Julho 2007 - Cremers
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Editorial<br />
<strong>Cremers</strong>: ações com resultados concretos<br />
Editorial<br />
Falta capacidade<br />
de indignação<br />
A<br />
"Estamos<br />
aceitando o<br />
nivelamento por<br />
baixo com uma<br />
passividade que<br />
dá a impressão<br />
de que está<br />
bem assim.<br />
Precisamos<br />
reagir<br />
imediatamente,<br />
ou será tarde<br />
demais."<br />
inda sob o impacto da tragédia<br />
que ceifou 199 preciosas vidas<br />
em Congonhas, especialistas buscam<br />
encontrar as causas do acidente.<br />
São várias as hipóteses,<br />
mas todas elas levam a um só<br />
caminho: a sufocante sensação<br />
de que estamos nos acostumando<br />
a conviver com menos que<br />
o mínimo. Estamos aceitando o<br />
nivelamento por baixo com uma<br />
passividade que dá a impressão<br />
de que está bem assim.<br />
Aceitamos que os vôos atrasem<br />
horas e horas, que bagagens<br />
sejam extraviadas e até<br />
já nos programamos para isso<br />
- pior, estamos começando a<br />
nos surpreender quando o vôo<br />
sai no horário previsto. Não<br />
reagimos quando a nova pista<br />
de pouso do aeroporto de<br />
Congonhas foi liberada às pressas,<br />
sem as tais ranhuras que<br />
podem evitar deslizamento de<br />
aeronaves.<br />
Calamos quando a Varig foi<br />
definhando sem que o governo<br />
se esforçasse para salvá-la,<br />
apesar da dívida na casa dos R$<br />
5 bilhões que tem com a empresa.<br />
Perdemos a nossa única<br />
empresa aérea com prestígio<br />
em todo mundo, pela qualidade<br />
do serviço, segurança de<br />
vôo, treinamento exaustivo de<br />
pilotos e rigor na manutenção.<br />
A Varig era motivo de orgulho<br />
para todos nós. Mas isso era<br />
quando ainda buscávamos a<br />
excelência.<br />
Hoje convivemos, praticamente<br />
sem esboçar reação, sem<br />
um gesto de protesto ou um<br />
tom de voz mais elevado, com<br />
a precariedade nos serviços essenciais.<br />
Na saúde, vemos cair,<br />
a cada ano, a qualidade. Quem<br />
pode, arca com mais uma despesa<br />
para receber atendimento<br />
digno e que deveria ser<br />
um direito de todos: paga um<br />
plano privado.<br />
O governo não destina os<br />
recursos necessários ao setor<br />
- tem outras prioridades -, nem<br />
concorda em repassar na íntegra<br />
os valores arrecadados com<br />
a CPMF, que deveria ser um plus<br />
e sua obrigação - legal, moral e<br />
ética. Hospitais e médicos trabalham<br />
com valores defasados<br />
há anos, enquanto a população<br />
vê a cada dia a deterioração de<br />
um sistema de saúde que ainda<br />
tem tudo para dar certo.<br />
Estamos aceitando o mínimo,<br />
quase uma esmola. Precisamos<br />
reagir imediatamente, ou<br />
será tarde demais.<br />
Quando do episódio da<br />
interdição do Posto da Cruzeiro<br />
do Sul, fui interpelado<br />
por alguns moradores daquela<br />
área. Pessoas humildes. Queriam<br />
que o <strong>Cremers</strong> levantasse<br />
de imediato a interdição ética,<br />
apesar de o PACS naquele momento<br />
ainda não apresentar as<br />
condições mínimas para uma<br />
medicina digna, sem expor os<br />
pacientes a riscos. “Doutor, nós<br />
levamos o senhor pela vila,<br />
para ver a nossa pobreza. O<br />
Postão tem problemas, mas nós<br />
precisamos dele funcionando<br />
de qualquer jeito, é o que nos<br />
resta”, ponderou uma senhora.<br />
Nunca esqueci o olhar daquela<br />
cidadã, uma pessoa simples,<br />
consciente de que poderia<br />
ter um atendimento melhor,<br />
mas que aceita o que lhe é<br />
proposto, sem reagir. Mais ou<br />
menos assim como toda a sociedade<br />
brasileira diante da<br />
corrupção, da impunidade e de<br />
vidas interrompidas em tragédias<br />
anunciadas.<br />
Dr. Marco Antônio Becker<br />
Presidente do <strong>Cremers</strong><br />
JORNAL DO CREMERS ● JULHO <strong>2007</strong><br />
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