a atualidade do pensamento de florestan fernandes e suas ...

14
tecnocrática assumida pelas administrações neoliberais principalmente dos últimos 12 anos,
mas também, e fundamentalmente, pelas reconfigurações do capital financeiro e industrial,
que sustentaram e sustentam a ditadura rentista expressa na perversa política econômica
vigente.
É preciso também que estejamos atentos a este “retorno” do Estado nas iniciativas
de investimentos em infra-estrutura. O Estado sempre esteve presente, mesmo quando
aparentemente ausente, pois nestes casos ele costuma estar mais sutilmente a serviço de
frações das classes dominantes. Por mais que o Estado tenha assumido e venha operando
vultosas cifras em investimentos mimetizados de sociais, precisamos compreender as
estratégias que mantém a lógica de “desenvolvimento”, pois este, por tratar-se de
desenvolvimento capitalista dependente, apenas expande a superexpropriação e a
superexploração em favor da manutenção e aperfeiçoamento da condição de heteronomia.
4. Considerações finais
No Brasil, o modo de organização da agricultura capitalista, em sua forma
conhecida como agronegócio, é parte do modelo capitalista dependente, já que comporta
elementos arcaicos e modernos que engendram este modelo apoiado necessariamente nas
burguesias, locais e externas, que operam a exploração e dominação. Graves conseqüências
decorrem de tal modo de produção, ampliando a falha metabólica sociedade-natureza,
ameaçando as bases materiais de sustentação da vida em todas as suas formas.
A questão do capitalismo dependente em Florestan, pelo pouco que pudemos
compreender até aqui, com a indispensável contribuição de Cardoso, parece-nos um campo
fértil de idéias e uma fonte rica de problematizações, que lança sobre as pesquisas
acadêmicas, sobretudo, aquelas voltadas para transformações profundas das relações
sociais, um desafio urgente. Entendemos que neste desafio, o ponto de partida deve ser a
questão da classe no desenvolvimento do capitalismo e o ponto de chegada, a
transformação social. Pelo caminho estão as determinações que carregam as possibilidades
de conferir ao trabalhador uma identidade de classe ao assumir a luta contra um de seus
inimigos reconhecidos, o agronegócio, se apropriando de meios para isso, como, por
exemplo, a educação.