o Carlos da Maia, o Basilio, o conego Dias, o Palma Cavalão e êsse<br />
Jacinto farto de requintes e campainhas electricas a redimir na quinta de Tormes a<br />
orelheira, a couve penca e o tamanco.<br />
Num assomo de óptimismo saudavel pensemos que se de 70 para cá tivessem<br />
aparecido cinco ou seis Eças no nosso mundo das letras não teriamos agora o prazer<br />
de lêr tantas obras escritas em homenagem àquele que foi o unico.<br />
Por tudo, «Eça», de Ramos de Almeida, é dos mais completos estudos que até<br />
agora apareceram sôbre o grande escritor que a si próprio se designava como «pobre<br />
homem da Povoa de Varzim»” 36 .<br />
Estrela do Minho<br />
“Eça de Queiroz está na ordem do dia, pelo que os livros, os livrinhos e os<br />
livrescos que, sobre o grande romancista, se têm publicado são em número quase<br />
infinito.<br />
De três livros – livros autênticos e bons – eu vou dizer a minha impressão pela<br />
ordem do seu recebimento, que é sempre a melhor para não ferir susceptibilidades.<br />
36 O Século Ilustrado. Lisboa (1 de dezembro de 1945).
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
O primeiro que, sobre Eça, veio pousar sôbre a minha mesa de trabalho,<br />
enviado pelos editores: Dr. Renato Perdigão e Mário Perdigão, foi o livro Eça do<br />
sr. António Ramos de Almeida.<br />
Livraria Latina Editora, de que são proprietários os dois ilustres editores acima<br />
citados fizeram uma bem cuidada edição deste trabalho do distinto ensaísta.<br />
E bem o mereceu o autor que, tratando de Eça, o estuda em todas as modalidades<br />
do seu talento e, também, como homem, integrado na sociedade do seu tempo.<br />
Neste trabalho do ilustre ensaísta há a notar a minúcia de cada capítulo, que é<br />
uma faceta da obra do ensaiado ou dele próprio, como homem, e a maneira como<br />
essa observação é feita; maneira que nada tem de impessoal.<br />
Ao contrário de outros ensaístas, monótonos na linguagem e de forma apagada<br />
e fria, Ramos de Almeida, tem uma linguagem viva, expressão forte, forma rica e<br />
delicada, onde aparecem alguns neologismos.<br />
A obra e vida social de Eça é desfibrada com verdade e elegância e muitas vezes,<br />
comentada com coerente critério.<br />
Parece-me ser este o maior trabalho sôbre Eça, pelo menos aquele que melhor<br />
estuda e analisa, em profundidade, a obra do Mestre romancista, que foi Eça de<br />
Queiroz.<br />
Mas o certo é que António Ramos de Almeida mais uma vez nos mostra, como<br />
muito bem se diz na Nota dos Editores, «as suas excepcionais qualidades de biógrafo,<br />
crítico literário e observador personalíssimo e arguto dos homens e das coisas».<br />
E, com a publicação deste bom trabalho, a Livraria Latina Editora deu,<br />
patrioticamente e brilhantemente, uma valiosa contribuição para as Comemorações<br />
do Centenário de Eça de Queiroz [...]” 37 .<br />
49<br />
Gazeta de Coimbra<br />
“Pode classificar-se de apreciável contributo não só para o centenário de Eça de<br />
Queiroz, ou seja a celebração duma data memorável, mas também para a divulgação<br />
da obra tão fecunda como magistral, do romancista insigne, êste estudo «Eça».<br />
Vê-se que Ramos de Almeida estava intimamente familiarizado com o grande<br />
prosador, o que não quer dizer que se não tenha integrado mais profundamente na<br />
vasta obra queiroziana, para exprimir tão amplamente a sua análise.<br />
«A obra literária de Eça de Queiroz, – diz o autor – é daquelas que pela sua<br />
complexidade e rica variedade, não se limita, nem se define.<br />
37 FERREIRA, João Maria – Chá das Cinco: Da minha estante. Estrela do Minho. Vila Nova de Famalicão, ano 51, n.º 2614<br />
(16 de dezembro de 1945) p. 2.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
50<br />
Querer sustê-la na nossa mão, firmemente, é impossível, porque escorrega e<br />
se esgueira por entre os dedos como se fosse visgo. Repleta de contradições e de<br />
paradoxos, a obra de Eça é o retrato em corpo inteiro, dêle próprio».<br />
Ramos de Almeida analisa, comenta, clamando: «Eu apenas quis dizer dêle a<br />
verdade, nada mais. Basta de mistifica-lo, de glosá-lo, de explorá-lo».<br />
O autor, ao apresentar êste amplo estudo crítico, ergue a sua voz contra as<br />
injustiças que tenham pretendido obscurecer a obra que viverá dentro do seu halo<br />
de glória imperecível, marcando a intensa actividade do escritor que serviu as nossas<br />
letras com o cunho pessoal da sua ironia inimitável, e do seu fulgurante talento, tudo<br />
tão alto que, como diz Ramos de Almeida neste valioso estudo, Eça «continua vivo, a<br />
pontos de se tornar presente e actual»” 38 .<br />
O Comércio da Póvoa de Varzim<br />
“Passou êste ano o centenário do nascimento de Eça de Queiroz. Tôda a gente<br />
o sabe, de o ver escrito de há uns tempos para cá. António Ramos de Almeida – já<br />
conhecido e apreciado em poesia («Sinal de Alarme», «Sinfonia da Guerra», «Sêde»),<br />
em conferências («A arte e a vida», «A nova descoberta do Brasil») e num estudo<br />
critico sôbre Antero de Quental – veio falar-nos de Eça. Edição da Livraria Latina,<br />
em apresentação de capa felicíssima.<br />
O trabalho de Ramos de Almeida é magistral. Honesto, desmistificador,<br />
acessível. Classifica de Ensaios o livro e, de facto, cada um dos 12 capítulos é um<br />
ensaio completo e perfeito.<br />
Eça de Queiroz é-nos apresentado a uma luz nova – luz que esclarece, diz a<br />
autêntica verdade, não repetindo elogios acacianos e classificações tendenciosas. E Eça<br />
não sai apequenado de tal estudo consciencioso. Pelo contrário. Sentimo-lo maior porque<br />
mais humano, mais humano porque mais próximo de nós, mais compreensível.<br />
Ramos de Almeida estuda em conjunto o seu escritor e os dois que escreveram<br />
os romances mais lindos em Portugal: Camilo com o Amor de Perdição e Júlio Diniz com<br />
As Pupilas do Senhor Reitor. «Se, nas obras romanescas de Eça, as convenções acabam<br />
por vencer e dominar as paixões; nas de Camilo os convencionalismos nunca vencem<br />
e são antes as paixões humanas que acabam por triunfar, sobrepondo-se e reduzindo<br />
todas as convenções. E assim é o povo.» «O humanitarismo piegas e o idealismo<br />
fácil que emergem da obra de Júlio Diniz, transformam-no num escritor querido do<br />
povo português, simultâneamente mistificado por idealismos fáceis e humanitarismos<br />
piegas.» «Eça só poderá ser um escritor popular quando as classes trabalhadoras,<br />
que constituem a maioria do povo, superarem a sua ignorância primitiva, isto é,<br />
quando puderem atingir por meio de cultura – o que só conseguirão depois da sua<br />
38 Gazeta de Coimbra. Coimbra, ano 35, n.º 4925 (18 de dezembro de 1945) p. 2.
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
libertação económica – a crítica subtil da obra de Eça de Queiroz e mais tôdas as<br />
outras profundas virtualidades humanas e estéticas que nela residem.»<br />
Fala-nos, com honestidade, da posição de Eça perante a realidade imediata, em<br />
ensaios que parecem anular-se e que docemente, afinal, os dois Eças que é necessário<br />
distinguir: um que esteve sempre à margem de qualquer acção e, outro que descreveu<br />
e criticou a sociedade do seu tempo.<br />
Diz-nos do poder corrosivo da obra eciana, da sua observação perspicaz da<br />
«decadência das classes dirigentes, nas suas ideias informadoras e nas suas tradições<br />
decrépitas, no ridículo das suas velharias e na pomposa fraseologia das mistificações,<br />
que ainda hoje perduram.» E mostra-nos como «ninguém, entre nós apontou com<br />
mais verdade os vícios, os ridículos, as falsidades daqueles que por diferentes caminhos<br />
atingiram os lugares de comando e de domínio».<br />
Ramos de Almeida abre os olhos a muita gente atacando com decisão um<br />
dos pontos de mais polémica: que foi Eça politicamente? Todos o têm pretendido<br />
levar para o seu grupinho. «Eça de Queiroz tem sido rotulado de tudo: democrata,<br />
socialista, bolchevista, anarquista e nacionalista, apesar de ser quási sempre apodado<br />
de desnacionalizante e extrangeirado.» Mas «Eça não desfralda qualquer bandeira,<br />
antes pelo contrário, coloca diante de si uma missão: descobrir a realidade. As suas<br />
Farpas representam um esforço honesto de desmistificação da realidade que não foi<br />
igualado por nenhum dos seus contemporâneos, sobretudo, porque todos se deixaram<br />
dominar por uma mística.»<br />
Tem o autor vários ensaios sôbre os romances de Eça. Sôbre os romances, sôbre<br />
as caricaturas e os símbolos, sôbre os contos, as crónicas, os artigos e ainda sôbre as<br />
cartas. Crítica circunstanciada e esclarecedora. Padrão notável que ficará a marcar uma<br />
época. O condicionalismo em que viveu o escritor, o ambiente dos romances – tudo<br />
é considerado e julgado imparcialmente. Mas seria demasiado extenso se passasse a<br />
descrever do trabalho de Ramos de Almeida. Peor ainda se me alargasse às influências<br />
e ao estilo e à ironia e à sátira que o autor investiga com argúcia e minúcia. Apenas<br />
para finalizar me quero reflectir ao último capítulo.<br />
«Eça para além dos cem anos» é um capítulo formidável. Começa por historiar,<br />
à luz do materialismo dialéctico, o que êste ano de 1945 representa para a evolução<br />
da humanidade. «Para lá de tôdas as nebulosas mistificações que ainda restam, todos<br />
nós sentimos que neste ano de 1945, o Homem se voltou decididamente para o<br />
Futuro e que, apesar de todas as marras que ainda restam, cortou com o passado. A<br />
consciência humana venceu mais um interregno, cuja vigência demorava».<br />
Primeiro, a decomposição. «Cada vez mais devassa, mais decadente, mais pôdre,<br />
no uso sumptuário do seu poderio económico, político e social, a classe dominante<br />
acelerou desde o fim da guerra 14-18 – cujos resultados conseguiu ainda ludibriar e<br />
trair – a sua marcha para a falência e o fim.» Depois o clarear do novo dia. «A época<br />
das Ditaduras feneceu. Os Hitlers e os Mussolines, dois símbolos da tirania que saíram<br />
51
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
52<br />
das massas para as trair e se bandearem, desapareceram tragicamente da vida política<br />
da Europa.»<br />
O ano da Vitória – precisamente o do Centenário de Eça. Ramos de Almeida<br />
aproveita a coincidência para contar a sobrevivência do grande escritor. «Neste instante<br />
histórico em que parece que vamos assistir a uma viragem, Eça surge-nos como<br />
um romancista português, que nos lega o mapa social e humanos de uma época, o<br />
testamento de uma classe, a crítica de uma sociedade. É o mais próximo de todos os<br />
escritores do passado, porque a sua obra dá presença a esse passado.»<br />
Eis o livro de Ramos de Almeida sôbre Eça de Queiroz. Eis um modelo de<br />
crítica honesta, consciente e acessível. Obra que se impõe na literatura nova que está<br />
rejuvenescendo Portugal” 39 .<br />
Beira Vouga<br />
“Ramos de Almeida, o ensaísta de Antero, traz-nos agora o seu depoïmento<br />
sôbre Eça de Queiroz. Este último livro veio completar a impressão que já tinha do<br />
seu autor. Ramos de Almeida é um ensaísta, mas não é um crítico literário. E no ensaio<br />
tem virtudes muito apreciáveis: capacidade de jogar com ideias gerais, qualidade de ver<br />
o essencial, dom de levantar hipóteses, entusiasmo para rebater opiniões divergentes<br />
da sua e um estilo quente e fogoso (por vezes manchado de exclamações). Como<br />
crítico literário ponho-lhe restrições. O mesmo dom de erguer hipóteses, porventura<br />
alicerçadas em subtilezas que podem falsear a finalidade da obra, parece-me muito<br />
escorregadio em crítica literária. Uma hipótese, sem ser documentada, tem sempre<br />
um cunho de aventura que a crítica literária nâo pode acolher de ânimo leve. Ramos<br />
de Almeida, por outro lado, adere demais às personalidades que foca. Quase que<br />
combate por elas!<br />
Neste livro as manchas do romancista, diluem-se na prosa forte do ensaísta.<br />
Ramos de Almeida tem a qualidade de ver o essencial, mas deixa escapar, por vezes,<br />
pormenores úteis para a visão de conjunto da obra literária. Vê o essencial, nos<br />
romances de Eça, mas não tira as necessárias conclusões que nos habilitem a formular<br />
um juizo, que não seja parcelar, sôbre a estética do romancista.<br />
Tanto quanto nos permite o espaço, vamos fazer uma digressão pelo livro de<br />
Ramos de Almeida. Fá-la-emos por tópicos, a traços largos, discutindo pouco, mesmo<br />
o que seja muito discutível.<br />
O livro começa com a comparação entre Camilo e Eça, feita com inteligência.<br />
A comparação pode resumir-se nisto: mais península em Camilo e menos península<br />
em Eça. Dum lado a fôrça das paixões incendiadas, doutro lado os «empurrões do instinto»,<br />
o «preamar do cio», o «alarido áspero dos desejos» como aponta Moniz Barreto.<br />
39 O Comércio da Póvoa de Varzim. Póvoa de Varzim (22 de dezembro de 1945).
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
Ramos de Almeida tem, a seguir, uma bela observação acêrca do pouco vulto<br />
que tem o povo na obra de Eça. Eça viu a classe popular como um diplomata.<br />
Para ele o povo foi uma mera curiosidade.<br />
Torga chegou a dizer, condenando este alheamento, que havia salões a mais e<br />
suor a menos nos romances de Eça. Ramos de Almeida explica: as classes populares não<br />
tinham, ainda, consciência autónoma e conclui – «uma classe social só adquire expansão<br />
romanesca quando adquire consciência de classe».<br />
Noutro passo da sua obra, Ramos de Almeida pretende, cautelosamente, identificar<br />
a condessa de Govarinho com uma amante que Eça teria tido em New-Castle. É uma<br />
hipótese gratuita. Afirmar, em literatura, apoiado em meras presunções é perigoso<br />
e arriscado. A não ser que Ramos de Almeida tenha algum documento que ilumine a<br />
questão.<br />
Mais adiante o ensaísta, levado pelo tal vício de levantar hipóteses, aventura:<br />
«se Eça fôsse para Paris 10 ou 15 anos antes, talvez a sua obra tivesse tido outro rumo!»<br />
Por este processo até se podia imaginar o rumo da obra de Eça, se ele tivesse<br />
ido para Paris em 1940! O próprio Ramos de Almeida nota o deslise e interroga-se:<br />
«Mas para que criar hipóteses?...»<br />
É a pergunta que o leitor lhe faz. Construir hipóteses, a maior parte delas<br />
simples jôgo de raciocínio, pouco consistentes, não me parece o papel do crítico.<br />
Noutro capítulo, Ramos de Almeida perfilha a expressão de Castelo Branco<br />
Chaves que chama a atitude essencial de Eça – «espectatorismo», vincando que o<br />
romancista se sentou à margem da vida, enquanto ela passava. É uma expressão penetrante<br />
e singularmente feliz.<br />
Mas Ramos de Almeida, logo na página 163, tem uma ligeira contradição. Se Eça<br />
era um espectador irónico da vida, se Eça estava sentado á margem, se Eça não aderia,<br />
como é que ele: «sofria com a decadência que o cercava e o seu sofrimento se transformava em esperança<br />
que brotou no mais fundo da sua consciência?»<br />
Parece-me sofrimento demais!<br />
Eça apresentou-se, na verdade, como castigador da sociedade. Ele mesmo o<br />
diz em carta a Teófilo. Nós, porém, temos o direito de perguntar até que ponto Eça,<br />
nessa carta, pretendia justificar o Primo Basílio, e até que ponto essa carta representava<br />
uma atitude de verdadeira preocupação social. Em todo o caso, Eça devia sofrer pouco<br />
com a decadência que o cercava. Tudo o que não fôsse motivo artístico não o interessava<br />
grandemente. Mesmo algumas cartas a Oliveira Martins sôbre política, são cartas<br />
cintilantes, de indivíduo que se preocupa em ser cintilante e nada mais.<br />
Será prudente não complicar a personalidade de Eça, inventando um drama<br />
(a não ser as dramáticas contas do alfaiate!) na estética Queiroziana.<br />
53
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
54<br />
Ramos de Almeida alinha com Gaspar Simões quando afirma que Eça escreveu<br />
quase todo o «Mistério da Estrada de Sintra». Simões gasta umas páginas com deduções<br />
para tornar sólido o seu modo de ver.<br />
Ramos de Almeida não apresenta razões, limita-se a afirmar.<br />
Parece-me que a opinião não é pacífica e não ficou, ainda, suficientemente<br />
esclarecida. É, também, muito discutível e discutido qual será o melhor romance de<br />
Eça. Ramos de Almeida com Oliveira Martins e Fialho inclina-se, abertamente, para<br />
«O Crime do Padre Amaro». É uma opinião.<br />
Ainda, há bem pouco tempo, Régio e Gaspar Simões discutiram, indirectamente<br />
é certo, nas páginas de «O Primeiro de Janeiro», o assunto. Gaspar Simões escreveu,<br />
então, um magnífico artigo sôbre «Os Maias». Por um lado (não interessa, eu bem sei!)<br />
prefiro «Os Maias».<br />
Onde Ramos de Almeida se me afigurou extraordinàriamente feliz foi na<br />
apreciação de «A Relíquia».<br />
Tem, mesmo, um momento de rara penetração quando aborda a presumível<br />
incoerência do sonho do Raposão.<br />
Quase todos os biógrafos e estudiosos de Eça dão razão, neste ponto, à crítica<br />
de Pinheiro Chagas. Ramos de Almeida vê o problema hàbilmente e talvez seja<br />
interpretação a considerar.<br />
A pulhice de Raposão era uma «estratégia» que o meio beato e a necessidade de<br />
não o hostilizar, lhe impunham. E assim, conclui o autor, «se o sonho do Raposão está em<br />
contrário ao Raposão é porque para Eça êle era realmente o contrário daquilo que o meio beato o<br />
fizera ser» [...]” 40 .<br />
Brotéria<br />
“Nos dois livros anteriores de Fidelino de Figueiredo e Vieira de Almeida, leva-se<br />
a bem o diletantismo desprendido de Eça de Queiroz e a sua ausência de conclusão. As<br />
opressões do pensamento só vinham da extrema direita. Da outra banda, nada a temer<br />
para a inteligência. O primeiro daqueles críticos chegava a insistir na falsidade histórica<br />
da obra queirozeana, mas sem lhe ligar importância de maior. Se tudo se passava no<br />
campo meramente artístico, e o artista não tem de prestar contas daquilo que diz...<br />
Outros vieram, porém, que acreditam nas próprias ideias e tiram conclusões das<br />
dos outros. Entre esses, está o livro de Ramos de Almeida. Todo êle intrìnsecamente<br />
animado da ideologia comunista, um mérito pelo menos apresenta a nossos olhos:<br />
o da coerência com o sistema, e o da crença na influência da arte na vida.<br />
40 MOURISCA, Vasco de Lemos – Movimento literário. Beira Vouga. Albergaria-a-Velha, ano 5, n.º 33 (20 de fevereiro de<br />
1946) p. 4. Suplemento ASA.
