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Revista Repesca - Engenharia de Pesca - Uema

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

R E P E S C A<br />

ISSN<br />

1980-587X<br />

Vol. 2, N. 2 - Maio <strong>de</strong> 2007<br />

<strong>Pesca</strong>, Aqüicultura, Tecnologia do <strong>Pesca</strong>do e Ecologia Aquática<br />

UEMA X DEPAq/UFRPE<br />

Uma Parceria Que Deu Certo<br />

UEMA<br />

Biologia:<br />

Alimentação <strong>de</strong> solha no<br />

complexo <strong>de</strong> Itamaracá, PE<br />

<strong>Pesca</strong>:<br />

Frota <strong>de</strong> parelhas no Estado <strong>de</strong><br />

São Paulo<br />

DEPAq<br />

Complexo <strong>de</strong> Paulo Afonso:<br />

Avaliação dos níveis <strong>de</strong> Cádmio<br />

<strong>Pesca</strong> Artesanal:<br />

Mo<strong>de</strong>los para gestão e<br />

or<strong>de</strong>namento<br />

VEJA TAMBÉM NESTE NÚMERO<br />

Crescimento em tambaqui: uso <strong>de</strong> ração com NaCl Predação <strong>de</strong> Notonecta sobre tilápia<br />

Uso múltiplo <strong>de</strong> represas do S. Francisco: piscicultura Educação cooperativista na pesca artesanal<br />

Impactos ambientais na Ilha <strong>de</strong> Itamaracá, PE Teste: tanques pré-moldados X viveiros<br />

1<br />

ATENÇÃO: PARA NAVEGAR USE “BOOKMARKS” À ESQUERDA


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA<br />

VOLUME 2, NÚMERO 2, 2007<br />

Eds.: José Milton Barbosa e Haroldo Gomes Barroso<br />

DIRETOR<br />

Haroldo Gomes Barroso - UEMA<br />

EDITORES<br />

José Milton Barbosa - UFRPE<br />

Haroldo Gomes Barroso - UEMA<br />

DIRETOR DE MARKETING<br />

Rogério Bellini - Netuno<br />

ASSISTENTES DE EDIÇÃO<br />

Ivo Tha<strong>de</strong>u Lira Mendonça - UFRPE<br />

Fábia Gabriela Pflugrath Carraro –<br />

UFRPE<br />

Pollyanna <strong>de</strong> Moraes França Ferreira -<br />

UFRPE<br />

Webmaster<br />

Junior Bal<strong>de</strong>z - UEMA<br />

Revisão do texto<br />

Adierson Erasmo <strong>de</strong> Avezedo -<br />

UFRPE, Prof. Titular aposentado<br />

José Milton Barbosa - UFRPE<br />

COMISSÃO EDITORIAL<br />

Adierson Erasmo <strong>de</strong> Azevedo - UFRPE, Professor<br />

Catedrático aposentado<br />

Alex Augusto Gonçalves - GI <strong>Pesca</strong>do<br />

Antônio Diogo Lustosa Neto - Consultor Autônomo<br />

Athiê Jorge Guerra dos Santos - UFRPE<br />

Fernando Porto - UFRPE<br />

Heiko Brunken - Hochschule Bremen, Alemanha<br />

Joachim Carolsfeld - World Fisheries Trust, Canadá<br />

Leonardo Teixeira <strong>de</strong> Sales - FAEP-BR<br />

Luiz <strong>de</strong> Souza Viana - Emater/PR<br />

Manlio Ponzi Junior - UFRPE<br />

Maria do Carmo Figueredo Soares - UFRPE<br />

Maria do Carmo Gominho Rosa - Unioeste<br />

Maria Nasaré Bona <strong>de</strong> Alencar Araripe - UFPI<br />

Neiva Maria <strong>de</strong> Almeida - UFPB<br />

Paula Maria Gênova <strong>de</strong> Castro - Instituto <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong>/SP<br />

Paulo <strong>de</strong> Paula Men<strong>de</strong>s - UFRPE<br />

Raimundo Nonato <strong>de</strong> Lima Conceição - UFC<br />

Rogério Souza <strong>de</strong> Jesus - INPA<br />

Sérgio Macedo Gomes <strong>de</strong> Mattos - SEAP/PE<br />

Sérgio Makrakis - Unioeste<br />

Sigrid Neumann Leitão - UFPE<br />

Vanildo Souza <strong>de</strong> Oliveira - UFRPE<br />

Walter Moreira Maia Junior - UFPB<br />

2


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

<strong>Revista</strong> in<strong>de</strong>xada a base <strong>de</strong> dados sumarios.org (www.sumarios.org).<br />

© Publicada em maio <strong>de</strong> 2007<br />

Todos os direitos reservados aos Editores.<br />

Proibida a reprodução, por qualquer meio,<br />

sem autorização dos Editores.<br />

Impresso no Brasil<br />

Printed in Brazil<br />

Ficha catalográfica<br />

Setor <strong>de</strong> Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE<br />

R454<br />

<strong>Revista</strong> Brasileira <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong><br />

Nacional / editores José Milton Barbosa, Haroldo Gomes<br />

Barroso -- São Luís, Ed. UEMA, 2007.<br />

V.2. N.2. : 114p : il.<br />

Quadrimestral<br />

1. <strong>Pesca</strong> 2. Aqüicultura 3. Ecossistemas Aquáticos,<br />

4. <strong>Pesca</strong>dos – Tecnologia I. Barbosa, José Milton II. Barroso<br />

Haroldo Gomes III. Universida<strong>de</strong> Estadual do Maranhão<br />

CDD 639<br />

________________________________________________________________________________<br />

Apoio<br />

Curso <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong><br />

Universida<strong>de</strong> Estadual do Maranhão<br />

Departamento <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> e Aqüicultura<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco<br />

ISSN-1980-587X<br />

3


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA<br />

Volume 2 Maio, 2007 Número 2<br />

EDITORIAL<br />

P<br />

chamada <strong>de</strong> nossa capa “UEMA/DEPAq uma parceria que <strong>de</strong>u certo” reflete<br />

rezados Engenheiros <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong>, <strong>de</strong> formação ou por a<strong>de</strong>são, a frase <strong>de</strong><br />

uma verda<strong>de</strong> e como dizia Ernest Hemingway: “quando não estiver<br />

inspirado para escrever, comece com uma frase verda<strong>de</strong>ira, que o resto sairá<br />

naturalmente”. Na realida<strong>de</strong> a colocação dos símbolos na capa é uma<br />

homenagem às duas instituições, cuja parceria viabilizou a <strong>Revista</strong><br />

Brasileira <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> (REPESCA). Os símbolos estão saindo<br />

da parte superior da capa da revista, para dar lugar ao símbolo – provisório -<br />

da nossa (REPESCA). Isso visa dar personalida<strong>de</strong> à <strong>Revista</strong>, e segue<br />

orientação <strong>de</strong> especialistas. Os símbolos saem, mas a parceria fica.<br />

Outras providências, quanto às instruções da Associação Brasileira <strong>de</strong><br />

Editores Científicos (ABEC), visando o QUALIS B, foram implementadas:<br />

a <strong>Revista</strong> passou a ser quadrimestral (janeiro, maio e setembro) e foram<br />

feitas mudanças na formatação <strong>de</strong> algumas páginas, para aten<strong>de</strong>r às<br />

exigências legais. Outra exigência, além da qualida<strong>de</strong> dos trabalhos, é a<br />

regularida<strong>de</strong> e o tempo mínimo <strong>de</strong> três anos para a avaliação.<br />

Assim, prezados amigos, estamos na luta para que a nossa <strong>Revista</strong> seja<br />

referência na área <strong>de</strong> Recursos Pesqueiros e <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> e tenha<br />

perfil internacional. Agora, é uma questão <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> trabalho, muito<br />

trabalho. Precisamos da participação <strong>de</strong> todos.<br />

José Milton Barbosa<br />

Editor Chefe<br />

4


Sumário<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

I - ARTIGOS CIENTÍFICOS<br />

Biologia alimentar <strong>de</strong> Citharichthys spilopterus (Paralichthyidae) em um estuário tropical,<br />

Pernambuco, Brasil.<br />

Antônio Lemos VASCONCELOS FILHO; Sigrid NEUMANN-LEITÃO; Marilena<br />

RAMOS-PORTO; Zafira da Silva <strong>de</strong> ALMEIDA<br />

Frota <strong>de</strong> parelhas do Estado <strong>de</strong> São Paulo – caracterização física e operacional, e suas variações<br />

temporais.<br />

Paula Maria Gênova <strong>de</strong> CASTRO; Sergio Luis dos Santos TUTUI.<br />

Avaliação dos níveis <strong>de</strong> Cádmio em material aquático do complexo hidrelétrico <strong>de</strong> Paulo<br />

Afonso<br />

Elvidio Landim do Rego LIMA; José Patrocínio LOPES<br />

Crescimento e tolerância à salinida<strong>de</strong> em tambaqui Colossoma macropomum: efeito da<br />

utilização <strong>de</strong> ração suplementada com sal (NaCl).<br />

Fábia Gabriela Pflugrath CARRARO; Ivo Tha<strong>de</strong>u Lira MENDONÇA; José Milton<br />

BARBOSA Manlio PONZI JÚNIOR.<br />

Análise da predação <strong>de</strong> Notonecta sp. em larvas, pós-larvas e alevinos <strong>de</strong> Oreochromis niloticus<br />

(Linnaeus, 1758) varieda<strong>de</strong> “QAAT 1” com diferentes comprimentos<br />

José Patrocínio LOPES; Kariny Barbosa <strong>de</strong> SIQUEIRA; Liza Crysthiane F. <strong>de</strong><br />

OLIVEIRA; Jéssica Tatiane Moreira BRITO<br />

6<br />

13<br />

30<br />

37<br />

46<br />

II - ARTIGOS TÉCNICOS/INFORMATIVOS<br />

Contribuição dos mo<strong>de</strong>los bio-econômicos para a gestão participativa e o or<strong>de</strong>namento da pesca<br />

artesanal e <strong>de</strong> pequena escala<br />

Sérgio Macedo Gomes <strong>de</strong> MATTOS<br />

A piscicultura no submédio São Francisco: é possível conciliar o uso múltiplo dos reservatórios?<br />

Maria do Carmo Figueredo SOARES; José Patrocínio LOPES; Rogério BELLINI;<br />

Débora Queiroz MENEZES<br />

Educação cooperativista para pesca artesanal<br />

Sileno Luís <strong>de</strong> ALCANTARA e Andréa Teixeira <strong>de</strong> SIQUEIRA<br />

Teste <strong>de</strong> resistência hidrostática e comparação econômica entre tanques pré-moldados e viveiros<br />

Pedro Noberto <strong>de</strong> OLIVEIRA*<br />

Caracterização dos impactos ambientais na Ilha <strong>de</strong> Itamaracá, Pernambuco<br />

Solange da Silva LEITÃO, José Milton BARBOSA, Fábia Gabriela Pflugrath CARRARO<br />

52<br />

69<br />

84<br />

95<br />

101<br />

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 112<br />

5


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

I – ARTIGOS CIENTÍFICOS<br />

BIOLOGIA ALIMENTAR DE Citharichthys spilopterus (PARALICHTHYIDAE)<br />

EM UM ESTUÁRIO TROPICAL, PERNAMBUCO, BRASIL<br />

Antônio Lemos VASCONCELOS FILHO 1 ; Sigrid NEUMANN-LEITÃO 1* ;<br />

Marilena RAMOS-PORTO 1 ; Zafira da Silva <strong>de</strong> ALMEIDA 2<br />

1 Departamento <strong>de</strong> Oceanografia, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco;<br />

2 Departamento <strong>de</strong> Biologia - Universida<strong>de</strong> Estadual do Maranhão<br />

* E-mail: sigrid@terra.com.br<br />

Resumo - Citharichthys spilopterus (Günther 1862) é um dos peixes mais comum no sistema<br />

estuarino <strong>de</strong> Itamaracá, Pernambuco (Brasil). O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi <strong>de</strong>screver a biologia<br />

alimentar <strong>de</strong>sta espécie em um estuário tropical. As capturas para análise do conteúdo estomacal<br />

foram realizadas mensalmente no Canal <strong>de</strong> Santa Cruz, no período <strong>de</strong> janeiro a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1995.<br />

Foram utilizadas embarcação do tipo “baiteira” e re<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrasto do tipo “mangote”. A análise<br />

morfológica mostrou que a forma da cavida<strong>de</strong> buco-faringial, o estômago <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> proporção e o<br />

intestino curto, relaciona este linguado a um hábito carnívoro. Foram analisados 195 estômagos,<br />

sendo que 82% estavam com alimento e 18% vazios. A análise do conteúdo estomacal revelou que<br />

esta espécie é um consumidor <strong>de</strong> segunda ou terceira or<strong>de</strong>m, alimentando-se <strong>de</strong> Crustacea (74%,<br />

principalmente Decapoda), seguido por Teleósteos (12%). Foram verificadas diferenças sazonais na<br />

dieta da espécie, relacionadas à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> presas, predominando no conteúdo estomacal<br />

Copepoda, no período chuvoso, e Eumalacostraca, no período seco.<br />

PALAVRAS-CHAVE: teleostei, conteúdo estomacal, Citharichthys spilopterus, estuário-Pernambuco<br />

(Brasil).<br />

FEEDING BIOLOGY OF Citharichthys spilopterus (PARALICHTHYIDAE)<br />

IN A TROPICAL ESTUARY, PERNAMBUCO, BRAZIL<br />

Abstract - Citharichthys spilopterus (Günther, 1862) is a common fish in the Itamaracá estuarine<br />

system, Pernambuco (Brazil). The objective of this study was to <strong>de</strong>scribe the feeding biology of this<br />

species in a tropical estuary. The catches of this species to study the stomach content were carried<br />

out monthly at Santa Cruz Channel, from January to December 1995. A motor boat and trawl were<br />

used. The morphological analyses showed that the buco-pharyngeal cavity form the large stomach<br />

and short intestine belongs to a carnivorous species. A total of 195 stomachs were analyzed, of<br />

which 82% were full and 18% empty. The stomachs content analyses showed that this species is a<br />

second or a third or<strong>de</strong>r consumer, feeding mainly on Crustacea (74%, mainly Decapoda), followed<br />

6


7<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

by Teleostei (12%). It was observed a seasonal pattern related to preys availability, dominating<br />

Copepoda during the rainy season and Eumalacostraca during the dry season.<br />

KEYWORDS: teleostei, stomach content, Citharichthys spilopterus, estuary-Pernambuco (Brazil).<br />

INTRODUÇÃO<br />

O conhecimento da alimentação natural em peixes é essencial para se compreen<strong>de</strong>r melhor<br />

os aspectos holísticos <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> energia, tanto no nível dos indivíduos, quanto do<br />

ecossistema (Zavala-Camin, 1996). Assim, o estudo do conteúdo estomacal dos peixes é relevante,<br />

pois além <strong>de</strong> possibilitar o conhecimento dos hábitos alimentares das espécies, revela aspectos sobre<br />

a sua biologia e das relações tróficas sendo possível, ainda, reconhecer as alterações antrópicas no<br />

ecossistema (Lowe-Mcconnel, 1987).<br />

No litoral do Estado <strong>de</strong> Pernambuco, um ecossistema que tem <strong>de</strong>spertado o interesse <strong>de</strong><br />

pesquisadores é o sistema estuarino <strong>de</strong> Itamaracá, reconhecido como um local <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor<br />

cultural, econômico e ecológico, em virtu<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> habitats para espécies<br />

pesqueiras <strong>de</strong> importância comercial, como moluscos, crustáceos e peixes, representando uma<br />

unida<strong>de</strong> ecológica <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> significado sócio-econômico (Barros & Eskinazi-Leça, 2000).<br />

O sistema estuarino <strong>de</strong> Itamaracá é usado como berçário por muitas espécies <strong>de</strong> interesse<br />

comercial e este fato se <strong>de</strong>ve ao gran<strong>de</strong> suprimento <strong>de</strong> alimentos em comparação com as áreas<br />

marinhas adjacentes (Schwamborn, 1997). É também uma área diversa contendo diferentes tipos <strong>de</strong><br />

habitats a<strong>de</strong>quados aos peixes. Neste ecossistema estudos sobre interações tróficas dos peixes em<br />

geral foram feitos por Vasconcelos Filho (2000) e Vasconcelos Filho et al. (2003). Dentre as<br />

espécies que ocorrem em Itamaracá, o presente trabalho enfoca especificamente Citharichthys<br />

spilopterus, conhecida regionalmente como “solha ou linguado”, sendo a espécie mais comum na<br />

área, alcançando uma produção em peso <strong>de</strong> até 30% nas pescarias artesanais, especialmente no<br />

período chuvoso (Colônia dos <strong>Pesca</strong>dores <strong>de</strong> Itapissuma, informação verbal).<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

O sistema estuarino <strong>de</strong> Itamaracá, PE é composto principalmente pelo Canal <strong>de</strong> Santa Cruz,<br />

que se apresenta em forma <strong>de</strong> “U” e contorna a Ilha <strong>de</strong> Itamaracá no sentido Norte-Oeste-Sul,<br />

separando-a do Continente (07º41’36 “a 07º49’15” S, 34º49’19 “a 34º53’15” W). Este Canal tem<br />

aproximadamente 22 km <strong>de</strong> comprimento, larguras variáveis <strong>de</strong> até 1,5 Km e profundida<strong>de</strong> média<br />

em torno <strong>de</strong> 4 a 5 m, na maré baixa (Figura 1). Neste Canal <strong>de</strong>semboca cinco rios, sendo o<br />

Botafogo, Catuama e Igarassu os que <strong>de</strong>spejam maior volume <strong>de</strong> água (Macedo et al., 1973;<br />

Cavalcanti, 1976).<br />

As capturas da espécie Citharichthys spilopterus para análise do conteúdo estomacal foram<br />

realizadas mensalmente no Canal <strong>de</strong> Santa Cruz, especificamente nas imediações da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Itapissuma, durante o período <strong>de</strong> janeiro a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1995. Foi utilizada uma embarcação do tipo<br />

“baiteira” (Martins et al., 2005), e re<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrasto do tipo “mangote” (IBAMA, 1998), sendo este<br />

um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> armadilha próprio para peixes <strong>de</strong> fundo, com 50 metros <strong>de</strong> comprimento e malha <strong>de</strong><br />

15 mm. As coletas foram realizadas em turnos sempre diurnos e nas baixa-mares, levando-se em<br />

média 15 minutos para cada arrasto.<br />

Figura 1 – Sistema estuarino <strong>de</strong> Itamaracá, PE (Brasil) e estação <strong>de</strong> coleta, em 1995.<br />

Após as coletas, os exemplares foram fixados em formol a 10% e, em laboratório, foram<br />

<strong>de</strong>vidamente eviscerados e os estômagos preservados em formol a 4%. As análises quantoqualitativas<br />

dos organismos encontrados em cada estômago/gastrointestinal foram realizadas em<br />

lupas e microscópios binoculares, através do Método Numérico e Freqüência <strong>de</strong> Ocorrência,<br />

<strong>de</strong>scritos por Rounsefell & Everhart (1953) e Hyslop (1980). O estudo do grau <strong>de</strong> repleção (com e<br />

sem alimento), e o grau <strong>de</strong> digestão esteve <strong>de</strong> acordo com a classificação adotada por Laevastu<br />

(1971) e Santos (1978).<br />

8


RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Foram coletados 195 exemplares <strong>de</strong> Citharichthys spilopterus com comprimento total<br />

variando entre 3,0 a 16,0 cm e peso <strong>de</strong> 0,2 a 33,3 g, tratando-se, a gran<strong>de</strong> maioria, <strong>de</strong> indivíduos<br />

jovens. A análise morfológica mostrou que aspectos da cavida<strong>de</strong> buco-faringial, o estômago gran<strong>de</strong><br />

e o intestino curto <strong>de</strong>ste linguado relacionam-o a um hábito alimentar carnívoro. Este fato foi<br />

também mencionado nos estudos realizados por Castillo-Rivera et al. (2000) em um estuário<br />

mexicano.<br />

Foram analisados 195 estômagos, sendo que 82% estavam com alimento e 18% vazios. A<br />

análise geral do conteúdo estomacal <strong>de</strong>sta espécie <strong>de</strong> linguado <strong>de</strong>monstrou uma ocorrência <strong>de</strong> 27<br />

itens alimentares pertencentes aos seguintes grupos: Copepoda, Eumalocostraca, Pisces, vegetais<br />

superiores, outros organismos e sedimentos (grãos-<strong>de</strong>-areia), sendo dominante o grupo dos<br />

Crustacea, <strong>de</strong>stacando-se Crustacea Eumalacostraca (40%), seguido <strong>de</strong> Crustacea Copepoda (34%).<br />

Na análise mensal, observa-se que <strong>de</strong> abril a julho e em outubro predominam, no bolo alimentar, os<br />

Copepoda, enquanto <strong>de</strong> janeiro a março, agosto, novembro e <strong>de</strong>zembro o predomínio foi <strong>de</strong><br />

Eumalocostraca (Figura 2).<br />

Figura 2 – Abundância relativa dos principais itens alimentares <strong>de</strong> Citharichthys spilopterus em<br />

Itamaracá, Pernambuco (Brasil).<br />

Quanto à freqüência <strong>de</strong> ocorrência dos alimentos (Figura 3), a predominância foi <strong>de</strong> restos<br />

<strong>de</strong> Crustacea (91,66%), fibras vegetais superiores (83,33%), restos <strong>de</strong> peixes digeridos (83,33%)<br />

outros Copepoda semi-digerido (75%), restos <strong>de</strong> camarões semi-digeridos (66,67%) Paracalanus<br />

sp. (58,33%), <strong>de</strong>sovas <strong>de</strong> Copepoda, Calanoida (outros) e Calanopia americana cada com 50%. Os<br />

sedimentos (grãos-<strong>de</strong>-areia) somaram 75% e são ingeridos junto com o alimento <strong>de</strong> fundo.<br />

9


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Restos <strong>de</strong> Crustacea<br />

Restos <strong>de</strong> peixes digeridos<br />

Fibras <strong>de</strong> vegetais<br />

Copepoda semi-digeridos<br />

Grãos <strong>de</strong> Areia<br />

Restos <strong>de</strong> camarões sem-digeridos<br />

Paracalanus sp.<br />

Calanopia americana<br />

Calanoida (outros)<br />

Desovas <strong>de</strong> Copepoda<br />

Alphaeus spp.<br />

Caranguejos parciais não i<strong>de</strong>ntificados<br />

Larvas <strong>de</strong> Crustacea<br />

Ovos <strong>de</strong> C rustacea<br />

Penaeus spp.<br />

Salmoneus ortmanni<br />

Outros camarões semi-digeridos<br />

Gobionellus oceanicus<br />

Oithona sp.<br />

Palaemonidae - Periclimenes longicaudatus<br />

Alphaeidae - Alphaeus estuariensis<br />

Siris parciais não i<strong>de</strong>ntificados<br />

Dactyloscopus tridigitatus<br />

Amphipoda - Ampithoidae parciais<br />

Outros Amphipoda semi-digeridos não i<strong>de</strong>ntificados<br />

Isopoda Cirolanidae - Cirolana sp.<br />

Ogyrididae - Ogyri<strong>de</strong>s alphaerostris<br />

Outros peixes parciais da família Gobiidae<br />

Larvas <strong>de</strong> peixes<br />

Parvocalanus crassirostris<br />

Nauplius <strong>de</strong> Copepoda<br />

Amphipoda Corophiidae - Erichthonius hunteri<br />

Hippolytidae - Latreutes parvulus<br />

Processidae - Processa sp.<br />

Família Xanthidae<br />

Portunidae - Calinectes sp.<br />

Gerreidae - Eucinostomus spp.<br />

Bathigobius soporato<br />

Outros peixes parciais - Clupeidae<br />

Outros peixes parciais - Engraulidae<br />

Restos <strong>de</strong> Insecta<br />

Ácaros - Alacaridae<br />

0 20 40 60 80 100<br />

%<br />

Figura 3 - Freqüência <strong>de</strong> ocorrência dos principais itens alimentares do conteúdo estomacal <strong>de</strong><br />

Citharichthys spilopterus (Günther,1862), do Canal <strong>de</strong> Santa Cruz, Pernambuco.<br />

Em geral a elevada participação <strong>de</strong> Crustacea (Copepoda e Eumalacostraca, on<strong>de</strong> está<br />

incluída Mysidacea) na dieta <strong>de</strong> C. spilopterus constatada no presente estudo, coinci<strong>de</strong> com o<br />

encontrado por Toepfer & Fleeger (1995) para zonas costeiras da Lousiana (USA), on<strong>de</strong> Calanoida<br />

foi o item mais importante e por Castillo-Rivera et al. (2000) no México, on<strong>de</strong> Copepoda e<br />

Peracarida (superor<strong>de</strong>m que inclui Mysidacea) foram os itens principais para os indivíduos<br />

menores, sendo estes substituídos por peixes nos indivíduos maiores. Para Itamaracá, constatou-se<br />

também, que os peixes dominaram no conteúdo estomacal dos indivíduos maiores.<br />

Gue<strong>de</strong>s et al. (2004) realizaram estudos com Citharichthys spilopterus da Baia <strong>de</strong> Sepetiba<br />

(RJ) e verificaram que esta espécie utilizou 18 itens alimentares diferentes na dieta com os maiores<br />

índices <strong>de</strong> importância relativa sendo constituídos <strong>de</strong> Crustacea das or<strong>de</strong>ns Mysidacea, Amphipoda,<br />

10


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Decapoda e Brachyura; seguido <strong>de</strong> Polychaeta, e <strong>de</strong> peixes, principalmente Micropogonias<br />

furnieri,(Família Sicaenidae) e Gobiidae. O item Polychaeta apresentou maior contribuição em peso<br />

e Mysidacea foi o item mais freqüente e numeroso.<br />

C. spilopterus é uma espécie marinha <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, classificação que inclui as espécies <strong>de</strong><br />

origem marinha que obrigatoriamente utilizam as águas estuarinas, seja para alimentação, e ou para<br />

completar parte <strong>de</strong> seu ciclo reprodutivo (Vasconcelos Filho, 2001).<br />

CONCLUSÕES<br />

A maioria dos estômagos <strong>de</strong> Citharichthys spilopterus analisados, pertencia a indivíduos<br />

jovens, sendo que 82% <strong>de</strong>stes estômagos estavam com alimento. Predomina o item alimentar<br />

Copepoda na dieta da espécie no período chuvoso e Eumalacostraca (principalmente Mysidacea),<br />

no período seco. O item alimentar peixe é importante no conteúdo estomacal dos indivíduos<br />

maiores que 12 cm, que tiveram maior representativida<strong>de</strong> em janeiro. Citharichthys spilopterus<br />

possui hábito alimentar carnívoro, sendo consi<strong>de</strong>rado consumidor <strong>de</strong> segunda ou terceira or<strong>de</strong>m.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Barros, H.M. & Eskinazi-Leça, E. (2000). Introdução. In: Barros, H.M., Eskinazi-Leça, E., Macedo,<br />

S.J. & Lima, T. (Eds.), Gerenciamento participativo <strong>de</strong> Estuários e Manguezais (pp. 1-4). Recife:<br />

Ed. Universitária da UFPE.<br />

Castillo-Rivera, M., Kobelkowsky, A. & Chávez, A.M. (2000). Feeding biology of the<br />

Citharichthys spilopterus (Bothidae) in a tropical estuary of Mexico. J. Applied Ichthyol., 16:73-78.<br />

Cavalcanti, L.B. (1976). Caracterização do Canal <strong>de</strong> Santa Cruz (Pernambuco-Brasil), em função<br />

dos parâmetros físico-químicos e pigmentos fotossintéticos [Tese Livre Docência]. Recife: Centro<br />

<strong>de</strong> Tecnologia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

Gue<strong>de</strong>s, A.P.P., Araújo, F.G. & Azevedo, M.C.C. (2004). Estratégia trófica dos linguados<br />

Citharichthys spilopterus Günther e Symphurus tessellatus (Quoy & Gaimard) (Actinopterygii,<br />

Pleuronectiformes) na Baía <strong>de</strong> Sepetiba, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Zool. 21(4):13-7.<br />

Hyslop, E.J. (1980). Stomach contents analysis a review of methods and their application. J.<br />

Fisheries Biol. 17: 411-429.<br />

IBAMA, (1998) Estatística da <strong>Pesca</strong> 1997 - Brasil - gran<strong>de</strong>s regiões e unida<strong>de</strong>s da fe<strong>de</strong>ração.<br />

Tamandaré: CEPENE.<br />

Laevastu, T. (1971). Manual <strong>de</strong> Métodos <strong>de</strong> Biologia Pesquera. Zaragoza: Ed. Acribia.<br />

Lowe-Mcconnell, R,H. (1987). Ecological studies in tropical fish communities. Cambridge:<br />

Cambridge University Press.<br />

11


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Maringá: EDUEM.<br />

12


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

FROTA DE PARELHAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E<br />

OPERACIONAL, E SUAS VARIAÇÕES TEMPORAIS<br />

Paula Maria Gênova <strong>de</strong> CASTRO 1 * e Sergio Luis dos Santos TUTUI 2<br />

1 Centro <strong>de</strong> Pesquisas e Desenvolvimento em Recursos Hídricos, Instituto <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

2 Centro APTA do <strong>Pesca</strong>do Marinho, Instituto <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

* E-mail: paula@pesca.sp.gov.br<br />

Resumo - A partir <strong>de</strong> informações obtidas no Terminal Pesqueiro <strong>de</strong> Santos, indústrias <strong>de</strong> pesca do<br />

Guarujá, e <strong>de</strong> dados sobre a frota <strong>de</strong> parelhas sediada em São Paulo, que opera atualmente entre<br />

Montão <strong>de</strong> Trigo/SP e Cabo <strong>de</strong> Santa Marta Gran<strong>de</strong>/SC, foram analisadas as características físicas e<br />

operacionais da frota para os anos <strong>de</strong> 1975, 1980, 1993 e 1998. Utilizou-se o teste não-paramétrico<br />

<strong>de</strong> Kruskal-Wallis para testar as diferenças entre os anos analisados e, em seguida, caso fossem<br />

<strong>de</strong>tectadas essas diferenças, empregar-se-ia o método <strong>de</strong> comparações múltiplas <strong>de</strong> medianas. Os<br />

principais resultados indicaram que há diferenças nas características da frota que atuou em 1975 em<br />

relação às frotas <strong>de</strong> 1993 e 1998, enquanto que a frota <strong>de</strong> 1980 foi muito semelhante à <strong>de</strong> 1975,<br />

havendo algumas diferenças físicas e operacionais, principalmente no que se refere à potência dos<br />

motores, TBA, boca e pontal. Observou-se uma tendência gradual ao longo dos anos, no emprego<br />

<strong>de</strong> embarcações maiores e mais potentes e <strong>de</strong> aumento da participação <strong>de</strong> embarcações <strong>de</strong> casco <strong>de</strong><br />

aço. Assim, com as mudanças observadas, as comparações <strong>de</strong> CPUE envolvendo séries muito<br />

extensas po<strong>de</strong>m gerar resultados errôneos, se não for consi<strong>de</strong>rada a mudança na eficiência do<br />

esforço da pescaria nas últimas décadas em relação à <strong>de</strong> setenta, ficando evi<strong>de</strong>nte que o<br />

conhecimento das fontes <strong>de</strong> variação do coeficiente <strong>de</strong> capturabilida<strong>de</strong> (q) é necessário para uma<br />

correta estimativa da abundância dos recursos pesqueiros, qualquer que seja a abordagem dada ao<br />

gerenciamento.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Características físicas e operacionais, frota <strong>de</strong> parelha, variação temporal,<br />

Su<strong>de</strong>ste e Sul do Brasil.<br />

DOUBLE TRAWL NETS OF THE STATE OF SÃO PAULO - PHYSICAL AND<br />

OPERATIONAL CHARACTERIZATION, AND ITS TEMPORAL VARIATIONS<br />

Abstract - Physical and operational features of the paired bottom trawler’s fleet working in the area<br />

between Montão <strong>de</strong> Trigo (São Paulo State) and Cabo <strong>de</strong> Santa Marta Gran<strong>de</strong> (Santa Catarina State)<br />

were analyzed for the 1975, 1980, 1993 and 1998 years on the basis of information obtained at the<br />

Santos Fishing Harbor and Industrial plats located at Guarujá, São Paulo. The Kruskal Walis nonparametric<br />

test was used for differences among years and, if statistically <strong>de</strong>tected, the multiple<br />

comparison test for medians was employed. The main results show changes in technical and<br />

13


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

operational characteristics of the fleet in 1993 and 1998 as compared with 1975, while 1980 and<br />

1975 fleets were similar, regarding engine power, gross tonnage, beam width and <strong>de</strong>pth. A gradual<br />

trend was observed in the last years with the use of bigger and more powerful boats and an increase<br />

in the number of the steel-hulled ones. These changes can produce errors when matching up CPUE<br />

data in long time series if the variation in fishing power over the last two <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s when compared<br />

with the 1970 <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> is not properly consi<strong>de</strong>red. Thus it has been shown that evaluation of the<br />

variation sources of the catchability coefficient is mandatory for a correct estimation of the<br />

abundance of resources, whatever approach had been applied to their management.<br />

KEYWORDS: Physical and operational characteristics, bottom pair trawlers, temporal variations,<br />

Southeastern and Southern Brazil.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A ativida<strong>de</strong> pesqueira nacional coloca-se entre as quatro maiores fontes <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong><br />

proteína animal para o consumo humano (Dias-Neto & Dornelles, 1996), sendo este setor<br />

responsável pela geração <strong>de</strong> 800 mil empregos diretos e um parque industrial composto por cerca <strong>de</strong><br />

300 empresas (Dias-Neto, 2003). Nas regiões su<strong>de</strong>ste e sul do Brasil a pesca vem contribuindo com<br />

uma parcela importante em termos sócio-econômicos, gerando empregos diretos e indiretos a uma<br />

representativa parcela da população litorânea <strong>de</strong>ssas regiões. De acordo com Castro (2000), o<br />

volume anual médio <strong>de</strong> pescado <strong>de</strong>sembarcado no su<strong>de</strong>ste-sul, no período <strong>de</strong> 1986 a 1995, foi da<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 244.251 t, sendo que 61,5%, <strong>de</strong>sse total, correspondia à produção <strong>de</strong> peixes pelágicos e<br />

38,5% à produção <strong>de</strong> peixes <strong>de</strong>mersais. No estado <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong>staca-se a pesca <strong>de</strong> espécies<br />

<strong>de</strong>mersais, praticada por meio <strong>de</strong> diversas artes <strong>de</strong> pesca, tais como covos, re<strong>de</strong> <strong>de</strong> emalhe, espinhel<br />

<strong>de</strong> fundo, linha-<strong>de</strong>-mão e arrasteiros <strong>de</strong> portas, simples e com tangones, e parelha, sendo essa última<br />

direcionada, especificamente, à captura <strong>de</strong> peixes <strong>de</strong>mersais costeiros (Valentini et al., 1991;<br />

IBAMA, 1995; Castro, 2000).<br />

Diversas espécies são capturadas pela frota <strong>de</strong> parelha na região Su<strong>de</strong>ste, sendo as mais<br />

importantes Micropogonias furnieri (corvina), Macrodon ancylodon (pescada-foguete ou<br />

pescadinha real), Cynoscion jamaicensis (goete) e Balistes capriscus (peixe-porco). Além <strong>de</strong>ssas,<br />

são capturadas, em menores proporções Cynoscion guatucupa (pescada-olhuda ou maria-mole),<br />

Cynoscion leiarchus (pescada-branca), Cynoscion virescens (pescada-cambucu) e diversas espécies<br />

<strong>de</strong> bagres e linguados, além <strong>de</strong> cações e raias, <strong>de</strong>ntre outros (Valentini et al., 1991; IBAMA, 1995,<br />

Castro, 1998 e 2000; Castro et al. 2003).<br />

Historicamente, é uma das principais frotas pesqueiras da região, representando parcela<br />

importante para o setor produtivo estadual. A contribuição nos <strong>de</strong>sembarques <strong>de</strong> Santos e Guarujá,<br />

São Paulo, <strong>de</strong> pescarias provenientes da costa Su<strong>de</strong>ste/Sul, entre 1983-1987, correspon<strong>de</strong> a 70% das<br />

14


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

capturas totais da corvina, 75% das capturas da pescada-foguete (=pescadinha-real) e 72% das<br />

capturas do goete, no que se <strong>de</strong>stacam as embarcações que atuaram entre Montão <strong>de</strong> Trigo, São<br />

Paulo (24ºS) e Cabo <strong>de</strong> Santa Marta Gran<strong>de</strong>, Santa Catarina (29ºS). Apesar disso, nos últimos anos<br />

o número <strong>de</strong> embarcações que se utilizam <strong>de</strong>ssa arte <strong>de</strong> pesca vem diminuindo drasticamente,<br />

<strong>de</strong>vido principalmente à queda <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> das principais espécies alvo. Além disso, essa<br />

pescaria é protagonista <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> conflito com os arrasteiros <strong>de</strong> tangone, tanto industrial quanto<br />

artesanal, por utilizarem a mesma área <strong>de</strong> pesca e competirem pelo acesso aos mesmos recursos<br />

pesqueiros, o que, secundariamente, contribuiu para a redução <strong>de</strong>ssa frota.<br />

Porém, para o entendimento das relações <strong>de</strong> causa e efeito que levaram à redução da frota, é<br />

primordial o conhecimento <strong>de</strong> sua dinâmica, tanto em relação à ocupação das áreas <strong>de</strong> pesca, quanto<br />

ao acesso e explotação dos recursos pesqueiros. Para isso é necessário, previamente, ter-se o<br />

entendimento <strong>de</strong> suas características físicas e tecnológicas, e como esses fatores se alteraram no<br />

tempo.<br />

A pesca <strong>de</strong> arrasto, na modalida<strong>de</strong> parelha, funciona com dois barcos trabalhando em<br />

conjunto e arrastando uma única re<strong>de</strong> que atua em contato com o fundo, em profundida<strong>de</strong>s que<br />

pouco ultrapassam os 40 m. Pesos <strong>de</strong> chumbo na parte inferior e bóias na parte superior da re<strong>de</strong><br />

mantêm a abertura vertical da boca, enquanto que a distância entre as embarcações <strong>de</strong>termina a<br />

abertura horizontal da re<strong>de</strong> para capturar o produto da pescaria (Valentini et al., 1991; Castro 2000,<br />

Castro et al., 2003).<br />

Na caracterização <strong>de</strong> uma frota pesqueira, além da análise <strong>de</strong>scritiva das principais<br />

características físicas e operacionais, é recomendável que se faça um diagnóstico das relações<br />

existentes entre as diversas variáveis físicas, tratando das dimensões, volumes e medidas <strong>de</strong><br />

potência das embarcações (Fonteles-Filho, et al. 1985; Batista, 1998; Batista, 2001), obtendo-se um<br />

perfil da frota em <strong>de</strong>terminada época. Assim, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>terminar a existência <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong><br />

embarcações que po<strong>de</strong>m apresentar rendimento operacional distinto na ativida<strong>de</strong> pesqueira, pois tais<br />

características po<strong>de</strong>m afetar o coeficiente <strong>de</strong> capturabilida<strong>de</strong> (q), <strong>de</strong>finido como a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

captura <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong> pesca, que po<strong>de</strong> ser interpretada como a interação entre a abundância<br />

do recurso e o esforço <strong>de</strong> pesca.<br />

O presente artigo tem como objetivo básico caracterizar a frota <strong>de</strong> parelha do Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo, levando em conta os aspectos físicos e operacionais <strong>de</strong>ssas embarcações, em diferentes<br />

épocas, <strong>de</strong>tectando as possíveis alterações ocorridas, pois estas po<strong>de</strong>m influir na variação da<br />

capturabilida<strong>de</strong>, e conseqüentemente nas interpretações <strong>de</strong> séries temporais <strong>de</strong> captura por unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> esforço (CPUE), além das alterações na dinâmica <strong>de</strong>ssa frota.<br />

15


MATERIAL E MÉTODOS<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

A caracterização da frota em termos físicos foi realizada com base no controle das parelhas<br />

que <strong>de</strong>sembarcaram no Terminal Pesqueiro <strong>de</strong> Santos (TPS) e na Cooperativa Mista <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> Nipo-<br />

Brasileira para os anos <strong>de</strong> 1970 e 1980, enquanto que para os anos <strong>de</strong> 1993 e 1998, <strong>de</strong>vido a<br />

pulverização dos <strong>de</strong>sembarques, além dos locais citados, a frota controlada <strong>de</strong>sembarcou também<br />

nas empresas Aliança, Lutz e Franceze, no município <strong>de</strong> Guarujá, SP (Castro, 2000).<br />

As informações usadas para compor o perfil físico e operacional <strong>de</strong>ssa frota foram as<br />

controladas pelo Instituto <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong>, do Estado <strong>de</strong> São Paulo, processadas através do Sistema<br />

Gerenciador <strong>de</strong> Banco <strong>de</strong> Dados <strong>de</strong> Controle Estatístico <strong>de</strong> Produção Pesqueira Marinha –<br />

ProPesq. ® , que dispõe <strong>de</strong> informações cadastrais fornecidas pelo IBAMA, somadas a essas,<br />

utilizou-se também informações obtidas através <strong>de</strong> entrevistas com mestres e pescadores das<br />

parelhas que <strong>de</strong>scarregam nos locais citados (Castro, 2000).<br />

As medidas básicas que <strong>de</strong>terminam a estrutura do casco <strong>de</strong> uma embarcação são o<br />

comprimento, a boca, o pontal e o calado. Com tais medidas, <strong>de</strong>termina-se a existência <strong>de</strong> diferentes<br />

tipos <strong>de</strong> casco, que po<strong>de</strong>m apresentar rendimento operacional distinto na ativida<strong>de</strong> pesqueira<br />

