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A coesão textual na tessitura do texto: a ... - Celsul.org.br

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A<strong>na</strong>is <strong>do</strong> CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

A coesão <strong>textual</strong> <strong>na</strong> <strong>tessitura</strong> <strong>do</strong> <strong>texto</strong>: a referenciação como<<strong>br</strong> />

artifício de construção de objetos discursivos<<strong>br</strong> />

Marly de Fátima Gonçalves Tavares Biezus 1 , Aparecida Feola Sella. 2<<strong>br</strong> />

1 Universidade Estadual <strong>do</strong> Oeste <strong>do</strong> Paraná (Unioeste)<<strong>br</strong> />

2 Universidade Estadual <strong>do</strong> Oeste <strong>do</strong> Paraná (Unioeste)<<strong>br</strong> />

biezus@bol.com.<strong>br</strong>, afsella1@yahoo.com.<strong>br</strong><<strong>br</strong> />

Resumo. Justifica-se o presente trabalho de pesquisa pela necessidade de se<<strong>br</strong> />

estudarem os elementos referenciais <strong>na</strong> construção <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. O ensino da<<strong>br</strong> />

língua reclama resulta<strong>do</strong>s de práticas efetivas, significativas e<<strong>br</strong> />

con<strong>textual</strong>izadas para que o leitor seja capaz de interagir com os <strong>texto</strong>s. Essa<<strong>br</strong> />

interação pauta-se, entre outras tantas habilidades, no reconhecimento das<<strong>br</strong> />

funções <strong>do</strong>s elementos lingüísticos que os deixam coesos e coerentes. A<<strong>br</strong> />

referenciação segun<strong>do</strong> Koch (2005) é um recurso que assi<strong>na</strong>la uma forma<<strong>br</strong> />

particular de retratar conhecimento de mun<strong>do</strong>. O ensino da língua, nessa<<strong>br</strong> />

ótica, rende um olhar múltiplo nos elementos lingüísticos que colaboram para<<strong>br</strong> />

a <strong>tessitura</strong> <strong>do</strong> <strong>texto</strong> e a referenciação um exercício de construção de juízos de<<strong>br</strong> />

valor, de opiniões, e também de desvelamento <strong>do</strong> entendimento <strong>do</strong> produtor <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

<strong>texto</strong>. Este trabalho consiste em a<strong>na</strong>lisar as estratégias de referenciação <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

conto O Cinturão, de Graciliano Ramos. A referenciação é tida, então, como<<strong>br</strong> />

parte integrante da coesão <strong>textual</strong>, estudada no âmbito da lingüística <strong>textual</strong>,<<strong>br</strong> />

a qual trata o <strong>texto</strong> como um ato de comunicação unifica<strong>do</strong> num complexo<<strong>br</strong> />

universo de ações huma<strong>na</strong>s. Intencio<strong>na</strong> – se não só possibilitar ao leitor o<<strong>br</strong> />

entendimento de como os <strong>texto</strong>s, produzi<strong>do</strong>s em língua escrita, contam com o<<strong>br</strong> />

aparato da referenciação para construção de objetos discursivos, mas também<<strong>br</strong> />

criar situações em que os leitores tenham oportunidades de refletir so<strong>br</strong>e os<<strong>br</strong> />

<strong>texto</strong>s, que lêem e/ou escrevem.<<strong>br</strong> />

Abstract. It is justified this research by the need of studying the referential<<strong>br</strong> />

elements in the construction of the text. The teaching of the language calls<<strong>br</strong> />

results of effective, significant and con<strong>textual</strong>ized practices so that the reader<<strong>br</strong> />

is able to interact with the texts. This interaction orients, among many other<<strong>br</strong> />

skills, in recognition of the role of language elements that give to the texts<<strong>br</strong> />

cohesive and consistent. The referenciation according to Koch (2005) is a<<strong>br</strong> />

feature that marks a particular form of knowledge of the world portrayed. The<<strong>br</strong> />

teaching of the language in that perspective, earns a multiple look in the<<strong>br</strong> />

language elements that contribute to the sewing of the text and referenciation<<strong>br</strong> />

a practice of building value judgments, of opinions, and also unveiling of the<<strong>br</strong> />

producer's understanding of the text. This work is to a<strong>na</strong>lyze the strategies of<<strong>br</strong> />

reference in the short story Um Cinturão, by Graciliano Ramos. The<<strong>br</strong> />

referenciation is taken, then as part of the cohesion text, studied under the<<strong>br</strong> />

language text, which treats the text as an act of communication unified in a<<strong>br</strong> />

GT - Processos de Construção Textual 1


complex universe of human actions. The target is not only allow the reader an<<strong>br</strong> />

understanding of how the texts, produced in written language, have the<<strong>br</strong> />

apparatus of referenciation for construction of discourse objects, but also<<strong>br</strong> />

create situations in which readers have opportunities to reflect about the texts,<<strong>br</strong> />

that they read and / or write.<<strong>br</strong> />

Palavras-chave: referenciação, leitura, objetos discursivos.<<strong>br</strong> />