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
Para êste Autor «Eça deixou [...] a verdadeira interpretação de uma classe<br />
que dominava e dirigia» (pág. 263); o «Portugal oficial, burguês, dominante e<br />
dominador foi chicoteado com requinte» (pág. 348); «Eça atacou sempre a ‘pátria’<br />
dos reaccionários» (pág. 370). Nisto, se pode resumir a interpretação que Ramos de<br />
Almeida, complacentemente, nos apresenta da obra de Eça. Tem razão, em buscar<br />
conclusões nessa obra, porque todo o artista, forçosamente, as fornece, nem que<br />
sejam senão as do seu cepticismo. O que seria para discutir, aqui, é se o romancista<br />
viu bem a realidade.<br />
Teve, êle, as intenções que o crítico dá como sentido da sua obra? Isso é o que já<br />
não tiramos muito a limpo dêste estudo. Dissemos, acima, que êle tinha o mértito da<br />
coerência, mas só o de uma coerência fundamental. Porque, no seu desenvolvimento,<br />
mostra uma tal pressa de composição e redacção, tal precipitação e incongruência de<br />
juizos, tal ausência de modos de ver pessoais, que dá a impressão de ter sido escrito<br />
a correr, por uma mentalidade a que o entusiasmo tirou o sentido da medida e dos<br />
cambiantes. A sintaxe dos períodos tropeça a cada passo; a boa composição cai em<br />
deslises como êste: «Camões que surgiu como uma cúpula com os pés já enterrados<br />
na decadência» (pág. 42); a morfologia apresenta anomalias como «sensaçorial»<br />
(pág. 271), «ritimo» (pág. 391), «relaixamento» (pág. 377), «Brunuitière» (pág. 276),<br />
demasiado sérias para serem gralhas; e a incoerência das opiniões, ora nos apresenta<br />
um Eça revolucionário simpatizante dos humildes como «uma das marcas essenciais da<br />
sua obra» (pág. 59), ora um «burguês com aspirações de ascender a fidalgo» (pág. 108) e um<br />
dandy que «esteve longe e perto de todos os acontecimentos e de tôdas as ideias do seu<br />
tempo» (pág. 131), «aparentemente uma espécie de camaleão que mudava constantemente<br />
de côr» (pág. 132); mas que, não sabemos como, «não teve medo ou pudor, olhou sempre<br />
para a Verdade» (pág. 275). A alumiar todos êstes pontos escuros, surge, por vezes, um<br />
anticlericalismo primário com as «poderosas forças de reacção armadas com as tochas da<br />
Inquisição» (pág. 43).<br />
Não; por mais que faça, o Autor não consegue arrastar Eça de Queiroz para o seu<br />
partido, apesar de o ver inscrito na Internacional. Êsse intento é a maior «mistificação»<br />
deste livro, que, por singular ironia, usa desta palavra, a propósito e a despropósito de<br />
tudo, com uma confiança ingénua no prestígio do vocábulo.<br />
Também aqui, o Conselheiro Acácio é empurrado, como um remorso, para<br />
o lado contrário. Mas, a págs. 365, a propósito da carta a Pinheiro Chagas, diz o<br />
Autor: «Nesse escrito, o talento humorístico de Eça é tão exuberante que nós temos<br />
a impressão de que êle sobra, quer dizer, ao lê-lo apetece comentar: É pena este<br />
homem ter tanto talento! Às vezes, abusa dele, como o bruto da força, o déspota<br />
do poder, ou o milionário do dinheiro». Esta frase não consegue quebrar de todo a<br />
solidariedade com Acácio. Lá diziam os admiradores exaltados de Pacheco: «Irra, que<br />
é ter talento demais!»” 41 .<br />
55<br />
41 MEN<strong>DE</strong>S, J. – Brotéria. Lisboa (abril de 1946).
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
Com uma tiragem de 2000 exemplares e impressa nas Oficinas Gráficas da<br />
Sociedade de Papelaria, Lda., esta obra encontra-se estruturada em doze capítulos:<br />
Eça cem anos depois; Eça – O Homem, a vida e a obra; Eça diletante, «dandy» e esteta; Eça – A<br />
realidade e as ideologias do seu tempo; Eça romântico e realista; Eça – O romancista e os romances;<br />
Eça e as suas personagens: das caricaturas aos símbolos; Eça – Os artigos, os contos, as crónicas e as<br />
cartas; Eça e as obras póstumas; Eça – As influências e o estilo; Eça humorista: a ironia e a sátira<br />
e Eça para lá dos cem anos. Transcrevemos na íntegra a Nota dos Editores:<br />
56<br />
“Ao comemorar-se, êste ano, o Centenário do Nascimento de Eça de Queiroz,<br />
a Livraria Latina Editora – consciente das suas responsabilidades culturais e certa de<br />
que a melhor maneira de homenagear o grande romancista português é compreendêlo<br />
e explicá-lo – decidiu contribuir, para essas Comemorações, com a publicação do<br />
presente trabalho.<br />
Durante vários anos, desenvolveu-se entre nós uma larga campanha de<br />
descrédito com que se procurou, em vão, atingir não só o genial Eça, mas também<br />
toda a notável geração de 70.<br />
A inevitável reacção do bom senso e da justiça, em relação a esses homens,<br />
começou a surgir no Brasil, a que algumas vozes isoladas de portugueses ousaram<br />
vir juntar-se.<br />
Entretanto, a imortalidade da Obra de Eça não se compadeceu com tão inútil<br />
campanha e o preito de admiração e de respeito que hoje lhe rende toda a moderna<br />
geração da cultura portuguesa, constitui, portanto, não apenas um dever de justiça,<br />
mas também de necessária e imperativa reabilitação.<br />
A Livraria Latina Editora procurou, portanto, oferecer uma obra que<br />
correspondesse realmente aos fins enunciados.<br />
Ao confiarmos – há cêrca de um ano – êsse trabalho a António Ramos de<br />
Almeida, certos estávamos de que o consagrado autor de «Antero de Quental» nêle<br />
encontraria nova oportunidade para demonstrar as suas excepcionais qualidades de<br />
biógrafo, crítico literário e observador personalíssimo e arguto dos homens e das<br />
coisas. Com o notável espírito de independência e de imparcialidade que o caracteriza,<br />
quer-nos parecer que Ramos de Almeida não desilude, com êste seu novo trabalho,<br />
aquele largo público que pelo seu mérito próprio conquistou e que se habituou a<br />
considerá-lo como um dos renovadores da actual cultura portuguesa.<br />
Entretanto, caberá ao Público e à Crítica o julgamento definitivo. Essa Crítica e<br />
êsse Público a quem devemos a glorificação de Eça de Queiroz, o que tanto bastaria<br />
para os considerar respeitáveis em todo o mundo das letras.<br />
Pela nossa parte sentimo-nos satisfeitos em poder render esta homenagem,<br />
modesta embora, ao romancista que, cem anos após o seu nascimento, é o mais actual<br />
das letras portuguesas” 42 .<br />
42 Nota dos editores in <strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Eça. Porto: Livraria Latina Editora, 1945, s.p.
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
António Ramos de Almeida e a Sêde da poesia<br />
A Livraria Latina Editora foi ainda depositária de inúmeras publicações, das<br />
quais evidenciamos a obra Sêde da autoria de António Ramos de Almeida.<br />
Impresso em 1944 nas Oficinas Gráficas da Sociedade de Papelaria, Lda. e<br />
comercializado a partir de 18 de novembro de 1944, o livro apresenta dezoito poemas<br />
com ilustrações de António Sampaio: Lápide; Encontro; Declaração; Liberdade; Sinceridade;<br />
Perdão; Pic-nic; Amor eterno; Recordação; Ausência; Saudade; A noite é bela; Tu; Destino; Um<br />
filho; Neutralidade; Passeio e Profecia. Encontramos publicidade à obra n’O Comércio do<br />
Porto, O Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Século e Diário Popular.<br />
Para além dos artigos n’O Primeiro de Janeiro, n’O Figueirense e no Diário de Lisboa<br />
(assinado por João Gaspar Simões), encontramos publicidade à obra n’O Comércio do<br />
Porto, O Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Século e Diário Popular.<br />
57<br />
O Primeiro de Janeiro<br />
“Em edição da Latina Editora, desta cidade, deve aparecer, brevemente, o<br />
volume de poemas «Sêde», da autoria do poeta e ensaísta Ramos de Almeida” 43 .<br />
O Figueirense<br />
“A Livraria Latina Editora, do Porto, inaugura a época literária com a publicação<br />
dos seguintes volumes: – «Mineiros», romance de Manuel do Nascimento; «Sêde»,<br />
poema do Dr. António Ramos de Almeida e «Fogo maldito», poema de Jerónimo de<br />
Almeida” 44 .<br />
Diário de Lisboa<br />
“[...] O ano poetico – foi ano de seca. Não devemos esquecer, no entanto<br />
que em 1944 apareceram as Poesias de Alvaro de Campos, uma das obras mais fortes e<br />
originais da poesia portuguesa de todos os tempos. Sofia de Melo Breyner, publicou<br />
um livro revelador, Poesia, e António Ramos de Almeida tentou de novo as musas<br />
com Sêde [...]” 45 .<br />
Revista Latina: um projeto não implementado<br />
A ação cultural da Livraria Latina Editora não se limitou, porém, à atividade<br />
editorial a que já fizemos referência. Henrique Perdigão pretendeu encetar uma nova<br />
43 O Primeiro de Janeiro. Porto, ano 75, n.º 343 (15 de dezembro de 1943) p. 6.<br />
44 O Figueirense. Figueira da Foz, ano 26, n.º 2465 (25 de novembro de 1944) p. 4.<br />
45 SIMÕES, João Gaspar – A literatura em 1944: um ano literário sob o signo de Eça de Queiroz. Diário de Lisboa. Lisboa,<br />
ano 24, n.º 7938 (30 de dezembro de 1944) p. 17.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
58<br />
<strong>ALMEID</strong>A, António Ramos de – Sêde:<br />
poema. [S. l.: s.n.], 1944.
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
aventura editorial, relançando uma revista ilustrada consagrada à cultura, a Revista<br />
Latina. O projeto, pelo intuito cultural e pelo valor dos colaboradores chamados ao<br />
primeiro número, merece ser conhecido nos seus pontos fundamentais.<br />
Henrique Perdigão, enquanto diretor da publicação, esboçou o propósito<br />
editorial dessa revista que se pretendia mensal e que compreendia quatro seções:<br />
Letras, Arte, Turismo e Cinema. A redação e a administração seriam da Livraria<br />
Latina Editora, o editor Alfredo Fonseca Santos 46 , o fundador J. Camacho Pereira 47 ,<br />
a composição e impressão das Oficinas Gráficas da Sociedade de Papelaria, Lda., no<br />
Porto. O seu lançamento fora anunciado para o dia 15 de abril de 1944.<br />
59<br />
Na nota de abertura, intitulada Duas palavras de apresentação, Henrique Perdigão<br />
esclarece:<br />
“[...]a Latina era, na sua primeira fase, essencialmente uma revista de turismo.<br />
Na nova fase que hoje inicia, com novo aspecto e nova direcção, ela pretende ser,<br />
acima de tudo, uma revista de Literatura e de Arte, se bem que o Turismo lhe continue<br />
a merecer a melhor atenção. E com o Turismo – cuja secção continua entregue a<br />
quem por êle já muito tem feito, – o Cinema e outras manifestações da Arte e do<br />
Progresso”.<br />
O editorial encerra deste modo:<br />
“Quem vem dirigir a Latina, entrando, como entra, numa arena onde, até agora,<br />
só como «diletante» tem actuado, conhece bem as suas insuficiências e inaptidões.<br />
Mas, como a boa vontade e o muito amor às Letras suprem, por vezes, os dons<br />
e primores da Inteligência, perdôe-se-nos o ousadio da incumbência que tomamos<br />
sôbre nós.<br />
De uma coisa, entretanto, podem todos ficar certos: é de que não vimos para<br />
aqui servir os nossos interesses particulares, ou da Emprêsa de que fazemos parte,<br />
mas única e exclusivamente a cultura em geral e o bom nome da Literatura Portuguesa,<br />
em particular.<br />
Dessa Literatura que, dentro do âmbito da sua expressão linguística – e com<br />
perdão dos derrotistas – de modo nenhum nos envergonha ou deprime – nem deste<br />
nem do outro lado do Atlântico.”<br />
Transcrevemos uma carta de Henrique Perdigão dirigida a José Alvelos<br />
(Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo), na qual se dá<br />
conta das caraterísticas da publicação e se solicita o despacho da licença requerida:<br />
46 Um dos sócios de Henrique Perdigão na Livraria Latina Editora, também sócio das Oficinas Gráficas da Sociedade de<br />
Papelaria, Lda., tipografia que se encarregou da impressão da maioria dos títulos publicados pela Latina.<br />
47 Proprietário e editor da primeira série.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
60<br />
Revista Latina (capa e nota de abertura para<br />
o n.º1, com lançamento previsto para 15 de<br />
abril de 1944).
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
“[...] uma revista mensal, de caracter literário e artístico, colaborada pelos<br />
nossos melhores valores actuais, e feita em papel de optima qualidade, enfim, revista<br />
que virá sem dúvida trazer ás Letras – e só ás Letras, pois tudo o que não diga respeito<br />
á política do espírito será dela inexoravelmente banido – qualquer coisa de novo,<br />
de belo e de util. Tem essa revista o nome de «Latina» e foi fundada já ha perto de<br />
14 anos, mas há muito tinha a sua publicação suspensa, saindo apenas um número<br />
de ano a ano para garantia de título. Só em papel para ela estão empatados já mais<br />
de 30 contos, pois como V. Exa. compreende sendo o papel, hoje, a nossa maior<br />
dificuldade, temos de nos prevenir para largo tempo, por quanto as tradições que a<br />
n/ Casa já alcançou não permitem que se crie uma revista para desaparecer passados<br />
2 ou 3 números. Não vimos com ela – é preciso frisar – criar fonte de receita para a n/<br />
Casa; muito pelo contrário, vimos é trazer-lhe um encargo não pequeno, pois que a<br />
receita de modo nenhum cobre a despeza, mesmo que vendida seja a tiragem. Só uma<br />
pequena publicidade que naturalmente iremos fazer – mas discreta, porque não<br />
queremos uma revista de anúncios – irá, hipoteticamente, fazer contrabalançar<br />
essas despezas. Tambem não vimos, ao contrário do que possam pensar, fazer da<br />
Revista um órgão de interesse da n/ Casa. Vimos, sim, é pô-la ao serviço geral<br />
das Letras, de todos os n/ colegas, do público, enfim, mantendo o fôgo sagrado<br />
da cultura do Espírito, que é o nosso fim principal.<br />
Ora ao contrário do que V. Exa. possa supor, eu não venho, a despeito do<br />
que dito fica, pedir qualquer auxílio material para a nova revista – auxílio que, aliás,<br />
não seria imerecido. Ouso vir é pedir a valiosa interferência de V. Exa. perante o<br />
digno Director desse Secretariado, ou de quem mais possa no caso influir, para que as<br />
licenças que se pediram á Censura no sentido de ser autorizada a saida da revista, sejam<br />
concedidas sem entraves. Quem pede essas licenças é o próprio proprietário da revista<br />
(é o seu nome J. Pereira) pois ele não nos quís vender o título, que lhe propusemos<br />
comprar, para que a publicação fosse só nossa. Assim e segundo o contracto que<br />
temos, a revista passará a ser da nossa direcção e administração exclusivas, mas dele<br />
a propriedade. Claro que nos não agrada nada esta situação, mas nós só a aceitamos<br />
pela dificuldade que sabemos que há de darem autorização para se fundarem revistas<br />
novas. Ora é sobre este ponto que venho, principalmente, valer-me de V. Exa: Dado o<br />
carácter que á revista vamos imprimir e á garantia que estamos dispostos a dar, como<br />
e quando nos seja exigida, não seria possível obter-se licença para publicarmos uma<br />
revista NOVA, desse género, que seria, então, só nossa e de todos os que ainda teem<br />
fé de que o Espírito não morre? É a esse respeito que desejava ouvir V. Exa., crente<br />
como estou, de que o assunto não poderá deixar de interessar o seu culto espírito,<br />
como também suponho que não deixará de interessar o Secretariado, que a iniciativas<br />
destas não costuma ficar indiferente” 48 .<br />
61<br />
48 Carta remetida por Henrique Perdigão a José Alvelos, em 6 de março de 1944.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
62<br />
Convém esclarecer que a primeira série da Latina: Revista de Intercâmbio entre os Povos<br />
Latinos e Panlatinismo se iniciou em maio de 1930. Encontramos, na sua ficha técnica,<br />
J. Pereira, como editor e proprietário, e Mário Peixoto como administrador. Dedicada<br />
essencialmente ao Turismo, com uma seção dirigida por J. Pereira, incorporava ainda<br />
outras áreas como Expansão, dirigida por Francisco António Corrêa; Paços e Solares,<br />
dirigida por Luciano Ribeiro; Sciencia, dirigida por Costa Lobo; Critica Literária, dirigida<br />
por Cunha e Vasconcelos; Arte, dirigida por Martinho da Fonseca e outras seções<br />
designadamente Economia, História, Tradições e Colónias. Entre os seus colaboradores<br />
registam-se os nomes de Alfredo Pimenta, Augusto Casimiro, Antero de Figueiredo,<br />
António Corrêa de Oliveira, António Ferro, António Saúde, António de Séves,<br />
Armando Cortesão, Armando Navarro, Cardoso Marta, Carlos Carneiro, Carlos<br />
Selvagem, Cristóvão Ayres, Egas Moniz, Ernesto Soares, Ernesto de Vasconcelos,<br />
Eugénio de Castro, Gago Coutinho, João Barreira, João Jardim de Vilhena, João de<br />
Barros, Joaquim Manso, José de Figueiredo, José Ferrão, José Joaquim de Almeida,<br />
José Leite de Vasconcelos, José Soares, Júlio Dantas, Laranjo Coelho, Lopes de<br />
Mendonça, Luiz Keil, Manuel Ribeiro, Norberto de Araújo, Pinheiro Correia, Raul<br />
Brandão, Reinaldo dos Santos, Samuel Maia, Sousa Costa, Teixeira de Pascoaes, Ultra<br />
Machado, Vieira Guimarães e Vieira da Silva.<br />
O primeiro número da segunda série teria quarenta e oito páginas, das quais<br />
dez estariam destinadas à publicidade no sentido de minimizar aos custos de edição.<br />
Henrique Perdigão ambicionou desenvolver uma revista de Crítica, para além da<br />
Literatura, da Arte, do Turismo e do Cinema. Para a sua seção literária, a revista<br />
tinha já garantida a participação de Campos Lima e de António Ramos de Almeida.<br />
Havia sido ainda solicitado a outras livrarias, designadamente à Livraria Portugália,<br />
de Lisboa, o envio de obras para crítica e apresentadas as diretrizes de inclusão de<br />
anúncios publicitários:<br />
“[...] vai reaparecer brevemente a Revista “Latina”, editada por n/ Casa, mas que<br />
vamos pôr, não a serviço nosso, mas das Letras, em geral, e de todos os n/ colegas,<br />
(e, por consequência, dos amigos, muito particularmente) mantendo nela uma secção<br />
desenvolvida, de crítica, que confiamos a 2 entidades idóneas e suficientemente<br />
conhecidas do n/ meio: os Drs. Campos Lima (pai) e Ramos de Almeida. Nesta<br />
conformidade estimaríamos que, de futuro, nos enviassem, para crítica, todas as<br />
v/ edições que desejassem ver referenciadas naquela secção e, independentemente<br />
disso, nos dessem sugestões de assuntos de interesse geral que nas páginas da citada<br />
revista devessem ser tratados com proveito para as Letras, para os autores e para nós<br />
próprios, editores. Estas nossas linhas teem, pois, duplo fim: dar-lhes conhecimento<br />
directo do que pretendemos fazer e pôr a «Latina» à inteira disposição dos amigos,<br />
pois que vossa ela passará, de certo modo, a ser, também, de futuro.