(Batista 1998). Além das medidas referidas, também foram coletadas informações a respeito da<br />

potência do motor (HP), tonelagem <strong>de</strong> arqueação bruta (TAB), ida<strong>de</strong> e material <strong>de</strong> construção do<br />

casco (ma<strong>de</strong>ira ou aço).<br />

Braga (1961) apresenta um critério para a classificação dos barcos em categorias, levando em<br />

conta o tamanho das embarcações, sendo consi<strong>de</strong>rada categoria pequena os barcos menores e iguais<br />

a 13 m <strong>de</strong> comprimento; a categoria média os barcos maiores do que 13 e menores e iguais a 21 m e<br />

a categoria gran<strong>de</strong> maiores que 21 m <strong>de</strong> comprimento da embarcação. Dessa forma, foram<br />

analisadas as variáveis coletadas em função dos anos (1975, 1985, 1993 e 1998) e das categorias<br />

apresentadas.<br />

Sabe-se que possíveis comparações das características da frota entre anos não obe<strong>de</strong>ce a<br />

premissa <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência dos dados, porém com o intuito <strong>de</strong> ilustrar tais comparações, utilizou-se<br />

o teste não-paramétrico <strong>de</strong> Kruskal-Wallis para testar as diferenças entre os anos analisados,<br />

seguido do método <strong>de</strong> comparações múltiplas <strong>de</strong> medianas – método <strong>de</strong> Dunn – para P


RESULTADOS<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E OPERACIONAL<br />

A frota <strong>de</strong> arrasto <strong>de</strong> parelha controlada pelo Sistema Estatístico Pesqueiro do Instituto <strong>de</strong><br />

<strong>Pesca</strong> registrou 169 diferentes embarcações no período estudado. Essa frota possuiu mediana <strong>de</strong><br />

20,20 m, com valores mínimo e máximo <strong>de</strong> 8,30 m e 29,75 m, respectivamente, e potência <strong>de</strong> motor<br />

com mediana <strong>de</strong> 275 HP e valores extremos <strong>de</strong> 22 HP e 406 HP (Tabela 1).<br />

Tabela 1 - Número <strong>de</strong> observações e valores <strong>de</strong> mediana, mínimo, máximo e percentís (25% e 75%)<br />

das embarcações controladas no período <strong>de</strong> estudo, para: comprimento (m); tonelagem <strong>de</strong><br />

arqueação bruta (t métrica); boca (m); pontal (m); calado (metro) e potência do motor (HP).<br />

Comprimento TAB Boca Pontal Calado HP<br />

número <strong>de</strong> registros 255 259 246 248 180 253<br />

valor mínimo 8,30 5,63 2,68 1,00 1,39 22,00<br />

25% percentil 18,70 49,67 4,90 2,10 2,00 230,00<br />

mediana 20,20 61,79 5,40 2,40 2,20 275,00<br />

75 % percentil 21,94 81,19 5,80 2,65 2,33 320,00<br />

valor máximo 29,75 115,00 6,73 3,60 3,30 406,00<br />

Os barcos que operaram no ano <strong>de</strong> 1975 na pesca <strong>de</strong> arrasto com parelha variaram <strong>de</strong> 8,3 a<br />

29,8 m <strong>de</strong> comprimento, com mediana em 20,0 m. No ano <strong>de</strong> 1980, a frota variou <strong>de</strong> 14,5 a 29,8 m<br />

<strong>de</strong> comprimento da embarcação, e mediana <strong>de</strong> 20,5 m. Em 1993 os valores mínimo e máximo <strong>de</strong><br />

comprimento das embarcações foram <strong>de</strong> 17,3 e 24,6 m, respectivamente, com mediana <strong>de</strong> 21,0 m,<br />

enquanto que para 1998 os valores foram <strong>de</strong> 17,3; 20,2 e 24,0 m, respectivamente. Observa-se uma<br />

gran<strong>de</strong> sobreposição dos valores <strong>de</strong> comprimento entre os anos, levando-se a consi<strong>de</strong>rar que não há<br />

diferenças entre estes, apesar do teste <strong>de</strong> comparação <strong>de</strong>monstrar haver diferença significativa a 5 %<br />

entre os anos 1975 e 1993 (Tabela 2).<br />

Seguindo o mesmo comportamento observado para o comprimento da embarcação, houve<br />

uma tendência <strong>de</strong> aumento da tonelagem <strong>de</strong> arqueação bruta ao longo do tempo (Tabela 2), sendo<br />

que, apesar <strong>de</strong> haver ainda uma sobreposição entre os anos, essa não é tão acentuada quanto a<br />

observada na variável anterior, po<strong>de</strong>ndo-se consi<strong>de</strong>rar que o resultado do teste <strong>de</strong> comparação seja<br />

mais realístico, apontando haver diferenças entre o ano <strong>de</strong> 1975 e os anos <strong>de</strong> 1993 e 1998.<br />

As variáveis boca e pontal apresentaram tendências semelhantes à tonelagem <strong>de</strong> arqueação<br />

bruta, sugerindo haver diferença entre o ano <strong>de</strong> 1975 e os da década <strong>de</strong> 90; enquanto que a variável<br />

“calado” foi a que apresentou a maior homogeneida<strong>de</strong> entre os anos (Tabela 2).<br />

Para as distribuições <strong>de</strong> potência <strong>de</strong> motor, medidas em HP, o teste mostrou diferenças<br />

significativas entre os quatro períodos e o método <strong>de</strong> Dunn apontou diferenças significativas entre<br />

as medianas <strong>de</strong> HP <strong>de</strong> 1975 e 1993 e 1998. Apesar da premissa da in<strong>de</strong>pendência das amostras não<br />

17


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

po<strong>de</strong>r ser satisfeita (teste Kruskal Wallis), e conseqüentemente os resultados não po<strong>de</strong>rem ser<br />

aceitos em sua íntegra, a análise da Tabela 2 corrobora os resultados do teste, apresentando<br />

coerência ao <strong>de</strong>monstrar que a frota mais antiga difere das mais novas e a intermediária, em<br />

transição.<br />

Tabela 2 - Número <strong>de</strong> observações, mediana, valores mínimos, máximos e percentís (25 % a 75 %)<br />

para: comprimento total; tonelagem <strong>de</strong> arqueação bruta; boca; pontal; calado; potência do motor e<br />

ida<strong>de</strong>, por ano.<br />

comprimento<br />

tonelagem <strong>de</strong><br />

arqueação<br />

bruta<br />

boca<br />

pontal<br />

calado<br />

potência do<br />

motor<br />

1975 1980 1993 1998<br />

número 105 66 52 32<br />

mínimo 8,30 14,50 17,25 17,25<br />

25% percentil 16,67 18,60 20,00 20,00<br />

mediana 20,00 20,50 21,00 20,20<br />

75% percentil 21,00 22,00 23,00 21,94<br />

máximo 29,75 29,75 24,62 24,00<br />

número 107 68 52 32<br />

mínimo 5,63 13,47 19,58 19,58<br />

25% percentil 19,94 44,97 55,65 55,65<br />

mediana 56,22 61,79 67,98 65,53<br />

75% percentil 67,99 81,19 87,00 91,53<br />

máximo 111,00 115,00 115,00 115,00<br />

número 100 64 50 32<br />

mínimo 2,68 3,72 4,20 4,20<br />

25% percentil 4,18 4,83 5,26 5,26<br />

mediana 5,30 5,40 5,80 5,70<br />

75% percentil 5,50 5,53 6,10 6,10<br />

máximo 6,30 6,60 6,73 6,50<br />

número 101 65 50 32<br />

mínimo 1,00 1,50 1,82 1,82<br />

25% percentil 1,80 2,10 2,40 2,40<br />

mediana 2,30 2,40 2,63 2,60<br />

75% percentil 2,40 2,60 2,90 3,05<br />

máximo 3,15 3,40 3,60 3,38<br />

número 72 53 35 20<br />

mínimo 1,39 1,40 1,60 1,97<br />

25% percentil 1,95 1,94 2,00 2,00<br />

mediana 2,20 2,06 2,20 2,30<br />

75% percentil 2,36 2,30 2,30 2,50<br />

máximo 2,87 3,30 2,80 2,80<br />

número 105 64 52 32<br />

mínimo 22,00 135,00 188,00 188,00<br />

25% percentil 165,00 225,00 250,00 258,50<br />

mediana 240,00 250,00 309,00 309,00<br />

75% percentil 320,00 320,00 325,00 332,50<br />

máximo 406,00 406,00 406,00 365,00<br />

A Figura 1 apresenta a variação das principais características físicas e/ou operacionais em<br />

função do comprimento total. Optou-se por não correlacionar as variáveis, pois esses<br />

18


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

relacionamentos são baseados em conceitos e mo<strong>de</strong>lagens próprias da engenharia naval (Castro,<br />

2000), não sendo tal abordagem o intuito <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

TAB<br />

A<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

0 5 10 15 20 25 30 35<br />

comprimento total (m)<br />

boca (m)<br />

B<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 5 10 15 20 25 30 35<br />

comprimento total (m)<br />

4<br />

C<br />

3,5<br />

D<br />

pontal (m)<br />

3,5<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

calado (m)<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 5 10 15 20 25 30 35<br />

comprimento total (m)<br />

0<br />

0 5 10 15 20 25 30 35<br />

comprimento total (m)<br />

potência do motor (HP)<br />

E<br />

450<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

0 5 10 15 20 25 30 35<br />

comprimento total (m)<br />

Figura 1 - Diagrama <strong>de</strong> dispersão das características físicas em função do comprimento total, on<strong>de</strong>:<br />

A – tonelagem <strong>de</strong> arqueação bruta; B – boca; C – Pontal; D – Calado; E – potência do motor.<br />

Sendo: – embarcações especiais 1 e 2; – embarcações japonesas arrendadas; – <strong>de</strong>mais<br />

embarcações.<br />

A análise da figura 1 mostra uma tendência homogênea <strong>de</strong> variação, em função do<br />

comprimento total, há exceção das variáveis: calado e potência do motor, mas algumas<br />

embarcações apresentam relações diferenciadas. Para todas as relações, as embarcações japonesas<br />

arrendadas se <strong>de</strong>stacam das <strong>de</strong>mais, enquanto que para as relações utilizando tonelagem <strong>de</strong><br />

arqueação bruta, boca e pontal, uma parelha (embarcações especiais 1 e 2) apresenta diferenciação<br />

entre as <strong>de</strong>mais.<br />

19


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Por ser uma variável passível <strong>de</strong> alteração, através da substituição do motor e, consi<strong>de</strong>rando<br />

que a mesma não apresentou uma tendência clara <strong>de</strong> variação em função do comprimento,<br />

investigou-se a variação da proporção entre a potência do motor e o comprimento total, em função<br />

dos anos analisados. Com valores <strong>de</strong> medianas <strong>de</strong> 11,7; 12,9; 13,6; 13,5 HP/m para os anos <strong>de</strong><br />

1975, 1980, 1993 e 1998, respectivamente, e com a análise da Figura 2, que apresenta os valores<br />

mínimos, máximos e a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> variação entre os percentís 25% e 75%, observa-se que essa<br />

proporção pouco variou entre os anos, apesar <strong>de</strong> se observar que a variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada ano<br />

foi maior na década <strong>de</strong> 70, tornando-se mais homogênea com o passar do tempo, com o resultado<br />

do teste não apresentando diferenças.<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

1975 1980 1993 1998<br />

ano<br />

Figura 2 - Valores mínimo, máximo e intervalo entre os percentís 25% e 75% para valores <strong>de</strong><br />

proporção entre potência do motor e comprimento total, por ano.<br />

O tipo <strong>de</strong> casco foi analisado através do método log-likelihood, para proporção marginal,<br />

nesse caso, utilizando-se a proporção entre cascos <strong>de</strong> 1975, a fim <strong>de</strong> observar se há diferenças<br />

significativas na “mo<strong>de</strong>rnização” da frota. A Figura 3 apresenta a variação da freqüência relativa <strong>de</strong><br />

embarcações com os distintos tipos <strong>de</strong> casco. Observa-se claramente uma tendência <strong>de</strong> aumento da<br />

participação <strong>de</strong> embarcações <strong>de</strong> casco <strong>de</strong> aço ao longo do tempo, mas o resultado do teste indica<br />

não haver diferença significativa (P > 0,05) entre os anos.<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

1975 1980 1993 1998<br />

aço<br />

ma<strong>de</strong>ira<br />

Figura 3 - Freqüência relativa <strong>de</strong> embarcações com casco <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e <strong>de</strong> aço, por ano.<br />

20


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Por outro lado, ao se comparar o tamanho da embarcação, em função do tipo <strong>de</strong> casco<br />

(Figura 4), observa-se claramente que as embarcações maiores são majoritariamente <strong>de</strong> aço<br />

(mediana <strong>de</strong> 28 m), enquanto que as embarcações menores são <strong>de</strong> casco <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira (mediana <strong>de</strong><br />

20m), observação apresentada também no resultado do teste Mann-Whitney, <strong>de</strong> comparação entre<br />

as duas categorias <strong>de</strong> casco.<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

aço<br />

ma<strong>de</strong>ira<br />

Figura 4 - Valores mínimo, máximo e intervalo entre os percentís 25% e 75% para valores <strong>de</strong><br />

comprimento total, por material <strong>de</strong> construção dos cascos.<br />

Quanto à comparação do tipo <strong>de</strong> material <strong>de</strong> construção do casco e ano <strong>de</strong> fabricação, a<br />

Tabela 3 apresenta a freqüência absoluta <strong>de</strong> embarcações por classe anual e material <strong>de</strong> construção<br />

do casco, freqüência relativa <strong>de</strong> embarcações por classe anual <strong>de</strong> construção e freqüência relativa <strong>de</strong><br />

embarcações por material do casco. Observa-se que houve um gran<strong>de</strong> impulso na construção <strong>de</strong><br />

embarcações a partir da segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 1960, atingindo o maior número <strong>de</strong><br />

embarcações construídas entre 1970 e 1975, com 62% da frota construída nesse período. Após essa<br />

fase, a construção <strong>de</strong> embarcações se estabilizou em torno <strong>de</strong> 10 unida<strong>de</strong>s por ano, até a segunda<br />

meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 1980, após a qual não houve a entrada <strong>de</strong> nenhum novo barco na frota.<br />

Tabela 3 - Freqüência absoluta <strong>de</strong> embarcações por classe anual e material <strong>de</strong> construção do casco,<br />

freqüência relativa <strong>de</strong> embarcações por classe anual <strong>de</strong> construção e freqüência relativa <strong>de</strong><br />

embarcações por material do casco.<br />

freqüência absoluta<br />

freqüência relativa freqüência relativa por classe<br />

por categoria<br />

anual<br />

aço ma<strong>de</strong>ira total aço ma<strong>de</strong>ira aço ma<strong>de</strong>ira total<br />

1945/)50 1 4 5 5% 3% 20% 80% 100%<br />

1950/)55 0 8 8 0% 6% 0% 100% 100%<br />

1955/)60 4 10 14 21% 8% 29% 71% 100%<br />

1960/)65 3 6 9 16% 5% 33% 67% 100%<br />

1965/)70 2 30 32 11% 23% 6% 94% 100%<br />

1970/)75 1 52 53 5% 39% 2% 98% 100%<br />

1975/)80 0 10 10 0% 8% 0% 100% 100%<br />

1980/)85 2 9 11 11% 7% 18% 82% 100%<br />

1985/)90 6 4 10 32% 3% 60% 40% 100%<br />

total 19 133 152 100% 100% 13% 88% 100%<br />

21


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Por outro lado, ao analisar a Tabela 4, observa-se que a partir da segunda meta<strong>de</strong> da década<br />

<strong>de</strong> 60, houve uma tendência na construção <strong>de</strong> embarcações entre 15 e 25 m.<br />

Tabela 4 - Freqüência absoluta <strong>de</strong> embarcações por classe anual e classe <strong>de</strong> comprimento, e<br />

freqüência relativa <strong>de</strong> embarcações por classe anual <strong>de</strong> construção.<br />

freqüência absoluta<br />

freqüência relativa, por classe anual<br />

10/)15 15/)20 20/)25 25/)30 total 10/)15 15/)20 20/)25 25/)30<br />

1945/)50 4 7 1 12 33,3% 58,3% 8,3%<br />

1950/)55 4 3 1 8 50,0% 37,5% 12,5%<br />

1955/)60 4 5 9 44,4% 55,6%<br />

1960/)65 1 7 3 4 15 6,7% 46,7% 20,0% 26,7%<br />

1965/)70 7 8 25 40 17,5% 20,0% 62,5%<br />

1970/)75 1 3 37 41 2,4% 7,3% 90,2%<br />

1975/)80 4 7 11 36,4% 63,6%<br />

1980/)85 2 4 6 33,3% 66,7%<br />

1985/)90 10 10 100,0%<br />

total 17 38 87 10 152 11,2% 25,0% 57,2% 6,6%<br />

Em relação à ida<strong>de</strong> da frota, observa-se uma variabilida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong>, com uma tendência<br />

<strong>de</strong> aumento (Figura 5), com valores <strong>de</strong> medianas <strong>de</strong> 8,5; 12; 20 e 27 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, para os anos <strong>de</strong><br />

1975, 1980, 1993 e 1998, respectivamente, o mesmo sendo observado para as ida<strong>de</strong>s mínimas e<br />

máximas, com o ano <strong>de</strong> 1975 tendo valores <strong>de</strong> 1 e 29 anos; 1980, 1 e 34 anos; 1993, 7 e 37 anos;<br />

1998, 11 e 42 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. A figura 5 apresenta, para os valores mínimos e máximos, uma<br />

tendência <strong>de</strong> aumento da ida<strong>de</strong> constante a partir <strong>de</strong> 1980, enquanto que a amplitu<strong>de</strong> entre os<br />

percentís 25% e 75% se manteve proporcional, entre os anos, indicando, além <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

variabilida<strong>de</strong>, um envelhecimento constante da frota.<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

1975 1985 1993 1998<br />

Figura 5 - Valores mínimo, máximo e intervalo entre os percentís 25% e 75% para valores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

da frota, por ano.<br />

Analisando ainda a figura 5, não parece haver diferenciação temporal na ida<strong>de</strong> das<br />

embarcações <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong> sobreposição <strong>de</strong> valores; apesar disso, os resultados dos testes <strong>de</strong><br />

comparação sugerem diferenças significativas dos anos da década <strong>de</strong> 90 em relação aos anos<br />

anteriores. Apesar da tendência marcante <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> embarcações até 1975 (classe <strong>de</strong> ano <strong>de</strong><br />

1970-1975), que po<strong>de</strong> ser observada na Tabela 3, a proporção entre barcos <strong>de</strong> casco <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e <strong>de</strong><br />

22


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

aço não apresentou constância, variando entre 70% e 100% das embarcações construídas com casco<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Essa proporção é somente alterada na segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 1980, quando as<br />

embarcações <strong>de</strong> aço representaram 60% das embarcações construídas.<br />

CATEGORIAS DE CLASSIFICAÇÃO<br />

Braga (1961) apresenta um critério para a classificação das embarcações, levando em conta<br />

o tamanho das embarcações, sendo a categoria pequena composta por barcos <strong>de</strong> comprimento igual<br />

ou inferior a 13 m; a categoria média por embarcações entre 13 m e 21 m; e a categoria gran<strong>de</strong><br />

composta por barcos maiores <strong>de</strong> 21 m <strong>de</strong> comprimento. Baseado nesse critério <strong>de</strong> classificação, a<br />

frota controlada que operou durante o ano <strong>de</strong> 1975 e <strong>de</strong>sembarcou no Estado <strong>de</strong> São Paulo, era<br />

constituída <strong>de</strong> 105 parelhas, sendo composta por 25 <strong>de</strong> porte gran<strong>de</strong> (23,8 %), 71 <strong>de</strong> porte médio<br />

(67,6 %), e 9 <strong>de</strong> porte pequeno (8,6%), sendo a categoria pequena só observada nesse ano. Para<br />

1980, a frota controlada era composta <strong>de</strong> 66 parelhas, sendo que <strong>de</strong>ste total, 22 (33,3 %) pertenciam<br />

à categoria gran<strong>de</strong>, e 44 a categoria média (66,7%). No ano <strong>de</strong> 1993 havia 52 embarcações, <strong>de</strong>stas,<br />

21 (40,4 %) eram barcos gran<strong>de</strong>s e 31 <strong>de</strong> porte médio (59,6 %). Para 1998, a frota era composta por<br />

32 embarcações, sendo 11 (34,4%) <strong>de</strong> tamanho gran<strong>de</strong> e 21 (65,6 %) <strong>de</strong> porte médio (Figura 6).<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

1975 1980 1993 1998<br />

pequena média gran<strong>de</strong><br />

Figura 6 - Freqüência relativa <strong>de</strong> embarcações por categoria <strong>de</strong> comprimento, por ano, on<strong>de</strong>:<br />

categoria pequena 13 e 21 m.<br />

Para as categorias pequena e média, 100% e 97,5% das embarcações possuíam casco <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, respectivamente; para a categoria gran<strong>de</strong>, essa proporção foi alterada significativamente,<br />

segundo comparação através do método log-likelihood, para 63% (Figura 7).<br />

A Figura 8 apresenta os valores mínimos, máximos e percentís (25% e 75%) para: tonelagem<br />

<strong>de</strong> arqueação bruta, boca, pontal, calado, potência do motor e ida<strong>de</strong>, por categoria <strong>de</strong> embarcação.<br />

Observa-se que, com exceção da variável tonelagem <strong>de</strong> arqueação bruta, para a categoria pequena,<br />

as variáveis mostram uma tendência <strong>de</strong> aumento dos seus valores, apesar da gran<strong>de</strong> superposição<br />

<strong>de</strong>stes entre categorias <strong>de</strong> tamanho, com exceção da variável ida<strong>de</strong>, nesse caso, com os barcos<br />

pequenos sendo mais velhos do que os <strong>de</strong> médio e gran<strong>de</strong> portes.<br />

23


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

P M G<br />

aço<br />

ma<strong>de</strong>ira<br />

Figura 7 - Freqüência relativa <strong>de</strong> embarcações por tipo <strong>de</strong> material <strong>de</strong> construção do casco, on<strong>de</strong>:<br />

categoria pequena 13 e 21 m.<br />

140<br />

A<br />

8<br />

B<br />

120<br />

7<br />

TAB<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

boca (m)<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

pequeno médio gan<strong>de</strong><br />

0<br />

pequeno médio gan<strong>de</strong><br />

4,0<br />

C<br />

3,5<br />

D<br />

pontal (m)<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

calado (m)<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

pequeno médio gan<strong>de</strong><br />

0,0<br />

pequeno médio gan<strong>de</strong><br />

potência do motor (HP)<br />

450<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

pequeno médio gan<strong>de</strong><br />

E<br />

ida<strong>de</strong><br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

pequeno médio gan<strong>de</strong><br />

F<br />

Figura 8 - Valores mínimos, máximos e percentís (25% e 75%) para: A - tonelagem <strong>de</strong> arqueação<br />

bruta; B - boca; C - pontal; D - calado; E - potência do motor e F - ida<strong>de</strong>, por categoria <strong>de</strong><br />

embarcação.<br />

24


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

A Tabela 5 apresenta o número <strong>de</strong> observações, mediana, valores mínimos, máximos e<br />

percentís (25 % a 75 %) para a tonelagem <strong>de</strong> arqueação bruta, boca, pontal, calado, potência do<br />

motor e ida<strong>de</strong>, por ano e para as categorias parelhas gran<strong>de</strong>s e médias.<br />

Analisando a evolução da tonelagem <strong>de</strong> arqueação bruta das parelhas gran<strong>de</strong>s ao longo do<br />

tempo, observa-se que houve um ligeiro aumento temporalmente; tal tendência é ainda observada<br />

na variável pontal, mas não para a boca, calado e potência do motor. A tendência observada em<br />

algumas variáveis das parelhas gran<strong>de</strong>s não se repete para a categoria <strong>de</strong> parelhas compostas por<br />

barcos médios, cujas variáveis se apresentam mais constantes. Por outro lado, o envelhecimento da<br />

frota também é aqui observado, mas este é mais evi<strong>de</strong>nte para a categoria média do que para a<br />

gran<strong>de</strong>, passando <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>fasagem <strong>de</strong> quatro anos, em 1975, para 15 anos, em 1998.<br />

Tabela 5 - Número <strong>de</strong> observações, mediana, valores mínimos, máximos e percentís (25 % a 75 %)<br />

para: tonelagem <strong>de</strong> arqueação bruta; boca; pontal; calado; potência do motor e ida<strong>de</strong>, por ano e para<br />

as categorias gran<strong>de</strong>s e médias.<br />

1998<br />

1993<br />

1980<br />

1975<br />

Tonelagem <strong>de</strong><br />

Arqueação<br />

Bruta<br />

Parelhas Gran<strong>de</strong>s<br />

Boca Pontal Calado Potência<br />

do Motor<br />

Ida<strong>de</strong><br />

Tonelagem <strong>de</strong><br />

Arqueação<br />

Bruta<br />

Parelhas Médias<br />

Boca Pontal Calado Potência<br />

do Motor<br />

número 15,00 11,00 11,00 11,00 14,00 10 71,00 71,00 71,00 51,00 70,00 70<br />

mínimo 62,68 5,50 2,30 1,80 240,00 1 10,38 3,40 1,38 1,39 65,00 3<br />

25% percentil 62,84 5,50 2,30 1,80 305,00 4 19,94 4,27 1,83 1,95 165,00 5<br />

mediana 81,19 6,00 2,60 2,20 322,50 4 52,70 5,20 2,18 2,17 240,00 8<br />

75% percentil 86,16 6,24 2,90 2,40 336,25 7 61,79 5,45 2,40 2,30 309,00 13<br />

máximo 105,00 6,30 3,15 2,87 406,00 21 70,90 5,80 2,65 2,80 400,00 29<br />

número 14,00 14,00 14,00 14,00 14,00 14 44,00 43,00 44,00 32,00 41,00 44<br />

mínimo 62,68 5,50 2,30 1,80 300,00 1 13,47 3,72 1,50 1,40 135,00 2<br />

25% percentil 67,31 5,60 2,38 1,80 320,00 4 31,34 4,65 1,85 1,91 188,00 9<br />

mediana 84,06 6,00 2,85 2,20 322,50 9 53,02 5,10 2,35 2,03 240,00 13<br />

75% percentil 91,94 6,30 2,90 2,75 336,25 9 62,22 5,48 2,40 2,20 250,00 18<br />

máximo 114,97 6,60 3,40 3,30 406,00 12 72,10 5,60 2,65 2,70 400,00 34<br />

número 21,00 21,00 21,00 18,00 21,00 21 29,00 27,00 27,00 17,00 29,00 27<br />

mínimo 66,65 5,90 2,90 1,80 267,00 7 19,58 4,20 1,82 1,60 188,00 18<br />

25% percentil 73,15 5,90 2,90 2,00 291,00 7 52,76 5,08 2,18 2,00 240,00 22<br />

mediana 89,89 6,10 2,90 2,10 325,00 12 57,35 5,30 2,40 2,30 267,00 23<br />

75% percentil 96,97 6,50 3,20 2,37 325,00 16 67,08 5,55 2,50 2,30 320,00 26<br />

máximo 114,97 6,73 3,60 2,80 406,00 21 72,10 5,80 2,65 2,70 365,00 37<br />

número 11,00 11,00 11,00 8,00 11,00 11 19,00 19,00 19,00 12,00 19,00 19<br />

mínimo 61,00 5,90 2,90 2,00 291,00 11 19,58 4,20 1,82 1,97 188,00 25<br />

25% percentil 91,53 6,10 2,95 2,00 291,00 12 53,89 5,18 2,13 2,00 243,00 28<br />

mediana 96,97 6,10 3,10 2,00 325,00 12 57,35 5,30 2,40 2,30 267,00 28<br />

75% percentil 96,97 6,23 3,20 2,80 327,50 19 65,53 5,55 2,53 2,30 320,00 34<br />

máximo 114,97 6,50 3,20 2,80 335,00 21 72,10 5,80 2,65 2,70 365,00 42<br />

Ida<strong>de</strong><br />

25


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

DISCUSSÃO<br />

Ao se analisarem as diferentes características da frota <strong>de</strong> parelhas do Estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />

constataram-se claramente que há diferenças entre a frota que atuou em 1975 em relação à frota <strong>de</strong><br />

1993 e 1998. A frota <strong>de</strong> 1980 foi muito semelhante à <strong>de</strong> 1975, havendo, entretanto, algumas<br />

diferenças em certas características físicas e operacionais que serão aqui discutidas.<br />

Tomando-se como característica básica <strong>de</strong> uma embarcação o seu comprimento, não se<br />

observa variação nas medianas para as parelhas, entre anos. Apesar disso, observou-se que as<br />

parelhas <strong>de</strong> porte pequeno (abaixo <strong>de</strong> 15 m) e as <strong>de</strong> porte gran<strong>de</strong> (acima <strong>de</strong> 27 m), que eram comuns<br />

nas décadas <strong>de</strong> 70 e 80, transferiram suas bases <strong>de</strong> operação para portos do Rio Gran<strong>de</strong> e/ou<br />

mudaram <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesca, <strong>de</strong>saparecendo dos <strong>de</strong>sembarques <strong>de</strong> São Paulo, a partir <strong>de</strong> 1983<br />

(Castro, 2000).<br />

As parelhas pequenas, por terem menor autonomia que as parelhas médias e gran<strong>de</strong>s, atuavam<br />

com maior intensida<strong>de</strong> na costa <strong>de</strong> São Paulo, saindo ao amanhecer e retornando ao por do sol<br />

(possivelmente daí a <strong>de</strong>nominação “parelhas <strong>de</strong> sol-a-sol”). Atualmente, esses barcos operam na<br />

costa <strong>de</strong> São Paulo, no arrasto dirigido ao camarão-sete-barbas (Castro, 2000; Castro et al., 2003).<br />

As parelhas gran<strong>de</strong>s são, na maioria, barcos <strong>de</strong> fabricação japonesa, com maior autonomia<br />

que os <strong>de</strong>mais, saiam para pescar na costa sul do Brasil, preferencialmente entre Cabo <strong>de</strong> Santa<br />

Marta, SC (28º S-52º W) a Albardão, RS (33°S-52°W) e vindo a <strong>de</strong>sembarcar em São Paulo <strong>de</strong>vido<br />

à proximida<strong>de</strong> dos principais centros <strong>de</strong> comercialização (Valentini et al., 1991). Atualmente, as<br />

parelhas gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fabricação japonesa transferiram suas bases <strong>de</strong> operação para cida<strong>de</strong>s do sul e<br />

operam com outras modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca ou foram <strong>de</strong>sativadas (Castro, 2000; Castro et al., 2004).<br />

Apesar <strong>de</strong> não se observar diferenças na variável comprimento, ao longo dos anos, nota-se um<br />

progressivo aumento <strong>de</strong> potência do motor, o que po<strong>de</strong> levar à hipótese <strong>de</strong> que as embarcações<br />

incrementaram seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> pesca. Porém, a comparação das proporções entre potência e<br />

comprimento não indicou diferenças que sugerisse alteração na proporcionalida<strong>de</strong> no incremento <strong>de</strong><br />

potência do motor em relação ao comprimento das embarcações. Tal constatação apesar <strong>de</strong><br />

inicialmente ser contraditória, po<strong>de</strong> ser explicada pelo fato anteriormente citado <strong>de</strong> saída das<br />

embarcações gran<strong>de</strong>s e pequenas que, aparentemente, não altera as medianas <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong><br />

comprimento, mas sim as <strong>de</strong> potência do motor e como a relação entre essas variáveis não é linear,<br />

a proporção HP/Lt se manteve constante.<br />

Em síntese, observou-se uma tendência gradual ao longo dos anos, no emprego <strong>de</strong><br />

embarcações maiores e mais potentes na pesca <strong>de</strong> parelhas do Estado <strong>de</strong> São Paulo que atua nas<br />

regiões su<strong>de</strong>ste e sul. Este fato é facilmente explicável e está diretamente relacionado aos interesses<br />

26


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

econômicos dos armadores em obterem, <strong>de</strong> forma mais eficiente e em maior quantida<strong>de</strong>, o produto<br />

da pescaria, às vezes em <strong>de</strong>trimento da sustentabilida<strong>de</strong> do estoque.<br />

A frota do período 93-98 é mais potente do que há 30 anos atrás (Castro, 2000), porém menor<br />

em unida<strong>de</strong>s produtivas, sendo comum encontrar equipamentos como GPS (Global Position<br />

System), rádio, ecossondas digitais, radar e outros auxiliares <strong>de</strong> navegação, e assim melhor<br />

equipadas do que em épocas passadas, quando os barcos possuíam apenas bússola magnética, rádios<br />

e radiogoniômetros.<br />

Assim, com as mudanças físicas e operacionais observadas ao longo do tempo (incluam-se o<br />

uso <strong>de</strong> equipamentos eletrônicos <strong>de</strong> navegação), as comparações <strong>de</strong> CPUE envolvendo séries muito<br />

extensas po<strong>de</strong>m gerar resultados errôneos, se não for consi<strong>de</strong>rada a mudança na eficiência do<br />

esforço da pescaria <strong>de</strong> parelhas nas últimas décadas em relação à década <strong>de</strong> 70.<br />

Partindo-se da premissa <strong>de</strong> que as capturas constituem a mortalida<strong>de</strong> por pesca e são<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do coeficiente <strong>de</strong> capturabilida<strong>de</strong> (q), fica evi<strong>de</strong>nte que o conhecimento <strong>de</strong> suas fontes<br />

<strong>de</strong> variação (eficiência do aparelho <strong>de</strong> pesca, estratégia <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong>sses aparelhos,<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> do recurso às pescarias, acessibilida<strong>de</strong> do aparelho aos ambientes ocupados pelo<br />

recurso e condições biológicas e ambientais que regulam a abundância do recurso), são necessárias<br />

para uma correta estimativa da abundância dos recursos pesqueiros, qualquer que seja a abordagem<br />

dada ao gerenciamento (Richards & Schnute 1986; Arreguín-Sánchez 1999).<br />

Com isso, apesar da categorização <strong>de</strong> frotas pesqueiras ser um instrumento valioso na<br />

padronização do coeficiente <strong>de</strong> capturabilida<strong>de</strong> (q), <strong>de</strong>ve ser utilizada com muita cautela, pois além<br />

<strong>de</strong> possibilitar somente a padronização das variáveis tecnológicas que influem em q, outras<br />

variáveis importantes para a capturabilida<strong>de</strong> não seguem a padronização, como a tonelagem <strong>de</strong><br />

arqueação bruta e a potência do motor, havendo muita sobreposição entre categorias, o que também<br />

po<strong>de</strong> influir em análises <strong>de</strong> séries históricas <strong>de</strong> produção e esforço.<br />

Dessa forma, <strong>de</strong> acordo com exposto, conclui-se não ser recomendável a classificação <strong>de</strong><br />

embarcações quando se toma como base apenas o tamanho dos barcos, já que há muita<br />

sobreposição das outras variáveis que os caracterizam, entre categorias, como foi constatado para os<br />

barcos que compõem a frota <strong>de</strong> parelha.<br />

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29


30<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE CÁDMIO EM MATERIAL AQUÁTICO DO<br />

COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE PAULO AFONSO<br />

Elvidio Landim do Rego LIMA 1 ; José Patrocínio LOPES 2<br />

Companhia Hidro Elétrica do São Francisco: 1 Divisão <strong>de</strong> Meio Ambiente <strong>de</strong> Geração, DEMG<br />

2 Estação <strong>de</strong> Piscicultura <strong>de</strong> Paulo Afonso, EPPA<br />

Email: jlopes@chesf.gov.br<br />

Resumo - O cádmio, proveniente <strong>de</strong> efluentes industriais, contamina a água doce po<strong>de</strong>ndo ser<br />

rapidamente adsorvido ao material particulado e <strong>de</strong>sta forma constituir um significante <strong>de</strong>pósito<br />

<strong>de</strong>ste metal no meio aquático. Os peixes bioacumulam os metais pesados <strong>de</strong>vido à habilida<strong>de</strong> que<br />

apresentam <strong>de</strong> captá-los e acumulá-los principalmente nas guelras, no fígado, nos rins e nas pare<strong>de</strong>s<br />

intestinais, on<strong>de</strong> as concentrações encontradas freqüentemente suplantam às do próprio meio. O<br />

cádmio é captado e retido por plantas aquáticas e concentram-se no fígado e rins dos animais que se<br />

alimentam <strong>de</strong>stas plantas. O presente estudo teve o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a presença <strong>de</strong> cádmio em<br />

material aquático do Complexo Hidrelétrico <strong>de</strong> Paulo Afonso, administrado pela Companhia Hidro<br />

Elétrica do São Francisco (CHESF) em Paulo Afonso – Bahia. Segundo os Relatórios <strong>de</strong> Ensaios<br />

LABESP 518/06-3 (sedimento), 518/06-4 (água), 518/06-2 (macrófitas) e 518/06-1 (peixes), não<br />

foram <strong>de</strong>tectados valores <strong>de</strong> cádmio em nenhuma amostra do material aquático investigado, mesmo<br />

tendo sido realizado o levantamento em 10 pontos <strong>de</strong> amostragem distribuídos nos reservatórios do<br />

Complexo <strong>de</strong> Paulo Afonso. Como os resultados atuais cobriram uma área bem maior com a<br />

distribuição <strong>de</strong> vários pontos <strong>de</strong> amostragem e com a investigação <strong>de</strong> um número maior <strong>de</strong> material<br />

aquático, com relação aos estudos anteriores, fica esclarecido que não há presença <strong>de</strong> cádmio nas<br />

matrizes analisadas, bem como inexiste sua distribuição ao longo do Complexo.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Impacto ambiental, Metais pesados, Macrófitas aquáticas, Peixe<br />

AN ASSESSMENT OF CADMIUM LEVELS IN SAMPLES FROM PAULO AFONSO<br />

HYDROELECTRIC PLANT COMPLEX<br />

Abstract: The cadmium originated from industrial effluents that contaminate fresh water can be<br />

quickly adsorbed by a specific material and by this way to constitute a significant <strong>de</strong>posit for the<br />

cadmium emitted to the aquatic way. The fishes biologically absorb the metals in view of their<br />

ability that present of capturing heavy metals and to accumulate them mainly in the grill, liver,<br />

kidneys and intestinal walls, where their concentrations frequently found supplant the one of the<br />

own middle. The cadmium is captured and bound by aquatic plants and then is concentrated on the<br />

liver and kidneys of the animals that feed directly from these plants. The present study has the<br />

objective of <strong>de</strong>termining the presence of cadmium in aquatic die of Paulo Afonso's Hydroelectric<br />

Compound, administered by the São Francisco Hydroelectric Company in Paulo Afonso-Bahia.


