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Hibridismo e mediação cultural no Brasil: os três tempos midiáticos em

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são brasileir<strong>os</strong>. E um mundo imaginário totalmente homogêneo, <strong>no</strong> qual todas as<br />

pessoas partilhass<strong>em</strong> a mesma identidade, as afirmações de identidade não<br />

fariam sentido. (SILVA, 2000, p.74-75)<br />

Só um ambiente de trânsito intenso de informações culturais, como o que viv<strong>em</strong><strong>os</strong> hoje,<br />

poderia criar condições para o questionamento da unidade do sujeito. A despeito de sécul<strong>os</strong> de uma<br />

visão cartesiana, hoje a mulher e o hom<strong>em</strong> são vist<strong>os</strong> como seres múltipl<strong>os</strong> e descentralizad<strong>os</strong>. A<br />

identidade é uma construção que se narra. Esta é a definição de Nestor Garcia Canclini (1999,<br />

p.164).<br />

E é <strong>no</strong>s produt<strong>os</strong> culturais, que circulam por culturas tão diferentes <strong>no</strong> t<strong>em</strong>po das<br />

multinacionais, que vam<strong>os</strong> encontrar terre<strong>no</strong> fértil para pesquisa. Para Douglas Kellner (2001, p.32),<br />

não é <strong>no</strong> <strong>no</strong>ticiário que se encontram articulad<strong>os</strong> conflit<strong>os</strong>, t<strong>em</strong>ores, esperanças e sonh<strong>os</strong> de<br />

indivídu<strong>os</strong> e grup<strong>os</strong> que enfrentam um mundo incerto <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong><strong>os</strong>, mas <strong>no</strong> entretenimento e na<br />

ficção. As lutas sociais estão presentes <strong>no</strong>s text<strong>os</strong> da mídia, especialmente na mídia comercial da<br />

indústria <strong>cultural</strong>, que dev<strong>em</strong> repercutir as preocupações do povo, para ter<strong>em</strong> lucro. Portanto, este<br />

deve ser o ambiente de <strong>no</strong>sso estudo: a mídia e a maneira como ela cria, articula e atualiza<br />

identidades. A tec<strong>no</strong>logia digital explicitou a identidade como construção. Mas a televisão ainda é<br />

central neste processo.<br />

O estudo das ferramentas d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> de comunicação e as estratégias de<br />

mobilização social t<strong>em</strong> ajudado a compreender o mundo cont<strong>em</strong>porâneo. No<br />

contexto da globalização, a cultura passa a ser uma montag<strong>em</strong> multinacional,<br />

que cria p<strong>os</strong>ições de sujeito adequadas à ef<strong>em</strong>eridade do momento presente. A<br />

televisão ainda pode ser considerada o centro de irradiação <strong>em</strong> tor<strong>no</strong> do qual<br />

milhares de pessoas se p<strong>os</strong>icionam a fim de obter<strong>em</strong> referencial para formação e<br />

adequação de identidades. (KELLNER, 2001, p.32)<br />

Por isso é importante <strong>no</strong>s aterm<strong>os</strong> ao estudo desta mídia. No <strong>Brasil</strong>, a televisão t<strong>em</strong> papel<br />

central na formação da identidade nacional. É neste contexto que encontram<strong>os</strong> um objeto de<br />

estudo: a minissérie “O Auto da Compadecida” e o trabalho do diretor Guel Arraes. Nascido <strong>no</strong><br />

Nordeste, ele viveu exilado com a família na Argélia, durante o período militar, estudou e trabalhou<br />

na Europa e fez carreira <strong>no</strong> eixo Rio-São Paulo. No “Auto”, transmitida pela Rede Globo <strong>em</strong> 1999, o<br />

diretor faz uma adaptação o texto do dramaturgo Aria<strong>no</strong> Suassuna.<br />

Segundo McLuhan (2002), o conteúdo de um <strong>no</strong>vo meio de comunicação carrega <strong>em</strong> si <strong>os</strong><br />

t<strong>em</strong>as prop<strong>os</strong>t<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> anteriores. Se foi <strong>no</strong> teatro que <strong>os</strong> pioneir<strong>os</strong> do cin<strong>em</strong>a encontraram o<br />

substrato para <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> pass<strong>os</strong> da <strong>no</strong>va arte, a televisão toma de <strong>em</strong>préstimo a gramática<br />

audiovisual do cin<strong>em</strong>a como forma de oferecer a<strong>os</strong> espectadores ac<strong>os</strong>tumad<strong>os</strong> ao espetáculo das<br />

grandes salas escuras.<br />

Entender o processo de heg<strong>em</strong>onia da televisão como linguag<strong>em</strong> audiovisual <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

passa pelo resgate do caminho traçado pelo teatro rumo à televisão, passando pelo cin<strong>em</strong>a. Através<br />

da análise do texto “O auto da Compadecida” e suas adaptações pretend<strong>em</strong><strong>os</strong> entrever na narrativa<br />

<strong>os</strong> indíci<strong>os</strong> das mediações sociais que definiram a heg<strong>em</strong>onia da televisão como linguag<strong>em</strong><br />

audiovisual <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Ao comparar a versão televisiva de “O Auto da Compadecida”, de Guel Arraes, a um<br />

palimpsesto, quer<strong>em</strong><strong>os</strong> enxergar além do substrato da cultura explícito <strong>no</strong>s diálog<strong>os</strong>, <strong>no</strong> figuri<strong>no</strong> e<br />

nas opções estéticas do diretor, mas como um produto de meio que funcionaria como mediadora na<br />

negociação de sentid<strong>os</strong>, segundo Aluízio Trinta.<br />

Chama-se mediação a uma <strong>no</strong>va modalidade de intervenção que, <strong>em</strong> referência<br />

a duas partes, estabelece entre elas uma relação de proximidade e de

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