1. Introdução<<strong>br</strong> />

Justifica-se o presente trabalho de pesquisa pela necessidade de se estudarem os<<strong>br</strong> />

elementos referenciais <strong>na</strong> construção <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. O estu<strong>do</strong> desses elementos serve para<<strong>br</strong> />

embasar material teórico a ser utiliza<strong>do</strong> no trabalho com a leitura <strong>do</strong> conto em sala de<<strong>br</strong> />

aula. O ensino da língua reclama resulta<strong>do</strong>s de práticas efetivas, significativas para o<<strong>br</strong> />

aluno e con<strong>textual</strong>izadas para que ele seja capaz de interagir com os <strong>texto</strong>s, por meio <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

conhecimento das funções <strong>do</strong>s elementos lingüísticos, pois são eles que os deixam<<strong>br</strong> />

coesos e coerentes. A presente pesquisa deve-se à insatisfação diante da abordagem feita<<strong>br</strong> />

por muitos materiais didáticos que enfocam o ensino da língua portuguesa como algo<<strong>br</strong> />

puramente gramatical, pauta<strong>do</strong> somente <strong>na</strong> descrição <strong>do</strong>s elementos lingüísticos, <strong>na</strong>s<<strong>br</strong> />

nomenclaturas e <strong>na</strong>s regras gramaticais da norma padrão, deixan<strong>do</strong> de la<strong>do</strong> o uso da<<strong>br</strong> />

língua e a reflexão so<strong>br</strong>e o seu funcio<strong>na</strong>mento.<<strong>br</strong> />

Intencio<strong>na</strong>-se possibilitar ao aluno o entendimento de como os <strong>texto</strong>s,<<strong>br</strong> />

produzi<strong>do</strong>s em língua escrita, contam com o aparato da referenciação para construção de<<strong>br</strong> />

objetos discursivos. Para tanto o resgate referencial tor<strong>na</strong>-se um exercício de construção<<strong>br</strong> />

de juízos de valor, de opiniões, de desvelamento <strong>do</strong> entendimento <strong>do</strong> <strong>texto</strong>, mas também<<strong>br</strong> />

de espaço para situações em que os alunos tenham oportunidade de refletir so<strong>br</strong>e os<<strong>br</strong> />

<strong>texto</strong>s que lêem e/ou escrevem. Nesse senti<strong>do</strong>, espera-se que o aluno seja capaz de<<strong>br</strong> />

reconhecer as características de cada gênero e tipo de <strong>texto</strong>, o efeito das condições de<<strong>br</strong> />

produção <strong>do</strong> discurso <strong>na</strong> construção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

Esta pesquisa está embasada <strong>na</strong>s o<strong>br</strong>as de Koch (2005), Marcuschi (2002), Koch<<strong>br</strong> />

e Elias (2006), Fávero (2006), Mondada (2003), Apothéloz (1995), autores que<<strong>br</strong> />

investigam a referenciação como objeto discursivo. Acredita-se que referenciar, no<<strong>br</strong> />

processo da língua em uso, envolve interação e intenção. É a partir da visão da língua<<strong>br</strong> />

em funcio<strong>na</strong>mento que se afirma estar o processo de referenciação relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> à própria<<strong>br</strong> />

constituição <strong>do</strong> <strong>texto</strong> em que uma rede de referentes são introduzi<strong>do</strong>s como objetos de<<strong>br</strong> />

discurso (Apothéloz e Reichler-Béguelin: 1995).<<strong>br</strong> />

As análises aqui realizadas baseiam-se no pressuposto de que a língua é um<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>mínio que serve para a construção simbólica e interativa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Assim estuda-se<<strong>br</strong> />

como o discurso constrói seus mun<strong>do</strong>s. Para demonstração de análises ainda inciais da<<strong>br</strong> />

presente pesquisa, escolheu-se o conto O cinturão, de Graciliano Ramos, para verificar<<strong>br</strong> />

como a referenciação liga entidades definidas e indefinidas, e como os interlocutores<<strong>br</strong> />

manipulam os referentes num processo de negociação próprio <strong>do</strong> universo discursivo.<<strong>br</strong> />

2. So<strong>br</strong>e a coesão referencial<<strong>br</strong> />

A coesão contribui para conferir <strong>textual</strong>idade a um conjunto de enuncia<strong>do</strong>s. Perceptível<<strong>br</strong> />

no nível micro<strong>textual</strong>, refere-se ao mo<strong>do</strong> como os vocábulos se relacio<strong>na</strong>m dentro de<<strong>br</strong> />

GT - Processos de Construção Textual 2


uma seqüência. É importante lem<strong>br</strong>ar que a coesão pode auxiliar no estabelecimento da<<strong>br</strong> />

coerência, embora, às vezes, a coesão nem sempre se manifeste explicitamente por meio<<strong>br</strong> />

de marcas lingüísticas, o que faz concluir que pode haver <strong>texto</strong>s coerentes mesmo que<<strong>br</strong> />

não tenham coesão explícita.<<strong>br</strong> />

Segun<strong>do</strong> Koch (1997) a coesão é o fenômeno que diz respeito ao mo<strong>do</strong> como os<<strong>br</strong> />

elementos lingüísticos estão presentes <strong>na</strong> superfície <strong>textual</strong>, se encontram entrelaça<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

por meio de recursos também lingüísticos, forman<strong>do</strong> seqüências pelas quais vinculam<<strong>br</strong> />

senti<strong>do</strong>. Por meio, então, de elementos lingüísticos pode-se tecer informações,<<strong>br</strong> />

entrelaçan<strong>do</strong>-as, forman<strong>do</strong> assim um <strong>texto</strong> coerente e coeso.<<strong>br</strong> />

