A VIDA E A ARTE DE ANTÃNIO RAMOS DE ALMEID A - Câmara ...
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António Ramos de Almeida e a Livraria Latina Editora: contextos e dinâmicas | maria do rosário ramada pinho barbosa<br />
“[...] uma revista mensal, de caracter literário e artístico, colaborada pelos<br />
nossos melhores valores actuais, e feita em papel de optima qualidade, enfim, revista<br />
que virá sem dúvida trazer ás Letras – e só ás Letras, pois tudo o que não diga respeito<br />
á política do espírito será dela inexoravelmente banido – qualquer coisa de novo,<br />
de belo e de util. Tem essa revista o nome de «Latina» e foi fundada já ha perto de<br />
14 anos, mas há muito tinha a sua publicação suspensa, saindo apenas um número<br />
de ano a ano para garantia de título. Só em papel para ela estão empatados já mais<br />
de 30 contos, pois como V. Exa. compreende sendo o papel, hoje, a nossa maior<br />
dificuldade, temos de nos prevenir para largo tempo, por quanto as tradições que a<br />
n/ Casa já alcançou não permitem que se crie uma revista para desaparecer passados<br />
2 ou 3 números. Não vimos com ela – é preciso frisar – criar fonte de receita para a n/<br />
Casa; muito pelo contrário, vimos é trazer-lhe um encargo não pequeno, pois que a<br />
receita de modo nenhum cobre a despeza, mesmo que vendida seja a tiragem. Só uma<br />
pequena publicidade que naturalmente iremos fazer – mas discreta, porque não<br />
queremos uma revista de anúncios – irá, hipoteticamente, fazer contrabalançar<br />
essas despezas. Tambem não vimos, ao contrário do que possam pensar, fazer da<br />
Revista um órgão de interesse da n/ Casa. Vimos, sim, é pô-la ao serviço geral<br />
das Letras, de todos os n/ colegas, do público, enfim, mantendo o fôgo sagrado<br />
da cultura do Espírito, que é o nosso fim principal.<br />
Ora ao contrário do que V. Exa. possa supor, eu não venho, a despeito do<br />
que dito fica, pedir qualquer auxílio material para a nova revista – auxílio que, aliás,<br />
não seria imerecido. Ouso vir é pedir a valiosa interferência de V. Exa. perante o<br />
digno Director desse Secretariado, ou de quem mais possa no caso influir, para que as<br />
licenças que se pediram á Censura no sentido de ser autorizada a saida da revista, sejam<br />
concedidas sem entraves. Quem pede essas licenças é o próprio proprietário da revista<br />
(é o seu nome J. Pereira) pois ele não nos quís vender o título, que lhe propusemos<br />
comprar, para que a publicação fosse só nossa. Assim e segundo o contracto que<br />
temos, a revista passará a ser da nossa direcção e administração exclusivas, mas dele<br />
a propriedade. Claro que nos não agrada nada esta situação, mas nós só a aceitamos<br />
pela dificuldade que sabemos que há de darem autorização para se fundarem revistas<br />
novas. Ora é sobre este ponto que venho, principalmente, valer-me de V. Exa: Dado o<br />
carácter que á revista vamos imprimir e á garantia que estamos dispostos a dar, como<br />
e quando nos seja exigida, não seria possível obter-se licença para publicarmos uma<br />
revista NOVA, desse género, que seria, então, só nossa e de todos os que ainda teem<br />
fé de que o Espírito não morre? É a esse respeito que desejava ouvir V. Exa., crente<br />
como estou, de que o assunto não poderá deixar de interessar o seu culto espírito,<br />
como também suponho que não deixará de interessar o Secretariado, que a iniciativas<br />
destas não costuma ficar indiferente” 48 .<br />
61<br />
48 Carta remetida por Henrique Perdigão a José Alvelos, em 6 de março de 1944.