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Estado da Arte no Tratamento do Aneurisma da Aorta Abdominal

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Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(4): 287-291.<br />

Souza JAM, Alves CMR. <strong>Esta<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> <strong>Arte</strong> <strong>no</strong> <strong>Tratamento</strong> <strong>do</strong> <strong>Aneurisma</strong> <strong>da</strong> <strong>Aorta</strong> Ab<strong>do</strong>minal. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(4): 287-291.<br />

Artigo de Revisão<br />

<strong>Esta<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> <strong>Arte</strong> <strong>no</strong> <strong>Tratamento</strong> <strong>do</strong> <strong>Aneurisma</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Aorta</strong> Ab<strong>do</strong>minal<br />

José Augusto Marcondes de Souza 1 , Claudia M. Rodrigues Alves 1<br />

RESUMO<br />

A correção cirúrgica <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças <strong>da</strong> aorta ain<strong>da</strong> apresenta<br />

desafios. A conduta en<strong>do</strong>vascular é considera<strong>da</strong>, atualmente,<br />

uma alternativa potencial para a mortali<strong>da</strong>de e a morbi<strong>da</strong>de<br />

associa<strong>da</strong>s ao tratamento <strong>do</strong> aneurisma <strong>da</strong> aorta ab<strong>do</strong>minal<br />

com cirurgia a céu aberto. Pacientes com indicação clínica<br />

<strong>do</strong>s quadros a seguir devem ser considera<strong>do</strong>s para a conduta<br />

intervencionista: aneurisma maior que 5,5 cm de diâmetro,<br />

sinais de ruptura ou isquemia <strong>do</strong> órgão. A decisão pela<br />

escolha <strong>do</strong> tratamento en<strong>do</strong>vascular depende de características<br />

anatômicas adequa<strong>da</strong>s. Os índices de sucesso <strong>do</strong> procedimento<br />

estão entre 80 e 90%, com taxas de complicação<br />

aceitáveis. Os pacientes devem ter acompanhamento rigoroso,<br />

pois algumas complicações – como en<strong>do</strong>vazamento e ruptura<br />

tardios – podem ocorrer.<br />

DESCRITORES: <strong>Aneurisma</strong> <strong>da</strong> aorta ab<strong>do</strong>minal. Implante<br />

de prótese vascular. Contene<strong>do</strong>res.<br />

SUMMARY<br />

State-of-the-Art in Ab<strong>do</strong>minal Aortic<br />

Aneurysm Treatment<br />

The surgical treatment of aortic diseases is still challenging.<br />

En<strong>do</strong>vascular approach is being considered as a potential<br />

alternative to mortality and morbidity associated to the<br />

open surgical ab<strong>do</strong>minal aortic aneurysm treatment. Patients<br />

with clinical indication as: aneurysms larger than 5.5 cm<br />

in diameter, signs of rupture or end-organ ischemia should<br />

be considered for interventional approach. The decision to<br />

choose en<strong>do</strong>vascular treatment depends on suitable anatomical<br />

features. Success rates of the procedure are around 80%-<br />

90%, with acceptable complication rates. Close surveillance<br />

of these patients is man<strong>da</strong>tory as complications as late<br />

en<strong>do</strong>leak and late rupture are possible.<br />

DESCRIPTORS: Aortic aneurysm, ab<strong>do</strong>minal. Blood vessel<br />

prosthesis implantation. Stents.<br />

Adilatação aneurismática <strong>da</strong> aorta tem se torna<strong>do</strong><br />

problema prevalente principalmente em decorrência<br />

<strong>da</strong> maior longevi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população e,<br />

conseqüentemente, maior incidência <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença aterosclerótica<br />

e, também, <strong>da</strong> maior disponibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s<br />

exames de screening. De to<strong>do</strong>s os segmentos aórticos,<br />

é na aorta ab<strong>do</strong>minal que a dilatação aneurismática se<br />

faz mais freqüente.<br />

Considera-se aneurisma vascular to<strong>da</strong> vez que o<br />

calibre <strong>do</strong> vaso ultrapassa em 50% o seu diâmetro<br />

usual. A aorta ab<strong>do</strong>minal ao nível <strong>da</strong>s artérias renais<br />

apresenta diâmetro habitual de 2,0 cm e, portanto,<br />

considera-se aneurisma <strong>da</strong> aorta ab<strong>do</strong>minal (AAA) diâmetros<br />

acima de 3,0 cm.<br />

Para o tratamento <strong>do</strong> AAA é fun<strong>da</strong>mental o conhe-<br />