Marcuschi (1983) também define os fatores de coesão como “aqueles que dão<<strong>br</strong> />

conta da seqüenciação superficial <strong>do</strong> <strong>texto</strong>”. Este autor também concorda que os<<strong>br</strong> />

elementos lingüísticos é que formam o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>texto</strong> através da <strong>tessitura</strong> formada.<<strong>br</strong> />

Mondada e Dubois (2003), ao tratarem so<strong>br</strong>e referenciação privilegiam a relação<<strong>br</strong> />

entre as palavras e as coisas, defendem uma abordagem diferenciada em relação aos<<strong>br</strong> />

elementos lingüísticos e o sujeito presentes no <strong>texto</strong>. Portanto uma visão dinâmica<<strong>br</strong> />

precisa ser considerada, que leve em conta um sujeito socialmente constituí<strong>do</strong>, que tem<<strong>br</strong> />

uma relação direta entre os discursos e o mun<strong>do</strong>, capaz de adequar seus discursos a cada<<strong>br</strong> />

situação, a cada fi<strong>na</strong>lidade comunicativa, crian<strong>do</strong> e recrian<strong>do</strong> suas atividades sociais de<<strong>br</strong> />

acor<strong>do</strong> com as versões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> publicamente elaboradas. Tal mudança de perspectiva<<strong>br</strong> />

é assi<strong>na</strong>lada pela substituição <strong>do</strong> termo referência por referenciação, visto que o<<strong>br</strong> />

processo de referenciar é concebi<strong>do</strong> como uma atividade de linguagem realizada por<<strong>br</strong> />

sujeitos históricos e sociais em interação, sujeitos que constroem mun<strong>do</strong>s textuais cujos<<strong>br</strong> />

objetos não espelham fielmente o “mun<strong>do</strong> real”, mas são constituí<strong>do</strong>s em meio a<<strong>br</strong> />

práticas sociais, ou seja, são objetos-de-discurso<<strong>br</strong> />

A sucessão de coisas ditas ou escritas forma uma cadeia que vai muito além da<<strong>br</strong> />

simples seqüencialidade: há um entrelaçamento de informações e mensagens que se<<strong>br</strong> />

tor<strong>na</strong>m coesas perante os mecanismos lingüísticos que estabelecem a conectividade, a<<strong>br</strong> />

retomada e garantem a coesão. São os referentes textuais que atuam no <strong>texto</strong>. Os objetos<<strong>br</strong> />

discursivos vão estabelecen<strong>do</strong> relações de senti<strong>do</strong> e significa<strong>do</strong> tanto com os elementos<<strong>br</strong> />

que os antecedem como com os que os sucedem, construin<strong>do</strong> uma cadeia <strong>textual</strong><<strong>br</strong> />

significativa. Essa coesão, que dá unidade ao <strong>texto</strong>, vai sen<strong>do</strong> construída e se evidencia<<strong>br</strong> />

pelo emprego de diferentes procedimentos, tanto no campo <strong>do</strong> léxico, como no da<<strong>br</strong> />

gramática.<<strong>br</strong> />

Koch (2006) afirma que a referenciação constitui uma atividade discursiva.<<strong>br</strong> />

Dessa maneira, postula-se uma visão não-referencial da língua e da linguagem, o que<<strong>br</strong> />

possibilita criar uma instabilidade das relações entre as palavras e as coisas. Sen<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

assim, a realidade é construída, mantida e alterada não somente pela forma como<<strong>br</strong> />

nomeamos o mun<strong>do</strong>, mas pela forma como sociocognitivamente interagimos com ele. A<<strong>br</strong> />

autora afirma ainda que o discurso é, ao mesmo tempo, tributário de sua construção e<<strong>br</strong> />

constrói uma representação que opera como uma memória compartilhada, alimentada<<strong>br</strong> />

pelo próprio discurso. Logo, admite-se que os objetos <strong>do</strong> discurso são dinâmicos: podem<<strong>br</strong> />

ser modifica<strong>do</strong>s, desativa<strong>do</strong>s, recategoriza<strong>do</strong>s etc. E neste viés, então, a discursivização<<strong>br</strong> />

ou a <strong>textual</strong>ização é uma (re) construção <strong>do</strong> real e não um simples processo de<<strong>br</strong> />

elaboração da informação, conforme comenta Koch (2006).<<strong>br</strong> />

GT - Processos de Construção Textual 3


A referenciação é a definição das formas de introdução, no <strong>texto</strong>, de novas<<strong>br</strong> />

entidades ou referentes. Quan<strong>do</strong> os referentes apontam para frente ou remetem para trás,<<strong>br</strong> />

ou servem de base para novas referências tem-se a progressão referencial. A<<strong>br</strong> />

referenciação é tida então como uma atividade discursiva, pois as formas de<<strong>br</strong> />

referenciação são escolhas <strong>do</strong> sujeito em interação com outros sujeitos em função de um<<strong>br</strong> />

querer-dizer (Koch e Elias, 2006). E nesse processo de interação vão se construin<strong>do</strong> os<<strong>br</strong> />

objetos-de-discurso.<<strong>br</strong> />

Para a construção <strong>do</strong>s referentes textuais Koch e Elias listam as seguintes<<strong>br</strong> />

estratégias:<<strong>br</strong> />

- Introdução (construção): quan<strong>do</strong> um “objeto” até então não mencio<strong>na</strong><strong>do</strong> é<<strong>br</strong> />

introduzi<strong>do</strong> no <strong>texto</strong>, deixan<strong>do</strong>-o em destaque.<<strong>br</strong> />

