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Odin TeaTreT e POrTO alegre

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PRIMEIRO<br />

SEMESTRE<br />

2012<br />

CADERNO DE TEATRO<br />

CADERNO DE TEATRO<br />

PRIMEIRO<br />

SEMESTRE<br />

2012<br />

38<br />

8 Estiveram em Porto Alegre: Eugenio Barba, Roberta Carreri, Julia Varley, Iben Nagel Rasmussen, Elena Flores, Jan Ferslev, Kai<br />

Bredholt, Tage Larsen, Augusto Omolú, Donald Kitt, Fausto Pro e Anne Savage, a tour manager do grupo.<br />

39<br />

algumas atividades: Julia Varley apresenta uma<br />

muito valoradas e outras decepcionan-<br />

mo teatral, se perdeu aqui. E a sensação,<br />

e aí o Eugenio está aqui e eles não pergun-<br />

nova demonstração de trabalho, O Tapete Voador,<br />

tes. No meu caso, Barba me comoveu<br />

às vezes, é de o que fazer, como fazer. Aí,<br />

tam, não falam, não trocam?<br />

e Barba conduz a palestra “Princípios da Antropo-<br />

profundamente. Para mim, ele se revelou<br />

quando esse homem chega aqui, relatan-<br />

Talvez fosse timidez deles mesmos por<br />

logia Teatral”, ao mesmo tempo que apresenta a<br />

naquilo que há de mais valioso, na sua<br />

do essa experiência de uma forma mais<br />

estarem diante de alguém que eles tam-<br />

nova edição de seu livro A Canoa de Papel: Trata-<br />

humanidade. Ele alcançou a simplicidade,<br />

clara, eu acho que isso desperta outros<br />

bém consideravam um mito, mais do que<br />

do de Antropologia Teatral.<br />

a sabedoria.<br />

horizontes. Esse é o meu ponto de vista<br />

a falta de interesse ou curiosidade. Isso é<br />

Nair D’Agostini está presente nesses encon-<br />

sobre o impacto que o <strong>Odin</strong> teve dentro<br />

extremamente incoerente, já que usam a<br />

tros. No relato abaixo, ela nos conta sua impres-<br />

Alexandre Vargas também traz algumas<br />

da cidade. Outro, sem dúvida, é a presen-<br />

antropologia teatral, o discurso do Euge-<br />

são sobre as diferenças que encontrou em Barba<br />

reflexões próximas às de Nair com relação às<br />

ça física dele e um monte de jovens que<br />

nio, da Julia, da Roberta. E num momento<br />

e Julia Varley e, também, sobre a diferença do<br />

mudanças nas atitudes de Barba, causadas, em<br />

está na plateia vendo-o falar. Há um con-<br />

em que você pode estar ali presencialmen-<br />

impacto causado pela presença dos dois artistas<br />

sua opinião, pelo amadurecimento e pelo saber<br />

traste entre o que o Eugenio fala e o que<br />

te com eles, você não troca? Então, o uso<br />

em Porto Alegre, sempre comparando os anos de<br />

acumulado na experiência do grupo. Ele também<br />

o jovem está idealizando através de um<br />

da antropologia, o uso da teoria, é muitas<br />

1995 e 2010.<br />

nos fala do impacto causado pelo <strong>Odin</strong> nos jovens<br />

livro ou do que chegou a ele através de<br />

vezes uma bengala. Isso gera uma segu-<br />

e nos professores presentes, ao se defrontarem<br />

um professor que não teve uma aproxi-<br />

rança nesses professores, uma segurança<br />

É bem difícil falar dessas diferenças, so-<br />

com um grupo de tamanha importância no cená-<br />

mação tão direta com o Eugenio ou com<br />

teórica, mas que distorce uma prática.<br />

bretudo em Julia. No que diz respeito à<br />

qualidade técnica, ela apresentou maior<br />

nível e me pareceu que, metodológica<br />

e pedagogicamente, está mais madura,<br />

generosa e segura em sua apresentação.<br />

Em Barba, senti mais abertura, uma<br />

disponibilidade integradora e generosa.<br />

Impressionou-me em Barba, nesta ocasião,<br />

a transparência, o despojamento e,<br />

porque não dizer, a humildade com que<br />

generosamente falou de sua arte, de seu<br />

grupo e de sua vida. Parecia que já não<br />

possuía mais pretensões, mas só queria<br />

estar ali para uma missão: compartilhar<br />

