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A VIDA E A ARTE DE ANTÓNIO RAMOS DE ALMEID A - Câmara ...

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António Ramos de Almeida e o Brasil | valéria paiva<br />

não era mais necessária, quando a “novidade” brasileira já havia sido incorporada<br />

aos novos romances portugueses e um crítico do porte de Mário Dionísio podia<br />

mesmo se reportar ao seu excesso de sentimentalismo, Ramos de Almeida seguiria<br />

escrevendo e, mais importante do que isso, pondo ênfase sobre o seu significado,<br />

para o Brasil e face ao mundo 21 . Tanto no contexto de sua receção em Portugal, quer<br />

dizer, no período da gênese do neorrealismo como movimento cultural, quanto nas<br />

décadas seguintes, vale a pena destacar, pois, que a “moderna literatura brasileira” não<br />

deixaria de ser para António Ramos de Almeida uma referência constante.<br />

Uma análise mais aprofundada de seu pensamento requereria, certamente,<br />

considerar as críticas que publicou ao longo dos anos 1950 no Suplemento Literário<br />

do Jornal de Notícias do Porto, assim como a rede de sociabilidade que sempre o ligaria,<br />

direta ou indiretamente, ao Brasil. As conferências que foram posteriormente reunidas<br />

no livro Para a compreensão da cultura no Brasil, por exemplo, ou foram prefaciadas<br />

por cônsules brasileiros, ou pronunciadas em sua presença. Merece destaque, nesse<br />

sentido, a correspondência, encontrada no espólio de Ramos de Almeida, referente a<br />

um “Clube” – assim, entre aspas – de cidadãos luso-brasileiros do Porto e ao Porto<br />

como capital natural do Luso-brasilianismo. Merece destaque, também, sua amizade<br />

com Renato de Mendonça que, além de cônsul, foi um estudioso da influência africana<br />

no português do Brasil e um divulgador da cultura brasileira no meio universitário<br />

estrangeiro.<br />

Nessa altura, contudo, em que a arte parece se encontrar com a vida, talvez não<br />

seja de todo mal, para terminar, voltar ao início, à descoberta primeira e “ingênua” do<br />

Brasil, à infância passada no Recife, evocada e reencontrada, muitos anos mais tarde,<br />

nos versos de Manuel Bandeira:<br />

Recife<br />

Não a Veneza americana<br />

Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais<br />

Não o Recife dos Mascates<br />

Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois –<br />

Recife das revoluções libertárias<br />

Mas o Recife sem história nem literatura<br />

Recife sem mais nada<br />

Recife da minha infância 22<br />

75<br />

21 Mário Dionísio se referiria ao caráter descritivo-sentimentalista da literatura brasileira muitos anos mais tarde, ao comentar<br />

a chegada da nova literatura estadunidense em Portugal no início dos anos 1940 e sua “influência” tanto sobre a composição<br />

de O Dia Cinzento, quanto com o que ocorreria daí em diante com o neorrealismo. Cf. Dionísio, M. Autobiografia. Lisboa:<br />

Edições “O Jornal”, 1987, p. 34.<br />

22 Bandeira, Manuel apud Almeida, A. R. Para a Compreensão da Cultura no Brasil, opus cit., p. 15.

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