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Sensores Magnetorresistivos - DEMAR - USP

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ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />

<strong>Sensores</strong> <strong>Magnetorresistivos</strong><br />

Davi Rossi<br />

José Olimpio Rios Junior<br />

Lorena<br />

2010<br />

Eletrônica e Instrumentação


ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - <strong>USP</strong><br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Os dias atuais com as grandes modificações, e tecnologias cada vez mais<br />

aprofundadas, físicos e cientistas das mais variadas formas, discutem formas de<br />

melhorar a qualidade de vida das pessoas, seja essa melhoria com bens de uso<br />

próprio, até tecnologias voltadas para uso profissional, diante deste fato,<br />

tecnologias com alto valor agregado tem ganhado grande impulso, tais<br />

tecnologias como de software, computação gráfica, sensores de computadores e<br />

inseridos nesse campo, estão os sensores magnetorresistivos.<br />

Estudos sobre fenômenos magnéticos advêm desde o século 19, contudo<br />

nas três ultimas décadas do século 20 teve um grande impulso, qual seja, o<br />

armazenamento de informações em computadores, que é feita em diferentes<br />

áreas de magnetização no hard disk (HD), as informações são gravadas através<br />

de binários (1 e 0), certas direções de magnetização correspondem ao binário<br />

zero e outras correspondem ao binário 1. Para acessar a informação, o leitor<br />

escaneia o HD e registra os diferentes campos magnéticos. Este ficando menor<br />

torna a área magnética menor também, com isso o campo magnético de cada<br />

byte se torna fraco e mais difícil de ser lido, isto requer um melhor leitor, neste<br />

contexto pesquisas de Fert e Grünberg revolucionaram o modo de<br />

armazenamento de dados, conferindo a eles o prêmio Nobel, através da<br />

descoberta do Magnetorresistência Gigante (GMR), trazendo maior facilidade e<br />

comodidade as pessoas, hoje em dia a tecnologia dos sensores já está bem<br />

avançada tendo dado um passo maior que é a Magnetorresistência Colossal<br />

(CMR).<br />

Eletrônica e Instrumentação<br />

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2. DESENVOLVIMENTO<br />

Os sensores magnetorresistivos comuns são fabricados depositando-se uma<br />

fina camada de liga metálica (Permalloy) numa base isolante. Quando um campo<br />

magnético atua sobre esse material, os domínios magnéticos mudam de posição<br />

fazendo com que a resistência elétrica mude de valor.<br />

A mudança é muito pequena da ordem de 2% a 3%, mas o suficiente para<br />

poder ser detectada por um circuito eletrônico apropriado. O fenômeno físico<br />

que explica o funcionamento desses sensores está nas propriedades dos metais<br />

que tem uma orientação de sua magnetização dependente dos elétrons de suas<br />

ultimas camadas.Estes sensores magnetorresistivos foram precursores dos Giant<br />

Magneto-Resistence e dos Colossal Magneto – Resistence.<br />

Com a necessidade de tecnologias mais sensíveis, o (GMR) e o (CMR)<br />

ganhou espaço, por trabalhar em escala nanométrica. Utiliza-se a nanotecnologia<br />

para produção de finas camadas de metal, essas nanocamadas interferem no<br />

material, dando novas propriedades ao material, essas camadas não afetam<br />

somente as propriedades magnéticas e de condutividade elétrica, mas também as<br />

propriedades mecânicas, químicas e ópticas do material.<br />

2.1. Física dos sensores magnetorresitivos<br />

Os sensores <strong>Magnetorresistivos</strong> são formados por sistemas magnéticos<br />

nanoscópicos, estes são compostos por sólidos granulares que podem conter<br />

mais de uma fase magnética de diferentes tipos de matérias, os grãos estão no<br />

limite superparamagnético, que diz respeito ao tempo de relaxação do momento<br />