1<br />

Setor de Cardiologia Intervencionista <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />

São Paulo – Escola Paulista de Medicina, São Paulo, SP.<br />

Correspondência: José Augusto Marcondes de Souza. Rua Borges<br />

Lagoa, 564 - Cj. 93. Vila Clementi<strong>no</strong>, São Paulo, SP, Brasil.<br />

CEP 04038-001 - E-mail: jamarcondes@uol.com.br<br />

Recebi<strong>do</strong> em: 27/01/2006 • Aceito em: 20/02/2006<br />

cimento <strong>da</strong> sua história natural. Freqüentemente, o<br />

diagnóstico é realiza<strong>do</strong> por meio de exames de imagem<br />

solicita<strong>do</strong>s por outra suspeita diagnóstica, representan<strong>do</strong><br />

um acha<strong>do</strong> incidental. Me<strong>no</strong>s de 20% <strong>do</strong>s<br />

AAA são sintomáticos, e a presença de sintomas, freqüentemente,<br />

representa risco de ruptura. Nesses casos,<br />

a ruptura ou a ruptura iminente é caracteriza<strong>da</strong> por<br />

<strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal. Preconiza-se que o AAA seja trata<strong>do</strong><br />

na fase assintomática, uma vez que o tratamento <strong>da</strong><br />

ruptura tem alta taxa de mortali<strong>da</strong>de.<br />

O principal fator relaciona<strong>do</strong> com o risco de ruptura<br />

é o diâmetro <strong>do</strong> aneurisma e é este <strong>da</strong><strong>do</strong> que tem<br />

<strong>no</strong>rtea<strong>do</strong> a indicação <strong>do</strong> tratamento cirúrgico 1 . Os AAA<br />

com diâmetros inferiores a 4,0 cm raramente rompem,<br />

aqueles com diâmetros entre 6,0 a 6,9 cm têm de<br />

10-20% de chance de ruptura, em 1 a<strong>no</strong> e aneurismas<br />

acima de 8,0 cm chegam a apresentar mais de 50%<br />

de ruptura, em 1 a<strong>no</strong>. Por estes <strong>da</strong><strong>do</strong>s é que se recomen<strong>da</strong><br />

o tratamento <strong>do</strong>s AAA acima de 5,5 cm 2 .<br />

Outro fator importante a ser leva<strong>do</strong> em consideração<br />

quanto à indicação de tratamento é o ritmo de<br />

crescimento <strong>do</strong> aneurisma. Uma expansão acima de<br />

0,5 cm <strong>no</strong> diâmetro, mesmo que em um AAA me<strong>no</strong>r<br />

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Souza JAM, Alves CMR. <strong>Esta<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> <strong>Arte</strong> <strong>no</strong> <strong>Tratamento</strong> <strong>do</strong> <strong>Aneurisma</strong> <strong>da</strong> <strong>Aorta</strong> Ab<strong>do</strong>minal. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(4): 287-291.<br />

que 5,0 cm, em um perío<strong>do</strong> de seis meses, coloca-o<br />

em risco de ruptura 3 .<br />

Os seguintes fatores também estão relaciona<strong>do</strong>s<br />

ao risco de ruptura: sexo masculi<strong>no</strong>, hipertensão arterial<br />

sistêmica não controla<strong>da</strong> e uso <strong>do</strong> tabaco.<br />