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

According to the Reports of Rehearsals LABESP 518/06-3 (silt), 518/06-4 (water), 518/06-2<br />

(macrophytes) and 518/06-1 (fish), values of cadmium were not <strong>de</strong>tected in any sample of the<br />

investigated aquatic die, the same has been accomplished the rising in 10 sampling points<br />

distributed in the Compound of Paulo Afonso. As the current results covered a very larger area with<br />

the distribution of several sampling points and with the investigation of a larger number of aquatic<br />

die, regarding the previous studies, of course there is no presence of cadmium in the analyzed die,<br />

as well as distribution inexists along the Compound.<br />

Key-words: Environmental impact, heavy metals, aquatic macrophytes, fish.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Uma pequena porcentagem da água doce do mundo, consi<strong>de</strong>rada própria para consumo está<br />

nos rios e lagos <strong>de</strong>sempenhando papel fundamental no <strong>de</strong>senvolvimento das civilizações,<br />

fornecendo suprimento necessário <strong>de</strong> água potável, meio <strong>de</strong> transporte, geração <strong>de</strong> energia elétrica,<br />

produção <strong>de</strong> alimentos <strong>de</strong>ntre outros. O crescimento das populações gera impacto e os impactos<br />

causados muitas vezes impossibilitam o uso múltiplo <strong>de</strong>ssas coleções <strong>de</strong> água, <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong><br />

apresentarem riscos a saú<strong>de</strong> (Salbu & Stainnnes, 1995).<br />

A construção <strong>de</strong> barragens, transformando rios em gran<strong>de</strong>s reservatórios, associada ao<br />

carreamento <strong>de</strong> nutrientes para o leito dos rios através do aporte <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejos domésticos e<br />

industriais, tem levado a uma condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio no sistema hídrico, caracterizado pela<br />

gran<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nutrientes (Valente et al., 1997; Velini, 2000). Esse processo<br />

<strong>de</strong>nominado eutrofisação acarreta aumento da produtivida<strong>de</strong> biológica e ocasiona problemas que<br />

vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a estética até o comprometimento da possível utilização da água para recreação e/ou o<br />

abastecimento, <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> algas e vegetação aquática (Pinto & Cavalcanti,<br />

apud Martins & Lopes, 2004).<br />

Os ecossistemas aquáticos têm sido alterados, <strong>de</strong> maneira significativa, <strong>de</strong>vido a múltiplos<br />

impactos ambientais resultantes <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s mineradoras, construção <strong>de</strong> barragens e represas;<br />

retificação e <strong>de</strong>svio do curso natural <strong>de</strong> rios; lançamento <strong>de</strong> efluentes domésticos e industriais não<br />

tratados, <strong>de</strong>smatamento e uso ina<strong>de</strong>quado do solo em regiões ripárias e planícies <strong>de</strong> inundação <strong>de</strong><br />

espécies exóticas (Callisto et al., 2004).<br />

O Projeto “Estudo do ecossistema dos reservatórios das barragens do sistema hidroelétrico<br />

<strong>de</strong> Paulo Afonso e Itaparica”, realizado <strong>de</strong> 1996 a 2003, em suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tectou valores<br />

consi<strong>de</strong>ráveis <strong>de</strong> cádmio em material aquático, tendo sido analisadas as macrófitas aquáticas;<br />

Eichornia crassipes (baronesa), Salvinia minima (salvinia) e Egeria <strong>de</strong>nsa (eló<strong>de</strong>a) e um ciclí<strong>de</strong>o<br />

carnívoro; Cichla monoculus (tucunaré). Os valores i<strong>de</strong>ntificados foram: em E. crassipes (1,03<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

mg/kg), em S. minima (1,54 mg/kg), em E. <strong>de</strong>nsa (0,80 mg/kg) e em C. monoculus (1,20 mg/kg)<br />

(Pereira et.al., 2003).<br />

O cádmio po<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntrar sistemas aquáticos <strong>de</strong>vido ao itemperismo, erosão do solo e da<br />

camada <strong>de</strong> rocha viva, <strong>de</strong>scargas atmosféricas diretas <strong>de</strong>vido a operações industriais, vazamentos <strong>de</strong><br />

aterro, locais contaminados e pelo uso <strong>de</strong> lodos <strong>de</strong> esgoto e fertilizantes na agricultura.<br />

O cádmio proveniente <strong>de</strong> efluentes industriais que contaminam água doce po<strong>de</strong> ser<br />

rapidamente adsorvido ao material particulado e <strong>de</strong>sta forma constituir um significante <strong>de</strong>pósito<br />

para o cádmio emitido ao meio aquático (Who, 1992).<br />

Os peixes bioacumulam os metais <strong>de</strong>vido à habilida<strong>de</strong> que apresentam <strong>de</strong> captar metais<br />

pesados e acumulá-los principalmente nas guelras, fígado, rins e pare<strong>de</strong>s intestinais, on<strong>de</strong> as<br />

concentrações encontradas freqüentemente suplantam às do próprio meio. Este metal é captado e<br />

retido em plantas aquáticas e concentram-se no fígado e rins dos animais que se alimentam<br />

diretamente <strong>de</strong>stas plantas (Cardoso & Chasin, 2001).<br />

O presente estudo teve o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a presença <strong>de</strong> cádmio em material aquático<br />

do Complexo Hidrelétrico <strong>de</strong> Paulo Afonso (CHPA), administrado pela Companhia Hidro Elétrica<br />

do São Francisco (CHESF) em Paulo Afonso – Bahia.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

O material aquático utilizado para análise, neste trabalho, foram: as macrófitas; E. crassipes<br />

e E. <strong>de</strong>nsa, os peixes; C. monoculus, Oreochromis niloticus (tilápia) e Prochilodus costatus<br />

(curimatã-piau), sedimento e água. Amostras <strong>de</strong> cada matriz foram coletadas em diferentes pontos<br />

dos reservatórios; Moxotó, Paulo Afonso IV e Delmiro Gouveia do CHPA (Figura 1). O total <strong>de</strong><br />

pontos e locais <strong>de</strong> coleta para E. crassipes foram: seis pontos no reservatório Moxotó, dois em<br />

Paulo Afonso IV e dois no Delmiro Gouveia. Nos mesmos pontos e locais também foram realizadas<br />

coletas para E. <strong>de</strong>nsa, água e sedimento. A espécie C. monoculus foi coletada em seis pontos do<br />

reservatório Moxotó e dois <strong>de</strong> Paulo Afonso IV. Quanto à espécie O. niloticus teve sua coleta em<br />

dois pontos do Moxotó e dois do Delmiro Gouveia. P. costatus por sua vez foi coletada apenas em<br />

um ponto do reservatório Moxotó.<br />

O laboratório responsável pelas análises foi o laboratório do Senai-Cetind. O tempo <strong>de</strong> envio<br />

do material após coleta foi <strong>de</strong> 24 horas. Foram coletadas <strong>de</strong>z amostras <strong>de</strong> sedimento por meio <strong>de</strong><br />

Draga <strong>de</strong> Elkman. Cada amostra pesando em média 1,0 kg foi acondicionada em sacos plásticos,<br />

mantida sob refrigeração e enviada ao Laboratório. A técnica utilizada para todas matrizes foi por<br />

espectrofotometria <strong>de</strong> absorção atômica. O método utilizado pelo laboratório, para esta matriz, foi o<br />

MESP 110 (ASTM D5258/02), cujo limite <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção é 1,0 mg/kg.<br />

32


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Figura 1 - Complexo Hidrelétrico <strong>de</strong> Paulo Afonso com respectivos pontos <strong>de</strong> coleta do material<br />

aquático (Fonte: CHESF, 2006).<br />

Foram coletadas <strong>de</strong>z amostras <strong>de</strong> água, próxima ao fundo, por meio <strong>de</strong> garrafa <strong>de</strong> Nansen.<br />

Cada amostra, medindo 1,0 L, foi acondicionada em vidro escuro, contendo ácido nítrico (pH < 2),<br />

mantida sob refrigeração e enviada ao Laboratório. O método utilizado pelo laboratório, para esta<br />

matriz, foi o MESP 030 (ASTM D3557/02), cujo limite <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção é 0,010 mg/L.<br />

Foram coletadas vinte amostras <strong>de</strong> macrófitas aquáticas, sendo <strong>de</strong>z amostras <strong>de</strong> E. crassipes<br />

e <strong>de</strong>z amostras <strong>de</strong> E. <strong>de</strong>nsa, por meio <strong>de</strong> Draga <strong>de</strong> Elkman. Cada amostra pesando em média 0,2 kg<br />

foi acondicionada em sacos plásticos, mantida sob refrigeração e enviadas para análise. O método<br />

utilizado pelo laboratório, para esta matriz, foi o MESP 134, cujo limite <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção é 0,1 µg/g.<br />

Foram coletados 17 peixes, sendo nove C. monoculus, três O. niloticus e cinco P. costatus<br />

por meio <strong>de</strong> coleta local junto a pescadores, em cada reservatório do Complexo. Cada peixe,<br />

33


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

pesando em média 0,5 kg, foi acondicionado em sacos plásticos, mantidos sob refrigeração e<br />

enviados também ao laboratório do Senai-Cetind para análises. O método utilizado pelo laboratório,<br />

para esta matriz, foi o MESP 1124, cujo limite <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção é 0,17 µg/g.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Segundo os Relatórios <strong>de</strong> Ensaios LABESP 518/06-3 (sedimento), 518/06-4 (água), 518/06-<br />

2 (macrófitas) e 518/06-1 (peixes), não foram <strong>de</strong>tectados valores <strong>de</strong> cádmio em nenhuma amostra<br />

do material aquático investigado. Mesmo tendo sido realizado o levantamento em 10 pontos <strong>de</strong><br />

amostragem distribuídos nos reservatórios do Complexo <strong>de</strong> Paulo Afonso.<br />

Lopes et al. (2005), analisando o metal pesado cádmio no bivalve Corbicula fluminea<br />

proveniente do reservatório Moxotó e Estação <strong>de</strong> Piscicultura <strong>de</strong> Paulo Afonso (EPPA),<br />

encontraram concentrações <strong>de</strong>ste metal inferior a 0,07 mg/kg, sendo estes resultados inferiores ao<br />

que recomenda o Nacional Research Council (NRC) para metais pesados.<br />

Pereira et al. (2002), pesquisaram caprinos da raça “saanen” alimentados por 56 dias com<br />

ração constituída por feno <strong>de</strong> tifton, feno <strong>de</strong> E. <strong>de</strong>nsa, milho e farelo <strong>de</strong> soja, para avaliar o efeito da<br />

inclusão <strong>de</strong> Egeria na ração sobre o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>stes animais. Os caprinos alimentados com<br />

17,5% do feno <strong>de</strong> Egeria inclusa na ração resultaram em aumento da ingestão <strong>de</strong> macro e micro<br />

minerais essenciais ao <strong>de</strong>senvolvimento normal do animal, o que aumentou o ganho <strong>de</strong> peso. No<br />

entanto, os animais alimentados com inclusão <strong>de</strong> 52,5 e 70% do vegetal na ração tiveram redução<br />

no ganho <strong>de</strong> peso. Segundo os autores, o aumento dos níveis <strong>de</strong> inclusão <strong>de</strong>sta macrófita na dieta<br />

po<strong>de</strong> ter resultado em ingestão <strong>de</strong> cádmio, manganês, ferro e alumínio acima dos níveis máximos<br />

tolerados dos caprinos (NRC, 1992). Por outro lado, a absorção do cádmio é baixa e o aumento <strong>de</strong><br />

sua concentração nos rins <strong>de</strong> ovinos está diretamente relacionado com o tempo <strong>de</strong> exposição do<br />

animal a esse elemento (Lee et al., 1996 apud Pereira et. al., 2002).<br />

Segundo Machado (2002) apud Lopes & Martins (2004), a bioacumulação <strong>de</strong> metais<br />

pesados em peixes é evi<strong>de</strong>nte, mesmo quando estes contaminantes se encontram na água em<br />

concentrações quase não <strong>de</strong>tectáveis. Lopes & Martins (2004), analisando vísceras <strong>de</strong> Tilapia<br />

rendalli quando alimentada exclusivamente com a macrófita aquática E. <strong>de</strong>nsa proveniente do<br />

reservatório Delmiro Gouveia do Complexo Hidro Elétrico <strong>de</strong> Paulo Afonso (CHPA), encontraram<br />

valores <strong>de</strong> cádmio inferiores a 0,067 mg/kg. Segundo a ANVISA (1998), no seu o regulamento<br />

técnico (Portaria n o 685 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> gosto <strong>de</strong> 1998) o níveis <strong>de</strong> contaminante <strong>de</strong> cádmio para peixe e<br />

produto da pesca é 1,0 mg/kg.<br />

34


CONCLUSÕES<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Há presença <strong>de</strong> cádmio no material analisado, bem como inexiste no momento sua<br />

distribuição uniforme ao longo do Complexo <strong>de</strong> Paulo Afonso, embora os níveis <strong>de</strong>tectados estejam<br />

abaixo dos limites estabelecidos na legislação.<br />

O monitoramento da presença <strong>de</strong>ste metal nos reservatórios do Complexo <strong>de</strong> Paulo Afonso<br />

<strong>de</strong>ve ter periodicida<strong>de</strong> anual.<br />

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Etapa). Recife: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

Pereira, S.M.B., Moura Junior, A. M. & Nascimento, P. R. F. (2003). Estudo do Ecossistema dos<br />

Reservatórios do Complexo Hidroelétrico <strong>de</strong> Paulo Afonso e Itaparica (Relatório Técnico Final da<br />

3ª Etapa). Recife: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco<br />

Salbum B. & Steinnes, E. (1995). Trace elements in Natural Waters. Boca: Crc Press.<br />

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36


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

CRESCIMENTO E TOLERÂNCIA À SALINIDADE EM TAMBAQUI: EFEITO DA<br />

UTILIZAÇÃO DE RAÇÃO SUPLEMENTADA COM SAL (NaCl)<br />

Fábia Gabriela P. CARRARO 1 ; Ivo Tha<strong>de</strong>u Lira MENDONÇA 1 *;<br />

José Milton BARBOSA 2 e Manlio PONZI JÚNIOR 2<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco:<br />

1 Programa <strong>de</strong> Pós graduação em Recursos pesqueiros e Aqüicultura;<br />

2 Departamento <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> e Aqüicultura,<br />

*E-mail: ivotha<strong>de</strong>u@gmail.com<br />

Resumo - Em peixes, a salinida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> reduzir a sobrevivência e o crescimento, mas a escolha <strong>de</strong><br />

ambientes a<strong>de</strong>quados po<strong>de</strong> melhorar as condições <strong>de</strong> cultivo. O objetivo do trabalho é testar o efeito<br />

da suplementação <strong>de</strong> 8% <strong>de</strong> sal (NaCl) na ração sobre a variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento (CHet) e<br />

tolerância à salinida<strong>de</strong> em alevinos <strong>de</strong> tambaqui Colossoma macropomum, um carací<strong>de</strong>o da bacia<br />

amazônica. Foram utilizados 72 alevinos (1,2±0,4g) distribuídos em blocos casualizados, em 18<br />

unida<strong>de</strong>s experimentais alimentados sob duas condições <strong>de</strong> ração: dieta A em nove unida<strong>de</strong>s (dieta<br />

comercial 36% PB) e dieta B em nove unida<strong>de</strong>s (dieta comercial 36% PB suplementada com 8% <strong>de</strong><br />

sal NaCl), administradas diariamente em 8% da biomassa, divididas por duas porções iguais. No<br />

início e no final do período experimental foram realizadas pesagens <strong>de</strong> todos os alevinos. Em<br />

seguida, os alevinos foram submetidos à mudança brusca <strong>de</strong> água à salinida<strong>de</strong> zero para salinida<strong>de</strong>s<br />

15, 20 e 25, com três réplicas cada. Foram calculados o crescimento e sua variabilida<strong>de</strong> (CHet),<br />

<strong>de</strong>terminados a tolerância à mudança brusca salinida<strong>de</strong> (LS 50 ) e do tempo <strong>de</strong> sobrevivência à<br />

salinida<strong>de</strong> (LT 50 ). A condição B apresentou melhor crescimento em relação à condição A, embora o<br />

Chet não tenha apresentado diferenças significativas (p>0,05). O valor estimado <strong>de</strong> LS 50 em 12<br />

horas foi 11,0 na condição A, enquanto, na condição B, foi 18,0. A estimativa <strong>de</strong> LT 50 na condição<br />

A foi 17h 30min, enquanto, na condição B, a LT 50 foi 21h 20min. Análises <strong>de</strong> coincidência<br />

indicaram as tendências da condição A e condição B semelhantes (p>0,05). O CHet não foi afetado,<br />

possivelmente pelo curto espaço <strong>de</strong> tempo. Os valores estimados <strong>de</strong> LS 50 e LT 50 enquadram na<br />

espécie como estenoalina.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Crescimento heterogêneo, LS 50, LT 50, Colossoma macropomum<br />

GROWTH AND TOLERANCE TO THE SALINITY IN TAMBAQUI:<br />

EFFECT OF THE SALT (NACL) IN THE RATION.<br />

Abstract - The water’s salinity can reduce survival and growth of fiches, but the choice of a<br />

suitable Environment can improve culture’s conditions. The objective of this paper is aimed to the<br />

effect of 8% of salt (NaCl) in the ration on the growth variability (HetG) and tolerance to salinity in<br />

37


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

fingerlings of tambaqui Colossoma macropomum, a characin fish from Amazonian basin. Sevent<br />

two fingerlings (1,2±0,4g) were distributed in casual blocks, in 18 experimental units, and fed un<strong>de</strong>r<br />

two ration’s conditions: diet A in nine units (commercial diet 36% CP) and diet B in nine units<br />

(commercial diet 36% CP with supplement of 8% of salt NaCl), administered daily at a proportion<br />

of 8% of the biomass, in two equal meals. In the beginning and end at the experiment all the<br />

fingerlings were weighed. After that the fingerlings were submitted to abrupt change from fresh<br />

water to brackish water 15, 20 and 25, with three replicates each. The growth and its variability<br />

(HetG) were calculated and the tolerance to the change abrupt salinity (LS 50 ) and the time of<br />

survival to the salinity (LT 50 ). The condition B presented better growth in relation to condition A,<br />

however HetG have not presented significant differences (p>0,05). The estimated values of LS 50 in<br />

12 hours were 11,0 in the condition A, and in the condition B was 18,0. The estimate value of LT 50<br />

in the condition A was 16h 6mim, while in the condition B the LS 50 was 30h 18mim. Analyses of<br />

coinci<strong>de</strong>nce consi<strong>de</strong>r the graphics of the condition A and condition B similar (p>0,05). The HetG<br />

was not affected, possibly for the short time. The estimated values of LS 50 and LT 50 allow us to<br />

classify the species as stenohaline.<br />

Key words: Heterogeneous growth, LS 50, LT 50, Ration, Colossoma macropomum<br />

INTRODUÇÃO<br />

O tambaqui Colossoma macropomum é um carací<strong>de</strong>o natural da bacia amazônica<br />

(neotropical), <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte e crescimento rápido, dulciaqüícola, reofílico, que habita<br />

preferencialmente os gran<strong>de</strong>s rios, embora seja suscetível a migrar para áreas <strong>de</strong> várzeas e florestas<br />

submersas (Araújo-Lima & Goulding, 1997), introduzido na piscicultura brasileira pelo<br />

Departamento Nacional <strong>de</strong> Obras Contra as Secas-DNOCS é criado principalmente no Nor<strong>de</strong>ste.<br />

A região Nor<strong>de</strong>ste possui um gran<strong>de</strong> potencial para piscicultura, propiciado pelo clima, solo<br />

e topografia da região, ainda pouco aproveitado. Embora existam áreas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s recursos <strong>de</strong> água,<br />

muitos <strong>de</strong>les são salinizados (Souza et al., 2004), causando dificulda<strong>de</strong> na escolha <strong>de</strong> espécies i<strong>de</strong>ais<br />

para o cultivo, aptas a suportarem meios salinizados.<br />

Em muitas espécies <strong>de</strong> peixes, a concentração iônica da água po<strong>de</strong> reduzir a sobrevivência e<br />

o crescimento, todavia, a escolha <strong>de</strong> águas com concentrações iônicas a<strong>de</strong>quadas po<strong>de</strong> melhorar as<br />

condições <strong>de</strong> cultivo (Baldisserotto, 2002).<br />

Os peixes captam os íons essenciais que consomem do meio aquático e do alimento (NRC,<br />

1993). Entretanto, em água doce ou <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong> reduzida, os peixes são hiperosmóticos em<br />

relação ao meio, sofrendo uma perda passiva <strong>de</strong> íons (difusão), a qual <strong>de</strong>ve ser compensada pela<br />

entrada ativa <strong>de</strong> íons do meio (Na+, K+-ATPase), sob gasto energético (Marshall, 1988). Em<br />

teleósteos, existem mecanismos responsáveis pela homeostase, através da osmorregulação, que<br />

38


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

consiste em evitar ao máximo a perda <strong>de</strong> íons (ou ter mecanismos eficientes para captar íons do<br />

meio) e eliminar todo o excesso <strong>de</strong> água (ou evitar sua entrada no corpo) (Baldisserotto, 2002).<br />

Alterações na salinida<strong>de</strong> da água po<strong>de</strong>m se configurar num fator <strong>de</strong> estresse, com efeito sobre o<br />

crescimento dos animais.<br />

A variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento, reportado na literatura pelo termo crescimento heterogêneo<br />

CHet), retrata diferença na taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> cada indivíduo, po<strong>de</strong>ndo ser influenciado por<br />

fatores genéticos e populacionais (Volpato et al., 1987; Hulata et al., 1976) ou mesmo fatores<br />

estressores impostos pelo meio (Pickering et al., 1991).<br />

Estudos sobre crescimento e tolerância <strong>de</strong> peixes em ambiente salino são insipientes,<br />

principalmente no que tange às espécies neotropicais, mesmo quando estes estudos baseiam a<br />

implantação <strong>de</strong> cultivos em ambientes salinizados. Neste foco, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é testar o<br />

efeito da suplementação <strong>de</strong> sal (NaCl) na ração sobre a variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento (CHet) e<br />

tolerância à salinida<strong>de</strong> em alevinos <strong>de</strong> tambaqui Colossoma macropomum.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

O experimento foi <strong>de</strong>senvolvido no Laboratório <strong>de</strong> Avaliação Pon<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Animais<br />

Aquáticos (LaAqua) do Departamento <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> e Aqüicultura (DEPAq) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE). Os alevinos utilizados foram provenientes da Aqüicultura Mar<br />

Doce - Recife/PE.<br />

Foram utilizados 72 alevinos (1,2±0,4g; média±<strong>de</strong>svio padrão) distribuídos em<br />

<strong>de</strong>lineamento inteiramente casualizado, em 18 unida<strong>de</strong>s experimentais (tanques 12 L, contendo 4<br />

alevinos cada).<br />

Foram alimentados com duas dietas (nove réplicas cada uma): A, ração comercial 36% PB e<br />

B ração comercial 36% PB suplementada com 8% <strong>de</strong> sal NaCl, administradas diariamente, 8% da<br />

biomassa, divididas por duas porções iguais. A suplementação <strong>de</strong> NaCl na ração foi feita com a<br />

inclusão <strong>de</strong> 8% em peso da matéria seca total da ração, sendo homogeneizadas, umidificadas e<br />

novamente peletizadas.<br />

O experimento foi conduzido em duas etapas: na primeira, os alevinos foram pesados no<br />

início e no final: 22 dias e mantidos em sistema fechado com vazão média suficiente para recircular<br />

a água 10 vezes por dia. As variáveis físico-químicas foram tomadas semanalmente (26,2±0,9 ºC;<br />

OD 5,4±0,7 mg/L; pH 7,7±0,2), mantendo-se nas condições a<strong>de</strong>quadas ao bem estar dos animais.<br />

Na segunda etapa, os alevinos foram submetidos à mudança brusca, instantânea, <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />

salinida<strong>de</strong> zero para salinida<strong>de</strong> 15, 20 e 25, com três réplicas cada (Tabela 1), sem renovação <strong>de</strong><br />

água. A água mesoalina utilizada no experimento foi proveniente da diluição da água do mar, com<br />

auxílio <strong>de</strong> refratômetro ocular.<br />

39


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

O crescimento foi avaliado pela taxa <strong>de</strong> crescimento específico (SGR % g/dia):<br />

( W ) − ln( W )<br />

⎡ln<br />

f<br />

i ⎤<br />

SGR = 100 × ⎢<br />

⎥ ; on<strong>de</strong>, SGR = taxa <strong>de</strong> crescimento específico (% g/dia); ln =<br />

⎣ t ⎦<br />

logaritmo natural; W<br />

f<br />

= peso final (g); W<br />

i<br />

= peso inicial (g); e t = tempo <strong>de</strong> cultivo (dias).<br />

Tabela 1 – Delineamento experimental do efeito da adição <strong>de</strong> sal na ração sobre variabilida<strong>de</strong> do<br />

peso e tolerância à salinida<strong>de</strong> para alevinos do tambaqui Colossoma macropomum.<br />

Ração comercial<br />

(36% PB)<br />

A<br />

(Sem adição <strong>de</strong> NaCl)<br />

B<br />

(Com adição <strong>de</strong> 8% NaCl)<br />

Rréplicas<br />

9<br />

9<br />

Delineamento experimental<br />

Primeira etapa<br />

(engorda <strong>de</strong> 22 dias)<br />

Água à salinida<strong>de</strong> zero,<br />

alimentados com duas<br />

dietas<br />

Segunda etapa<br />

(mudança <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong>)<br />

Salinida<strong>de</strong><br />

Réplicas<br />

15 3<br />

20 3<br />

25 3<br />

15 3<br />

20 3<br />

25 3<br />

A variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento em peso (CHet) foi dada pela <strong>de</strong>dução estatística do<br />

coeficiente <strong>de</strong> variação do peso (CV%), a seguir (Volpato et al., 1987):<br />

σ<br />

CHet = ×100; on<strong>de</strong>, σ = <strong>de</strong>svio padrão do peso; x = média do peso da população.<br />

x<br />

Para <strong>de</strong>terminação da tolerância à mudança <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong> (LS 50 ), que é o limite <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong><br />

que leva 50% da população ao óbito; e do tempo <strong>de</strong> sobrevivência à salinida<strong>de</strong> (LT 50 ), que é o<br />

tempo que 50% da população é levada ao óbito; foram tomados dados <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> dos<br />

indivíduos, computados a cada 12 horas, <strong>de</strong> momento zero até 36 horas.<br />

Os dados <strong>de</strong> SGR e CHet foram comparados por ANOVA complementados pelo teste <strong>de</strong><br />

Tukey e os resultados obtidos para tolerância à mudança <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong> e tempo <strong>de</strong> sobrevivência a<br />

salinida<strong>de</strong> foram plotados em gráficos e analisados por coincidências <strong>de</strong> retas. Ambas as análises<br />

foram calculadas com auxílio do programa ESTAT v. 2.0 UNESP Jaboticabal, com índice <strong>de</strong><br />

significância <strong>de</strong> 5%.<br />

RESULTADOS<br />

Os resultados encontrados sobre o ganho em peso e CHet, após os 22 dias experimentais,<br />

não apresentaram diferenças significativas entre as duas condições testadas (p>0,05) (Tabela 2). A<br />

SGR (% g/dia) foi 2,64 A na Condição A, enquanto, na Condição B foi 2,56 A .<br />

40


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

As taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> (%) registradas na segunda etapa do período experimental <strong>de</strong><br />

mudança brusca <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong> são apresentadas na tabela 3.<br />

Tabela 2 – Resultados do <strong>de</strong>sempenho do tambaqui Colossoma macropomum durante período<br />

experimental, alimentados com ração comercial (36%PB) com e sem suplementação <strong>de</strong><br />

8% <strong>de</strong> sal (NaCl) (média±<strong>de</strong>sv. padrão).<br />

Condição A<br />

(Dieta sem adição <strong>de</strong> NaCl)<br />

Condição B<br />

(Dieta com adição <strong>de</strong> 8% NaCl)<br />

Peso inicial 1,1±0,1 Xx 1,2±0,1 Xx<br />

CHet inicial 9,15% Aa 10,60% Aa<br />

Peso final 2,0±0,3 Xx 2,1±0,2 Xy<br />

CHet final 13,80% Aa 10,93% Aa<br />

Letras iguais (maiúsculas – em linhas; minúsculas – em colunas) são semelhantes entre si, p>0,05<br />

Tabela 3 – Taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> (%) em relação ao tempo <strong>de</strong> exposição (horas) para alevinos <strong>de</strong><br />

tambaqui Colossoma macropomum submetidos a mudanças <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong> após período<br />

alimentar com e sem suplementação <strong>de</strong> 8% <strong>de</strong> sal (NaCl) em ração comercial (36%PB).<br />

Condição A<br />

(Dieta sem adição <strong>de</strong> NaCl)<br />

Condição B<br />

(Dieta com adição <strong>de</strong> 8% NaCl)<br />

Salinida<strong>de</strong><br />

Tempo <strong>de</strong> exposição (horas)<br />

0 12 24 36<br />

15 0 66,67 25 8,33<br />

20 0 100 - -<br />

25 0 100 - -<br />

15 0 0 91,67 8,33<br />

20 0 100 - -<br />

25 0 100 - -<br />

O valor estimado <strong>de</strong> LS 50 em 12 horas foi 11,0 na condição A, enquanto, na condição B, foi<br />

18,0 (Figura 1). A estimativa <strong>de</strong> LT 50 na condição A foi 17h 30min, enquanto, na condição B, a<br />

LT 50 foi 21h 20min (Figura 2).<br />

41


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

100<br />

Mortalida<strong>de</strong> %<br />

75<br />

50<br />

25<br />

0<br />

A = 67,642Ln(x) - 112,29<br />

R 2 = 0,8102<br />

B = 202,93Ln(x) - 536,88<br />

R 2 = 0,8102<br />

0 5 10 15 20 25<br />

Salinida<strong>de</strong><br />

Figura 1 – Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> (%) para alevinos <strong>de</strong> tambaqui Colossoma macropomum em função<br />

da salinida<strong>de</strong>, 12 horas após a mudança.<br />

LS 50 na condição A (+) = 11,0 e LS 50 na condição B (×) = 18,0.<br />

100<br />

% Mortalida<strong>de</strong><br />

75<br />

50<br />

25<br />

A = -0,1447x 2 + 5,0694x + 6,6667<br />

R 2 = 0,6632 B = -0,1447x 2 + 6,1806x - 13,333<br />

R 2 = 0,4047<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Tempo <strong>de</strong> exposição (Horas)<br />

Figura 2 – Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> (%) para alevinos do tambaqui Colossoma macropomum em função<br />

do tempo <strong>de</strong> exposição (horas), expostos à salinida<strong>de</strong> 15.<br />

LT 50 na condição A (+) = 17h 30min e LT 50 na condição B (×) = 21h 20min.<br />

As análises <strong>de</strong> coincidência entre retas indicam tendências semelhantes entre a condição A e<br />

condição B nos casos acima (Mortalida<strong>de</strong> × Salinida<strong>de</strong>; Mortalida<strong>de</strong> × Tempo <strong>de</strong> exposição;<br />

p>0,05).<br />

42


DISCUSSÃO<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

O crescimento do tambaqui durante o período experimental, quando alimentado com ração<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções <strong>de</strong> sal na composição, foi superior tendo em vista o menor gasto energético<br />

com a osmorregulação, o que aumenta a energia disponível para o crescimento. Estudos anteriores<br />

feitos em outras espécies por Suresh & Lin (1992), com Oreochromis aureus, O. niloticus e O.<br />

mossambicus e por Swanson (1992), com Chanos chanos, corroboram com esta preposição.<br />

Segundo Fauconneau et al. (1997), com Oncorhynchus mykiss, e Jonassen et al. (1997), com<br />

Oreocrhomis spilurus, as taxas <strong>de</strong> crescimento das espécies dulciaqüícolas adaptadas à água salgada<br />

são mais elevadas do que em ambiente natural, o que não aconteceu no presente trabalho, pois as<br />

taxas <strong>de</strong> crescimento em ambos os tratamentos foram semelhantes.<br />

O aumento da salinida<strong>de</strong> do meio ocasiona uma maior concentração <strong>de</strong> íons cloro (Cl - ) no<br />

epitélio branquial (Fontaínhas-Fernan<strong>de</strong>s et al., 2003). Garcia (2005) complementa esta afirmação,<br />

que em água doce a suplementação <strong>de</strong> sal na dieta não altera a concentração interna <strong>de</strong> sais, mas<br />

quando em água salinizada, existe a modificação <strong>de</strong>sta, e, por conseguinte, há o aumento da<br />

ativida<strong>de</strong> Na + , K + -ATPase no epitélio branquial, o que é marcado no crescimento (Fontaínhas-<br />

Fernan<strong>de</strong>s et al., 2003). Esta afirmação não foi verificada no presente estudo, logo, cabe verificar se<br />

a inclusão <strong>de</strong> sal na dieta interfere na concentração interna <strong>de</strong> sais e osmorregulação do tambaqui.<br />

O CHet, durante o período experimental, não foi afetado, possivelmente pelo curto período<br />

<strong>de</strong> tempo, pois Gomes et al. (2004) apenas encontra diferenças entre o CHet no cultivo <strong>de</strong> tambaqui<br />

em 60 dias, testando este fenômeno na variação <strong>de</strong> volume do ambiente <strong>de</strong> cultivo. A organização<br />

social, <strong>de</strong>limitação do espaço e distribuição alimentar possuem função antagônica ao crescimento<br />

(Volpato et al., 1987). O aumento brusco <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong> causa alterações comportamentais que<br />

corroboram na redução da influência da organização social sobre o crescimento (Mendonça, 2006).<br />

Neste trabalho, o tambaqui mostrou-se pouco resistente à mudança brusca <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong>,<br />

embora Wu & Woo (1983) comentam que este tipo <strong>de</strong> teste po<strong>de</strong> ser subestimado, já que os<br />

indivíduos do experimento não passam por uma aclimatação prévia. Em contrapartida, Kefford et<br />

al. (2004) afirmam que a estimação <strong>de</strong> tolerância aguda <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> refletir a salinida<strong>de</strong><br />

máxima suportada para peixes e macroinvertebrados. Lemarié et al. (2004) discutem a utilização<br />

<strong>de</strong>ste teste como um critério <strong>de</strong> seleção genética para crescimento e tolerância à salinida<strong>de</strong>.<br />

Os valores estimados <strong>de</strong> LS 50 e LT 50 enquadram a espécie como estenoalina. Em estudos<br />

semelhantes com espécies dulciaqüícolas, Villegas (1990) afirma que LS 50 e LT 50 aumentam <strong>de</strong><br />

acordo com a ida<strong>de</strong> em Oreochromis niloticus, O. mossambicus e o seu híbrido, e Mendonça (2006)<br />

afirma que, em Parachromis managuensis, a suplementação por sal na dieta interfere positivamente<br />

na LS 50 , sendo esta proposição dispa aos presentes resultados, po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>ver-se à fisiologia<br />

osmótica do tambaqui.<br />

43


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Volpato, G.L. et al. (1987). Comportamento <strong>de</strong> dominância e crescimento em peixes. In: Encontro<br />

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marine fish: implications for estuarine fish culture. Aquaculture. 32: 175-81.<br />

45


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

ANÁLISE DA PREDAÇÃO DE Notonecta sp. SOBRE JUVENIS<br />

DE TILÁPIA, VARIEDADE “QAAT 1”<br />

José Patrocínio LOPES*; Kariny Barbosa <strong>de</strong> SIQUEIRA;<br />

Liza Crysthiane F. <strong>de</strong> OLIVEIRA; Jéssica Tatiane Moreira BRITO<br />

Departamento <strong>de</strong> Educação, Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia, Campus VIII<br />

*E-mail: jpatrobr@gmail.com<br />

Resumo – Com o represamento do rio São Francisco, pela Companhia Hidro Elétrica do São<br />

Francisco (CHESF), para o aproveitamento do seu potencial hidroelétrico, houve a formação <strong>de</strong><br />

lagos artificiais, o que possibilitou o <strong>de</strong>senvolvimento da aqüicultura na região <strong>de</strong> Paulo Afonso,<br />

Bahia. A piscicultura com o cultivo <strong>de</strong> tilápia é o ramo da aqüicultura que mais se difundiu no<br />

sertão baiano. Entretanto, vários problemas relacionados a doenças e a predadores vêm acarretando<br />

uma série <strong>de</strong> prejuízos econômicos aos piscicultores, levando até à inviabilização <strong>de</strong> alguns<br />

empreendimentos. Dentre esses problemas, <strong>de</strong>staca-se a predação das larvas, pós-larvas e alevinos<br />

<strong>de</strong> peixes por ninfas <strong>de</strong> insetos, o que tem constituído um gran<strong>de</strong> problema, comum não só no<br />

Brasil, mas também em outros países. O presente trabalho tem como objetivo verificar a predação<br />

da noctonecta (Noctonecta sp.) em larvas, pós-larvas e alevinos <strong>de</strong> Oreochomis niloticus varieda<strong>de</strong><br />

“QAAT 1”, durante os primeiros 30 dias <strong>de</strong> cultivo. O experimento foi realizado na Estação <strong>de</strong><br />

Piscicultura <strong>de</strong> Paulo Afonso (EPPA), pertencente à CHESF, no período <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> outubro a 18 <strong>de</strong><br />

novembro <strong>de</strong> 2005. As larvas <strong>de</strong> tilápias foram estocadas em incubadoras, em três tratamentos e<br />

quatro repetições, cada um. Logo após, foram introduzidas as notonectas, visando observar a<br />

predação <strong>de</strong>ste inseto sobre as tilápias e a influência do comprimento <strong>de</strong>ste peixe na predação.<br />

Diante dos resultados obtidos, po<strong>de</strong>-se afirmar que este inseto aquático é capaz <strong>de</strong> infligir perdas<br />

significativas no cultivo <strong>de</strong> tilápias nas fases <strong>de</strong> larvas, pós-larvas e pequenos alevinos até o<br />

comprimento médio <strong>de</strong> 11 a 12 mm. A maior incidência <strong>de</strong> predação do inseto em larvas <strong>de</strong> tilápias<br />

ocorre quando o predador e a presa apresentam comprimentos equivalentes.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Mortalida<strong>de</strong>, Oreochromis niloticus, Larvas, Pós-Larvas, Alevinos<br />

PREDATOR ANALYSIS OF THE Notonecta sp. ABOUT TILAPIA<br />

JUVENILES VARIETY "QAAT 1"<br />

Abstract - The São Francisco River was dammed by the São Francisco Hydroelectric Company<br />

(CHESF) for the use of its hydroelectric potential, promoting artificial formation of lakes, which<br />

ma<strong>de</strong> possible large <strong>de</strong>velopment of the aquaculture in the region of Paulo Afonso town – Bahia<br />

state. The fish farming is Tilapia, the branch of the aquaculture that more spread out in the<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

hinterland of Bahia. However, several problems related to diseases and to predators are sources of<br />

risk for fish farmers as economical damages, leading to the inviabilization of the enterprise. Among<br />

those problems stands out the predaction of larvaes, post-larvaes and alevines for nymphs of several<br />

insects, what has been constituting a great problem not only in Brazil, but also in other countries.<br />

The present work intents to verify the predaction by Noctonecta in Oreochromis niloticus of the<br />

Variety “QAAT 1” larvaes and pow<strong>de</strong>r-larvaes, for 30 days of cultivation. The experiment was<br />

accomplished in the Station of Fish Farming of Paulo Afonso (EPPA) which belongs to CHESF,<br />

during the period of October 19 to November 18, 2005, and tilapia larvaes were stocked in<br />

incubators accomplishing three treatments, with four repetitions. After that they were introduced the<br />

Notonectas, seeking to observe the tilapia predaction of this insect and the influence of the length of<br />

this fish and predaction. Results from shows that this aquatic insect is capable to inflict significant<br />

losses in the tilapia’s cultivation while larvae, post-larvae and small alevine phases until the<br />

medium length from 11 to 12 mm, being supposed that the largest inci<strong>de</strong>nce of Notonecta<br />

predaction in tilapia larvae happens in equivalent sizes between the predator and the prey.<br />

KEYWORDS - Mortality, Oreochromis niloticus, Larvaes, Post-Larvaes, Alevines<br />

INTRODUÇÃO<br />

O cultivo <strong>de</strong> tilápias começou no Quênia em 1924, e no Congo, em 1937. As primeiras<br />

informações sobre a tilápia como espécie promissora para a aqüicultura surgiram no início da<br />

década <strong>de</strong> 50, com citações sobre a tilapicultura como um dos melhores negócios para piscicultores<br />

e uma nova fonte para obtenção <strong>de</strong> proteínas (Lima, 2001).<br />

Segundo Borghetti et. al. (2003), a aqüicultura brasileira apresentou um aumento <strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong> 925% durante o período <strong>de</strong> 1990 a 2001, correspon<strong>de</strong>nte a um ganho <strong>de</strong> 190 mil<br />

toneladas, sendo Cyprinus carpio (carpa comum), Oreochromis niloticus (tilápia) e Litopenaeus<br />

vannamei (camarão branco do pacífico) os organismos mais cultivados. Enquanto a aqüicultura<br />

mundial teve um crescimento <strong>de</strong> 187% durante o mesmo período.<br />

O Nor<strong>de</strong>ste brasileiro enquadra-se nas condições hídricas e climáticas i<strong>de</strong>ais para o cultivo<br />

<strong>de</strong> peixes tropicais, a exemplo da tilápia (Santiago et al., 1999; Saldanha et al. 1999). Neste sentido,<br />

segundo Cavalheiro et al. (1999), muitas pesquisas vem sendo realizadas no Brasil, com o objetivo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver tecnologia própria, a<strong>de</strong>quada as diversificadas condições climáticas do país,<br />

promovendo um maior <strong>de</strong>senvolvimento da piscicultura nacional.<br />

Os represamentos do rio São Francisco, para produção <strong>de</strong> energia, propiciou condições<br />

favoráveis para a piscicultura, especialmente em tanques-re<strong>de</strong> na região <strong>de</strong> Paulo Afonso, on<strong>de</strong> a<br />

ativida<strong>de</strong> é uma referência nacional, Entretanto, problemas relacionados a predadores vêm<br />

acarretando prejuízos econômicos aos piscicultores, levando a inviabilização <strong>de</strong> alguns<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

empreendimentos. Destes problemas, <strong>de</strong>staca-se a predação <strong>de</strong> larvas, pós-larvas e alevinos por<br />

ninfas <strong>de</strong> insetos, um problema, comum no Brasil e em outros países.<br />

A produção <strong>de</strong> alevinos é parte fundamental no processo <strong>de</strong> produção (Lin<strong>de</strong>nberg, 1997).<br />

Vários fatores influenciam para o sucesso ou não <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>, sendo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância, o<br />

efeito predatório dos insetos notonectí<strong>de</strong>os sobre larvas e pós-larvas, nas fases iniciais do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos peixes, pois os notonectí<strong>de</strong>os são insetos aquáticos predadores capazes <strong>de</strong><br />

proporcionar perdas significativas à criação quando não controlados <strong>de</strong> forma eficiente (Rezen<strong>de</strong>,<br />

et al., 2004), o que sugere a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se avaliar esta acertiva.<br />

O objetivo do presente trabalho foi verificar a predação <strong>de</strong> Notonecta sp. sobre larvas, póslarvas<br />

e alevinos <strong>de</strong> Oreochomis niloticus, varieda<strong>de</strong> QAAT 1, durante 30 dias <strong>de</strong> cultivo.<br />

A Notonecta (Figura 1) é um carnívoro<br />

voraz e ataca tudo o que estiver ao seu alcance.<br />

No ataque se joga para frente e agarra a presa<br />

com as patas dianteiras, injetando-lhe um<br />

líquido que a mata e dissolve sua carne.<br />

Guarda uma bolha <strong>de</strong> ar em dois sulcos<br />

ventrais providos <strong>de</strong> pêlos impermeáveis, para<br />

renovar esta bolha faz aflorar a ponta do<br />

abdômen, quando está em repouso abaixo da<br />

superfície da água.<br />

Figura 1. Adulto <strong>de</strong> Notonecta sp.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

O experimento foi realizado na Estação <strong>de</strong> Piscicultura <strong>de</strong> Paulo Afonso (EPPA) pertencente<br />

a CHESF, no período <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> outubro a 18 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2005, on<strong>de</strong> os exemplares <strong>de</strong><br />

Notonecta sp. Foram coletados.<br />

As larvas e pós-larvas <strong>de</strong> tilápia-do-nilo, varieda<strong>de</strong> QAAT1 foram provenientes do Centro<br />

<strong>de</strong> Produção <strong>de</strong> Alevinos - CPA da empresa AAT International Ltda, localizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paulo<br />

Afonso, Bahia, foram separadas em ban<strong>de</strong>jas <strong>de</strong> plástico e em seguida colocadas em sacos plásticos<br />

com 1/3 <strong>de</strong> oxigênio e transportadas para a Estação <strong>de</strong> Piscicultura da CHESF.<br />

O experimento constou <strong>de</strong> três tratamentos, em função do comprimento dos animais: T1, T2<br />

e T3 (quatro repetições, cada um) utilizando-se 12 calhas com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 50 L <strong>de</strong> água. Em<br />

seguida foram estocadas 200 larvas <strong>de</strong> tilápia por calha (4 larvas/L), assim <strong>de</strong>scritos: T1: 5-7 mm<br />

(ainda com saco vitelínico); T2: 8-10 mm e T3: 11-13 mm. A escolha dos comprimentos foi<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

baseada no tamanho do inseto (10 mm), visto que a predação po<strong>de</strong> estar relacionada ao tamanho da<br />

presa e do predador.<br />

Após a distribuição das larvas <strong>de</strong> tilápia nas calhas, cada tratamento T1, T2 e T3 teve em<br />

suas calhas a introdução <strong>de</strong> 10 notonectas, o equivalente a 1 inseto para cada 20 tilápias, visando<br />

observar a predação <strong>de</strong>ste inseto sobre este peixe e a influência do comprimento <strong>de</strong>ste peixe na<br />

predação. As calhas tiveram sistema <strong>de</strong> renovação constante visando primar pela qualida<strong>de</strong> da água.<br />

