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Artigo<<strong>br</strong> />
A POLUIÇÃO VISUAL:<<strong>br</strong> />
FORMAS DE ENFRENTAMENTO<<strong>br</strong> />
PELAS CIDADES<<strong>br</strong> />
Ivan Carneiro Castanheiro 1<<strong>br</strong> />
RESUMO: A poluição <strong>visual</strong> gera <strong>de</strong>sarmonia<<strong>br</strong> />
ou <strong>de</strong>sequilí<strong>br</strong>io no meio ambiente artificial<<strong>br</strong> />
(cida<strong>de</strong> e paisagem urbana), prejudicando o bemestar<<strong>br</strong> />
da população, comprometendo a saú<strong>de</strong> das<<strong>br</strong> />
pessoas, através <strong>de</strong> efeitos psicológicos difíceis<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> serem diagnosticados, enquadrando-se no<<strong>br</strong> />
conceito jurídico <strong>de</strong> poluição (art. 3º, III, da Lei<<strong>br</strong> />
n. 6.938/81). São fontes <strong>de</strong> poluição <strong>visual</strong>: torres<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Estação Rádio-Bases (ERBs) e anúncios<<strong>br</strong> />
publicitários luminosos, veiculados por meio<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> outdoor, totem, backlight, frontlight, painel<<strong>br</strong> />
digital ou eletrônico, triedro etc....<<strong>br</strong> />
Palavras-chave: Poluição <strong>visual</strong>. Estética urbana.<<strong>br</strong> />
Paisagem. Bem-estar. ERBs. Anúncios<<strong>br</strong> />
publicitários.<<strong>br</strong> />
ABSTRACT: the <strong>visual</strong> pollution generates<<strong>br</strong> />
disharmony or disequili<strong>br</strong>ium in the artificial<<strong>br</strong> />
environment (city and urban landscape), harming<<strong>br</strong> />
well-being of the population, compromising<<strong>br</strong> />
the health of the people, through psychological<<strong>br</strong> />
effects difficult to be diagnosed, fitting in the<<strong>br</strong> />
legal concept of pollution (article 3º, III, of<<strong>br</strong> />
law n. 6,938/81). Sources of <strong>visual</strong> pollution<<strong>br</strong> />
are: towers of Radio-Base Stations (RBSs) and<<strong>br</strong> />
luminous advertising propagated by billboard,<<strong>br</strong> />
totem, backlight, frontlight, digital or electronic<<strong>br</strong> />
panel, trihedron etc….<<strong>br</strong> />
Keywords: Visual pollution. Urban aesthetic.<<strong>br</strong> />
Landscape. Well-being. RBS. Advertising.<<strong>br</strong> />
1<<strong>br</strong> />
O Autor é 2º Promotor <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> Americana, Mestre em Direito Difusos e Coletivos pela PUC/SP e Coor<strong>de</strong>nador da Área <strong>de</strong> Habitação e Urbanismo,<<strong>br</strong> />
do C.A.O. Cível e <strong>de</strong> Tutela Coletiva, do Ministério Público do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<<strong>br</strong> />
Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009<<strong>br</strong> />
63
CASTANHEIRO, I. C.<<strong>br</strong> />
Introdução<<strong>br</strong> />
O culto ao belo é automático na natureza<<strong>br</strong> />
humana, a qual valoriza a harmonia das <strong>formas</strong><<strong>br</strong> />
e da cor dos objetos, bem como suas qualida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
plásticas e <strong>de</strong>corativas. A função estética das<<strong>br</strong> />
paisagens urbanas tem por finalida<strong>de</strong> criar a<<strong>br</strong> />
sensação <strong>visual</strong>mente agradável às pessoas 2 .<<strong>br</strong> />
Qualquer intervenção urbana na paisagem das<<strong>br</strong> />
cida<strong>de</strong>s há <strong>de</strong> ser autorizada pela Administração<<strong>br</strong> />
e estar prevista em lei.<<strong>br</strong> />
A paisagem <strong>de</strong>sempenha importante papel<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> interesse público nas áreas social, cultural<<strong>br</strong> />
e ambiental (interesse econômico em trabalho<<strong>br</strong> />
criativo). Contribui para formação cultural local,<<strong>br</strong> />
bem como para o bem-estar da população. 3 O<<strong>br</strong> />
bem-estar das pessoas guarda relação direta com<<strong>br</strong> />
sua saú<strong>de</strong>, modo <strong>de</strong> vida e as circunstâncias do<<strong>br</strong> />
meio em que vive.<<strong>br</strong> />
Quando se fala em poluição pensa-se em<<strong>br</strong> />
fá<strong>br</strong>icas que jogam resíduos tóxicos nos rios, pulverização<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> agrotóxicos nas plantações, fumaça<<strong>br</strong> />
produzida por veículos e indústrias, <strong>de</strong>gradando<<strong>br</strong> />
a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas e <strong>de</strong> animais,<<strong>br</strong> />
quando não as extirpando. Entretanto, essas não<<strong>br</strong> />
são as únicas <strong>formas</strong> <strong>de</strong> poluição e consequências<<strong>br</strong> />
danosas à vida. Há problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> físicos<<strong>br</strong> />
e psicológicos provocados por poluição sonora<<strong>br</strong> />
e poluição <strong>visual</strong>.<<strong>br</strong> />
Poluição <strong>visual</strong> é a <strong>de</strong>sarmonia ou <strong>de</strong>gradação<<strong>br</strong> />
<strong>visual</strong> geradora <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilí<strong>br</strong>io do meio<<strong>br</strong> />
ambiente artificial (cida<strong>de</strong> e paisagem urbana). 4<<strong>br</strong> />
Este tipo <strong>de</strong> poluição é causada pelo próprio homem,<<strong>br</strong> />
o qual insere no meio ambiente elementos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada.<<strong>br</strong> />
As leis fe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais<<strong>br</strong> />
que se dispõem a controlar os meios <strong>de</strong> poluição<<strong>br</strong> />
não acompanham o crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado<<strong>br</strong> />
das cida<strong>de</strong>s. As legislações, ainda que com seus<<strong>br</strong> />
conhecidos <strong>de</strong>feitos, acabam sendo, em geral,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>scumpridas por falta <strong>de</strong> infraestrutura fiscalizatória<<strong>br</strong> />
suficiente. Nesse contexto, não há um<<strong>br</strong> />
controle efetivo so<strong>br</strong>e publicida<strong>de</strong>s irregulares.<<strong>br</strong> />
A Poluição <strong>visual</strong> é um problema sério.<<strong>br</strong> />
Entretanto, ela acaba sendo muitas vezes relegada<<strong>br</strong> />
a segundo plano, pois seus efeitos são mais<<strong>br</strong> />
psicológicos do que materiais, razão <strong>de</strong> haver<<strong>br</strong> />
dificulda<strong>de</strong>s em seu diagnóstico e comprovação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>terioração da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vida das pessoas.<<strong>br</strong> />
Nosso objetivo é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que a poluição<<strong>br</strong> />
<strong>visual</strong> enquadra-se no conceito jurídico <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
poluição previsto na Lei 6.938/81 (Lei da Política<<strong>br</strong> />
Nacional do Meio Ambiente), não se tratando <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mera <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estética, mas também<<strong>br</strong> />
esten<strong>de</strong>ndo seus <strong>de</strong>letérios efeitos na saú<strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />
na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos moradores da zona<<strong>br</strong> />
urbana, merecendo ser seriamente combatida, a<<strong>br</strong> />
exemplo das <strong>de</strong>mais <strong>formas</strong> <strong>de</strong> poluição. É nesse<<strong>br</strong> />
contexto, que o presente trabalho busca, <strong>de</strong>spretensiosamente,<<strong>br</strong> />
fazer uma análise conjuntural da<<strong>br</strong> />
poluição <strong>visual</strong> e oferecer sugestões objetivas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong>.<<strong>br</strong> />
Conceito legal e doutrinário <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
poluição <strong>visual</strong><<strong>br</strong> />
O meio ambiente equili<strong>br</strong>ado é um direito<<strong>br</strong> />
assegurado a todos pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral<<strong>br</strong> />
(artigo 225) e um bem fundamental das gerações<<strong>br</strong> />
atuais e futuras. Os habitantes e visitantes<<strong>br</strong> />
das cida<strong>de</strong>s são os titulares do direito difuso a<<strong>br</strong> />
um meio ambiente ecologicamente equili<strong>br</strong>ado<<strong>br</strong> />
(harmonia da paisagem urbana).<<strong>br</strong> />
Estão entre os principais objetivos do direito<<strong>br</strong> />
ambiental a proteção da saú<strong>de</strong> e da qualida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> vida. Segundo a Organização Mundial <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Saú<strong>de</strong>, esta é um “completo bem estar físico,<<strong>br</strong> />
mental e social e não apenas a ausência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
doenças ou agravos”<<strong>br</strong> />
A Lei Fe<strong>de</strong>ral 8.080/90 (“Lei Orgânica da<<strong>br</strong> />
Saú<strong>de</strong>”), em seu artigo 2º, estabelece que a saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
é um direito fundamental do ser humano. O Art.<<strong>br</strong> />
2<<strong>br</strong> />
MINAMI, Issao; GUIMARÃES, João Lopes Júnior. A importância da Paisagem. Disponível em <<<strong>br</strong> />
http://www.vitruvius.com.<strong>br</strong>/arquitextos/arq000/bases/texto094.asp>. Acesso em: 09 mai 2003.<<strong>br</strong> />
3<<strong>br</strong> />
Convenção Européia <strong>de</strong> Paisagem. Elaborada pelo Conselho Europeu, em 13/03/2000. In: MINAMI, Issao; GUIMARÃES, João Lopes Júnior. A<<strong>br</strong> />
importância da Paisagem. Disponível em < http://www.vitruvius.com.<strong>br</strong>/arquitextos/arq000/bases/texto094.asp>. Acesso em: 09 mai. 2003<<strong>br</strong> />
4<<strong>br</strong> />
ANTACLI, Bianca M. Bilton Signorini. Aspectos jurídicos da poluição <strong>visual</strong>. Dissertação (Mestrado em Direito Difusos e Coletivos). Pontifícia<<strong>br</strong> />
Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, 2.004, fl. 7.<<strong>br</strong> />
64 Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009
A POLUIÇÃO VISUAL: FORMAS DE ENFRENTAMENTO PELAS CIDADES<<strong>br</strong> />
3º prevê que a saú<strong>de</strong> tem como fatores <strong>de</strong>terminantes,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ntre outros, a alimentação, a moradia, o<<strong>br</strong> />