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magnético resultante, estas partículas podem ser produzidas por diversos<br />

métodos, tais como deposição por vapor, “sputtering” ou bombardeamento e<br />

“melt spinnig” [2].<br />

A natureza das interações magnéticas entre os grãos determina o<br />

comportamento macroscópico do sistema, sendo este estudado através da função<br />

magnetização M e da Susceptibilidade magnética X a um campo de indução H.<br />

2.2. Superparamagnetismo<br />

Vamos considerar as propriedades magnéticas de um sistema de partículas<br />

não interagentes com uma larga distribuição de tamanhos e formas, e com eixos<br />

de fácil magnetização distribuídos aleatoriamente. È suposto no<br />

superparamagnetismo que o momento magnético atômico no interior das<br />

partículas se movam coerentemente, o momento magnético total é representado<br />

por um vetor clássico de magnitude µ=µ at *N , onde µ at é o momento magnético<br />

atômico e o N é o número de átomos magnéticos na partícula.<br />

De maneira simples, a direção do momento magnético é determinada por<br />

uma anisotropia uniaxial de origem magnetocristalina, ou magnetoelástica. O<br />

tempo de relaxação , é essencialmente o tempo para reverter o momento<br />

magnético de um estado de equilíbrio ao outro.<br />

Considerando agora uma única partícula com anisotropia uniaxial, a energia<br />

potencial E terá dois mínimos, na direção do eixo de fácil magnetização. Assim<br />

o momento magnético tem duas posições equivalentes do ponto de vista<br />

energético, mas para passar de uma região a outra é preciso ultrapassar uma<br />

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barreira de energia potencial de altura KV. A energia potencial pode ser escrita<br />

como,[4].<br />

E = KVsin 2 (Equação 1)<br />

K é a densidade de energia de anisotropia, V é o volume da partícula e é o<br />

ângulo entre o vetor momento magnético e o eixo de fácil magnetização.<br />

Os saltos de um mínimo ao outro, em altas temperaturas são termicamente<br />

ativados, com freqüência de saltos dado por,<br />

ν = τ -1 0 exp(-KV/K n T) (Equação 2)<br />

O tempo entre dois saltos é dado por:<br />

τ = τ 0 exp(KV/K B T) (Equação 3)<br />

O fator τ 0 pode ser determinado experimentalmente ou calculado através de<br />

modelos teóricos. O valor numérico de τ 0 está compreendido entre 10 -9 e 10 -10<br />

segundos. Então se diz que uma partícula e superparamagnetica se, em uma dada<br />

temperatura seu tempo de relaxação for menor que o tempo necessário para<br />

realizar a medida. Se o tempo necessário para realizar a medida for maior que o<br />

tempo de relaxação o momento magnético parece estar completamente livre pois<br />

sofre diversas reversões durante a medida.<br />

Matematicamente se K B T>>E, equivale a altas temperaturas ou pequenos<br />

volumes, τ tende a ser muito menor que o tempo característico de uma medida, e<br />

a partícula se encontra em um estado superparamagnético. Por outro lado se<br />

K B T


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È possível encontrar o volume critico V crit de uma partícula a uma<br />

temperatura T , aproximando a equação(3) por uma serie de Taylor obtemos<br />

quando K B T>>E .<br />

ln τ = ln τ 0 + (KV crit /K B T b + ….) (Equação 5)<br />

Que implica em:<br />

T b = KV 0 /25K B (Equação 6)<br />

A temperatura de bloqueio é diretamente proporcional ao volume da<br />

particula e constante de anisotropia. Partículas maiores serão<br />

superparamagnéticas em temperaturas mais elevadas.<br />

2.3. Resistência e magnetização<br />

Num condutor metálico, a eletricidade é transportada por meio do<br />

movimento livre dos elétrons no material, a corrente é conduzida porque os<br />

elétrons caminham numa direção específica, quanto maior este direcionamento,<br />

melhor a condutância do material, o caminho livre dos elétrons é impedido<br />

quando há impurezas e irregularidades, fazendo com que aumente a resistência<br />

elétrica, por impedir que elétrons sigam seu caminho normal, portanto quanto<br />

maior o espalhamento, maior a resistência elétrica do material.<br />

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Figura 1 - Espalhamento dos elétrons<br />