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
Se bem que discreta, a revista vai ter, ainda, um pouco de publicidade, pois<br />
impossível nos seria, sem ela, equilibrar a receita com a despeza. [...] Devemos<br />
esclarecer que os anúncios de página inteira (cujo custo em papel «couché» é de Esc.<br />
500$ e em «vergé» 450$) devem tanto quanto possível ser artísticos e, a levar gravura,<br />
destinados somente a pag. «couché» [...]” 49 .<br />
Sobre o artigo de António Ramos de Almeida, em carta de 21 de fevereiro de<br />
1944, Henrique Perdigão constata a excelência e a extensão do seu texto:<br />
“Prezado Amigo Sr. Dr. Ramos de Almeida<br />
Estou embaraçadíssimo e não sei, francamente, como resolver este «bico de<br />
obra». O seu artigo está excelente e agradou-me sob todos os pontos de vista, mas<br />
a extensão que lhe deu é absolutamente incomportavel com o tamanho da Revista,<br />
que tem só, como lhe disse, 48 pág., ou melhor, 38 pois que 10 são de anúncios.<br />
Ora, nessas 38 pág. ha literatura, ha arte, ha turismo e ha cinema, visto que não<br />
vamos fazer uma revista só de crítica, ainda que a crítica seja a parte que desejo mais<br />
desenvolvida.<br />
O seu artigo dá mais de meia duzia de páginas e ha também que contar com<br />
o do Dr. C. Lima, que já aqui tenho, e que pouco menos que isso dará. Para onde<br />
iríamos, assim?<br />
Ora, ha colaboração importante que não podemos pôr de parte, pois que ela<br />
nos vem trazer um número de leitores talvez maior que a crítica, pelo que – repito<br />
– não vejo possibilidade de resolvermos o caso a não ser desta maneira: ser o artigo<br />
alterado.<br />
Seja, porém, qual fôr a solução ela urge e, assim, pedia-lhe que sobre o caso<br />
me dissesse o que se lhe oferecesse, com a maior brevidade possivel. O ideal seria, se<br />
pudesse, chegar até cá para pessoalmente nos entendermos, inclusivamente a respeito<br />
do caso da edição do seu livro de versos” 50 .<br />
63<br />
Apesar de todos os esforços, o objetivo de Henrique Perdigão não foi conseguido<br />
e a Revista Latina não passou do limbo, porquanto “a Censura à Imprensa impediu-o<br />
de satisfazer esse desígnio. Henrique Perdigão não oferecia garantias ao regime...<br />
Estávamos em 1944” 51 . Foi precisamente em setembro desse ano que, regressando<br />
de uma viagem ao Brasil onde se deslocara para adquirir para a sua Livraria e para<br />
distribuição em Portugal uma avultada quantidade de livros de escritores brasileiros e<br />
traduções de autores estrangeiros, sofreu um trágico acidente de avião.<br />
49 Carta remetida pela Livraria Latina Editora à Livraria Portugália, Lisboa, em 9 de fevereiro de 1944.<br />
50 Carta remetida por Henrique Perdigão a António Ramos de Almeida, em 21 de fevereiro de 1944.<br />
51 <strong>RAMOS</strong>, Manuel – Editor Henrique Perdigão: um homem que honrou o Porto: a propósito do seu centenário. Jornal de<br />
Notícias. Porto, ano 102, n.º 20 (21 de junho de 1989) p. 10.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
64<br />
Ao pretendermos descortinar alguns contextos editoriais e as dinâmicas sociais,<br />
culturais e políticas em que as obras de António Ramos de Almeida, editadas pela<br />
Livraria Latina Editora, foram concebidas e se desenvolveram, podemos concluir<br />
que a Latina, ao assumir-se desde o primeiro momento como chancela de mediação<br />
cultural, atuou como agente ativo na esfera das ideias. Através dos documentos<br />
apresentados, pertencentes ao espólio de Henrique Perdigão, afiguraram-se alguns<br />
aspetos que podem iluminar o papel da Livraria Latina Editora, permitindo-nos<br />
perspetivar o alcance das suas publicações, os canais de circulação das obras do autor,<br />
o vigor e a amplitude com que foram comercializadas a par da oferta estratégica das<br />
suas edições. Possibilitaram-nos ainda concluir que não se restringiram aos limites do<br />
círculo portuense, onde foram editadas, mas, pelo contrário, o processo acabou por<br />
ser necessariamente extensivo a todo o país.<br />
A Livraria Latina Editora procurou ter ao seu alcance formas diversas de levar<br />
o livro aos leitores. Prosseguiu deliberadamente um plano alicerçado em dispositivos<br />
estratégicos tentando estimular o público para a sua leitura e aquisição. A título de<br />
exemplo, a coleção Cadernos Azuis, à semelhança de outras coleções, configurou um<br />
padrão a partir da proposição de um modelo que unificou, gráfica e esteticamente,<br />
a relação dos seus números organizando simultaneamente os campos de conceção<br />
e produção. Com propósitos de inserção no tecido social e imbuída de mecanismos<br />
de intervenção editorial na cultura e na sua configuração, programática e estética,<br />
a Latina adotou diversas fórmulas de exponenciar a promoção e difusão das suas<br />
edições. A par da publicidade dos seus títulos, nos principais jornais nacionais, os<br />
comentários inseridos, sistemática e estrategicamente, nas contracapas e badanas<br />
refletem assíduas e repetidas alusões às suas obras publicadas ou a publicar, dando a<br />
conhecer o estatuto e a qualidade intrínseca da Livraria Editora, o mérito do autor e<br />
das suas obras.<br />
Os mecanismos de propagação da sua intervenção editorial na cultura<br />
estabeleceram-se ainda na base das relações da Latina com os meios de comunicação<br />
social. Na imprensa podemos encontrar, com diferentes narrativas e discursos,<br />
o impacto das obras de António Ramos de Almeida nas principais publicações<br />
periódicas portuguesas, de que se destacam O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro,<br />
o Jornal de Notícias e a Gazeta Literária, do Porto; o Diário de Lisboa, o Diário Popular,<br />
o Jornal do Comércio, O Século Ilustrado, Brotéria e A Vida Mundial Ilustrada, de Lisboa;<br />
a Gazeta de Cantanhede; O Ilhavense, de Ílhavo; O Setubalense; a Estrela do Minho, de Vila<br />
Nova de Famalicão; a Gazeta de Coimbra; O Comércio da Póvoa de Varzim; O Figueirense,<br />
da Figueira da Foz, a Democracia do Sul, de Évora, a Semana Tirsense, de Santo Tirso<br />
e o Beira Vouga, de Albergaria-a-Velha. Atendendo a que uma parcela substantiva<br />
da história contemporânea emerge nas páginas da imprensa escrita, a compilação<br />
desses registos permitiu recolher a influência e a repercussão das obras de António<br />
Ramos de Almeida na imprensa na época em que foram editadas pela Livraria Latina<br />
Editora. Desde a credenciação editorial até às críticas acesas, conduzidas por visões
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
sustentadas, ou meras notas informativas, desprovidas de análise, podemos colher a<br />
notícia dos acontecimentos, a informação mais ou menos especializada e verificar o<br />
reflexo das e nas mentalidades.<br />
65
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
66<br />
António<br />
Ramos de Almeida<br />
e o Brasil<br />
Valéria paiva
António Ramos de Almeida e o Brasil | valéria paiva<br />
António Ramos de Almeida e o Brasil<br />
Valéria Paiva 1<br />
receção, em Portugal, da literatura de caráter social produzida no Brasil a partir<br />
A dos anos 1930 marcou uma inflexão no contexto mais amplo de intercâmbio<br />
luso-brasileiro então em curso, restringindo em alguma medida seu escopo para<br />
incorporá-lo ao debate sobre a função social da arte e essa inflexão, por sua vez,<br />
esteve relacionada à emergência e consolidação do neorrealismo como movimento<br />
cultural. É que, em meio à polêmica levada a cabo entre os jovens escritores que<br />
viriam a ser conhecidos como neorrealistas e os escritores ligados à revista Presença,<br />
a literatura social brasileira acabaria servindo como modelo para uma “literatura<br />
humana”. Contraposta à “literatura viva”, presencista, ela contribuiria, assim, para<br />
a definição de um novo paradigma literário que pretendia ser também uma crítica<br />
filosófica da cultura, entendida como o espaço simbólico de encontro entre a<br />
sociedade e a política.<br />
O fato de que o neorrealismo não contasse ainda com uma produção literária<br />
própria foi apontado, na época, e ainda o é, hoje em dia, como uma das prováveis<br />
razões para que os jovens escritores tenham prestado tanta atenção à literatura social<br />
brasileira dos anos 1930. Ademais, revelando o caráter dinâmico de qualquer processo<br />
de receção literária, a própria polêmica entre neorrealistas e presencistas acabaria por<br />
incidir também sobre a repercussão que essa literatura teria em Portugal. Entre 1937 e<br />
1939, são publicados inúmeros artigos que tratavam de obras e de escritores brasileiros,<br />
alguns já bastante conhecidos, como Jorge Amado e José Lins do Rêgo, e outros que<br />
se tornariam conhecidos a partir de então, como Erico Veríssimo, Graciliano Ramos<br />
e Jorge de Lima, por revistas que já podiam ser associadas, na época, ao movimento<br />
neorrealista, como Sol Nascente e O Diabo, mas também, por exemplo, pela Revista de<br />
Portugal, próxima ao grupo da Presença.<br />
António Ramos de Almeida que, muitos anos mais tarde, daria testemunho<br />
de seu envolvimento, na primeira metade da década de 1930, com a circulação de<br />
ideias que posteriormente conformariam o neorrealismo, publicaria na revista Sol<br />
Nascente, em agosto e dezembro de 1938, dois artigos que tratavam da nova literatura<br />
brasileira e dos escritores que, em suas palavras, podiam ser considerados então como<br />
seus principais intérpretes: Jorge Amado, Amando Fontes e José Lins do Rêgo 2 .<br />
Analisando os últimos três romances publicados por Jorge Amado – Capitães de Areia,<br />
Mar Morto e Jubiabá –, o que mais chamava a atenção de António Ramos era a maneira<br />
como o romancista conseguia retratar de maneira realista um ambiente de miséria<br />
e preconceitos dentro do qual, no entanto, se moviam personagens carregados<br />
de poesia e de sonho. Mais do que isso: em Jorge Amado, a opressão gerada por<br />
67<br />
1 Pós-doutoranda no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX - CEIS20 da Universidade de Coimbra.<br />
2 Sobre o testemunho de António Ramos de Almeida, ver Pita, António Pedro. Conflito e Unidade no Neo- realismo Português:<br />
arqueologia de uma problemática. Porto: Campo das Letras, 2002, especialmente p. 192-207, “O ensaísmo de António<br />
Ramos de Almeida: alguns tópicos”.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
68<br />
esse ambiente de miséria e preconceito acabava paradoxalmente por constituir um<br />
dispositivo que permitia ao herói romancesco reagir contra a situação a que estava<br />
submetido. Nesse sentido, concluía ele: “Jorge Amado dá-nos em toda a sua obra<br />
aquilo que um jovem crítico português chamou muito bem: sentido heroico da vida.<br />
As misérias, as desgraças, a dor, não esmagam o homem mas sim são a mola essencial<br />
do sonho que os eleva e liberta” 3 .<br />
Em Os Corumbas, romance de estreia de Amando Fontes, somos apresentados a<br />
uma família que migra do interior à capital do estado de Alagoas buscando escapar da<br />
miséria. Como tragédia, todo esforço dos personagens para melhorar de vida era inútil<br />
porque, indo de encontro a forças desconhecidas, sua ação acabaria levando-os, ao final<br />
do romance, a uma situação ainda mais degradante que a inicial. Não estaríamos, pois,<br />
diante de uma história carregada de poesia e em que os personagens eram arrastados<br />
pelo sonho, como em Jorge Amado, diria António Ramos. Ainda que as personagens<br />
de Amando Fontes tivessem aquela porção de esperança necessária à vida, como<br />
qualquer ser humano, o que ressaltava em seu romance era a crua objetividade e a<br />
extrema imparcialidade com que narrava a história: “Amando Fontes não toma parti-pris<br />
frente aos seus personagens, não os favorece, não os precipita, deixa-os viver através<br />
de suas páginas tão naturalmente como na vida, abandonados às circunstâncias e às<br />
emergências do cotidiano” 4 .<br />
José Lins do Rêgo, cujo romance de estreia – Menino de Engenho, de 1932 – havia<br />
chegado às mãos de Ramos de Almeida já em 1933, era provavelmente o autor mais<br />
representativo dos romances cíclicos em voga no Brasil e talvez o mais sociológico<br />
dentro os novos romancistas, ao assumir o Nordeste como seu grande personagem<br />
e retratar, no ciclo da cana de açúcar, a decadência de toda uma forma de vida, como<br />
consequência da passagem do engenho à usina. Ademais, para Ramos de Almeida, em<br />
José Lins era claramente percetível uma caraterística presente, no entanto, em todos os<br />
romances e romancistas novos do Brasil, qual seja que as diferenças sociais remetiam<br />
aí a degraus do ponto de vista econômico, sem que chegasse a haver uma verdadeira<br />
diferenciação de classes no sentido cultural, como a que existia na Europa. Nesse<br />
sentido, todos os personagens “[...] vivem sem verdadeiros abismos, sem diferenças<br />
subtis de psicologia ou de cultura, sem as lutas de antagonismo latente e profundo<br />
que se verificam nas consciências de classe do velho mundo. Tudo é apenas uma<br />
diferenciação de posição social, mas onde só existem os degraus do econômico” 5 .<br />
De maneira explícita, no caso de Jorge Amado, e implícita, no de Amando<br />
Fontes, vê-se como António Ramos faria uso, nesses textos – como continuaria<br />
fazendo, anos depois –, das noções de neorromantismo e neorrealismo, tal como<br />
3 Almeida, António Ramos de. “O romance brasileiro através dos seus principais intérpretes, Jorge Amado”, Sol Nascente,<br />
N o 31, 15 de agosto de 1938, p. 7.<br />
4 Almeida, António Ramos de. “O Romance brasileiro contemporâneo, através dos seus principais intérpretes II, Amando<br />
Fontes e José Lins do Rêgo”, Sol Nascente, N o 32, 1o de dezembro de 1938, p. 6.<br />
5 Idem, ibidem, p. 7.
António Ramos de Almeida e o Brasil | valéria paiva<br />
elas seriam definidas por Joaquim Namorado 6 . E isso antes mesmo que os artigos<br />
de Namorado viessem à luz, confirmando a amizade que ligava os dois escritores e<br />
sugerindo também o papel deste último na organização de uma ação conjunta para a<br />
afirmação de um novo paradigma dentro do meio literário português. Assim mesmo,<br />
havia uma diferença em relação a Joaquim Namorado para a qual vale a pena chamar<br />
a atenção: é que, para Ramos de Almeida, o romance social brasileiro não era tão<br />
somente uma solução estética, ou um modelo de uma literatura humana em língua<br />
portuguesa. Seu caráter espontâneo e vivo, isto é, realista, tinha uma razão de ser que<br />
lhe importava explicar e que se explicava, para ele, em função da ausência de requinte<br />
como diferencial do novo mundo, desprovido do intelectualismo da velha Europa:<br />
“Quere dizer: o romance do Brasil não contém o requinte – teimo nesta palavra<br />
porque é significativa e precisa – mas em compensação possui outras forças ocultas<br />
que o dinamizam” 7 .<br />
O interesse pela história do Brasil – que permitiria, em última instância,<br />
compreender o caráter realista de sua moderna literatura – apareceria de maneira<br />
mais clara na análise da obra de José Lins do Rêgo. No Brasil, não haveria uma<br />
consciência de classe suficientemente desenvolvida que, correspondendo às<br />
diferentes posições sociais, permitisse encontrar, especialmente no caso da burguesia,<br />
as nuances de psicologia e cultura que encontrávamos nos personagens dos romances<br />
europeus, incluindo aí os romances portugueses. Os personagens dos romances<br />
brasileiros eram simples e bárbaros, e toda a problemática desses romances podia<br />
ser resumida às questões amorosas, à vivência de uma religiosidade mágica e à busca<br />
da liberdade como contrapartida de um sistema escravocrata formalmente abolido,<br />
mas socialmente vigente. O romance do Brasil não continha requinte, vale repetir,<br />
mas em compensação, devido às circunstâncias históricas e econômicas do país, tinha<br />
algo que os modernos romances europeus pareciam não ter – uma ânsia de liberdade,<br />
que era o sonho individual dos personagens centrais nele retratados e, para António<br />
Ramos de Almeida, dos próprios brasileiros.<br />
Nesses dois artigos publicados na revista Sol Nascente, em 1938, Ramos de<br />
Almeida opera com uma visão do fenômeno literário que, se não deixava de estabelecer<br />
uma relação causal entre estrutura e superestrutura enquanto esboço de uma teoria do<br />
romance, acabava paradoxalmente restringindo a noção de cultura à de consciência<br />
de classe e, se não é extrapolar demasiado, da classe burguesa: no Brasil, as diferenças<br />
sociais remetiam somente a degraus do ponto de vista econômico, os personagens<br />
dos romances brasileiros eram “simples, “bárbaros”... No mesmo sentido, afirmava,<br />
não existia entre Portugal e o novo romance brasileiro esse “[...] tabu de admiração<br />
que é o nos sentirmos retratados, analisados, sublimados esteticamente pelo talento<br />
e o gênio de um romancista” 8 . Apesar de sua condição peninsular, Portugal era visto<br />
69<br />
6 Nos referimos aos artigos de Joaquim Namorado, “Do neo-realismo: Amando Fontes”, publicado em O Diabo, N o 223, 31<br />
de dezembro de 1938; e “Do Neo-Romantismo: o sentido heroico da vida na obra de Jorge Amado”, Sol Nascente, Nº43-44,<br />
fevereiro-março de1940.<br />
7 Almeida, A. R., “O romance brasileiro através dos seus principais intérpretes, Jorge Amado”, opus cit., p. 7<br />
8 Almeida, A. R., “O Romance brasileiro contemporâneo, através dos seus principais intérpretes II, Amando Fontes e José<br />
Lins do Rêgo”, opus cit., p.7.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
70<br />
pelo autor como compartilhando a mesma angústia cultural que a Europa vivia –<br />
uma opinião que, bem vistas as coisas, não se distanciava tanto da posição sustentada<br />
por José Régio na famosa polêmica com Álvaro Cunhal e para quem o primitivismo<br />
caraterístico à literatura brasileira era plenamente compreensível, e mesmo aceitável,<br />
se considerássemos que se tratava de um país “jovem” 9 .<br />
Esse ponto é interessante. Já na década de 1940 – nas conferências que seriam<br />
posteriormente reunidas no livro Para a Compreensão da Cultura no Brasil, publicado em<br />
1950 –, o vocabulário relacionado ao primitivismo praticamente desapareceria dos<br />
textos de António Ramos de Almeida que diziam respeito ao Brasil e a distância entre<br />
Portugal e o novo romance brasileiro seria sutilmente reincorporada num quadro mais<br />
amplo que, pode-se supor, fosse o do capitalismo mundial. Assim, apesar de todas<br />
as diferenças que seguiam existindo entre os dois países, já então era oportuno e útil<br />
assinalar também “[...] seus pontos de contatos e de semelhança, sobretudo naquele<br />
particular em que são idênticos todos os problemas estruturais e superestruturais que<br />
se levantam numa certa forma de sociedade e de cultura” 10 .<br />
Para além da questão do primitivismo, o que parece importante sublinhar<br />
aqui é que, ao assumir uma perspetiva mais ampla, na qual Portugal e Brasil não<br />
deixavam de compartilhar a condição de países periféricos, Ramos de Almeida<br />
acabaria modificando em alguma medida sua interpretação do romance de 30, melhor<br />
dizendo, do seu significado dentro da história literária do Brasil, no que dizia respeito<br />
à sua evolução econômica, política e social, mas também do sentido que ele poderia<br />
assumir para a intelectualidade portuguesa. Já no final da conhecida conferência<br />
“A Nova Descoberta do Brasil”, de 1944, vemos que, ademais de farol para onde<br />
caminhava a moderna literatura, enquanto ânsia de superar a herança escravocrata, a<br />
liberdade passa a significar igualmente consciência da própria personalidade e essa era,<br />
finalmente, a grande descoberta de que valia a pena falar, conquanto descoberta de<br />
si mesmo: “O farol, o rio, o mar, isto é, a essência humanística da moderna literatura<br />
brasileira é a Liberdade. E Liberdade quere dizer consciência de personalidade” 11 .<br />
Esse ponto reaparece de maneira ainda mais consequente na conferência “A Conquista<br />
da Expressão Brasileira”, de 1948. Tomando a moderna literatura brasileira, como o cume<br />
de um longo processo, o autor recorre à história literária do Brasil – especialmente a que<br />
começa depois da Independência, com o Romantismo – para mostrar como a conquista<br />
de uma expressão própria foi o resultado de um avanço lento, mas progressivo, cuja<br />
“solução necessária”, em suas palavras, tinha de ser o encontro entre a forma e o conteúdo<br />
representado pelo romance social 12 . Nesse processo, algumas etapas e movimentos haveriam<br />
9 Cf. Régio, José. “Cartas Intemporais do Nosso Tempo XI: a um moço camarada, sobre qualquer possível influência do<br />
romance brasileiro na literatura portuguesa”. Seara Nova, 29 de abril de 1939.<br />
10 Almeida, António Ramos de. Para a Compreensão da Cultura no Brasil. Porto: Maranus, p. 127.<br />
11 Idem, ibidem, p. 60.<br />
12 “A libertação do Povo Brasileiro identifica-se com a libertação de todos os outros povos do mundo. O “índio” de Gonçalves<br />
Dias, o “Escravo” de Castro Alves, o “Sertão” de Euclides da Cunha, o Folclore dos Modernistas, foram sucessivos degraus,<br />
sucessivas etapas, sucessivas fases de um mesmo movimento. O Romance brasileiro é o fim, o términus, a solução necessária”,<br />
Idem, ibidem, p. 162.