saneamento básico, o trabalho, o meio ambiente,<<strong>br</strong> />
dizendo respeito à saú<strong>de</strong> as ações que visem<<strong>br</strong> />
“garantir às pessoas e à coletivida<strong>de</strong> condições<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> bem-estar físico, mental e social”.<<strong>br</strong> />
A paisagem po<strong>de</strong> ser tida, em <strong>de</strong>terminados<<strong>br</strong> />
casos, como integrante do patrimônio cultural<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileiro, conforme previsto no artigo 216,<<strong>br</strong> />
inciso V, da Carta Magna. Para Álvaro Luiz<<strong>br</strong> />
Valery Mirra “O que se procura preservar em<<strong>br</strong> />
uma paisagem, normalmente, é acima <strong>de</strong> tudo<<strong>br</strong> />
a harmonia entre os diversos elementos que a<<strong>br</strong> />
compõem e não propriamente cada um <strong>de</strong>sses<<strong>br</strong> />
elementos individualmente consi<strong>de</strong>rados” 5 .<<strong>br</strong> />
Quando se fala em paisagem urbana referese<<strong>br</strong> />
não somente a conjuntos urbanos e sítios <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
valor histórico, paisagístico, arqueológico, já<<strong>br</strong> />
protegidos pelo art. 216 da CF, como patrimônio<<strong>br</strong> />
cultural <strong>br</strong>asileiro, mas se quer a<strong>br</strong>anger qualquer<<strong>br</strong> />
porção da cida<strong>de</strong> por mais comum e simples que<<strong>br</strong> />
seja, a qual também compõe o meio ambiente<<strong>br</strong> />
artificial 6 ou construído, como normalmente é<<strong>br</strong> />
referido o meio ambiente urbano.<<strong>br</strong> />
O artigo 3º da Lei nº. 6.938/81 preceitua<<strong>br</strong> />
que para os fins previstos naquela legislação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ve-se enten<strong>de</strong>r por:<<strong>br</strong> />
“I - meio ambiente, o conjunto <strong>de</strong> condições,<<strong>br</strong> />
leis, influências e interações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />
física, química e biológica, que permite,<<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>iga e rege a vida em todas as suas<<strong>br</strong> />
<strong>formas</strong>;<<strong>br</strong> />
II - <strong>de</strong>gradação da qualida<strong>de</strong> ambiental, a<<strong>br</strong> />
alteração adversa das características do<<strong>br</strong> />
meio ambiente;<<strong>br</strong> />
III - poluição, a <strong>de</strong>gradação da qualida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ambiental resultante <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que<<strong>br</strong> />
direta ou indiretamente:<<strong>br</strong> />
a) prejudiquem a saú<strong>de</strong>, a segurança e o<<strong>br</strong> />
bem-estar da população;<<strong>br</strong> />
b) afetem as condições estéticas ou sanitárias<<strong>br</strong> />
do meio ambiente;<<strong>br</strong> />
c) lancem matérias ou energia em <strong>de</strong>sacordo<<strong>br</strong> />
com os padrões ambientais estabelecidos;”<<strong>br</strong> />
(grifos nossos)<<strong>br</strong> />
A paisagem urbana é conceituada por José<<strong>br</strong> />
Afonso da Silva como sendo “a roupagem com<<strong>br</strong> />
que as cida<strong>de</strong>s se apresentam a seus habitantes<<strong>br</strong> />
e visitantes”. Dentre as suas funções, está a <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
equili<strong>br</strong>ar a carga neurótica que a vida urbana<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>speja so<strong>br</strong>e as pessoas que nela vivem, convivem<<strong>br</strong> />
e so<strong>br</strong>evivem. 7<<strong>br</strong> />
Para Issao Minami e João Lopes Guimarães<<strong>br</strong> />
Júnior, a poluição <strong>visual</strong> é resultado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconformida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
e efeito da <strong>de</strong>terioração dos espaços<<strong>br</strong> />
da cida<strong>de</strong> pelo acúmulo exagerado <strong>de</strong> anúncios<<strong>br</strong> />
publicitários em <strong>de</strong>terminados locais ou quando<<strong>br</strong> />
o campo <strong>visual</strong> do cidadão se encontra <strong>de</strong> tal<<strong>br</strong> />
maneira que a sua percepção dos espaços da<<strong>br</strong> />
cida<strong>de</strong> é impedida ou dificultada. 8<<strong>br</strong> />
Ocorre a poluição <strong>visual</strong> a partir do momento<<strong>br</strong> />
em que o meio não consegue mais digerir<<strong>br</strong> />
os elementos causadores das transformações em<<strong>br</strong> />
curso, dissipando as características naturais originais.<<strong>br</strong> />
“No caso, o meio é a visão, os elementos<<strong>br</strong> />
causadores são as imagens, e as características<<strong>br</strong> />
iniciais, seriam a capacida<strong>de</strong> do meio <strong>de</strong> transmitir<<strong>br</strong> />
mensagens”. 9<<strong>br</strong> />
A <strong>de</strong>gradação ambiental ocorrida com a poluição<<strong>br</strong> />
<strong>visual</strong> “é fruto da violação estética <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />
padrão paisagístico médio a ser aferido em cada<<strong>br</strong> />
caso, seja afetando uma paisagem naturalmente<<strong>br</strong> />
bela, ou portadora <strong>de</strong> outro predicado relevante,<<strong>br</strong> />
ou alterando uma paisagem urbana <strong>de</strong> maneira<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sarmônica e agressiva” 10<<strong>br</strong> />
Ainda vale menção a Convenção Européia<<strong>br</strong> />
da Paisagem (European Landscape Convention),<<strong>br</strong> />
a qual entrou em vigor no dia 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
2.004. Foi o primeiro tratado internacional direcionado,<<strong>br</strong> />
unicamente, para a proteção, conserva-<<strong>br</strong> />
5<<strong>br</strong> />
A Ação Civil Pública e a reparação do dano ao meio ambiente, São Paulo: Ed. Juarez <strong>de</strong> Oliveira, p. 31-32, 2002.<<strong>br</strong> />
6<<strong>br</strong> />
ANTACLI, Bianca M. Bilton Signorini, op. cit., fl. 49.<<strong>br</strong> />
7<<strong>br</strong> />
Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo, Malheiros, 1997, p. 273-274.<<strong>br</strong> />
8<<strong>br</strong> />
A importância da Paisagem. Disponível em . Acesso em: 09 mai. 2003<<strong>br</strong> />
9<<strong>br</strong> />
VARGAS, Heliana Comim; MENDES, Camila Faccioni. Poluição <strong>visual</strong> e paisagem urbana: quem lucra com o caos? Disponível em: Ca<strong>de</strong>rno eleições 2000.Acesso 19 out. 2002.<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
MONTEIRO, Manoel Sérgio da Rocha. Paisagem e Poluição Visual. Disponível em http://www.mp.sp.gov.<strong>br</strong>/caouma/caouma.htm. Acesso em:<<strong>br</strong> />
08 a<strong>br</strong>. 2003<<strong>br</strong> />
Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009<<strong>br</strong> />
65
CASTANHEIRO, I. C.<<strong>br</strong> />
ção, gerenciamento e valorização das paisagens.<<strong>br</strong> />
O âmbito <strong>de</strong> sua aplicação é todo o território dos<<strong>br</strong> />
Estados mem<strong>br</strong>os, a<strong>br</strong>angendo espaços naturais,<<strong>br</strong> />
urbanos, terrestres, aquáticos e marítimos. Tal<<strong>br</strong> />
Convenção <strong>de</strong>monstra a preocupação das nações<<strong>br</strong> />
européias não só com as paisagens excepcionais<<strong>br</strong> />
mas com as paisagens da vida cotidiana e<<strong>br</strong> />
também paisagens <strong>de</strong>gradadas. É um exemplo<<strong>br</strong> />
por reconhecer a importância da paisagem na<<strong>br</strong> />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos homens. 11<<strong>br</strong> />
Na convenção estão previstas as seguintes<<strong>br</strong> />
bases ou conceituações 12 :<<strong>br</strong> />
a) Reconhecimento jurídico da paisagem<<strong>br</strong> />
como um componente essencial do ambiente<<strong>br</strong> />
humano, expressão <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
do seu patrimônio comum, cultural e<<strong>br</strong> />
natural e base sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>;<<strong>br</strong> />
b) Estabelecimento <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> proteção,<<strong>br</strong> />
gestão e or<strong>de</strong>namento da paisagem através<<strong>br</strong> />
da adoção <strong>de</strong> medidas específicas;<<strong>br</strong> />
c) <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> poluição como sendo: “[...]<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>gradação ofensiva à <strong>visual</strong>ida<strong>de</strong> resultante<<strong>br</strong> />
ou <strong>de</strong> acúmulo <strong>de</strong> instalações ou<<strong>br</strong> />
equipamento técnico (torres, cartazes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
propaganda, anúncios ou qualquer outro<<strong>br</strong> />
material publicitário) ou da presença <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
plantação <strong>de</strong> árvores, zona florestal ou<<strong>br</strong> />
projetos construtivos ina<strong>de</strong>quados ou mal<<strong>br</strong> />
localizados.”<<strong>br</strong> />
A expressão sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida,<<strong>br</strong> />
segundo Liliana Allodi Rossit, engloba duplo<<strong>br</strong> />
aspecto da tutela ambiental: a qualida<strong>de</strong> do<<strong>br</strong> />
meio ambiente (aspecto imediato) e outro que é<<strong>br</strong> />
a saú<strong>de</strong>, o bem-estar e a segurança da população<<strong>br</strong> />
(aspecto mediato), que se vêm sintetizando na<<strong>br</strong> />
expressão qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. 13<<strong>br</strong> />
Principais fontes <strong>de</strong> poluição <strong>visual</strong><<strong>br</strong> />
Po<strong>de</strong>m ser citadas como fontes <strong>de</strong> poluição<<strong>br</strong> />
<strong>visual</strong> as mídias conhecidas como outdoor, totem,<<strong>br</strong> />
backligh, frontlight, painel digital ou eletrônico,<<strong>br</strong> />
o triedro, fachadas muros e cartazes.<<strong>br</strong> />
Como explica Bianca M. Bilton Signorini<<strong>br</strong> />
Antacli 14 :<<strong>br</strong> />
“No Brasil a palavra outdoor é mais<<strong>br</strong> />
comumente conhecida pelo anúncio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
gran<strong>de</strong>s dimensões, constituído <strong>de</strong> painel<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> 9 (nove) metros <strong>de</strong> comprimento<<strong>br</strong> />