- Retomada (manutenção): quan<strong>do</strong> um “objeto” que já está presente no <strong>texto</strong> é<<strong>br</strong> />

reativa<strong>do</strong> através de uma forma referencial, manten<strong>do</strong> em foco o objeto-de-discurso.<<strong>br</strong> />

-Desfocalização: um novo “objeto” é lança<strong>do</strong> ao <strong>texto</strong>, atrain<strong>do</strong> para si o foco.<<strong>br</strong> />

Os referentes podem ser modifica<strong>do</strong>s ou expandi<strong>do</strong>s, e durante to<strong>do</strong> o processo<<strong>br</strong> />

de compreensão o leitor cria uma seqüência representativa que lhe dará informações<<strong>br</strong> />

acerca de categorização e avaliações <strong>do</strong>s referentes, o que o auxiliará <strong>na</strong> interpretação <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

<strong>texto</strong>.<<strong>br</strong> />

Koch e Elias (2006) apontam <strong>do</strong>is tipos de processos de introdução de referentes<<strong>br</strong> />

textuais: ativação “ancorada” e “não-ancorada”. Denomi<strong>na</strong>-se “não-ancorada” quan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

um “objeto” novo é apresenta<strong>do</strong> no <strong>texto</strong>, e “ancorada” quan<strong>do</strong> um “objeto” novo é<<strong>br</strong> />

apresenta<strong>do</strong>, mas está associa<strong>do</strong> com elementos já presentes no <strong>texto</strong>. Nas ativações<<strong>br</strong> />

“ancoradas” têm-se as anáforas (indiretas e associativas) e as catáforas, constituin<strong>do</strong> as<<strong>br</strong> />

remissões para trás e para frente, respectivamente.<<strong>br</strong> />

A retomada é a operação responsável pela manutenção <strong>do</strong> foco em objetos já<<strong>br</strong> />

introduzi<strong>do</strong>s, dan<strong>do</strong> origem às cadeias referenciais responsáveis pela progressão<<strong>br</strong> />

referencial <strong>do</strong> <strong>texto</strong>; já as expressões nomi<strong>na</strong>is referenciais desempenham funções<<strong>br</strong> />

cognitivo-discursivas importantes <strong>na</strong> construção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. Dentre essas<<strong>br</strong> />

funções tem-se a ativação/reativação <strong>na</strong> memória. Quan<strong>do</strong> a remissão se dá a elementos<<strong>br</strong> />

já mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>s ou sugeri<strong>do</strong>s pelo co-<strong>texto</strong>, elas ativam a memória <strong>do</strong> interlocutor.<<strong>br</strong> />

Quan<strong>do</strong> há uma recategorização ou refocalização <strong>do</strong> referente, elas têm função<<strong>br</strong> />

predicativa, pois traz informação nova.<<strong>br</strong> />

Outra função é o encapsulamento (sumarização) e a rotulação, função específica<<strong>br</strong> />

das nomi<strong>na</strong>lizações que funcio<strong>na</strong>m como um sintagma resumi<strong>do</strong>r para uma expressão<<strong>br</strong> />

precedente <strong>do</strong> <strong>texto</strong>, sumarizam informações já mencio<strong>na</strong>das, encapsulan<strong>do</strong>-as numa<<strong>br</strong> />

expressão nomi<strong>na</strong>l.<<strong>br</strong> />

As formas remissivas têm função importante, pois informam a seqüência lógica<<strong>br</strong> />

das argumentações <strong>do</strong> autor <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. Elas cumprem a função de introdução, de<<strong>br</strong> />

mudança ou desvio de tópico e também de ligação entre tópicos. Tu<strong>do</strong> isso acontece<<strong>br</strong> />

sem que a continuidade lógica se perca e cada informação nova é acoplada a uma antiga<<strong>br</strong> />

e assim vai se forman<strong>do</strong> a construção <strong>do</strong> <strong>texto</strong>, através da retroação e da progressão.<<strong>br</strong> />

A retroação, as retomadas também podem se efetuar pela utilização de um<<strong>br</strong> />

hiperônimo. Este, com função a<strong>na</strong>fórica, retoma um termo pouco usual utilizan<strong>do</strong> os<<strong>br</strong> />

GT - Processos de Construção Textual 4


conhecimentos <strong>do</strong> interlocutor para esclarecê-lo. Há ainda a especificação por meio de<<strong>br</strong> />

seqüência hiperônimo/hipônimo, é a anáfora especifica<strong>do</strong>ra sen<strong>do</strong> utilizada quan<strong>do</strong> se<<strong>br</strong> />

faz necessário um maior refi<strong>na</strong>mento da categorização, ela é geralmente introduzida<<strong>br</strong> />

pelo artigo indefini<strong>do</strong>, e permite anexar informações novas ao objeto-de-discurso.<<strong>br</strong> />