71<br />
CAT 60<br />
CAT 62<br />
CAT 60<br />
[António Ramos de Almeida cumprimenta<br />
Jânio Quadros eleito Presidente da República<br />
Brasileira, em visita a Portugal] Portugal]. -<br />
[1961?]. – 1 Foto: sépia; 17 x 23 cm<br />
col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
CAT 62<br />
[António Ramos de Almeida com o ilustre<br />
romancista brasileiro, Erico Veríssimo]. –<br />
Porto: M. Teixeira, [1959]. – 1 Foto: sépia;<br />
22,5 x 16,5 cm<br />
col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
CAT 164<br />
A nova descoberta do Brasil / António Ramos<br />
de Almeida. - Porto : Editorial Fenianos, 1944<br />
. - 58 p. ; 19 cm. - (Editorial Fenianos ; 1)<br />
Conferência lida em 3 de Maio de 1944, no<br />
salão nobre do Clube Fenianos Portuenses. -<br />
Com dedicatória do autor a Álvaro Salema<br />
MNR ALM/ENS/2524<br />
CAT 164
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
72<br />
sido especialmente significativos – como o Indianismo e o Modernismo – tanto por suas<br />
contribuições concretas no que dizia respeito à linguagem, quanto por levar ao limite as<br />
contradições entre a expressão e seu conteúdo, permitindo sua posterior superação.<br />
“A Conquista da Expressão Brasileira”, de 1948, dá, pois, um passo além de<br />
“A Nova Descoberta do Brasil”, de 1944, ao assumir uma chave de leitura dialética<br />
da história e da literatura brasileiras. Em 1944, por exemplo, o Modernismo é<br />
interpretado como um movimento essencialmente aristocrático que, munido de um<br />
espírito destruidor, havia preparado o terreno para o advento de 1930. E se Ramos<br />
de Almeida não parecia totalmente convencido de que o havia feito no que dizia<br />
respeito à política, quer dizer, à Revolução de 1930, não parecia ter dúvidas sobre<br />
sua importância para o surgimento de uma literatura de caráter social. Assinala-se,<br />
no entanto, que em relação à natureza do movimento, assim como às suas consequências,<br />
essas conclusões remetem diretamente à conferência de Mário de Andrade, “O Movimento<br />
Modernista”, proferida, de fato, muito pouco tempo antes, em 1942. Mesmo as expressões<br />
que Ramos de Almeida utilizava aí – “espírito destruidor”, “preparar terreno”, “advento<br />
de 1930” – eram retiradas do texto de Mário 13 .<br />
Já em 1948, ao falar sobre “A Conquista da Expressão Brasileira” de uma<br />
perspetiva histórica e, como queremos crer, dialética, o depoimento de Mário de<br />
Andrade é matizado e a interpretação de Ramos de Almeida ganha um novo sentido.<br />
Por um lado, o modernismo brasileiro apareceria então, para ele, como refém do<br />
paradoxo de ter uma base social aristocrática e, ao mesmo tempo, sustentar uma<br />
ideologia nativista. O melhor exemplo desse paradoxo havia sido a pretensão de se<br />
inventar uma língua do Brasil, como se, tal como a opção por versos livres, uma<br />
língua pudesse surgir por pura deliberação, como se uma língua fosse, ao final,<br />
meramente uma questão de forma. Por outro lado, um novo elemento é incorporado<br />
à análise, servindo como contraponto ao movimento modernista. Trata-se da tradição<br />
intelectual que, remontando ao início do século, se consolidaria definitivamente nos<br />
anos 1930 com as obras de Gilberto Freire, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque<br />
de Holanda, entre muitos outros, e que se tornaria posteriormente conhecida como<br />
ensaísmo sociológico.<br />
Para António Ramos de Almeida, enquanto os modernistas se ocuparam de<br />
destruir as fórmulas convencionais que, na literatura e na arte, não encontravam<br />
qualquer raiz na realidade – sem, contudo, construir nada de novo a partir dessa<br />
destruição –, os intelectuais mais progressivos do país haviam se lançado a uma<br />
pesquisa exaustiva dos fatores materiais e ideológicos que, no presente e no passado,<br />
condicionaram sua história e conformaram “[...] a ascensão do povo brasileiro através<br />
das diferentes escalas da sua própria libertação” 14 . O romance de 30 não era mais, pois,<br />
uma consequência mais ou menos “natural” do Modernismo, mas a síntese entre dois<br />
momentos que, por sua vez, ele superaria: “Esse duplo condicionalismo: destruição<br />
13 Cf. Andrade, Mário de. Aspectos da Literatura Brasileira. São Paulo: L. Martins Editora, 5ª Ed, 1974, p. 231-255.<br />
14 Almeida, António Ramos de. Para a Compreensão da Cultura do Brasil, opus cit., p. 155.
António Ramos de Almeida e o Brasil | valéria paiva<br />
das fórmulas, das rotinas, dos preconceitos formais, realizados pelo Modernismo,<br />
por um lado; pesquisa exaustiva de todos os fatores materiais e ideológicos que<br />
contribuíram para a evolução da realidade brasileira, por outro; preparava o advento<br />
do moderno romance brasileiro” 15 . Nos romances surgidos nos anos 1930, tanto a<br />
linguagem quanto o conteúdo já eram, pois, a afirmação da realidade nacional no<br />
seu conjunto, “[...] no todo do seu complexo, econômico, político, social, moral,<br />
ideológico” 16 . A partir desse ponto, quer dizer, desse encontro entre a expressão e<br />
seu conteúdo humano e social, o Brasil passava a ser visto como mais um povo livre<br />
que combatia lado a lado com outros povos pela liberdade. E sua literatura, para além<br />
de uma solução estética, representava um exemplo positivo e concreto do avanço<br />
progressivo da Cultura – assim, com letras maiúsculas.<br />
A análise do Modernismo e de sua relação com o romance social de 1930<br />
revela muito da transformação do pensamento de António Ramos de Almeida a<br />
respeito do Brasil, da literatura brasileira e do que ambos poderiam representar para<br />
a intelectualidade portuguesa. De exemplo literário, destacável pelo ajustado das suas<br />
soluções estéticas, mas condicionada por uma estrutura social em muitos sentidos<br />
arcaica, a literatura de 30 passaria a representar a progressiva conscientização de um<br />
país por meio de seus intelectuais 17 . Ademais, o fato de que possamos ver claramente,<br />
na conferência de 1948, três momentos distintos, dos quais um – o romance social<br />
– seria a síntese, vem associada à defesa de que a realidade evoluía dialeticamente.<br />
Esse esquema de leitura, que primeiro opera uma negação dialética para em seguida<br />
conduzir o ouvinte/leitor a um momento de síntese, afirmativo, pode ser identificado<br />
tanto num texto de juventude – como a conhecida conferência “A Arte e a Vida”, de<br />
1936 –, quanto nos ensaios que Ramos de Almeida escreveria sobre Eça de Queirós<br />
e Antero de Quental, também na década de 1940 18 .<br />
Assim mesmo, o que gostaríamos de destacar aqui é que, se essa era uma<br />
posição cara a Ramos de Almeida desde a juventude, somente ao longo dos anos<br />
ela serviria de base à interpretação que faria do Brasil e da literatura brasileira.<br />
De fato, se prestarmos atenção à estrutura argumentativa da conferência<br />
“A Conquista da Expressão Brasileira”, de 1948, vemos que esse esquema de<br />
leitura se restringe, ademais, ao romance dos anos 1930, quer dizer, às condições<br />
que tornaram possível sua emergência, não operando em todas as etapas que<br />
o antecederam e que ele acabaria incorporando enquanto “solução necessária”.<br />
No caso do Indianismo de Gonçalves Dias e José de Alencar, por exemplo, as<br />
contradições resultadas, por um lado, de um progressivo abrasileiramento da<br />
linguagem a que se aliava, por outro, uma representação idealizada do índio e<br />
abstrata da natureza como símbolos nacionais, seriam superadas pela obra individual<br />
de Castro Alves.<br />
73<br />
15 Idem, ibidem, p. 156.<br />
16 Idem, ibidem, p. 159.<br />
17 Para esse ponto chamou a atenção Armando Ventura Ferreira, ainda em 1945, ao recensear “A Nova Descoberta do Brasil”.<br />
Cf. Ferreira apud Pita, opus cit., p. 200.<br />
18 Sobre este ponto, ver Pita, opus cit., p. 205-206.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
74<br />
Mas seriam superadas em parte. A poesia abolicionista de Castro Alves<br />
constituiria “o melhor da poesia social e revolucionária que se escreveu na língua<br />
portuguesa” 19 . Entretanto, apesar de sua obra avançar em direção a uma representação<br />
mais realista da natureza e do amor, tampouco ele deixaria de ser, na defesa da causa<br />
abolicionista, um idealista, impulsionado “por certa megalomania doentia e ridícula,<br />
comum nos poetas românticos” 20 . Para utilizar uma expressão alheia ao pensamento<br />
de António Ramos de Almeida: Castro Alves havia sido um gênio, sim, mas, como<br />
qualquer escritor, estava inevitavelmente limitado pela “consciência possível” de sua<br />
própria época. Assim mesmo, a enorme importância atribuída à poesia abolicionista<br />
de Castro Alves chama a atenção se consideramos que, para Ramos de Almeida, o<br />
aprofundamento na realidade social que ela havia representado somente encontraria<br />
paralelo n´Os Sertões, de Euclides da Cunha, já no século XX. No processo de<br />
conquista da expressão brasileira, Machado de Assis, considerado até então como o<br />
maior romancista do Brasil, mas conhecido por defender uma arte desvinculada da<br />
política mereceria de António Ramos de Almeida apenas uma brevíssima referência<br />
de não mais de duas linhas.<br />
Ao longo deste texto procuramos lançar luz sobre a relação entre António<br />
Ramos de Almeida e o Brasil através do que ele pensou e escreveu sobre a literatura<br />
brasileira. Assumimos o neorrealismo como ponto inicial porque foi com a emergência<br />
desse movimento – e como parte integrante dele – que António Ramos iniciaria<br />
sua atividade crítica e poética, e porque é muito difícil pensar a receção da literatura<br />
brasileira em Portugal nos anos 1930 sem nos referirmos à importância a ela atribuída<br />
pelos jovens escritores que conformaram esse movimento. Na medida em que, ao<br />
final, ambas as coisas se entrelaçam, destacamos da sua produção como crítico, nesse<br />
período, dois artigos publicados na revista Sol Nascente – sobre Jorge Amado, Amando<br />
Fontes e José Lins do Rêgo.<br />
A presença de José Lins do Rêgo, lado a lado com aqueles que seriam considerados<br />
– por Joaquim Namorado – como autores paradigmáticos do romance social brasileiro<br />
deixava entrever que o interesse de António Ramos de Almeida pelo Brasil não se<br />
restringia ao contexto polêmico em que seus artigos foram publicados, nem tampouco<br />
à tentativa de definir, nesse contexto, um modelo do que deveriam ser os romances<br />
neorrealistas, ou neorromânticos. Desde essa época, importava-lhe também entender<br />
as razões próprias ao desenvolvimento social que tornaram possível a emergência no<br />
Brasil, antes mesmo que em Portugal, de um romance capaz de exprimir os dramas da<br />
sua época, assim como lhe importaria, mais tarde, entender o significado desse romance<br />
para a história literária brasileira pensada como uma totalidade.<br />
As conferências proferidas ao longo dos anos 1940 são, nesse sentido,<br />
significativas. Quando o neorrealismo português já havia dado – tanto na poesia quanto<br />
na prosa – algumas de suas importantes obras e a referência à literatura brasileira<br />
19 Almeida, António Ramos de Almeida, Para a Compreensão da Cultura no Brasil, opus cit., p. 147.<br />
20 Idem, ibidem, p. 148.
António Ramos de Almeida e o Brasil | valéria paiva<br />
não era mais necessária, quando a “novidade” brasileira já havia sido incorporada<br />
aos novos romances portugueses e um crítico do porte de Mário Dionísio podia<br />
mesmo se reportar ao seu excesso de sentimentalismo, Ramos de Almeida seguiria<br />
escrevendo e, mais importante do que isso, pondo ênfase sobre o seu significado,<br />
para o Brasil e face ao mundo 21 . Tanto no contexto de sua receção em Portugal, quer<br />
dizer, no período da gênese do neorrealismo como movimento cultural, quanto nas<br />
décadas seguintes, vale a pena destacar, pois, que a “moderna literatura brasileira” não<br />
deixaria de ser para António Ramos de Almeida uma referência constante.<br />
Uma análise mais aprofundada de seu pensamento requereria, certamente,<br />
considerar as críticas que publicou ao longo dos anos 1950 no Suplemento Literário<br />
do Jornal de Notícias do Porto, assim como a rede de sociabilidade que sempre o ligaria,<br />
direta ou indiretamente, ao Brasil. As conferências que foram posteriormente reunidas<br />
no livro Para a compreensão da cultura no Brasil, por exemplo, ou foram prefaciadas<br />
por cônsules brasileiros, ou pronunciadas em sua presença. Merece destaque, nesse<br />
sentido, a correspondência, encontrada no espólio de Ramos de Almeida, referente a<br />
um “Clube” – assim, entre aspas – de cidadãos luso-brasileiros do Porto e ao Porto<br />
como capital natural do Luso-brasilianismo. Merece destaque, também, sua amizade<br />
com Renato de Mendonça que, além de cônsul, foi um estudioso da influência africana<br />
no português do Brasil e um divulgador da cultura brasileira no meio universitário<br />
estrangeiro.<br />
Nessa altura, contudo, em que a arte parece se encontrar com a vida, talvez não<br />
seja de todo mal, para terminar, voltar ao início, à descoberta primeira e “ingênua” do<br />
Brasil, à infância passada no Recife, evocada e reencontrada, muitos anos mais tarde,<br />
nos versos de Manuel Bandeira:<br />
Recife<br />
Não a Veneza americana<br />
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais<br />
Não o Recife dos Mascates<br />
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois –<br />
Recife das revoluções libertárias<br />
Mas o Recife sem história nem literatura<br />
Recife sem mais nada<br />
Recife da minha infância 22<br />
75<br />
21 Mário Dionísio se referiria ao caráter descritivo-sentimentalista da literatura brasileira muitos anos mais tarde, ao comentar<br />
a chegada da nova literatura estadunidense em Portugal no início dos anos 1940 e sua “influência” tanto sobre a composição<br />
de O Dia Cinzento, quanto com o que ocorreria daí em diante com o neorrealismo. Cf. Dionísio, M. Autobiografia. Lisboa:<br />
