A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida 60 Revista Latina (capa e nota de abertura para o n.º1, com lançamento previsto para 15 de abril de 1944).
António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa “[...] uma revista mensal, de caracter literário e artístico, colaborada pelos nossos melhores valores actuais, e feita em papel de optima qualidade, enfim, revista que virá sem dúvida trazer ás Letras – e só ás Letras, pois tudo o que não diga respeito á política do espírito será dela inexoravelmente banido – qualquer coisa de novo, de belo e de util. Tem essa revista o nome de «Latina» e foi fundada já ha perto de 14 anos, mas há muito tinha a sua publicação suspensa, saindo apenas um número de ano a ano para garantia de título. Só em papel para ela estão empatados já mais de 30 contos, pois como V. Exa. compreende sendo o papel, hoje, a nossa maior dificuldade, temos de nos prevenir para largo tempo, por quanto as tradições que a n/ Casa já alcançou não permitem que se crie uma revista para desaparecer passados 2 ou 3 números. Não vimos com ela – é preciso frisar – criar fonte de receita para a n/ Casa; muito pelo contrário, vimos é trazer-lhe um encargo não pequeno, pois que a receita de modo nenhum cobre a despeza, mesmo que vendida seja a tiragem. Só uma pequena publicidade que naturalmente iremos fazer – mas discreta, porque não queremos uma revista de anúncios – irá, hipoteticamente, fazer contrabalançar essas despezas. Tambem não vimos, ao contrário do que possam pensar, fazer da Revista um órgão de interesse da n/ Casa. Vimos, sim, é pô-la ao serviço geral das Letras, de todos os n/ colegas, do público, enfim, mantendo o fôgo sagrado da cultura do Espírito, que é o nosso fim principal. Ora ao contrário do que V. Exa. possa supor, eu não venho, a despeito do que dito fica, pedir qualquer auxílio material para a nova revista – auxílio que, aliás, não seria imerecido. Ouso vir é pedir a valiosa interferência de V. Exa. perante o digno Director desse Secretariado, ou de quem mais possa no caso influir, para que as licenças que se pediram á Censura no sentido de ser autorizada a saida da revista, sejam concedidas sem entraves. Quem pede essas licenças é o próprio proprietário da revista (é o seu nome J. Pereira) pois ele não nos quís vender o título, que lhe propusemos comprar, para que a publicação fosse só nossa. Assim e segundo o contracto que temos, a revista passará a ser da nossa direcção e administração exclusivas, mas dele a propriedade. Claro que nos não agrada nada esta situação, mas nós só a aceitamos pela dificuldade que sabemos que há de darem autorização para se fundarem revistas novas. Ora é sobre este ponto que venho, principalmente, valer-me de V. Exa: Dado o carácter que á revista vamos imprimir e á garantia que estamos dispostos a dar, como e quando nos seja exigida, não seria possível obter-se licença para publicarmos uma revista NOVA, desse género, que seria, então, só nossa e de todos os que ainda teem fé de que o Espírito não morre? É a esse respeito que desejava ouvir V. Exa., crente como estou, de que o assunto não poderá deixar de interessar o seu culto espírito, como também suponho que não deixará de interessar o Secretariado, que a iniciativas destas não costuma ficar indiferente” 48 . 61 48 Carta remetida por Henrique Perdigão a José Alvelos, em 6 de março de 1944.