um saber ao qual dedicou uma vida.<br />

Com certeza, a recepção do público de<br />

1995 e de 2010 foi muito diferente, pois<br />

hoje o <strong>Odin</strong> e o Barba já não são mais<br />

“desconhecidos” da classe teatral, e isso<br />

rio internacional do teatro. Ele analisa:<br />

Foi um impacto monstruoso, porque o<br />

Eugenio vem com toda essa mudança<br />

de vida, mas uma pessoa ainda bastante<br />

convicta no que faz. Só que chega entregando<br />

sua fala de outra maneira. Então<br />

a recepção também foi muito diferente.<br />

Me impressionou demais e acho que impressionou<br />

muita gente também a sua<br />

transparência em revelar coisas que geralmente<br />

não são reveladas. Por exemplo,<br />

dizer que somos um grupo de indivíduos,<br />

de individualistas. Isso é muito forte, porque<br />

tem uma luta muito grande para se<br />

construir grupos de teatro no Brasil. (...)<br />

Existe um arco de convivência muito<br />

grande entre o <strong>Odin</strong> e o Eugenio, 48 anos<br />

trabalhando juntos. E quando ele volta<br />

o trabalho do <strong>Odin</strong>.<br />

Às vezes, os jovens têm no Eugenio e no<br />

<strong>Odin</strong> a imagem de um mito, e isso contrasta<br />

com o modo tão simples em que<br />

eles se colocam. Mas a construção desse<br />

mito também pode ser um argumento<br />

forte de um professor, pode ser a segurança<br />

de um professor que distorce uma prática.<br />

Então, foi comum, eu recebi alguns<br />

relatos de alunos que se diziam surpresos<br />

com aquilo que viam e ouviam, comparando<br />

com o que tinham aprendido com<br />

algum professor. E esse atrito era muito<br />

importante. Em 2010, havia muitos estudantes<br />

seguindo, sempre há. A classe artística<br />

também participou bastante: indo,<br />

assistindo. Sempre me impressiona a falta<br />

de perguntas. (...) Eu fico pensando, puxa,<br />

esses professores falam tanto, usam tanto,<br />

2012: Chegada de todos os<br />

integrantes do <strong>Odin</strong> Teatret<br />

a Porto Alegre<br />

Desta vez, o intervalo de tempo é breve: em vez<br />

de 15, só dois anos. A pequena turnê de 2010 deixa<br />

aquele gostinho de quero mais, e o Sesc/RS<br />

consegue novamente criar as condições – sempre<br />

através de Jane Schöninger e do Festival Palco Giratório<br />

– para trazer, agora, todos os artistas do<br />

<strong>Odin</strong> Teatret [8] para Porto Alegre.<br />

Foi um grande esforço, mas os resultados<br />

provam que valeu a pena, basta lembrar os teatros<br />

lotados durante as várias apresentações do<br />

<strong>Odin</strong> em Porto Alegre. Uma plateia marcada pela<br />

mistura de gerações: desde os velhos seguidores<br />

do <strong>Odin</strong> até centenas de jovens estudantes e teatrantes<br />

que encontram o grupo pessoalmente<br />

pela primeira vez.<br />

faz uma grande diferença na recepção.<br />

pra cá, com esse hiato de tempo de 15<br />

Os novos que o viam pela primeira vez<br />

anos, a gente vê nele uma pessoa mais<br />

tiveram, penso eu, o contato com um<br />

velha, mais conhecedora do que está fa-<br />

ícone, quase um Deus, pois estudam suas<br />

zendo e sem tantas barreiras para falar,<br />

teorias, trabalham na prática a partir de<br />

sem tantos muros. A simplicidade chega<br />

seus princípios (acredito que a maioria<br />

de uma forma mais direta, a clareza de<br />

das escolas teatrais conhece as teorias e<br />

que o que ele faz é um ofício, que tem<br />

práticas do <strong>Odin</strong>), e isso gera muitas ex-<br />

que trabalhar. A história chega menos ro-<br />

pectativas. Para os que já o conheciam,<br />

mântica em um momento que é oportu-<br />

acredito que também deve produzir sen-<br />

no que chegue menos romântica. Porque<br />

timentos e impressões diversas, umas<br />

o romantismo da existência, o romantis-

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