Edições “O Jornal”, 1987, p. 34.<br />
22 Bandeira, Manuel apud Almeida, A. R. Para a Compreensão da Cultura no Brasil, opus cit., p. 15.
76<br />
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida
Referências Biográficas<br />
António Ramos de Almeida - Referências Biográficas 1<br />
… politicamente, liberal com a grande fé e o grande entusiasmo de um progressista convicto da<br />
sua doutrina socializante; literariamente, um dos mais audazes pioneiros do neo-realismo lusitano,<br />
“rugido de leão” na larga inspiração de uma nova era para a arte portuguesa; finalmente um<br />
devotado talento ao estudo das matérias sociais…<br />
In “Dr. Ramos de Almeida”, Caderno de Cultura - Suplemento do Jornal de Vila do<br />
Conde – n.º 306, 10 outubro 1985, p. 1.<br />
77<br />
António Ramos de Almeida nasceu a 18 de março de 1912, na cidade de Olinda,<br />
Estado de Pernambuco, Brasil. Filho de Serafim Martins de Almeida, emigrante<br />
português natural de Vila do Conde, no Brasil desde os 13 anos, e de Beatriz da<br />
Silva Ramos, brasileira de ascendência portuguesa, (o pai, António de Silva Ramos, é<br />
também um emigrante português, natural da freguesia de Árvore do concelho de Vila<br />
do Conde). Para além de António, o casal teve dois outros filhos, Serafim Martins de<br />
Almeida Júnior e Rosa Amélia Ramos de Almeida.<br />
Evocando esse tempo longínquo de uma infância impregnada de sons, cheiros<br />
e afetos caraterísticos da sua terra natal, António Ramos de Almeida recordaria mais<br />
tarde “[...] tudo que era simples, inefável, fácil e bom dos tempos da minha infância:<br />
brinquedos, canções, fantasmas, histórias, recordações, pessoas [...]” 2 .<br />
Aos 9 anos de idade (1921) e após ter frequentado uma escola particular, António<br />
Ramos de Almeida ingressa no Colégio Salesiano do Sagrado Coração de Jesus, no<br />
Recife. Nesse mesmo ano, a família Ramos de Almeida havia visitado Portugal, onde<br />
permaneceu por um período longo por motivos de saúde do pai de António.<br />
Em Agosto de 1924, Serafim Martins de Almeida abandona o Brasil,<br />
embarcando com a família a bordo do paquete brasileiro “Rui Barbosa”, rumo a<br />
Portugal e instalando-se em Vila do Conde.<br />
Até ao que, então, se designava como 5.º ano do liceu, António Ramos de<br />
Almeida e os seus irmãos estudam, em regime de internato, no Grande Colégio<br />
Universal, no Porto, concluindo António Ramos de Almeida esta fase de estudos no<br />
Colégio Almeida Garrett, na mesma cidade.<br />
É nesta época que António Ramos de Almeida conhece e convive com uma<br />
tertúlia de intelectuais onde figuram nomes como os de Casais Monteiro e José<br />
Marinho, entre outros, então estudantes da antiga Faculdade de Letras do Porto, que<br />
se juntavam habitualmente num dos cafés da baixa portuense, também frequentados<br />
por catedráticos como Leonardo Coimbra e Teixeira Rego.<br />
1 Composto com base no conjunto de textos publicados sob o título “Dr. Ramos de Almeida”, de Celso Pontes, em: Caderno<br />
de Cultura - Suplemento do Jornal de Vila do Conde - n.ºs 297 a 307, 18 julho 1985 a 17 outubro 1985.<br />
2 In “Dr. Ramos de Almeida”, Caderno de Cultura - Suplemento do Jornal de Vila do Conde – n.º 297, 18 julho 1985, p. 3.<br />
CAT 12
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
78<br />
CAT 3<br />
CAT 2<br />
CAT 3<br />
CAT 3<br />
[António Ramos de Almeida aos 7 anos de<br />
idade]. – [Recife], [1919]. – 1 foto: sépia; 4,5<br />
x 5,5 cm<br />
Com dedicatória no verso a “Á titia Isabel,<br />
com muitos beijos, oferecem os sobrinhos<br />
muito amiguinhos”<br />
col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
CAT 2<br />
[António Ramos de Almeida em bebé]. –<br />
[Recife], [1912] – 1 foto: sépia; 10,5 x 6,4 cm<br />
col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
CAT 6<br />
CAT 6<br />
[Fotografia de António Ramos de Almeida<br />
com seu Pai, sua Mãe e outros familiares]. –<br />
Vila Conde. - Casa Arizal, Alberto Henriques,<br />
[1950]. – 1 Foto: p&b; 8,5 x 5,5 cm<br />
col. Mª Antónia Ramos de Almeida
Referências Biográficas<br />
Em outubro de 1932, António Ramos de Almeida matricula-se no 1.º ano da<br />
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Ao longo de seis anos, a par dos<br />
estudos e com algum prejuízo futuro dos mesmos, colabora em jornais e revistas<br />
literárias de Coimbra, afirmando o seu caráter de intelectual progressista e atento aos<br />
problemas de um país enclausurado num regime ditatorial.<br />
Em julho de 1938 conclui a licenciatura em Direito, com uma tese inovadora<br />
para os padrões da época, intitulada “A Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen”,<br />
publicada no Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em<br />
1939.<br />
Datam de 1938 e 1939, respetivamente, os seus livros de poesia, intitulados<br />
“Sinal de Alarme “ e “Sinfonia de Guerra”.<br />
Regressa a Vila do Conde em 1939, no contexto da II Grande Guerra e, a 5 de<br />
setembro do ano seguinte, é celebrado o seu casamento com Maria Idalina Fernandes<br />
Carvalho. O casal terá três filhas: Ana Maria, Maria Manuel e Maria Antónia.<br />
Inicia nessa época um exaustivo estudo sobre a vida, o pensamento e a obra de<br />
Antero de Quental, publicado sob a forma de ensaio nos “Cadernos Azuis”, em três<br />
opúsculos, que a censura rapidamente condena e que a PI<strong>DE</strong> apreende, proibindo a<br />
sua circulação.<br />
Em março de 1941 escreve o ensaio “A Arte e a Vida”, também publicado em<br />
opúsculo.<br />
No âmbito da conferência que proferiu em 3 de maio de 1944 no Consulado<br />
Brasileiro, publica o ensaio apresentado na ocasião, intitulado “A Nova Descoberta<br />
do Brasil”.<br />
Em 1944, publica o livro de poemas “Sêde”.<br />
Em abril de 1950, muda a sua residência para o Porto, instalando-se, com a<br />
família, no 3.º andar de um prédio na Avenida Fernão de Magalhães.<br />
Entre 1950 e 1961, desenvolve, a par da carreira de advogado, intensa atividade<br />
como jornalista e colaborador – nomeadamente enquanto crítico literário – de vários<br />
periódicos e revistas. António Ramos de Almeida cedo manifestou o seu caráter de<br />
humanista e um profundo entusiamo pela política, como pela sociologia, literatura<br />
e arte. Nos jornais, destaque-se a sua colaboração em títulos como: “República”,<br />
“Diário de Lisboa”, “O Primeiro de Janeiro”, “Diário Popular” e “Jornal de Notícias”<br />
(onde chega a dirigir um suplemento literário semanal). Assinale-se também a sua<br />
colaboração assídua, como crítico literário, em jornais e revistas de cariz cultural e<br />
pendor claro de luta contra o regime, como “Seara Nova”, “Presença, “O Diabo”,<br />
“Sol Nascente”, “Manifesto” e “Vértice”.<br />
Em 1951, com apenas 39 anos de idade, os primeiros sintomas de doença<br />
atingem a vida de António Ramos de Almeida, não deixando, desde então, de se<br />
agravar o seu estado de saúde. Tal não o impediu, no entanto, de se envolver de modo<br />
79
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
80<br />
CAT 11<br />
CAT 9<br />
[António Ramos de Almeida, jovem<br />
estudante]. - [Coimbra]: [s. n.: s. d.] ]. – 1 Foto:<br />
sépia; 15,5 x 9 cm<br />
col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
CAT 9<br />
CAT 11<br />
[Caderno de apontamentos] A teoria pura do<br />
Direito / [António Ramos de Almeida]. – [S.<br />
l.: s. d.]. – 1 Caderno: orig. ms.: [91] fl.; 21,5<br />
x 16,5 cm<br />
Apontamentos, manuscritos, para o trabalho<br />
final de licenciatura, “ A teoria pura do<br />
Direito”<br />
col. Mª Antónia Ramos de Almeida
Referências Biográficas<br />
profundo e entusiasta em atividades de teor político e cultural, traduzindo umas e<br />
outras a sua postura de humanista e o seu espírito combativo face ao regime vigente.<br />
Membro do MUD (Movimento de Unidade Democrática), participa ativamente nas<br />
campanhas eleitorais das candidaturas presidenciais do Prof. Egas Moniz, do General<br />
Norton de Matos, do Almirante Quintão Meireles e do General Humberto Delgado.<br />
É ainda nestes anos que compõe um laborioso estudo sobre a vida e obra de<br />
Eça de Queiroz, publica o livro “Para a compreensão da cultura no Brasil” e conclui<br />
um trabalho sobre Bernardino Machado, apenas publicado após o 25 de abril de<br />
1974.<br />
Em julho de 1960, durante uma viagem pela Galiza, mais precisamente em<br />
Orense, a doença agrava-se. É internado em Espinho, numa Casa de Saúde dirigida<br />
pelo seu amigo, o médico Gomes de Almeida. Em dezembro desse mesmo ano<br />
morre a sua mãe, facto que vem debilitar ainda mais o já frágil estado de saúde de<br />
Ramos de Almeida.<br />
Por estes dias, escreve ao amigo brasileiro Paulo Cavalcanti, manifestando-lhe<br />
o seu desejo em rever a terra onde nasceu, Olinda, e com a qual manteve, ao longo<br />
da vida, forte relação, aliás bem patente nos inúmeros artigos e ensaios que escreveu<br />
acerca da vida económica e social, mas também da cultura popular do Brasil.<br />
A 18 de março de 1961, no dia em que completava 49 anos de idade, António<br />
Ramos de Almeida sofre um acidente cérebro-vascular, que determina a sua morte no<br />
dia 24 do mesmo mês, no Hospital da Ordem da Santíssima Trindade, no Porto.<br />
É velado em câmara ardente na sede da Associação dos Jornalistas e Homens<br />
de Letras do Porto, dando a imprensa significativo destaque ao homem e ao seu<br />
trabalho, sobretudo os jornais da chamada oposição democrática e, entre estes, o<br />
jornal “República” em particular. De idêntico modo, os jornais de Olinda evocaram<br />
António Ramos de Almeida, destacando-se o “Jornal do Recife”, onde Paulo<br />
Cavalcanti lhe prestou a sua homenagem pessoal, num artigo intitulado “Um Ilustre<br />
Filho de Olinda”.<br />
O funeral de António Ramos de Almeida teve lugar a 26 de março, para<br />
o cemitério de Vila do Conde, onde foi sepultado no jazigo da família. A<br />
cerimónia foi largamente participada pela população local e nela proferiram<br />
a palavra, “[...] o Dr. Alberto Uva, Presidente da Associação dos Jornalistas<br />
e Homens de Letras do Porto; Óscar Lopes, pela Sociedade Portuguesa de<br />
Escritores; Artur Santos Silva, pelos democratas do Porto; Acácio Gouveia,<br />
pelos condiscípulos de Direito e Gomes de Almeida pelos amigos do Porto<br />
para evocar o belo e raro exemplo de consciência moral e de independência<br />
mental do Dr. Ramos de Almeida, cujos fundamentos se revelaram na sua<br />
austera filosofia política e na sua invulnerável integridade intelectual [...]” 3 .<br />
81<br />
3 In “Dr. Ramos de Almeida”, Caderno de Cultura - Suplemento do Jornal de Vila do Conde – n.º 303, 19 setembro 1985, p. 3.
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
82<br />
CAT 10 CAT 10<br />
CAT 10<br />
[António Ramos de Almeida]. – Vila do<br />
Conde: Fot. J. Adriano, [s. d.]. – 1 Foto: sépia;<br />
17,5 x 11,5 cm<br />
Fotografia com dedicatória manuscrita, no<br />
verso, a sua futura esposa<br />
col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
CAT 86<br />
CAT 86<br />
[Teatro Experimental do Porto – TEP:<br />
fotografia de grupo]. – [Porto]: [1952-53]. – 1<br />
Foto: p&b; 12,8 x 17 cm<br />
Reconhecem-se na fotografia, além de Ramos<br />
de Almeida, Alexandre Babo, Eugénio de<br />
Andrade, João Villaret, Pedro Homem de<br />
Melo e João Menéres de Campos<br />
Col. João Paulo L. Campos
83<br />
CAT 80<br />
CAT 80<br />
[António Ramos de Almeida aquando da<br />
presença do General Humberto Delgado no<br />
Porto] [Porto]. - [1958]. – 1 foto: p&b; 12,5<br />
x 17<br />
Fotografia que documenta o envolvimento de<br />
Ramos de Almeida na campanha presidencial<br />
de Humberto Delgado<br />
col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
CAT 175<br />
[Informação sobre o facto de Antonio Ramos<br />
de Almeida estar presente à chegada do<br />
General Humberto Delgado ao aeroporto<br />
de Pedras Rubras, Porto, 1958]. - V. F. Xira:<br />
MNR, 2013. – Reprod. ampl.; 1 informação:<br />
color<br />
Reprodução de imagem cedida pelo ANTT.<br />
– Informação que refere que Antonio Ramos<br />
de Almeida esperou a chegada do General<br />
Humberto Delgado ao aeroporto de Pedras<br />
Rubras, quando este se dirigia de Lisboa para<br />
o Porto em viagem de propaganda eleitoral,<br />
para as eleições de 1958<br />
Arquivo Nacional Torre do Tombo<br />
PT-TT-PI<strong>DE</strong>-DGS-<strong>DE</strong>L-P-PI-10800-NT-<br />
3623<br />
CAT 175<br />
CAT 176<br />
[Fotografia de António Ramos de Almeida,<br />
Porto, 1952]. – V. F. Xira: MNR, 2013. -<br />
Reprod. ampl.: p&b<br />
Col. Ana Maria Ramos de Almeida<br />
CAT 176
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
84<br />
Três anos depois, a 10 de junho de 1964, os restos mortais de António Ramos<br />
de Almeida são trasladados para um mausoléu construído com o produto de uma<br />
subscrição pública e sob projeto do arquiteto Côrte Real. A PI<strong>DE</strong> marcou presença<br />
no evento solene, no qual Celso Pontes recordou o amigo e António José de Sousa<br />
Pereira transmitiu aos presentes a “Saudação a Ramos de Almeida”, enviada por José<br />
Régio. Um outro poeta, Castro Reis, leu a “Carta a Ramos de Almeida”, que Pedro<br />
Homem de Mello dirigiu à viúva do advogado e escritor. Por seu turno, o jornalista<br />
(e, à data, redator principal) do “Jornal de Notícias” Nuno Teixeira Neves, evocou<br />
também a figura de Ramos de Almeida, numa alocução intitulada “Uma Figura Viva<br />
entre os Homens”. Finalmente, Armando Bacelar, advogado e amigo de Ramos de<br />
Almeida, seu companheiro em muitos momentos de luta contra o regime salazarista,<br />
focou a personalidade pública e literária do homenageado.<br />
Também esta cerimónia foi seguida de perto pela imprensa nacional, com<br />
particular destaque para um artigo de Mário Soares no jornal “República”, na sua<br />
coluna “Fogo Solto”, em que dá conta da importância de Ramos de Almeida, ao<br />
nível da difusão, em Portugal, da cultura brasileira e dos seus principais nomes à<br />
época – sobretudo os escritores brasileiros dos anos 30: Graciliano Ramos, José<br />
Lins do Rego, Jorge Amado, Raquel Queirós, Erico Veríssimo –, recordando ainda a<br />
sua colaboração em revistas literárias como “Sol Nascente”, “Altitude”, “Vértice” e<br />
“Seara Nova” e a sua ligação às origens do movimento neorrealista português. Mário<br />
Soares apontava ainda, no mesmo artigo, as biografias de Eça de Queiroz e de Antero<br />
de Quental, da autoria de Ramos de Almeida e o seu trabalho – então inédito – sobre<br />
Bernardino Machado.<br />
Neste breve apontamento biográfico, não podemos deixar de referir outras<br />
vertentes da atividade de Ramos de Almeida enquanto intelectual empenhado na<br />
vida política e cultural daquele que foi o seu tempo. É o caso da sua participação<br />
ativa junto do movimento associativo de Vila do Conde (integrou a direção do Clube<br />
Fluvial Vilacondense) e do seu olhar atento e crítico face ao panorama que então<br />
caraterizava o teatro nacional. É assim que António Ramos de Almeida surge ligado,<br />
desde o momento da sua fundação, ao Teatro Experimental do Porto (TEP) e à<br />
figura incontornável de António Pedro, num projeto que pretendia fazer ressurgir a<br />
arte dramática em Portugal, através da subida a palco de obras clássicas da literatura<br />
nacional e estrangeira.
Bibliografia Ativa<br />
Bibliografia Ativa<br />
Estudos, ensaios, crítica literária<br />
“A Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen”, Dissertação de Licenciatura, in<br />
suplemento do Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 1939.<br />
“A arte e a vida: para esclarecimento e compreensão da literatura moderna portuguesa<br />
e da estéril polémica arte pura e arte social”, in Cadernos Azuis, 2, Porto, Livraria<br />
Joaquim Maria Costa, 1941, 2.ª edição, Porto, Livraria Latina, 1944.<br />
85<br />
“Antero de Quental: infância e juventude”, 2 vol., in Cadernos Azuis 5-6, Os homens e<br />
as ideias, Porto, Livraria Latina, 1943.<br />
“Antero de Quental: apogeu decadência e morte”, in Cadernos Azuis, 9-10, Os homens<br />
e as ideias, Porto, Livraria Latina, 1944.<br />
A nova descoberta do Brasil, Porto, Editorial Fenianos, 1944.<br />
Eça, Porto, Livraria Latina, 1945.<br />
Para a compreensão da cultura no Brasil, Marânus, Porto, [s. n.], 1950.<br />
Bernardino Machado, evocação de uma figura política, Porto, [s. n.], 1951.<br />
O pensamento activo de Bernardino Machado, Porto, Brasília Editora, 1974.<br />
Poesia<br />
Sinal de Alarme, Coimbra, [s. n.], 1938<br />
Sinfonia da guerra, Porto, Sol Nascente, 1939.<br />
Sêde, Porto, Livraria Latina, 1944.<br />
Vulcão, Lisboa, [s. n.], 1956.