No material magnético o espalhamento dos elétrons é influenciado pela<br />

direção de magnetização. Quando há uma grande ligação entre magnetização e<br />

resistência surge então o giant magnetor resistance por causa da rotação<br />

intrínseca do elétron induzida pelo momento magnético, a propriedade mecânica<br />

quântica chamada spin, que é direcionada em uma ou duas direções opostas. Em<br />

materiais magnéticos, a maioria dos spins aponta na mesma direção(em<br />

paralelo). Um pequeno número de spins, entretanto, sempre apontam na direção<br />

oposta, antiparalela da magnetização total. Este desequilíbrio aumenta, não<br />

somente com a magnetização, mas também que elétrons com diferentes spins são<br />

espalhados em menor ou maior grau, contra as irregularidades e impurezas, e<br />

principalmente entre interfaces dos materiais, as propriedades do material vão<br />

determinar qual tipo spin será mais espalhado.<br />

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Figura 2 - Orientação dos elétrons dentro de um condutor magnético;spin paralelo a magnetização em<br />

vermelho(maioria), e minoria em branco em sentido antiparalelo.<br />

2.4. “Giant magnetoresistance” (GMR)<br />

Um exemplo simples do tipo de sistema onde o Giant Magneto resistor ou<br />

Magnetorresistência Gigante pode surgir é descrito: este consiste em uma<br />

camada de metal não magnético entre duas camadas de metal magnético. Dentro<br />

do material magnético, e especialmente na interface entre material magnético e<br />

não magnético, os elétrons com diferentes spins são espalhados. Consideremos o<br />

caso onde os elétrons são mais espalhados se o spin for antiparalelo à direção de<br />

magnetização. Isto implica que a resistência vai ser maior para estes elétrons que<br />

para os outros que tem spin paralelo à direção de magnetização. Quando os<br />

elétrons estão próximos à um material não magnético, são todos espalhados<br />

independente da direção do spin, para a segunda interface e dentro da ultima<br />

camada do material magnético, elétrons com spin antiparalelo serão novamente<br />

mais espalhados que os elétrons com spin paralelos.<br />

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No caso onde ambas camadas magnéticas são magnetizadas na mesma<br />

direção, a maioria dos elétrons terão spin paralelo e se moverão facilmente<br />

através da estrutura. A resistência total vai abaixar devido a isto (caso A na<br />

figura abaixo). Entretanto, se a magnetização das duas camadas forem opostas,<br />

todos elétrons estarão em um estado de spin antiparalelo em uma das duas<br />

camadas. Isto significa que nenhum elétron conseguirá se mover através do<br />

sistema, e a resistência total será alta (caso B na figura abaixo). Agora, imagine<br />

o uso desta estrutura em leitor de hard disk (HD): a magnetização da camada um<br />

é presa, enquanto a magnetização da camada três é livre para movimentar-se e<br />

pode ser influenciado na variação do campo magnético no hard disk. A<br />

magnetização das duas camadas magnéticas no leitor irá então ser<br />

alternadamente paralelas e antiparalelas. Isto vai levar a variação da resistência e<br />

da corrente através do leitor. Se a corrente é o sinal deixado no leitor, corrente<br />

alta significa binário um e corrente baixa binária zero.<br />

Figura 3 - Mesma direção de magnetização para todas as camadas.<br />

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Figura 4 - Direções opostas para as camadas magnéticas condutoras.<br />

2.5. GMR tornou-se referência<br />

Em meados dos anos 80 cientistas da área de magnetismo, perceberam<br />

novas possibilidades oferecidas por camadas nanométrica. Albert Fert e seus<br />

colaboradores criaram uma intercalação entre camadas de ferro-cromo-ferro,<br />

compostas de pouca quantidade de átomos cada, para ocorrência do evento<br />

foram forçados a trabalhar perto do vácuo e de usar baixas pressões de gases. E<br />

nesta configuração, os átomos irão gradualmente se anexando na superfície<br />

formando assim uma camada nanométrica. De maneira similar o grupo de Peter<br />

Grünberg forma um sistema simples composto por somente duas ou 3 camadas<br />

de ferro e crômio, fazendo uma intercalação de camadas. Por ter usado diferentes<br />