As larvas e pós-larvas <strong>de</strong> tilápia foram alimentadas diariamente com ração para alevinagem inicial<br />

contendo 55% <strong>de</strong> proteína bruta.<br />

Para análise estatística dos dados, aplicou-se o teste “t”-Stu<strong>de</strong>nt para comparação das médias<br />

<strong>de</strong> predação <strong>de</strong> Notonecta sp. sobre as larvas, pós-larvas e alevinos <strong>de</strong> tilápias entre os tratamentos.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A maior predação ocorreu no tratamento (T2), fase em que as pós-larvas apresentavam<br />

comprimento entre 8 a 10 mm, on<strong>de</strong> a predação foi <strong>de</strong> 88% sobre as tilápias. Sendo seguida por<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> predação o tratamento (T3) e (T1) respectivamente com 76 e 75% (Figura 4).<br />

Predação %<br />

90<br />

85<br />

80<br />

75<br />

70<br />

65<br />

88<br />

75 76<br />

9,2 12,9 18,7<br />

Comprimento (mm)<br />

Figura 4. Predação <strong>de</strong> notonectas Notonecta sp. em larvas <strong>de</strong> tilápias (Relação comprimento médio<br />

final da tilápia x predação).<br />

Submetidos ao teste “t”-Stu<strong>de</strong>nt, obteve-se resultados mostrando que os tratamentos T1 e T2<br />

são diferentes significativamente ao nível <strong>de</strong> 5%, com a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> predação superior no<br />

tratamento T2 em relação ao tratamento T1. Os tratamentos T1 e T3 não apresentaram diferença<br />

significativa entre si, indicando que o grau <strong>de</strong> predação <strong>de</strong> Notonecta sp. sobre a tilápia, nestes<br />

comprimentos foi o mesmo. Os tratamentos T2 e T3 são diferentes significativamente entre si ao<br />

nível <strong>de</strong> 5%, com a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> predação superior <strong>de</strong> Notonecta sp. no tratamento T2 em<br />

relação ao tratamento T3. Insetos <strong>de</strong> fase larval aquática como odonatas (Libelulidae) e notonectas<br />

49


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

(Notonectidae), requerem uma série <strong>de</strong> condições ecológicas sem as quais não há possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sua permanência. Além disso, sua complexa relação com o habitat em aspectos comportamentais<br />

termoreguladores <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> território e reprodutivos, <strong>de</strong>monstra seu potencial <strong>de</strong> uso em estudos<br />

<strong>de</strong> correlação com os fatores abióticos.<br />

Segundo Teixeira et al. (2003) apud Rezen<strong>de</strong> et al., (2004) a predação dos notonecti<strong>de</strong>os<br />

sobre girinos <strong>de</strong> Rana catesbeiana (rã-touro) foi <strong>de</strong> 0,472 girinos ao dia. Referido resultado para<br />

este animal foi inferior aos obtidos para larvas, pós-larvas e alevinos <strong>de</strong> tilápia (5,86; 5,06 e 5/dia<br />

respectivamente). Rezen<strong>de</strong> et al. (2004), mostraram em seus estudos que a predação <strong>de</strong> notonectas<br />

sobre larvas e pós-larvas <strong>de</strong> Hoplias lacerdae (trairão) foi 1,584 pós-larvas/dia. Neste trabalho,<br />

verificou-se que a predação <strong>de</strong> notonectas também foi significativa sobre alevinos <strong>de</strong> tilápias nos<br />

comprimentos <strong>de</strong> 11 a 12 mm com um percentual <strong>de</strong> 76% <strong>de</strong> predação. Contudo, justifica-se tal<br />

resultado tendo em vista o tempo do experimento <strong>de</strong>ste trabalho que foi <strong>de</strong> 30 dias superior a 4 dias<br />

do trabalho referenciado.<br />

CONCLUSÃO<br />

A incidência maior <strong>de</strong> predação <strong>de</strong> Notonecta em larvas <strong>de</strong> tilápia ocorre em comprimentos<br />

equivalentes entre o predador e a presa. Po<strong>de</strong>ndo-se afirmar que este inseto aquático é capaz <strong>de</strong><br />

proporcionar perdas significativas no cultivo <strong>de</strong> tilápias nas fases <strong>de</strong> larvas, pós-larvas e pequenos<br />

alevinos até o comprimento médio <strong>de</strong> 11 a 12 mm.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Borghetti, N.R.B., Ostrensky, A. & Borghetti, J.R. (2003). Aqüicultura: uma visão geral sobre a<br />

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Cavalheiro, J.M.O., Pereira, J.A. & Nascimento, J.A. (1999). Crescimento <strong>de</strong> camurins<br />

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CONBEP e do I CONLAEP, 1:88-96.<br />

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Oliveira, L.C.F. (2003). Manejo <strong>de</strong> cultivo em raceways e processamento da tilápia-do-nilo,<br />

Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) varieda<strong>de</strong> “QAAT1” [trabalho <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso].<br />

Paulo Afonso: Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia.<br />

Rezen<strong>de</strong>, F.P., Ribeiro Filho, O.P., Oliveira, E.M.M., Santos, C., Veras, G.C. & Bernardinho, P.B.<br />

(2004). Potencial <strong>de</strong> predação <strong>de</strong> Notonectes (Boenoa sp.) sobre pós-larvas <strong>de</strong> trairão (Hoplias<br />

50


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

lacerdae, Ribeiro, 1908) no 10º dia pós-eclosão. Fortalrza: XIII Simpósio Brasileiro <strong>de</strong> Aqüicultura,<br />

SIMBRAq, 273-275.<br />

Rezen<strong>de</strong>, F. P., Mendonça Neto, A.B., Melo, A.L.P., Santos, D.L.S.; Ribeiro Filho, O.P. & Santos,<br />

L.C. (2004). Determinação da DL 50 <strong>de</strong> Triclorfon para Notonectes (Boenoa sp) a doses entre 0,05 e<br />

0,50 mg/litro. In: Anais do XIII Simpósio Brasileiro <strong>de</strong> Aqüicultura (pp.221-223). Fortaleza:<br />

ABRAq.<br />

Saldanha, A.C.A., Leite, L.J.A, Silva, A.L.N & Carmo, J.L. (1999). Crescimento compensatório <strong>de</strong><br />

tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) submetidas quando juvenis a três diferentes dietas<br />

alimentares. In: Anais do Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong>, 1 (pp. 71-77). Recife:<br />

AEP-PE.<br />

Santiago, A. P., Holanda, F.C.A.F., Sousa, J.A. & Silva, L.A.C. (1999). Análise <strong>de</strong> investimento em<br />

Aqüicultura: Um estudo <strong>de</strong> caso. In: Anais do Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong>, 1 (pp.<br />

30-35). Recife: AEP-PE<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

II - ARTIGOS TÉCNICO/INFORMATIVOS<br />

CONTRIBUIÇÃO DOS MODELOS BIO-ECONÔMICOS PARA A GESTÃO PARTICIPATIVA<br />

E O ORDENAMENTO DA PESCA ARTESANAL E DE PEQUENA ESCALA<br />

Sérgio Macedo Gomes <strong>de</strong> MATTOS*<br />

Secretaria Especial <strong>de</strong> Aqüicultura e <strong>Pesca</strong> da Presidência da Republica – SEAP/PR<br />

Escritório no Estado <strong>de</strong> Pernambuco<br />

*sergiomattos@seap.gov.br<br />

Resumo - A pesca artesanal e <strong>de</strong> pequena escala não vem sendo <strong>de</strong>vidamente administrada. A<br />

ativida<strong>de</strong> não acompanhou o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico nem, tampouco, as forças que regem o<br />

mercado. A ciência pesqueira tem, por muito tempo, se <strong>de</strong>dicado à avaliação <strong>de</strong> estoques com<br />

restrito enfoque geográfico e disciplinar, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando as necessida<strong>de</strong>s sócio-econômicas <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s pesqueiras e os benefícios potenciais <strong>de</strong> formas mais participativas <strong>de</strong> administração.<br />

Só recentemente, estudos interdisciplinares que consi<strong>de</strong>ram a administração pesqueira em seus<br />

aspectos naturais e sociais têm permitido <strong>de</strong>senvolver formas mais participativas <strong>de</strong> gestão, ou cogestão.<br />

Este artigo apresenta a gestão participativa como alternativa ao or<strong>de</strong>namento e à<br />

sustentabilida<strong>de</strong> dos recursos pesqueiros explorados pelas frotas artesanais e <strong>de</strong> pequena escala,<br />

especialmente no Nor<strong>de</strong>ste do Brasil, tendo como espelho as nações pesqueiras tradicionais e as<br />

experiências e peculiarida<strong>de</strong>s locais, fundamentada nos conceitos teóricos dos mo<strong>de</strong>los bioeconômicos.<br />

A gestão pesqueira po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como a governabilida<strong>de</strong> do comportamento<br />

humano, mas não do comportamento do estoque pesqueiro, o qual é estudado pelas ciências<br />

pesqueiras, porque a aplicação <strong>de</strong> medidas para a gestão <strong>de</strong> um estoque pesqueiro somente po<strong>de</strong> ser<br />

possível através <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s pesqueiras bem administradas. A gestão baseada na comunida<strong>de</strong> e<br />

a co-gestão <strong>de</strong>vem ser fundamentadas em conceitos e conhecimentos <strong>de</strong>senvolvidos conjuntamente<br />

pelos usuários dos recursos, pesquisadores e administradores, mas não existe um conjunto <strong>de</strong> itens<br />

que <strong>de</strong>finem as regras a seguir, porque é irreal esperar pelo estabelecimento <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong><br />

gestão perfeito. Cada caso é único e <strong>de</strong>ve ser analisado pelas características sociais, econômicas e<br />

culturais das comunida<strong>de</strong>s envolvidas. Para bem administrar não se <strong>de</strong>ve apenas conhecer o estoque<br />

pesqueiro, mas também o pescador e o sistema <strong>de</strong> pesca. Assim, foi contextualizada a importância<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir um sistema <strong>de</strong> gestão fundamentado nos possíveis resultados extraídos dos mo<strong>de</strong>los bioeconômicos<br />

conjuntamente <strong>de</strong>senvolvidos por pescadores, pesquisadores e administradores para a<br />

gestão participativa.<br />

PALAVRAS-CHAVE: gestão participativa, bio-economia, sustentabilida<strong>de</strong>, pesca artesanal.<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

CONTRIBUTION OF BIO-ECONOMIC MODELS FOR CO-MANAGEMENT AND<br />

MANAGEMENT OF SMALL-SCALE AND ARTISANAL FISHERIES.<br />

Abstract - Most of the artisanal fisheries and small-scale fisheries have not been well managed, if<br />

they have been managed at all. They didn’t follow the technological <strong>de</strong>velopment or the driving<br />

forces of economics, population growth, <strong>de</strong>mand for food, and poverty. Fishery science has largely<br />

been <strong>de</strong>voted to stock assessment with restrict geographical and disciplinary focus. Specially, it<br />

neither addressed the socio-economic needs of fishing communities nor the potential benefits of<br />

more collaborative forms of governance, and only recently interdisciplinary natural and social<br />

studies of fisheries management for <strong>de</strong>veloping regions have been consi<strong>de</strong>red, including<br />

community-based management and co-management. This article aims to present co-management as<br />

alternative for the management and sustainability of fishing resources exploited by the artisanal<br />

fleets in Brazil, through the management system of <strong>de</strong>veloped fishing nations, especially Spain, and<br />

on local experiences and peculiarities, based on the theoretical concepts of bio-economics mo<strong>de</strong>ls<br />

for fisheries management. Fishery management can be <strong>de</strong>fined as a governance of human<br />

behaviour, not fish behaviour, which is studied by fishery biological science, because the<br />

application of measures for the management of a fish stock can only be possible through wellmanaged<br />

fishing communities. We believe that community-based management and co-management<br />

must be based in concepts and knowledge’s <strong>de</strong>veloped by the resources` users, researchers and<br />

administration, but there isn’t a set of items that <strong>de</strong>fines the rules to be followed, because it is<br />

unrealistic to expect a perfect management system. Each case is unique and must be analysed by the<br />

social, economic and cultural characteristics of the involved communities. Any single method must<br />

be conduct in a practical way and should place a strong emphasis on ecosystem management and<br />

participatory <strong>de</strong>cision-making. To manage well one need not only to know the fish, but also the<br />

fishermen and the fishery’s system, and it were contextualised the importance to <strong>de</strong>fine a<br />

management system based on the possible outputs of bio-economical mo<strong>de</strong>ls jointly <strong>de</strong>veloped by<br />

fishermen, researchers and administrators for fisheries co-management.<br />

KEY-WORDS: co-management, bio-economics, governance, artisanal fishery.<br />

INTRODUÇÃO<br />

De uma maneira generalizada, os mo<strong>de</strong>los criados para o <strong>de</strong>senvolvimento da pesca foram<br />

elaborados na busca <strong>de</strong> tecnologias <strong>de</strong> aumento incessante da produção e <strong>de</strong> ganho <strong>de</strong> capital crescente.<br />

Para o tratamento <strong>de</strong> aspectos tão diferenciados, como os existentes nas ativida<strong>de</strong>s relacionadas às<br />

pescarias artesanais e <strong>de</strong> pequena escala, enten<strong>de</strong>-se como fundamental a mobilização efetiva <strong>de</strong><br />

recursos locais <strong>de</strong> modo que, ao longo do tempo, seja possível diminuir a <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> agentes<br />

externos. Mattos et al. (2001) <strong>de</strong>stacaram a urgente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> introdução <strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

53


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

gestão para garantir a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas pescarias, no sentido <strong>de</strong> minimizar impactos sociais,<br />

econômicos e ambientais, para melhor garantir a gestão dos recursos pesqueiros.<br />

Uma questão relevante do <strong>de</strong>senvolvimento auto-sustentado da pequena produção pesqueira<br />

se refere ao fato <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> econômica se basear na exploração <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

comum ou livre acesso. A visão, errônea, da inesgotabilida<strong>de</strong> dos recursos pesqueiros gerou<br />

mo<strong>de</strong>los baseados no saber-fazer, que explicitou, <strong>de</strong> acordo com Marrul Filho (2001), a separação<br />

entre o homem e a natureza (recursos pesqueiros) e permitiu <strong>de</strong>senvolver uma racionalida<strong>de</strong><br />

utilitarista e produtivista na apropriação dos recursos pesqueiros.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que existe uma <strong>de</strong>ficiência nas estratégias <strong>de</strong> gestão pesqueira para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento local e regional, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> progressivamente estabelecer estratégias e<br />

planos <strong>de</strong> manejo das pescarias. Assim, é imperativo <strong>de</strong>monstrar a importância da análise conjunta<br />

dos aspectos biológicos, econômicos e dos sistemas <strong>de</strong> pesca existentes, pois, como enfatizado por<br />

Seijo et al. (1998), gestão pesqueira é um processo complexo que requer a integração biológica e<br />

ecológica, com fatores sócio-econômicos e institucionais que afetam o comportamento <strong>de</strong><br />

pescadores e dos tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.<br />

O objetivo do presente artigo é contribuir em torno da importância <strong>de</strong> implementar mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong> gestão participativa para o <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong> pesqueira artesanal e <strong>de</strong> pequena escala,<br />

tendo como fundamento as bases teóricas dos mo<strong>de</strong>los bio-econômicos pesqueiros, uma vez que a<br />

ativida<strong>de</strong> sempre foi consi<strong>de</strong>rada ineficiente e insustentável do ponto <strong>de</strong> vista econômico, pois, <strong>de</strong><br />

acordo com Freire (2000), a gestão da exploração dos recursos pesqueiros <strong>de</strong>ve compatibilizar<br />

objetivos biológicos – sustentabilida<strong>de</strong> dos estoques e ecossistema – e econômicos e sociais –<br />

maximização da rentabilida<strong>de</strong> econômica, distribuição <strong>de</strong> benefícios e coesão e perseverança social.<br />

Dessa forma, o artigo aborda o histórico das políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e gestão para a<br />

pesca, contextualizando a pesca artesanal e <strong>de</strong> pequena escala <strong>de</strong>ntro da intervenção governamental,<br />

até uma proposta <strong>de</strong> gestão participativa fundamentada nas teorias bio-econômicas pesqueiras. Para<br />

respaldar a argumentação <strong>de</strong> que essa proposta po<strong>de</strong> ser construída, abordaram-se questões que<br />

julgamos imprescindíveis para o entendimento <strong>de</strong> que a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> somente<br />

ocorrerá através da gestão participativa, os quais dizem respeito aos objetivos e sistemas da gestão e<br />

sua aplicabilida<strong>de</strong>, as inter-relações existentes entre sistemas <strong>de</strong> gestão e or<strong>de</strong>namento da ativida<strong>de</strong><br />

pesqueira e os conflitos existentes entre sustentabilida<strong>de</strong> e sobrexplotação, fatores inerentes a<br />

qualquer pescaria e objetivos evolutivos dos mo<strong>de</strong>los bio-econômicos, fortemente marcados na<br />

pesca artesanal e <strong>de</strong> pequena escala, pelas conseqüências sociais e econômicas diretas e imediatas.<br />

54


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO NO BRASIL<br />

As políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong> uma maneira geral, contribuíram para gerar níveis <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s na socieda<strong>de</strong> brasileira, fortemente marcadas no setor pesqueiro, em que a pesca<br />

artesanal e <strong>de</strong> pequena escala distanciou-se dos padrões aceitáveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento social e<br />

econômico. De acordo com o CONDRAF 1 (2006), essas “origens são históricas, mas sua<br />

permanência leva gran<strong>de</strong> parte da socieda<strong>de</strong> a encará-las como natural e não como um fato<br />

socialmente construído, o que po<strong>de</strong>rá resultar em um pacto social exclu<strong>de</strong>nte, em que não se<br />

reconhece mais a cidadania como um valor universal e um direito <strong>de</strong> toda a população. Ou seja, a<br />

cidadania <strong>de</strong> uns é diferente da dos outros, tendo-se como conseqüência que os direitos, as<br />

oportunida<strong>de</strong>s e os horizontes também sejam distintos”.<br />

Não se po<strong>de</strong> negar que as políticas governamentais <strong>de</strong> décadas passadas trouxeram<br />

modificações importantes no setor pesqueiro nacional, mas a mo<strong>de</strong>rnização pretendida se tornou<br />

uma “falácia”, gerando estruturas produtivas bastante heterogêneas. Para Timm (1978), o artesanato<br />

pesqueiro, embora preterido e praticamente <strong>de</strong>sassistido pelo po<strong>de</strong>r público, ainda constituía o<br />

principal elemento produtivo da pesca nacional. Essa mo<strong>de</strong>rnização, <strong>de</strong> acordo com Diegues<br />

(1983), nada mais fez que apressar a exploração irracional dos recursos pesqueiros, com o<br />

empobrecimento gradativo <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pequenos pescadores. De fato, a SUDEPE 2 (1988)<br />

alertava que o baixo nível <strong>de</strong> tecnologia existente à época e a não adoção <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong><br />

incentivo à pesquisa que propiciasse a sua melhoria, criação e/ou adaptação, resultou como um dos<br />

fatores limitantes ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Por outro lado, pelo fato <strong>de</strong> não ter atingido os<br />

objetivos pretendidos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, ou rápida industrialização, pô<strong>de</strong> ter-se evitado um <strong>de</strong>sastre<br />

ecológico <strong>de</strong> graves conseqüências, em face da potencialida<strong>de</strong> dos recursos naturais. Berkes et al<br />

(2001) expõe que a pesca artesanal e <strong>de</strong> pequena escala emprega 50 dos 51 milhões <strong>de</strong> pescadores<br />

em todo o mundo, sendo a gran<strong>de</strong> maioria em países em <strong>de</strong>senvolvimento, produzem mais da<br />

meta<strong>de</strong> da produção extrativa mundial e abastece a maioria do pescado consumido no mundo em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A pesca artesanal é tema <strong>de</strong> interesse para pesquisadores e instituições <strong>de</strong> planejamento por<br />

representar um dos últimos exemplos da ativida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> subsistência baseada na caça, captura<br />

e coleta <strong>de</strong> recursos naturais (Buzeta, 1987). Recentemente este interesse tem aumentado pela sua<br />

importância na produção <strong>de</strong> alimentos frescos para o consumo humano e pela sobrexplotação dos<br />

recursos costeiros (Buzeta, 1987; Mattos et al., 2001). De acordo com Freire (2000), é importante<br />

<strong>de</strong>stacar que a pesca artesanal se <strong>de</strong>senvolve com um maior respeito ao ecossistema, <strong>de</strong>vido a sua<br />

1 Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural Sustentável.<br />

2 Superintendência do Desenvolvimento da <strong>Pesca</strong><br />

55


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

maior seletivida<strong>de</strong>, e como as capturas são mais reduzidas, mas o elevado valor unitário, <strong>de</strong>termina<br />

um elevado rendimento econômico com relação ao escasso custo <strong>de</strong> produção.<br />

Muito já se enfatizou da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistência técnica das comunida<strong>de</strong>s pesqueiras, para<br />

possibilitar uma maior compreensão dos sistemas <strong>de</strong> pesca e sua inserção na discussão das políticas<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Não foi o que ocorreu, entretanto, com a implantação dos serviços <strong>de</strong><br />

assistência técnica i<strong>de</strong>alizados pela extinta SUDEPE 3 , que sequer materializou-se, reduzindo-se ao<br />

assistencialismo e clientelismo, pois não levaram em consi<strong>de</strong>ração os reais interesses do artesanato<br />

pesqueiro. A própria SUDEPE (1988) reconheceu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong>finição da postura<br />

governamental, na medida em que o pescador artesanal participe na gestão <strong>de</strong> políticas voltadas<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento do setor pesqueiro. Timm (1978) alertou para o fato <strong>de</strong> que, mesmo<br />

parecendo ingênuo preconizar soluções diante da realida<strong>de</strong> nacional, o <strong>de</strong>senvolvimento da pesca<br />

somente po<strong>de</strong>rá ser satisfatoriamente alcançado quando o pescador se constituir em agente atuante e<br />

dignificado no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento pesqueiro. Diegues (1985) 4 , comenta que existem<br />

muitos mitos em relação aos pescadores artesanais que precisam ser <strong>de</strong>rrubados, pois impediram a<br />

sua integração no processo <strong>de</strong> gestão e no <strong>de</strong>senvolvimento local. Nesse processo <strong>de</strong> gestão, esses<br />

mitos <strong>de</strong>vem ser i<strong>de</strong>ntificados para sua superação, pois po<strong>de</strong>m ter sido causas que atuaram em um<br />

processo que fragilizou a ativida<strong>de</strong>.<br />

Pelas fragilida<strong>de</strong>s apresentadas nos dias <strong>de</strong> hoje e pela falta <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento<br />

efetiva da ativida<strong>de</strong>, o arcabouço institucional criado para organizar o setor pesqueiro sempre<br />

relegou substancialmente a pesca artesanal, tanto do ponto <strong>de</strong> vista social, consi<strong>de</strong>rando os<br />

pescadores como contingentes <strong>de</strong> aproveitamentos em <strong>de</strong>fesa da soberania nacional e sem garantir<br />

sua inserção na socieda<strong>de</strong>, como do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> segmento econômico e produtivo, estando à<br />

margem das políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para a pesca industrial, pois o status da ativida<strong>de</strong><br />

artesanal nunca foi <strong>de</strong>vidamente respeitado, sendo por muito tempo consi<strong>de</strong>rada como<br />

complementar ao segmento industrial.<br />

Essa institucionalização, estabelecida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIX para o or<strong>de</strong>namento da ativida<strong>de</strong><br />

pesqueira, <strong>de</strong>ixou lacunas e fragmentos que prejudicou a consolidação do segmento artesanal e <strong>de</strong><br />

pequena escala e <strong>de</strong> suas comunida<strong>de</strong>s como ativida<strong>de</strong> econômica, agentes <strong>de</strong> produção e base da<br />

economia familiar. Houve uma alternância <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s e competências institucionais que<br />

se revezou entre a Marinha do Brasil, o Ministério da Agricultura e o IBAMA, estando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003<br />

sob os auspícios da Secretaria Especial <strong>de</strong> Aqüicultura e <strong>Pesca</strong> da Presidência da República –<br />

SEAP/PR. Ocorreu a geração <strong>de</strong> programas e projetos que, indiscutivelmente, trouxeram aspectos<br />

3 A Superintendência do Desenvolvimento da <strong>Pesca</strong> – SUDEPE foi criada pela Lei Delegada nº 10, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

1962, e extinta pela Lei nº 7.735, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1989, que cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos<br />

Recursos Renováveis – IBAMA.<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

positivos, mas ao se observar a situação em que se encontra o setor, ainda perduram aspectos<br />

negativos que urgem soluções, principalmente relacionados à a<strong>de</strong>quada gestão dos recursos.<br />

OBJETIVOS E FERRAMENTAS PARA A GESTÃO PARTICIPATIVA<br />

Os conceitos sobre gestão participativa não são recentes, mesmo em um país como o Brasil,<br />

em que a política governamental <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para o setor pesqueiro não possibilitou a<br />

participação do setor produtivo, especialmente o artesanal. É necessário ressaltar que a<br />

característica principal da gestão participativa, além <strong>de</strong> envolver a comunida<strong>de</strong> para a toma <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisões conjuntas para o <strong>de</strong>senvolvimento, é sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modificar-se constantemente,<br />

buscando a superação <strong>de</strong> suas lacunas, experimentar e inovar, <strong>de</strong>sfazer-se da tendência <strong>de</strong><br />

acomodar-se à rotina, uma vez que todos po<strong>de</strong>m expressar suas <strong>de</strong>mandas e priorida<strong>de</strong>s.<br />

Para a elaboração <strong>de</strong> qualquer plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>vem ser respeitados os<br />

fundamentos da gestão participativa, on<strong>de</strong> participam a administração, através da instituição<br />

competente, <strong>de</strong> técnicos e pesquisadores e, principalmente, do pescador. Nos países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />

com reconhecida tradição pesqueira, o <strong>de</strong>senvolvimento do setor pesqueiro ocorreu quando houve<br />

uma integração entre os diversos elos que o compõem, com massiva e imprescindível participação<br />

dos pescadores e, principalmente, se valorizou e reconheceu a pesca artesanal e <strong>de</strong> pequena escala<br />

como geradora <strong>de</strong> emprego, renda e exce<strong>de</strong>ntes. Esse processo permitiu observar a importância<br />

<strong>de</strong>sses segmentos para o equilíbrio do setor. Assim, gestão pesqueira po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida, segundo<br />

Jentoft (1997), pelo gerenciamento do comportamento humano, mas não do comportamento do<br />

peixe, o qual é estudado pela biologia pesqueira, porque a aplicação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong><br />

estoques pesqueiros somente é possível através <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s pesqueiras bem administradas.<br />

Kula (1992) enfatizou que a ênfase na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> gestão po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

das aspirações e inclinações políticas dos membros que constituem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Em alguns,<br />

a eficiência econômica da ativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada o alvo a ser atingido, enquanto que em<br />

outros os aspectos sociais, que enfatizam uma maior distribuição <strong>de</strong> renda, o que po<strong>de</strong> ocasionar<br />

uma menor eficiência produtiva.<br />

À primeira vista os objetivos <strong>de</strong> uma política pesqueira com responsabilida<strong>de</strong> para o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> uma agenda <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s em gestão participativa, com visão <strong>de</strong> longo prazo,<br />

<strong>de</strong> forma racional e sustentável, nos planos local, regional e nacional, parecem claros e evi<strong>de</strong>ntes.<br />

Entretanto, quando se analisa o assunto com mais atenção, <strong>de</strong> acordo com Comunida<strong>de</strong>s Européias<br />

(2001), se observa que essa classe <strong>de</strong> política <strong>de</strong>ve nadar, freqüentemente, entre duas águas e tentar<br />

respon<strong>de</strong>r às exigências que são muitas vezes contraditórias, tais como:<br />

• Como mo<strong>de</strong>rnizar as embarcações limitando, ao mesmo tempo, o esforço <strong>de</strong> pesca?<br />

4 Diegues, A. C. S. (1985) Documento apresentado no Seminário <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> Artesanal promovido pela Confe<strong>de</strong>ração<br />

57


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

• Como proteger o emprego reduzindo, ao mesmo tempo, a capacida<strong>de</strong> da frota?<br />

• Como garantir uma remuneração a<strong>de</strong>quada aos pescadores se as tendências das capturas são<br />

<strong>de</strong>crescentes?<br />

• Como conseguir direitos <strong>de</strong> pesca sem ameaçar a sustentabilida<strong>de</strong> dos recursos?<br />

Portanto, os objetivos da gestão são diversos e geralmente contraditórios. Po<strong>de</strong> ser maximizar a<br />

produção e lucrativida<strong>de</strong> da pesca; minimizar as flutuações nas capturas; evitar os riscos <strong>de</strong> colapso dos<br />

recursos; manter emprego; etc. Existem duas ferramentas disponíveis: a técnica (limitação do esforço,<br />

seletivida<strong>de</strong> da arte <strong>de</strong> pesca, tamanho mínimo <strong>de</strong> captura, etc.), e econômica (subsídios, taxas,<br />

penalida<strong>de</strong>s, etc.). Em um sistema complexo, tal como o da pesca, não é sempre que se tem com<br />

clareza qual será a resposta do sistema a certa medida <strong>de</strong> gestão (Lleonart et al, 1999a). A necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> regulamentar a ativida<strong>de</strong> pesqueira possibilitou, por parte da administração, buscar nos mo<strong>de</strong>los<br />

bio-econômicos pesqueiros as respostas para os impactos causados na dinâmica ambiental pelas<br />

ações antropogênicas. Assim, Anonimous (2001) sugere que os objetivos da gestão pesqueira são:<br />

• Estabelecer uma ativida<strong>de</strong> pesqueira sustentável, com a<strong>de</strong>quado acompanhamento e<br />

investigação;<br />

• Garantir um grau mínimo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> dos recursos e das comunida<strong>de</strong>s pesqueiras,<br />

salvaguardando os interesses locais e regionais;<br />

• Proteger os recursos pesqueiros e seu habitat e conservar o meio ambiente;<br />

• Preservar as peculiarida<strong>de</strong>s sociais e culturais das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da pesca;<br />

• Assegurar a viabilida<strong>de</strong> econômica da ativida<strong>de</strong>; e<br />

• Promover uma administração local dinâmica, on<strong>de</strong> possível, <strong>de</strong> acordo com os princípios <strong>de</strong><br />

direito <strong>de</strong> acesso aos recursos pesqueiros.<br />

É imperativo, portanto, que um sistema <strong>de</strong> gestão seja o mais flexível possível para absorver<br />

mudanças que resultem <strong>de</strong> novas informações provenientes da comunida<strong>de</strong>, suas consi<strong>de</strong>rações<br />

sócio-econômicas, e uma melhor compreensão e conhecimento sobre o comportamento do estoque,<br />

para que se possam atingir níveis <strong>de</strong> captura que maximize os benefícios para todos enquanto<br />

garanta uma pesca sustentável, e um esforço ótimo, minimizando custos operacionais e <strong>de</strong><br />

implementação <strong>de</strong> regulamentos.<br />

SISTEMAS DE GESTÃO PESQUEIRA PARA A REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE<br />

Enten<strong>de</strong>-se por sistema <strong>de</strong> gestão o conjunto estruturado que regula uma pescaria. Este se<br />

compõe da instituição que o regula e pelos instrumentos que emprega. Po<strong>de</strong>-se distinguir três<br />

instituições <strong>de</strong> regulação: o mercado, a administração e a auto-regulação da comunida<strong>de</strong> pesqueira,<br />

ou dos pescadores. De acordo com Franquesa (1997) e Marrul Filho (2001), a regulamentação da<br />

Nacional dos <strong>Pesca</strong>dores, realizado no Auditório Nereu Ramos – Câmara dos Deputados.<br />

58


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

ativida<strong>de</strong> pesqueira encontra fundamento em varias vertentes, cada uma <strong>de</strong>las com <strong>de</strong>terminadas<br />

possibilida<strong>de</strong>s e limitações:<br />

• A regulamentação se dá <strong>de</strong>vido às necessida<strong>de</strong>s e externalida<strong>de</strong>s do mercado. Permite uma<br />

regulação anônima e automática, evita a arbitrarieda<strong>de</strong> administrativa e não tem custos<br />

operativos. Entretanto, po<strong>de</strong> não conduzir a ativida<strong>de</strong> a um ótimo social, caso ocorra uma<br />

rápida concentração <strong>de</strong> empresas e/ou redução <strong>de</strong> emprego, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r gerar<br />

<strong>de</strong>sequilíbrios sobre o recurso em <strong>de</strong>terminadas condições (problema <strong>de</strong> sobrepesca);<br />

• A regulamentação se dá <strong>de</strong>vido à administração. É o proprietário dos recursos <strong>de</strong> domínio<br />

público e po<strong>de</strong> garantir o emprego a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>sses recursos, mas <strong>de</strong>ve levar em<br />

consi<strong>de</strong>ração as características das relações sociais e econômicas e a forma pela qual é<br />

exercida. Consi<strong>de</strong>rando o dinamismo da ativida<strong>de</strong>, necessita da ação reguladora às normas<br />

<strong>de</strong> uso do recurso. Nesse processo surgem as falhas do Estado pela insuficiência <strong>de</strong><br />

participação <strong>de</strong>mocrática no processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> regulamentação; pelas<br />

disfunções <strong>de</strong> interesses políticos; e pela incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prestar contas à socieda<strong>de</strong>.<br />

Geralmente os custos <strong>de</strong> controle são elevados e <strong>de</strong>sproporcionais aos lucros gerados pelas<br />

pescarias; e<br />

• A regulamentação se dá <strong>de</strong>vido à comunida<strong>de</strong>. A comunida<strong>de</strong> pesqueira também po<strong>de</strong> se<br />

auto-regular. Este sistema <strong>de</strong> gestão tem uma rápida capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação, po<strong>de</strong> se<br />

dispor <strong>de</strong> uma informação imediata do estado do recurso e supõe um custo <strong>de</strong> controle<br />

praticamente nulo, mas somente po<strong>de</strong> funcionar se existir um forte grau <strong>de</strong> associação da<br />

comunida<strong>de</strong> pesqueira. Entretanto, o Estado, ao construir e implementar a regulamentação<br />

<strong>de</strong> uso dos recursos, o faz estabelecendo sistemas <strong>de</strong> gestão que alocam direitos individuais<br />

distribuídos <strong>de</strong> forma assimétrica entre os pescadores. Ao não observar os valores e regras<br />

<strong>de</strong> competição socialmente aceitos, provocam-se posturas e práticas individualistas com<br />

origem extra-local, que ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>struir os sistemas comunitários <strong>de</strong> gestão e apropriação<br />

dos recursos pesqueiros.<br />

Tendo esses fundamentos como essenciais à regulamentação e ao estabelecimento <strong>de</strong><br />

medidas <strong>de</strong> gestão, há que se distinguir claramente dois aspectos diferenciados: (1) qual é a<br />

estrutura administrativa que regulamenta a ativida<strong>de</strong> pesqueira; e (2) quais são os mecanismos<br />

possíveis para passar <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong> sobrexplotação e <strong>de</strong> prejuízo, a uma <strong>de</strong> equilíbrio. O<br />

estudo das medidas <strong>de</strong> transição implica uma análise específica muito mais ampla. O objetivo final<br />

é manter um esforço que mantenha em níveis ótimos a biomassa do recurso, gerando estabilida<strong>de</strong>.<br />

A dificulda<strong>de</strong> está em estabelecer com precisão a quantida<strong>de</strong> (em número <strong>de</strong> licenças ou volume<br />

das capturas) e o preço <strong>de</strong>sse direito, <strong>de</strong> forma que nem seja tão gran<strong>de</strong>, que acabe com a<br />

explotação, nem tão pequena que não <strong>de</strong>sestimule a entrada <strong>de</strong> novo esforço.<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Nos países historicamente pesqueiros, os sistemas <strong>de</strong> gestão são temas correntes para a<br />

regulação das pescarias. Dos conflitos e acordos surgiram instrumentos <strong>de</strong> controle como as<br />

capturas totais permissíveis (TAC - do inglês Total Allowable Catch) e as cotas individuais<br />

transferíveis (ITQ - do inglês Individual Transferable Quotas). Os TAC’s limitam a produção<br />

através <strong>de</strong> um processo administrativo, enquanto as ITQ’s através do mercado. As conseqüências da<br />

implantação <strong>de</strong> um ou outro instrumento, entretanto, estão diretamente relacionadas ao sistema <strong>de</strong><br />

pesca em nível nacional, regional ou local. Nem nos paises mais <strong>de</strong>senvolvidos e <strong>de</strong> tradição<br />

pesqueira a sua aplicação resulta sempre fácil. Po<strong>de</strong>m existir problemas com elevado custo <strong>de</strong><br />

controle (ex: se pesca e não se <strong>de</strong>clara) ou quando há uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies objetivo<br />

que se capturam <strong>de</strong> maneira associada.<br />

Assim, as medidas <strong>de</strong> regulação em um sistema <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>vem, para seu efetivo êxito,<br />

alcançar os seguintes objetivos, <strong>de</strong> acordo com Freire (2000): (1) congregarem um consenso<br />

generalizado entre os pescadores; (2) serem facilmente vigiáveis; (3) serem robustas ante as<br />

incertezas do conhecimento científico; e (4) permitirem, no caso específico <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> reservas<br />

extrativistas, a combinação da gestão pesqueira com a conservação <strong>de</strong> habitats chaves nos<br />

ecossistemas costeiros.<br />

MODELOS BIO-ECONÔMICOS E GESTÃO PARTICIPATIVA PARA A PESCA ARTESANAL<br />

E DE PEQUENA ESCALA: SUSTENTABILIDADE X SOBREXPLOTAÇÃO<br />

Em uma pescaria or<strong>de</strong>nada, o fator homem (pescador) <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado como um<br />

elemento a mais do ecossistema e em qualquer caso perturbador na mesma medida que po<strong>de</strong> uma<br />

alteração do meio ambiente ou, com mais freqüência, como a competição – interação – equilibrada<br />

entre os diversos componentes da biocenose. Consi<strong>de</strong>rando, como assim é na realida<strong>de</strong>, que a ação<br />

humana está regida pelas leis distintas das biológicas, mas pelas leis econômicas e, talvez ainda<br />

mais, pelas leis sócio-econômicas, este fato não se opõe a que ambas as estratégias sejam<br />

perfeitamente compatíveis nem tampouco à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conseguir um mo<strong>de</strong>lo único para a<br />

compreensão do processo pesqueiro que englobe as duas facetas do mesmo: a biológica e a<br />

econômica (Bas, 1987). Assim, o tamanho e a abundância <strong>de</strong> uma população <strong>de</strong> peixe estão<br />

tradicionalmente relacionados com os processos econômicos da pesca e o ponto <strong>de</strong> referência <strong>de</strong>ssa<br />

correlação analítica é <strong>de</strong>nominada bio-economia.<br />

Tal conceito permitiu o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ferramentas para <strong>de</strong>terminar a Captura Máxima<br />

Sustentável (CMS), que têm como base o fato <strong>de</strong> que a biomassa <strong>de</strong> uma população ten<strong>de</strong> a crescer<br />

até que seja alcançada a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte limite do ambiente em que vive, e a Captura Máxima<br />

Econômica (CME), que têm como fundamento básico a busca <strong>de</strong> uma pescaria eficiente do ponto <strong>de</strong><br />

vista econômico. Apesar <strong>de</strong> as primeiras consi<strong>de</strong>rações bio-econômicas datarem da década <strong>de</strong> 1950,<br />

60


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

foi somente a partir dos anos 1970 que os mo<strong>de</strong>los bio-econômicos pesqueiros foram <strong>de</strong>senvolvidos<br />

como instrumentos <strong>de</strong> gestão pesqueira. Mo<strong>de</strong>los bio-econômicos <strong>de</strong>senvolvidos com esse<br />

propósito incluem, além das variáveis biológicas e econômicas usuais, tais como espécies, estoques,<br />

frota, distribuição geográfica da frota, grau <strong>de</strong> integração entre pescarias, etc., alguns importantes<br />

instrumentos e ferramentas <strong>de</strong> gestão. A<strong>de</strong>mais <strong>de</strong>ssas características gerais, cada mo<strong>de</strong>lo é<br />

<strong>de</strong>senhado em respeito a cada específica situação biológica e econômica e os instrumentos locais<br />

disponíveis.<br />

As primeiras consi<strong>de</strong>rações sobre mo<strong>de</strong>los bio-econômicos basearam-se nos estudos<br />

conduzidos por Gordon (1954) e Schaefer (1954), <strong>de</strong>nominado Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Gordon-Schaefer, o qual<br />

consi<strong>de</strong>rou a relação entre a produção obtida e o esforço <strong>de</strong> pesca empregado e a proporcionalida<strong>de</strong><br />

entre a receita e o custo totais. Outro importante mecanismo que ajudou no <strong>de</strong>senvolvimento dos<br />

mo<strong>de</strong>los bio-econômicos foi a importante percepção do monitoramento e dos estudos sobre a<br />

dinâmica da frota pesqueira, conhecido como Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Smith (Smith, 1969), o qual consi<strong>de</strong>rou<br />

que a durabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma pescaria seria proporcional à receita obtida e incorpora, evi<strong>de</strong>ntemente,<br />

conceitos dos mo<strong>de</strong>los biológicos pesqueiros. Quirk & Smith (1970) <strong>de</strong>stacaram que mo<strong>de</strong>los bioeconômicos<br />

para análise <strong>de</strong> pescarias <strong>de</strong>vem tratar da dinâmica dos estoques, as externalida<strong>de</strong>s na<br />

produção, a relação entre homem (pescador) e seu ambiente natural, controle social da<br />

regulamentação, investimentos públicos e a importância econômica dos direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>.<br />

