Trabalho Ainda no Perfil da Juventude/2004, foi observado que, na escala de valores e de expectativas referentes às “melhores coisas de ser jovem”, os itens diretamente associados a “poder trabalhar” e “obter independência financeira” corresponderam a menos de 20% do total. Ou seja, apenas um entre cinco entrevistados associou espontaneamente esse tipo de valor às melhores coisas de ser jovem. Os demais identificaram as “coisas boas” com atividades não relacionadas ao trabalho e à independência financeira e revelaram aspectos quase opostos a trabalho e renda quando aludiram a “não ter preocupações/responsabilidades” e a “aproveitar a vida/viver com alegria” como o melhor de ser jovem. Quando indagados sobre “as piores coisas de ser jovem”, o tema trabalho-renda corroborou a ideia anterior: apenas um em cada cinco jovens citou a preocupação com a ausência de trabalho e renda, alegando como preocupações mais importantes aspectos relacionados à liberdade e aos riscos sociais. É interessante perceber na pesquisa que, quando os jovens foram convidados a elencar por ordem de importância até três problemas que mais os preocupavam, o binômio trabalho e renda não prevaleceu nas respostas. Há uma aparente distorção entre as expectativas e as preocupações declaradas pelos jovens, pois mesmo aqueles que não estavam procurando ocupação ou emprego revelaram ansiedade em relação a essas questões. É possível concluir, portanto, que a visão de futuro que os jovens trazem consigo é demarcada por dificuldades, e não, necessariamente, uma demanda transposta automaticamente. O jovem que vê como problema a necessidade de encontrar um emprego ou uma atividade profissional não está declarando que a melhor forma de eliminar essa preocupação é a imediata obtenção de um emprego. Essa preocupação foi manifestada com mais intensidade na faixa entre 20 e 24 anos (51%). De qualquer maneira, os desafios quanto à inserção no trabalho são consideráveis, pois 64% dos jovens estão fora do mercado profissional, seja por opção, seja por falta de oportunidade. Vivência dos jovens no mundo do trabalho 32% 8% 36% 24% Está trabalhando Nunca trabalhou nem procura trabalho Nunca trabalhou mas está procurando trabalho Já trabalhou e está desempregado Fonte: pesquisa Instituto Cidadania -perfil da juventude/2004 A maioria dos jovens que trabalha ou já trabalhou (68%) tem ou teve um emprego sem registro, confirmando a situação de subemprego a que muitos estão sujeitos. Isso aponta para uma reflexão quanto à qualidade da educação disponível, que não vem sendo suficiente para desenvolver competências e habilidades mais complexas e próprias da competitividade do mercado de trabalho, deixando a oferta concentrada em contextos de trabalho pouco estruturados – além, evidentemente, de refletir o alto nível de informalidade do universo empresarial brasileiro. Ainda são restritas as oportunidades para os jovens no mercado de trabalho, e dados da PNAD revelam que 35,6% dos brasileiros de 18 a 24 anos estavam desempregados em 2007. De cada duas pessoas da população economicamente ativa (PEA) que estão desempregadas, uma tem menos de 24 anos de idade. Dos jovens que estão empregados, 43% têm carteira assinada, o que indica uma razoável formalização dos postos de trabalho, na comparação com os dados de 2006. Contudo, é importante destacar que uma ampla parcela de jovens na faixa de 18 a 24 anos (56%) ainda se encontra em ocupações nem sempre estruturadas, sem carteira assinada, em trabalho doméstico, voluntário, sem remuneração ou por conta própria. Posição na ocupação dos jovens de 18 a 24 anos 44% 10% 1% 9% 2% 28% Empregado com carteira assinada Empregado sem carteira assinada Trabalhador doméstico com/sem carteira assinada Trabalhador de produção para o próprio consumo e uso Trabalhador por conta própria Empregador Trabalhador não remunerado Fonte: PNAD/2007 A renda precária, as condições de trabalho inadequadas e pouco projetivas e a formação e a qualificação educacional comprometidas revelam e reforçam a necessidade de políticas públicas capazes de fortalecer os projetos profissionais de jovens. O incentivo ao empreendedorismo se destaca, portanto, como alternativa relevante. A crença de que o mercado pode resolver sozinho, o problema do desemprego juvenil é falsa. Também é falsa a noção de que basta a qualificação para tornar o jovem competitivo. Sem mistificar o negócio próprio como solução exclusiva para o desemprego juvenil, a criação de formas de associativismos de jovens como estratégia coletiva de geração de renda e de acesso ao mundo do trabalho e da produção representa, sem dúvida, uma alternativa de organização e proatividade nessa faixa etária. A disseminação da cultura empreendedora se torna cada vez mais relevante, na tentativa de ampliar a possibilidade de obtenção de habilidades técnicas específicas desenvolvidas em outros contextos de educação formal e profissionalizante. 6% 10
<strong>EMPREENDEDORISMO</strong> <strong>JUVENIL</strong> Uma das alternativas de geração de renda para os jovens é o apoio à abertura de pequenos negócios. Estimular o empreendedorismo significa potencializar as alternativas de inserção dos jovens no universo do trabalho. Com a cultura empreendedora incorporada as suas buscas, o jovem terá mais condições de identificar e realizar seus projetos profissionais, educacionais e sociais. 11