de. Acho que esses conhecimentos se somam. Ao aprender a fazer uma boa cópia em processos químicos, você melhora também a cópia feita em impressão jato de tinta pois aguça o olhar e a interpretação das imagens. UNICAPHOTO - O que vem a ser o Imagineiro? ROGER - No começo foi só o nome do blog em que eu publico meu diário de pesquisas de processos fotográficos (www.imagineiro.com.br). Com o tempo virou a identidade desta iniciativa fotográfica. Existe também o Fernando Fortes que colabora com as pesquisas e aulas. Alguns outros artistas se juntam para projetos pontuais. O Imagineiro faz parte e está fisicamente sediado na Casa Ranzini, que é um centro cultural voltado a imagem. UNICAPHOTO - De onde vem seu interesse em pesquisar sobre um processo criado no século XIX? ROGER - Minha formação fotográfica foi analógica e, apesar de ter migrado sem problemas para o digital, depois de um tempo fiquei um pouco entediado em trabalhar exclusivamente com este. Senti falta de lidar com matéria fotográfica. Resolvi tentar capturar imagens de outras formas, e os inúmeros processos históricos foram o caminho. Estes processos veem o mundo de outra forma e lhe forçam a seguir caminhos interpretativos interessantes. Eles geram objetos fotográficos que não podem ser completamente emulados pelo digital. A graça está em usar cada processo para aquilo em que ele é único e neste aspecto, nenhum é obsoleto. UNICAPHOTO - Como é ser um dos poucos no Brasil a dedicar-se as pesquisas sobre o Colódio Úmido? ROGER - É uma comunidade pequena mesmo no mundo, não pela dificuldade mas pelo tempo que é necessário se dedicar para conseguir poucas e boas imagens. Fico contente de ter conseguido um bom resultado e espero que, com o tempo, a comunidade brasileira se forme. UNICAPHOTO - Por que uma ênfase nos processos químicos em tempos de digital? ROGER - Como instrumento de educação, é enriquecedor mas não necessário para ser um bom fotógrafo. Para algumas pessoas, tirar o elemento “computador” do meio do ato fotográfico pode ser criativamente libertador. No mais, acho que o artista tem que ter a liberdade de utilizar e mixar todas as técnicas fotográficas, no que lhe são únicas, a fim de criar sua obra. Porém esse “menu” de possibilidades não é facilmente acessado no Brasil. UNICAPHOTO - Nos fale sobre a ideia do laboratório móvel de placa úmida, numa bicicleta. Como funciona? ROGER - Laboratórios móveis já eram utilizados no século XIX. A placa úmida exige que você tenha a mão muitos químicos para preparar e processar na hora, enquanto ainda está úmida dos químicos sensibilizantes, daí o nome. A bicicleta cargueira que uso é um jeito prático de carregar um pequeno kit pela cidade. A grande vantagem desse tipo de bicicleta é que ela se torna uma bancada quando estacionada. Carrego uma caixa escura desmontável para os processamentos e mais uma cesta com diversas outras coisas. Eu preciso sempre sair com mais alguém para me ajudar. Mas é um passeio muito divertido, pelo menos pra quem compartilha desta loucura. UNICAPHOTO - Você comercializa a solução de preparação das placas ou se resume à fabricá-las para atender as necessidades e dos seus cursos? Caso venda, onde o leitor interessado no processo pode encontrar? ROGER - Por hora tudo o que preparo é pra uso próprio. Durante o curso o aluno é orientado sobre os fornecedores de reagente e preparo de fórmulas. Não descarto no futuro ter algum jeito de fornecer kits para alguns processos. UNICAPHOTO - Com uma atuação tão extensa e segura da linguagem fotográfica, você acha que ainda pode existir alguma possibilidade de equilíbrio no mercado de insumos para o analógico. Algo que atenda a demanda, assim como as inúmeras opções para o digital na atualidade? ROGER - Existe a fotografia analógica pré-industrial. Esta vai sempre existir enquanto houver interessados pois os insumos são os mesmos de outras atividades, como reagentes químicos e coisas de supermercado e papelaria. A dúvida é quanto à foto analógica industrial. O lucro de vendas caiu vertiginosamente e deixou de valer a pena para muitos empresários, mas ainda existe um pequeno mercado que vale a pena para outros. Este mercado vai sobreviver com menos opções enquanto o lucro atual valer a pena pra alguém. Espero que por um bom tempo. UNICAPHOTO - Deixe seu recado para os jovens que estão buscando, na contramão da fotografia, redescobrir o prazer de construção da imagem, seja com Pinhole, Negativos em vidro, Cianótipo, Ferrótipo ou qualquer outra técnica experimental, se assim podemos denominá-las. ROGER - A fotografia é uma imagem formada por luz. Todos os processos são capazes de fazer isso. Tente pensar qual é o mais adequado para o tipo de imagem que quer produzir, pode ser o digital ou não. Não são contramão e nem técnicas experimentais, pois já foram muito experimentadas ao longo da história, bem mais que o digital. Os processos históricos mais antigos são mais demorados e trabalhosos, se quantidade e rapidez não são demandas do seu trabalho, pode ser uma ótima viagem de linguagem. 10
Contato: www.rogerhs.com www.imagineiro.com.br Foto: Waldir Salvadore Foto: Daniela Coen Foto: Simone Wicca 11