86<br />
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida
Catalogação<br />
Catalogação<br />
[1]<br />
[Cédula pessoal de António Ramos de Almeida]. – República Portuguesa.<br />
– Vila do Conde: R. P., 1949. – 1 Caderneta: 5 p; 14 x9,3 cm<br />
Cédula pessoal nº 366565, data de nascimento 18 de Março de 1912, em<br />
Olinda -Pernambuco<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[2]<br />
[António Ramos de Almeida em bebé]. – [Recife], [1912]. – 1 foto: sépia;<br />
10,5 x 6,4 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[3]<br />
[António Ramos de Almeida aos 7 anos de idade]. – [Recife], [1919]. – 1<br />
foto: sépia; 4,5 x 5,5 cm<br />
Com dedicatória no verso a “Á titia Isabel, com muitos beijos, oferecem os<br />
sobrinhos muito amiguinhos”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[4]<br />
Lembrança da primeira comunhão. – [Vila do Conde]: Padre Jerónimo R.,<br />
1922. – 1 Imagem: color; 21,5 x 13,5 cm<br />
Inscrição mst: Lembrança da primeira comunhão de António Ramos de<br />
Almeida na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, 28 de Maio de 1922. -<br />
Registo de Santo no centro do cartão, apresenta imagem da “Comunhão”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[5]<br />
Caderneta Escolar: António Ramos de Almeida / Liceu Rodrigues Freitas.<br />
– Porto, 1925 -1932. – 1 Caderneta: orig. mst.: 43 fl.;. + 1 requerimento;<br />
22,5 x 14,5 cm<br />
Aprovado no exame do Curso Complementar, em 13 de Julho de 1932<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[6]<br />
[Fotografia de António Ramos de Almeida com seu Pai, sua Mãe e outros<br />
familiares]. – Vila do Conde. - Casa Arizal, Alberto Henriques, [1950]. – 1<br />
Foto: p&b; 8,5 x 5,5 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[7]<br />
[Álbum de fotografias Ramos de Almeida em Coimbra e Vila do Conde]<br />
Photos. – Coimbra: Vila do Conde: Lisboa, 1932-35. – [19] p.; 10,5 x 17,5 cm<br />
Fotografia de António Ramos de Almeida, Jardim Botânico, Coimbra<br />
1935, p. [15]<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[8]<br />
[Família de António Ramos de Almeida e amigos próximos]. – Vila do<br />
Conde: Fot. J. Adriano, [s. d.]. – 1 Foto colada em cartão cinzento: sépia;<br />
24,5 x 20 cm<br />
Na fotografia reconhecem-se, entre outros, a Sr.ª D. Idalina, futura esposa de<br />
António Ramos de Almeida, e o filósofo Álvaro Ribeiro<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[9]<br />
[António Ramos de Almeida, jovem estudante]. - [Coimbra]: [s. n.: s. d.].<br />
– 1 Foto: sépia; 15,5 x 9 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[10]<br />
[António Ramos de Almeida]. – Vila do Conde: Fot. J. Adriano, [s. d.]. – 1<br />
Foto: sépia; 17,5 x 11,5 cm<br />
Fotografia com dedicatória manuscrita, no verso, a sua futura esposa<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[11]<br />
[Caderno de apontamentos] A teoria pura do Direito / [António Ramos de<br />
Almeida]. – [s. l.: s. d.]. – 1 Caderno: orig. ms.: [91] fl.;.; 21,5 x 16,5 cm<br />
Apontamentos, manuscritos, para o trabalho final de licenciatura, “ A teoria<br />
pura do Direito”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[12]<br />
[Livro do Curso]: IV ano Jurídico, 1936 / [Faculdade de Direito da<br />
Universidade de Coimbra]. - Coimbra: Universidade,1936. – [61] p.:il.;<br />
18 x 28 cm<br />
Com dedicatória de António Ramos de Almeida a Lina, 27 de Maio de<br />
1936. - Versos de João [Meneres de Campos], dedicados a António Ramos<br />
de Almeida p [17]. – Versos de António Ramos de Almeida dedicados a<br />
João Meneres de Castro, p [41]. - Caricatura da p. [17] em evidência: revista<br />
“Manifesto” na qual António Ramos de Almeida colaborou com o artigo<br />
“Novos e velhos”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
Novos e velhos / António Ramos de Almeida<br />
In: Manifesto. - Nº 20 (Fev. 1936) p.12<br />
Revista mensal. - Foram editados só os nºs: 1, 2, 3<br />
Col. João Paulo L. Campos<br />
[13]<br />
[António Ramos de Almeida em Coimbra]. – Coimbra: J. Batista<br />
Fotógrafo, 1957. – 1 foto: p&b; 10 x 16,5 cm<br />
Fotografia: reunião do curso de A. Ramos de Almeida, em Coimbra, 8 Jun.<br />
1957 [pertence a João Menéres de Campos]<br />
Col. João Paulo L. Campos<br />
[14]<br />
Cartão de Identidade: Sócio nº 37.687: Dr. António Ramos de Almeida /<br />
Futebol Clube do Porto. – Porto, [s. d.]. – 1 Cartão: orig. mst; 8 x 11,5 cm<br />
Cartão de associado do Futebol Clube do Porto com fotografia<br />
Evocação de António Ramos de Almeida / Paulo Pombo<br />
In: O Porto. – A. XXVI, nº 1021 (6 Mar. 1975), p 2, 5<br />
Jornal do Futebol Clube do Porto do qual António Ramos de Almeida era<br />
o associado 37.687<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[15]<br />
[Fotografia de António Ramos de Almeida com a sua esposa em<br />
acontecimento não identificado]. - [s. l.: s. n.], [s. d.]. – 1 Foto: p&b;<br />
13,5 x 9,3 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[16]<br />
[Reunião do curso de António Ramos de Almeida, em Coimbra, 8 de<br />
Junho]. – Coimbra: [s. n.], [1937-38]. – 1 Foto colada em cartão castanho:<br />
sépia; 35 x 25 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[17]<br />
Bilhete de Identidade: Sócio nº 15: Dr. António Ramos de Almeida /<br />
Centro Republicano Académico. – Coimbra, 1933-1934. – 1 Cartão: orig.<br />
mst; 11,5 x 7 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[18]<br />
Cédula Profissional de candidato a Advocacia: nº 105: António Ramos de<br />
Almeida / Ordem dos Advogados: Conselho Distrital do Porto, Delegação<br />
de Vila do Conde. – Vila do Conde, 19 Dez. 1938. – 1 Cédula: orig. mst: 1<br />
fl.; 12 x 22; dobr. em 12 x 7,5 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
Cédula Profissional de Advogado: nº 389: António Ramos de Almeida /<br />
Ordem dos Advogados: Conselho Distrital do Porto, Delegação de Vila do<br />
Conde. – Vila do Conde, 2 Abr. 1941. – 1 Cédula: orig. mst: 1 fl.; 12 x 22;<br />
dobr. em 12 x 7,5 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[19]<br />
Cartão de Identidade: Sócio nº 250: Dr. António Ramos de Almeida /<br />
Futebol Clube de Vila do Conde. – Vila do Conde, 1941 – 1 Cartão: orig.<br />
mst; 8,5 x 13 cm<br />
Cartão de associado desde 23 Mar. 1941, com fotografia<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
87<br />
CAT 55
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
88<br />
[20]<br />
[Caneta] PeliKan 400. – Germany: [Gunter Wagner], [1951-1954]<br />
Caneta tinta permanente castanha, tartaruga às riscas com aro<br />
e aparo dourado; 12,7 x 1,1 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[21]<br />
[Fotografia que documenta a inauguração da Rua Dr. António Ramos de<br />
Almeida, em Vila do Conde]. – [Vila do Conde], [s. d.]. - 1 Foto: p&b;<br />
23,5 x 17 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[22]<br />
Panorama literário da mocidade de Coimbra e a necessidade do<br />
revigoramento mental das novas gerações / António Ramos de Almeida.<br />
- V. F. Xira: MNR, 2013. - Reprod. ampl.: sépia<br />
Reprodução do artigo. - In: Humanidade, Nº 39 (4 Dez. 1937). - Contém<br />
desenho evocativo de Fernando Namora<br />
Fotocópia cedida pelo Dr. António Pedro Pita<br />
[23]<br />
Véspera: novela / [António Ramos de Almeida]. – [s. l.: s.n.], [1945].<br />
–125 p.; 21 cm<br />
Original datilografado da novela. – Novela várias vezes anunciada mas que<br />
permaneceu inédita<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[24]<br />
[Anúncio da novela inédita “Véspera”] / António Ramos de Almeida<br />
In: Vértice. – Vol. IV, nº 51, (Out. 1947), p. 470-471<br />
Novela de António Ramos de Almeida “Véspera”, várias vezes anunciada<br />
mas que permaneceu inédita<br />
Biblioteca particular Santos Silva<br />
MNR PP1<br />
[25]<br />
Meu caro António / Vértice, Joaquim [Namorado]. – Coimbra, [s. d.]. –<br />
Carta: orig. ms: 1 fl.; 27,4 x 21, 3 cm<br />
Inquérito da Vértice sobre a próxima época literária. – Carta de Joaquim<br />
Namorado a pedir que António Ramos de Almeida redija o texto como se<br />
estivesse a responder ao inquérito, e envie uma fotografia para publicar com<br />
as respostas.<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[26]<br />
Sinfonia da guerra: poema / António Ramos de Almeida; pref. Rodrigo Soares;<br />
pos-fácio Joaquim Namorado; des. João Alberto. - Porto: Sol Nascente, 1939.<br />
- 32 p.; 24 cm<br />
Biblioteca José Ferreira Monte<br />
MNR ALM/POE/4290<br />
[27]<br />
Prefácio [Sinfonia da Guerra] / Rodrigo Soares. – [s.l.], 1939. – 4 fl.;: orig.<br />
datiloscrito; 22 x 16 cm<br />
Original datiloscrito com emendas ms. - Prefácio do livro “Sinfonia da<br />
Guerra” de António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[28]<br />
Post-Fácio [Sinfonia da Guerra] / Joaquim Namorado. - [s. l.], [1939]. –<br />
2 fl.;: orig. ms; 22,5 x 16,5 cm<br />
Original manuscrito. - Posfácio do livro “Sinfonia da Guerra” de António<br />
Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[29]<br />
Querido António / Joaquim [Namorado]. – Coimbra, 26 Dez. 1939. -<br />
Carta: orig. ms: 2 fl.; 17,1 x 13 cm<br />
Carta de Joaquim Namorado dizendo “o teu livro (Sinfonia da Guerra) será<br />
modelo das nossas edições”. - Refere livro de contos de Alves Redol e o livro<br />
“Gaibéus”. - Refere que Álvaro Cunhal está internado no Hospital Militar<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[30]<br />
Amigo Ramos de Almeida… / Armando Bacelar. – Coimbra, 22 Jan. 1940.<br />
– Carta: orig. ms: 1 fl.; 26,4 x 20 cm<br />
Carta sobre o facto de “Sinfonia da guerra” se estar a vender bem, e da nota sobre o<br />
mesmo livro que o autor da carta (Armando Bacelar) escreveu para o “Sol”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[31]<br />
As três pessoas / Políbio Gomes dos Santos. - Coimbra: Portugália, 1938.<br />
- 55, [2] p.; 23 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[32]<br />
As sete partidas do mundo / Fernando Namora. - Coimbra: Portugália,1938.<br />
- 255, [9] p.; 20 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[33]<br />
Búzio: poesia / João José Cochofel. - Coimbra: [s. n.], 1940. - 45, [2] p.; 20 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Coimbra, 23<br />
Nov. 1939)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[34]<br />
As várias faces: teatro / Augusto dos Santos Abranches.<br />
- Coimbra: Portugália, 1943. - 21, [2] p.; 24 cm. - (Vértice. Teatro;1)<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Coimbra, Abr.<br />
1939)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[35]<br />
Os novos escritores e o movimento chamado “Neo-realismo” / Jaime Brasil.<br />
- [Porto]: [s. n.], 1945. - 15 p.; 23 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[36]<br />
Ambições e limites do cinema português: ensaio / Manuel de Azevedo. –<br />
Lisboa: [s. n.], 1945. – 39 p.; 19 cm.<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida, Porto (29 Abr.<br />
1945)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[37]<br />
Incomodidade: invenção do poeta; aviso à navegação; viagem ao país dos<br />
nefelibatas / Joaquim Namorado. – Coimbra: Atlântida, 1945. – 219 p;<br />
21 cm.<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[38]<br />
Maria / Afonso Ribeiro. - Porto: Editorial Ibérica. - 3 vol.; 21 cm<br />
Vol. 1: Escada de Serviço. - 1946. - 479, [1] p.<br />
Escada de Serviço é uma nova versão de outro romance publicado pelo autor<br />
em 1941, com o nome de Plano Inclinado. - Com dedicatória do autor a<br />
António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[39]<br />
O Riso Dissonante: poemas / Mário Dionísio. – Lisboa: Centro<br />
Bibliográfico, 1950. – 59 p.; 19 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa, Jun.<br />
1950)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[40]<br />
Canto de morte e amor / Afonso Duarte. - Coimbra: [s. n.], 1952. - 23 p.;<br />
26 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida
Catalogação<br />
[41]<br />
Olhos de água / Alves Redol. - Lisboa: Centro Bibliográfico, [1954]. - 343,<br />
[2] p.; 19 cm. - (Tempo Presente; 1)<br />
Ilustrações de Lima de Freitas. - Com dedicatória do autor a António<br />
Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[42]<br />
Agonia: romance / Manuel do Nascimento. - Lisboa: Sociedade de<br />
Expansão Cultural, (1954). - 165, [4] p.; 20 cm. - (Romance Português<br />
Contemporâneo)<br />
Capa de Manuel Ribeiro de Pavia. - Com dedicatória do autor a António<br />
Ramos de Almeida (Lisboa, 1 Fev. 1954)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[43]<br />
Serranos: contos / Mário Braga. - 2ª ed. - Coimbra: Coimbra Editora, 1955.<br />
- 127 p.; 19 cm<br />
Ilustrações de Cipriano Dourado. - Com dedicatória do autor a António<br />
Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[44]<br />
Sedução: novela / José Marmelo e Silva. – Edição definitiva. – Lisboa:<br />
Estúdios Cor, 1960. – 180 p.; 20 cm. – (Latitude; 42).<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida. - Capa Luís Filipe<br />
de Abreu<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[45]<br />
Honra-se a Direção convidando Vª. Exª. e sua Exma. Família a assistirem à<br />
conferência sob o título “A nova descoberta do Brasil” / Clube Fenianos<br />
Portugueses .- Porto, 29 Abr. 1944.- 1 Convite: orig. mst; 9 x 14,5 cm<br />
Convite dirigido a Ramos de Almeida e Família para assistir à conferência<br />
“A nova descoberta do Brasil”, com data de 29 Abr. 1944<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[46]<br />
Compra e venda: peça em três atos / [António Ramos de Almeida]. –<br />
[s. l.], [s. d.]. – 70 p.; 26 cm<br />
Original manuscrito e incompleto da peça de teatro “Compra e Venda peça<br />
em três atos<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[47]<br />
Castro Alves, génio poético do Brasil / António Ramos de Almeida. -<br />
Porto: [s. n.]; 1954. - 55 p.; 29 cm.<br />
Manuscrito do estudo “Castro Alves, génio poético do Brasil”, oferecido ao<br />
colega de curso e amigo João Menéres de Campos, em 8 Jan. 1954<br />
col. João Paulo L. Campos<br />
[48]<br />
Meu caro Ramos de Almeida / João Gaspar Simões. – Cascais, 19 Nov.<br />
1946. – Carta: orig. ms: 1 fl.; 30 x 18 cm<br />
Carta de João Gaspar Simões, pedindo rapidez na entrega do estudo sobre<br />
Pinheiro Chagas (19 Nov. 1946)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
Meu caro Ramos de Almeida / João Gaspar Simões. – Cascais, 2 Dez. 1946.<br />
– Carta: orig. ms: 1 fl.; 30 x 18 cm<br />
Carta de João Gaspar Simões, agradecimento pelo envio do ensaio original<br />
“Pinheiro Chagas<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[49]<br />
Epopeias, por António Marques Matias, Lisboa / António Ramos de<br />
Almeida<br />
In: Revista de Portugal.- Nº 1 (Out. 1937), p. 129-131<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[50]<br />
O romance brasileiro através dos seus principais intérpretes: Jorge Amado /<br />
António Ramos de Almeida<br />
In: Sol Nascente. – A. II, nº 31 (15 Ago.1938), p. 6, 7<br />
MNR PP 123<br />
[51]<br />
Na linha Quebrada da nossa época…:carta a Romain Rolland / António<br />
Ramos de Almeida<br />
In: Sol Nascente. – A. III, nº 34 (1 Mar.1939), p. 5<br />
MNR PP 123<br />
[52]<br />
As sete partidas do mundo: romance, por Fernando Namora. Edições<br />
Portugália, Coimbra / António Ramos de Almeida. - V. F. Xira: MNR,<br />
2013. - Reprod. ampl.: sépia<br />
Reprodução do artigo das pág. p. 48-50, publicado na Revista Presença, a.<br />
XII, série II (Nov. 1939)<br />
Imagens retiradas do site da Biblioteca Geral Digital<br />
Modo de acesso: https://bdigital.sib.uc.pt/bg4/UCBG-RP-1-5-s1_3/<br />
UCBG-RP-1-5-s1_3_master/UCBG-RP-1-5-s2/UCBG-RP-1-5-s2_<br />
item1/index.html<br />
[53]<br />
Mar vivo: poemas de João Campos, Edições Presença / António Ramos de<br />
Almeida<br />
In: Altitude. – Nº 2 (Abr. 1939), p. 11,12<br />
MNR PP 11<br />
[54]<br />
Cinema e realidade: desenhos imaginados: realidade imaginada, por<br />
Almada Negreiros / António Ramos de Almeida<br />
In: Altitude. – Nº 1 (Fev. 1939), p. 10, 11<br />
MNR PP 11<br />
[55]<br />
Nota sobre Raúl Brandão / António Ramos de Almeida<br />
In: Seara Nova. – Nº 1000-7 (26 Out. 1946) p. 182,183<br />
Número comemorativo do vigésimo quinto aniversário<br />
MNR PP 2<br />
[56]<br />
Notas para o Neo-Realismo / António Ramos de Almeida<br />
IN: Diabo. – A. VII, nº 313 (21 Set. 1940), p. 2<br />
MNR PP 92<br />
Notas para o Neo-Realismo / António Ramos de Almeida<br />
IN: Diabo. – A. VII, nº 315 (5 Out. 1940), p. 3<br />
MNR PP 92<br />
[57]<br />
Meu caro Ramos de Almeida / Ribeiro Couto. – Lisboa, 21 Nov. 1944. –<br />
Carta: orig. dat.: 1 fl.;.; 26,5 x 21 cm<br />
Carta de agradecimento pela referência ao seu nome (Ribeiro Couto) no<br />
texto da conferência de António Ramos de Almeida “A nova descoberta<br />
do Brasil“<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[58]<br />
Meu querido Ramos de Almeida / Embaixada do Brasil, Renato<br />
de Mendonça. – Madrid, 29 Out. 1950. - Carta: orig. ms:1 fl.;.;<br />
25,5 x 20,5 cm<br />
Carta de Renato Mendonça que refere o livro de António Ramos de Almeida<br />
“Para a compreensão da cultura no Brasil”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[59]<br />
Mensagem Luso-brasileira: ao Presidente Jânio Quadros / [António<br />
Ramos de Almeida]. – Porto, [1961]. – orig. datiloscrito, c/ emendas<br />
ms:1 fl.; 26,8 X 20,5 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[60]<br />
[António Ramos de Almeida cumprimenta Jânio Quadros eleito<br />
Presidente da República<br />
Brasileira, em visita a Portugal]. - [Portugal], [1961?]. – 1 Foto: sépia;<br />
17 x 23 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
89
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
90<br />
[61]<br />
[António Ramos de Almeida com Assis Chateaubriand]. – [s. l.], [s. d.]. –<br />
1 Foto: p&b; 17 x 12 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[62]<br />
[António Ramos de Almeida com o ilustre romancista brasileiro, Erico<br />
Veríssimo]. – Porto: M. Teixeira, [1959]. – 1 Foto: sépia; 22,5 x 16,5 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[63]<br />
Meu caro Ramos de Almeida / Publicações Europa América, Fernando<br />
Piteira Santos. – Lisboa, 22 Out. 1950. - Carta: orig. ms: 1 fl.; 21 x 14,8 cm<br />
Carta de Fernando Piteira Santos, manifestando o interesse de Publicações<br />
Europa-América em editar uma História da Literatura Brasileira, na<br />
coleção Saber<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[64]<br />
Exmo. Senhor: temos aguardado as suas notícias relativas ao volume<br />
sobre “História da literatura brasileira”… / Publicações Europa<br />