por 3 (três) <strong>de</strong> altura no qual são afixados,<<strong>br</strong> />
através <strong>de</strong> material especial, 16, 32<<strong>br</strong> />
ou 64 folhas (4,40 x 2,90 m; 8,80 x 2,90<<strong>br</strong> />
m; 8,80 x 5,80m) que juntas formam a<<strong>br</strong> />
mensagem.<<strong>br</strong> />
...<<strong>br</strong> />
O totem é uma estrutura que sustenta o<<strong>br</strong> />
logotipo do estabelecimento industrial<<strong>br</strong> />
e geralmente possui iluminação interna<<strong>br</strong> />
ou externa.<<strong>br</strong> />
O backlight é um tipo <strong>de</strong> painel luminoso<<strong>br</strong> />
constituído por uma caixa <strong>de</strong> chapa<<strong>br</strong> />
galvanizada, com lona translúcida na<<strong>br</strong> />
parte frontal, pintada do lado avesso.<<strong>br</strong> />
Confun<strong>de</strong>-se durante o dia com os outdoors<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> papel, mas à noite, ligado automaticamente<<strong>br</strong> />
por uma célula fotelétrica<<strong>br</strong> />
que se acen<strong>de</strong> ao escurecer e iluminado<<strong>br</strong> />
por lâmpadas que produzem a sensação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> relevo, parece um gigantesco sli<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
projetado no espaço.<<strong>br</strong> />
O frontlight é painel <strong>de</strong> dimensão variável<<strong>br</strong> />
que conta com lâmpadas que iluminam<<strong>br</strong> />
a mensagem frontalmente.<<strong>br</strong> />
O painel digital ou eletrônico é praticamente<<strong>br</strong> />
um televisor gigante que transmite<<strong>br</strong> />
seqüência <strong>de</strong> animações e comerciais<<strong>br</strong> />
controlada por computador.<<strong>br</strong> />
O triedro tem dimensão variável e como<<strong>br</strong> />
o próprio nome diz, dispõe <strong>de</strong> diversos<<strong>br</strong> />
11<<strong>br</strong> />
ANTACLI, Bianca M. Bilton Signorini, op. cit., fl. 64.<<strong>br</strong> />
12<<strong>br</strong> />
ibi<strong>de</strong>m, fls. 71-72.<<strong>br</strong> />
13<<strong>br</strong> />
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente <strong>de</strong> Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro, São Paulo: Ed. Ltr, 2001, p. 36, “apud” ANTACLI, Bianca<<strong>br</strong> />
M. Bilton Signorini, op. cit., fl. 35.<<strong>br</strong> />
14<<strong>br</strong> />
Aspectos jurídicos da poluição <strong>visual</strong>. Dissertação (Mestrado em Direito Difusos e Coletivos). Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo,<<strong>br</strong> />
São Paulo, 2.004, fl. 201-202.<<strong>br</strong> />
66 Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009
A POLUIÇÃO VISUAL: FORMAS DE ENFRENTAMENTO PELAS CIDADES<<strong>br</strong> />
triedros em linha. Eles giram ao mesmo<<strong>br</strong> />
tempo, permitindo a <strong>visual</strong>ização <strong>de</strong> três<<strong>br</strong> />
mensagens em seqüência.<<strong>br</strong> />
Além <strong>de</strong>ssas fontes mencionadas, Ignez<<strong>br</strong> />
Conceição Ninni Ramos 15 <strong>de</strong>screve outras fontes<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> poluição, tais como: folhetos, folhetins<<strong>br</strong> />
e fol<strong>de</strong>rs distribuídos por empresas nos faróis;<<strong>br</strong> />
muros eternizados com anúncios <strong>de</strong> shows e<<strong>br</strong> />
eventos so<strong>br</strong>epostos (apostos em viadutos, pilastras<<strong>br</strong> />
e postes); bancas <strong>de</strong> jornal abarrotadas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
publicida<strong>de</strong>; barracas dos camelôs (exibição <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
faixas e cartazes dos produtos à venda); os “puxadinhos”,<<strong>br</strong> />
que já se incorporaram à paisagem<<strong>br</strong> />
das quadras comerciais (bares, restaurantes e<<strong>br</strong> />
boates), tomando calçadas e áreas ver<strong>de</strong>s. Também<<strong>br</strong> />
se refere aos veículos e engarrafamentos nas<<strong>br</strong> />
ruas e avenidas da cida<strong>de</strong> como manifestação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
poluição <strong>visual</strong>. So<strong>br</strong>e o assunto, com maestria,<<strong>br</strong> />
leciona a ilustre autora:<<strong>br</strong> />
“Há cerca <strong>de</strong> 10 milhões <strong>de</strong> anúncios<<strong>br</strong> />
espalhados <strong>pelas</strong> ruas <strong>de</strong> São Paulo,<<strong>br</strong> />
dos quais, estima-se, somente 100.000<<strong>br</strong> />
sejam cadastrados e 55.000 licenciados.<<strong>br</strong> />
A pé ou <strong>de</strong> carro, é impossível fugir do<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sconforto <strong>visual</strong> que toma <strong>de</strong> assalto<<strong>br</strong> />
os que transitam na maior cida<strong>de</strong> da<<strong>br</strong> />
América do Sul. O suce<strong>de</strong>r <strong>de</strong> placas,<<strong>br</strong> />
painéis, cartazes, cavaletes, faixas, banners,<<strong>br</strong> />
infláveis, balões, totens, outdoors,<<strong>br</strong> />
backlights, frontlights, painéis eletrônicos<<strong>br</strong> />
e painéis televisivos <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>finição,<<strong>br</strong> />
além <strong>de</strong> causar agressões visuais<<strong>br</strong> />
e físicas aos “espectadores”, retiram a<<strong>br</strong> />
possibilida<strong>de</strong> dos referenciais arquitetônicos<<strong>br</strong> />
da paisagem urbana, transgri<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />
regras básicas <strong>de</strong> segurança, aniquilam<<strong>br</strong> />
as feições dos prédios, obstruindo aberturas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> insolação e ventilação, <strong>de</strong>ixam<<strong>br</strong> />
a população sem referencial <strong>de</strong> espaço,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> estética, <strong>de</strong> paisagem e <strong>de</strong> harmonia,<<strong>br</strong> />
dificultando a absorção das informações<<strong>br</strong> />
úteis e necessárias para o <strong>de</strong>slocamento.<<strong>br</strong> />
... Mas talvez a consequência mais funesta<<strong>br</strong> />
da poluição <strong>visual</strong> em São Paulo<<strong>br</strong> />
seja a <strong>de</strong>scaracterização do conjunto<<strong>br</strong> />
arquitetônico, especialmente observada<<strong>br</strong> />
no centro e nos bairros mais antigos da<<strong>br</strong> />
cida<strong>de</strong>.”<<strong>br</strong> />
Ainda merece menção, como fonte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
poluição <strong>visual</strong>, as <strong>de</strong>nominadas Estações<<strong>br</strong> />
Rádio-Base (ERB´s), que <strong>de</strong>vido à proliferação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, fruto do aumento no número <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
linhas em <strong>de</strong>corrência da expansão do sistema<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> telefonia móvel, acabam sendo <strong>de</strong>staques<<strong>br</strong> />
negativos na paisagem urbana. A solução seria<<strong>br</strong> />
o compartilhamento <strong>de</strong> suas estruturas <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
torre, que a<strong>br</strong>igaria antenas <strong>de</strong> diversas operadoras<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> telefonia celular, bem como a <strong>de</strong>nominada<<strong>br</strong> />
mimetização (camuflagem) das estruturas e<<strong>br</strong> />
antenas das ERB´s.<<strong>br</strong> />
Poluição <strong>visual</strong>: a<strong>br</strong>angência,<<strong>br</strong> />
gradativida<strong>de</strong>, características,<<strong>br</strong> />
causas e consequências<<strong>br</strong> />
A poluição <strong>visual</strong> atinge espaços habitados<<strong>br</strong> />
pelo homem, sendo por este produzida. Atinge<<strong>br</strong> />
tanto a zona rural como a urbana. Nas áreas<<strong>br</strong> />
urbanas, em geral, esse tipo <strong>de</strong> poluição acaba<<strong>br</strong> />
por comprometer a função social das cida<strong>de</strong>s,<<strong>br</strong> />
prevista no artigo 182 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral,<<strong>br</strong> />
bem como o bem-estar da população.<<strong>br</strong> />
Nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> o mercado<<strong>br</strong> />
consumidor é maior, mais competitivo e dinâmico,<<strong>br</strong> />
existe uma concentração <strong>de</strong> anúncios em<<strong>br</strong> />
algumas áreas da cida<strong>de</strong>, com loteamento do<<strong>br</strong> />
espaço público pelo próprio Po<strong>de</strong>r Público para<<strong>br</strong> />
fins publicitários. Em geral essa publicida<strong>de</strong> é <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
baixo preço ou há ausência <strong>de</strong> co<strong>br</strong>ança pelo uso<<strong>br</strong> />
da paisagem, sem a<strong>de</strong>quada diferenciação quanto<<strong>br</strong> />
à maior ou menor visibilida<strong>de</strong> do local on<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
anúncio publicitário está sendo veiculado.<<strong>br</strong> />
Apesar da característica da gradativida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
no comprometimento da paisagem urbana, <strong>de</strong>vido<<strong>br</strong> />
ao paulatino crescimento das cida<strong>de</strong>s e da<<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong> econômica, ela acaba por comprometer<<strong>br</strong> />
as presentes e futuras gerações, <strong>de</strong>vendo ser<<strong>br</strong> />
sempre controlada e, se necessário combatida, a<<strong>br</strong> />
fim <strong>de</strong> se evitar as consequências maléficas, ao<<strong>br</strong> />
longo <strong>de</strong>ste trabalho várias vezes mencionadas.<<strong>br</strong> />
15<<strong>br</strong> />
Poluição Visual. Disponível em: http://www.re<strong>de</strong>ambiente.<strong>org</strong>.<strong>br</strong>/Opiniao.asp?artigo=65 . Acesso 8 mai. 2002<<strong>br</strong> />
Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009<<strong>br</strong> />
67
CASTANHEIRO, I. C.<<strong>br</strong> />
A paisagem urbana harmonizada é um<<strong>br</strong> />
direito difuso, pois a manutenção <strong>de</strong> padrões<<strong>br</strong> />
estéticos no cenário urbano encerra inegável<<strong>br</strong> />
interesse difuso por se relacionar diretamente<<strong>br</strong> />
com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e com o bem-estar da<<strong>br</strong> />
população 16 , tratando-se <strong>de</strong> um valor ambiental,<<strong>br</strong> />
