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A VIDA E A ARTE DE ANTÓNIO RAMOS DE ALMEID A - Câmara ...

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A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

74<br />

Mas seriam superadas em parte. A poesia abolicionista de Castro Alves<br />

constituiria “o melhor da poesia social e revolucionária que se escreveu na língua<br />

portuguesa” 19 . Entretanto, apesar de sua obra avançar em direção a uma representação<br />

mais realista da natureza e do amor, tampouco ele deixaria de ser, na defesa da causa<br />

abolicionista, um idealista, impulsionado “por certa megalomania doentia e ridícula,<br />

comum nos poetas românticos” 20 . Para utilizar uma expressão alheia ao pensamento<br />

de António Ramos de Almeida: Castro Alves havia sido um gênio, sim, mas, como<br />

qualquer escritor, estava inevitavelmente limitado pela “consciência possível” de sua<br />

própria época. Assim mesmo, a enorme importância atribuída à poesia abolicionista<br />

de Castro Alves chama a atenção se consideramos que, para Ramos de Almeida, o<br />

aprofundamento na realidade social que ela havia representado somente encontraria<br />

paralelo n´Os Sertões, de Euclides da Cunha, já no século XX. No processo de<br />

conquista da expressão brasileira, Machado de Assis, considerado até então como o<br />

maior romancista do Brasil, mas conhecido por defender uma arte desvinculada da<br />

política mereceria de António Ramos de Almeida apenas uma brevíssima referência<br />

de não mais de duas linhas.<br />

Ao longo deste texto procuramos lançar luz sobre a relação entre António<br />

Ramos de Almeida e o Brasil através do que ele pensou e escreveu sobre a literatura<br />

brasileira. Assumimos o neorrealismo como ponto inicial porque foi com a emergência<br />

desse movimento – e como parte integrante dele – que António Ramos iniciaria<br />

sua atividade crítica e poética, e porque é muito difícil pensar a receção da literatura<br />

brasileira em Portugal nos anos 1930 sem nos referirmos à importância a ela atribuída<br />

pelos jovens escritores que conformaram esse movimento. Na medida em que, ao<br />

final, ambas as coisas se entrelaçam, destacamos da sua produção como crítico, nesse<br />

período, dois artigos publicados na revista Sol Nascente – sobre Jorge Amado, Amando<br />

Fontes e José Lins do Rêgo.<br />

A presença de José Lins do Rêgo, lado a lado com aqueles que seriam considerados<br />

– por Joaquim Namorado – como autores paradigmáticos do romance social brasileiro<br />

deixava entrever que o interesse de António Ramos de Almeida pelo Brasil não se<br />

restringia ao contexto polêmico em que seus artigos foram publicados, nem tampouco<br />

à tentativa de definir, nesse contexto, um modelo do que deveriam ser os romances<br />

neorrealistas, ou neorromânticos. Desde essa época, importava-lhe também entender<br />

as razões próprias ao desenvolvimento social que tornaram possível a emergência no<br />

Brasil, antes mesmo que em Portugal, de um romance capaz de exprimir os dramas da<br />

sua época, assim como lhe importaria, mais tarde, entender o significado desse romance<br />

para a história literária brasileira pensada como uma totalidade.<br />

As conferências proferidas ao longo dos anos 1940 são, nesse sentido,<br />

significativas. Quando o neorrealismo português já havia dado – tanto na poesia quanto<br />

na prosa – algumas de suas importantes obras e a referência à literatura brasileira<br />

19 Almeida, António Ramos de Almeida, Para a Compreensão da Cultura no Brasil, opus cit., p. 147.<br />

20 Idem, ibidem, p. 148.

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