América, Francisco Lyon de Castro. – Lisboa, 23 Abr. 1952. - Carta:<br />
orig. dat.: 1 fl.; 21 x 15 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[65]<br />
Exmo. Senhor: agradecemos as vossas notícias relativas à “História da<br />
Literatura Brasileira” / Ler: jornal de letras artes e ciências, Francisco Lyon<br />
de Castro. – Lisboa, 8 Mai. 1952. - Carta: orig. dat.: 1 fl.; 26,2 x 20 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[66]<br />
A propósito do intercâmbio Luso-brasileiro / António Ramos de Almeida<br />
In: Ler: jornal de letras artes e ciências. – Nº 5 (Ago. 1952), p. 9<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[67]<br />
Dia longo: poesias escolhidas (1915-1943) / Ribeiro Couto. – Lisboa:<br />
Portugália, (1944). – 382 p.,19 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa, 1944)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[68]<br />
Evolução da poesia brasileira / Agrippino Grieco. – 2ª ed. - Rio de Janeiro :<br />
Livraria H. Antunes, [1944].- 248 p.;19 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Rio, Out.<br />
1944)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[69]<br />
Pequeña História del Brasil / Renato de Mendonça. – México: Secretaria<br />
de Educacion Publica, (1944). – 94 p.;19 cm. - (Biblioteca Enciclopédica<br />
Popular; 23)<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Porto, 30<br />
Jul.1946)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[70]<br />
O declínio do império e o ideal republicano no Brasil / Renato Mendonça.<br />
– Porto: Imprensa Portuguesa, 1948. – 32 p.; 25 cm<br />
Contém Retrato a óleo do autor por Diego Rivera (México, 1942). -<br />
Conferência realizada a 15 Nov. 1947 no Grupo de Estudos Brasileiros do<br />
Porto. - Separata da Revista “Brasil Cultural”. - A. II, nºs 2,3<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1948)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[71]<br />
Invenção de Orfeu / Jorge de Lima. – Rio de Janeiro: Livros de Portugal,<br />
(1952). – 431 p.; 19 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Rio de Janeiro,<br />
31 Set.1952)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[72]<br />
Homens, seres e coisas / José Lins do Rego. – Lisboa: Ministério da<br />
Educação e Saúde-Serviço de Documentação, 1952. – 77 p.;19 cm. -<br />
(Os cadernos de cultura)<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1952)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[73]<br />
O amanuense Belmiro: romance / Ciro dos Anjos. – Lisboa: Livros do<br />
Brasil, [1955]. – 182 p.; 22 cm. – (Livros do Brasil; 29)<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa, 20 Jul.<br />
1955)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[74]<br />
México: história de uma viagem / Erico Veríssimo. – Lisboa: Livros do<br />
Brasil, [1959]. – 337, [2] p.; 22 cm. – (Livros do Brasil; 33)<br />
Desenho do texto do autor. - Com dedicatória do autor a António Ramos<br />
de Almeida (25 Fev. 1959)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[75]<br />
Eça de Queiroz, agitador no Brasil / Paulo Cavalcanti. – Ed. Ilustrada.<br />
– São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959. – 367 p.; 19 cm. –<br />
(Brasiliana; 311)<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Recife, 21<br />
Jan. 1960)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[76]<br />
Deus lhe pague…: comédia completa em 3 actos divididos em 9 quadros /<br />
Joracy Camargo; pref. Procópia Ferreira. – 4ª ed. - Lisboa: Livros do Brasil,<br />
[1960]. – 182 p.; 22 cm. – (Livros do Brasil; 3).<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Porto, 11 Abr.<br />
1960)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[77]<br />
Exmº. Sr. Dr. Ramos de Almeida e prezado Camarada / Costa Barreto. -<br />
Lisboa, 26 Fev. 1953. - Carta: orig. ms.: 1 fl.; 27 x 21,4 cm<br />
Carta de Costa Barreto, felicitando pela fundação do “Suplemento Literário<br />
do Jornal de Notícias”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[78]<br />
António [Ramos de Almeida] querido: / Donatello. – [s. l.: s. d.]. - Carta:<br />
orig. ms.: 1 fl.; 25 x 20 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[79]<br />
A memória do centenário: Ramos de Almeida: um suplemento literário<br />
tornado “Lareira pública: “um homem bem sintonizado com os outros<br />
homens”<br />
In: Suplemento do “Jornal de Noticias”.- (25 Mai. 1988), p. 29<br />
A memória do centenário: matéria sobre o suplemento literário e a<br />
colaboração de A. Ramos de Almeida ( 25 Mai.1968)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[80]<br />
[António Ramos de Almeida aquando da presença do General Humberto<br />
Delgado no Porto]. - [Porto], [1958]. – 1 foto: p&b; 12,5 x 17<br />
Fotografia que documenta o envolvimento de Ramos de Almeida na<br />
campanha presidencial de Humberto Delgado<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[81]<br />
[António Ramos de Almeida envolvido numa campanha eleitoral?]. -<br />
[s. l.: s. d.]. – 1 foto: p&b; 17,2 x 23, 3 cm<br />
Na fotografia reconhecem-se, entre outros, Virgínia Moura e<br />
Ruy Luís Gomes<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida
91<br />
CAT 143<br />
CAT 143<br />
Para uma antologia de pensamento<br />
republicano / Ramos de Almeida<br />
In: Vértice. – Vol. XXIV, nº 250-251 (Jul. -<br />
Ago. 1964), p.397-411<br />
Contém: Três poemas por Ramos de Almeida,<br />
p. 402-404.- Uma figura viva entre os homens<br />
por Nuno Teixeira Neves, p. 405-409. –<br />
Saudação a Ramos de Almeida por José Régio,<br />
p. 410,411. - Número 250-251 (Julho-Agosto.<br />
1964) de Vértice consagrado parcialmente a<br />
António Ramos de Almeida, com textos de<br />
José Régio e Nuno Teixeira Neves bem como<br />
um ensaio, sobre Bernardino Machado, e<br />
poemas de A. Ramos de Almeida<br />
MNR PP 1 CAT 143
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
92<br />
[82]<br />
Canta a alma lusíada! XXVII Concurso das Quadras de S. João<br />
In: Jornal de Noticias. – (24 Jun. 1955), p. 2<br />
Recorte que documenta a reunião do Júri do Concurso das Quadras de S.<br />
João 1955, organizado pelo “Jornal de Notícias”; reconhecem-se, além de<br />
António Ramos de Almeida, os poetas Egito Gonçalves e João Menéres de<br />
Campos<br />
Col. João Paulo L. Campos<br />
[83]<br />
Exmo. Senhor, de conformidade coma a conversa…/ Clube Português de<br />
Cinematografia. – Porto, 3 Out. 1948. - Carta: orig. dat.: 1 fl.; 27, 5 x 21,5 cm<br />
Carta enviada a António Ramos de Almeida, convite do Clube Português<br />
de Cinematografia para proferir palestra, em 10 Out. 1948<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[84]<br />
Meu caro Ramos de Almeida / António Pedro. – [Porto]: [1951-1952]. -<br />
Carta: orig. ms: 8 fl.; 17 x 10 cm<br />
Carta de António Pedro, lindíssima, sobre o início da atividade do Teatro<br />
Experimental do Porto e com referência a uma fotografia de Fernando<br />
Lemos, até agora não encontrada. – Os 1ºs estatutos to TEP datam de<br />
1951, estes Estatutos só seriam promulgados, por alvará do Governo Civil<br />
do Porto, em 21 de Outubro de 1952<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[85]<br />
[Teatro Experimental do Porto – TEP: ensaios]. – [Porto]: [1952-53]. – 1<br />
Foto: p&b; 27,5 x 12,5 cm<br />
O primeiro contacto, mediado por Eugénio de Andrade, entre elementos<br />
do TEP (Alexandre Babo) e António Pedro parece datar de fins de 1952. O<br />
primeiro espectáculo foi estreado em 18 Jun.1953<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[86]<br />
[Teatro Experimental do Porto – TEP: fotografia de grupo]. – [Porto]:<br />
[1952-53]. – 1 Foto: p&b; 12,8 x 17 cm<br />
Reconhecem-se na fotografia, além de Ramos de Almeida, Alexandre Babo,<br />
Eugénio de Andrade, João Villaret, Pedro Homem de Melo e João Menéres<br />
de Campos<br />
Col. João Paulo L. Campos<br />
[87]<br />
Prezado amigo / Almeida da Costa. - Coimbra, 16 Mai. 1956. – Carta: orig.<br />
ms: 1 fl.;.; 26,5 x 20,3 cm<br />
Carta solicitando a organização de um número especial do suplemento<br />
literário, por ocasião da homenagem ao poeta Afonso Duarte, em 1956<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[89]<br />
Meu prezado amigo / Vértice, Luís Albuquerque. – Coimbra, 6 Mai. 1952.<br />
- 1 Postal: il.; 10,4 x 15 cm<br />
Postal dos CTT ilustrado com a Torre de Belém. – Refere o discurso de<br />
homenagem a João de Barros<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[90]<br />
Meu caro Ramos de Almeida / Luís Albuquerque. – Coimbra, 11 Mai.<br />
1952. - Carta: orig. ms.: 1 fl.; 26,4 x 20, 2 cm<br />
Carta de Luís Albuquerque, pedindo texto para uma conferência sobre João<br />
de Barros 11 Mai.1952<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[91]<br />
Saudação a João de Barros / José Régio<br />
In: Vértice. - Vol. XII, nº 106 (Jun. 1952), p. 299, 300<br />
Poeta da humilde plenitude / António Ramos de Almeida<br />
In: Vértice. - Vol. XII, nº 106 (Jun. 1952), p. 301-310<br />
Escritor e orador / Agrippino Grieco<br />
In: Vértice. - Vol. XII, nº 106 (Jun. 1952), p. 311,312<br />
Artigos da homenagem a João de Barros<br />
MNR PP 1<br />
[92]<br />
Aspecto da homenagem a João de Barros na Sala da “Biblioteca José Régio”<br />
do Clube Fluvial Vilacondense. - V.F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.;<br />
1 Foto: p&b<br />
In: Vértice. -Vol. XII, nº106 (Jun. 1952), p. 313<br />
MNR PP 1<br />
[93]<br />
Querido amigo / João de Barros. – Santa Cruz, 23 Ago. 1951. - 1 Postal:<br />
p&b; 8,7 x 13,5 cm<br />
Postal ilustrado paisagem da Praia de Santa da Cruz<br />
Querido amigo / João de Barros. – [s. l.], 8 Out. 1951. - Carta: orig. ms:1<br />
fl.; 20,8 x 13,4 cm<br />
Agradece a oferta de um nº de “Renovação”<br />
Querido amigo e nobre camarada / João de Barros. – [s. l.], 5 Dez. 1953. -<br />
Carta: orig. ms:1 fl.; 17,8 x 13 cm<br />
Cartas de João de Barros, uma das quais (05 Dez.1953) agradecendo as<br />
gentilezas de A. Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[94]<br />
Humilde plenitude: poemas escolhidos / João de Barros. - Edição limitada.<br />
- Lisboa: Livros do Brasil, 1951. – 249, [3] p.; 24 cm.<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Out.1951)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[95]<br />
Meu caro António / Lino Lima. – [Lisboa], 21 Abr. 1953. - Carta: orig.<br />
ms: 1 fl.; 26,8 x 20 cm<br />
Carta de Lino Lima enviada da Cadeia do Aljube, Sala 2 A (21 Abr. 1953<br />
[António Ramos de Almeida com Lino Lima]. – [s. l.]: [s. d.]. – 1 Foto:<br />
sépia; 13,5 x 8,8 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[96]<br />
Meu prezado amigo / Ruy Luís Gomes. – Porto, 25 Jan. 1955. – Carta: orig.<br />
ms: 1 fl.; 26 x 19,5 cm<br />
Carta com carimbo de Censurado<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[97]<br />
O significado histórico e simbólico da homenagem ao Doutor António<br />
Luís Gomes / Ramos de Almeida<br />
In: República. – (22 Set.1952), p. 7,11<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[98]<br />
[Fotografia do Dr. António Luís Gomes]. - Lisboa: San Payo, 1951.<br />
– 1 Foto: sépia; 13,6 x 8,6<br />
Com dedicatória, no verso, do Dr. Luís Gomes a António Ramos de<br />
Almeida (4 Mai. 1952). - A homenagem ao Dr. Luís Gomes marca o<br />
vínculo de António Ramos de Almeida com o Republicanismo Clássico<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[99]<br />
[António Ramos de Almeida com o Dr. António Luís Gomes]. – Porto:<br />
Bazar Electro - Fot., 1952. – 1 Foto: p&b; 8,8 x 13,6 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[100]<br />
[António Ramos de Almeida com Tomaz da Fonseca, Jaime Cortesão,<br />
Teixeira de Pascoaes, Mário de Azevedo Gomes e Câmara Reys]. – [s. l.:<br />
s.d.]. – 1 Foto: p&b; 9 x 14 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[101]<br />
Dr. Ramos de Almeida / Jaime Isidoro. – Porto, Ago. 1960. - 1 Postal: color;<br />
10,5 x 15 cm<br />
Postal ilustrado com reprodução de óleo “Acrobate a la boule” de<br />
Pablo Picasso<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida
Catalogação<br />
[102]<br />
Meu caro Dr. Ramos de Almeida / Jaime Brasil. – Porto, 10 Mar. 1953. -<br />
Carta: orig. dact: 1 fl.; 21,6 x 17,9 cm<br />
Carta convite a Ramos de Almeida para participar como orador na<br />
homenagem a Ferreira de Castro, Porto<br />
Col. ª Antónia Ramos de Almeida<br />
[103]<br />
Nocturnos / Alberto Serpa. – [s.l.: s.n.], [1945]. - (Entregas de poesia; 12)<br />
Nocturnos, folheto de poesia de Alberto de Serpa, com dedicatória<br />
autografa a Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[104]<br />
Notícias do bloqueio: poema / Egito Gonçalves<br />
In: Árvore. – Nº 4 (1953)<br />
Pequeno cartaz com o poema “Notícias do bloqueio”, autografado por Egito<br />
Gonçalves<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[105]<br />
A morte do Poeta… / António Rebordão Navarro; Dinis Ramos<br />
In: Intervenção. – Coimbra: [Coimbra Editora. Ld.ª], p 9 -12<br />
Cinco poemas dedicados a António Ramos de Almeida: “ A morte do<br />
poeta”; “Um poema necessário”; “Deixa vir a noite nos teus passos”; “Sei<br />
que as árvores cresceram noutros lados”; “Quando me deitar levo o teu rosto”. –<br />
Dedicatória manuscrita dos autores a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[106]<br />
Querido amigo / Ferreira de Castro. – [s. l.], 14 Nov. 1957. - Carta: orig.<br />
ms: 1 fl.;.; 27 x 21 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[107]<br />
Meu caro Ramos de Almeida / António de Sousa. – Lisboa, Fev. 1954. -<br />
1 Bilhete-postal; 10,4 x 15 cm<br />
Refere o envio de livros pelo CTT, entre os quais, “Jangada”, “Livro de<br />
bordo” e “Linha da Terra”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[108]<br />
Linha de terra: poemas / António de Sousa. – Lisboa: Inquérito, 1951. –<br />
65 p.; 19 cm.<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Algés, Jan. 1954).<br />
- Desenho na capa de Manuel Ribeiro de Pavia<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[109]<br />
Ilha deserta / António de Sousa. – Coimbra: Presença,1937. – 78 p.; 24 cm<br />
Ilustração da capa Júlio [Pomar]. - Com dedicatória do autor a António<br />
Ramos de Almeida (Coimbra, Abr. 1937)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[110]<br />
Abismo: poemas / Adolpho Rocha. – Lisboa: Livros do Brasil, (1932). –<br />
27 p.; 20 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1936)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[111]<br />
Os quatro cavaleiros: poema / Tomaz Kim. - Lisboa: Portugália<br />
[depositária], [1943]. - 43, [5] p.; 25 cm. - (Cadernos de poesia)<br />
Capa de Manuel Ribeiro de Pavia. - Com dedicatória do autor a António<br />
Ramos de Almeida (15 Jan. 1943)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[112]<br />
Da academia do meu tempo aos estudantes de amanhã: conferência /<br />
António Macedo. - [s. l.: s. n.], 1945 (Porto: Tip. Mendonça). - 64 p.;19 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Natal, 1945). –<br />
Conferência dada em 16 de Maio de 1945, no Salão da Faculdade de Letras,<br />
a convite da Associação Académica de Coimbra<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[113]<br />
Retrato e lição de Gomes Leal: poema / Alberto de Serpa. – Porto: Livraria<br />
Portugália, (1948). – 14 p.; 19 cm<br />
Escrito e impresso no mês de Novembro de 1948, ano do 1º centenário do<br />
nascimento de Gomes Leal.<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[114]<br />
Histórias de mulheres / José Régio. – Porto: Livraria Portugália, (1946).<br />
– 342 p.; 19 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Portalegre,<br />
1946)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[115]<br />
Mãe terra / Papiniano Carlos. - Porto: Livraria Portugália, 1949. - 63 p.;<br />
22 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida. – Capa de<br />
Altino Maia<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[116]<br />
Ilha: poemas / João de Brito Câmara. – Coimbra, 1950 (Tip. Atlântida).<br />
- 96 p.; 18 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Tarrafal [?] Ago.<br />
1952)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[117]<br />
Pedro: romance / Manuel Mendes. – Lisboa: Sociedade de Expansão<br />
Cultural [distrib], (1954). – 223, [1] p.; 19 cm. - (Coleção romance<br />
português contemporâneo)<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa, 1954)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[118]<br />
As mãos e os frutos: poemas / Eugénio de Andrade. – Lisboa: Portugália<br />
Editora, 1948. – 57 p.; 20 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1953). - Capa de<br />
Manuel Ribeiro de Pavia<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[119]<br />
Arcas encoiradas: estudos, opiniões, fantasias / Aquilino Ribeiro. – 2ª ed. -<br />
Lisboa: Livraria Bertrand, [1953?]. – 290 p.; 19 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1953)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
Ramos de Almeida meu ilustre camarada: / Aquilino Ribeiro. – Lisboa, 22<br />
Out. 1957. - 1 postal: il.; 9 x 14 cm<br />
Postal ilustrado: imagem com legenda manuscrita por Aquilino Ribeiro<br />
“Casa de Romarigães, Trecho da Capela”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[120]<br />
O rapaz da camisola verde / Pedro Homem de Mello. - Porto: Saber, 1954.<br />
– 102, [2] p.; 19 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1954)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[121]<br />
Estudos sobre a cultura portuguesa do século XIX / Joaquim de Carvalho.<br />
– Coimbra: Universidade Coimbra, 1955. – Vol.; 22 cm. – (Acta<br />
Universitatis Conimbrigensis)<br />
Vol. I: Antheriana. - 321 p.<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Jul. 1955)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
93
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
94<br />
CAT 12<br />
CAT 23 CAT 23 CAT 32 CAT 32<br />
CAT 38 CAT 38 CAT 48 CAT 49
CAT 51 CAT 53 CAT 71 CAT 71<br />
95<br />
CAT 75 CAT 75 CAT 76 CAT 76<br />
CAT 114 CAT 114 CAT 117 CAT 117<br />
CAT 120 CAT 120 CAT 167 CAT 172
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
96<br />
[122]<br />
O guardador de automóveis / João Apolinário. – Porto: Autor, 1956.<br />
– 25 p.; 18 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida. – Capa e gravura<br />
de Gastão Seixas<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[123]<br />
A obra de José Régio: ensaio crítico seguido de um Inquérito ao autor<br />
criticado / Óscar Lopes. – Porto: [s.n.],1956. – 23 p.; 26 cm. - Separata da<br />
“Lusíada”, v. 3, nº 9<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (8 Mai.1957)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[124]<br />