TRATAMENTO CIRÚRGICO<br />

O tratamento clássico <strong>do</strong> AAA consiste <strong>no</strong> reparo<br />

cirúrgico, com interposição de um tubo sintético reto<br />

ou bifurca<strong>do</strong>. Está indica<strong>do</strong>, como visto anteriormente,<br />

quan<strong>do</strong> o diâmetro ultrapassa 5,5 cm, quan<strong>do</strong> o<br />

ritmo de expansão é maior de 0,5 cm, em 6 meses e<br />

<strong>no</strong>s casos ruptura.<br />

O tratamento cirúrgico tem uma mortali<strong>da</strong>de média<br />

de 4-6%, sen<strong>do</strong> de 2%, <strong>no</strong>s casos de baixo risco e de<br />

até 50%, <strong>no</strong>s casos rotos. Em <strong>do</strong>is estu<strong>do</strong>s ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong>s<br />

que compararam o tratamento cirúrgico com<br />

tratamento expectante de aneurismas com me<strong>no</strong>s de<br />

5,4 cm de diâmetro, a mortali<strong>da</strong>de peri-operatória foi<br />

de 2,7% e 5,8%, respectivamente 4,5 .<br />

A mortali<strong>da</strong>de não só está relaciona<strong>da</strong> com a urgência<br />

<strong>do</strong> procedimento, mas também com a presença de<br />

comorbi<strong>da</strong>des como a <strong>do</strong>ença aterosclerótica coronária,<br />

<strong>do</strong>ença pulmonar e insuficiência renal. Portanto, <strong>no</strong> planejamento<br />

cirúrgico <strong>do</strong> paciente assintomático, deve-se<br />

levar em conta a relação risco/benefício desta intervenção.<br />

TRATAMENTO PERCUTÂNEO<br />

Apresenta-se como uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de terapêutica<br />

me<strong>no</strong>s invasiva, com potencial de reduzir a morbimortali<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> tratamento cirúrgico. Poderia, também,<br />

se tornar alternativa para pacientes que não são candi<strong>da</strong>tos<br />

ao tratamento cirúrgico e, potencialmente, ser<br />

uma alternativa mais econômica.<br />

En<strong>do</strong>próteses<br />

A maioria <strong>da</strong>s próteses disponíveis <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> é<br />

feita de uma estrutura tubular metálica de aço ou<br />

niti<strong>no</strong>l, que é recoberta por poliéster ou PTFE e compri-<br />

mi<strong>da</strong> em um cateter de liberação (Figura 1). Esta estrutura,<br />

ao ser libera<strong>da</strong>, expande-se para o tamanho original,<br />

não permitin<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong>í seu reposicionamento.<br />

Dez por cento <strong>do</strong>s AAA estão restritos ao terço médio<br />

<strong>da</strong> aorta infra-renal, possibilitan<strong>do</strong> a utilização de uma<br />

en<strong>do</strong>prótese reta. Na maioria <strong>da</strong>s vezes, o aneurisma<br />

se estende até a bifurcação e não raramente compromete<br />

o terço proximal <strong>da</strong>s artérias ilíacas e, nesses<br />

casos, é necessária a utilização de uma en<strong>do</strong>prótese<br />

bifurca<strong>da</strong>. Uma vez libera<strong>da</strong>, a prótese pode ain<strong>da</strong> ser<br />

dilata<strong>da</strong> com um cateter-balão, para completa aposição<br />

na parede vascular. O calibre <strong>do</strong> cateter de liberação<br />

ain<strong>da</strong> é alto e varia de 20 a 24 French, para o corpo<br />

principal e 17 French, para as extensões ilíacas, impedin<strong>do</strong><br />

a sua colocação por punção e exigin<strong>do</strong> a dissecção<br />

cirúrgica. Um fio-guia de alta rigidez é posiciona<strong>do</strong><br />

na aorta ascendente e serve de “trilho” para a progressão<br />

<strong>do</strong> cateter até o nível <strong>da</strong> lesão.<br />

A escolha <strong>da</strong> prótese é realiza<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s<br />

obti<strong>da</strong>s na avaliação <strong>da</strong>s imagens diagnósticas (tomografia<br />

computa<strong>do</strong>riza<strong>da</strong> ou ressonância nuclear magnética)<br />