Mo<strong>de</strong>los bio-econômicos são atualmente consi<strong>de</strong>rados como uma ferramenta teórica para<br />

o estabelecimento <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> gestão para o uso sustentável dos estoques pesqueiros, em virtu<strong>de</strong><br />

das peculiarida<strong>de</strong>s existentes na ativida<strong>de</strong> pesqueira. Esses mo<strong>de</strong>los são estruturados <strong>de</strong> acordo com<br />

distintas realida<strong>de</strong>s, mas racionalmente estes <strong>de</strong>vem consistir na adoção <strong>de</strong> medidas para a<br />

mo<strong>de</strong>lagem pesqueira e para usá-los como ferramentas importantes na análise bio-econômica <strong>de</strong><br />

pescarias diversas. O propósito <strong>de</strong>ssas ferramentas é facilitar a avaliação das conseqüências e riscos<br />

da aplicação <strong>de</strong> diferentes medidas <strong>de</strong> gestão em um <strong>de</strong>terminado estoque.<br />

Apesar da reconhecida importância da mo<strong>de</strong>lagem que auxiliem na avaliação <strong>de</strong> recursos<br />

pesqueiros, existem falhas que não permitem incorporar variáveis que compõem a dinâmica das<br />

ativida<strong>de</strong>s artesanal e <strong>de</strong> pequena escala, por <strong>de</strong>sconhecimento ou imperfeição dos mo<strong>de</strong>los. Todos<br />

os aspectos anteriormente levantados po<strong>de</strong>m permitir se estimar e avaliar os impactos positivos e<br />

negativos <strong>de</strong> qualquer política <strong>de</strong> gestão aplicada a um <strong>de</strong>terminado estoque, <strong>de</strong>terminada frota<br />

pesqueira ou a uma <strong>de</strong>terminada parte ou etapa da ativida<strong>de</strong> pesqueira, todos em termos <strong>de</strong> captura<br />

e receita. Essas interações, entretanto, são muitas vezes, ou quase sempre, pouco entendidas,<br />

especialmente nas pescarias artesanais e <strong>de</strong> pequena escala, on<strong>de</strong> informações qualitativas muitas<br />

vezes po<strong>de</strong>m ser obtidas, mas dados quantitativos são escassos para realizar uma análise acurada da<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

interação entre espécies explotadas e as operações <strong>de</strong> pesca, porque há uma total <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong><br />

realizar precisas <strong>de</strong>scrições e <strong>de</strong>lineações preliminares sobre as ativida<strong>de</strong>s pesqueiras.<br />

Como enfatizado por Lleonart et al. (1999b), a exploração <strong>de</strong> um recurso natural não permitirá<br />

um crescimento in<strong>de</strong>finido. Esses limites <strong>de</strong> crescimento na explotação <strong>de</strong> recursos pesqueiros parecem<br />

estar em contradição com o que alguns economistas recomendam, o qual é precisamente crescimento. A<br />

sustentabilida<strong>de</strong> dos recursos pesqueiros é, assim, um problema econômico e não biológico. Do ponto<br />

<strong>de</strong> vista biológico, uma explotação sustentável é uma meta que se po<strong>de</strong> assumir, mas o problema está<br />

em se é economicamente aceitável planejar um nível <strong>de</strong> crescimento zero na produção pesqueira.<br />

Histórias e experiências recentes <strong>de</strong>monstram que não tem sido possível obter pescarias sustentáveis. As<br />

causas po<strong>de</strong>m ser atribuídas às limitações e incertezas das técnicas <strong>de</strong> avaliação e às pressões<br />

econômicas da pesca em nível mundial.<br />

Por exemplo, uma questão básica no presente contexto que um mo<strong>de</strong>lo bio-econômicos <strong>de</strong>ve<br />

respon<strong>de</strong>r é que qualquer pescaria tem repercussão, positiva ou negativa, no contexto social e<br />

econômico das comunida<strong>de</strong>s pesqueiras, o qual <strong>de</strong>ve conduzir à gestão e à avaliação local <strong>de</strong>ssa<br />

pescaria. Consi<strong>de</strong>rando que a introdução <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> pesqueira é um fator <strong>de</strong> perturbação na<br />

dinâmica do ecossistema, um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ve incorporar o interesse econômico em explorar essa ativida<strong>de</strong>,<br />

limitado por fatores ecológicos, objetivando evitar a sobrexplotação (Facó, 1988).<br />

Entretanto, poucos são aqueles mo<strong>de</strong>los bio-econômicos que consi<strong>de</strong>ram a multiespecificida<strong>de</strong><br />

da pesca <strong>de</strong> pequena escala, <strong>de</strong>stacando-se aqueles <strong>de</strong>senvolvidos para o mar<br />

Mediterrâneo. Consi<strong>de</strong>rando que a pesca <strong>de</strong> pequena escala costeira realizada no Mediterrâneo<br />

possui similarida<strong>de</strong>s com aquela <strong>de</strong>senvolvida no Brasil, principalmente no que se refere à<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer um sistema <strong>de</strong> gestão dinâmico e adaptativo às condições locais, os<br />

mo<strong>de</strong>los ali <strong>de</strong>senvolvidos po<strong>de</strong>m ser adaptados às características da pesca artesanal e <strong>de</strong> pequena<br />

escala aqui <strong>de</strong>senvolvidas para estabelecer um processo <strong>de</strong> gestão participativa. Em geral as áreas<br />

costeiras do Mediterrâneo e do Brasil têm baixa produtivida<strong>de</strong> e uma gran<strong>de</strong> pressão <strong>de</strong>mográfica, o<br />

que intensifica a pressão sobre os estoques pesqueiros, em virtu<strong>de</strong> da gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda por pescado.<br />

Se observarmos a <strong>de</strong>scrição da ativida<strong>de</strong> pesqueira do Mediterrâneo Norte-oci<strong>de</strong>ntal realizada por<br />

Martín (1991), Lleonart et al. (1999b) e Bas (2002), po<strong>de</strong>-se verificar que existem similarida<strong>de</strong>s<br />

com aquelas, por exemplo, em Pernambuco, que se caracterizam por uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

espécies e petrechos <strong>de</strong> pesca empregados, assim como pela variação sazonal das capturas.<br />

O mo<strong>de</strong>lo bio-econômico MEFISTO – Ferramenta <strong>de</strong> Simulação Pesqueira para o<br />

Mediterrâneo (MEditerranean FIsheries Simulation TOols), foi <strong>de</strong>senvolvido para a pesca <strong>de</strong><br />

pequena escala do Mediterrâneo Norte-oci<strong>de</strong>ntal (Franquesa & Lleonart, 2001) e tem como<br />

característica a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> simular diversas estratégias <strong>de</strong> gestão. MEFISTO tem como<br />

fundamento, <strong>de</strong> acordo com Lleonart et al. (1999a), Franquesa & Lleonart (2001) e Lleonart et al.<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

(2003), reproduzir as condições características da pesca <strong>de</strong> pequena escala do Mediterrâneo,<br />

incluindo vários aspectos que a diferenciam dos mo<strong>de</strong>los elaborados para as pescarias do Oceano<br />

Atlântico, po<strong>de</strong>ndo ser adaptado a outras pescarias especificas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que essas sejam multiespécies,<br />

multi-artes e multi-frotas. O mo<strong>de</strong>lo requer o estabelecimento <strong>de</strong> parâmetros biológicos<br />

dos estoques em análise (crescimento, comprimento e peso), parâmetros econômicos (custos das<br />

operações <strong>de</strong> pesca) e o estabelecimento da situação inicial do estoque (vetores <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>s<br />

natural e por pesca e o número <strong>de</strong> indivíduos por classe <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>). Foi construído <strong>de</strong> forma modular<br />

em um sistema <strong>de</strong> três caixas: a caixa do estoque, a caixa do mercado e a caixa do pescador:<br />

ESTOQUE<br />

PESCADOR<br />

MERCADO<br />

A caixa do estoque simula sua dinâmica, usando um mo<strong>de</strong>lo analítico especificado para a<br />

estrutura da população por ida<strong>de</strong>, referente a uma ou mais espécies principais, ou alvo das capturas,<br />

com dinâmica explícita. A entrada é o esforço <strong>de</strong> pesca e a capturabilida<strong>de</strong> (que vem da caixa do<br />

pescador) e o produto se constitui na mortalida<strong>de</strong> por pesca – a captura – que vai para a caixa do<br />

mercado. A caixa do mercado converte a captura em dinheiro com algumas funções <strong>de</strong> preço.<br />

MEFISTO suporta a consi<strong>de</strong>ração do preço <strong>de</strong> referência, como a importância do tamanho<br />

individual do pescado e a importância do tamanho da oferta. A caixa do pescador simula o seu<br />

comportamento econômico. A entrada é o dinheiro que vem da caixa do mercado. Seus rendimentos<br />

são o esforço <strong>de</strong> pesca que se aplicará pela arte na unida<strong>de</strong> seguinte <strong>de</strong> tempo, a capturabilida<strong>de</strong>, e o<br />

fator <strong>de</strong> seletivida<strong>de</strong>, que o pescador tem certo controle por via da função <strong>de</strong> seu capital.<br />

O mo<strong>de</strong>lo bio-econômico como MEFISTO permite avaliar o efeito teórico <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong><br />

gestão alternativas, principalmente importantes naquelas pescarias em estado <strong>de</strong> sobrexplotação que<br />

necessitam um processo <strong>de</strong> transição para se recuperarem. Permite estimar o custo <strong>de</strong> sua aplicação<br />

e a probabilida<strong>de</strong> e o êxito com que as medidas <strong>de</strong> gestão serão aplicadas, com ênfase na avaliação<br />

econômica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma simples inter-relação entre o recurso e esforço <strong>de</strong> pesca, a uma inter-relação<br />

complexa entre o recurso, o esforço <strong>de</strong> pesca e o sistema <strong>de</strong> gestão.<br />

Os beneficiários do produto do mo<strong>de</strong>lo são três: os pescadores, os pesquisadores e os<br />

tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, ou a administração; transformando-se, assim, em um importante e viável<br />

instrumento <strong>de</strong> gestão participativa. Segundo Franquesa & Lleonart (2001) e Lleonart et al. (2003),<br />

o mo<strong>de</strong>lo permite aos pescadores terem uma nova perspectiva do comportamento do ecossistema,<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

ampliando a compreensão da utilida<strong>de</strong> ou inutilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certas medidas <strong>de</strong> gestão e das diferenças<br />

em curto e médio prazos <strong>de</strong> perdas e ganhos. Para os pesquisadores esse mo<strong>de</strong>lo constitui uma<br />

ferramenta <strong>de</strong> pesquisa que po<strong>de</strong> permitir aumentar a compreensão dos mecanismos pelos quais o<br />

sistema <strong>de</strong> pesca opera. Po<strong>de</strong> também ser uma ferramenta <strong>de</strong> assessoramento e análise dos riscos <strong>de</strong><br />

aplicação <strong>de</strong> diferentes opções <strong>de</strong> gestão. Para a administração e tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, o mo<strong>de</strong>lo<br />

oferece a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar os efeitos biológicos e econômicos das medidas <strong>de</strong> gestão<br />

(técnica, econômica, ou ambas), importante no estabelecimento <strong>de</strong> políticas em curto e médio<br />

prazos, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que a durabilida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong> pesqueira <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da dinâmica do<br />

recurso biológico e não apenas em <strong>de</strong>cisões econômicas.<br />

CONSIDERAÇOES FINAIS<br />

Para a a<strong>de</strong>quada gestão dos recursos pesqueiros e proteção do meio ambiente <strong>de</strong>ve-se ter<br />

claro que a sobrexplotação e a insustentabilida<strong>de</strong> são causas principais <strong>de</strong> uma crise que ameaça, em<br />

um futuro próximo, o equilíbrio dos ecossistemas e a própria sobrevivência do setor pesqueiro.<br />

Como apresentado por Marrul Filho (2001), a sustentabilida<strong>de</strong> no uso dos recursos pesqueiros<br />

ganha sentidos e práticas diferentes, apresentando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ser alcançada ou não, a<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da visão que presi<strong>de</strong> o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> regulação adotado. É importante ter em mente, <strong>de</strong><br />

acordo com Freire (2000), que a pesca não é mais que um dos serviços que nos presta os<br />

ecossistemas marinhos.<br />

Dentre as diversas medidas 5 que se conhecem para evitar ou diminuir a pressão sobre os<br />

estoques populacionais, é importante <strong>de</strong>stacar que uma análise e acompanhamento das mesmas<br />

<strong>de</strong>vem ter um enfoque plurianual e multi-específico, que po<strong>de</strong>ria reduzir as incertezas relacionadas<br />

com as variações anuais do estoque disponível à pesca e permitiria um planejamento da ativida<strong>de</strong><br />

em mais longo prazo. Não existe nenhuma solução mágica para os problemas <strong>de</strong> conservação dos<br />

recursos pesqueiros, <strong>de</strong>vendo ser absorvidas o maior número possível <strong>de</strong> medidas, opiniões e<br />

experiências, sejam elas teóricas ou empíricas.<br />

Assim, por quê a mudança do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão po<strong>de</strong> permitir uma exploração sustentável?<br />

Quando um grupo <strong>de</strong> usuários, os pescadores neste caso, participa do processo <strong>de</strong>cisório, existe<br />

sempre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concretização das mudanças, pois o envolvimento da comunida<strong>de</strong> se<br />

reveste <strong>de</strong> importante processo para a construção <strong>de</strong> um sistema fundamentado nas experiências<br />

locais. De acordo com Freire (2000), quando os pescadores obtêm um direito exclusivo e efetivo <strong>de</strong><br />

exploração dos recursos, sua estratégia muda radicalmente, dado que seus objetivos individuais<br />

5 Algumas das medidas adotadas na atualida<strong>de</strong> são: captura total permissível (TAC); cotas <strong>de</strong> captura (ITQ); reservas<br />

extrativistas <strong>de</strong> pesca; proibição <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarte, criação da eco-etiquetagem; criação <strong>de</strong> conselhos consultivos; <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s e competências; e, principalmente, redução da capacida<strong>de</strong> e do esforço pesqueiro.<br />

64


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

passam a coincidir com os do coletivo. Em esses momentos se estabelecem sistemas <strong>de</strong> controle e<br />

gestão efetivos e pouco custosos.<br />

Para os interesses da gestão da ativida<strong>de</strong> pesqueira artesanal e <strong>de</strong> pequena escala, os<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>senvolvidos geralmente não levam em consi<strong>de</strong>ração a percepção e o comportamento dos<br />

pescadores diante dos estoques e ambientes que explotam. Falar em mo<strong>de</strong>lagem para a gestão<br />

participativa da pesca artesanal necessariamente tem-se que abordar as questões <strong>de</strong> conflitos entre<br />

sobrexplotação e sustentabilida<strong>de</strong> que tanto interferem no estabelecimento e implementação <strong>de</strong> um<br />

sistema <strong>de</strong> gestão a<strong>de</strong>quado a realida<strong>de</strong> e peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse segmento pesqueiro e dificulta o seu<br />

or<strong>de</strong>namento. De acordo com Marrul Filho (2001), esses mo<strong>de</strong>los po<strong>de</strong>m falsear quando<br />

confrontados com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem estabelecidos níveis <strong>de</strong> apropriação dos recursos<br />

pesqueiros que sejam socialmente sustentáveis, não po<strong>de</strong>ndo ser percebido como sustentável do<br />

ponto <strong>de</strong> vista político-institucional e prescin<strong>de</strong> da participação <strong>de</strong>mocrática dos atores e <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> coesão social para a <strong>de</strong>finição do que é sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Assim, tendo em consi<strong>de</strong>ração os pressupostos básicos inerentes à alocação ótima dos<br />

recursos naturais e às características da ativida<strong>de</strong> pesqueira que <strong>de</strong>termina, sob acesso irrestrito, a<br />

falha na alocação dos recursos, a ineficiência econômica e a sobrepesca, a condução <strong>de</strong> estudos<br />

sobre bio-economia pesqueira são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse para Estados costeiros em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

(Seijo et al., 1998). O <strong>de</strong>senvolvimento dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão atualmente <strong>de</strong>senvolvidos na<br />

península ibérica, ainda que longe <strong>de</strong> serem ótimos do ponto <strong>de</strong> vista biológico, permitiu o controle<br />

da ativida<strong>de</strong> pesqueira fundamentado em três pilares: prevenir, sancionar e responsabilizar. Sem<br />

dúvida, um a<strong>de</strong>quado sistema <strong>de</strong> gestão da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar em harmonia com seus ambiciosos<br />

objetivos, o qual exige um custo inegável entre os envolvidos para harmonizar ações e resultados,<br />

permitir uma cooperação ativa entre todas as partes afetadas e, acima <strong>de</strong> tudo, um apoio real do<br />

setor produtivo, o maior interessado na sustentabilida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong>.<br />

Uma questão é central na relação entre ciência e regulação do uso dos recursos pesqueiros,<br />

seja ela ina<strong>de</strong>quada ou insuficiente: o estado dos estoques explotados, principalmente quando tais<br />

conclusões apontam ou constatam sobrepesca, nem sempre consegue ser entendido pelos<br />

pescadores ou mesmo chegar a convencê-los da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem tomadas fortes medidas <strong>de</strong><br />

restrição a suas ativida<strong>de</strong>s. Desse modo, proteger os estoques passa a ser ponto <strong>de</strong> conflito entre<br />

produtores e tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão no âmbito das agências reguladoras, esses quase sempre<br />

alinhados com as conclusões da ciência. O problema na pesca é que, em <strong>de</strong>terminadas condições<br />

tecnológicas, gera benefícios extraordinários que atraem novos investidores.<br />

Assim, no processo <strong>de</strong> implementação da gestão participativa as respostas dos mo<strong>de</strong>los bioeconômicos<br />

po<strong>de</strong>m transformar-se em importantes instrumentos para se conscientizar o setor<br />

produtivo da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar sustentável a ativida<strong>de</strong>, pois em se conhecendo o estado do<br />

65


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

recurso biológico e a estrutura econômica usual, incorporam-se discussões fundamentais sobre<br />

espécies, estoques, frota pesqueira, distribuição geográfica da frota, o grau <strong>de</strong> integração entre a<br />

pesca artesanal e a pesca industrial e alguns importantes instrumentos e ferramentas <strong>de</strong> gestão.<br />

Essas variáveis permitem compreen<strong>de</strong>r as características gerais da pescaria em análise e contribuem<br />

para a construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo a<strong>de</strong>quado a cada específica situação biológica e econômica, <strong>de</strong><br />

acordo com os instrumentos locais disponíveis.<br />

O principal passo a se adotar para o estabelecimento <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>ve ser<br />

aquele que permita a efetiva aplicação (e não apenas legal) das regulamentações e só <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong>vemos iniciar os <strong>de</strong>bates sobre medidas técnicas, pois não tem sentido discutir sobre medidas <strong>de</strong><br />

gestão concretas quando é evi<strong>de</strong>nte que o controle <strong>de</strong> seu cumprimento é muito difícil, para não<br />

dizer impossível (Freire, 2000). Sem a participação do agente produtor, não há possibilida<strong>de</strong> alguma<br />

<strong>de</strong> acompanhar e aplicar medidas <strong>de</strong> regulamentação pesqueira. É impossível acompanhar e<br />

fiscalizar mais <strong>de</strong> 60.000 embarcações, <strong>de</strong> todos os tipos e tamanhos, existentes ao longo da costa<br />

brasileira. Por outro lado, ao processo <strong>de</strong> co-gestão não implicaria uma diminuição das funções das<br />

autorida<strong>de</strong>s públicas, pois na formação do coletivo se fortalece o todo. A co-gestão também é<br />

<strong>de</strong>fendida por Marrul Filho (2001) como um processo viável para o estabelecimento <strong>de</strong> um sistema<br />

cujo paradigma é o fortalecimento social e comunitário e para gerar sustentabilida<strong>de</strong> no uso dos<br />

recursos pesqueiros.<br />

A utilização das ferramentas bio-econômicas aqui apresentadas esta longe <strong>de</strong> estabelecerem<br />

um sistema <strong>de</strong> gestão ótimo para a pesca artesanal e <strong>de</strong> pequena escala, mas po<strong>de</strong>m se transformar<br />

em um instrumento po<strong>de</strong>roso para uma melhor compreensão da existência ou não <strong>de</strong> equilíbrios<br />

biológicos e econômicos nos sistemas <strong>de</strong> pesca atualmente em vigor. Po<strong>de</strong>-se, igualmente, melhor<br />

enten<strong>de</strong>r a susceptibilida<strong>de</strong> dos estoques aos processos antropogênicos e, ainda mais, as fragilida<strong>de</strong>s<br />

e estágio crítico dos sistemas institucionais e produtivos para evitar o excessivo esforço <strong>de</strong> pesca e a<br />

sobrexplotação a que estão submetidos os principais estoques <strong>de</strong> importância econômica, levando a<br />

uma ineficiência econômica, pois são resultados da falta <strong>de</strong> planejamento e gestão. Esses fatos são<br />

corroborados pelos argumentos levantados por Freire & García-Allut (2000), que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que os<br />

paradigmas biológicos e sócio-econômicos aos quais as políticas <strong>de</strong> gestão estão fundamentadas não<br />

são a<strong>de</strong>quados aos contextos existentes na pesca artesanal, e por Ludwig et al. (1993), para quem os<br />

problemas com os recursos pesqueiros não são realmente problemas ambientais, mas problemas<br />

antropogênicos que criamos no tempo e no espaço, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sistemas políticos,<br />

sociais e econômicos.<br />

Os resultados obtidos com a aplicação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los bio-econômicos po<strong>de</strong>m permitir o<br />

usufruto conjunto <strong>de</strong> conhecimentos para a toma <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. A administração po<strong>de</strong> obter melhores<br />

informações sobre o equilíbrio biológico dos estoques pesqueiros e econômica das frotas pesqueiras<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

dos trabalhos realizados pela comunida<strong>de</strong> cientifica e uma maior compreensão das estratégias <strong>de</strong><br />

pesca através do conhecimento empírico dos pescadores, para a <strong>de</strong>finição e implementação <strong>de</strong><br />

medidas <strong>de</strong> gestão para o <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong>. Equilíbrios biológicos e econômicos são<br />

objetivos a serem perseguidos e mantidos, na busca da sustentabilida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong>, através da<br />

análise conjunta da implementação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> conservação que encoraje a redução do atual<br />

nível do esforço <strong>de</strong> pesca, juntamente com medidas que atendam às <strong>de</strong>mandas dos pescadores, ou<br />

seja, a implementação conjunta <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> gestão biológica, econômica e técnica.<br />

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68


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

A PISCICULTURA NO RIO SÃO FRANCISCO: É POSSÍVEL CONCILIAR O USO<br />

MÚLTIPLO DOS RESERVATÓRIOS?<br />

Maria do Carmo Figueredo SOARES 1* ; José Patrocínio LOPES 2 ; Rogério BELLINI 3 ;<br />

Débora Queiroz MENEZES 4<br />

1 Departamento <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> e Aqüicultura da UFRPE<br />

2 Companhia Hidro Elética do São Francisco-CHESF<br />

3 Netuno <strong>Pesca</strong>dos Ltda.<br />

4 Piscicultura Necton<br />

*mcfs@<strong>de</strong>paq.ufrpe.br<br />

RESUMO<br />

Resumo - Os dados, que são apresentados, resultam <strong>de</strong> uma visita técnica realizada pelo grupo do<br />

Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial (PET) do Curso <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

Rural <strong>de</strong> Pernambuco, que realizou observações in loco dos empreendimentos aqüícolas da região<br />

do submédio São Francisco. Foram <strong>de</strong>scritas as principais ativida<strong>de</strong>s executadas, visitadas com<br />

auxílio dos técnicos que atuam na região, bem como refletir sobre a tilapicultura e o uso múltiplo<br />

dos reservatórios, no contexto da implementação do <strong>de</strong>senvolvimento da aqüicultura, com<br />

aproveitamento das potencialida<strong>de</strong>s econômicas e sociais endógenas, numa perspectiva sustentável<br />

e participativa.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Tilapicultura, Reservatórios, Associações, Cooperativas e Tanques-re<strong>de</strong>.<br />

THE PISCICULTURE IN THE SÃO FRANCISCO RIVER: IS IT POSSIBLE TO CONCILIATE<br />

THE WATER TANKS` MULTIPLE UTILIZATION?<br />

Abstract - The datums that are exposed in this work proceed from a technical inspection ma<strong>de</strong> by<br />

the group of the Program of Tutorial Education (PTE) of the Fe<strong>de</strong>ral Rural University of<br />

Pernambuco`s Fishery Engineering Course, which ma<strong>de</strong> in loco observations of the aquicolous<br />

enterprises located in the São Francisco River´s submedium path. The mentioned group ma<strong>de</strong> a<br />

<strong>de</strong>scription of the principal spots surveyed with the help of all experts that word in the region, and<br />

alto ma<strong>de</strong> a reflection about the tilapiaculture and the multiple use of the water tanks comprised in<br />

the context of the implementation of the aquiculture´s <strong>de</strong>velopment, including the good use of the<br />

endogenous economic and social potentialities, un<strong>de</strong>r a sustainable and participant perspective.<br />

Keywords: Tilapiculture, Reservoir, Associations, Cooperatives, Ponds-nets<br />

INTRODUÇÃO<br />

Na região nor<strong>de</strong>ste do Brasil, nas fronteiras dos Estados <strong>de</strong> Pernambuco, Alagoas, Sergipe e<br />

Bahia, que apresentam temperaturas elevadas e uniformes durante todo o ano, tornando possível à<br />

piscicultura com espécies tropicais, resultando em altos índices <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> vem se<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

<strong>de</strong>senvolvendo especificamente a tilapicultura, ou seja, a criação da tilápia-do-nilo Oreochromis<br />

niloticus, linhagem Chitralada.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a pesca continental, a região Nor<strong>de</strong>ste é a segunda maior produtora <strong>de</strong><br />

pescado <strong>de</strong> água doce do país, cujo <strong>de</strong>sempenho se <strong>de</strong>ve principalmente aos mais <strong>de</strong> 70 mil açu<strong>de</strong>s<br />

com área superior a mil m 2 , existente na região (Lazzaro et al., 1999). Durante várias décadas, o<br />

Departamento Nacional <strong>de</strong> Obras Contra as Secas (DNOCS), <strong>de</strong>senvolveu programas <strong>de</strong><br />

peixamento (trata-se <strong>de</strong> uma piscicultura <strong>de</strong> povoamento e re-povoamento) nos reservatórios.<br />

Estima-se que mais <strong>de</strong> 100 milhões <strong>de</strong> alevinos, proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> diversas regiões do Brasil e muitas<br />

espécies exóticas tenham sido transferidos para esses reservatórios (Lazzaro et al., 1999). Existem<br />

registros <strong>de</strong> que os primeiros peixamentos dos açu<strong>de</strong>s do DNOCS com a tilápia-do-nilo foram<br />

realizadas em 1973.<br />

Tanto que, nos açu<strong>de</strong>s públicos do Nor<strong>de</strong>ste, os recursos pesqueiros mais importantes são a<br />

tilápia nilótica, Oreochromis niloticus, espécie introduzida da África, que representa segundo Paiva<br />

et al. (1994), 26% do total das capturas; os camarões <strong>de</strong> água doce, Macrobrachium spp., com 11%;<br />

o tucunaré comum, Cichla monoculatus, 10,9%; a curimatã-comum, Prochilodus brevis (= P.<br />

cearensis), 6,4% e a pescada-do-piauí, Plagiosion squamosissimus, 2% .<br />

Neste contexto, a bacia do rio São Francisco é uma referência obrigatória <strong>de</strong> pesca, on<strong>de</strong> se<br />

pratica tanto a pesca <strong>de</strong> subsistência quanto a comercial. O rio São Francisco apresenta 2.780 km <strong>de</strong><br />

extensão, passando por sete Estados, on<strong>de</strong> ocorrem onze represamentos, com área alagada que<br />

correspon<strong>de</strong> à cerca <strong>de</strong> 23,3% da área represada no país (PLANVASF, 1989). Estima-se em<br />

600.000 ha a superfície do espelho d’água do curso principal, dos afluentes, dos reservatórios das<br />

hidrelétricas e das barragens públicas e privadas, sendo gran<strong>de</strong> o potencial para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da aqüicultura na região 6 .<br />

Nos trechos livres da bacia, as espécies mais valorizadas nas pescarias são as migradoras <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> porte, como o surubim, Pseudoplatystoma corruscans, o curimatã, Prochilodus argenteus, e<br />

o dourado, Salminus brasiliensis.<br />

Os reservatórios que alimentam as hidrelétricas da Companhia Hidro Elétrica do São<br />

Francisco (CHESF), armazenam mais <strong>de</strong> 50 bilhões <strong>de</strong> metros cúbicos nas barragens das usinas <strong>de</strong><br />

Sobradinho, Luiz Gonzaga (antiga Itaparica), complexo <strong>de</strong> Paulo Afonso (I, I, III e IV), Moxotó,<br />

Xingó e Boa esperança. O submédio São Francisco, região fisiográfica que se esten<strong>de</strong> <strong>de</strong> Remanso<br />

até a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paulo Afonso (BA), inclui os reservatórios <strong>de</strong> Itaparica (atual Luiz Gonzaga, em<br />

homenagem ao rei do baião), Moxotó, Paulo Afonso I, II, III e Paulo Afonso IV, o que representa,<br />

um enorme potencial aquático consi<strong>de</strong>rando ainda que a região estar situada no semi-árido<br />

nor<strong>de</strong>stino, daí a expressão: “o sertão vai virar mar” do cancioneiro popular.<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Entretanto, os estoques dos rios e reservatórios estão em <strong>de</strong>clínio por muitas razões: várias<br />

espécies nativas são migratórias e, a maioria das barragens no Brasil alterou o habitat <strong>de</strong>stas<br />

espécies, interferindo no seu ciclo <strong>de</strong> vida. A agricultura, a poluição doméstica e industrial com<br />

fechamento das ligações entre lagoas e rio pelos fazen<strong>de</strong>iros, também contribuíram para a<br />

<strong>de</strong>struição e poluição <strong>de</strong>stes locais. Os peixamentos <strong>de</strong> rios e reservatórios, com espécies nativas<br />

são feitos legalmente por companhias hidrelétricas e governo. Mas às vezes, também foram feitos<br />

ilegalmente (embora bem intencionado), com espécies introduzidas por pescadores, amadores e<br />

grupos da comunida<strong>de</strong>.<br />

A piscicultura em tanques-re<strong>de</strong> surgiu como uma resposta para o aumento da produção<br />

aqüícola, principalmente nas regiões do submédio e baixo São Francisco, on<strong>de</strong> se localizam<br />

projetos nos Reservatórios <strong>de</strong> Xingó, Itaparica e Paulo Afonso, nos municípios <strong>de</strong> Paulo Afonso,<br />

Delmiro Gouveia e Canindé <strong>de</strong> São Francisco, nas fronteiras dos estados <strong>de</strong> Pernambuco, Bahia,<br />

Alagoas e Sergipe. Além disto, um empreendimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte (AAT Internacional, para<br />

engorda <strong>de</strong> tilápias em Paulo Afonso-BA, em sistema raceways, utilizando a tilápia, da linhagem<br />

chitralada) tem contribuído para a implementação da produção. Apesar <strong>de</strong> ter sido implantado<br />

visando, sobretudo a exportação, atualmente o gran<strong>de</strong> mercado é o interno, com uma produção<br />

<strong>de</strong>stinando-se ao Estado do Ceará.<br />

Entretanto, co-existem na região a forma mais artesanal, para engorda <strong>de</strong>sta espécie,<br />

realizada por associações <strong>de</strong> produtores e cooperativas, alguns dos quais pescadores e/ou pessoas<br />

que viviam da pesca na região, e foram se transformando em produtores <strong>de</strong> peixes, utilizando-se <strong>de</strong><br />

tanques-re<strong>de</strong>, gerenciados pela própria comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma participativa e os gran<strong>de</strong>s grupos<br />

empresariais que implantaram o projeto Tilápia São Francisco.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a experiência e a diversida<strong>de</strong> das formas <strong>de</strong> piscicultura presentes na região há<br />

que se pensar numa ca<strong>de</strong>ia produtiva com espaço para as espécies nativas, principalmente oriundas<br />

da bacia do São Francisco 6 e, da espécie exótica que foi introduzida, a exemplo da tilápia, já<br />

consi<strong>de</strong>rada uma espécie naturalizada, sendo criada tanto em larga, como pequena escala. A tilápia<br />

tem mantido o sustento <strong>de</strong> várias comunida<strong>de</strong>s do interior <strong>de</strong>sta região, on<strong>de</strong> muitas vezes é o único<br />

peixe produzido tendo uma importância social imensa, pois permite que o alimento <strong>de</strong> origem<br />

animal chegue ao prato <strong>de</strong> uma população mais carente e, ultimamente se tornou um importante<br />

recurso da pauta <strong>de</strong> exportação do país.<br />

Assim, o foco <strong>de</strong>ste artigo técnico será a caracterização da atual situação da piscicultura<br />

nesta região do São Francisco, <strong>de</strong>stacando-se o que vem sendo observado por pesquisadores e<br />

técnicos que vivenciam ativida<strong>de</strong>s no local, além <strong>de</strong> observações, oriundas <strong>de</strong> visita técnica<br />

6 Conheça a Bacia do São Francisco: Disponível em: http://


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

realizada pelo grupo do Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial do Curso <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong><br />

(PET/<strong>Pesca</strong>) da UFRPE, no período <strong>de</strong> 16 a 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2007.<br />

PROJETO TILÁPIA SÃO FRANCISCO<br />

Uma primeira e, única etapa <strong>de</strong> implantação do Projeto Tilápia do São Francisco da AAT<br />

Internacional Ltda, empresa do grupo MPE (Valença da Bahia Maricultura S.A. e a Maricultura da<br />

Bahia S.A) e a empresa americana Arraina, Inc., aconteceu com a sua inauguração em 22 <strong>de</strong> março<br />

<strong>de</strong> 2002, localizada a jusante da barragem <strong>de</strong> Moxotó, no Município <strong>de</strong> Paulo Afonso na Bahia. O<br />

principal objetivo era explorar o gran<strong>de</strong> potencial aqüícola das barragens do São Francisco, em<br />

especial as <strong>de</strong> Paulo Afonso, para criação, industrialização e comercialização da tilápia para os<br />

mercados externo e interno 7 .<br />

Esta empresa contou com o suporte técnico, científico e biotecnólogico <strong>de</strong> especialistas<br />

norte-americanos para garantir tecnologia <strong>de</strong> ponta e a renovação e aprimoramento das técnicas a<br />

serem utilizadas na produção da tilápia. Outro investimento do grupo MPE em Paulo Afonso, em<br />

parceria com empresários equatorianos foi a empresa Centermar, uma fábrica <strong>de</strong> ração para peixes e<br />

camarões.<br />

O projeto Tilápia do São Francisco foi concebido para abranger todas as fases do processo<br />

produtivo, que incluía <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a produção <strong>de</strong> alevinos, a engorda <strong>de</strong> tilápias revertidas sexualmente<br />

em sistemas <strong>de</strong> raceways e o processamento, a industrialização e a comercialização dos produtos<br />

nos mercados internacional e nacional.<br />

Na unida<strong>de</strong> implantada em Moxotó, numa área <strong>de</strong> 33,47 hectares localizada a jusante da<br />

barragem, estão o Centro Integrado <strong>de</strong> Genética e Produção <strong>de</strong> alevinos, uma bateria <strong>de</strong> raceways<br />

com 104 tanques <strong>de</strong> cada lado, totalizando 208 unida<strong>de</strong>s, o Centro <strong>de</strong> Tecnologia Aplicada e uma<br />

área <strong>de</strong> administração. Foi também instalada a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Processamento e Industrialização do<br />

<strong>Pesca</strong>do, numa área <strong>de</strong> 16,41 hectares, localizada a jusante da barragem <strong>de</strong> Paulo Afonso IV.<br />

Atualmente, a empresa vem trabalhando com o sistema <strong>de</strong> criação intensivo em raceway,<br />

tendo sido implantado apenas 1/3 da capacida<strong>de</strong> prevista no projeto inicial. Nos 208 tanques<br />

submetidos a uma vazão <strong>de</strong> 30 m 3 <strong>de</strong> água / segundo é feita a engorda <strong>de</strong> tilápias. Os tanques foram<br />

construídos em série. A partir do primeiro tanque, on<strong>de</strong> ocorre a entrada da água existindo mais três<br />

tanques abaixo, sendo o primeiro povoado numa taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 6.000 tilápias/tanque, o<br />

segundo com 5.000, no terceiro 4.000 e o último com 3.000 peixes/tanque. Esses tanques têm o<br />

formato retangular e aproximadamente 30m 3 , havendo renovação total do volume d’água <strong>de</strong> cada<br />

um, durante 8 minutos.<br />

7 Panorama da AQÚICULTURA, março/abril, 2002.<br />

72


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

A diferença na taxa <strong>de</strong> estocagem é uma forma <strong>de</strong> manejo necessária <strong>de</strong>vido à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

oxigênio dissolvido, que ten<strong>de</strong> a diminuir à medida do distanciamento da entrada <strong>de</strong> água e da<br />

própria qualida<strong>de</strong> da água ao longo do circuito. Os peixes estão levando em média, 6 a 7 meses,<br />

para atingirem o peso <strong>de</strong> 700g, com uma taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 10%. (Comunicação pessoal<br />

dos técnicos tratadores durante a visita).<br />

O sistema <strong>de</strong> alimentação é livre, utilizando comedouros automáticos, tipo carboy, com<br />

capacida<strong>de</strong> para 50 litros <strong>de</strong> ração cada um, havendo dois comedouros por tanque. Estava sendo<br />

ofertada ração com 30% <strong>de</strong> proteína bruta nesta fase. Os peixes condicionaram-se a bater numa<br />

vareta (haste <strong>de</strong> metal, responsável pela abertura e fechamento da passagem da ração nestes<br />

compartimentos), quando necessitam <strong>de</strong> alimento, entretanto foi verificado in loco pelo grupo, que<br />

o sistema não estava funcionando muito bem, pois apresentava <strong>de</strong>feitos, estando entupidos, o que,<br />

não permitia as tilápias, o arraçoamento necessário, promovendo um certo estresse.<br />

A empresa dispõe <strong>de</strong> laboratório <strong>de</strong> reprodução, tendo os reprodutores sidos importados <strong>de</strong><br />

uma linhagem melhorada, a varieda<strong>de</strong> QAAT, <strong>de</strong>senvolvida no Arizona-EUA (Ainda conservam<br />

um lote <strong>de</strong>stes reprodutores, aproximadamente 300 exemplares, que são alimentados com ração<br />

contendo 40% <strong>de</strong> PB). Todo o ciclo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> alevinos é realizado no interior <strong>de</strong>ste<br />

laboratório, sob a forma <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> galpão, on<strong>de</strong> estão instalados o escritório, os tanques <strong>de</strong> fibra<br />

(circulares e retangulares), as incubadoras e aquecedores <strong>de</strong> água. Estão sendo produzidos 800 mil<br />

alevinos <strong>de</strong> tilápia/mês, com peso médio <strong>de</strong> até 1,5g. Estes alevinos são utilizados pela própria<br />

empresa e o exce<strong>de</strong>nte comercializado entre os produtores da região (Comunicação pessoal).<br />

A reprodução das tilápias é feita em hapas, on<strong>de</strong> se colocam os machos e fêmeas, sendo os<br />

ovos coletados da boca da fêmea a cada nove dias. O manejo da reprodução compreen<strong>de</strong> a reversão<br />

sexual das tilápias com o hormônio masculinizante (17 alfa-metil testosterona) adicionado à ração,<br />

sendo também acrescentados a vitamina C e o aminoácido metionina visando fortalecer o sistema<br />

imunológico dos alevinos e dar uma melhor performance <strong>de</strong> crescimento.<br />

A temperatura da água é mantida em torno <strong>de</strong> 30 a 31°C para a eclosão das larvas,<br />

utilizando-se aquecedores para controle da temperatura i<strong>de</strong>al. É feita uma contagem das larvas<br />

eclodidas através da estimativa volumétrica, on<strong>de</strong> em cada 10mL, há um número médio <strong>de</strong> 1000<br />

larvas. Após eclodirem, as larvas são levadas para uma ban<strong>de</strong>ja por 2 a 3 dias até o consumo do<br />

saco vitelínico, sendo posteriormente transferidas para calhas, on<strong>de</strong> tem inicio o processo <strong>de</strong><br />

reversão sexual, permanecendo nas mesmas por 10 dias e, <strong>de</strong>pois seguindo para tanques <strong>de</strong> 10.000L<br />

on<strong>de</strong> passam mais 20 dias, concluindo-se a reversão sexual em 30 dias.<br />

73


ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

ASSOCIAÇÕES<br />

Existem vários problemas que atingem o setor produtivo da aqüicultura no país com<br />

distintas origens. Entretanto, a gran<strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> para resolver esses problemas tem uma base<br />

comum: as dificulda<strong>de</strong>s históricas e culturais que o setor <strong>de</strong>monstra para se organizar. Gran<strong>de</strong> parte<br />

das associações <strong>de</strong> aqüicultores só existe no papel. Há casos <strong>de</strong> associações que contam com vários<br />

sócios, que nunca compareceram as reuniões. Em outras, existe a inadimplência em relação à<br />

mensalida<strong>de</strong> ou anuida<strong>de</strong>.<br />

As associações costumam ser formada em um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> euforia em relação à<br />

ativida<strong>de</strong>, mas, à medida que o tempo passa, o interesse vai diminuindo e falta continuida<strong>de</strong> das<br />

ativida<strong>de</strong>s. Isso ocorre até mesmo nos casos em que os associados po<strong>de</strong>riam gozar <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong><br />

benefício pessoal, como a compra <strong>de</strong> rações sem o pagamento do ICMS. Ainda existe um acentuado<br />

individualismo no setor produtivo.<br />

Entretanto, na região do submédio São Francisco, algumas associações estão prosperando, a<br />

exemplo da Associação Jovens Criadores <strong>de</strong> Tilápias, no Município <strong>de</strong> Jatobá –PE, com orientação<br />

do Padre Antônio, através da Diocese <strong>de</strong> Floresta (PE), que fez um empréstimo inicial <strong>de</strong> R$<br />