Outra estratégia são as paráfrases a<strong>na</strong>fóricas que podem ser deficio<strong>na</strong>is ou<<strong>br</strong> />

didáticas. Essas paráfrases utilizan<strong>do</strong> expressões nomi<strong>na</strong>is têm a função de elaborar<<strong>br</strong> />

definições. Quan<strong>do</strong> isso ocorre retoman<strong>do</strong> um objeto-de-discurso tem-se a definicio<strong>na</strong>l,<<strong>br</strong> />

o termo a ser defini<strong>do</strong> foi previamente mencio<strong>na</strong><strong>do</strong> e por meio de uma anáfora registrase<<strong>br</strong> />

sua definição. Geralmente aparecem com expressões como um tipo de, uma espécie<<strong>br</strong> />

de. Já <strong>na</strong> didática, a definição é registrada e depois a expressão referencial a retoma,<<strong>br</strong> />

com sintagma mais a<strong>br</strong>angente. É um recurso de introduzir um vocábulo técnico de<<strong>br</strong> />

mo<strong>do</strong> mais direto, mais conciso.<<strong>br</strong> />

Devi<strong>do</strong> a enorme variedade de funções que desempenham as expressões<<strong>br</strong> />

referenciais, percebe-se a sua importância tanto <strong>na</strong> progressão <strong>textual</strong> como <strong>na</strong><<strong>br</strong> />

construção de senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>texto</strong>s. São essas funções que serão verificadas <strong>na</strong> análise<<strong>br</strong> />

abaixo.<<strong>br</strong> />

3. Uma tentativa de análise<<strong>br</strong> />

O presente estu<strong>do</strong> não a<strong>br</strong>ange as características de toda grandiosa o<strong>br</strong>a de Graciliano<<strong>br</strong> />

Ramos, mas somente o conto Um Cinturão, para verificar como Graciliano utiliza a<<strong>br</strong> />

referenciação <strong>na</strong> construção de seu <strong>texto</strong>. De forma geral, as o<strong>br</strong>as de Graciliano<<strong>br</strong> />

caracterizam-se pelo inter-relacio<strong>na</strong>mento entre as condições sociais e a psicológica das<<strong>br</strong> />

perso<strong>na</strong>gens, ao que se soma uma linguagem precisa, “enxuta” e despojada, de perío<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

curtos, mas de grande força expressiva.<<strong>br</strong> />

O conto Um Cinturão retrata as experiências infantis <strong>do</strong> menino-<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r. To<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

o conto se centra no menino e <strong>na</strong> violência que enfrentou. O segun<strong>do</strong> parágrafo inicia-se<<strong>br</strong> />

com a <strong>na</strong>rrativa de uma experiência com a violência que marcou o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r. Utiliza-se o<<strong>br</strong> />

processo da metáfora, personificação e polissemia para iniciar seu relato: Certa vez<<strong>br</strong> />

minha mãe surrou-me com uma corda no<strong>do</strong>sa que me pintou as costas de manchas<<strong>br</strong> />

sangrentas. O <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r relacio<strong>na</strong> os efeitos causa<strong>do</strong>s pela corda no plano das ações<<strong>br</strong> />

instigadas, como se a corda agisse. Nesse plano da descrição, estabelece um elo entre<<strong>br</strong> />

polissemia por meio de metáfora, por exemplo. No decorrer <strong>do</strong> parágrafo tece a ce<strong>na</strong><<strong>br</strong> />

amarran<strong>do</strong>-a com a escolha lexical que faz: os golpes; surrou; o procedimento; a<<strong>br</strong> />

flagelação; uma corda no<strong>do</strong>sa; o nó, ele (o nó).<<strong>br</strong> />

Observa-se nesse parágrafo cinco entradas de referenciação, conforme descrito<<strong>br</strong> />

no quadro a seguir:<<strong>br</strong> />

a <strong>do</strong>r as costas Moí<strong>do</strong> Os golpes uma corda<<strong>br</strong> />

no<strong>do</strong>sa<<strong>br</strong> />

manchas<<strong>br</strong> />

sangrentas<<strong>br</strong> />

lanhos<<strong>br</strong> />

vermelhos<<strong>br</strong> />

menor estrago<<strong>br</strong> />

a<<strong>br</strong> />

<strong>na</strong>s costelas me o<<strong>br</strong> />

procedimento<<strong>br</strong> />

da filha<<strong>br</strong> />

me<<strong>br</strong> />

o nó<<strong>br</strong> />

GT - Processos de Construção Textual 5<<strong>br</strong> />

ele


Na primeira colu<strong>na</strong>, percebe, num processo de gradação, que sintagma a <strong>do</strong>r<<strong>br</strong> />

apresenta-se como conseqüência, diante <strong>do</strong>s sintagmas interliga<strong>do</strong>s, o que é típico de<<strong>br</strong> />

<strong>na</strong>rrativa, principalmente literária. Nesse senti<strong>do</strong>, os sintagmas correspondentes revelam<<strong>br</strong> />

retomadas distintas, pois manchas sangrentas e lanhos vermelhos revelam uma<<strong>br</strong> />

correlação que se demarca por meio <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> expresso entre resulta<strong>do</strong> e processo. Já o<<strong>br</strong> />

sintagma a flagelação sumariza essa relação, enquanto menor estrago exprime uma<<strong>br</strong> />

avaliação resultante de to<strong>do</strong> um encaminhamento posto nos laços informacio<strong>na</strong>is<<strong>br</strong> />

presentes em to<strong>do</strong> o parágrafo, principalmente aqueles relativos ao esta<strong>do</strong> psíquico <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r.<<strong>br</strong> />

Na segunda colu<strong>na</strong>, percebe-se que, servin<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> recurso referencial da<<strong>br</strong> />

metonímia, destaca a parte <strong>do</strong> to<strong>do</strong>. Embora toda as costas estão feridas, a flagelação<<strong>br</strong> />

maior se conscentrava <strong>na</strong> area das costelas.<<strong>br</strong> />

Na terceira, percebe-se o recurso da metáfora. Experienciar uma coisa por outra<<strong>br</strong> />

é a essência da metáfora; por meio <strong>do</strong> vocábulo moí<strong>do</strong>, o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r relacio<strong>na</strong> seu esta<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

físico, depois de ser flagela<strong>do</strong>, como se fosse um objeto afeta<strong>do</strong> por uma determi<strong>na</strong>da<<strong>br</strong> />

ação, longe da idéia de ser humano, se considera<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> literal. Essa idéia é ainda<<strong>br</strong> />

arrastada no <strong>texto</strong> por meio <strong>do</strong> pronome me, sem que haja uma elaboração discursiva<<strong>br</strong> />

inter<strong>na</strong> ao processo de nomi<strong>na</strong>lização.<<strong>br</strong> />

Na quarta, para registrar o processo de flagelação, utilizam-se os sintagmas os<<strong>br</strong> />

golpes, os procedimentos da filha, e a. Introduz-se então o objeto discursivo com a<<strong>br</strong> />

expressão os golpes e há a remissão por meio <strong>do</strong>s sintagmas os procedimentos da filha e<<strong>br</strong> />

o pronome a. A escolha lexical demonstra ao leitor a resig<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r perante a<<strong>br</strong> />

violência sofrida, registran<strong>do</strong>-a como um processo rotineiro.<<strong>br</strong> />

Na quinta, percebe-se a introdução <strong>do</strong> instrumento utiliza<strong>do</strong> no processo<<strong>br</strong> />

retrata<strong>do</strong> com os sintagmas uma corda no<strong>do</strong>sa, e as retomadas com os sintagmas o nó e<<strong>br</strong> />

ele. O uso da referência específica indefinida uma corda no<strong>do</strong>sa não pressupõe<<strong>br</strong> />

unicidade de instrumento, não havia a corda como se esse instrumento fosse usualmente<<strong>br</strong> />

utiliza<strong>do</strong>, implica, então, uma interpretação genérica. Nota-se que quan<strong>do</strong> retoma o<<strong>br</strong> />

referente utiliza-se de um sintagma nomi<strong>na</strong>l defini<strong>do</strong> pormenorizan<strong>do</strong> ao leitor um<<strong>br</strong> />

detalhe <strong>do</strong> sintagma corda, numa relação meronímica, o nó. O pronome pessoal dêitico,<<strong>br</strong> />

utiliza<strong>do</strong> para recuperar o merônimo o nó, direcio<strong>na</strong> o leitor para a identificação <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

instrumento não necessitan<strong>do</strong> de mais descrições.<<strong>br</strong> />

O terceiro parágrafo <strong>do</strong> conto desenha o quadro da violenta experiência que o<<strong>br</strong> />

<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r sofre quan<strong>do</strong> criança, a surra que recebeu <strong>do</strong> pai por causa de um cinturão. A<<strong>br</strong> />

introdução referencial meu pai é modificada aos poucos, ao longo <strong>do</strong> conto, por<<strong>br</strong> />

expressões que têm principalmente valor atributivo como mão peluda, algoz, um<<strong>br</strong> />

homem. Os sintagmas nomi<strong>na</strong>is apresenta<strong>do</strong>s vão, então, progressivamente, substituin<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

a concepção inicial de meu pai. Na memória discursiva <strong>do</strong> leitor a figura pater<strong>na</strong>,<<strong>br</strong> />

socialmente constituída, é acio<strong>na</strong>da <strong>na</strong> introdução <strong>do</strong> objeto-de-discurso. Figura esta que<<strong>br</strong> />

não se mantém pois, ao atribuir ao objeto-de-discurso meu pai outras características fora<<strong>br</strong> />

das socialmente constituídas, o leitor é desestabiliza<strong>do</strong> e leva<strong>do</strong> a construir novos<<strong>br</strong> />

conceitos para a figura de pai apresenta<strong>do</strong> pelo <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r, e assim elaborar uma<<strong>br</strong> />

representação cognitiva compartilhada com a nova realidade apresentada pelo locutor.<<strong>br</strong> />

GT - Processos de Construção Textual 6


Essa mudança <strong>do</strong> status informacio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> referente foi alterada paulati<strong>na</strong>mente. Na<<strong>br</strong> />

primeira retomada o pronome pessoal ele constitui ape<strong>na</strong>s uma indicação, uma<<strong>br</strong> />

si<strong>na</strong>lização para o leitor de que o referente está no foco de atenção, ou seja, está ativo.<<strong>br</strong> />

A segunda reativação se dá por meio de uma relação homonímia representada<<strong>br</strong> />

pelo vocábulo o homem, que remete ao vocábulo pai. A ativação por meio de uma<<strong>br</strong> />

expressão nomi<strong>na</strong>l definida, então, pressupõe compartilhamento de conhecimento por<<strong>br</strong> />

parte de locutor e ouvinte/ leitor.<<strong>br</strong> />

A ativação seguinte dá-se pelo uso de uma expressão nomi<strong>na</strong>l indefinida, pois<<strong>br</strong> />

quan<strong>do</strong> retrata um homem não pressupõe sua existência, não pelo menos <strong>na</strong> condição<<strong>br</strong> />

lançada ao sintagma introdutório meu pai.<<strong>br</strong> />

Quan<strong>do</strong> reativa, então, através <strong>do</strong> sintagma nomi<strong>na</strong>l a mão peluda, o uso da<<strong>br</strong> />

