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Seis décadas de teleteatro do teatro “ao vivo” ao experimental ...

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mensagem, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> conseguir um maior alcance junto <strong>ao</strong> público. Essa relação é múltipla e<br />

complexa mas, caracterizada por uma forte intertextualida<strong>de</strong>.<br />

É preciso, como fazia-se nos <strong>tele<strong>teatro</strong></strong>s, mobilizar a idéia da recriação conduzin<strong>do</strong> a arte da<br />

adaptação por vias originais que <strong>de</strong>semboquem num trabalho necessário à divulgação <strong>de</strong> fatos <strong>de</strong><br />

cultura.<br />

O <strong>tele<strong>teatro</strong></strong> e seu apogeu<br />

Sabemos que enquanto o cinema iniciou-se na França, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Inglaterra,<br />

Alemanha e Itália, a televisão começou em cida<strong>de</strong>s. Nova York tinha uma televisão, Londres, outra,<br />

e a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo teve a quarta TV no mun<strong>do</strong> em 1950. Dois meses <strong>de</strong>pois, criava-se a<br />

produção televisiva no Rio <strong>de</strong> Janeiro e mais tar<strong>de</strong>, em Belo Horizonte (1956) e <strong>de</strong>mais capitais<br />

brasileiras. As produções televisivas eram locais e “<strong>ao</strong> vivo” e as emissoras tinham pouco contato<br />

com as pioneiras iniciantes, mas, cada uma, a seu mo<strong>do</strong>, reunia o seu cast com profissionais vin<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> rádio e, principalmente <strong>do</strong> <strong>teatro</strong> crian<strong>do</strong>, assim, um laboratório <strong>experimental</strong> <strong>de</strong> ficção televisiva<br />

com o <strong>teatro</strong> na TV.<br />

No perío<strong>do</strong> da vida brasileira em que se multiplicavam empreendimentos culturais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

vulto e cunho empresarial, a instalação da TV, em 1950, foi uma conseqüência natural <strong>de</strong>sses<br />

investimentos, daí sua ín<strong>do</strong>le artística aliada à elite cultural <strong>do</strong> país. Estávamos numa época em que<br />

a “cultura ilustrada”, <strong>de</strong>finida por Edgar Morin 9 comandava as ré<strong>de</strong>as da indústria cultural 10 . Por<br />

outro la<strong>do</strong>, existiam interesses concretos <strong>do</strong>s empresários para atuarem nas áreas culturais e<br />

comerciais.<br />

A posposta da Vera Cruz era a realização <strong>de</strong> filmes nos mol<strong>de</strong>s hollywoodianos para<br />

aten<strong>de</strong>r à bilheteria e experimentar uma produção mais industrial; o TBC, a cada peça “clássica”,<br />

encenava outras, menos pretensiosas, para atrair maior público 11 enquanto o MASP não atuava<br />

apenas na esfera erudita, contu<strong>do</strong> promovia o ensino sistemático <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> propaganda,<br />

<strong>de</strong>senho industrial, fotografia e comunicação visual. Já a Atlântida havia <strong>de</strong>scoberto uma fórmula<br />

para explorar o merca<strong>do</strong> brasileiro: utilizava a chanchada, apoian<strong>do</strong>-se na tradição <strong>do</strong> <strong>teatro</strong> ligeiro<br />

e as “estrelas” <strong>do</strong> rádio para alcançar um público mais popular.<br />

Levan<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração, portanto, a presença ativa <strong>do</strong>s empresários no campo da cultura<br />

artística e da cultura <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, a popular, vamos concordar com Renato Ortiz quan<strong>do</strong> mostra um<br />

trânsito entre o “erudito” e os meios <strong>de</strong> massa transferin<strong>do</strong> para esses últimos, um capital simbólico<br />

que a<strong>de</strong>quava-se, facilmente, <strong>ao</strong> principal meio <strong>de</strong> comunicação que estava surgin<strong>do</strong>: a TV.<br />

As primeiras décadas da televisão no Brasil e também em to<strong>do</strong>s os países em que o veículo<br />

se instalava, foram marcadas pelo auge <strong>do</strong> <strong>tele<strong>teatro</strong></strong> que apresentava, <strong>de</strong> maneira heróica, obras<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dramaturgos a um público que apenas estava se inician<strong>do</strong> em acelera<strong>do</strong>s e traumáticos<br />

processos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e ingressava <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada nas crescentes <strong>de</strong>mandas da vida<br />

urbana. O <strong>tele<strong>teatro</strong></strong> era conseqüência <strong>de</strong> uma TV orientada por objetivos culturais como já vimos, e<br />

se <strong>de</strong>batia entre uma tradição bastante solene e retórica <strong>do</strong>s anos anteriores e os primeiros<br />

entraves da comercialização que chegava <strong>ao</strong>s canais. Insinuava-se uma luta entre indústria e<br />

cultura, comercialização e espírito, iniciativa privada e onipresença estatal. O prestígio <strong>do</strong> <strong>tele<strong>teatro</strong></strong><br />

9 Edgar Morin. Cultura <strong>de</strong> Massa no Século XX. Necrose. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense. 1986 p.81.<br />

10 A elite colocou no ar uma televisão, assim com construiu museus, <strong>teatro</strong>s, companhias cinematográficas etc, mas no<br />

caso da televisão, <strong>de</strong>ixou-a <strong>de</strong> pés <strong>de</strong>scalços, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong>-se à base <strong>do</strong> empirismo.<br />

11 Ver Alberto Gusik, TBC: Crônica <strong>de</strong> um sonho, São Paulo: Perspectiva, 1986.

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