200.000,00 (duzentos mil reais), com aproximadamente 12 associados e, vem se <strong>de</strong>dicando a<br />

criação <strong>de</strong> tilápias em tanques–re<strong>de</strong>. Os associados trabalham diretamente no empreendimento,<br />

revezando-se em turnos, e tem tido uma renda mensal <strong>de</strong> aproximadamente dois salários mínimos,<br />

sendo uma parte da verba recolhida com a venda dos peixes, reservada para o pagamento do<br />

empréstimo que estará sendo quitado neste mês <strong>de</strong> maio/2007.<br />

Com o pagamento do empréstimo pelos associados, há a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong><br />

outros financiamentos, não se concretizando em empréstimo a fundo perdido, mas estimulando o<br />

retorno do capital investido para beneficiar outros produtores. Assim, outras cinco associações estão<br />

surgindo com a mesma dinâmica <strong>de</strong> produção, tendo como mo<strong>de</strong>lo esta primeira associação bem<br />

sucedida.<br />

Todo o trabalho da piscicultura nesta associação é realizado indiscriminadamente por seus<br />

associados, sejam eles mulheres ou homens. Está composta atualmente por 12 associados, mas esse<br />

número po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> 10 a 15. Não há associados que pertença à mesma família para evitar maior<br />

beneficiamento a uma <strong>de</strong>terminada família. São feitas reuniões diárias para repasse <strong>de</strong> informações<br />

entre as pessoas que estão trocando <strong>de</strong> turno para o bom andamento das ativida<strong>de</strong>s e serviços a<br />

serem <strong>de</strong>sempenhados. São ainda, realizadas reuniões semanais mais longas, on<strong>de</strong> após discussão as<br />

<strong>de</strong>cisões são tomadas em grupo, numa forma <strong>de</strong> gerenciamento participativo envolvendo todos os<br />

participantes.<br />

74


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Os associados se revezam entre as posições administrativas, não permanecendo mais <strong>de</strong> um<br />

mês em cada função. Não é admitido o trabalho <strong>de</strong> pessoas não associadas na piscicultura, para<br />

evitar problemas com questões trabalhistas. Na proprieda<strong>de</strong> a produção pertence a todos, não há<br />

divisões. A associação já tem as outorgas da Agência Nacional das Águas (ANA), licença ambiental<br />

da Agência Estadual <strong>de</strong> Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH), licença da marinha, CHESF e<br />

Secretaria Especial <strong>de</strong> Aqüicultura e <strong>Pesca</strong> (SEAP), apenas estar faltando à concessão <strong>de</strong> uso da<br />

água pública da união (Comunicação pessoal).<br />

A estrutura atual <strong>de</strong>sta associação possui 65 tanques-re<strong>de</strong> circulares <strong>de</strong> 12 ou 14 m 3 , não<br />

havendo interesse <strong>de</strong> ampliação, pois o projeto foi projetado para essa quantida<strong>de</strong>. Alimentam as<br />

tilápias com ração contendo 32% <strong>de</strong> proteína bruta, ofertada ad libitum, ao longo <strong>de</strong> todo o dia, não<br />

havendo horários fixos para alimentação, que é feita <strong>de</strong> acordo com o consumo dos peixes. Têm-se<br />

obtido taxas <strong>de</strong> conversão alimentar variando entre 1,4 a 1,45. É feita inclusão <strong>de</strong> vitamina C na<br />

ração, principalmente, antes <strong>de</strong> períodos <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> água da barragem, a fim <strong>de</strong> fortalecer o<br />

sistema imunológico dos peixes acrescentando-se PREMIX vitamínico e mineral, após a liberação<br />

da água para reabilitação.<br />

Os alevinos para engorda nos tanques-re<strong>de</strong> são adquiridos com aproximadamente 1g <strong>de</strong> peso<br />

total, sendo repicados em tanques telados, até atingem 10, 50 e 100g respectivamente. Ao<br />

alcançarem 100g são classificados visando otimizar a produção, povoando-se os tanques-re<strong>de</strong> numa<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2.000 alevinos/tanque. Num período <strong>de</strong> 6 meses os alevinos maiores atingem 1kg e os<br />

menores necessitam <strong>de</strong> 7 a 7,5 meses para alcançarem o mesmo peso. Estimam que os peixes mais<br />

<strong>de</strong>senvolvidos dobrem <strong>de</strong> peso a cada semana.<br />

Comercializam o peixe vivo, ou eviscerado, enterrando as vísceras. Estão estudando a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciar uma criação <strong>de</strong> dourado, <strong>de</strong> forma a utilizar as vísceras da tilápia na<br />

alimentação dos mesmos e, também <strong>de</strong>sejam fazer compostagem com essas vísceras.<br />

Com a liberação <strong>de</strong> água das barragens costumam ter problemas relacionados às correntezas,<br />

fazendo uma modificação da posição dos tanques-re<strong>de</strong> para evitar problemas em relação ao<br />

soerguimento das telas, levando os peixes à superfície. Estes associados vêm adquirindo uma forma<br />

prática <strong>de</strong> manejo a partir da convivência com o ambiente e a sua administração, gerenciando e<br />

cuidando do recurso pesqueiro.<br />

COOPERATIVA<br />

Uma figura jurídica que também viabiliza as pequenas proprieda<strong>de</strong>s é a cooperativa. O<br />

problema é que um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> cooperativas brasileiras, historicamente gerenciadas em<br />

mol<strong>de</strong>s muito centralizados, pouco voltados para o interesse dos cooperados, passa por momentos<br />

<strong>de</strong> séria crise financeira. Isso acaba naturalmente tendo um efeito adverso sobre o setor produtivo.<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Assim, existe um projeto <strong>de</strong> cooperativas na área <strong>de</strong> piscicultura implantada pela Bahia<br />

<strong>Pesca</strong>, em parceria com a Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Paulo Afonso e associações <strong>de</strong> pequenos<br />

produtores rurais para instalação <strong>de</strong> tanques-re<strong>de</strong> visando à produção <strong>de</strong> tilápia. Existem registros<br />

<strong>de</strong> 1,5 mil tanques já instalados, encontrando-se em fase <strong>de</strong> legalização, sendo um projeto <strong>de</strong><br />

referência nacional, aon<strong>de</strong> vem se <strong>de</strong>stacando o <strong>de</strong>sempenho alcançado, o aprimoramento das<br />

técnicas <strong>de</strong> manejo e a profissionalização <strong>de</strong> pequenos produtores que chegam a obter<br />

produtivida<strong>de</strong>s variando <strong>de</strong> 240 kg/tanque-re<strong>de</strong>/ciclo até 800 kg/tanque-re<strong>de</strong>/ciclo. Indiretamente a<br />

piscicultura em tanques-re<strong>de</strong> na região beneficia aproximadamente 100 famílias 8 .<br />

Um exemplo <strong>de</strong> cooperativa visitada foi a Associação dos Pequenos Produtores e dos<br />

Piscicultores <strong>de</strong> Malha Gran<strong>de</strong>, localizada em Paulo Afonso na Bahia. Trata-se uma cooperativa<br />

iniciada recentemente, que possui 400 tanques re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 4 m³ cada, distribuídos em um canyon com<br />

profundida<strong>de</strong> oscilando entre 80 e 100m. Devido a recente abertura das comportas e conseqüentes<br />

alterações das variáveis físicas e químicas da água, ocorreu uma perda total da produção com<br />

mortalida<strong>de</strong> dos peixes, encontrando-se a ativida<strong>de</strong> em fase <strong>de</strong> re-estruturação. A mortalida<strong>de</strong><br />

iniciada no mês <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007 foi ocasionada por mudanças na qualida<strong>de</strong> da água,<br />

comentando-se sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hipersaturação gasosa.<br />

MORTALIDADE DE PEIXES NO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO<br />

É preciso consi<strong>de</strong>rar que a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> piscicultura em tanques-re<strong>de</strong> nos gran<strong>de</strong>s<br />

reservatórios envolve riscos e necessita <strong>de</strong> melhor regularização, afinal trata-se da utilização <strong>de</strong><br />

águas públicas continentais <strong>de</strong> domínio da União.<br />

Apesar <strong>de</strong> toda uma argumentação <strong>de</strong> que a criação dos peixes em tanques–re<strong>de</strong> nos<br />

reservatórios é sustentável e agri<strong>de</strong> menos o ambiente, sendo um enorme potencial para produção<br />

aqüícola, faltam <strong>de</strong>finições da capacida<strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> cada reservatório e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> manejo que garantam o uso múltiplo <strong>de</strong>ste ambiente, contribui para<br />

formação <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros parques aquáticos, bem administrados e operacionalizados em termos <strong>de</strong><br />

controle <strong>de</strong> vazão e sistemas <strong>de</strong> prevenção.<br />

Algumas manchetes já saíram publicadas, noticiando: Chuvas e Verão causaram Prejuízos a<br />

Piscicultores 9 , <strong>de</strong>stacando: “na primeira semana <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2002, os piscicultores <strong>de</strong> Paulo<br />

Afonso foram surpreendidos por uma forte chuva que causou gran<strong>de</strong>s prejuízos. Vários associados<br />

per<strong>de</strong>ram toda sua produção <strong>de</strong> tilápias, assim como suas estruturas <strong>de</strong> tanques-re<strong>de</strong>, embora a<br />

Prefeitura até tentasse remediar a situação através <strong>de</strong> auxílio financeiro, mas acontecimentos <strong>de</strong>ste<br />

tipo têm <strong>de</strong>sestruturado a ativida<strong>de</strong>”.<br />

8 Dados extraídos do Relatório da Mortanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> peixes em 2007 nos cultivos em tanques re<strong>de</strong>s no reservatório <strong>de</strong><br />

Xingo, Município <strong>de</strong> Paulo Afonso-BA.<br />

9 Panorama da AQUICULTURA, janeiro/fevereiro, 2002<br />

76


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Há também registros do tipo: “com a abertura dos vertedouros das usinas Paulo Afonso IV,<br />

Moxotó e da Cachoeira <strong>de</strong> Paulo Afonso, em janeiro <strong>de</strong> 2004, que provocou um aumento <strong>de</strong> vazão<br />

da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 400%, atingiram-se várias unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação em tanques–re<strong>de</strong>, causando a morte dos<br />

peixes e novo prejuízo para os piscicultores”. Novamente com a abertura dos vertedouros das<br />

mesmas usinas, em janeiro <strong>de</strong> 2007, novas mortalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> peixes foram registradas, não somente<br />

dos tanques-re<strong>de</strong>, mas a própria ictiofauna do São Francisco é afetada.<br />

Portanto, esses problemas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peixes no submédio São Francisco estão<br />

ocorrendo e, aparentemente, até <strong>de</strong> forma cíclica. É necessário que os mesmos, sejam mais<br />

estudados e melhor documentados em laudos oficiais para que providências oficiais possam ser<br />

tomadas, com a participação das instituições que atuam no setor, buscando estratégias para<br />

equacionar a problemática. Nesta última mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2007, segundo dados do relatório <strong>de</strong><br />

mortanda<strong>de</strong>, op cit, contabilizou-se aproximadamente 297 toneladas <strong>de</strong> peixes mortos,<br />

representando um prejuízo <strong>de</strong> R$ 980 mil, o que causa sérias conseqüências aos grupos <strong>de</strong> pequenos<br />

produtores (associados e/ou cooperados) que têm na piscicultura a única alternativa <strong>de</strong> geração <strong>de</strong><br />

ocupação e renda na região.<br />

ESTAÇÃO DE PISCICULTURA DA CHESF<br />

A Estação <strong>de</strong> Piscicultura da CHESF em Paulo Afonso tem uma área <strong>de</strong> 160.000m²,<br />

possuindo 42 tanques para alevinagem, 15 viveiros <strong>de</strong> larvicultura, 10 incubadoras para ovos livres<br />

e 20 incubadoras para ovos a<strong>de</strong>sivos. Dispõe <strong>de</strong> laboratório e pavilhão <strong>de</strong> hipofisação, além <strong>de</strong><br />

aquários e equipamentos necessários ao manejo dos peixes.<br />

Em função do represamento <strong>de</strong> águas do rio São Francisco, as espécies <strong>de</strong> peixes reofílicos<br />

sofreram gran<strong>de</strong> impacto, isto porque foram impedidas <strong>de</strong> subir as águas para realizar a migração<br />

reprodutiva. Visando contornar este impacto, a piscicultura da CHESF realizou a reprodução<br />

artificial <strong>de</strong> várias espécies do rio São Francisco, como: a curimatã-piau, Prochilodus costatus;<br />

piau-verda<strong>de</strong>iro, Leporinus obtusi<strong>de</strong>n; piau-lavrado, Schizodon fasciatus; surubim,<br />

Pseudoplatystoma corruscans; pacamã, Lophiosilurus alexandri, dourado, Salminus brasiliensis;<br />

<strong>de</strong>ntre outras.<br />

Também utilizaram técnicas para repovoamento dos lagos utilizando: tilápia-do-nilo,<br />

surubim, dourado, pacamã, apaiari (Astronotus ocellatus) e, tambaqui (Colossoma macropomum).<br />

Existe um pequeno museu com espécimes <strong>de</strong> diferentes filos, animais marinhos fixados, que<br />

po<strong>de</strong>m ser observados pela comunida<strong>de</strong> local, distante do mar, como um atrativo e serviço da<br />

companhia.<br />

Atualmente o objetivo principal <strong>de</strong>sta estação é a reprodução e repovoamento <strong>de</strong> espécies<br />

nativas do rio São Francisco, como curimatãs, piaus, dourado, pacamã e surubim.<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

EMPREENDIMENTOS PARTICULARES: O EXEMPLO DA PISCICULTURA NECTON<br />

O empreendimento fica localizado no município <strong>de</strong> Jatobá no Estado <strong>de</strong> Pernambuco,<br />

atualmente administrado pela Engenheira <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> Débora Queiroz, ex-integrante do PET/<strong>Pesca</strong> da<br />

UFRPE. É produzida a tilápia em tanques-re<strong>de</strong>, numa área do Reservatório <strong>de</strong> Moxotó. Há 6<br />

funcionários fixos, além <strong>de</strong> outros temporários. Existem 44 tanques re<strong>de</strong>, com volumes <strong>de</strong> 14 m³, 25<br />

m 3 e 50m 3 , com formatos circulares, quadrangulares e retangulares, respectivamente, colocados a<br />

uma profundida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 8m, fixados através <strong>de</strong> cabos long line e passarelas flutuantes. O<br />

projeto visa à implantação <strong>de</strong> 300 tanques-re<strong>de</strong>, entretanto ainda não se obteve o licenciamento para<br />

a expansão.<br />

O acesso aos tanques-re<strong>de</strong> é feito através <strong>de</strong> pequenos barcos. O arraçoamento é realizado 6<br />

vezes ao dia para a engorda e, 8 vezes nos tanques com alevinos, que são adquiridos já na fase II,<br />

possuindo peso médio <strong>de</strong> 30g a um produtor <strong>de</strong> Paulo Afonso<br />

Os alevinos são mantidos em tanques-re<strong>de</strong> berçários até atingirem 100g, sendo alimentados<br />

durante este período com uma ração contendo 36% <strong>de</strong> proteína bruta. Uma vez atingido o peso <strong>de</strong><br />

100g, há uma repicagem, com sua transferência para os tanques-re<strong>de</strong> <strong>de</strong>finitivos, on<strong>de</strong> ocorrerá a<br />

engorda utilizando ração com 32% <strong>de</strong> PB. Após sete meses, os peixes atingem o peso final para<br />

comercialização variando <strong>de</strong> 850 a 900g.<br />

Durante a <strong>de</strong>spesca, os tanques-re<strong>de</strong> são <strong>de</strong>slocados até às proximida<strong>de</strong>s da margem, sendo<br />

as tilápias comercializadas vivas. Os peixes são colocados em caminhão que possuem cinco caixas<br />

isotérmicas d’água, supridas com oxigênio (transfish), cuja capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada caixa é <strong>de</strong> 2.400 L,<br />

sendo transportadas para a fábrica <strong>de</strong> beneficiamento da Netuno <strong>Pesca</strong>dos Ltda.<br />

Uma pequena casa funciona como escritório e local para armazenamento da ração e<br />

utensílios. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ração administrada é calculada segundo recomendação do fabricante.<br />

Durante a primeira semana, após o povoamento com os alevinos (30g), estes são alimentados com<br />

ração enriquecida com vitamina C, na proporção <strong>de</strong> 4g/kg, on<strong>de</strong> é utilizado óleo vegetal (óleo <strong>de</strong><br />

cozinha) como aglutinante. A ração enriquecida com vitamina C, também é fornecida aos peixes<br />

após a realização das repicagens para fortalecimento do sistema imunológico.<br />

CENTRO DE APOIO AO PRODUTOR (CAP) DA NETUNO<br />

Está sendo implantado em Petrolândia-PE o Centro <strong>de</strong> Apoio ao Produtor (CAP) on<strong>de</strong> foi<br />

possível observar viveiros escavados para a produção <strong>de</strong> alevinos <strong>de</strong> tilápia I e II, num total <strong>de</strong> 11<br />

viveiros <strong>de</strong> 250 m 2 e 22 viveiros <strong>de</strong> 750 m 2 . Estavam também, em processo <strong>de</strong> construção, um<br />

gran<strong>de</strong> reservatório em cota mais elevada para abastecer os viveiros por gravida<strong>de</strong> e uma bacia <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cantação. O projeto prevê ainda a instalação <strong>de</strong> 3.000 tanques, em três áreas com 1.000 tanques<br />

cada.<br />

78


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste empreendimento é fornecer alevinos e juvenis <strong>de</strong> tilápia na região (do tipo<br />

alevino I e II) incentivando, assim a criação da espécie em tanques-re<strong>de</strong>. Há uma perspectiva <strong>de</strong><br />

produção em torno <strong>de</strong> meio milhão/alevinos <strong>de</strong> tilápia/mês, após a entrada em funcionamento <strong>de</strong>ste<br />

centro. Os alevinos serão <strong>de</strong>stinados para atendimento da engorda do próprio Centro e<br />

comercialização com os produtores locais.<br />

FÁBRICA DE BENEFICIAMENTO DA NETUNO PESCADOS<br />

O projeto Tilápia São Francisco inicialmente previa fechar toda a ca<strong>de</strong>ia produtiva da tilápia<br />

e construiu a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Processamento e Industrialização do <strong>Pesca</strong>do, com gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

beneficiamento, com uma planta processadora dotada <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnos equipamentos para<br />

beneficiamento, conservação e embalagem <strong>de</strong> peixes. Essa unida<strong>de</strong> ficou superdimensionada se for<br />

levado em consi<strong>de</strong>ração, que a fazenda produtora teve sua capacida<strong>de</strong> implantada reduzida para um<br />

terço da capacida<strong>de</strong> inicialmente planejada. Assim, começou a haver ociosida<strong>de</strong> do setor e esta<br />

unida<strong>de</strong> foi vendida para Netuno <strong>Pesca</strong>dos Ltda.<br />

Atualmente a unida<strong>de</strong> transformou-se numa fábrica <strong>de</strong> beneficiamento da Netuno <strong>Pesca</strong>dos<br />

Ltda, a Alimentos SA, sendo um centro <strong>de</strong> processamento do pescado pertencente ao grupo Netuno,<br />

beneficiando aproximadamente 9 a 10 toneladas <strong>de</strong> tilápia por dia, utilizando para isto, as normas<br />

internacionais estabelecidas pela Análise <strong>de</strong> Perigos e Pontos Críticos <strong>de</strong> Controle (APPCC).<br />

Assim, a Netuno tem adquirido quase toda a produção <strong>de</strong> tilápia dos produtores da região do<br />

submédio São Francisco e processado, ainda um volume aquém <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong>, que po<strong>de</strong> chegar<br />

a 30 toneladas/dia, trabalhando-se em três turnos.<br />

Toda a linha <strong>de</strong> processamento e beneficiamento ocorre <strong>de</strong> forma retilínea para evitar a<br />

contaminação cruzada. O processo tem início com a recepção das tilápias que são colocados em<br />

tanques e, transferidas para o interior da fábrica, on<strong>de</strong> os peixes são sangrados para o<br />

branqueamento da carne e, <strong>de</strong>pois colocados numa esteira que conduz a máquina <strong>de</strong>scamadora,<br />

retirando-se as escamas e excesso <strong>de</strong> sangue, permanecendo neste circuito por cerca <strong>de</strong> 10 minutos.<br />

Posteriormente ocorre a classificação <strong>de</strong> acordo com o peso do animal, feita em uma máquina<br />

que pesa automaticamente e seleciona-os por peso <strong>de</strong>sejado, o que varia, mediante o produto a ser<br />

ofertado (peixe inteiro congelado com ou sem cabeça; posteados, filetados, etc).<br />

No setor <strong>de</strong> filetagem é retirada a pele do peixe, numa máquina processadora, sendo filetado<br />

manualmente, com rendimento <strong>de</strong> 31- 32%, produzindo filés <strong>de</strong> 120 a 150g. O rendimento do filé<br />

utilizando a máquina <strong>de</strong> filetagem é menor, ficando em torno <strong>de</strong> 26%, daí a opção pela forma<br />

manual. O filé po<strong>de</strong> ser vendido fresco, congelado e congelado temperado com pimenta do reino<br />

sem uso <strong>de</strong> sal. Foi comunicado pessoalmente que as tilápias proce<strong>de</strong>ntes da AAT estavam<br />

produzindo um filé <strong>de</strong> menor rendimento (28%) quando comparadas as tilápias produzidas pelos<br />

associados e produtores da região em tanques-re<strong>de</strong> (31-32%).<br />

79


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

A carcaça do peixe resultante da filetagem é aproveitada passando-se numa máquina<br />

<strong>de</strong>spolpa<strong>de</strong>ira, sendo as polpas retiradas, acondicionadas em embalagens <strong>de</strong> 2kg, po<strong>de</strong>ndo ser<br />

utilizada para fazer carne <strong>de</strong> hambúrguer, salames e almôn<strong>de</strong>gas, ou seja, agregando valor ao<br />

produto.<br />

Os <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>jetos atualmente são <strong>de</strong>scartados, mas a Netuno está fazendo um convênio com<br />

a fábrica da Purina, que fica ao lado, para que esses <strong>de</strong>jetos sejam aproveitados como fonte protéica<br />

na fabricação <strong>de</strong> ração. Também estar construindo uma estrutura no parque industrial, que <strong>de</strong>verá<br />

transformar todo o rejeito em farinha <strong>de</strong> peixe e óleo para ser utilizado como biodísel.<br />

A indústria dispõe <strong>de</strong> duas fábricas <strong>de</strong> gelo e <strong>de</strong> uma estrutura para a pré-embalagem e<br />

embalagem dos produtos oferecidos, sendo o carro chefe do processamento nesta unida<strong>de</strong>, a tilápia.<br />

Atualmente os maiores fornecedores <strong>de</strong> tilápia para a empresa são produtores <strong>de</strong> Itacuruba (PE),<br />

(uma fazenda do grupo Netuno) e <strong>de</strong> Nova Glória (BA).<br />

Aparentemente, todos os subprodutos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarte do processamento das tilápias po<strong>de</strong>m ser<br />

utilizados: a cabeça já vem sendo usada como isca para a pesca da lagosta; as vísceras po<strong>de</strong>m ser<br />

empregadas em ração <strong>de</strong> suínos; a pele em indústria <strong>de</strong> beneficiamento <strong>de</strong> couro e as escamas para<br />

o artesanato; embora, esse aproveitamento integral ainda não esteja ocorrendo.<br />

A ENGENHARIA DE PESCA NA UNEB EM PAULO AFONSO<br />

A Universida<strong>de</strong> Estadual da Bahia (UNEB), está presente geograficamente em todos as<br />

regiões do Estado da Bahia, estruturada no sistema multicampi. Atualmente encontra-se em<br />

funcionamento, no campus VIII da UNEB (Paulo Afonso), cinco curso <strong>de</strong> graduação: Licenciatura<br />

em Pedagogia (o mais antigo); Licenciatura em Matemática; Licenciatura em Biologias e os<br />

bacharelados em <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> e Direito.<br />

O curso <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> foi implantado em 1998, tendo iniciado a primeira turma<br />

em 08/03/1999 . A carga horária mínima é <strong>de</strong> 3.180h, num regime letivo semestral com 40 vagas. A<br />

primeira turma, com 21 alunos, concluiu em outubro <strong>de</strong> 2003, colando grau <strong>de</strong> uma forma criativa,<br />

durante o Congresso Nacional <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> (CONBEP), realizado em Porto Seguro(BA).<br />

O curso tem uma temática voltada para os ecossistemas dulciaqüícolas, haja vista o entorno<br />

ser o rio São Francisco. Encontra-se em construção, no interior <strong>de</strong>ste campus, o Centro Tecnológico<br />

em Aqüicultura, o que virá estruturar melhor as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e pesquisa nesta área. Há<br />

também um anseio da aca<strong>de</strong>mia para implantação <strong>de</strong> um curso em nível <strong>de</strong> pós-graduação. Quem se<br />

encontra respon<strong>de</strong>ndo pela Direção <strong>de</strong>sse campus da UNEB é a Engenheira <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> Fátima Lúcia<br />

<strong>de</strong> Brito, responsável pela gestão 2006/2008.<br />

Foi interessante observar jovens engenheiros <strong>de</strong> pesca formados neste curso da UNEB,<br />

exercendo sua profissão localmente, a exemplo <strong>de</strong> profissionais que estão trabalhando na AAT<br />

80


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Internacional. É claro que a pesquisa, o ensino e a extensão na área da <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong><br />

precisam ser fortalecidos e priorizados, numa região <strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong> potencial. Ciência, tecnologia e<br />

setor produtivo precisam caminhar juntos na busca <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável para o setor.<br />

Um dos aspectos positivos para a consolidação <strong>de</strong>ste curso em Paulo Afonso é a própria<br />

necessida<strong>de</strong> local para a formação <strong>de</strong> um contingente <strong>de</strong> técnico com conhecimentos específicos,<br />

em condições <strong>de</strong> contribuir para que essa região torne-se um dos principais pólos produtores <strong>de</strong><br />

tilápia do país.<br />

Durante a visita técnica do grupo PET/<strong>Pesca</strong> à região foi possível conhecer as instalações do<br />

campus VIII da UNEB e, realizar uma reunião envolvendo a direção e os coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> cursos<br />

com o intuito <strong>de</strong> apresentar as ativida<strong>de</strong>s do Programa <strong>de</strong> Educação Tutorial, existente em vários<br />

cursos e universida<strong>de</strong>s brasileiras, <strong>de</strong>stacando sua filosofia e princípios e sua possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ampliação junto a outros cursos <strong>de</strong> graduação.<br />

Essa reunião visou estimular o corpo docente da UNEB para apresentarem propostas <strong>de</strong><br />

criação <strong>de</strong> grupos PET, no âmbito dos cursos, com ênfase para o fortalecimento do Curso <strong>de</strong><br />

<strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> daquela IES. Depoimentos <strong>de</strong> dois bolsistas e exposição da tutora do grupo<br />

esclareceram diversas dúvidas dos professores, informando sobre o PET e o edital específico que<br />

será lançado pelo MEC/SESu, para criação <strong>de</strong> novos grupos, visando a expansão do programa.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A região do submédio São Francisco <strong>de</strong>sponta no cenário nacional como o gran<strong>de</strong> potencial<br />

para implementação <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> parque aqüícola, com espaço para que vários tipos <strong>de</strong><br />

empreendimentos possam se <strong>de</strong>senvolver. Há, entretanto a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se observar à inclusão e<br />

os saberes que estão sendo adquiridos no manejo dos tanques-re<strong>de</strong> e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização<br />

dos produtores, que <strong>de</strong>vem atuar como gestores, numa forma <strong>de</strong> ação participativa.<br />

Os vários elos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção da tilapicultura nesta região encontram-se em<br />

consolidação, com boa estrutura, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a produção dos alevinos e sua ampliação, em termos <strong>de</strong><br />

escala <strong>de</strong> produção, fábrica <strong>de</strong> ração instalada e uma gran<strong>de</strong> empresa <strong>de</strong> processamento e<br />

beneficiamento do pescado, além do curso <strong>de</strong> graduação <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> que precisa ser<br />

valorizado e fortalecido.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo esse potencial da região do submédio São Francisco para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da piscicultura, o que se soma com sua região vizinha, o baixo São Francisco, on<strong>de</strong> estar se<br />

<strong>de</strong>senvolvendo arranjos produtivos locais, com <strong>de</strong>staque para o APL Piscicultura no Vale do São<br />

Francisco, que tem garantido recursos e investimentos públicos e privados <strong>de</strong> diversas instituições,<br />

a exemplo do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), da Companhia <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

do Vale do Rio São Francisco e do Rio Parnaíba (CODEVASF), além <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> empresários e<br />

membros do governo <strong>de</strong> Israel, ao visitarem as regiões, num roteiro que incluiu os municípios <strong>de</strong><br />

81


Bahia 10 É interessante <strong>de</strong>stacar a implantação nas proximida<strong>de</strong>s da região do Centro <strong>de</strong> Referência<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Coruripe, Delmiro Gouveia e Piranhas, em Alagoas; Própria, em Sergipe e Paulo Afonso, na<br />

em Aqüicultura do São Francisco, o CERAQUA/SF, numa parceria da CODEVASF com a<br />

SEAP/PR. Portanto, várias articulações, entre as regiões e as instituições que operam na bacia do<br />

São Francisco são imprescindíveis para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável da aqüicultura.<br />

Observa-se que a aqüicultura tem sido promovida ao longo da bacia do São Francisco como<br />

ativida<strong>de</strong> alternativa para pescadores e para mitigar a redução do pescado em função dos efeitos da<br />

construção das barragens. Em particular, a tilapicultura em tanques-re<strong>de</strong> tanto no submédio como<br />

no baixo Rio São Francisco, principalmente nos reservatórios <strong>de</strong> Paulo Afonso e Xingó é uma<br />

realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção em pequena escala realizada por membros da comunida<strong>de</strong>, através das<br />

associações, legalizando-se paulatinamente essa ativida<strong>de</strong>. Concomitantemente tem se <strong>de</strong>senvolvido<br />

a criação em larga escala, cuja finalida<strong>de</strong> era exportação, promovida pela municipalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paulo<br />

Afonso, através da AAT com tanques tipo raceways, co-existindo as duas formas <strong>de</strong> produção.<br />

A tilápia esta sendo consi<strong>de</strong>rada a melhor espécie para aumentar a produtivida<strong>de</strong> em virtu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> toda uma tecnologia, embora existam algumas inquietações não resolvidas, como qual a<br />

capacida<strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> cada reservatório, problemas <strong>de</strong> segurança e qual a responsabilida<strong>de</strong> das<br />

companhias elétricas no uso dos reservatórios. A gestão <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> água para múltiplos usos é<br />

um <strong>de</strong>safio nestas regiões, mas isto já estar sendo cada vez mais perseguido em escala mundial.<br />

A lei da água revisada em 1997 e, uma política para diversificar fontes <strong>de</strong> energia <strong>de</strong><br />

maneira sustentável esta colocando o país, à frente da necessida<strong>de</strong> das políticas <strong>de</strong> gestão da água.<br />

O Brasil esta tentando implementar tais políticas por meio dos Comitês <strong>de</strong> Bacias, os quais incluem<br />

representação dos vários usuários <strong>de</strong> água, sendo o processo normatizado pela Secretaria <strong>de</strong><br />

Recursos hídricos e, implementado pela agência Nacional da Águas, sendo fundamental se trabalhar<br />

com mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão que consi<strong>de</strong>rem os usuários múltiplos.<br />

A Estação <strong>de</strong> Piscicultura da CHESF em Paulo Afonso <strong>de</strong>sempenha um trabalho <strong>de</strong><br />

relevância com a produção <strong>de</strong> alevinos das diversas espécies autóctones do rio São Francisco<br />

visando mitigar, parte dos impactos ambientais causados, principalmente, por causa dos gran<strong>de</strong>s<br />

barramentos para geração <strong>de</strong> energia elétrica. Um dos pontos positivos do empreendimento <strong>de</strong><br />

geração elétrica nesta região é observado no entorno, com a dotação <strong>de</strong> infra-estrutura (estradas<br />

asfaltadas, hospitais, escolas, irrigações etc.), numa cida<strong>de</strong> localizada em pleno sertão nor<strong>de</strong>stino.<br />

Recentemente, com a expansão da piscicultura no nor<strong>de</strong>ste brasileiro e, em especial no<br />

sistema <strong>de</strong> criação em tanques-re<strong>de</strong>, a CHESF, vem liberando áreas dos seus reservatórios para esta<br />

10 Piscicultura <strong>de</strong>senvolvida pela CODEVASF <strong>de</strong>sperta interesse <strong>de</strong> Israel 09/03/2007. Disponível em http://<br />

www.coepbrasil.org.br/noticias.asp?id_noticia=1773.<br />

82


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

finalida<strong>de</strong>. Além disto, a Estação <strong>de</strong> Piscicultura em Paulo Afonso tem servido como ponto <strong>de</strong><br />

apoio a pesquisas, procurando <strong>de</strong>senvolver tecnologias <strong>de</strong> reprodução induzida.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a potencialida<strong>de</strong> da região para produção e comercialização <strong>de</strong> peixes<br />

carnívoros <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte como o dourado, Salminus brasiliensis, o surubim, Pseudoplatystoma<br />

corruscans, e o pacamã, Lophiosilurus alexandri, nativos da bacia do São Brancisco, a CHESF<br />

efetuou convênio com o Projeto Pacu (Mato Grosso do Sul) para <strong>de</strong>senvolver tecnologia <strong>de</strong><br />

reprodução <strong>de</strong>stas espécies, visando o repovoamento e o incremento da piscicultura intensiva<br />

também com espécies nativas diversificando a produção a partir dos reservatórios.<br />

Neste contexto, conclui-se que gran<strong>de</strong>s são as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aqüicultura que ocorrem<br />

nestas regiões e gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá ser o somatório dos esforços para garantir o <strong>de</strong>senvolvimento com<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, aproveitando o que já existe implementado e buscando-se solucionar os problemas<br />

que vão ocorrendo à medida que a ativida<strong>de</strong> se expan<strong>de</strong>, envolvendo um gerenciamento<br />

participativo.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Á CHESF, na pessoa <strong>de</strong> Gilberto <strong>de</strong> Barros Pedrosa Júnior, pelo apoio logístico<br />

disponibilizado. Aos bolsistas do PET/<strong>Pesca</strong>, pelo auxílio nas anotações e pelo registro fotográfico.<br />

Aos engenheiros <strong>de</strong> pesca Débora Queiroz Meneses, José Patrocínio Lopes e Rogério Bellini que<br />

gentilmente nos auxiliaram durante toda a visita.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Bahia <strong>Pesca</strong> (2007). Relatório da mortandan<strong>de</strong> <strong>de</strong> peixes em 2007 nos cultivos em tanques-re<strong>de</strong> no<br />

reservatório <strong>de</strong> Xingo, Município <strong>de</strong> Paulo Afonso-BA. Paulo Afonso : Bahia <strong>Pesca</strong>.<br />

Lazzaro, X. V. et al. (1999). Biologie, Écologie et Abondance dês Communautés Piscicoles <strong>de</strong>s<br />

Réservoirs du Pernambuc Semi-Ari<strong>de</strong>. Workshop Projeto Açu<strong>de</strong>s, Recife: UFRPE/IRD/CNPq, 22-<br />

24 <strong>de</strong> noviembre.<br />

Paiva, M. P. et al. (1994). Relationship Between the Number of Predatory Fish Species and Fish<br />

Yild in Large North-Easstern Brazilian Reservois. In: Gowx, I. G. (Ed). Rehabilitation of<br />

freshwarter fisheries (pp.120-129). Bodman (U. K): Fishing News Books.<br />

Paulo Afonso-BA (2002). Chuvas <strong>de</strong> verão causam prejuízos a piscicultores. Panorama da<br />

Aqüicultura, janeiro/fevereiro, 12(69):.55.<br />

PLANVASF (1989) Programa para o Desenvolvimento da <strong>Pesca</strong> e Aqüicultura. Plano Diretor<br />

para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco, Brasília.<br />

Projeto Tilápia São Francisco (2002). Panorama da Aqüicultura, março/abril 12(70): 41-47.<br />

83


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

EDUCAÇÃO COOPERATIVISTA PARA PESCA ARTESANAL<br />

Sileno Luís <strong>de</strong> ALCANTARA 1* ; Andréa Teixeira <strong>de</strong> SIQUEIRA 2<br />

1 Prorural-PE; 2 TS Alimentos Ltda.<br />

*silenoluis@yahoo.com.br<br />

Resumo - Os objetivos <strong>de</strong>ste trabalho foram analisar as razões que levaram ao insucesso da<br />

Cooperativa Mista dos Armadores e <strong>Pesca</strong>dores Autônomos <strong>de</strong> Pernambuco - COOPESCAPE, e<br />

chamar a atenção, nos dias atuais, para a importância da educação cooperativista, antes <strong>de</strong> qualquer<br />

formalização <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> empresa. Este trabalho apresenta ainda uma análise das opiniões dos<br />

sócios e lí<strong>de</strong>res da Cooperativa, tomando como base a educação cooperativista, enfocando, no<br />

primeiro momento, as razões e a forma <strong>de</strong> organização da associação, além dos aspectos que<br />

motivaram a saída da maioria dos seus sócios. No segundo momento, apontamos as principais<br />

razões do encerramento das ativida<strong>de</strong>s da COOPESCAPE <strong>de</strong>z anos após sua constituição. As<br />

referidas análises fornecem instrumentos teóricos específicos, para cooperados e dirigentes, bem<br />

como para os que se interessam pela educação na formação <strong>de</strong> uma cooperativa.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Cooperativismo; Associativismo; Educação.<br />

COOPERATIVE EDUCATION FOR ARTISANAL FISHES<br />

Abstract - This work presents an analysis of associates opinions and lea<strong>de</strong>rs’ of the “Cooperativa<br />

Mista dos Armadores e <strong>Pesca</strong>dores Autônomos <strong>de</strong> Pernambuco – COOPESCAPE”, tanking as base<br />

the cooperative education focusing, in the first moment, the reasons and the cooperative form of the<br />

association, besi<strong>de</strong>s the aspects that motivated the exit of most of the COOPECAPE. In the second<br />

moment, we pointed the main reasons of the closing of its activities ten years after the formation.<br />

The mentioned analyses furnish specific theoretical instruments to the members and direction of the<br />

cooperative system, as well as to those who are interested about the education importance in the<br />

cooperative society formation.<br />

KEY WORDS: Cooperative; Associativism; Education.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Consi<strong>de</strong>rando a importância que as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca vêm assumindo no país, a partir <strong>de</strong><br />

2003, com a criação da Secretaria Especial <strong>de</strong> Aqüicultura e <strong>Pesca</strong> da Presidência da República<br />

(SEAP/PR) e visando discutir e refletir temáticas ligadas à pesca artesanal, principalmente no que<br />

diz respeito às formas <strong>de</strong> organizações dos pescadores elegeu-se o cooperativismo como tema <strong>de</strong>ste<br />

trabalho, mais especificamente, o cooperativismo pesqueiro.<br />

84


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Os incentivos governamentais ao <strong>de</strong>senvolvimento do cooperativismo são visíveis no Plano<br />

Político-Estrutural da SEAP/PR. Entretanto, essa instituição parece não consi<strong>de</strong>rar as dificulda<strong>de</strong>s<br />

históricas <strong>de</strong> mobilização dos pescadores no campo do cooperativismo, ignorando que a<br />

formalização <strong>de</strong> uma empresa cooperativa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito mais <strong>de</strong> fatores organizacionais internos<br />

do que externos, como captação <strong>de</strong> recursos, elaboração <strong>de</strong> projetos e outros.<br />

Dentro dos princípios e valores que norteiam o cooperativismo, especificamente quanto aos<br />

fatores organizacionais internos, enten<strong>de</strong>mos a educação cooperativista como instrumento<br />

fundamental no bom funcionamento da empresa cooperativa na medida em que essa educação vise<br />

ampliar a participação direta dos associados nas <strong>de</strong>cisões da organização, para isso é necessário que<br />

os associados e sua família participem <strong>de</strong> cursos além <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates e conferências visando torná-los<br />

aptos para o exercício cooperativista. Este exercício educativo se dá a partir <strong>de</strong> metodologias<br />

apropriadas com o objetivo da busca moral e social dos seus associados e do estímulo à ação <strong>de</strong><br />

forma crítica na gestão da instituição, criando o hábito <strong>de</strong> ver, pensar e julgar <strong>de</strong> acordo com os<br />

princípios e o i<strong>de</strong>al do cooperativismo. Segundo (Braga et al., 2002) “essa educação busca a<br />

formação e conscientização do indivíduo no âmbito da cidadania trabalhando esses aspectos <strong>de</strong><br />

acordo com os objetivos <strong>de</strong> cada cooperativa e com o relacionamento <strong>de</strong>ssas com a socieda<strong>de</strong>”.<br />

Assim, <strong>de</strong>stacamos a educação cooperativista na pesca artesanal como aspecto central <strong>de</strong>sta<br />

análise. Escolhemos a extinta Cooperativa Mista dos Armadores e <strong>Pesca</strong>dores Autônomos <strong>de</strong><br />

Pernambuco COOPESCAPE, <strong>de</strong> Brasília Teimosa, Recife como estudo <strong>de</strong> caso. A organização,<br />

fundada em 1976, se <strong>de</strong>senvolveu com uma expectativa <strong>de</strong> que os problemas do setor pesqueiro em<br />

Pernambuco pu<strong>de</strong>ssem ser minimizados por meio do cooperativismo. Idéia que sobreviveu até o seu<br />

fechamento em 1986.<br />

Em estudo <strong>de</strong>senvolvido no início da década <strong>de</strong> 80, verificamos que os pescadores da<br />

COOPESCAPE não participavam efetivamente da vida da cooperativa. Um dos fatores<br />

i<strong>de</strong>ntificados para explicar essa fragilida<strong>de</strong> organizacional foi a ausência da educação cooperativista<br />

antes da criação da empresa (Alcantara, 1980).<br />

Diante da euforia com que as políticas públicas na área da pesca visualizam o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do setor pesqueiro pela via do associativismo e do cooperativismo, parece<br />

importante trazer <strong>de</strong> volta e atualizar as análises <strong>de</strong>senvolvidas há 26 anos sobre a COOPESCAPE.<br />