combinações de camadas, Fert registrou uma maior resistência magnética que<br />

Grünberg. O grupo francês viu a dependência da magnetização mudando a<br />

resistência para mais de 50%, enquanto o grupo alemão viu somente uma<br />

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diferença de apenas 10% de diferença na resistência. O efeito básico e a física<br />

por trás disso de certa forma são idênticos nos dois casos. Ambos os grupos<br />

notaram que haviam observado um fenômeno totalmente novo. Com a<br />

resistência magnética tradicional ninguém tinha registrado mais do que 1% de<br />

mudança na resistência. Albert Fert foi um dos que estabeleceram um novo<br />

conceito de Giant Magneto Resistance para descrever o novo efeito, e na sua<br />

primeira publicação ele apontou formas dela ser aplicada. Peter Grünberg<br />

também notou o potencial prático do fenômeno e patenteou ao mesmo tempo em<br />

que escrevia sua publicação.<br />

Para essa nova tecnologia ser comercializada, entretanto foi necessário<br />

um processo industrial para criação das camadas. O método usado por ambos<br />

(conhecido como epitaxy), foi trabalhoso e custoso, melhor adaptação para<br />

pesquisas de laboratório do que para processos em larga escala. Por causa disto,<br />

foi um importante passo quando Stuart Parkin, trabalhando nos EUA,<br />

demonstrou que era possível alcançar o mesmo efeito usando uma tecnologia<br />

bem mais simples chamada (sputtering). O efeito GMR atualmente não depende<br />

de camadas perfeitas. Isto significa que sistemas GMR podem agora ser<br />

produzido em uma escala industrial. O processo industrial combinado com a boa<br />

sensibilidade do leitor resultou em uma nova tecnologia tornando-se referência<br />

nos discos rígidos tão logo o primeiro leitor comercial produzido em 1997.<br />

2.6. Magnetorresistência Colossal<br />

Um fenômeno mais intenso de MR pode ser observado nos óxidos de metais<br />

de transição. A família de compostos mais estudada se baseia na fórmula<br />

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A1xBxMnO3,onde A é um íon de terra-rara com valência 3+ (como La, Pr, Nd,<br />

etc) e B é um íon de um metal alcalino com valência 2+ (como Ca, Sr, Ba).<br />

Devido à substituição parcial da terra-rara por um elemento alcalino, coexistem e<br />

interagem fortemente dois tipos de íons de Mn: Mn3+ (fração 1-x) e Mn4+<br />

(fração x).<br />

A Fig. 5 mostra as características essenciais das curvas de magnetização e de<br />

resistividade em função da temperatura para o composto La0:7Ca0:3MnO3 [2].<br />

A curva de magnetização mostra uma transição de um estado paramagnético<br />

a temperaturas altas para um estado ferromagnético a temperaturas baixas. O<br />

gráfico de resistividade apresenta em altas temperaturas uma diminuição da<br />

resistividade com o aumento da temperatura.<br />

Este tipo de comportamento é típico de materiais semicondutores. A baixas<br />

temperaturas a resistividade cresce com o aumento da temperatura como nos<br />

metais.<br />

A transição entre os comportamentos semicondutor e metálico se produz na<br />

mesma faixa de temperaturas da transição paramagnética-ferromagnética.<br />

Quando se aplica um campo magnético diminui a resistividade,<br />

especialmente na faixa próxima da temperatura de transição. É está sensibilidade<br />

da resistividade do material a presença de um campo magnético externo que<br />

provoca o efeito conhecido como magnetorresistência colossal (do inglês<br />

Colossal Magnetoresistance,CMR).<br />

Os primeiros resultados, publicados em 1950 por G. H. Jonker e J. H. Van<br />

Santer, foram praticamente ignorados até 1993, quando outros pesquisadores<br />

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reportaram mudanças na resistividade elétrica com ordens de magnitude maiores<br />

