Hibridismo e mediação cultural no Brasil: os três tempos midiáticos em
Hibridismo e mediação cultural no Brasil: os três tempos midiáticos em
Hibridismo e mediação cultural no Brasil: os três tempos midiáticos em
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
5<br />
uma colag<strong>em</strong> de traç<strong>os</strong> que qualquer cidadão, de qualquer país, religião e<br />
ideologia pod<strong>em</strong> ler e utilizar. (Canclini, 1999, p. 41)<br />
O processo descrito com globalização, para Nestor Garcia Canclini, está ligado à passag<strong>em</strong><br />
de identidades modernas, territoriais e mo<strong>no</strong>linguísticas, para identidades pós-modernas, que<br />
seriam transterritoriais e multilinguísticas. (1999, p.59). Por isso, as identidades fixadas <strong>em</strong><br />
repertóri<strong>os</strong> de bens exclusiv<strong>os</strong> de uma comunidade étnica ou nacional tornam-se instáveis,<br />
buscando, a partir de então, referencial <strong>no</strong> consumo de bens. Esta probl<strong>em</strong>ática da identidade nas<br />
sociedades capitalistas cont<strong>em</strong>porâneas indica uma crise do sujeito cartesia<strong>no</strong>, desenhado como<br />
ser autô<strong>no</strong>mo, com uma identidade fixa e baseada <strong>em</strong> uma essência inata, um eu substancial e<br />
imutável.<br />
A <strong>no</strong>ção de identidade unificada, s<strong>em</strong> conflit<strong>os</strong>, já v<strong>em</strong> sofrendo abal<strong>os</strong> desde <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong><br />
t<strong>em</strong>p<strong>os</strong> da Modernidade. A expansão de p<strong>os</strong>sibilidades de escolha (de profissão, de lugar para se<br />
morar, e até de pretendente para se casar) trouxe um distanciamento da tradição, uma consciência<br />
da identidade como construção, <strong>em</strong> um projeto existencial individualista, ligado ao “eu”. Mas ainda<br />
havia um limite para estas escolhas, definido pelas instituições pedagógicas e de repressão<br />
(KELLNER, 2001, p.296). Mas isso muda na cont<strong>em</strong>poraneidade, chamada por alguns de pósmodernidade,<br />
quando muit<strong>os</strong> estudi<strong>os</strong><strong>os</strong> declaram a morte do sujeito. Atuando <strong>no</strong> âmbito individual,<br />
a identidade deixa de ser tarefa coletiva e passa a ser então um mito, uma ilusão, que pode ser<br />
mudada, transformada e abandonada continuamente, conforme Stuart Hall.<br />
Utilizo o termo ‘identidade’ para significar o ponto de encontro, o ponto de sutura,<br />
entre, por um lado, <strong>os</strong> discurs<strong>os</strong> e as práticas que tentam <strong>no</strong>s ‘interperlar’, <strong>no</strong>s<br />
falar ou <strong>no</strong>s convocar para que assumam<strong>os</strong> <strong>no</strong>ss<strong>os</strong> lugares como <strong>os</strong> sujeit<strong>os</strong><br />
sociais de discurs<strong>os</strong> particulares e, por outro lado, <strong>os</strong> process<strong>os</strong> que produz<strong>em</strong><br />
subjetividades, que <strong>no</strong>s constro<strong>em</strong> como sujeit<strong>os</strong> a<strong>os</strong> quais se pode ‘falar’. As<br />
identidades são, pois, pont<strong>os</strong> de apeg<strong>os</strong> t<strong>em</strong>porári<strong>os</strong> às p<strong>os</strong>ições-de-sujeito que<br />
as práticas discursivas constro<strong>em</strong> para nós. Elas são o resultado de uma b<strong>em</strong><br />
sucedida articulação ou ‘fixação’ do sujeito ao fluxo do discurso [...] Isto é, as<br />
identidades são as p<strong>os</strong>ições que sujeito é obrigado a assumir, de apego, <strong>em</strong>bora<br />
‘sabendo’, s<strong>em</strong>pre, que elas são representações (HALL, 2000, p. 111-112).<br />
Mas se <strong>os</strong> pilares que ancoravam as identidades ruíram, num processo de mudança de<br />
paradigmas, onde <strong>os</strong> sujeit<strong>os</strong> buscam repertório a partir de agora? Segundo Douglas Kellner (2000,<br />
p.333), nas imagens exibidas pela mídia como model<strong>os</strong> de comportamento. Se houve o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />
que as identidades estavam ligadas à compromiss<strong>os</strong>, escolhas morais, políticas e existenciais, hoje<br />
<strong>em</strong> dia, elas são o que se aparenta, a imag<strong>em</strong>, o estilo. Para designar a fonte que fornece material e<br />
recurs<strong>os</strong> para a constituição das identidades, ele cria o conceito “cultura da mídia”.<br />
A expressão ‘cultura da mídia’ t<strong>em</strong> a vantag<strong>em</strong> de designar tanto a natureza<br />
quanto a forma das produções da indústria <strong>cultural</strong> (ou seja, a cultura) e seu<br />
modo de produção e distribuição (ou seja, tec<strong>no</strong>logias e indústrias da mídia).<br />
Com isso, evitam-se term<strong>os</strong> ideológic<strong>os</strong> como ‘cultura de massa’ e ‘cultura<br />
popular’ e se chama a atenção para o circuito de produção, distribuição e<br />
recepção por meio do qual a cultura da mídia é produzida, distribuída e<br />
consumida. (KELLNER, 2001, p. 52)<br />
Com o advento da cultura da mídia, <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> receb<strong>em</strong> uma quantidade s<strong>em</strong><br />
precedentes de imagens e sons dentro da sua própria casa, o que reordena as percepções de<br />
espaço e t<strong>em</strong>po, e produz <strong>no</strong>v<strong>os</strong> mod<strong>os</strong> de experiência e subjetividade. Para Kellner, <strong>em</strong>bora as