e de sua confirmação na sala de hemodinâmica,<br />

durante o procedimento. A prótese escolhi<strong>da</strong> deve ser<br />

de diâmetro 10 a 20% maior que o colo de liberação.<br />

Devemos <strong>da</strong>r preferência ao diâmetro aórtico observa<strong>do</strong><br />

na tomografia para a escolha <strong>da</strong> prótese, quan<strong>do</strong><br />

as medi<strong>da</strong>s forem discor<strong>da</strong>ntes.<br />

Procedimento<br />

O procedimento pode ser realiza<strong>do</strong> <strong>no</strong> laboratório<br />

de hemodinâmica ou <strong>no</strong> centro cirúrgico, sempre<br />

equipa<strong>do</strong>s com um bom sistema de imagens digitais.<br />

Habitualmente, a anestesia regional com bloqueio peridural<br />

é suficiente.<br />

O acesso vascular para introdução <strong>da</strong> prótese é<br />

obti<strong>do</strong> por dissecção cirúrgica <strong>da</strong>s artérias femorais. O<br />

controle angiográfico é também feito por uma destas<br />

vias. Os pacientes não precisam ser submeti<strong>do</strong>s à<br />

hipotensão por nitroprussiato de sódio, momentos antes<br />

<strong>da</strong> liberação <strong>da</strong> prótese, como <strong>no</strong>s casos de aneurismas<br />

torácicos.<br />

A<br />

Figura 1 - Modelos de en<strong>do</strong>prótese tubular e reta (A); Dispositivo conten<strong>do</strong> a en<strong>do</strong>prótese <strong>no</strong> seu interior (B).<br />

B<br />

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Souza JAM, Alves CMR. <strong>Esta<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> <strong>Arte</strong> <strong>no</strong> <strong>Tratamento</strong> <strong>do</strong> <strong>Aneurisma</strong> <strong>da</strong> <strong>Aorta</strong> Ab<strong>do</strong>minal. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(4): 287-291.<br />

Após a dissecção cirúrgica <strong>da</strong> artéria femoral, um<br />

fio-guia extra-stiff 0,035 polega<strong>da</strong>s, 260 cm (p. ex.:<br />

Amplatz SuperStiff Ex,.35/260 – Boston Scientific – Med-<br />

Tech ou similar), é avança<strong>do</strong> até a raiz <strong>da</strong> aorta. Tal<br />

fio é obrigatório, pois confere a necessária rigidez<br />

para “tolerar” o peso <strong>da</strong> prótese e permite retificar<br />

pequenas angulações.<br />

Por meio de marcações anatômicas bem defini<strong>da</strong>s,<br />

como a origem <strong>da</strong>s artérias renais, identifica-se o local<br />

de liberação <strong>da</strong> prótese, sen<strong>do</strong> que, idealmente, cerca<br />

de 4 a 5 cm proximais à lesão sejam cobertos pela<br />

mesma. A utilização de uma gaiola proximal sem cobertura<br />

de poliéster é a regra e esta gaiola, habitualmente,<br />

é libera<strong>da</strong> sobre as artérias renais.<br />

A en<strong>do</strong>prótese é libera<strong>da</strong> através <strong>do</strong> recuo <strong>da</strong><br />

bainha protetora, manten<strong>do</strong>-se a estrutura <strong>da</strong> prótese<br />

imóvel até sua completa expansão. Uma vez libera<strong>do</strong><br />

o corpo principal <strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese bifurca<strong>da</strong>, ca<strong>da</strong> um<br />

<strong>do</strong>s ramos ilíacos também o é.<br />

A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> angiografia após a liberação <strong>da</strong><br />

prótese é de grande importância para se determinar o<br />

sucesso <strong>do</strong> procedimento. A presença de vazamentos,<br />

nas extremi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> stent (tipo I) ou nas junções entre<br />

eles (tipo III), são determinantes de insucesso e devem<br />

ser trata<strong>do</strong>s com pós-dilatação com balões ou implante<br />

de <strong>no</strong>va en<strong>do</strong>prótese. Vazamentos que ocorram<br />

através <strong>da</strong> malha são tolera<strong>do</strong>s, especialmente <strong>no</strong> perío<strong>do</strong><br />

imediatamente após a sua liberação (tipo IV), e se<br />

devem à incompleta coagulação <strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese.<br />