como ressalta Paulo Affonso Leme Machado. 17<<strong>br</strong> />
Nesse sentido, a lição <strong>de</strong> Rodolfo <strong>de</strong> Camargo<<strong>br</strong> />
Mancuso, afirmando textualmente: “não<<strong>br</strong> />
temos dúvida <strong>de</strong> que há um interesse difuso (=<<strong>br</strong> />
esparso pela socieda<strong>de</strong> como um todo) a que<<strong>br</strong> />
seja preservada a estética urbana” 18 .<<strong>br</strong> />
Dentre as causas da poluição <strong>visual</strong> po<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />
ser relacionadas 19 :<<strong>br</strong> />
a) O Po<strong>de</strong>r Público e sua eterna conivência<<strong>br</strong> />
com os interesses das gran<strong>de</strong>s corporações;<<strong>br</strong> />
b) A ausência <strong>de</strong> uma legislação a<strong>de</strong>quada;<<strong>br</strong> />
c) A ausência <strong>de</strong> fiscalização a<strong>de</strong>quada, aliado<<strong>br</strong> />
ao “<strong>de</strong>sinteresse” pelo assunto.<<strong>br</strong> />
Quanto às consequências da poluição<<strong>br</strong> />
<strong>visual</strong>, ela causa agressões visuais e físicas aos<<strong>br</strong> />
“espectadores”, <strong>de</strong>correntes da so<strong>br</strong>eposição<<strong>br</strong> />
caótica <strong>de</strong> chamarizes visuais, variando apenas<<strong>br</strong> />
as tecnologias empregadas. Existem so<strong>br</strong>epostos<<strong>br</strong> />
à fachada dos edifícios ou dos revestimentos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
alumínio letreiros luminosos que se penduram,<<strong>br</strong> />
“mo<strong>de</strong>rnos” painéis luminosos, imensas telas<<strong>br</strong> />
que <strong>de</strong>spejam imagens em movimento so<strong>br</strong>e atônitos<<strong>br</strong> />
motoristas à procura do próximo semáforo<<strong>br</strong> />
fundido entre as luzes do painel” 20 .<<strong>br</strong> />
Essas <strong>formas</strong> <strong>de</strong> poluição <strong>visual</strong> retiram<<strong>br</strong> />
a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> percepção dos referenciais<<strong>br</strong> />
arquitetônicos da paisagem urbana, com a <strong>de</strong>scaracterização<<strong>br</strong> />
do conjunto arquitetônico, especialmente<<strong>br</strong> />
observada no centro e nos bairros mais<<strong>br</strong> />
antigos da cida<strong>de</strong>. Com isso há transgressão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
regras básicas <strong>de</strong> segurança; aniquilamento das<<strong>br</strong> />
feições dos prédios; obstrução <strong>de</strong> aberturas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
insolação e ventilação; dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção<<strong>br</strong> />
das informações úteis e necessárias para o <strong>de</strong>slocamento.<<strong>br</strong> />
A publicida<strong>de</strong> caótica na paisagem<<strong>br</strong> />
torna-a indiferenciada e monótona. 21<<strong>br</strong> />
Po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidos como “Fatores <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Estresse <strong>de</strong> Poluição Visual” a concentração<<strong>br</strong> />
excessiva <strong>de</strong>: mídia exterior (placas, outdoors,<<strong>br</strong> />
letreiros, faixas, backlights, frontlights, painéis<<strong>br</strong> />
eletrônicos ou pintados); grafitagens e pichações;<<strong>br</strong> />
aglomerações permanentes <strong>de</strong> pessoas em áreas<<strong>br</strong> />
restritas da cida<strong>de</strong> (p.ex: zonas <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres,<<strong>br</strong> />
calçadões, aeroportos, estações <strong>de</strong> metro); recipientes<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> lixo expostos em lugares públicos;<<strong>br</strong> />
engarrafamentos <strong>de</strong> trânsito e vias expressas<<strong>br</strong> />
com <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> automóveis e caminhões<<strong>br</strong> />
em alta velocida<strong>de</strong>; favelas com <strong>de</strong>ficiente <strong>org</strong>anização<<strong>br</strong> />
urbana e arquitetônica; moradores<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> rua alojados em viadutos e praças públicas;<<strong>br</strong> />
postes <strong>de</strong> fiação aérea (telefonia, iluminação,<<strong>br</strong> />
TV a cabo). 22<<strong>br</strong> />
Dentre as consequências <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m administrativas<<strong>br</strong> />
ao poluidor da paisagem urbana,<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>mos mencionar as seguintes: multa, notificação<<strong>br</strong> />
para regularização, apreensão ou <strong>de</strong>struição<<strong>br</strong> />
do material publicitário irregular, suspensão da<<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong> e cassação do alvará <strong>de</strong> funcionamento<<strong>br</strong> />
da empresa<<strong>br</strong> />
Uso normal, tolerabilida<strong>de</strong> /<<strong>br</strong> />
intolerabilida<strong>de</strong> na poluição <strong>visual</strong>:<<strong>br</strong> />
uso nocivo da proprieda<strong>de</strong> e direito<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> vizinhança em face da função<<strong>br</strong> />
social e limitação da proprieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
privada<<strong>br</strong> />
É certo que a ativida<strong>de</strong> econômica sempre<<strong>br</strong> />
produz algum nível <strong>de</strong> poluição. Assim, po<strong>de</strong> ha-<<strong>br</strong> />
16<<strong>br</strong> />
MINAMI, Issao; GUIMARÃES, João Lopes Júnior. A importância da Paisagem. Disponível em . Acesso em: 09 mai. 2003<<strong>br</strong> />
17<<strong>br</strong> />
Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:Malheiros, 8ª ed. 2.000, p. 110<<strong>br</strong> />
18<<strong>br</strong> />
Aspectos Jurídicos da Chamada “Pichação e So<strong>br</strong>e a Utilização da Ação Civil Pública para Tutela do Interesse Difuso à Proteção da Estética<<strong>br</strong> />
Urbana”, RT 679/62.<<strong>br</strong> />
19<<strong>br</strong> />
RAMOS, Ignez Conceição Nini. Poluição Visual. Disponível em . Acesso em: 09 mai.<<strong>br</strong> />
2003<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
BAFFI, Mirthes I. S.. Paisagem e Caos. Disponível em .<<strong>br</strong> />
Acesso em: 09 mai. 2003<<strong>br</strong> />
21<<strong>br</strong> />
RAMOS, Ignez Conceição Nini. Poluição Visual. Disponível em . Acesso em: 09 mai.<<strong>br</strong> />
2003.<<strong>br</strong> />
22<<strong>br</strong> />
ANTACLI, Bianca M. Bilton Signorini, op. cit., fl. 121.<<strong>br</strong> />
68 Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009
A POLUIÇÃO VISUAL: FORMAS DE ENFRENTAMENTO PELAS CIDADES<<strong>br</strong> />
ver aceitabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certo grau poluição <strong>visual</strong>,<<strong>br</strong> />
mas ela <strong>de</strong>ve ser controlada e compatibilizada<<strong>br</strong> />
com o bem-estar das pessoas, <strong>de</strong> maneira a<<strong>br</strong> />
ocorrer uma convivência harmônica entre os habitantes<<strong>br</strong> />
das cida<strong>de</strong>s e os interesses comerciais da<<strong>br</strong> />
classe empresarial <strong>de</strong> uma maneira geral. Nesse<<strong>br</strong> />
contexto, somente <strong>de</strong>ve ser repelida a influência<<strong>br</strong> />
nociva e inconveniente, sob pena <strong>de</strong> inviabilizar<<strong>br</strong> />
certas ativida<strong>de</strong>s econômicas.<<strong>br</strong> />
A saú<strong>de</strong> psíquica das pessoas em geral<<strong>br</strong> />
guarda alguma relação com a or<strong>de</strong>nação da paisagem<<strong>br</strong> />
urbana, reflexo da harmonia ou <strong>de</strong>sarmonia<<strong>br</strong> />
<strong>visual</strong>. Deve-se buscar amenizar a carga neurótica<<strong>br</strong> />
da vida cotidiana 23 , pois a poluição <strong>visual</strong> não<<strong>br</strong> />
é somente estética, havendo reflexos, como já se<<strong>br</strong> />
disse, na segurança no trânsito, no bem-estar da<<strong>br</strong> />
população. Portanto, faz-se necessário que se fixe<<strong>br</strong> />
padrões técnicos e legais <strong>de</strong> aceitabilida<strong>de</strong>. Embora<<strong>br</strong> />
seja parte importante das cida<strong>de</strong>s, esta não<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong> ter como função prepon<strong>de</strong>rante o comércio,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vendo-se priorizar o bem-estar dos seus<<strong>br</strong> />
habitantes e visitantes, mantendo-se a cida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
econômica e ambientalmente sustentável.<<strong>br</strong> />
Conforme anota o Prof. Celso Antônio<<strong>br</strong> />
Pacheco Fiorillo, o legislador tratou <strong>de</strong> efetivar a<<strong>br</strong> />
vonta<strong>de</strong> do constituinte em relação ao bem-estar<<strong>br</strong> />
dos habitantes, regulando a forma e o conteúdo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados meios <strong>de</strong> expressão, como a<<strong>br</strong> />
publicida<strong>de</strong> e a pichação, também limitando a<<strong>br</strong> />
proprieda<strong>de</strong> privada, estabelecendo, no Código<<strong>br</strong> />
Civil <strong>de</strong> 2.002 (artigo 1.277 a 1.279) certas regras<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> direito <strong>de</strong> vizinhança, visando evitar que<<strong>br</strong> />
algumas práticas constituam óbices à obtenção e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sfrute <strong>de</strong> uma sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. 24<<strong>br</strong> />
Com o objetivo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar a função social e<<strong>br</strong> />
limitação da proprieda<strong>de</strong> privada, existem regras<<strong>br</strong> />
quanto a levantamento <strong>de</strong> fachada, tratamento<<strong>br</strong> />
arquitetônico das fachadas dos edifícios, acabamento<<strong>br</strong> />
a<strong>de</strong>quado, preservação da harmonia dos<<strong>br</strong> />
conjuntos das edificações, dos bens imóveis tombados<<strong>br</strong> />
e dos edifícios próximos, estabelecendo-se<<strong>br</strong> />
distâncias das construções, possibilida<strong>de</strong> ou não<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> colocação <strong>de</strong> cartazes ou anúncios, <strong>de</strong>ntre<<strong>br</strong> />
outros aspectos. 25<<strong>br</strong> />
Legislação aplicável: locais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vedação <strong>de</strong> anúncios publicitários<<strong>br</strong> />
