A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida 24 António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas Maria do Rosário Ramada Pinho Barbosa
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas Maria do Rosário Ramada Pinho Barbosa 1 Este texto não se limita a recensear as obras de António Ramos de Almeida, publicadas pela Livraria Latina Editora, porquanto nos fornece circunstanciadas informações sobre os contextos editoriais em que elas surgiram e as dinâmicas sociais, culturais e políticas em que elas se desenvolveram. Quais os mecanismos de conceção e produção dessas obras? Qual o seu impacto no tecido social? Que processos de comercialização e circulação foram desenhados? De que modo se repercutiram na imprensa? Estas são algumas das questões de que nos ocupamos neste estudo. Para além do elenco das obras de António Ramos de Almeida, elemento básico e de todos conhecido, acrescentamos e apresentamos um corpus documental – pertencente ao espólio de Henrique Perdigão, fundador da Latina – constituído por recortes de publicações periódicas, livros de registo de assinantes e de ofertas, manuscritos, alguns deles autógrafos, e datiloscritos de e para o autor ou a ele, direta ou indiretamente, associados, que nos permite interpretar a atividade da Livraria Latina Editora como mediador cultural no tecido social, histórico e cultural na década de 40 do século XX. 25 Henrique Perdigão e a Livraria Latina Editora Chamava-se Henrique Perdigão. Pelo que foi e pela sua ação, no campo da cultura, trazemos à memória a figura deste autodidata, persistente e empreendedor, que marcou uma época nos setores livreiro e editorial em Portugal. Este homem de letras, nascido na cidade do Porto em 1888 e emigrado ainda criança para o Brasil, legou-nos uma obra de inegável valor. Cedo manifestou um acentuado gosto pelos livros, pela leitura, pela escrita, pela literatura e pela lusofonia pelo que, em 1934, após duas décadas de trabalho, viu publicada a primeira edição do Dicionário universal de literatura: bio-bibliográfico e cronológico 2 , obra louvada pela Academia das Sciências de Lisboa e pela Academia Brasileira de Letras. Esgotado o título, deu à estampa, em 1940, uma segunda edição ampliada e ilustrada 3 . Sócio da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Henrique Perdigão foi colaborador assíduo da Imprensa, designadamente do Diário do Porto entre 1926 e 1927, do Século em 1928, 1 Professora na Escola Superior de Educação / Politécnico do Porto; investigadora no Centro de Investigação e Inovação em Educação (InED); doutoranda em Estudos Contemporâneos no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra. 2 PERDIGÃO, Henrique – Dicionário universal de literatura: bio-bibliográfico e cronológico. Barcelos: Portucalense, 1934. 3 PERDIGÃO, Henrique – Dicionário universal de literatura: bio-bibliográfico e cronológico. 2.ª ed. rev. Porto: Edições Lopes da Silva, 1940.