descrição nomi<strong>na</strong>l definida pelo <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r objetiva-se a identificar o referente, não<<strong>br</strong> />

haven<strong>do</strong> necessidade de pormenores. Mesmo que ainda não tenha si<strong>do</strong> mencio<strong>na</strong>da a<<strong>br</strong> />

recuperação de meu pai com o adjetivo peluda, mostra que o locutor confere que o<<strong>br</strong> />

leitor/ouvinte reconhecerá <strong>na</strong> situação discursiva o mostro, ou seja, a descrição que traz<<strong>br</strong> />

a respeito <strong>do</strong> pai. Isso porque o leitor consegue visualizar uma mão <strong>na</strong>s expressões:<<strong>br</strong> />

arrancou-me, aperto <strong>na</strong> garganta, arrastou-me, agarran<strong>do</strong>-me, açoitan<strong>do</strong>-me.<<strong>br</strong> />

A retomada seguinte, também por meio de um sintagma nomi<strong>na</strong>l defini<strong>do</strong> o<<strong>br</strong> />

algoz, recupera, não só o vocábulo pai, mas também a experiência relatada como um<<strong>br</strong> />

to<strong>do</strong>, experiência com a justiça como, o próprio <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r mencio<strong>na</strong> no início <strong>do</strong> conto.<<strong>br</strong> />

Assim a recuperação <strong>do</strong> referente se dá por meio das informações <strong>do</strong> próprio discurso.<<strong>br</strong> />

Meu pai, da forma como foi introduzi<strong>do</strong> o objeto-de-discurso reapareceu ao<<strong>br</strong> />

longo <strong>do</strong> <strong>texto</strong> várias vezes, com lexema idêntico, sem mudanças <strong>do</strong> determi<strong>na</strong>nte, notase<<strong>br</strong> />

com isso a intenção de escandalizar o leitor, pois toda atrocidade por que passa o<<strong>br</strong> />

<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r, era o<strong>br</strong>a de seu próprio pai.<<strong>br</strong> />

Para registrar a surra, o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r selecionou um léxico que nos guia à ferocidade<<strong>br</strong> />

da ce<strong>na</strong>. Os sintagmas nomi<strong>na</strong>is apresenta<strong>do</strong>s vão progressivamente substituin<strong>do</strong> a<<strong>br</strong> />

concepção inicial de surra, apontada pelo <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r, para se transformar em algo atroz.<<strong>br</strong> />

Com interlocução distintas pode-se separar as expressões nomi<strong>na</strong>is e o léxico utiliza<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

conforme o quadro abaixo:<<strong>br</strong> />

a fúria louca<<strong>br</strong> />

mo<strong>do</strong>s <strong>br</strong>utais<<strong>br</strong> />

as pancadas<<strong>br</strong> />

açoitan<strong>do</strong>-me<<strong>br</strong> />

vergastadas<<strong>br</strong> />

os sons duros<<strong>br</strong> />

gestos ameaça<strong>do</strong>res<<strong>br</strong> />

uma cólera <strong>do</strong>ida<<strong>br</strong> />

o olho duro<<strong>br</strong> />

fustigar<<strong>br</strong> />

a zanga terrível<<strong>br</strong> />

O suplício situações desse gênero<<strong>br</strong> />

A mortificação a horrível sensação<<strong>br</strong> />

O martírio o chicote<<strong>br</strong> />

A flagelação os golpes<<strong>br</strong> />

Minha tremura infeliz<<strong>br</strong> />

O <strong>texto</strong> é, então, muito mais <strong>do</strong> que um simples continente de informações, é um<<strong>br</strong> />

sistema de instruções para a construção conjunta <strong>do</strong> significa<strong>do</strong>, da interpretação e<<strong>br</strong> />

compreensão da mensagem e através da associação de palavras escolhidas cria a idéia<<strong>br</strong> />

GT - Processos de Construção Textual 7


geral <strong>do</strong> conto: a violência e as injustiças por que passa o pequeno perso<strong>na</strong>gem<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r.<<strong>br</strong> />

Na primeira colu<strong>na</strong> verifica-se as expressões nomi<strong>na</strong>is e o léxico escolhi<strong>do</strong>s pelo<<strong>br</strong> />

<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r para levar o leitor a construir a imagem da ce<strong>na</strong> <strong>na</strong>rrada, ver a ce<strong>na</strong> pelo prisma<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r, a opinião deste, suas crenças, e a partir dessa escolha é permiti<strong>do</strong> ao leitor<<strong>br</strong> />

conhecer os fatos como realmente se desenrolaram, sen<strong>do</strong> crucial para a interpretação da<<strong>br</strong> />

ce<strong>na</strong> descrita. Nota-se, então, que os vocábulos da primeira colu<strong>na</strong> estão liga<strong>do</strong>s ao pai,<<strong>br</strong> />

a furia deste e sua ação.<<strong>br</strong> />

Na segunda colu<strong>na</strong> verifica-se por meio das escolhas <strong>do</strong> autor, que os sintagmas<<strong>br</strong> />

utiliza<strong>do</strong>s para filmar a ce<strong>na</strong> <strong>na</strong> perspectiva <strong>do</strong> <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r/perso<strong>na</strong>gem atendem aos<<strong>br</strong> />

própositos comunicativos da <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r, escandalizar o leitor. Pois há o drama presente<<strong>br</strong> />

em cada léxico registra<strong>do</strong>, <strong>na</strong> ce<strong>na</strong> ‘visualizada’ pelo leitor, a crueldade, a ferocidade<<strong>br</strong> />

sofrida pelo perso<strong>na</strong>gem.<<strong>br</strong> />

4. Considerações fi<strong>na</strong>is<<strong>br</strong> />

Graciliano Ramos, utilizou com maestria o recurso da referenciação em seu conto: Um<<strong>br</strong> />