que causem poluição <strong>visual</strong> e suas<<strong>br</strong> />
limitações<<strong>br</strong> />
A poluição <strong>visual</strong> po<strong>de</strong> ser tutelada tanto<<strong>br</strong> />
nas leis so<strong>br</strong>e proteção ao meio ambiente, pois<<strong>br</strong> />
ela é uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação e <strong>de</strong>sequilí<strong>br</strong>io<<strong>br</strong> />
do mesmo, quanto nas leis <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação da<<strong>br</strong> />
paisagem urbana, uma vez que ela é uma forma<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação <strong>visual</strong> da cida<strong>de</strong> e da paisagem<<strong>br</strong> />
urbana (meio ambiente artificial). Como ainda se<<strong>br</strong> />
verá mais adiante, essa regulação nada tem a ver<<strong>br</strong> />
com relação <strong>de</strong> consumo, sendo perfeitamente<<strong>br</strong> />
possível que o município legisle a respeito.<<strong>br</strong> />
Na Constituição Fe<strong>de</strong>ral encontramos total<<strong>br</strong> />
arrimo para a proteção do meio ambiente urbano,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ntre os quais está a paisagem. Há “garantia<<strong>br</strong> />
do bem-estar” dos habitantes das cida<strong>de</strong>s como<<strong>br</strong> />
objetivo da política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano<<strong>br</strong> />
(art. 182, “caput”). O texto constitucional ainda<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>termina a “preservação, proteção e recuperação<<strong>br</strong> />
do meio ambiente urbano” (art. 180,<<strong>br</strong> />
inciso III).<<strong>br</strong> />
A competência para fiscalizar o cumprimento<<strong>br</strong> />
das disposições legais relativas à or<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />
paisagística é cumulativa entre os entes fe<strong>de</strong>rados,<<strong>br</strong> />
nos termos do artigo 23, incisos III e VI, da<<strong>br</strong> />
Constituição Fe<strong>de</strong>ral.<<strong>br</strong> />
Com Fabiano Pereira dos Santos, ressaltase<<strong>br</strong> />
que a poluição <strong>visual</strong> no Brasil é combatida<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> forma indireta, isto é, por meio <strong>de</strong> limitações<<strong>br</strong> />
administrativas à publicida<strong>de</strong> comercial (Código<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Posturas Municipais, regulamentos específicos<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e publicida<strong>de</strong>, etc.) e política (Lei<<strong>br</strong> />
eleitoral). Essa dispersão <strong>de</strong> normas dificulta<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminar se a ativida<strong>de</strong> importa, ou não, em<<strong>br</strong> />
poluição <strong>visual</strong>. 26<<strong>br</strong> />
O referido autor ressalta, com proprieda<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
ser complexa a apuração da responsabilização<<strong>br</strong> />
dos agentes produtores <strong>de</strong> poluição <strong>visual</strong>, tanto<<strong>br</strong> />
no âmbito civil, penal ou administrativo, pois<<strong>br</strong> />
23<<strong>br</strong> />
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional, 2º ed., São Paulo: Malheiros, p. 12.<<strong>br</strong> />
24<<strong>br</strong> />
Op. cit., p. 127.<<strong>br</strong> />
25<<strong>br</strong> />
ibi<strong>de</strong>m, p. 127.<<strong>br</strong> />
Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009<<strong>br</strong> />
69
CASTANHEIRO, I. C.<<strong>br</strong> />
“a configuração da poluição <strong>visual</strong> envolve<<strong>br</strong> />
em gran<strong>de</strong> parte dos casos a avaliação <strong>de</strong> elementos<<strong>br</strong> />
caracterizados por expressivo grau <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
subjetivida<strong>de</strong>, os quais, variam <strong>de</strong> acordo com<<strong>br</strong> />
as concepções estéticas e costumes locais”. 27<<strong>br</strong> />
Nesse contexto, po<strong>de</strong>m ser citadas as seguintes<<strong>br</strong> />
normas, relacionadas com ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>gradadoras<<strong>br</strong> />
da harmonia na paisagem urbana:<<strong>br</strong> />
a) Lei 4.717/65 – No artigo 1º, § 1º, há previsão<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do patrimônio artístico, estético,<<strong>br</strong> />
turístico, por meio da ação popular;<<strong>br</strong> />
b) Lei nº. 7.347/85 – Conhecida como Lei da<<strong>br</strong> />
Ação Civil Pública (LACP), ela acresceu<<strong>br</strong> />
o valor paisagístico como passível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>fesa nesta modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação coletiva<<strong>br</strong> />
(art. 1º, V), também prevendo a <strong>de</strong>fesa da<<strong>br</strong> />
or<strong>de</strong>m urbanística (artigo 1º, inciso III);<<strong>br</strong> />
c) A Lei 10.257/01 (Estatuto da Cida<strong>de</strong>) traz<<strong>br</strong> />
diversos dispositivos protetores da paisagem<<strong>br</strong> />
urbana, com vistas a or<strong>de</strong>nar o pleno<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento das funções sociais<<strong>br</strong> />
da cida<strong>de</strong>. Nesse diapasão, conveniente<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>screver algumas diretrizes gerais do<<strong>br</strong> />
mencionado estatuto, o que faremos nas<<strong>br</strong> />
linhas seguintes:<<strong>br</strong> />
- Artigo 2º, inciso VI, “f” – Objetiva evitar<<strong>br</strong> />
a <strong>de</strong>gradação das áreas urbanizadas;<<strong>br</strong> />
- Artigo 2º, inciso VI, “g” – Prevê a or<strong>de</strong>nação<<strong>br</strong> />
e controle do uso do solo, visando<<strong>br</strong> />
evitar a poluição e <strong>de</strong>gradação ambiental;<<strong>br</strong> />
- Artigo 2º, XI – Preceitua a proteção, preservação<<strong>br</strong> />
e recuperação do meio ambiente<<strong>br</strong> />
natural e construído, do patrimônio cultural,<<strong>br</strong> />
histórico, artístico, paisagístico e<<strong>br</strong> />
arqueológico;<<strong>br</strong> />
- 2º, inciso XIII – Prevê a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
audiência do Po<strong>de</strong>r Público municipal e<<strong>br</strong> />
da população interessada nos processos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> empreendimentos ou<<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong>s com efeitos potencialmente<<strong>br</strong> />
negativos so<strong>br</strong>e o meio ambiente natural<<strong>br</strong> />
ou construído, o conforto ou a segurança<<strong>br</strong> />
da população;<<strong>br</strong> />
- artigo 36 – Determina que lei municipal<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>verá prever os tipos <strong>de</strong> empreendimentos<<strong>br</strong> />
públicos e privados que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> realização <strong>de</strong> Estudo <strong>de</strong> Impacto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Vizinha (EIV);<<strong>br</strong> />
- artigo 37, inciso VII – Estabelece parâmetros<<strong>br</strong> />
para o Estudo <strong>de</strong> Impacto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Vizinha, o qual <strong>de</strong>verá consi<strong>de</strong>rar, <strong>de</strong>ntre<<strong>br</strong> />
outros aspectos, a paisagem urbana e o<<strong>br</strong> />
patrimônio natural e cultural;<<strong>br</strong> />
- artigo 54 – Possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuizamento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> ação cautelar, com vista a evitar o<<strong>br</strong> />
dano ao meio ambiente, ao consumidor,<<strong>br</strong> />
à or<strong>de</strong>m urbanística ou aos bens e direitos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> valor artístico, estético, histórico,<<strong>br</strong> />
turístico e paisagístico.<<strong>br</strong> />
No tocante ao aspecto criminal da poluição<<strong>br</strong> />
<strong>visual</strong>, é <strong>de</strong> se ressaltar entendimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
se tratar <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito menor potencial ofensivo.<<strong>br</strong> />
Assim, quando a<strong>de</strong>quadamente <strong>de</strong>monstrado<<strong>br</strong> />
os fatos criminosos, “o causador <strong>de</strong>sta forma<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> poluição <strong>de</strong>ve receber uma pena mais leve,<<strong>br</strong> />
ligada sempre à o<strong>br</strong>igação <strong>de</strong> custeio <strong>de</strong> medida<<strong>br</strong> />
educativa ambiental”. 28 Ressalva-se o crime do<<strong>br</strong> />
artigo 63, da Lei nº 9.605/98, com pena <strong>de</strong> até 3<<strong>br</strong> />
anos, superando o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> menor<<strong>br</strong> />
potencial ofensivo.<<strong>br</strong> />
Algumas condutas envolvendo poluição<<strong>br</strong> />
<strong>visual</strong> encontram-se tipificadas na Lei dos Crimes<<strong>br</strong> />
Ambientais. O artigo 65 da Lei nº. 9.605/98<<strong>br</strong> />
estipula pena <strong>de</strong> até 3 (três) meses a 1 (um) ano,<<strong>br</strong> />
e multa para quem pichar, grafitar ou por outro<<strong>br</strong> />
meio conspurcar edificação ou monumento urbano.<<strong>br</strong> />
Seguindo na esteira <strong>de</strong> proteção da estética<<strong>br</strong> />
urbana e da sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, o artigo 64<<strong>br</strong> />
da Lei 9.605/98 criminalizou a conduta <strong>de</strong> “Promover<<strong>br</strong> />
construção em solo não edificável, ou no<<strong>br</strong> />
seu entorno, assim consi<strong>de</strong>rado em razão <strong>de</strong> seu<<strong>br</strong> />
valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico,<<strong>br</strong> />
histórico, cultural, religioso, arqueológico,<<strong>br</strong> />
etnográfico ou monumental, sem autorização da<<strong>br</strong> />
autorida<strong>de</strong> competente ou em <strong>de</strong>sacordo com a<<strong>br</strong> />
concedida”.<<strong>br</strong> />
26<<strong>br</strong> />
Meio Ambiente e poluição. Disponível em < http://www.ecolnews.com.<strong>br</strong>/artigo_01.htm>. Acesso em 20 <strong>de</strong> a<strong>br</strong>. 2009.<<strong>br</strong> />
27<<strong>br</strong> />
Santos, Fabiano Pereira dos. Meio Ambiente e poluição. Disponível em . Acesso em: 20 a<strong>br</strong>. 2009<<strong>br</strong> />
28<<strong>br</strong> />
Santos, Fabiano Pereira dos. Meio Ambiente e poluição. Disponível em . Acesso em: 20 a<strong>br</strong>. 2009<<strong>br</strong> />
