A VIDA E A ARTE DE ANTÃNIO RAMOS DE ALMEID A - Câmara ...
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A Vida e a Arte de António Ramos de Almeida<br />
18<br />
A fundação do “Suplemento Literário” do «Jornal de Notícias» especializa<br />
essa intervenção. O cronista não desaparece, a atenção ao quotidiano mantém-se,<br />
mas António Ramos de Almeida abre uma outra frente: alargar a possibilidade de<br />
encontro do público com a literatura. O diagnóstico é instigante: “nunca a Literatura<br />
em Portugal tomou a projeção popular de hoje em dia. As homenagens prestadas o<br />
ano passado aos Poetas Teixeira de Pascoaes e João de Barros, o alvoroço que causou<br />
a recente visita de Jaime Cortesão, a Mensagem que os leitores e admiradores de<br />
Ferreira de Castro lhe vão enviar pela passagem do 25º aniversário da publicação dos<br />
«Emigrantes», provam o apreço, mais, a gratidão e a estima cordiais dos portugueses<br />
pelos valores mais representativos da sua Literatura [...]” 29 .<br />
O número crescente de suplementos literários em diários de Lisboa e do<br />
Porto – a inexistência de estudos impede o alargamento da geografia – é um aspeto<br />
dessa projeção popular porque “não há processo mais eficaz, mais relevante, mais<br />
consequente de levar a Literatura, no complexo de todos os seus problemas e valores,<br />
às grandes massas leitoras”.<br />
Essa ainda inexistente história dos suplementos literários é um obstáculo<br />
a que a iniciativa de António Ramos de Almeida ganhe escala e contexto. Mas há<br />
alguns traços gerais que são, mesmo assim, permitidos: o “Suplemento” consagrou<br />
minuciosa atenção ao que podemos considerar a vida cultural nortenha ou portuense<br />
mas não no registo neutro da informação, antes concebendo-se como acelerador da<br />
atenção. Não será excessivo tomar de empréstimo a Antonio Gramsci a noção de<br />
“organizador coletivo” e imaginá-la como tema, imperativo ou legenda da instituição<br />
de um “campo literário” consistente e duradouro.<br />
Além disso, o “Suplemento Literário” do «JN» torna-se um ponto de encontro<br />
de consagrados e estreantes, além de contar quinzenalmente com o Rodapé de crítica<br />
literária e de alguns saborosíssimos Perfis indiscretos do próprio António Ramos de<br />
Almeida.<br />
Nestas páginas fluentes, normalmente breves, amiúde retrospetivas ou memoriais,<br />
António Ramos de Almeida está na posse de uma maturidade compreensiva, sempre<br />
mais interessada na ótica cultural da integração do que na iniciativa vanguardista da<br />
rutura.<br />
No mesmo sentido embora menos conhecida e a requerer uma aturada<br />
pesquisa autónoma é a iniciativa da Sociedade Editora Norte. A sua constituição em<br />
1942 obriga a situá-la na constelação editorial que o campo neorrealista está a definir<br />
desde o início da década: Novo Cancioneiro (1941) e Novos Prosadores (1943) mas<br />
também os Cadernos Azuis e, de certo modo, a Biblioteca Cosmos de Bento de Jesus<br />
Caraça (1941).<br />
29 António Ramos de Almeida, “A vez da literatura” in Jornal de Notícias / Suplemento Literário, nº 1, 22. fevereiro.1953.