Para compreen<strong>de</strong>r melhor a experiência da COOPESCAPE, transpusemos para este trabalho dados<br />

relacionados à forma como a cooperativa foi organizada, a partir do estudo <strong>de</strong> (Alcantara, 1980).<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 2007, foram coletadas <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> ex-sócios e dirigentes <strong>de</strong> gestões distintas da<br />

organização mediante entrevistas com roteiro semi-estruturado. Tais entrevistas foram realizadas na<br />

Associação dos <strong>Pesca</strong>dores Profissionais e Artesanais <strong>de</strong> Brasília Teimosa e Colônia <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong>dores<br />

Z-1 do Pina, em Recife.<br />

85


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Chamamos à atenção para o fato <strong>de</strong> que a COOPESCAPE agregou duas categorias distintas<br />

- armadores e pescadores - em seu quadro <strong>de</strong> sócios. Esse aspecto é consi<strong>de</strong>rado problemático na<br />

empresa cooperativa na medida em que po<strong>de</strong>rá suscitar conflitos <strong>de</strong> interesses, como assinala (Rios,<br />

2006). Diz ele: não adianta, por exemplo, congregar armadores com pescadores, gran<strong>de</strong>s produtores<br />

rurais com pequenos produtores, produtores e comerciantes e assim por diante. Quando situações<br />

<strong>de</strong>sse tipo ocorrem, o que vai resultar ao invés <strong>de</strong> cooperação é antes o conflito <strong>de</strong> interesses, aberto<br />

ou camuflado, na forma <strong>de</strong> acomodação, uma acomodação que em geral implica, gerando apatia e<br />

<strong>de</strong>scrença na exploração dos menos situados sócio-economicamente pelos que estão nas posições<br />

sócio-culturais dominantes.<br />

Acreditamos que uma reflexão sobre a experiência <strong>de</strong>senvolvida há 26 anos pela<br />

COOPESCAPE po<strong>de</strong>rá contribuir para a discussão da educação cooperativista como estratégia<br />

fundamental à implementação das políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da pesca pela via do<br />

cooperativismo. Aspecto que se torna relevante quando sabemos que fatores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m sociocultural<br />

<strong>de</strong>terminaram que a categoria <strong>de</strong> pescadores artesanais seja observada <strong>de</strong> forma distinta em relação<br />

a outras categorias sociais, principalmente quando o tema é cooperação e associativismo. Em texto<br />

recente, (Cuallou et al., 2006) abordam a forma vertical como foram implantadas e <strong>de</strong>senvolvidas as<br />

colônias <strong>de</strong> pescadores no Brasil e suas repercussões nefastas sobre o cooperativismo pesqueiro.<br />

ORIGEM DO COOPERATIVISMO: BREVE HISTÓRICO<br />

Foi com o aparecimento, no século passado, da cooperativa dos tecelões <strong>de</strong> Rochdale na<br />

Inglaterra que teve origem o cooperativismo.<br />

A indústria <strong>de</strong> tecelagem, criada em 1843, se <strong>de</strong>senvolvia com bastante prosperida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixando assim, uma gran<strong>de</strong> margem <strong>de</strong> lucros aos seus proprietários. Por outro lado, os tecelões <strong>de</strong><br />

Rochdale <strong>de</strong>sejavam obter um aumento nos seus salários, porém não foram atendidos. (Holyoake,<br />

1972).<br />

Na época existia um grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensores da “Carta do Povo” <strong>de</strong>nominados cartistas, que<br />

pleiteava reformas políticas profundas, e se interessou pela causa dos tecelões (Holyoake, 1972).<br />

Preocupados com a lenta viabilização do programa político contido na “Carta do Povo” os<br />

socialistas propuseram que os tecelões se unissem numa ação conjunta e lançassem mão dos meios<br />

que estavam ao seu alcance para melhorar a sua situação imediata sem, no entanto, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lutar<br />

pelo programa da carta. A proposta mais viável sugerida foi a criação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mútuo<br />

auxílio (cooperativa), como forma <strong>de</strong> melhorar a situação dos tecelões <strong>de</strong>ntro do sistema <strong>de</strong><br />

salariado. Fica claro então, que a proposta não surgiu como uma solução <strong>de</strong>finitiva.<br />

O fato da primeira Cooperativa, bem como dos primeiros sindicatos terem nascido na<br />

Inglaterra <strong>de</strong>ve-se ao surgimento nesse país dos primeiros manufaturados, dando origem ao<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

capitalismo. Ou seja, tanto os sindicatos como as cooperativas são oriundas do capitalismo,<br />

portanto, precisam ser estudados levando em consi<strong>de</strong>ração a dinâmica e as mutações <strong>de</strong>sse sistema<br />

<strong>de</strong> produção social.<br />

A alternativa cooperativista tinha (e <strong>de</strong> certa forma ainda tem para alguns estudiosos) um<br />

conteúdo fortemente utopista, tanto é que foram chamados <strong>de</strong> socialistas utópicos os pré-marxistas<br />

como Fourier e Saint-Simon que foram alguns dos seus principais precursores (Molina, 2007). O<br />

objetivo da doutrina cooperativista era diminuir os efeitos negativos tanto no campo social como no<br />

econômico originado pela revolução industrial que <strong>de</strong>struiu as antigas bases <strong>de</strong> sustentação do<br />

regime feudal, criando novas relações <strong>de</strong> trabalho, modificando totalmente o modo <strong>de</strong> vida anterior.<br />

Quando se fala <strong>de</strong> um forte conteúdo utopista na doutrina cooperativista <strong>de</strong>ixa-se claro que a<br />

maioria dos princípios preconizados pela doutrina, até hoje não se verificam: a) nos países<br />

capitalistas <strong>de</strong>senvolvidos, entre outros motivos, pela monopolização da economia; b) nos países<br />

sub<strong>de</strong>senvolvidos em parte pela monopolização (neste caso precoce) e em parte, como<br />

conseqüência do próprio sub<strong>de</strong>senvolvimento econômico. Além do mais, as razões da não<br />

materialização dos princípios práticos cooperativistas vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a inviabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns, tais<br />

como eliminar o lucro capitalista, o salariado, realizar a república cooperativa e <strong>de</strong>senvolver a<br />

neutralida<strong>de</strong> política, etc. até a resistência do governo e dos empresários na constituição e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo. É evi<strong>de</strong>nte que em uma socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o objetivo maior é o lucro<br />

privado, esses princípios ten<strong>de</strong>m a se transformar em “letra morta”.<br />

É preciso ter clareza no que se refere à natureza do capitalismo e enten<strong>de</strong>r que os<br />

empresários nunca estarão dispostos a renunciar a seus lucros, no máximo po<strong>de</strong>rão diminuí-los.<br />

Outra questão a se discutir é quando se fala em <strong>de</strong>senvolver a neutralida<strong>de</strong> política e ao mesmo<br />

tempo preconizar reformas. Ora, é uma contradição na própria base da doutrina, pois para efetuar<br />

tais reformas é necessário utilizar instrumentos políticos. Sabe-se que as próprias cooperativas<br />

quando utilizadas, o são na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong>ssa natureza. Contudo, não se preten<strong>de</strong><br />

com isso, negar a importância do cooperativismo. Criticam-se apenas as concepções que são vistas<br />

nessa doutrina lhes dando objetivos que são impossíveis <strong>de</strong> se conseguir sem transformações sociais<br />

<strong>de</strong> maior amplitu<strong>de</strong>. Isto quer significar que o cooperativismo por si só não constitui uma forma<br />

eficaz <strong>de</strong> corrigir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sócio-econômicas e criar uma socieda<strong>de</strong> igualitária.<br />

Se referindo ao cooperativismo (Lênin Apud Pinho, 1973) já afirmava que a cooperativa é o<br />

“único organismo bom do regime capitalista e como tal <strong>de</strong>ve ser mantido na fase <strong>de</strong> transição para o<br />

regime socialista”. Outro aspecto a ser consi<strong>de</strong>rado no cooperativismo refere-se à problemática<br />

educacional do sistema que se apresenta como <strong>de</strong> fundamental importância.<br />

Quando o Estado resolve fomentar e difundir o cooperativismo o faz sob uma ótica<br />

distorcida ou como diria (Pinho, 1973), falando das cooperativas criadas pelo Estado “Surge, assim,<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

um cooperativismo <strong>de</strong> cima para baixo, ao contrário das cooperativas européias do século passado,<br />

que nasceram das entranhas do povo”.<br />

COOPESCAPE E EDUCAÇÃO COOPERATIVISTA<br />

RAZÕES E FORMA DE ORGANIZAÇÃO<br />

No estudo sobre as Cooperativas <strong>de</strong> Consumo Brasileiro (Máurer Jr., 1973) diz que “<strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

Rochdale, toda boa cooperativa baseia-se na educação, nenhuma escola melhor <strong>de</strong> cooperativismo<br />

do que o longo período <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um ano (...) para discutir o seu programa e os seus métodos<br />

comerciais, bem como as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua execução, é a melhor maneira <strong>de</strong> vencê-los”.<br />

Consi<strong>de</strong>ra ainda esse autor que “só a educação po<strong>de</strong> formar o homem para a solidarieda<strong>de</strong><br />

esclarecida, dispondo-o a sacrificar as vantagens do presente em prol <strong>de</strong> um futuro melhor” (Máurer<br />

Jr., 1973).<br />

Com base nessas colocações, ao analisar a Tabela 1, constatamos a inexistência <strong>de</strong> uma<br />

preparação educativa sobre cooperativismo, uma vez que 50% dos interrogados alegam que foram<br />

“convidados às reuniões pelo então presi<strong>de</strong>nte, para se tornarem sócios da cooperativa.”<br />

Tabela 1 – Início da associativida<strong>de</strong> para a formação da COOPESCAPE.<br />

Especificação Quantida<strong>de</strong> %<br />

Fui convidado às reuniões pelo atual presi<strong>de</strong>nte 8 50,0<br />

Através <strong>de</strong> informações da cooperativa nipo-brasileira 4 25,0<br />

Por intermédio <strong>de</strong> colegas já sócios 2 12,5<br />

Desconheço o início 1 6,2<br />

Sem respostas 1 6,2<br />

Total 16 100,0<br />

O que evi<strong>de</strong>ncia quando, observa-se a Tabela 2, em que 22,2% dos associados interrogados<br />

respon<strong>de</strong>ram que “o convite do então presi<strong>de</strong>nte” foi a razão <strong>de</strong> se associarem à COOPESCAPE e<br />

também por ser este órgão protetor (22,2%).<br />

Outro aspecto a ser consi<strong>de</strong>rado sobre a associativida<strong>de</strong> é a <strong>de</strong>finição do que seja uma<br />

cooperativa pelos associados da COOPESCAPE. 30% <strong>de</strong>les (ver Tabela 3) afirmam que se trata <strong>de</strong><br />

uma “socieda<strong>de</strong> muito importante que serve <strong>de</strong> proteção ao pescador”.<br />

ASPECTOS QUE MOTIVARAM O AFASTAMENTO DA MAIORIA DOS ASSOCIADOS<br />

Segundo (Máurer Jr., 1973) “a educação <strong>de</strong>ve ser o alicerce sobre o qual se construirá todo<br />

edifício da socieda<strong>de</strong> cooperativa. É <strong>de</strong>la que virá a participação efetiva dos associados, a<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

inteligência indispensável para solução <strong>de</strong> seus problemas, a cooperação <strong>de</strong>cidida em todas as suas<br />

formas e em todas as circunstâncias”.<br />

Tabela 2 – Razões que justificam a associativida<strong>de</strong><br />

Especificação Quantida<strong>de</strong> %<br />

Convite do atual presi<strong>de</strong>nte 4 22,2<br />

Por ser um órgão protetor 4 22,2<br />

Único meio para <strong>de</strong>senvolver meu trabalho 3 16,6<br />

Importante para o pescador 3 16,6<br />

Por ser um órgão <strong>de</strong> união 2 11,1<br />

Visando lucros 1 5,5<br />

Através <strong>de</strong> parentes 1 5,5<br />

Total 18 100,0<br />

Tabela 3 – Definição <strong>de</strong> uma cooperativa pelos cooperados<br />

Especificação Quantida<strong>de</strong> %<br />

Socieda<strong>de</strong> muito importante que serve <strong>de</strong> proteção ao pescador 6 30,0<br />

Uma associação para ajudar tanto o pescador como o consumidor 3 15,0<br />

É uma entida<strong>de</strong> representativa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> quem a dirige 3 15,0<br />

Uma união <strong>de</strong> classe 3 15,0<br />

É uma boa idéia, porém falta incentivo (material, financiamento, etc.). 2 10<br />

Uma guerra contra o intermediário em benefício da comunida<strong>de</strong> 1 5,0<br />

Um órgão que representa a SUDEPE no governo 1 5,0<br />

Não sei <strong>de</strong>finir 1 5,0<br />

Total 20,0 100,0<br />

De um modo geral, diz ainda (Máurer Jr., 1973) que a inexistência <strong>de</strong> uma ação educativa<br />

tem levado os associados <strong>de</strong> nossas cooperativas à passivida<strong>de</strong>: “Aceitam o que elas po<strong>de</strong>m lhe dar<br />

<strong>de</strong> vantagens, querem a cooperação dos outros, mas raro estão dispostos a fazer a sua parte em prol<br />

da sua socieda<strong>de</strong>”.<br />

Nessa perspectiva, ao analisar as tabelas 4, 5 e 6 observa-se que o afastamento dos<br />

associados se <strong>de</strong>u <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>spreparo da cooperativa no que concerne à educação dos mesmos.<br />

Isto fica evi<strong>de</strong>nte quando eles citam os motivos pelos quais se afastaram: “não recebia incentivo,<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

material (apetrechos <strong>de</strong> pesca), financiamento, etc.” 50%; “falta <strong>de</strong> verbas, material etc.” 42,8%; “se<br />

a cooperativa oferecesse mais vantagens para nossa melhora,”40%.<br />

Tabela 4 – Razões que justifique o afastamento da cooperativa.<br />

Especificação Quantida<strong>de</strong> %<br />

Não recebia incentivo: material, financiamento, etc. 3 50,0<br />

Mais vantagem <strong>de</strong> comercializar por outros meios 2 33,3<br />

Por não comparecer as reuniões (fui afastado) 1 16,6<br />

Total 6 100,0<br />

Tabela 5 – Atribuições, segundo os associados sobre o afastamento dos sócios.<br />

Especificação Quantida<strong>de</strong> %<br />

Faltam <strong>de</strong> verbas, materiais (apetrechos <strong>de</strong> pesca), etc. 3 42,8<br />

Mais lucro trabalhando para particular 2 28,5<br />

Barco próprio, mais lucro 1 14,2<br />

Desconto do material usado 1 14,2<br />

Total 7 100,0<br />

Tabela 6 – Motivos que trariam os sócios afastados da COOPESCAPE.<br />

Especificação Quantida<strong>de</strong> %<br />

Se a cooperativa oferecesse mais vantagens para nós 4 40,0<br />

Uma reorganização na cooperativa 3 30,0<br />

Se <strong>de</strong>sse mais garantia e proteção 2 20,0<br />

Seria menos explorado 1 10,0<br />

Total 10 100,0<br />

Outro aspecto a ser <strong>de</strong>stacado é a não participação efetiva da maioria dos associados nas<br />

assembléias gerais (ver tabela 7), nas quais se elegem os diretores, aprovam-se as contas e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>mse<br />

sobre os negócios da cooperativa.<br />

Tabela 7 – Participação das assembléias gerais.<br />

Especificação Quantida<strong>de</strong> %<br />

Não 17 94,4<br />

Sim 1 5,5<br />

TOTAL 18 100,0<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

A omissão da tarefa educativa na COOPESCAPE parece indicar que em lugar <strong>de</strong> uma<br />

cooperativa eficiente, os associados se reduziram a um rebanho passivo, sem iniciativa e sem<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer ação.<br />

EXTINÇÃO DA COOPESCAPE: 20 ANOS DEPOIS<br />

Este item foi <strong>de</strong>senvolvido a partir <strong>de</strong> entrevistas realizadas com ex-sócios e ex-dirigentes da<br />

COOPESCAPE, na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília Teimosa, Recife. Na oportunida<strong>de</strong>, os entrevistados<br />

fizeram um breve relato <strong>de</strong>ssa cooperativa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua fundação em 1976 até o encerramento das<br />

suas ativida<strong>de</strong>s em 1986, abordando temas como: sócios, diretoria, gestão, intervenção e<br />

encerramento.<br />

Os entrevistados relataram que a presença dos sócios nas assembléias da COOPESCAPE era<br />

pequena. Esse número só aumentava nas reuniões quando se tinha notícia <strong>de</strong> que a cooperativa iria<br />

oferecer algum benefício, material como apetrechos <strong>de</strong> pesca, óleo, gelo ou financiamento<br />

subsidiado. Assim se expressa um dos ex-dirigentes: “Os sócios só queriam vir para as assembléias<br />

se fosse para receber algum benefício”. Com efeito, na pesquisa <strong>de</strong>senvolvida por (Alcantara,<br />

1980), como vimos na tabela 07, apenas 5,5% dos sócios participavam efetivamente das<br />

assembléias da COOPESCAPE. Tal aspecto leva-nos a pensar que, <strong>de</strong> fato, a educação para a<br />

cooperação não foi levada a termo como sugere os teóricos do cooperativismo.<br />

Além da falta <strong>de</strong> interesse dos sócios em participar das reuniões, alguns alegavam<br />

dificulda<strong>de</strong>s para se <strong>de</strong>slocarem até a se<strong>de</strong> da COOPESCAPE, tendo em vista que muitos <strong>de</strong>les<br />

residiam em outros municípios.<br />

Ainda segundo relato dos ex-sócios, no período <strong>de</strong> 1976 a 1986 houve três mandatos. No<br />

segundo mandato, os sócios solicitaram uma intervenção municipal, principalmente <strong>de</strong>vido aos<br />

débitos da COOPESCAPE com a Companhia <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco - CELPE, entre outros<br />

fornecedores <strong>de</strong> serviços. A intervenção durou aproximadamente um ano e foi exercida por um<br />

funcionário da Prefeitura da Cida<strong>de</strong> do Recife (Empresa <strong>de</strong> Urbanização-URB). Houve um acordo<br />

entre a diretoria da COOPESCAPE e a Prefeitura para que esta ce<strong>de</strong>sse, sem ônus, para cooperativa<br />

10 funcionários. Devido ao não cumprimento do acordo, a COOPESCAPE assumiu o pagamento <strong>de</strong><br />

alguns funcionários, o que <strong>de</strong>veria ter sido feito pela URB. Como conseqüência do não pagamento,<br />

foram ajuizadas causas trabalhistas contra a cooperativa que ainda continuam pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Um dos ex-dirigentes da COOPESCAPE entrevistado informou que não tinha conhecimento<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong>sse acordo trabalhista, nem <strong>de</strong> muitas outras coisas que aconteciam, pois o presi<strong>de</strong>nte<br />

não convocava a diretoria para reuniões.<br />

No início <strong>de</strong> 1980, o Banco Nacional <strong>de</strong> Crédito Cooperativo-BNCC, através do Programa<br />

da <strong>Pesca</strong> Artesanal-PROPESCA financiou uma série <strong>de</strong> benfeitorias para a COOPESCAPE tais<br />

91


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

como fábrica <strong>de</strong> gelo, câmara frigorífica, sala para beneficiamento do pescado, além <strong>de</strong> capital <strong>de</strong><br />

giro e embarcações. Segundo informaram os ex-sócios dirigentes, o financiamento foi dividido em<br />

duas etapas. A primeira parcela prevista foi cumprida conforme planejado. No entanto, a segunda<br />

parcela que seria utilizada para a aquisição <strong>de</strong> embarcações só financiou 36 das 80 previstas<br />

inicialmente e do capital <strong>de</strong> giro apenas uma parte foi disponibilizada. Por outro lado, o apoio em<br />

assistência técnica e gerenciamento previsto também para a segunda etapa, foram consi<strong>de</strong>rados,<br />

pelos entrevistados, como incompletos.<br />

Os entrevistados também relataram que o empreendimento financiado para a cooperativa<br />

através do PROPESCA foi superdimensionado no que se refere principalmente a fábrica <strong>de</strong> gelo e a<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> beneficiamento do pescado. A receita era menor que os custos, contando ainda que não<br />

havia controle financeiro e nem da produção (pescado e gelo). Em <strong>de</strong>poimento um dos ex-sócios da<br />

COOPESCAPE afirmou: “na segunda gestão havia <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> pescado e gelo, embora isso agente<br />

não possa provar”. Esses relatos <strong>de</strong>monstram a falta <strong>de</strong> discussão dos dirigentes com os associados,<br />

ficando claro que os sócios <strong>de</strong>sconheciam os problemas administrativos da cooperativa.<br />

No que dizem respeito às razões que <strong>de</strong>terminaram o fechamento da COOPESCAPE, os exsócios<br />

entrevistados apontaram a falta <strong>de</strong> participação nas ativida<strong>de</strong>s da cooperativa e<br />

principalmente a frágil gestão administrativa e financeira por parte da direção. Os indícios <strong>de</strong>sse<br />

fechamento já ficaram sinalizados nas tabelas 04, 05, e 06 da pesquisa <strong>de</strong> (Alcantara, 1980), quando<br />

os associados citam aspectos relacionados ao <strong>de</strong>spreparo da cooperativa no que concerne à<br />

educação, tais como: “não recebia incentivo: material (apetrechos <strong>de</strong> pesca), financiamento, etc.”<br />

50%; “falta <strong>de</strong> verbas, material etc.” 42,8%; “se a cooperativa oferecesse mais vantagens para nossa<br />

melhora,”40%. Outro ponto que comprometeu o <strong>de</strong>senvolvimento da Cooperativa segundo os<br />

entrevistados, foi a insuficiência <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>stinados através do PROPESCA para a cooperativa,<br />

já que foram disponibilizados apenas parte dos recursos prometidos.<br />

Em seu livro sobre cooperativismo, (Rios, 1989) ao correlacionar o cooperativismo e a<br />

i<strong>de</strong>ologia conservadora, chamou a essa correlação <strong>de</strong> “cooperativismo elitista”. Diz ele: “É comum<br />

nessas cooperativas a figura do “dono”, isto é, a pessoa física que é i<strong>de</strong>ntificada como se fosse<br />

proprietária da socieda<strong>de</strong> cooperativa, única a <strong>de</strong>finir a política da mesma, manter contatos com<br />

bancos e órgãos <strong>de</strong> assistência técnica, enfim a clássica figura insubstituível”. Essa tese é reforçada<br />

quando os entrevistados por (Alcantara, 1980), conforme tabela 2, sobre as razões que justificam a<br />

associativida<strong>de</strong>, dos entrevistados 22% afirmaram terem sido convidados pelo então presi<strong>de</strong>nte para<br />

se associarem.<br />

Ainda com relação à “figura insubstituível” nas cooperativas, em nossa vivência profissional<br />

trabalhando com comunida<strong>de</strong>s pesqueiras, observamos que essa prática, “dono da cooperativa”, se<br />

verifica também na maioria das colônias <strong>de</strong> pescadores.<br />

92


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Dentro <strong>de</strong>sse contexto, tanto os <strong>de</strong>poimentos dos associados da COOPESCAPE<br />

entrevistados por (Alcantara, 1980), quanto os dos ex-sócios e ex-dirigentes <strong>de</strong>ssa cooperativa,<br />

colhidos para o presente trabalho, convergem para um mesmo ponto: o da concentração do po<strong>de</strong>r<br />

por parte dos presi<strong>de</strong>ntes da COOPESCAPE e a falta <strong>de</strong> preparação no campo da educação<br />

cooperativista da diretoria e <strong>de</strong> seus associados.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Os dados colhidos e suas respectivas análises no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste trabalho evi<strong>de</strong>nciaram que a<br />

formação da cooperativa, por não ter como ponto <strong>de</strong> partida a educação cooperativista, tão<br />

necessária para o êxito <strong>de</strong>sse empreendimento, contribuiu acentuadamente para o afastamento da<br />

maioria dos associados da COOPESCAPE. Anos mais tar<strong>de</strong>, tal dimensão do cooperativismo,<br />

aliada a outros aspectos <strong>de</strong> gestão, acabaram por encerrar as ativida<strong>de</strong>s da organização no âmbito da<br />

pesca.<br />

A conseqüência, talvez mais drástica <strong>de</strong>sse processo, foi ter impedido (mais uma vez na<br />

história do <strong>de</strong>senvolvimento da pesca) os pescadores <strong>de</strong> exporem seus problemas, exercitarem sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, participar das assembléias, enfim, <strong>de</strong> serem cooperados e cooperadores.<br />

Diante disso, parece urgente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se refletir sobre as questões abordadas, no<br />

sentido <strong>de</strong> que a educação cooperativista assuma o lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, como previram os<br />

i<strong>de</strong>alizadores do cooperativismo. social e econômica. No âmbito da pesca, há décadas que se impõe<br />

esse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque frente às condições sociais adversas vivenciadas pelos pescadores em termos<br />

<strong>de</strong> organização.<br />

Por outro lado, baseado no que foi analisado neste trabalho, seria necessário estudarmos a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio primeiramente no associativismo na pesca artesanal e só <strong>de</strong>pois pensar se a<br />

melhor saída é o cooperativismo, já que este, além <strong>de</strong> ser mais complexo tem um caráter<br />

empresarial, e para isso é fundamental seguir os princípios e valores que norteiam o cooperativismo,<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> parcerias e envolvimento das instituições que cuidam <strong>de</strong>ssa questão.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Alcantara, S.L. (1980). Coopescape: Aspectos da educação cooperativista [trabalho <strong>de</strong> conclusão<br />

<strong>de</strong> Curso]. Recife: UFRPE.<br />

Braga, G.M., Deboçã, L. P., Andra<strong>de</strong>, J.M.F. & Gonçalves, R.M.L. (2002). As implicações do<br />

trabalho em cooperativas <strong>de</strong> trabalhadores rurais. Scripta nova – revista eletrónica <strong>de</strong> geografia y<br />

ciências sociales. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Barcelona. VI:(119). www.ub.es/geocrit/sn.<br />

Callou, A.B.F., M.C., Intyre, J.P., Santos, M.S.T. & Bergonsi, S.S.S. (2006). O cooperativismo<br />

pesqueiro no Brasil e as linhas <strong>de</strong> financiamento: uma estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local? In:<br />

93


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Santos, M.S.T & Callou, A. B. F.(2007) (Org.) Associativismo e Desenvolvimento Local. Recife:<br />

Editora Bagaço.<br />

Holyoake, G. J. (1972). Origem e fins da socieda<strong>de</strong>. Os 28 Tecelões <strong>de</strong> Rochdale. (História dos<br />

probos pioneiros <strong>de</strong> Rochdale). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Fon-Fon e Seleta.<br />

Máurer Jr, T.H. (1973). As cooperativas <strong>de</strong> consumo brasileiras: crise, recuperação e necessida<strong>de</strong> na<br />

conjuntura nacional. A problemática cooperativista no <strong>de</strong>senvolvimento econômico. São Paulo:<br />

Fundação Friedrich Naumann. 204(5):214-216.<br />

Molina, H. (2007). Idéias socialistas francesas e a comuna <strong>de</strong> Paris: suas relações com o<br />

pensamento <strong>de</strong> Marx. Curso <strong>de</strong> extensão sindical, atualida<strong>de</strong> do pensamento Marxista, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, abril <strong>de</strong> www.sindpdrj.org.br.<br />

Pinho, D.B. (1973). A doutrina cooperativa e a problemática do <strong>de</strong>senvolvimento econômico. São<br />

Paulo: Fundação Friedrich Naumann.<br />

Rios, G.S.L. (2006). Cooperação e tipos <strong>de</strong> cooperativismo no Brasil. 1º Encontro da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Estudos Rurais, Niterói.<br />

Rios, G.S.L. (1989). O que é cooperativismo, 2ª ed. São Paulo: Brasiliense.<br />

94


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

TESTE DE RESISTÊNCIA HIDROSTÁTICA E COMPARAÇÃO ECONÔMICA<br />

ENTRE TANQUES PRÉ-MOLDADOS E VIVEIROS<br />

Pedro Noberto <strong>de</strong> OLIVEIRA*<br />

Departamento <strong>de</strong> Educação, Campus VIII, Paulo Afonso, Bahia<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia, UNEB<br />

*E-mail: nobertoliveira@yahoo.com.br<br />

Resumo - Este trabalho foi realizado a jusante da barragem PA-IV, que compõe o complexo <strong>de</strong><br />

barragens-usina da CHESF (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), em local <strong>de</strong> terreno<br />

rochoso e com <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> ligeiramente acentuada (± 6%), tendo o objetivo <strong>de</strong> verificar a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retenção d’água pela pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> um tanque circular <strong>de</strong> 20m³, construído com<br />

argamassa-armada, a resistência a uma pressão hidrostática <strong>de</strong> 1,10m e um comparativo econômico<br />

<strong>de</strong> custo <strong>de</strong> construção entre este tanque pré-moldado e um viveiro <strong>de</strong> terra com as dimensões <strong>de</strong><br />

50m x 30m. O tanque e o viveiro foram projetados para as mesmas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estocagens:<br />

1500 alevinos para 1500m 2 <strong>de</strong> viveiro e 75 alevinos/m³ <strong>de</strong> volume d’água do tanque. O tanque foi<br />

projetado com as seguintes dimensões: diâmetro 4,0m, altura 1,2m, espessura da pare<strong>de</strong> 0,07m e<br />

lâmina d’água regulada a uma altura <strong>de</strong> 1,10m. Foi edificado com placas pré-moldadas em<br />

argamassa-armada (cimento + areia + arame “12” galvanizado). A pare<strong>de</strong> recebeu revestimento,<br />

interno e externo, com argamassa misturada a um impermeabilizante. Depois <strong>de</strong> um longo tempo <strong>de</strong><br />

abastecimento, pô<strong>de</strong>-se verificar que nenhum problema <strong>de</strong> rachadura e vazamento foi constatado na<br />

estrutura <strong>de</strong> elevação do tanque, proveniente da pressão hidrostática da lâmina d’água. O estudo<br />

comparativo <strong>de</strong> custo entre o tanque (R$ 773,33) e o viveiro (R$ 5.045,00), <strong>de</strong>monstrou uma<br />

diferença econômica significativa.<br />

PALAVRAS-CHAVE: tanques pré-moldados; argamassa-armada; viveiro <strong>de</strong> terra.<br />

HIDROSTATIC RESISTANCE AND ECONOMIC COMPARISON<br />

BETWEEN TANKS AND PONDS<br />

Abstract - This work was carried out through the ebb ti<strong>de</strong> the dam PA-IV, which composes the<br />

complex of barrage-plant of the CHESF (Hidroelétrica Company of the San Francisco), in rocky<br />

land place and with <strong>de</strong>clivity slightly accented (± 6%). Had the objetive to verify the water retention<br />

capacity for the wall of a circular tank, with 20m³, with mortar-armed; the resistance to the one<br />

hydrostatic pressure of 1,10m and a economic comparative <strong>de</strong>gree of cost of construction between<br />

this daily pay-mol<strong>de</strong>d tank and a land fishery with the dimensions of 50m x 30m. The tank and the<br />

fishery had been projected for the same capacities of estocagens: 1500 alevinos for 1500m 2 of<br />

fishery and 75 alevinos/m³ of water of the tank. The tank was projected with the following<br />

95


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

dimensions: diameter 4,0m, height 1,2m, thickness of the wall 0,07m and bla<strong>de</strong> water d'água<br />

regulated to a height of 1,10m. was built with plates daily pay-mol<strong>de</strong>d in mortar-armed (cement +<br />

sand + galvanized wire "12"). The wall had received covering, external intern and, with mortar<br />

mixed to a waterproof one. After a long time of supplying, d'água can be verified that no problem of<br />

crack and emptying was verified in the structure of rise of the tank, proceeding from the hydrostatic<br />

pressure of the bla<strong>de</strong>. The comparative study of cost between the tank (R$ 773,33) and the fishery<br />

(R$ 5.045,00), it <strong>de</strong>monstrated significant a economic difference.<br />

WORD-KEY: daily pay-mol<strong>de</strong>d tanks; mortar-armed; land fishery<br />

INTRODUÇÃO<br />

Tanques tipo raceway são estruturas <strong>de</strong> alvenaria construídas com diversos materiais<br />

(concreto armado, alvenaria <strong>de</strong> tijolo, argamassa-armada, etc) usados, principalmente, no cultivo <strong>de</strong><br />

peixes, po<strong>de</strong>ndo ser usados num sistema <strong>de</strong> cultivo aberto ou fechado. Hoje, raceway, são usados<br />

em terrenos planos e aci<strong>de</strong>ntados em diversas partes do mundo.<br />

Na Advence Aquiculture Tecnology (AAT) fazenda localizada no município <strong>de</strong> Paulo<br />

Afonso, Bahia, Brasil, utiliza o sistema <strong>de</strong> cultivo em raceway, produzindo 240 toneladas/mês,<br />

abastecidos com água do São Francisco (SÁ, 2003).<br />

Novas tecnologias <strong>de</strong> engenharia são usadas no campo da Aqüicultura diversificando os<br />

ambientes para os empreendimentos aquáticos. Nas universida<strong>de</strong>s e outras instituições <strong>de</strong> pesquisas<br />

existem grupos <strong>de</strong> reflexão acerca da experimentação <strong>de</strong> idéias que, evi<strong>de</strong>nciem mudanças positivas<br />

para que os criadores possam produzir mais e melhor e a baixo custo.<br />

A construção <strong>de</strong> cisterna <strong>de</strong> placas (Bernat et al., 1993), permite uma a<strong>de</strong>quação tecnológica<br />

à construção <strong>de</strong> tanques pré-moldados com argamassa-armada vislumbrando melhorar o aspecto<br />

sócio-econômico das pessoas diretamente interessadas na Aqüicultura. Po<strong>de</strong>m se adaptar bem ao<br />

sistema <strong>de</strong> cultivo em raceway (Oliveira, 2006). Este sistema que é semicerrado, a água passa<br />

apenas uma vez através <strong>de</strong>le. A maior vantagem <strong>de</strong>sse sistema semicerrado é que se tem uma<br />

melhor administração em comparação com o sistema aberto; a<strong>de</strong>mais que o controle po<strong>de</strong> ser<br />

exercido sobre as variáveis, tais como a temperatura da água, a velocida<strong>de</strong> e o volume da mesma,<br />

predadores e enfermida<strong>de</strong>s. O controle <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> predadores, enfermida<strong>de</strong>s e contaminações é<br />

difícil <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> que as águas naturais são utilizadas como a fonte <strong>de</strong> abastecimento<br />

(Wheaton, 1982).<br />

Tanques pré-moldados com argamassa-armada apresentam exigência mínima <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong><br />

engenharia e <strong>de</strong> hidráulica. Devido às características simplificadas <strong>de</strong> engenharia e sistema <strong>de</strong><br />

drenagem. A construção <strong>de</strong>sses tanques apresenta vantagens sobre viveiros convencionais <strong>de</strong> terra,<br />

por serem mais produtivos quando se consi<strong>de</strong>ra a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> população e o sistema <strong>de</strong> cultivo<br />

96


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

utilizado. Esses tanques, diferentemente dos viveiros <strong>de</strong> terra, po<strong>de</strong>m ser utilizados em topografia<br />

<strong>de</strong> até 100% <strong>de</strong> <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, em solos arenosos e rochosos (Oliveira, 2006). Silva (2004) recomenda<br />

que tanques pré-moldados <strong>de</strong>vem ser testados com relação a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> impermeabilização e<br />

pressão hidrostática; fazer estudo sobre a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> populacional; testar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

espécies aquáticas; e estudar o uso dos tanques no sistema <strong>de</strong> cultivo raceway.<br />

De acordo com suas características <strong>de</strong> espaço, ambiência e outros fatores, po<strong>de</strong>m se adaptar<br />

bem a outros cultivos aquático, tais como: criação e cultivo <strong>de</strong> peixes ornamentais, reprodução e<br />

cultivo <strong>de</strong> rãs, criação <strong>de</strong> jacarés e outros (Bahia <strong>Pesca</strong>, 2003).<br />

TANQUES PRÉ-MOLDADOS<br />

DESCRIÇÃO DOS TANQUES<br />

Para estudar o aspecto <strong>de</strong> resistência hidrostática, estanqueida<strong>de</strong> da água e avaliação<br />

econômica <strong>de</strong> um tanque pré-moldado versos viveiro <strong>de</strong> terra, foi construído um tanque, com<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 20m 3 d’água, a jusante da barragem PA IV - Paulo Afonso - Brasil, pertencente ao<br />

complexo <strong>de</strong> barragens <strong>de</strong>sse município.<br />

O tanque pré-moldado, utilizado para o estudo (Figura 1) apresenta forma cilíndrica e possui<br />

os seguintes componentes estruturais: 1) base; 2) pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> elevação; 3) sistema <strong>de</strong> abastecimento;<br />

4) sistema <strong>de</strong> drenagem; 5) tela separadora <strong>de</strong> ambientes.<br />

Figura 1 - Vista lateral <strong>de</strong> tanque pré-moldado cilíndrico.<br />

Esses componentes estruturais repousando sobre um fundo-base em concreto simples<br />

(cimento + areia + brita). A pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> elevação é formada por placas pré-moldadas com argamassa<br />

<strong>de</strong> cimento e areia, com traço que lhe confere uma boa resistência as solicitações a qual está<br />

submetida. Segundo Pianca (1955), essa resistência aumentará com o tempo.<br />

97


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

CONSTRUÇÃO DO TANQUE<br />

O tanque, com diâmetro <strong>de</strong> 4,8m, altura 1,2m, espessura da pare<strong>de</strong> 0,07m. A lâmina d’água<br />

foi regulada a uma altura <strong>de</strong> 1,10m, foi construído sobre terreno com <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 6%,<br />

compreen<strong>de</strong>u as etapas: 1) escolha e limpeza do local; 2) locação da obra; 3) escavação do terreno; 4)<br />

nivelamento com compactação do fundo da escavação; 5) recobrimento do fundo escavado com 6cm<br />

<strong>de</strong> areia grossa, nivelada; 6) construção da laje <strong>de</strong> fundo com concreto <strong>de</strong> traço 1:3:4 (cimento, areia e<br />

brita); 7) construção do sistema <strong>de</strong> drenagem; 8) fabricação <strong>de</strong> placas (Figura 3)<br />

Para a construção da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> elevação do tanque foram fabricadas placas pré-moldadas com<br />

uma forma em ma<strong>de</strong>ira (Figura 2), com dimensões internas <strong>de</strong> 60cm x 50cm. A argamassa utilizada<br />

foi <strong>de</strong> cimento e areia lavada na proporção <strong>de</strong> 1:4,5, respectivamente. As placas foram moldadas<br />

conforme a figura 3 e, em seguida, colocadas para secar por um período mínimo <strong>de</strong> 24 horas até<br />

atingirem resistência suficiente à edificação do tanque. Após essa etapa as placas foram limpas para<br />

retirada do excesso <strong>de</strong> areia <strong>de</strong> sua parte anterior (Figura 4). Antes da edificação da pare<strong>de</strong> do tanque<br />

foi construído um fundo-base em concreto simples (cimento + areia + brita), na proporção <strong>de</strong> 1:3:6.<br />

Sobre este fundo-base traçou-se um círculo com raio <strong>de</strong> 2,4m para servir <strong>de</strong> orientação ao<br />

assentamento das referidas placas (Figura 5), que receberam um rejunte <strong>de</strong> argamassa (cimento +<br />

areia) <strong>de</strong> traço 1:2 (Figura 6). Após o rejuntamento, a pare<strong>de</strong> do tanque foi amarrada com arame 12<br />

galvanizado para maior resistência a pressão hidrostática. No final, o tanque foi rebocado, por <strong>de</strong>ntro e<br />

por fora, com argamassa <strong>de</strong> traço 1:3.<br />

Figura 2 - Forma para fabricação <strong>de</strong> placas<br />

<strong>de</strong> pare<strong>de</strong>.<br />

Figura 3 - Fabricação das placas <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> com<br />

argamassa <strong>de</strong> cimento e areia <strong>de</strong> traço 1 : 4,5.<br />

Figura 4 - Limpeza das placas <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>.<br />

Figura 5 - Construção da pare<strong>de</strong> usando<br />

escoramento com varas.<br />

98


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Figura 6 - Rejuntamento <strong>de</strong> placas da pare<strong>de</strong><br />

com argamassa <strong>de</strong> traço 1 : 2,5.<br />

Figura 7 - Amarração da pare<strong>de</strong> com 9 (nove)<br />

arames “12” galvanizado, <strong>de</strong>vidamente<br />

tensionados.<br />

CUSTO DE CONSTRUCÃO<br />

O estudo <strong>de</strong> avaliação dos custos à construção do tanque pré-moldados com argamassa-armada e o<br />

viveiro <strong>de</strong> terra (50m x 30m) com a mesma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estocagem é explicitado nas tabelas 1 e 2.<br />

Tabela 1 - Orçamento para construção <strong>de</strong> tanque pré-moldado com argamassa armada para uma<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 20m³ d’água<br />

ESPECIFICAÇÕES Unida<strong>de</strong> Quantida<strong>de</strong><br />

CUSTOS (R$)<br />

Unit.<br />

Total<br />

1. Limpeza da área m² 22 0,5 11,00<br />

2. Escavação m³ 1,3 11,79 15,33<br />

3. Materias<br />

3.1. cimento Sacos/50Kg 30 17,00 510,00<br />

3.2. areia m³ 3,0 14,00 42,00<br />

3.3. brita m³ 2,0 20,00 40,00<br />

3.4. forma em ma<strong>de</strong>ira unida<strong>de</strong> 1 20,00 20,00<br />

4. Mão-<strong>de</strong>-obra<br />

4.1. pedreiro diária 03 30,00 90,00<br />

4.2. ajudante diária 03 15,00 45,00<br />

TOTAL 773,33<br />

Tabela 2 - Orçamento para construção <strong>de</strong> viveiro com lâmina d’água <strong>de</strong> 50 x 30m.<br />

ESPECIFICAÇÕES<br />

Unida<strong>de</strong><br />

CUSTOS (R$)*<br />

Quant. Unit. Total<br />

1. Limpeza da área m² 2.542,0 0,5 1.271,00<br />

2. Locação verba uma 100,00 100,00<br />

3. Construção<br />

3.1. mecanizada, com compactação <strong>de</strong> diques h/maq. 40 80,00 3.200,00<br />

4. Drenagem<br />

4.1. tubos <strong>de</strong> 150mm unid. 03 105,00 450,00<br />

4.2. joelho <strong>de</strong> 150mm unid. 01 24,00 24,00<br />

TOTAL 5.045,00<br />

*Preços abril/2007<br />

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COMENTÁRIOS FINAIS<br />

Os resultados apresentados nas tabelas 1 e 2 sugerem que:<br />

• O tanque, em estudo, submetidos a uma pressão hidrostática <strong>de</strong> 1,1m apresentou excelente<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retenção d’água, visto que em nenhum ponto da sua estrutura <strong>de</strong> elevação foi<br />

<strong>de</strong>tectado qualquer vazamento expressivo;<br />

• Apresentou excelente capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistência à pressão hidrostática;<br />

• Consi<strong>de</strong>rando as condições topografias e geológicas do terreno, o tanque mostrou-se<br />

perfeitamente estável. Essas condições não seriam próprias para viveiros <strong>de</strong> terra;<br />

• Verificou-se, também, que as dimensões do tanque apresenta facilida<strong>de</strong> ao manejo da biomassa<br />

durante o período <strong>de</strong> cultivo;<br />

• De acordo com as tabelas 1 e 2, o estudo econômico <strong>de</strong>monstrou que o viveiro <strong>de</strong> terra, com a<br />

mesma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estocagem mostrou-se mais caro em sua edificação do que o tanque prémoldado.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

Bahia <strong>Pesca</strong> (2003). Programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da aqüicultura e da pesca. Salvador.<br />

Bernat, C.; Courcier, R. & Saborin, E. 1993 .A cisterna <strong>de</strong> placas: técnicas <strong>de</strong> construção. 2 Ed.<br />

Recife: SUDENE/DPP, FUNDAJ, Ed. Massangana.<br />

Oliveira, P.N. 2006. Construção <strong>de</strong> tanques pré-moldado com argamassa armada para<br />

aqüicultura. Paulo Afonso: UNEB. Departamento <strong>de</strong> Educação – Campus – VIII.<br />

Pianca, J.B. 1955. Materiais <strong>de</strong> Construção. Manual do Construtor. Porto Alegre: Globo.<br />

Silva, D.C.C. 2004. Projeto <strong>de</strong> tanques pré-moldados para aqüicultura no laboratório do Curso <strong>de</strong><br />

<strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong>. Paulo Afonso – Bahia.<br />

Wheaton, F.W. 1982. Acuacultura: diseño y construccion <strong>de</strong> sistemas. México: A.G.T.<br />

100


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS<br />

NA ILHA DE ITAMARACÁ, PERNAMBUCO<br />

Solange da Silva LEITÃO 1 *; José Milton BARBOSA 2 e Fábia Gabriela Pflugrath CARRARO 2<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco<br />

1 Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Gestão e Política Ambiental<br />

2 Departamento <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> e Aqüicultura<br />

3 Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Recursos Pesqueiros e Aqüicultura<br />

*E-mail: solleitão@yahoo.com.br<br />

Resumo: O presente estudo teve por objetivo avaliar os impactos ambientais em cinco áreas da Ilha<br />

<strong>de</strong> Itamaracá Estado <strong>de</strong> Pernambuco, região que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma das áreas estuarinas mais<br />

ricas do país em recursos naturais e beleza, o que a torna apropriada à pesca e ao turismo. Foram<br />

realizadas seis coletas quinzenais <strong>de</strong> dados, com a aplicação <strong>de</strong> uma Tabela <strong>de</strong> Avaliação dos<br />

Impactos Ambientais (TAIA), e foram registradas observações em cinco áreas aleatoriamente<br />

selecionadas na Ilha <strong>de</strong> Itamaracá, que são: A) Foz do Rio Jaguaribe; B) Sul do Canal <strong>de</strong> Santa Cruz<br />

(Forte Orange); C) Norte do Canal (Enseada dos Golfinhos); D) Praia do Pilar e E) Adjacências da<br />

Ponte <strong>de</strong> acesso a Itapissuma. Os resultados <strong>de</strong>notam a existência <strong>de</strong> impactos ambientais em todas<br />

as áreas, sendo mais graves os <strong>de</strong>smatamentos dos manguezais e o <strong>de</strong>scuido com a <strong>de</strong>posição e<br />

<strong>de</strong>stinação do lixo. A Ilha é relativamente pouco <strong>de</strong>gradada pela ação antrópica, <strong>de</strong> forma que<br />

políticas públicas e o engajamento comunitário po<strong>de</strong>m gerar ações efetivas para sua organização e<br />

recuperação. A pobreza e o baixo nível educacional da população são os principais entraves ao<br />

exercício da cidadania e o usufruto sustentável dos recursos naturais disponíveis.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Meio ambiente, consciência, lixo, ação antrópica.<br />

CHARACTERIZATION OF ENVIRONMENTAL IMPACTS IN ITAMARACÁ ISLAND<br />

Abstract: The present study’s aim was to evaluate the environmental impacts in five areas of the<br />

Island of Itamaracá. This place could be consi<strong>de</strong>red the most beautiful estuary area of the country in<br />

natural resources, which makes it appropriated for fishery and the tourism. During six weekly, the<br />

samples had been carried through, with the application of a Table of Evaluation Environment<br />

Impacts (TAIA), and the observations were registered in the following five areas selected in the<br />

Island of Itamaracá: A) Estuary of the River Jaguaribe; B) South of the Canal of Santa Cruz (Strong<br />

Orange); C) North of the Canal (Cove of the Dolphins); D) Beach of Pillar, and E) Itapissuma<br />

adjacencies of bridge’s access. The results led the researchers to i<strong>de</strong>ntify of environments impacts<br />

in all those areas, being more serious the <strong>de</strong>forestations of the mangle and the incautiousness with<br />

the <strong>de</strong>position and <strong>de</strong>stination of the garbage. The Island is relatively little <strong>de</strong>gra<strong>de</strong>d by the antropic<br />

101


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

action and public politics and the communitarian enrollment can start an effective action for its<br />

organization and recovery. Poverty and the low level of education are the main obstacles to the<br />

exercise of the citizenship and the sustainable enjoyment of the available natural resources.<br />

KEY WORDS: Environment, conscience, garbage, antropic action<br />

INTRODUÇÃO<br />

O Litoral do Estado <strong>de</strong> Pernambuco apresenta extensão <strong>de</strong> 87Km e abrange quinze<br />

municípios. Nele estão insertas quatorze áreas estuarinas, formadas pelas <strong>de</strong>sembocaduras <strong>de</strong> vinte<br />

e setes rios (Braga, 2000), <strong>de</strong>stes estuários <strong>de</strong>staca-se o complexo estuarino <strong>de</strong> Itamaracá, o mais<br />

importante do Estado. A Ilha <strong>de</strong> Itamaracá, localizada neste complexo estuarino, situa-se no litoral<br />

norte do Estado <strong>de</strong> Pernambuco, entre os paralelos 07º 41’ e 07º 49’ <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong> sul e 034º 49’ e 034º<br />

54’ <strong>de</strong> longitu<strong>de</strong> oeste do meridiano <strong>de</strong> Greenwich e dista 50Km da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Recife. É separada<br />

do continente por um braço <strong>de</strong> mar <strong>de</strong> 22Km em forma <strong>de</strong> “U”, com largura máxima <strong>de</strong> 1,5Km com<br />

4 a 5m <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>nominado Canal <strong>de</strong> Santa Cruz (Almeida & Vasconcelos Filho, 1997).<br />

Apresenta como limite Norte a Barra <strong>de</strong> Catuama (município <strong>de</strong> Goiana), Sul a Barra <strong>de</strong> Orange,<br />

Oeste o município <strong>de</strong> Itapissuma e Leste o Oceano Atlântico.<br />

O complexo estuarino <strong>de</strong> Itamaracá apresenta ilhas, reentrâncias, baías e manguezais, que<br />

recebem água <strong>de</strong> uma representativa re<strong>de</strong> hídrica, da qual dois rios nascem na própria ilha, o Paripe,<br />

que <strong>de</strong>ságua no Canal <strong>de</strong> Santa Cruz e o Jaguaribe, que <strong>de</strong>ságua no oceano (Fernan<strong>de</strong>s, 1997). Esta<br />

região po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma das áreas estuarinas mais ricas do país em recursos naturais e<br />

beleza paisagística, o que a torna muito apropriada à pesca e ao turismo.<br />

De forma holística, o mo<strong>de</strong>lo ecológico da região apresenta inter-relações bióticas e abióticas<br />

entre o Canal <strong>de</strong> Santa Cruz, áreas estuarinas e plataforma adjacente, o que envolve a dinâmica <strong>de</strong><br />

intrusão das águas salobras e marinhas, a exportação <strong>de</strong> matéria orgânica produzida nos<br />

manguezais, e as interações com a fauna, especialmente a nectônica: camarões e peixes.<br />

A flora, além <strong>de</strong> representar fonte inesgotável <strong>de</strong> energia, é vital como substrato e habitat para<br />

uma complexa fauna associada que inclui diversos organismos <strong>de</strong>stacando-se as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

peixes e crustáceos (Barros et al., 2000). Vale ressaltar ainda a gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> e importância<br />

sócio-econômica dos moluscos, que suportam uma importante ativida<strong>de</strong> pesqueira, sustentada por<br />

valorosas mulheres, cognominadas “marisqueiras”.<br />

No entanto, a expansão das ativida<strong>de</strong>s industriais e turísticas na região, além do elevado<br />

crescimento populacional e sobrepesca, colocam em risco o <strong>de</strong>licado sistema ecológico-social da<br />

região. Os moluscos bivalves, por exemplo, po<strong>de</strong>m sofrer diretamente as conseqüências negativas<br />

da poluição, pois se alimentam por filtração <strong>de</strong> forma a bioacumular elementos que po<strong>de</strong>m causar<br />

102


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

danos à saú<strong>de</strong> do homem, como é o caso do mercúrio. Porém um dos mais sérios problemas da<br />

região é a <strong>de</strong>posição <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> lixo urbano, por turistas e moradores locais.<br />

Nestas condições, é necessário planejar e <strong>de</strong>senvolver estratégias <strong>de</strong> conservação ambiental<br />

que sejam a<strong>de</strong>quadas à realida<strong>de</strong> sócio-econômica e ecológica da região. Desta forma, a realização<br />

<strong>de</strong> estudos visando <strong>de</strong>terminar os principais impactos ambientais e suas causas na região são <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> importância, para subsidiar estratégias, comunitárias e/ou governamentais, que possam<br />

garantir o usufruto racional dos recursos aquáticos e sua sustentabilida<strong>de</strong> e a manutenções <strong>de</strong><br />

paisagens tão atraentes, através da implementação <strong>de</strong> políticas preservacionistas.<br />

Neste contexto, este trabalho visa apresentar uma caracterização dos impactos ambiental em<br />

algumas áreas da Ilha <strong>de</strong> Itamaracá e suas possíveis causas.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Foram realizadas seis coletas quinzenais <strong>de</strong> dados, com a aplicação <strong>de</strong> uma Tabela <strong>de</strong><br />

Avaliação dos Impactos Ambientais (TAIA) (Tabela 1), on<strong>de</strong> foram registradas as observações in<br />

loco em 5 áreas aleatoriamente selecionadas na Ilha <strong>de</strong> Itamaracá, que são as seguintes: A) Foz do<br />

Rio Jaguaribe; B) Sul do Canal <strong>de</strong> Santa Cruz (Forte Orange); C). Norte do Canal (Enseada dos<br />

Golfinhos); D) Praia do Pilar e E) Adjacências da Ponte <strong>de</strong> acesso a Itapissuma (Figura 1). Utilizouse<br />

como base <strong>de</strong> apoio o Centro <strong>de</strong> Treinamento e Base <strong>de</strong> Pesquisa Marinha <strong>de</strong> Itamaracá, do<br />

Departamento <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> e Aqüicultura, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

C<br />

D<br />

A<br />

Figura 1 - Ilha <strong>de</strong> Itamaracá -<br />

áreas estudadas: A) Foz do Rio<br />

Jaguaribe; B) Sul do Canal <strong>de</strong><br />

Santa Cruz (Forte Orange); C).<br />

Norte do Canal (ENSEADA DOS<br />

GOLFINHOS); D) PRAIA DO<br />

E<br />

PILAR E E) ADJACÊNCIAS DA<br />

PONTE DE ACESSO A<br />

ITAPISSUMA.<br />

B<br />

103


RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Foram selecionadas cinco áreas, escolhidas aleatoriamente, buscando-se abranger regiões<br />

importantes da Ilha e que apresentem diferentes ecossistemas usos e ocupação. Estas áreas po<strong>de</strong>m<br />

ser caracterizadas da seguinte forma:<br />

Área A – Foz do Rio Jaguaribe, que segundo Kempf (1967/69), localiza-se entre os paralelos<br />

geográficos 07º43’08” e 07º45’32” <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong> sul e 034º50’14” e 034º51’05” <strong>de</strong> longitu<strong>de</strong> oeste, e é<br />

o mais importante curso d’água da ilha. É formado pela junção do riacho Jacaré, que nasce nas<br />

mediações da mata do Amparo, e pelo riacho Poço <strong>de</strong> Cobre, que nasce no Morro do Giz. O rio, a<br />

partir da nascente, tem direção su<strong>de</strong>ste, direcionando bruscamente o seu curso d’água para o<br />

nor<strong>de</strong>ste a apenas 100 metros da <strong>de</strong>sembocadura, e <strong>de</strong>ságua no Oceano Atlântico, em uma área<br />

<strong>de</strong>nominada Pontal do Jaguaribe (Andra<strong>de</strong>, 1955 & Fi<strong>de</strong>m 1986 apud Santos et al., 2000).<br />

Na margem direita do estuário existe um núcleo urbano <strong>de</strong>nominado Jaguaribe, cuja<br />

população, que anteriormente era constituída, principalmente, por pescadores, hoje é composta por<br />

residências, cujas famílias vivem basicamente da prática <strong>de</strong> aqüicultura, da ativida<strong>de</strong> pesqueira e da<br />

ativida<strong>de</strong> turísticas, especialmente a exploração <strong>de</strong> bares e o comércio <strong>de</strong> peixes. Esta é realizada <strong>de</strong><br />

maneira bastante artesanal, limitando-se à utilização <strong>de</strong> pequenas embarcações e <strong>de</strong> apetrechos<br />

tradicionais, como re<strong>de</strong> <strong>de</strong> emalhar, tarrafa e mangote (Fernan<strong>de</strong>s, 1997).<br />

Área B – Sul do Canal <strong>de</strong> Santa Cruz (Forte Orange) (Figura 2) – área predominantemente turística,<br />

constituída <strong>de</strong> bares projetados e regularmente organizados, muito freqüentados nos fins <strong>de</strong> semanas<br />

e feriados. Destacam-se ainda, nesta área o Forte Orange e um Hotel <strong>de</strong> Luxo. A frente situa-se a<br />

Coroa do Avião. Esta formação arenosa surgiu em passado recente, abriga atualmente uma pequena<br />

base para estudo <strong>de</strong> aves marinhas, pertencente a UFRPE e vários bares acessados da Ilha por<br />

pequenas embarcações no fim <strong>de</strong> semana. A área apresenta um belo visual paisagístico e é<br />

relativamente bem cuidada.<br />

Figura 2 – Vista aérea do Forte Orange, Ilha <strong>de</strong> Itamaracá, Pernambuco<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Área C – Norte do Canal (Enseada dos Golfinhos) (Figura 3) – área turística com menor impacto<br />

antrópico, <strong>de</strong> freqüência mais restrita em virtu<strong>de</strong> da distância e do acesso por estrada <strong>de</strong> terra,<br />

apresenta muitas casas <strong>de</strong> veraneio e bares a beira-mar.<br />

Está área apresenta-se relativamente bem preservada e com ação antrópica organizada, a<br />

afluência <strong>de</strong> turistas nos fins-<strong>de</strong>-semana e feriados é mais mo<strong>de</strong>rada, no que se diferencia das<br />

<strong>de</strong>mais áreas on<strong>de</strong> há uma marcada aglomeração humana nestes dias. Outra característica da área é<br />

a ocupação imobiliária melhor planejada do que a média da Ilha, embora em alguns pontos<br />

apareçam focos <strong>de</strong> lixo, <strong>de</strong>positados por moradores, turistas e comerciantes.<br />

A enseada é um local é agradável e <strong>de</strong> baixo nível <strong>de</strong> poluição visual. Durante a semana é<br />

praticamente <strong>de</strong>serta, encontrando-se poucas pessoas nas vias públicas e muitas casas fechadas.<br />

Figura 3 – Enseada dos Golfinhos, Ilha <strong>de</strong> Itamaracá, Pernambuco<br />

Área D – Praia do Pilar (Figura 4) – área predominantemente turística, mas também resi<strong>de</strong>ncial,<br />

muito freqüentada e <strong>de</strong> ocupação imobiliária precária.<br />

A maioria das habitações na beira-mar é ocupada por bares, havendo também casas <strong>de</strong><br />

veraneio e <strong>de</strong> pescadores. As construções, especialmente os bares, oferecem freqüentemente uma<br />

legível poluição visual. Destaca-se ainda gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lixo, <strong>de</strong> origem antrópica: gerada<br />

pelas ativida<strong>de</strong>s comercial, turística e pesqueira.<br />

No mar, a frente <strong>de</strong>sta área, há ativida<strong>de</strong> pesqueira que envolve muitos trabalhadores do<br />

mar. Além da pesca embarcada, ocorre também pesca <strong>de</strong>sembarcada praticada com re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arrasto<br />

<strong>de</strong> praia. Outra modalida<strong>de</strong> pesqueira é a exploração <strong>de</strong> currais: armadilha <strong>de</strong> paus e arame, fincada<br />

no mar, com compartimentos para pren<strong>de</strong>s os peixes, que são retirados pelos pescadores<br />

periodicamente.<br />

105


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Figura 4 – Praia do Pilar, Ilha <strong>de</strong> Itamaracá, PE, durante a baixa-mar:<br />

observa-se a areia muito branca em alguns trechos.<br />

Área E – cercanias da Ponte <strong>de</strong> acesso a Itapissuma (Figura 5) – Esta área po<strong>de</strong> ser analisada bob<br />

duas óticas. No lado <strong>de</strong> Itamaracá há uma extensa cobertura <strong>de</strong> mangues, frondosos e bem<br />

preservados, havendo pouca ação antrópica, embora haja nas cercanias o prédio da Penitenciaria<br />

Agrícola <strong>de</strong> Itamaracá (PAI) e a estação <strong>de</strong> maricultura da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong><br />

Pernambuco (UFPE), atualmente <strong>de</strong>sativada. Do lado <strong>de</strong> Itapissuma, a cida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>bruça sobre o<br />

Canal, on<strong>de</strong> há um extenso cais com ancoradouro para embarcações e acesso para os pescadores. À<br />

esquerda da ponte que dá acesso a Ilha <strong>de</strong> Itamaracá há uma área turístico-gastronômica, com uma<br />

série <strong>de</strong> pequenos restaurantes que servem <strong>de</strong>licatessens a base <strong>de</strong> frutos do mar. Logo atrás há<br />

residências e a se<strong>de</strong> da Colônia <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong>dores <strong>de</strong> Itapissuma. Do lado direito observa-se o centro<br />

histórico da cida<strong>de</strong>, com <strong>de</strong>staque para sua igreja secular. Nesta área percebe-se gran<strong>de</strong> acumulo <strong>de</strong><br />

lixo em vários locais, <strong>de</strong>positados por moradores ou gerados por ativida<strong>de</strong>s turísticas e pesqueiras.<br />

Figura 5 – Área adjacente a Ponte Getúlio Vargas, do lado <strong>de</strong> Itapissuma.<br />

106


Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Não foram registradas ativida<strong>de</strong>s agrícolas significativas nas áreas estudadas, o que sugere a<br />

ausência <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> nas áreas litorâneas. Este fato po<strong>de</strong> ser explicado pela composição<br />

ina<strong>de</strong>quada do solo para este fim e a ocupação da população em outras ativida<strong>de</strong>s, como a pesca, a<br />

aqüicultura e a coleta <strong>de</strong> moluscos e <strong>de</strong> frutos da terra.<br />

A ação antrópica representada por obras <strong>de</strong> engenharia ocorre nas áreas A, B, C, D e parte<br />

da área E. Na primeira a ação antrópica é <strong>de</strong>sorganizada, com obras inacabadas, mal construídas e<br />

causadoras <strong>de</strong> forte poluição visual. Neste aspecto, <strong>de</strong>staca-se a proteção com pneus, numa<br />

proprieda<strong>de</strong> no lado direito, à margem da foz do Rio Jaguaribe (Figura 6).<br />

Figura 6 – Proteção com pneus velhos numa proprieda<strong>de</strong> adjacente a foz do Rio Jaguaribe<br />

Próximo a esta área está localizada a Centro <strong>de</strong> Treinamento e Base <strong>de</strong> Pesquisa Marinha <strong>de</strong><br />

Itamaracá,do Departamento <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> e Aqüicultura (DEPAq), que serve <strong>de</strong> base para aulas práticas<br />

<strong>de</strong>ste e <strong>de</strong> outros <strong>de</strong>partamentos da UFRPE (Figura 7).<br />

Figura 7 – Aula prática com alunos <strong>de</strong> Pós-graduação do Departamento <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> e Aqüicultura<br />

da UFRPE, próximo à foz do Rio Jaguaribe<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

No Forte Orange e na Enseada dos Golfinhos as construções são organizadas e <strong>de</strong> visual<br />

agradável, no geral. Embora, também penalizadas pela presença <strong>de</strong> lixo em alguns pontos. Há<br />

indícios <strong>de</strong> poluição por indústria química apenas na área E, do lado <strong>de</strong> Itapissuma on<strong>de</strong> ocorreu,<br />

em passado recente, contaminação <strong>de</strong> ostras Cassostrea rizophorae.<br />

A ativida<strong>de</strong> predatória ocorre em todas as áreas, <strong>de</strong>stacando-se a redução da cobertura vegetal<br />

nos manguezais das áreas A e B. Na área E há manguezais viçosos, do lado da Ilha <strong>de</strong> Itamaracá e<br />

<strong>de</strong>gradados por construções imobiliárias no lado <strong>de</strong> Itapissuma. A extração <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira nos<br />

manguezais em algumas áreas é um processo irreversível em curto prazo. Esta prática tem efeitos<br />

nocivos ao sistema estuarino como um todo interferindo nos processos físicos, químicos e<br />

biológicos Macedo et al. (2000).<br />

A ativida<strong>de</strong> turística é outra gran<strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental, especialmente pela<br />

<strong>de</strong>posição <strong>de</strong> lixo, comum em toda Ilha. Este fato é agravado pela exigüida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recipientes <strong>de</strong><br />

coleta e pelo <strong>de</strong>scuido dos freqüentadores das praias locais.<br />

A impossibilida<strong>de</strong> do exercício da consciência ambiental, muitas vezes se contrapõe a sua<br />

ausência. Pois muitos habitantes da Ilha permanecem na linha <strong>de</strong> pobreza absoluta, convivendo com<br />

o <strong>de</strong>semprego e o subemprego, o que os leva a opção pelo consumo excessivo <strong>de</strong> matérias-primas<br />

naturais, à privação <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s básicas.<br />

Por outro lado, a estrutura institucional <strong>de</strong> coleta e <strong>de</strong>stinação do lixo é ainda incipiente, o que<br />

contribui para <strong>de</strong>posição e permanência do lixo em locais impróprios e nas áreas públicas (Figura<br />

8). Infelizmente, este não é um fato isolado: um observador atento po<strong>de</strong> constatar que o lixo faz<br />

parte da paisagem insular.<br />

Figura 8 – Área <strong>de</strong> salga <strong>de</strong> peixes, próxima a Ponte Getúlio Vargas, on<strong>de</strong> se observa o<br />

<strong>de</strong>scuido com o lixo.<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Nas áreas <strong>de</strong> salga localizadas próximo ao Canal <strong>de</strong> Santa Cruz, por exemplo, os peixes<br />

trazidos da faina são lavados na própria água do Canal, salgados com sal reutilizado e os restos, e<br />

peixes que caem dos quarais, permanecem no chão, somando-se ao lixo carreado para o local, numa<br />

constatável falta <strong>de</strong> cuidado com os princípios básicos <strong>de</strong> higiene. Por outro lado, não se observa<br />

qualquer preocupação com ações mitigadoras, pois elas po<strong>de</strong>riam encarecer o custo <strong>de</strong> produção<br />

dos peixes salgados.<br />

O problema apresenta-se configurado num paradigma fechado: o lixo é jogado nas vias<br />

publicas, terrenos baldios, canais córregos ou simplesmente em qualquer lugar. A ocorrência <strong>de</strong>ssa<br />

prática é imputada à falta <strong>de</strong> coletores e/ou a coleta sistemática. No entanto, os coletores colocados,<br />

quase sempre, são dilapidados ou roubados e o lixo é jogado na via pública a qualquer momento,<br />

pois não há preocupação com a obediência ao dia <strong>de</strong> coleta.<br />

O problema é <strong>de</strong> difícil solução, no entanto o pano <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> todo este paradigma é a<br />

pobreza e o baixo nível educacional existente, o que impossibilita o exercício da cidadania e o<br />

usufruto sustentável dos recursos naturais disponíveis.<br />

Os resultados sumarizados da aplicação da Tabela <strong>de</strong> Avaliação dos Impactos Ambientais -<br />

TAIA po<strong>de</strong>m ser visualizados na Tabela 1.<br />

COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS<br />

A Ilha <strong>de</strong> Itamaracá é uma região relativamente pouco <strong>de</strong>gradada pela ação antrópica, <strong>de</strong><br />

forma que políticas públicas e o engajamento comunitário po<strong>de</strong>m gerar ações efetivas para sua<br />

organização e recuperação.<br />

É notória a falta <strong>de</strong> preocupação com a convivência com o lixo, e a ausência <strong>de</strong> culpa que<br />

<strong>de</strong>monstram as populações locais a esse respeito, <strong>de</strong> forma que é possível acreditar que este<br />

paradigma não está associado à imoralida<strong>de</strong> e sim a amoralida<strong>de</strong> das pessoas.<br />

A pobreza e o baixo nível educacional são os principais entraves ao exercício da cidadania e o<br />

usufruto responsável dos recursos naturais disponíveis. Visto que, certamente, o homem, enquanto<br />

espécie animal, na imperiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher entre prover sua subsistência e <strong>de</strong> sua família e a<br />

preservação ambiental, optará pela primeira em <strong>de</strong>trimento da segunda.<br />

É possível inferir que a falta <strong>de</strong> investimentos e a incapacida<strong>de</strong> gerencial ou <strong>de</strong>scapitalização<br />

institucional precisa <strong>de</strong> alguma forma ser superada para prover a melhoria dos índices <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano na região, com aporte <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s capazes <strong>de</strong> gerar renda e manter o<br />

homem nas suas comunida<strong>de</strong>s como, por exemplo, o artesanato, o turismo e a aqüicultura familiar.<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Tabela 1 – Impactos ambientais na Ilha <strong>de</strong> Itamaracá e suas Possíveis Causas.<br />

IMPACTOS AMBIENTAIS<br />

CAUSAS<br />

LOCAL*<br />

A B C D E<br />

Desmatamento dos manguezais marginais. - - - - +<br />

Processos <strong>de</strong> erosão. - - - - -<br />

Assoreamento e redução da lâmina d’água <strong>de</strong> rios e<br />

lagoas.<br />

++ + + + +<br />

Poluição Ambiental por produtos e resíduos químicos. + - - - -<br />

Aceleração do processo <strong>de</strong> eutrofisação. + - - - -<br />

Alteração física dos Ecossistemas Naturais.<br />

Agricultura<br />

- - - - -<br />

Redução e Alteração do fluxo das águas e assoreamento. ++ + - - +<br />

Drásticas Alterações nos Ecossistemas Naturais. Obras <strong>de</strong> ++ + ++ + +<br />

<strong>Engenharia</strong><br />

Redução da cobertura vegetal e lançamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos + + ++ ++ +<br />

Desmatamento <strong>de</strong> manguezais, com redução da pesca.<br />

++ ++ + + +<br />

Contaminação água, solo por produtos químicos. Indústria - - - - +<br />

Ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes com substâncias tóxicas.<br />

Química<br />

- - - - +<br />

Redução na cobertura vegetal das áreas <strong>de</strong> manguezais. + - - - ++<br />

Redução no tamanho do pescado: peixes, camarões e<br />

moluscos.<br />

Sobrepesca sobre o estoque pesqueiro, ultrapassando o<br />

limite <strong>de</strong> sustentação das populações.<br />

Captura <strong>de</strong> fêmeas ovadas, interferindo no ciclo biológico<br />

das espécies.<br />

++ ++ ++ ++ ++<br />

++ ++ ++ ++ ++<br />

++ + + + ++<br />

Redução das populações naturais <strong>de</strong> pescado. ++ ++ ++ ++ +<br />

Consumo excessivo <strong>de</strong> matérias primas naturais. ++ + + + ++<br />

Deposição <strong>de</strong> lixo (vonta<strong>de</strong> do <strong>de</strong>positante ou falta <strong>de</strong><br />

coletores)<br />

Destruição dos ecossistemas aquáticos e manguezais.<br />

Destruição e <strong>de</strong>predação dos ecossistemas, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong><br />

impactos antrópicos diretos.<br />

Ativida<strong>de</strong>s<br />

Antrópicas<br />

Predatórias<br />

++ + + ++ ++<br />

+ + - + +<br />

+ + + ++ +<br />

Construção <strong>de</strong> bares e ocupação irregular das praias. Turismo ++ - - ++ +<br />

Redução na cobertura vegetal dos manguezais. + + ++ - -<br />

Deposição <strong>de</strong> lixo.<br />

++ + + ++ ++<br />

A) Foz do Rio Jaguaribe; B) Sul do Canal <strong>de</strong> Santa Cruz (Forte Orange); C). Norte do Canal<br />

(Enseada dos Golfinhos); D) Praia do Pilar e E) Adjacências da Ponte Getulio Vargas, <strong>de</strong> acesso a<br />

Itapissuma.<br />

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Almeida, Z.S. & Vasconcelos Filho, A.L. (1997). Contribuição ao conhecimento <strong>de</strong> peixes<br />

Pleuronectiformes da área <strong>de</strong> Itamaracá-PE (Brasil). Trab. Oceonog. Univ. Fed. PE. 25:69-82.<br />

Braga, R.A.P. (2000) Caracterização das zonas estuarinas <strong>de</strong> Pernambuco In I Seminário<br />

Internacional Perspectivas e implicações da carcinicultura estuarina no estado <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

Recife: Projeto PRORENDA.<br />

Barros, H.M., Eskenazi-Leça, E., Macedo, S.J. & Lima, T. (2000). (Eds.) Gerenciamento<br />

participativo <strong>de</strong> estuários e manguezais. Recife: PADCT-Ciamb-FINEP/PNPP/CNPq/UFRPE/<br />

PPGB.<br />

Fernan<strong>de</strong>s, T.L.S. (1997). Fitoplâncton do estuário do rio Jaguaribe, (Itamaracá, Pernambuco,<br />

Brasil): Ecologia, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, biomassa e produção [Dissertação <strong>de</strong> mestrado]. Recife:<br />

Departamento <strong>de</strong> Oceanografia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

Kempf, M. (1967/69). Nota preliminar sobre os fundos costeiros da região <strong>de</strong> Itamaracá (norte do<br />

estado <strong>de</strong> Pernambuco, Brasil). Trab. Oceanogr. Univ. Fed. PE. 9/11: 95-110.<br />

Macedo, S.J., Montes, M.J.F.& Lins, I.C. (2000). Características abióticas da área. In: Barros,<br />

H.M., Eskenazi-Leça, E., Macedo, S.J. & Lima, T. (Eds.). Gerenciamento participativo <strong>de</strong><br />

estuários e manguezais. Recife: PADCT-Ciamb-FINEP/PNPP/CNPq/UFRPE/ PPGB.<br />

Santos, T.L., Passavante, J.P., Koening, M.L., Macêdo, S.J. & Lins, I.C. (2000). Fitoplâncton do<br />

estuário do rio Jaguaribe, (Itamaracá, Pernambuco, Brasil): Produção e Hidrologia. Rev. Ecol.<br />

Aquat. Tropical. 10: 43-69.<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA<br />

OBJETIVO - A <strong>Revista</strong> Brasileira <strong>de</strong> <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> (RE<strong>Pesca</strong>) tem por objetivo publicar<br />

artigos científicos e técnicos/informativos, abordando temas <strong>de</strong> interesse na área <strong>de</strong> Recursos<br />

Pesqueiros e <strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong>.<br />

INFORMAÇÕES GERAIS - Os originais <strong>de</strong>vem ser redigidos em português, inglês ou espanhol, <strong>de</strong><br />

forma concisa, com a exatidão e a clareza necessárias à sua fiel compreensão. Devem ser enviados à<br />

Comissão Editorial pelo e-mail: repesca@gmail.com ou em CD, rigorosamente <strong>de</strong> acordo com<br />

estas normas, don<strong>de</strong> serão enviados aos consultores “ad hoc”, membros da Comissão Editorial ou<br />

indicados pelo Editor. Os pareceres serão transmitidos anonimamente aos autores para<br />

providências. Em caso <strong>de</strong> recomendação <strong>de</strong>sfavorável, po<strong>de</strong>rá ser pedida a opinião <strong>de</strong> um outro<br />

assessor. Os trabalhos serão publicados na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> aceitação, ou pela sua importância e po<strong>de</strong>m ser<br />

<strong>de</strong> três tipos: Artigos Científicos, Artigos Técnicos e Resenhas e <strong>de</strong>vem ter os seguintes itens:<br />

Artigos Científicos - Resumo (+ Palavras-chave), Abstract (+ Keywords), Introdução, Material e<br />

Métodos, Resultados e Discussão (estes dois juntos ou separados), Conclusões (opcional),<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos (opcional) e Referências.<br />

Artigos Técnicos - Resumo (+ Palavras-chave), Abstract (+ Key words), Introdução, Corpo<br />

(<strong>de</strong>senvolvimento do assunto) Conclusões (<strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> Comentários Conclusivos ou Finais,<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais), Agra<strong>de</strong>cimentos (opcional) e Referências (quando houver citações no texto).<br />

Resenhas (relatos minuciosos <strong>de</strong> fatos ou casos) - relato (+ Bibliografia, opcional - se houver<br />

citação).<br />

Os nomes dos itens <strong>de</strong>vem ser maiúsculos e centralizados, com um espaço acima e abaixo.<br />

PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS<br />

Digitação - Os artigos com no máximo 15 páginas, incluindo tabelas e figuras, <strong>de</strong>vem ser digitado<br />

em letra Times New Roman, tamanho12, papel A4 (retrato) e em espaço 1,5 (entre linhas) com<br />

margens <strong>de</strong> 2 cm em todos os lados, justificado e sem divisão <strong>de</strong> palavras no final da linha. Nomes<br />

científicos e palavras estrangeiras <strong>de</strong>vem ser grafados em “itálico”.<br />

Título - O título <strong>de</strong>ve dar uma idéia precisa do conteúdo e ser o mais curto possível escrito em<br />

letras maiúsculas tamanho12, centralizado.<br />

Nomes dos autores - Os nomes dos autores <strong>de</strong>vem constar sempre na sua or<strong>de</strong>m direta, sem<br />

inversões, com o sobrenome maiúsculo. Segue-se aos autores os en<strong>de</strong>reços institucionais e após o e-<br />

mail do autor correspon<strong>de</strong>nte.<br />

Ciro Men<strong>de</strong>s CASTOR 1* José Mário BRAGA 2 ; Maria da Penha PIRILO 1<br />

1 Departamento <strong>de</strong> Educação, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Carolina<br />

2 Instituto <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>de</strong> Carolina<br />

*Email: ciromc@ymail.com<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

O Resumo e o Abstract (que é iniciado com o título em inglês) - <strong>de</strong>vem conter as mesmas<br />

informações e sempre sumariar resultados e conclusões. Não <strong>de</strong>vem ultrapassar 300 palavras e<br />

serem seguidos <strong>de</strong>, no máximo, cinco palavras-chaves e key-words.<br />

REFERÊNCIAS - Baseada no APA Citation Gui<strong>de</strong> (Publication Manual of the American<br />

Psychological Association, 5th ed.).<br />

Livro (um autor)<br />

Bellini, C. T. (2005). Tratado <strong>de</strong> Zoogeografia do Brasil: aspectos econômicos. Ubá: Editora Nova.<br />

No texto: A espécie ocorre... (Bellini, 2005) ou Segundo Bellini (2005) a espécie...<br />

(Dois autores)<br />

Rocha, R. & J.P. Lara (Eds.) (2004). Marine fishes. Victoria: University Press.<br />

No texto: (Rocha & Lara, 2004)<br />

Capítulo <strong>de</strong> livro<br />

Brito, N. & Datena, C. R. (2005). Crescimento <strong>de</strong> miracéu Astrocopus y-grecum em laboratório. In:<br />

H. G. Barroso (Ed.). The Sea Fishes (pp.23-27). São Luís (MA): Ed. Amazônia.<br />

No texto: (Brito & Datena, 2005)<br />

Artigo <strong>de</strong> <strong>Revista</strong><br />

Costa, J.B. (1957). A seca no agreste pernambucano. Rev. Bras. Geog. 7(27): 21-7.<br />

No texto: (Costa, 1957)<br />

Galvão, G.G. & Café , J.M. (2002). Peixes do Rio Farinha, MA. Rev. Mar. Biol. 27(7): 733-49.<br />

No texto (dois autores): (Galvão & Café, 2002)<br />

Pantaleão, N. T., Omino, P., Gil, C. & Falcão, E. (1987). Raias do Brasil. Bol. Zool. 7(8): 3-13.<br />

No texto (três a cinco autores) (Pantaleão, Omimo, Gil & Falcão, 1947)<br />

Koike, J., Itu, B., Marinho, A., Bitu, R. Brito, A.A. & Victor, J. (2007). A importância do bemestar.<br />

Rev. Bras. Bem-estar. 7(1):7-27.<br />

No texto (mais <strong>de</strong> cinco autores): (Koike et al., 2007)<br />

Anais<br />

Marinho, M. A. & Abe, B. (2001). A violência contra as tartarugas. In: Congresso Latinoamericano<br />

<strong>de</strong> Zoociências (pp. 33-47). Buenos Aires: Anais do CLZ, 6.<br />

No texto: (Marinho & Abe, 2001)<br />

Tese e Dissertação<br />

Martus, M. (2001). Contribuição estudo da pesca na Lagoa dos Patos [Tese <strong>de</strong> Doutorado]. Pelotas<br />

(RS): Universida<strong>de</strong> do Arroio.<br />

No texto: (Martus, 2001)<br />

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Rev. Bras. Enga. <strong>Pesca</strong> 2[2]<br />

Artigo on-line<br />

FAO (2007). The world's fisheries. Acessado em 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007 em<br />

http://www.fao.org\fi\statist\htm.<br />

No texto: (FAO, 2007)<br />

Correções - Os trabalhos que necessitarem <strong>de</strong> correções serão <strong>de</strong>volvidos aos autores e <strong>de</strong>verão<br />

retornar ao Editor no prazo <strong>de</strong> 7 dias, caso contrário po<strong>de</strong>rão ter a publicação postergada.<br />

MATERIAL ILUSTRATIVO - As tabelas e figuras <strong>de</strong>vem se restringir ao necessário para o<br />

entendimento do texto, numeradas em algarismos arábicos. As figuras <strong>de</strong>vem ser “inseridas” no<br />

texto e nunca “recortadas” e “coladas”, <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> tamanho compatível, para não per<strong>de</strong>r a niti<strong>de</strong>z<br />

quando reduzidas e agrupadas, sempre que possível. As tabelas <strong>de</strong>vem ser feitas com utilização da<br />

ferramenta Tabela do “Word”. As legendas <strong>de</strong>vem ser auto-explicativas colocadas acima nas<br />

tabelas e abaixo nas figuras. Símbolos e abreviaturas <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>finidos nas legendas.<br />

NUNCA USE NEGRITO NO TEXTO, EM PARTE OU PARA DESTACAR EXPRESSÕES.<br />

OBSERVAÇÃO - Antes <strong>de</strong> remeter o trabalho, verifique se o mesmo está <strong>de</strong> acordo com as normas,<br />

atentando ainda para os seguintes itens: correção gramatical, correção da digitação, correspondência<br />

entre os trabalhos citados no texto e os referidos nas referências, correspondência entre os números<br />

<strong>de</strong> tabelas e figuras citadas no texto.<br />

ATENÇÃO:<br />

a) a <strong>Revista</strong> não concorda necessariamente com os conceitos emitidos pelos articulistas; b) os<br />

recursos advindos <strong>de</strong> possíveis doações, financiamentos, assinaturas, venda <strong>de</strong> publicações da<br />

RE<strong>Pesca</strong> (disquetes, CDS, cópias impressas etc.) serão utilizado na manutenção da revista, não<br />

cabendo participação dos autores no usufruto <strong>de</strong>sses recursos; c) os autores ao enviar seus trabalhos<br />

concordam com os termos <strong>de</strong>stas normas; d) o autor principal (ou correspon<strong>de</strong>nte) é responsável<br />

pela aceitação, para publicação nesta RE<strong>Pesca</strong>, dos <strong>de</strong>mais autores do trabalho.<br />

DÚVIDAS E ENVIO DE TRABALHOS: contactar o Editor-Chefe no seguinte e-mail:<br />

repesca@gmail.com<br />

A RE<strong>Pesca</strong> está disponível no site da Universida<strong>de</strong> Estadual do Maranhão/<strong>Engenharia</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesca</strong>:<br />

www.engenharia<strong>de</strong>pesca.uema.br<br />

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