A VIDA E A ARTE DE ANTÃNIO RAMOS DE ALMEID A - Câmara ...
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A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
54<br />
Ramos de Almeida alinha com Gaspar Simões quando afirma que Eça escreveu<br />
quase todo o «Mistério da Estrada de Sintra». Simões gasta umas páginas com deduções<br />
para tornar sólido o seu modo de ver.<br />
Ramos de Almeida não apresenta razões, limita-se a afirmar.<br />
Parece-me que a opinião não é pacífica e não ficou, ainda, suficientemente<br />
esclarecida. É, também, muito discutível e discutido qual será o melhor romance de<br />
Eça. Ramos de Almeida com Oliveira Martins e Fialho inclina-se, abertamente, para<br />
«O Crime do Padre Amaro». É uma opinião.<br />
Ainda, há bem pouco tempo, Régio e Gaspar Simões discutiram, indirectamente<br />
é certo, nas páginas de «O Primeiro de Janeiro», o assunto. Gaspar Simões escreveu,<br />
então, um magnífico artigo sôbre «Os Maias». Por um lado (não interessa, eu bem sei!)<br />
prefiro «Os Maias».<br />
Onde Ramos de Almeida se me afigurou extraordinàriamente feliz foi na<br />
apreciação de «A Relíquia».<br />
Tem, mesmo, um momento de rara penetração quando aborda a presumível<br />
incoerência do sonho do Raposão.<br />
Quase todos os biógrafos e estudiosos de Eça dão razão, neste ponto, à crítica<br />
de Pinheiro Chagas. Ramos de Almeida vê o problema hàbilmente e talvez seja<br />
interpretação a considerar.<br />
A pulhice de Raposão era uma «estratégia» que o meio beato e a necessidade de<br />
não o hostilizar, lhe impunham. E assim, conclui o autor, «se o sonho do Raposão está em<br />
contrário ao Raposão é porque para Eça êle era realmente o contrário daquilo que o meio beato o<br />
fizera ser» [...]” 40 .<br />
Brotéria<br />
“Nos dois livros anteriores de Fidelino de Figueiredo e Vieira de Almeida, leva-se<br />
a bem o diletantismo desprendido de Eça de Queiroz e a sua ausência de conclusão. As<br />
opressões do pensamento só vinham da extrema direita. Da outra banda, nada a temer<br />
para a inteligência. O primeiro daqueles críticos chegava a insistir na falsidade histórica<br />
da obra queirozeana, mas sem lhe ligar importância de maior. Se tudo se passava no<br />
campo meramente artístico, e o artista não tem de prestar contas daquilo que diz...<br />
Outros vieram, porém, que acreditam nas próprias ideias e tiram conclusões das<br />
dos outros. Entre esses, está o livro de Ramos de Almeida. Todo êle intrìnsecamente<br />
animado da ideologia comunista, um mérito pelo menos apresenta a nossos olhos:<br />
o da coerência com o sistema, e o da crença na influência da arte na vida.<br />
40 MOURISCA, Vasco de Lemos – Movimento literário. Beira Vouga. Albergaria-a-Velha, ano 5, n.º 33 (20 de fevereiro de<br />
1946) p. 4. Suplemento ASA.