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A VIDA E A ARTE DE ANTÓNIO RAMOS DE ALMEID A - Câmara ...

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A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />

72<br />

sido especialmente significativos – como o Indianismo e o Modernismo – tanto por suas<br />

contribuições concretas no que dizia respeito à linguagem, quanto por levar ao limite as<br />

contradições entre a expressão e seu conteúdo, permitindo sua posterior superação.<br />

“A Conquista da Expressão Brasileira”, de 1948, dá, pois, um passo além de<br />

“A Nova Descoberta do Brasil”, de 1944, ao assumir uma chave de leitura dialética<br />

da história e da literatura brasileiras. Em 1944, por exemplo, o Modernismo é<br />

interpretado como um movimento essencialmente aristocrático que, munido de um<br />

espírito destruidor, havia preparado o terreno para o advento de 1930. E se Ramos<br />

de Almeida não parecia totalmente convencido de que o havia feito no que dizia<br />

respeito à política, quer dizer, à Revolução de 1930, não parecia ter dúvidas sobre<br />

sua importância para o surgimento de uma literatura de caráter social. Assinala-se,<br />

no entanto, que em relação à natureza do movimento, assim como às suas consequências,<br />

essas conclusões remetem diretamente à conferência de Mário de Andrade, “O Movimento<br />

Modernista”, proferida, de fato, muito pouco tempo antes, em 1942. Mesmo as expressões<br />

que Ramos de Almeida utilizava aí – “espírito destruidor”, “preparar terreno”, “advento<br />

de 1930” – eram retiradas do texto de Mário 13 .<br />

Já em 1948, ao falar sobre “A Conquista da Expressão Brasileira” de uma<br />

perspetiva histórica e, como queremos crer, dialética, o depoimento de Mário de<br />

Andrade é matizado e a interpretação de Ramos de Almeida ganha um novo sentido.<br />

Por um lado, o modernismo brasileiro apareceria então, para ele, como refém do<br />

paradoxo de ter uma base social aristocrática e, ao mesmo tempo, sustentar uma<br />

ideologia nativista. O melhor exemplo desse paradoxo havia sido a pretensão de se<br />

inventar uma língua do Brasil, como se, tal como a opção por versos livres, uma<br />

língua pudesse surgir por pura deliberação, como se uma língua fosse, ao final,<br />

meramente uma questão de forma. Por outro lado, um novo elemento é incorporado<br />

à análise, servindo como contraponto ao movimento modernista. Trata-se da tradição<br />

intelectual que, remontando ao início do século, se consolidaria definitivamente nos<br />

anos 1930 com as obras de Gilberto Freire, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque<br />

de Holanda, entre muitos outros, e que se tornaria posteriormente conhecida como<br />

ensaísmo sociológico.<br />

Para António Ramos de Almeida, enquanto os modernistas se ocuparam de<br />

destruir as fórmulas convencionais que, na literatura e na arte, não encontravam<br />

qualquer raiz na realidade – sem, contudo, construir nada de novo a partir dessa<br />

destruição –, os intelectuais mais progressivos do país haviam se lançado a uma<br />

pesquisa exaustiva dos fatores materiais e ideológicos que, no presente e no passado,<br />

condicionaram sua história e conformaram “[...] a ascensão do povo brasileiro através<br />

das diferentes escalas da sua própria libertação” 14 . O romance de 30 não era mais, pois,<br />

uma consequência mais ou menos “natural” do Modernismo, mas a síntese entre dois<br />

momentos que, por sua vez, ele superaria: “Esse duplo condicionalismo: destruição<br />

13 Cf. Andrade, Mário de. Aspectos da Literatura Brasileira. São Paulo: L. Martins Editora, 5ª Ed, 1974, p. 231-255.<br />

14 Almeida, António Ramos de. Para a Compreensão da Cultura do Brasil, opus cit., p. 155.

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