Avaliação Inicial<br />

Apesar <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s AAA ser infra-renal, apenas<br />

50% deles são passíveis de tratamento percutâneo por<br />

questões anatômicas. A adequa<strong>da</strong> avaliação anatômica<br />

é fun<strong>da</strong>mental para o sucesso <strong>do</strong> procedimento e baseia-se<br />

em imagens obti<strong>da</strong>s por meio de tomografia<br />

computa<strong>do</strong>riza<strong>da</strong> (CT) ou ressonância nuclear magnética.<br />

A ultra-so<strong>no</strong>grafia e a angiografia clássica apresentam-se<br />

limita<strong>da</strong>s, por serem incapazes de fornecer detalhes<br />

anatômicos importantes.<br />

A CT fornece imagens adequa<strong>da</strong>s, tanto <strong>da</strong> luz<br />

quanto <strong>da</strong> parede vascular, e também medi<strong>da</strong>s precisas<br />

<strong>do</strong>s diâmetros vasculares (Figura 2). Na correta obtenção<br />

destes diâmetros, deve se tomar cui<strong>da</strong><strong>do</strong> com a<br />

presença de tortuosi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> vaso. A angiografia por<br />

CT com reconstrução tridimensional permite uma melhor<br />

visualização <strong>da</strong> aorta e de suas tortuosi<strong>da</strong>des, permitin<strong>do</strong><br />

mensurações mais acura<strong>da</strong>s. Para os pacientes com<br />

contra-indicação à CT (freqüentemente relaciona<strong>da</strong> ao<br />

uso <strong>do</strong> contraste), a ressonância nuclear magnética<br />

fornece informações semelhantes e é uma alternativa.<br />

Colo proximal: deve estar, pelo me<strong>no</strong>s, 1 cm distal<br />

à artéria renal mais baixa, deve ter diâmetro próximo<br />

ao <strong>da</strong> aorta <strong>no</strong>rmal e deve estar sem trombos. É neste<br />

segmento que se fará o apoio <strong>da</strong> porção proximal <strong>da</strong><br />

en<strong>do</strong>prótese. A fixação supra-renal <strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese<br />

com uma “gaiola” descoberta facilita esta fixação. A<br />

presença de calcificação acentua<strong>da</strong> neste segmento<br />

dificulta a sua fixação.<br />

Colo distal: é o segmento distal ao aneurisma que<br />

apresenta segmento vascular de diâmetro <strong>no</strong>rmal, sem<br />

trombo. Pode estar localiza<strong>do</strong> na aorta distal, porém<br />

mais freqüentemente se dá nas artérias ilíacas, obrigan<strong>do</strong><br />

a utilização de uma prótese bifurca<strong>da</strong>.<br />

Diâmetro <strong>do</strong> aneurisma: alguns estu<strong>do</strong>s mostram<br />

que AAAs com grandes diâmetros (>6,5 cm) apresentam<br />

maiores taxas de complicação pós-procedimento.<br />

Angulação: a presença de angulação <strong>do</strong> eixo vertical<br />

<strong>da</strong> aorta maior que 60° está relaciona<strong>da</strong> a maior<br />

dificul<strong>da</strong>de na fixação <strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese, favorecen<strong>do</strong> o<br />

aparecimento de vazamento, migração e, por conseguinte,<br />

levan<strong>do</strong> ao procedimento ao insucesso.<br />

Artérias ilíacas: é freqüentemente o ponto de escolha<br />

para o ancoramento distal <strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese. Deve<br />

ser feito, preferentemente, nas artérias ilíacas comuns,<br />

porém, em casos excepcionais, como presença de<br />

dilatação de uma <strong>da</strong>s artérias ilíacas comuns, pode se<br />

considerar a oclusão de uma <strong>da</strong>s artérias ilíacas internas,<br />

com objetivo de se buscar um colo de aterrissagem<br />

mais adequa<strong>do</strong> na artéria ilíaca externa. A oclusão<br />

de ambas as artérias ilíacas internas pode ser causa de<br />

isquemia pélvica e deve ser evita<strong>da</strong>. Deve-se ressaltar<br />

que a artéria ilíaca interna ocluí<strong>da</strong> pode ser fonte de<br />

fluxo sangüíneo retrógra<strong>do</strong>, com reenchimento <strong>do</strong> saco<br />

aneurismático.<br />

Artérias femorais: devem ter calibre suficiente para<br />

permitir a introdução <strong>do</strong>s dispositivos, que variam de<br />

17 a 24 Fr. Além disso, a presença de tortuosi<strong>da</strong>de ou<br />

Considerações Anatômicas<br />

As en<strong>do</strong>próteses devem ser escolhi<strong>da</strong>s de acor<strong>do</strong><br />

com as características anatômicas, que variam de paciente<br />

para paciente. Devem ser considera<strong>do</strong>s:<br />

Figura 2 - Angiotomografia com reconstrução tridimensional de<br />

aneurisma aórtico ab<strong>do</strong>minal.<br />

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Souza JAM, Alves CMR. <strong>Esta<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> <strong>Arte</strong> <strong>no</strong> <strong>Tratamento</strong> <strong>do</strong> <strong>Aneurisma</strong> <strong>da</strong> <strong>Aorta</strong> Ab<strong>do</strong>minal. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(4): 287-291.<br />

obstruções deve ser avalia<strong>da</strong>, pois podem impedir a<br />

sua progressão. Nos casos em que as artérias femorais<br />

sejam inadequa<strong>da</strong>s para a sua introdução, a artéria<br />

ilíaca pode ser utiliza<strong>da</strong> a partir de uma abor<strong>da</strong>gem<br />

retroperitoneal.<br />

Outras considerações: trinta por cento <strong>da</strong>s pessoas<br />

apresentam artéria renal acessória e a sua oclusão<br />

pode levar a um infarto renal parcial. Se a artéria<br />

mesentérica inferior estiver pérvia, a patência <strong>da</strong> artéria<br />

mesentérica superior deve ser avalia<strong>da</strong> para prevenção<br />

de isquemia mesentérica, uma vez que a artéria mesentérica<br />

inferior vai ser ocluí<strong>da</strong> pela en<strong>do</strong>prótese.<br />

Seguimento Pós-Procedimento<br />

O sucesso <strong>do</strong> procedimento é defini<strong>do</strong> em sala,<br />

pela completa exclusão <strong>do</strong> saco aneurismático, <strong>no</strong><br />

controle angiográfico convencional (Figura 3). No primeiro<br />

dia de pós-operatório, o paciente deve ser submeti<strong>do</strong><br />

a radiografia de ab<strong>do</strong>me e a CT de controle. Estes<br />

exames devem ser repeti<strong>do</strong>s a ca<strong>da</strong> seis meses, <strong>no</strong><br />

primeiro a<strong>no</strong> e, anualmente, após. Outro recurso de<br />

valor <strong>no</strong> seguimento destes pacientes é a ultra-so<strong>no</strong>grafia<br />

ab<strong>do</strong>minal. Espera-se, além <strong>da</strong> exclusão <strong>do</strong> saco aneurismático,<br />

diminuição <strong>do</strong> diâmetro <strong>do</strong> aneurisma, que<br />

ocorre em até 50% <strong>do</strong>s pacientes.<br />

Complicações<br />

Lesão vascular: relaciona<strong>da</strong>, principalmente, à passagem<br />

<strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese pelo sistema ilíaco-femoral.<br />

Vazamento (En<strong>do</strong>leak): defini<strong>do</strong> como a presença de<br />

contraste dentro <strong>do</strong> saco aneurismático, observa<strong>do</strong> após<br />

o implante <strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese. Pode ser de quatro tipos:<br />

• TIPO I: é o vazamento que ocorre pelos pontos<br />

de ancoragem, proximal ou distal, <strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese e<br />

está presente em até 10% <strong>do</strong>s implantes 6 . Pode ser<br />

imediato ou tardio e está relaciona<strong>do</strong> à presença de<br />

trombo, de cálcio ou de irregulari<strong>da</strong>des <strong>no</strong> segmento<br />

Figura 3 - Tomografia pós-operatória mostran<strong>do</strong> exclusão <strong>do</strong> saco<br />

aneurismático.<br />

de ancoragem. Este tipo de en<strong>do</strong>leak determina reintervenção<br />

<strong>do</strong> aneurisma, cirúrgica ou en<strong>do</strong>vascular.<br />

• TIPO II: é o reenchimento <strong>do</strong> saco aneurismático<br />

por meio de fluxo sangüíneo proveniente de vasos<br />

que se originavam <strong>do</strong> aneurisma. Pacientes com este<br />

tipo de complicação devem ser monitoriza<strong>do</strong>s mais<br />

freqüentemente e reintervenções estão indica<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> aumento <strong>do</strong> volume <strong>do</strong> saco aneurismático. Devese<br />

salientar que, não raramente, este tipo de vazamento<br />

resolve-se espontaneamente.<br />

• TIPO III: é o vazamento que ocorre por disjunção<br />

entre os módulos <strong>da</strong> prótese. São habitualmente corrigi<strong>do</strong>s<br />

com a interposição de uma <strong>no</strong>va en<strong>do</strong>prótese.<br />

• TIPO IV: é aquele que ocorre por passagem de<br />

sangue através <strong>da</strong> malha <strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese. Freqüentemente<br />

observa<strong>do</strong> imediatamente após o implante, resolve-se<br />

espontaneamente com a impregnação <strong>da</strong> malha<br />

<strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese por elementos figura<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sangue,<br />

após reversão <strong>da</strong> anticoagulação.<br />

Síndrome pós-implante: Caracteriza<strong>da</strong> pela presença<br />

de febre, leucocitose e elevação <strong>da</strong>s provas inflamatórias,<br />

na ausência de infecção diag<strong>no</strong>stica<strong>da</strong>. Ocorre<br />

<strong>no</strong>s primeiros 10 dias pós-implante e é media<strong>da</strong> por<br />

ativação de media<strong>do</strong>res inflamatórios, como a interleucina-6.<br />

Deve ser trata<strong>da</strong> com administração de agentes<br />

antiinflamatórios.<br />

Resulta<strong>do</strong>s Clínicos<br />

Na <strong>no</strong>ssa série 7 de 105 pacientes consecutivos<br />

trata<strong>do</strong>s por AAA, obtivemos uma taxa de sucesso de<br />

implante <strong>da</strong> en<strong>do</strong>prótese de 97,2%. Nossos pacientes<br />

eram, pre<strong>do</strong>minantemente, <strong>do</strong> sexo masculi<strong>no</strong> (89%),<br />

com i<strong>da</strong>de média de 72 a<strong>no</strong>s e com diâmetro médio<br />

<strong>do</strong> aneurisma de 5,9 cm. Setenta e sete por cento <strong>do</strong>s<br />

pacientes eram assintomáticos e 10% se apresentaram<br />

com aneurisma roto. Nossos procedimentos foram mais<br />

freqüentemente realiza<strong>do</strong>s com bloqueio anestésico<br />

<strong>da</strong> coluna espinhal (60%) e a prótese bifurca<strong>da</strong> foi<br />

emprega<strong>da</strong> em 70% <strong>do</strong>s procedimentos.<br />

A taxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s 30 primeiros dias de<br />

pós-operatório foi de 5,6%, próxima à observa<strong>da</strong> <strong>no</strong>s<br />

principais estu<strong>do</strong>s publica<strong>do</strong>s 8,9 . Metade <strong>do</strong>s óbitos esteve<br />

diretamente relaciona<strong>da</strong> ao procedimento. Deve se lembrar<br />

que estes números representam a experiência inicial<br />

<strong>do</strong> grupo e refletem a curva de aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> procedimento,<br />

esperan<strong>do</strong>-se melhores resulta<strong>do</strong>s <strong>no</strong> futuro.<br />

Alguns estu<strong>do</strong>s comparativos entre tratamento cirúrgico<br />

clássico e en<strong>do</strong>vascular, como o EVAR, mostram<br />

vantagens deste procedimento me<strong>no</strong>s invasivo em relação<br />

ao procedimento cirúrgico clássico, com relação<br />

à mortali<strong>da</strong>de 10 . Este estu<strong>do</strong> e o DREAM 11 , na avaliação<br />

de curto prazo (30 dias), além de demonstrarem diminuição<br />

na mortali<strong>da</strong>de mostram, também, redução nas<br />

taxas de morbi<strong>da</strong>de e de permanência hospitalar.<br />

No entanto, <strong>no</strong> seguimento de <strong>do</strong>is a<strong>no</strong>s, a vanta-<br />

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Souza JAM, Alves CMR. <strong>Esta<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> <strong>Arte</strong> <strong>no</strong> <strong>Tratamento</strong> <strong>do</strong> <strong>Aneurisma</strong> <strong>da</strong> <strong>Aorta</strong> Ab<strong>do</strong>minal. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(4): 287-291.<br />

gem de sobrevi<strong>da</strong> obti<strong>da</strong> pelo procedimento percutâneo<br />

é atenua<strong>da</strong> pela presença de complicações relaciona<strong>da</strong>s<br />

ao aneurisma, especialmente os vazamentos tardios<br />

(83,1 x 80,6% de sobrevi<strong>da</strong> en<strong>do</strong>vascular x cirurgia).<br />

A taxa de reintervenção <strong>no</strong> DREAM TRIAL 11 foi maior<br />

<strong>no</strong>s pacientes trata<strong>do</strong>s com técnica en<strong>do</strong>vascular (11%<br />

x 4%). O Estu<strong>do</strong> EVAR-1 12 mostrou que, após quatro<br />

a<strong>no</strong>s de seguimento, ambas as técnicas apresentavam<br />

mortali<strong>da</strong>des semelhantes.<br />

Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> EUROSTAR 13 mostram que a chance de<br />

morte por ruptura <strong>do</strong> aneurisma, em pacientes submeti<strong>do</strong>s<br />

a tratamento en<strong>do</strong>vascular, se situa ao re<strong>do</strong>r de<br />

1%/a<strong>no</strong> e que está associa<strong>da</strong> ao desenvolvimento de<br />

vazamento <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> de acompanhamento. A presença<br />

de vazamento é causa de expansão <strong>do</strong> aneurisma.<br />

Não se observa, a partir de <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> sistema<br />

Medicare, <strong>do</strong>s <strong>Esta<strong>do</strong></strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>da</strong> América 14 , vantagem<br />

<strong>do</strong> tratamento en<strong>do</strong>vascular com relação ao custo sobre<br />

o tratamento cirúrgico. Apesar de ser procedimento<br />

mais simples, com me<strong>no</strong>r perío<strong>do</strong> de internação hospitalar<br />

e de permanência na uni<strong>da</strong>de de terapia intensiva,<br />

o alto custo <strong>da</strong>s en<strong>do</strong>próteses e <strong>do</strong>s procedimentos<br />

diagnósticos necessários para avaliação pré e pósoperatória<br />

determinam que ambos os procedimentos<br />

tenham custos semelhantes.<br />

CONCLUSÕES<br />

O tratamento en<strong>do</strong>vascular <strong>do</strong> AAA é uma alternativa<br />

potencial ao tratamento cirúrgico, especialmente<br />

para os pacientes de alto risco cirúrgico.<br />

A indicação <strong>do</strong> procedimento deve incluir critérios<br />

clínicos e, principalmente, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sa avaliação <strong>da</strong>s<br />

características anatômicas <strong>do</strong> segmento aorto-ilíaco.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s de curto prazo são bastante favoráveis<br />

ao procedimento en<strong>do</strong>vascular, porém são semelhantes<br />

<strong>no</strong> médio-longo prazo aos obti<strong>do</strong>s após tratamento<br />

cirúrgico convencional. Pacientes submeti<strong>do</strong>s à correção<br />

en<strong>do</strong>vascular devem ser segui<strong>do</strong>s com exames<br />

clínicos e de imagem periodicamente, uma vez que as<br />

chances de reintervenção não são infreqüentes.<br />

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