70 Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009
A POLUIÇÃO VISUAL: FORMAS DE ENFRENTAMENTO PELAS CIDADES<<strong>br</strong> />
Também restou penalmente tipificada a alteração<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> aspecto ou estrutura <strong>de</strong> edificação (artigo<<strong>br</strong> />
63 da Lei 9.605/98), a pichação/grafitagem<<strong>br</strong> />
ou conspurcação <strong>de</strong> edificação ou monumento<<strong>br</strong> />
urbano (artigo 65), exigindo-se, sempre, o dolo.<<strong>br</strong> />
Vale anotar que embora se tratem <strong>de</strong> <strong>de</strong>litos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> menor potencial ofensivo, para a transação e/<<strong>br</strong> />
ou suspensão do processo há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reparação<<strong>br</strong> />
do dano (art. 27 e 28 da Lei nº. 9.099/95).<<strong>br</strong> />
Portanto, mesmo a lei <strong>de</strong> crimes ambientais<<strong>br</strong> />
tem função não apenas preventiva da paisagem<<strong>br</strong> />
urbana, mas também reparadora.<<strong>br</strong> />
O Decreto-Lei 25/37, o qual <strong>org</strong>aniza a<<strong>br</strong> />
proteção do patrimônio estético e artístico nacional,<<strong>br</strong> />
em seu artigo 1º, § 2º, equipara a bens<<strong>br</strong> />
do patrimônio histórico e artístico nacional a<<strong>br</strong> />
serem tombados os monumentos naturais, sítios<<strong>br</strong> />
e paisagens aqueles dotados <strong>de</strong> feição notável,<<strong>br</strong> />
pela natureza ou pela indústria humana, os<<strong>br</strong> />
quais <strong>de</strong>vem ser conservados e protegidos. No<<strong>br</strong> />
artigo 18 é exigida autorização do Serviço do<<strong>br</strong> />
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para<<strong>br</strong> />
colocação <strong>de</strong> anúncios ou cartazes na vizinhança<<strong>br</strong> />
da coisa tombada.<<strong>br</strong> />
A Lei nº. 9.504/97, a qual dispõe so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
as eleições, em seu artigo 37, com o objetivo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> tutelar a estética urbana durante as eleições,<<strong>br</strong> />
preceitua que “Nos bens cujo uso <strong>de</strong>penda <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
cessão ou permissão do Po<strong>de</strong>r Público, ou que<<strong>br</strong> />
a ele pertençam, e nos <strong>de</strong> uso comum, inclusive<<strong>br</strong> />
postes <strong>de</strong> iluminação pública e sinalização <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> ônibus e outros equipamentos urbanos, é<<strong>br</strong> />
vedada a veiculação <strong>de</strong> propaganda <strong>de</strong> qualquer<<strong>br</strong> />
natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta,<<strong>br</strong> />
fixação <strong>de</strong> placas, estandartes, faixas e assemelhados”.<<strong>br</strong> />
Entretanto, foi permitida a propaganda<<strong>br</strong> />
política em bens particulares (artigo 37, § 2º).<<strong>br</strong> />
O Código Eleitoral, no artigo 243, inciso VIII,<<strong>br</strong> />
veda a propaganda que prejudique a higiene ou<<strong>br</strong> />
estética urbana ou que esteja em <strong>de</strong>sacordo com<<strong>br</strong> />
posturas municipais ou qualquer outra restrição<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> direitos.<<strong>br</strong> />
A Lei nº. 8.078/90 (Código <strong>de</strong> Defesa do<<strong>br</strong> />
Consumidor - CDC) também contém dispositivos<<strong>br</strong> />
relacionados à paisagem urbana, na medida<<strong>br</strong> />
em que regula as <strong>formas</strong> <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>. Nesse<<strong>br</strong> />
sentido cabe observar que a publicida<strong>de</strong> agressiva<<strong>br</strong> />
não respeita autonomia dos contratantes fracos,<<strong>br</strong> />
sendo necessária a valorização da informação e<<strong>br</strong> />
da confiança <strong>de</strong>spertada do consumidor.<<strong>br</strong> />
O Código <strong>de</strong> Defesa do Consumidor ainda<<strong>br</strong> />
traz dispositivos vedando publicida<strong>de</strong> enganosa<<strong>br</strong> />
e/ou abusiva (artigo 37), <strong>de</strong>terminando que ela<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>va ser <strong>de</strong> fácil i<strong>de</strong>ntificação (artigo 36) e não<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong> induzir o consumidor a comportar-se <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
maneira prejudicial ou perigosa à sua saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ou segurança (artigo 68). Nesse diapasão, vale<<strong>br</strong> />
lem<strong>br</strong>ar, com Jose Afonso da Silva, que a publicida<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> suas características<<strong>br</strong> />
visuais, po<strong>de</strong> provocar distração nos motoristas<<strong>br</strong> />
(outdoors, faixas, cartazes, fachadas <strong>de</strong> néon,<<strong>br</strong> />
painéis eletrônicos), com comprometimento da<<strong>br</strong> />
<strong>visual</strong>ização ou distração em relação ao traçado<<strong>br</strong> />
da via ou da sinalização <strong>de</strong> trânsito. Portanto, há<<strong>br</strong> />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proibição <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> em <strong>de</strong>terminados<<strong>br</strong> />
locais, ante suas peculiarida<strong>de</strong>s. 29<<strong>br</strong> />
Nesse mesmo sentido, o Código <strong>de</strong> Trânsito<<strong>br</strong> />
Brasileiro (Lei nº. 9.503/98), em seu artigo 81,<<strong>br</strong> />
proíbe a colocação, em vias públicas ou em imóveis,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> luzes, publicida<strong>de</strong>, inscrições, vegetação<<strong>br</strong> />
e mobiliário que possa gerar confusão, interferir<<strong>br</strong> />
na visibilida<strong>de</strong> da sinalização, ocasionado comprometimento<<strong>br</strong> />
da segurança do trânsito. Tal diploma<<strong>br</strong> />
legal ainda proíbe fixar so<strong>br</strong>e sinalização<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> trânsito e respectivos suportes (ou em ambos),<<strong>br</strong> />
qualquer tipo <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> (artigo 82 do CTB),<<strong>br</strong> />
como inscrições, legendas e símbolos que não se<<strong>br</strong> />
relacionem com a mensagem <strong>de</strong> sinalização.<<strong>br</strong> />
O objetivo do código, como bem anota<<strong>br</strong> />
Celso Antônio Pacheco Fiorillo, é limitar a<<strong>br</strong> />
liberda<strong>de</strong> em prol da estética <strong>visual</strong>, visando à<<strong>br</strong> />
sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. 30<<strong>br</strong> />
A Constituição do Estado <strong>de</strong> São Paulo<<strong>br</strong> />
prevê como área <strong>de</strong> proteção permanente as paisagens<<strong>br</strong> />
notáveis (artigo 197, V) e classifica como<<strong>br</strong> />
patrimônio cultural, portadores <strong>de</strong> referências à<<strong>br</strong> />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, “os conjuntos urbanos e sítios <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,<<strong>br</strong> />
paleontológico, ecológico e científico”<<strong>br</strong> />
(artigo 260, IV).<<strong>br</strong> />
29<<strong>br</strong> />
Direito Urbanístico Brasileiro, p. 182.<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
Op. cit, p. 136.<<strong>br</strong> />
Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009<<strong>br</strong> />
71
CASTANHEIRO, I. C.<<strong>br</strong> />
O artigo 8º, parágrafo único, do Decreto<<strong>br</strong> />
13.626/43, do Estado <strong>de</strong> São Paulo, exige<<strong>br</strong> />
autorização do Departamento <strong>de</strong> Estradas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Rodagem para colocação <strong>de</strong> anúncios, estatuindo<<strong>br</strong> />
que: “somente será permitida mediante<<strong>br</strong> />
prévia licença do Departamento <strong>de</strong> Estradas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Rodagem e <strong>de</strong>verá satisfazer às condições que<<strong>br</strong> />
forem estabelecidas em regulamento, relativas<<strong>br</strong> />
à distância, à localização, ao efeito estético, à<<strong>br</strong> />
visibilida<strong>de</strong>, à perspectiva panorâmica, à segurança<<strong>br</strong> />
da circulação”.<<strong>br</strong> />
A lei paulistana <strong>de</strong>nominada<<strong>br</strong> />
“cida<strong>de</strong> limpa” e a jurisprudência<<strong>br</strong> />
Na capital paulista, a Lei Orgânica do Município<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>termina a “preservação, conservação,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>fesa, recuperação e melhoria do meio ambiente”,<<strong>br</strong> />
em conjunto com o Estado e com a União<<strong>br</strong> />
(artigos 148, inciso IV e 180). Também prevê<<strong>br</strong> />
que “a política urbana do Município terá por<<strong>br</strong> />
objetivo or<strong>de</strong>nar o pleno <strong>de</strong>senvolvimento das<<strong>br</strong> />
funções sociais da cida<strong>de</strong>, propiciar a realização<<strong>br</strong> />
da função social da proprieda<strong>de</strong> e garantir o<<strong>br</strong> />
bem-estar <strong>de</strong> seus habitantes, procurando assegurar<<strong>br</strong> />
a segurança e a proteção do patrimônio<<strong>br</strong> />
paisagístico arquitetônico e a qualida<strong>de</strong> estética<<strong>br</strong> />
e referencial da paisagem natural e agregada<<strong>br</strong> />
pela ação humana” (art. 148, incisos III e V,<<strong>br</strong> />
grifamos).<<strong>br</strong> />
A Lei Municipal 13.430/02, que institui o<<strong>br</strong> />
plano Diretor Estratégico do Município <strong>de</strong> São<<strong>br</strong> />
Paulo, em seu artigo 8º, inciso V, afirma serem<<strong>br</strong> />
objetivos gerais, <strong>de</strong>correntes dos princípios adotados:<<strong>br</strong> />
“garantir a todos os habitantes da Cida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
acesso a condições seguras <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ar,<<strong>br</strong> />
da água e <strong>de</strong> alimentos, química e bacteriologicamente<<strong>br</strong> />
seguros, <strong>de</strong> circulação e habitação<<strong>br</strong> />
em áreas livres <strong>de</strong> resíduos, <strong>de</strong> poluição <strong>visual</strong><<strong>br</strong> />
e sonora, <strong>de</strong> uso dos espaços abertos e ver<strong>de</strong>s”.<<strong>br</strong> />