Voz nua: líricas / Fausto José. - Braga: [s. n.], 1957. - 105 p.; 19 cm. –<br />
(Quatro ventos; 12)<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Douro, Aldeia<br />
do Lima, Abr. 1958)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[125]<br />
O tema da morte na moderna poesia portuguesa / Urbano Tavares<br />
Rodrigues<br />
In: Separata da revista “Graal”. - Nº 4 (1957), p. 3 -14<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[126]<br />
O vagabundo decepado: poema / Egito Gonçalves. – Porto: Notícias do<br />
Bloqueio, 1957. – 5 p.; 18 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Dez. 1957)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[127]<br />
Um fidalgo de pernas curtas: novela infantil / Ilse Losa. – Porto: Edições<br />
Marânus, 1958. – 98 p.; 20 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Dez.1957). –<br />
Desenhos Júlio Resende<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[128]<br />
Passaporte: poemas / Natália Correia. – Lisboa: [s. n.], 1958. – 60 p.;<br />
20 cm.<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (15 Jun. 1958)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[129]<br />
Filhas de Babilónia: novelas / Aquilino Ribeiro. – Lisboa: Livraria Bertrand,<br />
1959. – 343, [1], p.; 20 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa, 1959)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[130]<br />
O crime de aldeia velha: peça em 3 actos / Bernardo Santareno. – Lisboa:<br />
Edições Ática, 1959. – 242 p.; 20 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (1960)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[131]<br />
Espelho de três faces: romance / Joaquim Paço D’ Arcos. - 3ª ed. – Lisboa:<br />
Guimarães Editores, (1959). - 455, [3] p.; 20 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida (Lisboa,<br />
Dez.1959)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[132]<br />
A invenção do amor e outros poemas / Daniel Filipe. – Lisboa: Sagitário,<br />
[1961]. – 65 p.; 19 cm.<br />
Com dedicatória a António Ramos de Almeida (Jan. 1961). - Capa Pilo<br />
da Silva<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[133]<br />
Dr. Ramos de Almeida: o seu falecimento<br />
In: [s.n.]. – [24. Mar.1961]<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[134]<br />
Dr. Ramos de Almeida: o seu funeral<br />
In: [s.n.]. – [24. Mar.1961]<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[135]<br />
O funeral do escritor António Ramos de Almeida constitui uma grande<br />
manifestação de pesar<br />
In: [s.n.]. – [25. Mar.1961], p. 3<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[136]<br />
[Telegrama de Condolências] / Grupo de Estudos Brasileiros, Amândio<br />
Marques. – Porto, 25<br />
Mar.1961 – 1 Telegrama l: 15 x 21,2 cm<br />
Telegrama de condolências do Grupo de Estudos Brasileiros<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[137]<br />
[Telegrama de Condolências] / Joaquim Paço D’ Arcos. – Porto, 24<br />
Mar.1961. – 1 Telegrama: 15 x 21,2 cm<br />
Telegrama de condolências de Joaquim Paço D’ Arcos e Maria da Graça<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[138]<br />
António Ramos de Almeida / Ferreira de Castro. – [s.l.: s.d.]. – 2 fl.; :<br />
texto dat;. 26,5 x 20,5 cm<br />
Um texto de Ferreira de Castro, intitulado “António Ramos de Almeida”,<br />
escrito por ocasião da morte de A. Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[139]<br />
Levamos a conhecimento de Vª Exª, que a trasladação dos restos mortais<br />
do nosso querido e saudoso amigo… / Comissão Pró Mausoléu “Ramos de<br />
Almeida”. – Vila do Conde, 23 Abr. 1694. – 2 Cartões + envelope: orig. dat.:<br />
14 x 10 cm<br />
Convite para a cerimónia de trasladação dos restos mortais de António<br />
Ramos de Almeida, dirigido à esposa, D. Lina Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[140]<br />
Minhas senhoras e meus senhores: perante a morada fúnebre de Ramos de<br />
Almeida / Nuno Teixeira Neves. - Vila do Conde, 10 Jun. 1964. - Texto:<br />
orig. dat. c/ emend. ms: 6 fl.; 27, 5 x 21<br />
Versão integral do texto, tal como foi lido em 10 do Junho de 1964 no<br />
Cemitério de Vila do Conde<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[141]<br />
Homenagem à memória do escritor António Ramos de Almeida<br />
In: Jornal de Noticias. - (11 Jun.1964)<br />
Cópia de artigo sobre a trasladação dos restos mortais de António Ramos de<br />
Almeida para Mausoléu em Vila do Conde<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[142]<br />
Homenagem a António Ramos de Almeida<br />
In: Vértice. – Nº 248-249, (Mai. - Jun.1949)<br />
Texto original datilografado da notícia publicada na Vértice nº 248-249. -<br />
Refere que o próximo Numero da “Vértice” será dedicado parcialmente a<br />
António Ramos de Almeida<br />
MNR Espólio Vértice<br />
[143]<br />
Para uma antologia de pensamento republicano / Ramos de Almeida<br />
In: Vértice. – Vol. XXIV, nº 250-251 ( Jul. - Ago. 1964), p.397-411<br />
Contém: Três poemas por Ramos de Almeida, p. 402-404.- Uma figura<br />
viva entre os homens por Nuno Teixeira Neves, p. 405-409. – Saudação
Catalogação<br />
a Ramos de Almeida por José Régio, p. 410,411. - Número 250-251<br />
( Julho-Agosto. 1964) de Vértice consagrado parcialmente a António<br />
Ramos de Almeida, com textos de José Régio e Nuno Teixeira Neves bem<br />
como um ensaio, sobre Bernardino Machado, e poemas de A. Ramos de<br />
Almeida<br />
MNR PP 1<br />
[144]<br />
Em Vila do Conde: prestada homenagem póstuma a dois ilustres<br />
democratas<br />
In: JN. - (5 Mai. 1977)<br />
Homenagem a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[145]<br />
António Ramos de Almeida: que os novos saibam / Celso Pontes<br />
In: Renovação: semanário. – A. XL, nº 1818 (Abr. 1977), p. 1, 2<br />
Semanário de Vila do Conde que refere que “ a partir de 25 do corrente o nome<br />
de António Ramos de Almeida figura na toponímia desta nossa terra”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[146]<br />
Saudade, Justiça e Amor: à memória do grande escritor que foi António<br />
Ramos de Almeida / Pedro Homem de Melo. – Porto, 24 Jun. 1979. –<br />
Carta + envelope: orig. ms: 1 fl.; 27 x 21 cm<br />
Carta dirigida a viúva e filhas de António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[147]<br />
Conferida a ordem de liberdade ao Dr. António Ramos de Almeida / Celso<br />
Pontes<br />
In: Jornal de Vila do Conde. – (21 Mar. 1985), última página<br />
O Presidente da República Grão-mestre das Ordens Portuguesas confere ao<br />
Dr. António Ramos de Almeida a título póstumo o grau de Comendador<br />
da Ordem da Liberdade<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[148]<br />
O cume estético-teórico de 1940: à memória de António Ramos de<br />
Almeida / Fernando Alvarenga<br />
In: JN: supl. cultura. – (8 Out. 1985), p.12<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[149]<br />
À Ex.ª Vereação da Câmara Municipal de Olinda- Pernambuco /<br />
Assembleia da República, Mário Soares. - Lisboa, 23 Jun. 1983. - carta : ms:<br />
2 fl.; 29 x 20,5 cm<br />
Carta manuscrita pelo 1º Ministro Mário Soares em nome do Governo<br />
Português agradecendo a distinção de “lembrar a memória de um grande<br />
português […] António Ramos de Almeida”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[150]<br />
Dona Lina / Paulo. - Recife, 10 de Mai.1983. – Carta: dat.: 1 fl.; 20,8 X 14,7 cm<br />
Carta enviada à esposa Maria Idalina Fernandes de Carvalho, refere a<br />
apresentação do projeto que irá dar a uma avenida em Olinda, Pernambuco<br />
o nome de António Ramos de Almeida. - No verso tem colada a resposta do<br />
Prefeito José Arnaldo do Amaral<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[151]<br />
António Ramos de Almeida «tem» avenida no Brasil<br />
In: JN. – (17 Jun. 1983)<br />
“Desde o passado dia 6 e Maio que um das principais avenidas da cidade de<br />
Olinda, em Pernambuco, no Brasil, passou a ter o nome do Dr. António<br />
Ramos de Almeida”<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[152]<br />
António Ramos de Almeida dá o nome a uma avenida na Pernambucana<br />
Olinda onde nasceu há 71 anos<br />
In: JN. – (28 Jun. 1983)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[153]<br />
Intervenção do Deputado António Macedo em 24 de Outubro de 1983<br />
/ Assembleia da República Grupo Parlamentar do Partido Socialista. –<br />
Pernambuco, 24 Out.1983. – texto: dat: 9 fl.; 27,8 x 20,4 cm<br />
Intervenção que refere a cerimónia que oficializará o cumprimento do<br />
projeto lei da Câmara Municipal, em cujo artigo 1ª se consigna que “ fica<br />
denominada escritor Ramos de Almeida a atual Avenida da Integração,<br />
localizada no Bairro do Jardim Atlântico”, Olinda, Pernambuco<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[154]<br />
Lina. Boa amiga / Lino Ferreira. – Olinda, 21 Out. 1983. - Carta: ms: 1fl.;<br />
28,9 x 20,4 cm<br />
Carta enviada à esposa, Maria Idalina Fernandes de Carvalho, acompanha<br />
manuscrito de discurso (6 fl.), que o autor pretende apresentar na<br />
Assembleia da República, sobre placa toponímica de António Ramos de<br />
Almeida.<br />
[155]<br />
Olinda recebe hoje portugueses para homenagear escritor<br />
In: Diário de Pernambuco. – (27 Out. 1983)<br />
Homenagem a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[156]<br />
[Sessão solene da homenagem a Ramos de Almeida em Olinda-<br />
Pernambuco]. - Olinda, 27 Out. 1983. – 1 Foto: color; 13,1 x 20,2 cm<br />
Sessão solene, Dr. Manuel de Almeida, presidente da Câmara Municipal de<br />
Vila do Conde, lê mensagens enviadas à mesa pela inauguração da placa<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[157]<br />
Olinda recorda figura de Ramos de Almeida<br />
In: Diário de Pernambuco. – Secção B (7 Nov. 1983), p 1<br />
Homenagem a António Ramos de Almeida. – Artigo que contém<br />
fotografia de Ramos de Almeida (à esquerda) ao lado de Lins do Rego e<br />
Alberto de Serpa, numa foto dos anos 50.<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[Fotografia de Ramos de Almeida (à esquerda) ao lado de Lins do Rego<br />
e Alberto de Serpa, numa foto dos anos 50]. – V. F. Xira: MNR, 2013. -<br />
Reprod. ampl.: pxb<br />
Reprodução de fotografia. - In: Diário de Pernambuco. – Secção B (7 Nov.<br />
1983), p 1<br />
[158]<br />
Maquiavel e outros estudos / Jorge de Sena. – Porto: Livraria paisagem,<br />
1974. – 217, [3] p.; 20 cm. – (Paisagem; 10)<br />
Prémio António Ramos de Almeida da feira do livro 1975, atribuído a Jorge<br />
de Sena.<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[159]<br />
Almanaque de lembranças Luso-Brasileiro / Alberto de Serpa. – 1ª ed. -<br />
Lisboa: Inquérito,1952. – 111 p.; 19 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida.- Desenho<br />
António Vaz Pereira<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[160]<br />
Novo almanaque de lembranças Luso-Brasileiro / Alberto de Serpa,<br />
Campos de Figueiredo, Carlos Drummond de Andrade, Francisco Costa,<br />
José Régio, Manuel Bandeira, Pedro Homem de Mello, Ribeiro Couto. –<br />
Porto: [s.n.],1954. – 29 p.;19 cm<br />
Com dedicatória do autor a António Ramos de Almeida<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[161]<br />
A arte e a vida: para esclarecimento e compreensão da literatura<br />
moderna portuguesa e da estéril polémica arte pura e arte<br />
social / António Ramos de Almeida. - Porto: Livraria Joaquim<br />
Maria Costa, 1941. - 40, [3] p.; 19 cm. - (Cadernos Azuis ; 2)<br />
MNR ALM/ENS/2525<br />
97
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
98<br />
[162]<br />
Antero de Quental: infância e juventude / António Ramos de Almeida.<br />
- Porto: Livraria Latina (1943). -2 vol.; 19 cm. - (Cadernos Azuis. Os<br />
homens e as ideias ; 5-6) 1º Vol.: 1943. - 62 p. 2º Vol.: 1943. - 67, [3] p. 1º<br />
vol.contém dedicatória do autor a Álvaro Salema<br />
MNR ALM/ENS/2513<br />
[163]<br />
Antero de Quental: apogeu decadência e morte / António<br />
Ramos de Almeida. - Porto: Livraria Latina, (1944). - 124,<br />
[3], p.; 19 cm. - (Cadernos Azuis. Os homens e as ideias; 9-10)<br />
MNR ALM/ENS/2515<br />
[164]<br />
A nova descoberta do Brasil / António Ramos de Almeida.<br />
- Porto: Editorial Fenianos,1944. - 58 p.;19 cm. - (Editorial Fenianos; 1)<br />
Conferência lida em 3 de Maio de 1944, no salão nobre do Clube<br />
Fenianos Portuenses. - Com dedicatória do autor a Álvaro Salema<br />
MNR ALM/ENS/2524<br />
[165]<br />
Sêde: poema / António Ramos de Almeida; il. António Sampaio.<br />
- Porto: Livraria Latina, 1944. - 30, [1] p.; 22 cm<br />
MNR ALM/POE/1772<br />
[166]<br />
Eça / António Ramos de Almeida. - Porto: Livraria Latina, 1945. - 402,<br />
[1] p.; 20 cm<br />
Comemorações do Centenário do Nascimento de Eça de Queirós<br />
MNR ALM/ENS/748<br />
[167]<br />
Vulcão: poemas / António (Ramos) de Almeida. - Lisboa: [s.n.], 1956.<br />
- 62 p.; 19 cm<br />
MNR ALM/POE/2597<br />
[168]<br />
O pensamento ativo de Bernardino Machado / António Ramos<br />
de Almeida. - Porto: Brasília Editora, 1974. - 254 p.; 19 cm<br />
Comemorações do 5 de Outubro, homenagem nacional a Bernardino<br />
Machado<br />
Biblioteca particular Santos Silva<br />
MNR ALM/ENS/5599<br />
[169]<br />
[Desenho a tinta da china] / [s.n.]. – [s.l.: s.d.]. – 1 Desenho: tinta da china<br />
s/ papel; 35,2 x 32 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[170]<br />
[Diploma de condecoração] Le grand Maistre des Anysetiers du Roy<br />
nomme ce jour Dr. António Ramos de Almeida, Jornalista, au grade du<br />
Mestre / Commanderie de l’ Orde des Anysetiers du Roy. – Sénéchal: [s.<br />
d.]. – 1 Diploma: il. color; 35 x 47 colado em cartolina 62 x 48,6 cm<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[171]<br />
[Dr. António Ramos de Almeida]. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod.<br />
ampl.: p&b<br />
Reprodução de fotografia de António Ramos de Almeida. – In: Cadernos<br />
de cultura: suplemento do jornal de Vila do Conde. – Nº 297 (18 Jul.<br />
1985)<br />
Col. Mª Antónia Ramos de Almeida<br />
[172]<br />
Sinal de alarme: poemas / António Ramos de Almeida. – V. F. Xira: MNR,<br />
2013. - Reprod. ampl.: color<br />
Reprodução da capa do livro de “Sinal de alarme: poemas”, [s.l.: s.n.], (1938):<br />
(Coimbra, Tip. Atlântida)<br />
Imagem retirada do site da Livraria Ferreira<br />
Modo de acesso: http://www.livrariaferreira.pt/5813/<br />
SINAL+<strong>DE</strong>+ALARME<br />
[173]<br />
Exmº Senhor: conferência cultural/ António Manuel, Chefe de Posto.<br />
- V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod. ampl.; 1 relatório extraordinário:<br />
color<br />
Reprodução de imagem cedida pelo ANTT. – Relatório datado de 22<br />
Mar. 1946, sobre a Conferência levada a cabo no salão do Bombeiros<br />
Voluntários, comemorativa do centenário de Eça de Queiroz. – O<br />
nome de António Ramos de Almeida é referido como sendo um dos<br />
organizadores da Conferência “ Embora com o rótulo de cultural a<br />
verdade é que foi uma reunião de todos os elementos desafectos à actual<br />
situação politica”<br />
Arquivo Nacional Torre do Tombo<br />
PT-TT-PI<strong>DE</strong>-DGS-<strong>DE</strong>L-P-PI-10800-NT-3623<br />
[174]<br />
[Informação sobre a participação de Antonio Ramos de Almeida na<br />
Comissão de Imprensa e Propaganda (Porto) para a candidatura do<br />
General Humberto Delgado]. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod.<br />
ampl.; 1 informação: color<br />
Reprodução de imagem cedida pelo ANTT. – Informação sobre a<br />
participação de Antonio Ramos de Almeida como fazendo parte da<br />
Comissão de Imprensa e Propaganda para a candidatura do General<br />
Humberto Delgado, à Presidência da República nas eleições de 1958<br />
Arquivo Nacional Torre do Tombo<br />
PT-TT-PI<strong>DE</strong>-DGS-<strong>DE</strong>L-P-PI-10800-NT-3623<br />
[175]<br />
[Informação sobre o facto de Antonio Ramos de Almeida estar<br />
presente à chegada do General Humberto Delgado ao aeroporto de<br />
Pedras Rubras, Porto, 1958]. - V. F. Xira: MNR, 2013. – Reprod.<br />
ampl.; 1 informação: color<br />
Reprodução de imagem cedida pelo ANTT. – Informação que refere<br />
que Antonio Ramos de Almeida esperou a chegada do General<br />
Humberto Delgado ao aeroporto de Pedras Rubras, quando este se<br />
dirigia de Lisboa para o Porto em viagem de propaganda eleitoral, para<br />
as eleições de 1958<br />
Arquivo Nacional Torre do Tombo<br />
PT-TT-PI<strong>DE</strong>-DGS-<strong>DE</strong>L-P-PI-10800-NT-3623<br />
[176]<br />
[Fotografia de António Ramos de Almeida, Porto, 1952]. – V. F. Xira:<br />
MNR, 2013. - Reprod. ampl.: p&b<br />
Col. Ana Maria Ramos de Almeida
Índice<br />
5<br />
António Ramos de Almeida: convicção e coerência de um humanista<br />
Maria da Luz Rosinha<br />
Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira<br />
7<br />
No centenário do nascimento de António Ramos de Almeida<br />
David Santos<br />
coordenador do museu do neo-realismo<br />
9<br />
A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
António Pedro Pita<br />
curador da exposição<br />
25<br />
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina: contextos e dinâmicas<br />
Maria do Rosário Ramada Pinho Barbosa<br />
67<br />
António Ramos de Almeida e o Brasil<br />
Valéria Paiva<br />
77<br />
Referências Biográficas<br />
85<br />
Bibliografia Ativa<br />
87<br />
Catalogação
Relembrar António Ramos de Almeida, no âmbito do<br />
centenário do seu nascimento, é o propósito principal desta<br />
exposição, que pretende também possibilitar uma interpretação<br />
da obra e sinalizar um percurso.<br />
Sob o título A vida e a arte de António Ramos de Almeida, a<br />
exposição detém-se nos modos pelos quais este português de<br />
Olinda, com apaixonado vínculo brasileiro, se tornou figura central<br />
no conhecimento, entre nós, sobretudo da ficção dita regionalista;<br />
documenta a sua participação ativa (poemas, artigos doutrinários<br />
e um primeiro balanço crítico na conferência A arte e a vida, 1941),<br />
em Coimbra, na viragem cultural neorrealista desde os primeiros<br />
anos 30 e mostra como essa inspiração inicial se transforma<br />
num olhar e numa atitude, que serão o critério da impressionante<br />
atividade cívica e cultural, em que as demarcações necessárias (e as<br />
respetivas intransigências) se entrelaçam com uma larga visão que<br />
torna a cultura espaço de encontro de subjetividades contraditórias<br />
mas não incompatíveis.<br />
Precocemente falecido, os sinais de uma apaixonada existência<br />
no mundo permanecem.<br />
António Pedro Pita<br />
organização:<br />
patrocínio:<br />
apoios: