Sensores Magnetorresistivos - DEMAR - USP
Sensores Magnetorresistivos - DEMAR - USP
Sensores Magnetorresistivos - DEMAR - USP
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
<strong>Sensores</strong> <strong>Magnetorresistivos</strong><br />
Davi Rossi<br />
José Olimpio Rios Junior<br />
Lorena<br />
2010<br />
Eletrônica e Instrumentação
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Os dias atuais com as grandes modificações, e tecnologias cada vez mais<br />
aprofundadas, físicos e cientistas das mais variadas formas, discutem formas de<br />
melhorar a qualidade de vida das pessoas, seja essa melhoria com bens de uso<br />
próprio, até tecnologias voltadas para uso profissional, diante deste fato,<br />
tecnologias com alto valor agregado tem ganhado grande impulso, tais<br />
tecnologias como de software, computação gráfica, sensores de computadores e<br />
inseridos nesse campo, estão os sensores magnetorresistivos.<br />
Estudos sobre fenômenos magnéticos advêm desde o século 19, contudo<br />
nas três ultimas décadas do século 20 teve um grande impulso, qual seja, o<br />
armazenamento de informações em computadores, que é feita em diferentes<br />
áreas de magnetização no hard disk (HD), as informações são gravadas através<br />
de binários (1 e 0), certas direções de magnetização correspondem ao binário<br />
zero e outras correspondem ao binário 1. Para acessar a informação, o leitor<br />
escaneia o HD e registra os diferentes campos magnéticos. Este ficando menor<br />
torna a área magnética menor também, com isso o campo magnético de cada<br />
byte se torna fraco e mais difícil de ser lido, isto requer um melhor leitor, neste<br />
contexto pesquisas de Fert e Grünberg revolucionaram o modo de<br />
armazenamento de dados, conferindo a eles o prêmio Nobel, através da<br />
descoberta do Magnetorresistência Gigante (GMR), trazendo maior facilidade e<br />
comodidade as pessoas, hoje em dia a tecnologia dos sensores já está bem<br />
avançada tendo dado um passo maior que é a Magnetorresistência Colossal<br />
(CMR).<br />
Eletrônica e Instrumentação<br />
2
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
2. DESENVOLVIMENTO<br />
Os sensores magnetorresistivos comuns são fabricados depositando-se uma<br />
fina camada de liga metálica (Permalloy) numa base isolante. Quando um campo<br />
magnético atua sobre esse material, os domínios magnéticos mudam de posição<br />
fazendo com que a resistência elétrica mude de valor.<br />
A mudança é muito pequena da ordem de 2% a 3%, mas o suficiente para<br />
poder ser detectada por um circuito eletrônico apropriado. O fenômeno físico<br />
que explica o funcionamento desses sensores está nas propriedades dos metais<br />
que tem uma orientação de sua magnetização dependente dos elétrons de suas<br />
ultimas camadas.Estes sensores magnetorresistivos foram precursores dos Giant<br />
Magneto-Resistence e dos Colossal Magneto – Resistence.<br />
Com a necessidade de tecnologias mais sensíveis, o (GMR) e o (CMR)<br />
ganhou espaço, por trabalhar em escala nanométrica. Utiliza-se a nanotecnologia<br />
para produção de finas camadas de metal, essas nanocamadas interferem no<br />
material, dando novas propriedades ao material, essas camadas não afetam<br />
somente as propriedades magnéticas e de condutividade elétrica, mas também as<br />
propriedades mecânicas, químicas e ópticas do material.<br />
2.1. Física dos sensores magnetorresitivos<br />
Os sensores <strong>Magnetorresistivos</strong> são formados por sistemas magnéticos<br />
nanoscópicos, estes são compostos por sólidos granulares que podem conter<br />
mais de uma fase magnética de diferentes tipos de matérias, os grãos estão no<br />
limite superparamagnético, que diz respeito ao tempo de relaxação do momento<br />
3<br />
Eletrônica e Instrumentação
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
magnético resultante, estas partículas podem ser produzidas por diversos<br />
métodos, tais como deposição por vapor, “sputtering” ou bombardeamento e<br />
“melt spinnig” [2].<br />
A natureza das interações magnéticas entre os grãos determina o<br />
comportamento macroscópico do sistema, sendo este estudado através da função<br />
magnetização M e da Susceptibilidade magnética X a um campo de indução H.<br />
2.2. Superparamagnetismo<br />
Vamos considerar as propriedades magnéticas de um sistema de partículas<br />
não interagentes com uma larga distribuição de tamanhos e formas, e com eixos<br />
de fácil magnetização distribuídos aleatoriamente. È suposto no<br />
superparamagnetismo que o momento magnético atômico no interior das<br />
partículas se movam coerentemente, o momento magnético total é representado<br />
por um vetor clássico de magnitude µ=µ at *N , onde µ at é o momento magnético<br />
atômico e o N é o número de átomos magnéticos na partícula.<br />
De maneira simples, a direção do momento magnético é determinada por<br />
uma anisotropia uniaxial de origem magnetocristalina, ou magnetoelástica. O<br />
tempo de relaxação , é essencialmente o tempo para reverter o momento<br />
magnético de um estado de equilíbrio ao outro.<br />
Considerando agora uma única partícula com anisotropia uniaxial, a energia<br />
potencial E terá dois mínimos, na direção do eixo de fácil magnetização. Assim<br />
o momento magnético tem duas posições equivalentes do ponto de vista<br />
energético, mas para passar de uma região a outra é preciso ultrapassar uma<br />
4<br />
Eletrônica e Instrumentação
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
barreira de energia potencial de altura KV. A energia potencial pode ser escrita<br />
como,[4].<br />
E = KVsin 2 (Equação 1)<br />
K é a densidade de energia de anisotropia, V é o volume da partícula e é o<br />
ângulo entre o vetor momento magnético e o eixo de fácil magnetização.<br />
Os saltos de um mínimo ao outro, em altas temperaturas são termicamente<br />
ativados, com freqüência de saltos dado por,<br />
ν = τ -1 0 exp(-KV/K n T) (Equação 2)<br />
O tempo entre dois saltos é dado por:<br />
τ = τ 0 exp(KV/K B T) (Equação 3)<br />
O fator τ 0 pode ser determinado experimentalmente ou calculado através de<br />
modelos teóricos. O valor numérico de τ 0 está compreendido entre 10 -9 e 10 -10<br />
segundos. Então se diz que uma partícula e superparamagnetica se, em uma dada<br />
temperatura seu tempo de relaxação for menor que o tempo necessário para<br />
realizar a medida. Se o tempo necessário para realizar a medida for maior que o<br />
tempo de relaxação o momento magnético parece estar completamente livre pois<br />
sofre diversas reversões durante a medida.<br />
Matematicamente se K B T>>E, equivale a altas temperaturas ou pequenos<br />
volumes, τ tende a ser muito menor que o tempo característico de uma medida, e<br />
a partícula se encontra em um estado superparamagnético. Por outro lado se<br />
K B T
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
È possível encontrar o volume critico V crit de uma partícula a uma<br />
temperatura T , aproximando a equação(3) por uma serie de Taylor obtemos<br />
quando K B T>>E .<br />
ln τ = ln τ 0 + (KV crit /K B T b + ….) (Equação 5)<br />
Que implica em:<br />
T b = KV 0 /25K B (Equação 6)<br />
A temperatura de bloqueio é diretamente proporcional ao volume da<br />
particula e constante de anisotropia. Partículas maiores serão<br />
superparamagnéticas em temperaturas mais elevadas.<br />
2.3. Resistência e magnetização<br />
Num condutor metálico, a eletricidade é transportada por meio do<br />
movimento livre dos elétrons no material, a corrente é conduzida porque os<br />
elétrons caminham numa direção específica, quanto maior este direcionamento,<br />
melhor a condutância do material, o caminho livre dos elétrons é impedido<br />
quando há impurezas e irregularidades, fazendo com que aumente a resistência<br />
elétrica, por impedir que elétrons sigam seu caminho normal, portanto quanto<br />
maior o espalhamento, maior a resistência elétrica do material.<br />
Eletrônica e Instrumentação<br />
6
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
Figura 1 - Espalhamento dos elétrons<br />
No material magnético o espalhamento dos elétrons é influenciado pela<br />
direção de magnetização. Quando há uma grande ligação entre magnetização e<br />
resistência surge então o giant magnetor resistance por causa da rotação<br />
intrínseca do elétron induzida pelo momento magnético, a propriedade mecânica<br />
quântica chamada spin, que é direcionada em uma ou duas direções opostas. Em<br />
materiais magnéticos, a maioria dos spins aponta na mesma direção(em<br />
paralelo). Um pequeno número de spins, entretanto, sempre apontam na direção<br />
oposta, antiparalela da magnetização total. Este desequilíbrio aumenta, não<br />
somente com a magnetização, mas também que elétrons com diferentes spins são<br />
espalhados em menor ou maior grau, contra as irregularidades e impurezas, e<br />
principalmente entre interfaces dos materiais, as propriedades do material vão<br />
determinar qual tipo spin será mais espalhado.<br />
Eletrônica e Instrumentação<br />
7
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
Figura 2 - Orientação dos elétrons dentro de um condutor magnético;spin paralelo a magnetização em<br />
vermelho(maioria), e minoria em branco em sentido antiparalelo.<br />
2.4. “Giant magnetoresistance” (GMR)<br />
Um exemplo simples do tipo de sistema onde o Giant Magneto resistor ou<br />
Magnetorresistência Gigante pode surgir é descrito: este consiste em uma<br />
camada de metal não magnético entre duas camadas de metal magnético. Dentro<br />
do material magnético, e especialmente na interface entre material magnético e<br />
não magnético, os elétrons com diferentes spins são espalhados. Consideremos o<br />
caso onde os elétrons são mais espalhados se o spin for antiparalelo à direção de<br />
magnetização. Isto implica que a resistência vai ser maior para estes elétrons que<br />
para os outros que tem spin paralelo à direção de magnetização. Quando os<br />
elétrons estão próximos à um material não magnético, são todos espalhados<br />
independente da direção do spin, para a segunda interface e dentro da ultima<br />
camada do material magnético, elétrons com spin antiparalelo serão novamente<br />
mais espalhados que os elétrons com spin paralelos.<br />
8<br />
Eletrônica e Instrumentação
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
No caso onde ambas camadas magnéticas são magnetizadas na mesma<br />
direção, a maioria dos elétrons terão spin paralelo e se moverão facilmente<br />
através da estrutura. A resistência total vai abaixar devido a isto (caso A na<br />
figura abaixo). Entretanto, se a magnetização das duas camadas forem opostas,<br />
todos elétrons estarão em um estado de spin antiparalelo em uma das duas<br />
camadas. Isto significa que nenhum elétron conseguirá se mover através do<br />
sistema, e a resistência total será alta (caso B na figura abaixo). Agora, imagine<br />
o uso desta estrutura em leitor de hard disk (HD): a magnetização da camada um<br />
é presa, enquanto a magnetização da camada três é livre para movimentar-se e<br />
pode ser influenciado na variação do campo magnético no hard disk. A<br />
magnetização das duas camadas magnéticas no leitor irá então ser<br />
alternadamente paralelas e antiparalelas. Isto vai levar a variação da resistência e<br />
da corrente através do leitor. Se a corrente é o sinal deixado no leitor, corrente<br />
alta significa binário um e corrente baixa binária zero.<br />
Figura 3 - Mesma direção de magnetização para todas as camadas.<br />
Eletrônica e Instrumentação<br />
9
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
Figura 4 - Direções opostas para as camadas magnéticas condutoras.<br />
2.5. GMR tornou-se referência<br />
Em meados dos anos 80 cientistas da área de magnetismo, perceberam<br />
novas possibilidades oferecidas por camadas nanométrica. Albert Fert e seus<br />
colaboradores criaram uma intercalação entre camadas de ferro-cromo-ferro,<br />
compostas de pouca quantidade de átomos cada, para ocorrência do evento<br />
foram forçados a trabalhar perto do vácuo e de usar baixas pressões de gases. E<br />
nesta configuração, os átomos irão gradualmente se anexando na superfície<br />
formando assim uma camada nanométrica. De maneira similar o grupo de Peter<br />
Grünberg forma um sistema simples composto por somente duas ou 3 camadas<br />
de ferro e crômio, fazendo uma intercalação de camadas. Por ter usado diferentes<br />
combinações de camadas, Fert registrou uma maior resistência magnética que<br />
Grünberg. O grupo francês viu a dependência da magnetização mudando a<br />
resistência para mais de 50%, enquanto o grupo alemão viu somente uma<br />
Eletrônica e Instrumentação<br />
10
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
diferença de apenas 10% de diferença na resistência. O efeito básico e a física<br />
por trás disso de certa forma são idênticos nos dois casos. Ambos os grupos<br />
notaram que haviam observado um fenômeno totalmente novo. Com a<br />
resistência magnética tradicional ninguém tinha registrado mais do que 1% de<br />
mudança na resistência. Albert Fert foi um dos que estabeleceram um novo<br />
conceito de Giant Magneto Resistance para descrever o novo efeito, e na sua<br />
primeira publicação ele apontou formas dela ser aplicada. Peter Grünberg<br />
também notou o potencial prático do fenômeno e patenteou ao mesmo tempo em<br />
que escrevia sua publicação.<br />
Para essa nova tecnologia ser comercializada, entretanto foi necessário<br />
um processo industrial para criação das camadas. O método usado por ambos<br />
(conhecido como epitaxy), foi trabalhoso e custoso, melhor adaptação para<br />
pesquisas de laboratório do que para processos em larga escala. Por causa disto,<br />
foi um importante passo quando Stuart Parkin, trabalhando nos EUA,<br />
demonstrou que era possível alcançar o mesmo efeito usando uma tecnologia<br />
bem mais simples chamada (sputtering). O efeito GMR atualmente não depende<br />
de camadas perfeitas. Isto significa que sistemas GMR podem agora ser<br />
produzido em uma escala industrial. O processo industrial combinado com a boa<br />
sensibilidade do leitor resultou em uma nova tecnologia tornando-se referência<br />
nos discos rígidos tão logo o primeiro leitor comercial produzido em 1997.<br />
2.6. Magnetorresistência Colossal<br />
Um fenômeno mais intenso de MR pode ser observado nos óxidos de metais<br />
de transição. A família de compostos mais estudada se baseia na fórmula<br />
11<br />
Eletrônica e Instrumentação
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
A1xBxMnO3,onde A é um íon de terra-rara com valência 3+ (como La, Pr, Nd,<br />
etc) e B é um íon de um metal alcalino com valência 2+ (como Ca, Sr, Ba).<br />
Devido à substituição parcial da terra-rara por um elemento alcalino, coexistem e<br />
interagem fortemente dois tipos de íons de Mn: Mn3+ (fração 1-x) e Mn4+<br />
(fração x).<br />
A Fig. 5 mostra as características essenciais das curvas de magnetização e de<br />
resistividade em função da temperatura para o composto La0:7Ca0:3MnO3 [2].<br />
A curva de magnetização mostra uma transição de um estado paramagnético<br />
a temperaturas altas para um estado ferromagnético a temperaturas baixas. O<br />
gráfico de resistividade apresenta em altas temperaturas uma diminuição da<br />
resistividade com o aumento da temperatura.<br />
Este tipo de comportamento é típico de materiais semicondutores. A baixas<br />
temperaturas a resistividade cresce com o aumento da temperatura como nos<br />
metais.<br />
A transição entre os comportamentos semicondutor e metálico se produz na<br />
mesma faixa de temperaturas da transição paramagnética-ferromagnética.<br />
Quando se aplica um campo magnético diminui a resistividade,<br />
especialmente na faixa próxima da temperatura de transição. É está sensibilidade<br />
da resistividade do material a presença de um campo magnético externo que<br />
provoca o efeito conhecido como magnetorresistência colossal (do inglês<br />
Colossal Magnetoresistance,CMR).<br />
Os primeiros resultados, publicados em 1950 por G. H. Jonker e J. H. Van<br />
Santer, foram praticamente ignorados até 1993, quando outros pesquisadores<br />
Eletrônica e Instrumentação<br />
12
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
reportaram mudanças na resistividade elétrica com ordens de magnitude maiores<br />
que aquelas observadas no caso dos materiais com GMR [3]; [4].<br />
Figura 5. Caracteristicas das curvas de magnetização e de resistividade elétrica<br />
em função da temperatura para o composto La0:7Ca0:3MnO3. Há uma transição<br />
paramagnética-ferromagnética na curva de magnetização, e na mesma faixa de<br />
temperaturas, uma mudança de comportamento semicondutor a metálico na<br />
curva de resistividade elétrica. A aplicação de um campo magnético diminui a<br />
resistividade elétrica, especialmente na região de transição.<br />
A interpretação dos fenômenos relacionados ao efeito de CMR ainda não<br />
está completamente estabelecida, embora acredita-se sejam similares aos de<br />
13<br />
Eletrônica e Instrumentação
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
GMR, agora em escalas atômicas. Assim no fenômeno de GMR, a função de<br />
onda eletrônica, responsável por transportar a informação do alinhamento<br />
magnético preferencial, tem penetração de dezenas de nanômetros (10 nm) de<br />
uma camada a outra. Já nos materiais que apresentam CMR, os fenômenos se<br />
dão em escala atômica ou seja, na ordem de 0.1 nm.<br />
O mecanismo de interação entre os spins nos CMR é de troca indireta, ou<br />
seja, os elétrons de condução do material se movem de um átomo de manganês a<br />
outro através dos átomos de oxigênio. Estes elétrons de condução interagem<br />
fortemente com os momentos magnéticos dos átomos de manganês. Este tipo de<br />
transporte eletrônico é facilitado quando os momentos magnéticos do manganês<br />
estão alinhados paralelamente aos dos elétrons de condução. Contudo, como os<br />
momentos dos átomos de manganês se alinham naturalmente<br />
em direções aleatórias, a aplicação de um campo magnético provoca um<br />
alinhamento dos momentos e a condutividade elétrica cresce. Este efeito, embora<br />
seja bastante importante na compreensão do fenômeno, não é suficiente para<br />
explicar a CMR.<br />
Nestes materiais a interação entre elétrons e os modos de oscilação da rede<br />
cristalina, conhecidos como fônons, é muito forte. Este efeito torna-se mais<br />
evidente com a modificação da temperatura de ordenamento<br />
magnético, quando se substituem os isótopos de O16 pelos de O18 [3], [4].<br />
Nestes experimentos, a massa dos íons de oxigênio é alterada, mas não a<br />
estrutura eletrônica, uma vez que o aumento de massa do isótopo se dá no núcleo<br />
atômico. Para o composto La0:65Ca0:35MnO3, a diferença nas temperaturas de<br />
Curie (Tc, temperatura de transição de comportamento paramagnético para<br />
14<br />
Eletrônica e Instrumentação
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
ferromagnético) antes e depois de ser alterado isotopicamente, chega a 10<br />
K[9].Uma vantagem importante na pesquisa destes<br />
óxidos de manganês é o fato destes compostos possuirem<br />
uma estrutura cristalográfica conhecida como perovskita, similar àquelas dos<br />
óxidos de cobre descobertos em 1986, os chamados supercondutores de alta<br />
temperatura crítica (do inglês, High Critical Temperature Superconductors, ou<br />
HTcS). Assim sendo, muito daquilo que se conhece dos efeitos da estrutura<br />
cristalográfica nos HTcS, tem sido utilizado nos CMR.Cabe lembrar que a<br />
interação entre elétrons e fônons, fundamental na interpretação teórica dos<br />
supercondutores tradicionais, ainda é controversa nos HTcS.<br />
Em contraste com os supercondutores, nos CMR os fônons tendem a criar<br />
regiões onde os elétrons permaneçam presos, ou seja, tornem-se elétrons<br />
localizados.É esta competição entre a tendência dos elétrons<br />
de saltar de um átomo de mangânes a outro e a tendência dos fônons de localizar<br />
os elétrons, que parece ser crucial para se entender os mecanismos de transporte<br />
de carga elétrica.<br />
2.7. A Nova eletrônica - Eletrônica spin<br />
GMR significa não somente uma inovação no armazenamento de<br />
informações do disco rígido (e para sensores magnéticos e outras aplicações). É<br />
bastante interessante que está tecnologia pode ser considerada como um primeiro<br />
passo no desenvolvimento de um tipo de eletrônica completamente nova<br />
chamada de eletrônica do spin (spintronics). O pré-requisito geral do spintronics<br />
é devido à pequena dimensão criada pela nanotecnologia. A direção do<br />
15<br />
Eletrônica e Instrumentação
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
spintronics só pode ser mantida por pequenas distâncias; a fina camada na<br />
direção do spin vai mudar antes que aja tempo para mudança do uso separado<br />
das propriedades dos elétrons com diferente spin (como alta e baixa resistência).<br />
No surgimento do GMR um sistema similar foi construído usando um<br />
isolante elétrico, ao invés de um metal não magnético, intercalado entre duas<br />
camadas de metal magnético. A corrente elétrica não deveria passar através da<br />
camada isolante, mais se esta for fina o bastante, os elétrons passarão, usando o<br />
efeito quântico chamado tunelamento.<br />
Entretanto, este novo sistema é chamado TMR (tunnelling<br />
magnetoresistance). Com o TMR, até mesmo a grande diferença na resistência<br />
pode ser criado por um pequeno campo magnético, e as novas gerações de<br />
leitores já usam está nova tecnologia.<br />
2.8. Memória Universal<br />
Ainda há uma outra aplicação para spintronics , que já começou a surgir, é<br />
uma memória de trabalho magnético chamada MRAM. Para suprir o disco<br />
rígido, onde a informação é armazenada permanentemente, os computadores<br />
precisam de uma rápida memória de trabalho. Esta é usualmente chamada de<br />
RAM, Random Acess Memory. Na memória RAM o computador armazena<br />
toda a informação que ele precisa para conseguir processar informação enquanto<br />
ele funciona. Mas a desvantagem desta memória usada hoje é que ela é incapaz<br />
de armazenar qualquer informação permanentemente se esta não for salva.<br />
Como este texto está sendo escrito somente na memória RAM do computador,<br />
se alguém desligar o computador sem salvar o texto será perdido.<br />
16<br />
Eletrônica e Instrumentação
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
O ponto da MRAM é que é possível usar TMR tanto para leitura como<br />
para escrever informação e, portanto criar uma memória magnética no<br />
computador que é rápida e facilmente acessível. MRAM pode, entretanto ser<br />
usada como memória, em oposição à lentidão do disco rígido, mais também<br />
pode ser usado como memória permanente, que não depende da força elétrica.<br />
Isto significa que MRAM poderá se desenvolver conjunto a memória universal<br />
que pode substituir ambas, a RAM tradicional e o disco rígido. A compactação<br />
deste sistema pode ser particularmente usado em pequenos encaixes de sistemas<br />
de computadores, em praticamente todos equipamentos de cozinha até<br />
automóveis.<br />
3. CONCLUSÃO<br />
A descoberta do efeito GMR e CMR abriu portas, para todo um novo<br />
campo de tecnologias, spintronics, onde ambos troca de elétrons e spin são<br />
utilizados. O surgimento da nanotecnologia foi pré-requisito para descoberta do<br />
GMR e posterior avanço com os CMR: agora spintronics estão se voltando na<br />
direção da força, além do desenvolvimento rápido da nanotecnologia. Está área<br />
de pesquisa é um exemplo raro de como a ciência fundamental e novas<br />
tecnologias conectadas se complementam.<br />
4. BIBLIOGRAFIA<br />
1- M.N. Baibich et al., “Giant Magnetoresistance of (001)Fe/(001)Cr Magnetic<br />
Superlattices” Physical Review Letters Vol. 61, No. 21 (1988). (Albert Fert’s<br />
original article).<br />
17<br />
Eletrônica e Instrumentação
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />
2- G. Binasch et al., “Enhanced magnetoresistance in layered magnetic<br />
structures with antiferromagnetic interlayer exchange” Physical Review B,<br />
vol. 39, No. 7 (1989). (Peter Grünberg’s original article).<br />
3- Alexander Hellemans, Science 273, 880 (1996)<br />
4- J. C. Irwin et. al., Phys. Rev. B 59 (14) 9362 (1999)<br />
Eletrônica e Instrumentação<br />
18