No artigo 9º, inciso VI, inclui como objetivo<<strong>br</strong> />
da política urbana “a preservação, proteção e<<strong>br</strong> />
recuperação do meio ambiente e da paisagem<<strong>br</strong> />
urbana”.<<strong>br</strong> />
Como já se assinalou neste trabalho, o combate<<strong>br</strong> />
à poluição <strong>visual</strong> <strong>de</strong>corrente da publicida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
comercial é feita pela via administrativa, como<<strong>br</strong> />
Código <strong>de</strong> Posturas Municipais e regulamentos<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e publicida<strong>de</strong> etc.. No Município <strong>de</strong> São Paulo<<strong>br</strong> />
vigorava a Lei Municipal nº. 12.115/96, pela<<strong>br</strong> />
qual eram estabelecidas regras para a veiculação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> anúncios publicitários. Tal norma foi revogada<<strong>br</strong> />
pela Lei Municipal nº. 14.223, publicada<<strong>br</strong> />
em 27 <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2006, a qual disciplina a<<strong>br</strong> />
paisagem urbana na capital e ficou popularmente<<strong>br</strong> />
conhecida como “Lei Cida<strong>de</strong> Limpa”, a qual é<<strong>br</strong> />
mais rigorosa, vendando muitas das <strong>formas</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
publicida<strong>de</strong>, como adiante se verá.<<strong>br</strong> />
A Lei Municipal nº. 14.226/06, em seu<<strong>br</strong> />
artigo 3º, preceitua:<<strong>br</strong> />
“Constituem objetivos da or<strong>de</strong>nação da<<strong>br</strong> />
paisagem do Município <strong>de</strong> São Paulo<<strong>br</strong> />
o atendimento ao interesse público em<<strong>br</strong> />
consonância com os direitos fundamentais<<strong>br</strong> />
da pessoa humana e as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
conforto ambiental, com a melhoria da<<strong>br</strong> />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida urbana, assegurando,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ntre outros, os seguintes:<<strong>br</strong> />
I - o bem-estar estético, cultural e ambiental<<strong>br</strong> />
da população;<<strong>br</strong> />
II - a segurança das edificações e da<<strong>br</strong> />
população;<<strong>br</strong> />
III - a valorização do ambiente natural e<<strong>br</strong> />
construído;<<strong>br</strong> />
IV - a segurança, a flui<strong>de</strong>z e o conforto nos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong> veículos e pe<strong>de</strong>stres;<<strong>br</strong> />
V - a percepção e a compreensão dos<<strong>br</strong> />
elementos referenciais da paisagem;<<strong>br</strong> />
VI - a preservação da memória cultural;<<strong>br</strong> />
VII - a preservação e a <strong>visual</strong>ização das<<strong>br</strong> />
características peculiares dos logradouros<<strong>br</strong> />
e das fachadas;<<strong>br</strong> />
VIII - a preservação e a <strong>visual</strong>ização dos<<strong>br</strong> />
elementos naturais tomados em seu<<strong>br</strong> />
conjunto e em suas peculiarida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
ambientais nativas;<<strong>br</strong> />
...<<strong>br</strong> />
XI - o equilí<strong>br</strong>io <strong>de</strong> interesses dos diversos<<strong>br</strong> />
agentes atuantes na cida<strong>de</strong> para a<<strong>br</strong> />
promoção da melhoria da paisagem do<<strong>br</strong> />
Município.”<<strong>br</strong> />
72 Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009
A POLUIÇÃO VISUAL: FORMAS DE ENFRENTAMENTO PELAS CIDADES<<strong>br</strong> />
Mais adiante, no artigo 4º, são traçadas as<<strong>br</strong> />
diretrizes <strong>de</strong>ssa novel e <strong>de</strong>stacada legislação,<<strong>br</strong> />
lavradas nos seguintes termos:<<strong>br</strong> />
“Art. 4º. Constituem diretrizes a serem<<strong>br</strong> />
observadas na colocação dos elementos<<strong>br</strong> />
que compõem a paisagem urbana:<<strong>br</strong> />
I - o livre acesso <strong>de</strong> pessoas e bens à infraestrutura<<strong>br</strong> />
urbana;<<strong>br</strong> />
II - a priorização da sinalização <strong>de</strong> interesse<<strong>br</strong> />
público com vistas a não confundir<<strong>br</strong> />
motoristas na condução <strong>de</strong> veículos e<<strong>br</strong> />
garantir a livre e segura locomoção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
pe<strong>de</strong>stres;<<strong>br</strong> />
III - o combate à poluição <strong>visual</strong>, bem<<strong>br</strong> />
como à <strong>de</strong>gradação ambiental;<<strong>br</strong> />
IV - a proteção, preservação e recuperação<<strong>br</strong> />
do patrimônio cultural, histórico,<<strong>br</strong> />
artístico, paisagístico, <strong>de</strong> consagração<<strong>br</strong> />
popular, bem como do meio ambiente<<strong>br</strong> />
natural ou construído da cida<strong>de</strong>;<<strong>br</strong> />
V - a compatibilização das modalida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> anúncios com os locais on<strong>de</strong> possam<<strong>br</strong> />
ser veiculados, nos termos <strong>de</strong>sta lei;<<strong>br</strong> />
VI - a implantação <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> fiscalização<<strong>br</strong> />
efetivo, ágil, mo<strong>de</strong>rno, planejado<<strong>br</strong> />
e permanente”<<strong>br</strong> />
No artigo 7º, há uma ampla <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
anúncio, que pela sua exemplar importância<<strong>br</strong> />
para os nossos estudos e papel do município<<strong>br</strong> />
no combate à poluição <strong>visual</strong>, permitimo-nos<<strong>br</strong> />
transcrevê-la. Ei-la:<<strong>br</strong> />
“Art. 7º. Para os fins <strong>de</strong>sta lei, não são<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rados anúncios:<<strong>br</strong> />
I - os nomes, símbolos, entalhes, relevos<<strong>br</strong> />
ou logotipos, incorporados à fachada<<strong>br</strong> />
por meio <strong>de</strong> aberturas ou gravados nas<<strong>br</strong> />
pare<strong>de</strong>s, sem aplicação ou afixação,<<strong>br</strong> />
integrantes <strong>de</strong> projeto aprovado das<<strong>br</strong> />
edificações;<<strong>br</strong> />
II - os logotipos ou logomarcas <strong>de</strong> postos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> abastecimento e serviços, quando<<strong>br</strong> />
veiculados nos equipamentos próprios<<strong>br</strong> />
do mobiliário o<strong>br</strong>igatório, como bombas,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>nsímetros e similares;<<strong>br</strong> />
III - as <strong>de</strong>nominações <strong>de</strong> prédios e condomínios;<<strong>br</strong> />
IV - os que contenham referências que<<strong>br</strong> />
indiquem lotação, capacida<strong>de</strong> e os<<strong>br</strong> />
que recomen<strong>de</strong>m cautela ou indiquem<<strong>br</strong> />
perigo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sem qualquer legenda,<<strong>br</strong> />
dístico ou <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> valor<<strong>br</strong> />
publicitário;<<strong>br</strong> />
V - os que contenham mensagens o<strong>br</strong>igatórias<<strong>br</strong> />
por legislação fe<strong>de</strong>ral, estadual<<strong>br</strong> />
ou municipal;<<strong>br</strong> />
VI - os que contenham mensagens indicativas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> cooperação com o Po<strong>de</strong>r Público<<strong>br</strong> />
Municipal, Estadual ou Fe<strong>de</strong>ral;<<strong>br</strong> />
VII - os que contenham mensagens indicativas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> órgãos da Administração<<strong>br</strong> />
Direta;<<strong>br</strong> />
VIII - os que contenham indicação <strong>de</strong> monitoramento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> segurança<<strong>br</strong> />
com área máxima <strong>de</strong> 0,04m² (quatro<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>címetros quadrados);<<strong>br</strong> />
IX - aqueles instalados em áreas <strong>de</strong> proteção<<strong>br</strong> />
ambiental que contenham mensagens<<strong>br</strong> />
institucionais com patrocínio<<strong>br</strong> />
....<<strong>br</strong> />
XI - os “banners” ou pôsteres indicativos<<strong>br</strong> />
dos eventos culturais que serão exibidos<<strong>br</strong> />
na própria edificação, para museu<<strong>br</strong> />
ou teatro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não ultrapassem<<strong>br</strong> />
10% (<strong>de</strong>z por cento) da área total <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
todas as fachadas;<<strong>br</strong> />
XII - a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> hotéis ou a sua<<strong>br</strong> />
logomarca, quando inseridas ao longo<<strong>br</strong> />
da fachada das edificações on<strong>de</strong> é exercida<<strong>br</strong> />
a ativida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vendo o projeto ser<<strong>br</strong> />
aprovado pela Comissão <strong>de</strong> Proteção à<<strong>br</strong> />
Paisagem Urbana - CPPU;<<strong>br</strong> />
XIII - a i<strong>de</strong>ntificação das empresas nos<<strong>br</strong> />
veículos automotores utilizados para<<strong>br</strong> />
a realização <strong>de</strong> seus serviços.”<<strong>br</strong> />
No artigo 8º estão as regras para que um<<strong>br</strong> />
anúncio possa ser consi<strong>de</strong>rado lícito (as hipó-<<strong>br</strong> />
Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009<<strong>br</strong> />
73
CASTANHEIRO, I. C.<<strong>br</strong> />
teses autorizadas estão no artigo 13), que <strong>pelas</strong><<strong>br</strong> />
mesmas razões do parágrafo anterior a seguir<<strong>br</strong> />
são <strong>de</strong>scritas:<<strong>br</strong> />
“Art. 8º. Todo anúncio <strong>de</strong>verá observar,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ntre outras, as seguintes normas:<<strong>br</strong> />
I - oferecer condições <strong>de</strong> segurança ao<<strong>br</strong> />
público;<<strong>br</strong> />
II - ser mantido em bom estado <strong>de</strong> conservação,<<strong>br</strong> />
no que tange a estabilida<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
resistência dos materiais e aspecto<<strong>br</strong> />
<strong>visual</strong>;<<strong>br</strong> />
III - receber tratamento final a<strong>de</strong>quado em<<strong>br</strong> />
todas as suas superfícies, inclusive na<<strong>br</strong> />
sua estrutura;<<strong>br</strong> />
IV - aten<strong>de</strong>r as normas técnicas pertinentes<<strong>br</strong> />