Cinturão. Percebe-se que os objetos-de-discurso realmente se desenvolvem para a<<strong>br</strong> />

realização de um projeto de dizer, que se constrói intencio<strong>na</strong>lmente. Como se observou,<<strong>br</strong> />

no decorrer da análise, a referência permite acrescentar informações novas ao <strong>texto</strong>,<<strong>br</strong> />

ancoran<strong>do</strong>-as em informações dadas, já conhecidas. Os referentes, toma<strong>do</strong>s como<<strong>br</strong> />

objetos de discurso, são evolutivos e os usuários da língua podem lançar mão de vários<<strong>br</strong> />

recursos para elaborar e fazer evoluir esses referentes.<<strong>br</strong> />

Quanto à polêmica abordada no <strong>texto</strong>, o ensino da língua portuguesa, muito se<<strong>br</strong> />

tem discuti<strong>do</strong> e pesquisa<strong>do</strong>. Questio<strong>na</strong>-se so<strong>br</strong>e como ensiná-la, o que enfatizar e o que<<strong>br</strong> />

não é adequa<strong>do</strong> abordar em sala de aula. Muitos estudiosos acreditam que a gramática<<strong>br</strong> />

deva ser ensi<strong>na</strong>da por meio de <strong>texto</strong>s que deveriam ser o ponto de partida para seu<<strong>br</strong> />

ensino. Muitas correntes já criticaram esse uso <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. Ainda hoje não se chegou a<<strong>br</strong> />

uma conclusão so<strong>br</strong>e qual seria a melhor maneira de ensi<strong>na</strong>r a língua portuguesa, mas<<strong>br</strong> />

to<strong>do</strong>s têm o mesmo olhar quanto ao produto fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> ensino: formar cidadãos letra<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

que saibam utilizar a língua nos vários momentos de comunicação, e instrumentalizá-los<<strong>br</strong> />

para que produzam e compreendam <strong>texto</strong>s. E a lingüística <strong>textual</strong> pode nos ser de<<strong>br</strong> />

grande valia nessa empreitada.<<strong>br</strong> />

5. Referencias e Citações<<strong>br</strong> />

APOTHÉLOZ, D. & REICHLER-BÉGUELIN M. Construction de la reference et<<strong>br</strong> />

stratégies de désig<strong>na</strong>tion., TRANEL (Travaux neuchâtelois de linguistique) 23- Du<<strong>br</strong> />

syntagame nomi<strong>na</strong>l aux objets-de-discours, 1995.<<strong>br</strong> />

CAVALCANTE, Mônica Magalhães. RODRIGUES, Ber<strong>na</strong>dete Biasi. CIULLA, Ale<strong>na</strong>.<<strong>br</strong> />

(<strong>org</strong>aniza<strong>do</strong>ras). Referenciação. São Paulo: Con<strong>texto</strong>, 2003. –(Coleção Clássica da<<strong>br</strong> />

Lingüística).<<strong>br</strong> />

GT - Processos de Construção Textual 8


CAVALCANTE, Mônica Magalhães. ( et al.) (<strong>org</strong>). Texto e discurso sob múltiplos<<strong>br</strong> />

olhares: referenciação e outros <strong>do</strong>mínios discursivos. vol.2. Rio de janeiro: Lucer<strong>na</strong>,<<strong>br</strong> />

2007.<<strong>br</strong> />

FAVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 11ª edição. São Paulo, 2006.<<strong>br</strong> />

KOCH, Inge<strong>do</strong>re Villaça. A Coesão Textual. 20. ed. – São Paulo: Con<strong>texto</strong>,2005.<<strong>br</strong> />

______. Desvendan<strong>do</strong> os segre<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>texto</strong>. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003.<<strong>br</strong> />

______. & ELIAS, Vanda Maria. Ler e Compreender os Senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Texto. 2.ed. – São<<strong>br</strong> />

Paulo: Con<strong>texto</strong>, 2006.<<strong>br</strong> />

______, Inge<strong>do</strong>re Villaça. Introdução à lingüística <strong>textual</strong>. São Paulo: Martins Fontes,<<strong>br</strong> />

2004.<<strong>br</strong> />

MARCUSCHI, Luiz Antônio & KOCH, Inge<strong>do</strong>re V. Estratégias de referenciação e<<strong>br</strong> />

Progressão referencial <strong>na</strong> língua falada. In: Gramática <strong>do</strong> Português Fala<strong>do</strong>. Vol.<<strong>br</strong> />

VIII: Novos Estu<strong>do</strong>s Descritivos. 1ª ed. Campi<strong>na</strong>s: Editora da UNICAMP /FAPESP,<<strong>br</strong> />

2002.<<strong>br</strong> />

MARCUSCHI, Luis Antonio. Fenômenos da Linguagem, reflexões semânticas e<<strong>br</strong> />

Discursivas. Rio de Janeiro: Lucer<strong>na</strong>, 2007.<<strong>br</strong> />

NEVES, Maria Hele<strong>na</strong> de Moura. Texto e gramática.São Paulo: Con<strong>texto</strong>, 2006.<<strong>br</strong> />

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