que aquelas observadas no caso dos materiais com GMR [3]; [4].<br />

Figura 5. Caracteristicas das curvas de magnetização e de resistividade elétrica<br />

em função da temperatura para o composto La0:7Ca0:3MnO3. Há uma transição<br />

paramagnética-ferromagnética na curva de magnetização, e na mesma faixa de<br />

temperaturas, uma mudança de comportamento semicondutor a metálico na<br />

curva de resistividade elétrica. A aplicação de um campo magnético diminui a<br />

resistividade elétrica, especialmente na região de transição.<br />

A interpretação dos fenômenos relacionados ao efeito de CMR ainda não<br />

está completamente estabelecida, embora acredita-se sejam similares aos de<br />

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GMR, agora em escalas atômicas. Assim no fenômeno de GMR, a função de<br />

onda eletrônica, responsável por transportar a informação do alinhamento<br />

magnético preferencial, tem penetração de dezenas de nanômetros (10 nm) de<br />

uma camada a outra. Já nos materiais que apresentam CMR, os fenômenos se<br />

dão em escala atômica ou seja, na ordem de 0.1 nm.<br />

O mecanismo de interação entre os spins nos CMR é de troca indireta, ou<br />

seja, os elétrons de condução do material se movem de um átomo de manganês a<br />

outro através dos átomos de oxigênio. Estes elétrons de condução interagem<br />

fortemente com os momentos magnéticos dos átomos de manganês. Este tipo de<br />

transporte eletrônico é facilitado quando os momentos magnéticos do manganês<br />

estão alinhados paralelamente aos dos elétrons de condução. Contudo, como os<br />

momentos dos átomos de manganês se alinham naturalmente<br />

em direções aleatórias, a aplicação de um campo magnético provoca um<br />

alinhamento dos momentos e a condutividade elétrica cresce. Este efeito, embora<br />

seja bastante importante na compreensão do fenômeno, não é suficiente para<br />

explicar a CMR.<br />

Nestes materiais a interação entre elétrons e os modos de oscilação da rede<br />

cristalina, conhecidos como fônons, é muito forte. Este efeito torna-se mais<br />

evidente com a modificação da temperatura de ordenamento<br />

magnético, quando se substituem os isótopos de O16 pelos de O18 [3], [4].<br />

Nestes experimentos, a massa dos íons de oxigênio é alterada, mas não a<br />

estrutura eletrônica, uma vez que o aumento de massa do isótopo se dá no núcleo<br />

atômico. Para o composto La0:65Ca0:35MnO3, a diferença nas temperaturas de<br />

Curie (Tc, temperatura de transição de comportamento paramagnético para<br />

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ferromagnético) antes e depois de ser alterado isotopicamente, chega a 10<br />

K[9].Uma vantagem importante na pesquisa destes<br />

óxidos de manganês é o fato destes compostos possuirem<br />

uma estrutura cristalográfica conhecida como perovskita, similar àquelas dos<br />

óxidos de cobre descobertos em 1986, os chamados supercondutores de alta<br />

temperatura crítica (do inglês, High Critical Temperature Superconductors, ou<br />

HTcS). Assim sendo, muito daquilo que se conhece dos efeitos da estrutura<br />

cristalográfica nos HTcS, tem sido utilizado nos CMR.Cabe lembrar que a<br />

interação entre elétrons e fônons, fundamental na interpretação teórica dos<br />

supercondutores tradicionais, ainda é controversa nos HTcS.<br />

Em contraste com os supercondutores, nos CMR os fônons tendem a criar<br />

regiões onde os elétrons permaneçam presos, ou seja, tornem-se elétrons<br />

localizados.É esta competição entre a tendência dos elétrons<br />

de saltar de um átomo de mangânes a outro e a tendência dos fônons de localizar<br />

os elétrons, que parece ser crucial para se entender os mecanismos de transporte<br />

de carga elétrica.<br />

2.7. A Nova eletrônica - Eletrônica spin<br />

GMR significa não somente uma inovação no armazenamento de<br />

informações do disco rígido (e para sensores magnéticos e outras aplicações). É<br />

bastante interessante que está tecnologia pode ser considerada como um primeiro<br />

passo no desenvolvimento de um tipo de eletrônica completamente nova<br />

chamada de eletrônica do spin (spintronics). O pré-requisito geral do spintronics<br />

é devido à pequena dimensão criada pela nanotecnologia. A direção do<br />

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spintronics só pode ser mantida por pequenas distâncias; a fina camada na<br />

direção do spin vai mudar antes que aja tempo para mudança do uso separado<br />

das propriedades dos elétrons com diferente spin (como alta e baixa resistência).<br />

No surgimento do GMR um sistema similar foi construído usando um<br />

isolante elétrico, ao invés de um metal não magnético, intercalado entre duas<br />

camadas de metal magnético. A corrente elétrica não deveria passar através da<br />

camada isolante, mais se esta for fina o bastante, os elétrons passarão, usando o<br />

efeito quântico chamado tunelamento.<br />

Entretanto, este novo sistema é chamado TMR (tunnelling<br />

magnetoresistance). Com o TMR, até mesmo a grande diferença na resistência<br />

pode ser criado por um pequeno campo magnético, e as novas gerações de<br />

leitores já usam está nova tecnologia.<br />

2.8. Memória Universal<br />

Ainda há uma outra aplicação para spintronics , que já começou a surgir, é<br />

uma memória de trabalho magnético chamada MRAM. Para suprir o disco<br />

rígido, onde a informação é armazenada permanentemente, os computadores<br />

precisam de uma rápida memória de trabalho. Esta é usualmente chamada de<br />

RAM, Random Acess Memory. Na memória RAM o computador armazena<br />

toda a informação que ele precisa para conseguir processar informação enquanto<br />

ele funciona. Mas a desvantagem desta memória usada hoje é que ela é incapaz<br />

de armazenar qualquer informação permanentemente se esta não for salva.<br />

Como este texto está sendo escrito somente na memória RAM do computador,<br />

se alguém desligar o computador sem salvar o texto será perdido.<br />

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O ponto da MRAM é que é possível usar TMR tanto para leitura como<br />

para escrever informação e, portanto criar uma memória magnética no<br />

computador que é rápida e facilmente acessível. MRAM pode, entretanto ser<br />

usada como memória, em oposição à lentidão do disco rígido, mais também<br />

pode ser usado como memória permanente, que não depende da força elétrica.<br />

Isto significa que MRAM poderá se desenvolver conjunto a memória universal<br />

que pode substituir ambas, a RAM tradicional e o disco rígido. A compactação<br />

deste sistema pode ser particularmente usado em pequenos encaixes de sistemas<br />

de computadores, em praticamente todos equipamentos de cozinha até<br />

automóveis.<br />

3. CONCLUSÃO<br />

A descoberta do efeito GMR e CMR abriu portas, para todo um novo<br />

campo de tecnologias, spintronics, onde ambos troca de elétrons e spin são<br />

utilizados. O surgimento da nanotecnologia foi pré-requisito para descoberta do<br />

GMR e posterior avanço com os CMR: agora spintronics estão se voltando na<br />

direção da força, além do desenvolvimento rápido da nanotecnologia. Está área<br />

de pesquisa é um exemplo raro de como a ciência fundamental e novas<br />

tecnologias conectadas se complementam.<br />

4. BIBLIOGRAFIA<br />

1- M.N. Baibich et al., “Giant Magnetoresistance of (001)Fe/(001)Cr Magnetic<br />

Superlattices” Physical Review Letters Vol. 61, No. 21 (1988). (Albert Fert’s<br />

original article).<br />

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2- G. Binasch et al., “Enhanced magnetoresistance in layered magnetic<br />

structures with antiferromagnetic interlayer exchange” Physical Review B,<br />

vol. 39, No. 7 (1989). (Peter Grünberg’s original article).<br />

3- Alexander Hellemans, Science 273, 880 (1996)<br />

4- J. C. Irwin et. al., Phys. Rev. B 59 (14) 9362 (1999)<br />

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