Seis décadas de teleteatro do teatro “ao vivo” ao experimental ...

inovadores ainda hoje” 15 . Do mesmo modo, a coordenadora do núcleo de dramaturgia da emissora,
Analy Alvarez, disse à época:
Muito se fala e se escreve sobre o grande diretor de teatro Antunes Filho, mas
pouco se fala da obra dele na televisão. E Antunes na televisão, eu diria, supera
o Antunes no teatro. Ele brinca com as linguagens televisivas e
cinematográficas, sem se afastar do teatro, como um menino com sua pipa. E
como um menino com sua pipa, faz volteios com a câmera, impensáveis nos
anos 70. Aliás, impensáveis ainda hoje” 16 .
Com O Grande Teatro em Preto e Branco 17 a Cultura passou a exibir outras telepeças
digitalizadas do seu acervo. Tudo isso só foi possível, segundo explicou Analy Alvarez, devido ao
empenho da nova direção da emissora que abriu espaço para o teleteatro a partir da série Senta
que lá vem Comédia, apresentada aos domingos.
Experimentar, provocar, sensibilizar, transformar, características inerentes às artes e
palavras-chave do programa Direções 18 que reuniu os canais públicos SESC TV e TV Cultura de
São Paulo quando a televisão, mais uma vez, dialoga com o teatro e a literatura abrindo espaço
para as artes comprometidas com a transformação. A reação desejada nessa experiência foi
provocada pela participação de diretores consagrados do teatro paulista sem, entretanto, qualquer
experiência em televisão. Esses diretores depararam-se com recursos de linguagem alheios à
caixa-preta do teatro e com condições de trabalho totalmente inéditas.
Iniciado em julho de 2007, o projeto convidou 16 diretores para montar peças de
teledramaturgia com 30 minutos de duração. Cada um deles responsabilizou-se pela escolha do
texto e sua adaptação para a TV, a seleção do elenco, produção e o planejamento completo da
peça. Participaram André Garolli, Bete Dorgam, Beth Lopes, Francisco Medeiros, Débora Dubois,
Eduardo Tolentino, Georgette Fadel, Marco Antônio Bráz, Maria Thaís, Mário Bortolotto, Maucir
Campanholi, Pedro Pires, Rodolfo Garcia Vázquez, Samir Yasbek, Sérgio de Carvalho e Sérgio
Ferrara. Em duas fases de trabalho, foram produzidas 24 horas de teleficção. As telepeças tiveram
a supervisão e consultoria de Antunes Filho.
Em 2008, a emissora contou com a participação de oito dos diretores iniciais e ampliou o
espetáculo para 60 minutos. Na primeira fase, os diretores haviam encontrado algumas condições
desfavoráveis, como o tempo escasso e recursos exíguos. Tais dificuldades, aliadas à falta de
intimidade dos diretores teatrais com o processo de produção televisivo, acabaram gerando novos
conceitos e diferentes narrativas. Paulo Markun, presidente da Fundação Padre Anchieta que
gerencia o SESC TV e TV Cultura, qualificou o trabalho dos diretores como “uma realização que
15 Depoimentos registrados pela programação da emissora, site da TV Cultura , exibido no período da reapresentação
dos teleteatros.
16 Depoimentos registrados pela programação da emissora , site da TV Cultura , exibido no período da reapresentação
dos teleteatros e entrevista concedida a esta pesquisadora por ocasião das gravações dos debates que seguiram-se à
cada exibição de uma telepeça de Antunes Filho.
17 O Grande Teatro em Preto e Branco foi supervisionado por Atílio Bari, apresentou, semanalmente, os teleteatros com
duração média de 50 minutos. Complementando a exibição dos teleteatros foram convidados atores, diretores, críticos e
pesquisadores para debater cada uma das obras com o objetivo de enriquecer a apresentação buscando um novo olhar
sobre as obras exibidas. Entre elas, Yerma, de Federico Garcia Lorca – (1974) Adaptação: Walter George Durst –
Direção: Antonio Abujamra ; Corpo Fechado, de João Guimarães Rosa – (1975) Adaptação: Dionísio de Azevedo –
Direção: Lima Duarte; A Cama, de Lygia Bojunga Nunes – (1976) Adaptação e Direção: Benjamin Cattan ; Terra Natal,
de Oduvaldo Vianna – (1975) Adaptação e Direção: Ademar Guerra; A Carta, de William Somerset Maugham – (1975)
Adaptação: José Marques da Costa – Direção: Antonio Abujamra.
18 Ver Brasil- Panoramas Ficcionais diante do novo, em busca do novo.Artigo da professora da USP Immacolata
Vassalo Lopes para o Anuário Obitel 2008 – Mercados Globais, Histórias Nacionais. São Paulo -Globo- 2008.