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Seis décadas de teleteatro do teatro “ao vivo” ao experimental ...

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O fato <strong>do</strong> <strong>teatro</strong> ter si<strong>do</strong> inseri<strong>do</strong> na indústria cultural, não seguiu normas mas carregou a<br />

exemplo <strong>de</strong> toda obra antológica da nossa produção televisual, uma ambigüida<strong>de</strong>, uma tensão<br />

interna, <strong>de</strong>correntes da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se acionarem a energia e a inventivida<strong>de</strong> daquele que o<br />

elaborou 13.<br />

Os rigores <strong>de</strong> vigilância da audiência, <strong>do</strong>s patrocina<strong>do</strong>res e da emissora (TV Cultura) não<br />

foram suficientes para barrar o fenômeno autoral que Antunes impôs com seu <strong>tele<strong>teatro</strong></strong>. Mesmo<br />

sen<strong>do</strong> a televisão um veículo <strong>de</strong> massa, em que se prezam a padronização e a repetição, foi<br />

possível emergir um processo <strong>de</strong> contradição, no qual a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um cria<strong>do</strong>r pô<strong>de</strong> se firmar. O<br />

encena<strong>do</strong>r teatral Antunes Filho fez, no seu ato <strong>de</strong> “transcriar” Nelson Rodrigues, (usan<strong>do</strong> a<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Harol<strong>do</strong> <strong>de</strong> Campos) algo muito mais interessante <strong>do</strong> que uma simples adaptação<br />

como tantas outras experiências convencionais que o merca<strong>do</strong> oferece, tornan<strong>do</strong> raro o diálogo<br />

profícuo com a obra <strong>de</strong> origem. O convívio <strong>de</strong> matrizes diferentes, <strong>de</strong> tons opostos, é um <strong>de</strong>safio<br />

para cada encena<strong>do</strong>r ou diretor que irá escolher a sua interpretação na armação <strong>do</strong> seu<br />

espetáculo.<br />

Vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> Noiva trata <strong>de</strong> coisas que chegam <strong>ao</strong> limite entre o sonho e a<br />

realida<strong>de</strong>. Vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> Noiva é isso. Mas todas as peças <strong>de</strong>le têm a aparente (...)<br />

essa realida<strong>de</strong> na qual nós estamos aqui conversan<strong>do</strong>, o Nelson não lidava só<br />

com essa realida<strong>de</strong>. Ele lidava com a realida<strong>de</strong> mais arcaica, outros valores que<br />

eu chamo <strong>de</strong> arquetípicos. Em qualquer peça, por mais simples que seja,<br />

qualquer diálogo que tenha <strong>do</strong> Nelson Rodrigues, em qualquer peça, tem<br />

sempre os monstrinhos lá embaixo, os monstros, os arquétipos. Tem sempre<br />

aquela coisa terrível por baixo da cena, né Qualquer cena: aparentemente é<br />

uma comédia <strong>de</strong> costumes, mas nunca é completamente uma comédia <strong>de</strong><br />

costumes, tem sempre outros valores, mais primitivos, <strong>do</strong> nosso inconsciente<br />

que estão ali. Então eu acho que a obra <strong>do</strong> Nelson Rodrigues tem uma força <strong>do</strong><br />

inconsciente (...) É claro que ele se dava conta disso, mas era isso que o tornou<br />

o maior poeta <strong>do</strong> <strong>teatro</strong> brasileiro. Ele era um poeta <strong>do</strong> <strong>teatro</strong> brasileiro!Por que<br />

ele não lida só com essa realida<strong>de</strong>. Ele lida com outras realida<strong>de</strong>s e coloca em<br />

cena. (Entrevista à pesquisa<strong>do</strong>ra. S.Paulo, 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2002)<br />

O <strong>tele<strong>teatro</strong></strong> surgi<strong>do</strong> com a criação da televisão colombiana no mesmo perío<strong>do</strong> em que<br />

aparecia da televisão brasileira, é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por Martín Barbero e German Rey, como um programa<br />

<strong>de</strong> natureza para<strong>do</strong>xal que <strong>ao</strong> mesmo tempo em que ascendia à uma mídia que permitia difusões<br />

<strong>de</strong> massa só alcançadas pelo rádio, navegava bem <strong>de</strong>pressa sob a pressão das exigências<br />

comerciais mas, não escondia sua vocação cultural originária , combinan<strong>do</strong> produtos da tradição<br />

culta, até então reserva<strong>do</strong>s a um público seleciona<strong>do</strong>, com as condições impostas pelas narrativas<br />

audiovisuais da televisão (MARTÍN BARBERO; G. REY, 1999, p. 124). Na Colômbia, segun<strong>do</strong> os<br />

autores, o <strong>tele<strong>teatro</strong></strong> abriu a cena às correntes mais contemporâneas da arte e, na década <strong>de</strong> 1950,<br />

o <strong>tele<strong>teatro</strong></strong> faria parte <strong>de</strong> uma confluência singular entre a renovação <strong>do</strong> movimento teatral e a<br />

criação da revista Mito, dirigida a uma população culta:<br />

Mito abriu as comportas para um diálogo com as expressões mais vivas <strong>do</strong><br />

pensamento e da literatura e o <strong>tele<strong>teatro</strong></strong> logo optou por um repertório no qual<br />

não faltaram as adaptações <strong>de</strong> obras vanguardistas. (...) O <strong>tele<strong>teatro</strong></strong> foi também<br />

uma – e só uma – das manifestações culturais que permitem a um país a<strong>do</strong>tar<br />

um caráter mo<strong>de</strong>rno em meio a uma história <strong>de</strong> barbárie, contrastan<strong>do</strong> a<br />

13 Ver tese <strong>de</strong> Doutora<strong>do</strong> <strong>de</strong> minha autoria intitulada O Teatro na TV, Vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> Noiva, <strong>de</strong> Nelson Rodrigues, na<br />

telecriação <strong>de</strong> Antunes Filho para o Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em Teatro da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, 2004.

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