à segurança e estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus<<strong>br</strong> />
elementos;<<strong>br</strong> />
V - aten<strong>de</strong>r as normas técnicas emitidas<<strong>br</strong> />
pela Associação Brasileira <strong>de</strong> Normas<<strong>br</strong> />
Técnicas - ABNT, pertinentes às distâncias<<strong>br</strong> />
das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
energia elétrica, ou a parecer técnico<<strong>br</strong> />
emitido pelo órgão público estadual ou<<strong>br</strong> />
empresa responsável pela distribuição<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> energia elétrica;<<strong>br</strong> />
VI - respeitar a vegetação arbórea significativa<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>finida por normas específicas<<strong>br</strong> />
constantes do Plano Diretor<<strong>br</strong> />
Estratégico;<<strong>br</strong> />
VII - não prejudicar a visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sinalização<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> trânsito ou outro sinal <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
comunicação institucional, <strong>de</strong>stinado<<strong>br</strong> />
à orientação do público, bem como a<<strong>br</strong> />
numeração imobiliária e a <strong>de</strong>nominação<<strong>br</strong> />
dos logradouros;<<strong>br</strong> />
VIII - não provocar reflexo, <strong>br</strong>ilho ou<<strong>br</strong> />
intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz que possa ocasionar<<strong>br</strong> />
ofuscamento, prejudicar a visão dos<<strong>br</strong> />
motoristas, interferir na operação ou<<strong>br</strong> />
sinalização <strong>de</strong> trânsito ou, ainda, causar<<strong>br</strong> />
insegurança ao trânsito <strong>de</strong> veículos<<strong>br</strong> />
e pe<strong>de</strong>stres, quando com dispositivo<<strong>br</strong> />
elétrico ou com película <strong>de</strong> alta reflexivida<strong>de</strong>;<<strong>br</strong> />
IX - não prejudicar a <strong>visual</strong>ização <strong>de</strong> bens<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> valor cultural.”<<strong>br</strong> />
Quanto às vedações <strong>de</strong> anúncios, as regras<<strong>br</strong> />
são as seguintes:<<strong>br</strong> />
“Art. 9º. É proibida a instalação <strong>de</strong> anúncios<<strong>br</strong> />
em:<<strong>br</strong> />
I - leitos dos rios e cursos d’água, reservatórios,<<strong>br</strong> />
lagos e represas, conforme<<strong>br</strong> />
legislação específica;<<strong>br</strong> />
II - vias, parques, praças e outros logradouros<<strong>br</strong> />
públicos, salvo os anúncios <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
cooperação entre o Po<strong>de</strong>r Público e a<<strong>br</strong> />
iniciativa privada, a serem <strong>de</strong>finidos<<strong>br</strong> />
por legislação específica, bem como<<strong>br</strong> />
as placas e unida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ntificadoras<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>finidas no § 6º do art. 22 <strong>de</strong>sta lei;<<strong>br</strong> />
III - imóveis situados nas zonas <strong>de</strong> uso<<strong>br</strong> />
estritamente resi<strong>de</strong>nciais, salvo os<<strong>br</strong> />
anúncios indicativos nos imóveis regulares<<strong>br</strong> />
e que já possuíam a <strong>de</strong>vida licença<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> funcionamento anteriormente à Lei<<strong>br</strong> />
nº. 13.430, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2002;<<strong>br</strong> />
IV - postes <strong>de</strong> iluminação pública ou <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> telefonia, inclusive cabines e<<strong>br</strong> />
telefones públicos, conforme autorização<<strong>br</strong> />
específica, exceção feita ao mobiliário<<strong>br</strong> />
urbano nos pontos permitidos<<strong>br</strong> />
pela Prefeitura;<<strong>br</strong> />
V - torres ou postes <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
energia elétrica;<<strong>br</strong> />
VI - nos dutos <strong>de</strong> gás e <strong>de</strong> abastecimento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> água, hidrantes, torres d’água e<<strong>br</strong> />
outros similares;<<strong>br</strong> />
VII - faixas ou placas acopladas à sinalização<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> trânsito;<<strong>br</strong> />
VIII - o<strong>br</strong>as públicas <strong>de</strong> arte, tais como<<strong>br</strong> />
pontes, passarelas, viadutos e túneis,<<strong>br</strong> />
ainda que <strong>de</strong> domínio estadual e fe<strong>de</strong>ral;<<strong>br</strong> />
IX - bens <strong>de</strong> uso comum do povo a uma<<strong>br</strong> />
distância inferior a 30,00m (trinta<<strong>br</strong> />
metros) <strong>de</strong> o<strong>br</strong>as públicas <strong>de</strong> arte, tais<<strong>br</strong> />
como túneis, passarelas, pontes e via-<<strong>br</strong> />
74 Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009
A POLUIÇÃO VISUAL: FORMAS DE ENFRENTAMENTO PELAS CIDADES<<strong>br</strong> />
dutos, bem como <strong>de</strong> seus respectivos<<strong>br</strong> />
acessos;<<strong>br</strong> />
X - nos muros, pare<strong>de</strong>s e empenas cegas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> lotes públicos ou privados, edificados<<strong>br</strong> />
ou não;<<strong>br</strong> />
XI - nas árvores <strong>de</strong> qualquer porte;<<strong>br</strong> />
XII - nos veículos automotores, motocicletas,<<strong>br</strong> />
bicicletas e similares e nos<<strong>br</strong> />
“trailers” ou carretas engatados ou<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sengatados <strong>de</strong> veículos automotores,<<strong>br</strong> />
excetuados aqueles utilizados para<<strong>br</strong> />
transporte <strong>de</strong> carga.”<<strong>br</strong> />
O artigo 23 prevê a responsabilização<<strong>br</strong> />
solidária do anúncio pelo possuidor e proprietário<<strong>br</strong> />
do imóvel on<strong>de</strong> aquele estiver instalado, o<<strong>br</strong> />
mesmo ocorrendo com a empresa instaladora.<<strong>br</strong> />
A Comissão <strong>de</strong> Proteção da Paisagem Urbana<<strong>br</strong> />
(CPPU) será a principal responsável pelo<<strong>br</strong> />
acompanhamento da legislação paulistana so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
anúncios (artigo 35), bem como quanto às novas<<strong>br</strong> />
tecnologias e meios <strong>de</strong> veiculação <strong>de</strong> anúncios<<strong>br</strong> />
(artigo 47), sendo o licenciamento <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
das subprefeituras (artigo 36). No<<strong>br</strong> />
artigo 39 e seguintes estão previstas as infrações<<strong>br</strong> />
e penalida<strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />
Os mobiliários urbanos estão conceituados<<strong>br</strong> />
no artigo 22 da Lei 14.223/06, com diretrizes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
instalação no artigo 23, sendo que a publicida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
nos mesmos será regulada em lei específica<<strong>br</strong> />
(artigo 21). Como regra geral, o artigo 18 prevê<<strong>br</strong> />
que “Fica proibida, no âmbito do Município <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
São Paulo, a colocação <strong>de</strong> anúncio publicitário<<strong>br</strong> />
nos imóveis públicos e privados, edificados ou<<strong>br</strong> />
não”. São permitidos aqueles elencados no artigo<<strong>br</strong> />
19, com finalida<strong>de</strong> cultural, educativa, eleitoral<<strong>br</strong> />
e imobiliária.<<strong>br</strong> />
Como se percebe dos dispositivos transcritos<<strong>br</strong> />
e mencionados nos parágrafos anteriores,<<strong>br</strong> />
a Lei Municipal nº. 14.223/06, que vedou o<<strong>br</strong> />
anúncio publicitário em locais públicos e privados,<<strong>br</strong> />
visando proteção da paisagem urbana<<strong>br</strong> />
(meio ambiente artificial ou estético) e do meio<<strong>br</strong> />
ambiente cultural (patrimônio histórico) tratou<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> regulamentar, <strong>de</strong>ntro do interesse local (artigo<<strong>br</strong> />
30, incisos I, II, VIII e IX, da CF), questão ambiental<<strong>br</strong> />
e urbanística (artigo 225 e 182 da CF),<<strong>br</strong> />
bem como fez prevalecer a função social da<<strong>br</strong> />
proprieda<strong>de</strong> e da cida<strong>de</strong> (artigo 170, III, e 182,<<strong>br</strong> />
“caput”, respectivamente, da Carta Magna), não<<strong>br</strong> />
invadindo competência legislativa do Estado e da<<strong>br</strong> />
União para legislar so<strong>br</strong>e publicida<strong>de</strong> no âmbito<<strong>br</strong> />
da relação <strong>de</strong> consumo (artigo 22, inciso XIX e<<strong>br</strong> />
artigo incisos 24, V, VII e VIII, da CF). No sentido<<strong>br</strong> />
da constitucionalida<strong>de</strong> da Lei nº 14.223/06<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>m ser mencionados os seguintes acórdãos:<<strong>br</strong> />
JULGAMENTO “EXTRA PETITA” - A<<strong>br</strong> />
SENTENÇA JULGOU A AÇÃO DENTRO<<strong>br</strong> />
DO PEDIDO – NÃO HÁ QUE SE FALAR<<strong>br</strong> />
EM NULIDADE. LEI DOS ANÚNCIOS - LEI<<strong>br</strong> />
MUNICIPAL NQ 14.223, DE 26/9/2006, QUE<<strong>br</strong> />
DISPÕE SOBRE A ORDENAÇÃO DOS ELE-<<strong>br</strong> />
MENTOS QUE COMPÕEM A PAISAGEM<<strong>br</strong> />
URBANA NO TERRITÓRIO DO MUNICÍPIO<<strong>br</strong> />
DE SÃO PAULO É MATÉRIA DE NATUREZA<<strong>br</strong> />
AMBIENTAL E TEM COMO FINALIDADE<<strong>br</strong> />
ADEQUAR A FUNÇÃO DA PROPRIEDADE<<strong>br</strong> />
EM FUNÇÃO DA PAISAGEM URBANA,<<strong>br</strong> />
RELACIONADA COM O USO COMUM DO<<strong>br</strong> />
POVO.<<strong>br</strong> />
INCONSTITUCIONALIDADE - A LEI<<strong>br</strong> />
NÃO É INCONSTITUCIONAL, POIS O MU-<<strong>br</strong> />
NICÍPIO NÃO USURPOU A COMPETÊN-<<strong>br</strong> />
CIA CONSTITUCIONAL CONFERIDA À<<strong>br</strong> />
UNIÃO, UMA VEZ QUE A CITADA NORMA<<strong>br</strong> />
LEGAL NÃO DIZ RESPEITO AO ÂMBITO<<strong>br</strong> />
ECONÔMICO DA PUBLICIDADE OU PRO-<<strong>br</strong> />
PAGANDA, MAS SIM AO QUE SE REFERE<<strong>br</strong> />
AO MEIO AMBIENTE, ARQUITETURA E<<strong>br</strong> />
URBANISMO, POSSUINDO O MUNICÍPIO<<strong>br</strong> />
COMPETÊNCIA CONCORRENTE PARA<<strong>br</strong> />
LEGISLAR SOBRE TAIS MATÉRIAS.<<strong>br</strong> />
LIVRE INICIATIVA - A LEI NÃO VEDA<<strong>br</strong> />
O EXERCÍCIO DE PROFISSÃO E/OU ATIVI-<<strong>br</strong> />
DADE, DESDE QUE OBEDEÇA A LEI.<<strong>br</strong> />
DIREITO DE PROPRIEDADE - DEVE<<strong>br</strong> />
OBEDECER AO PRINCÍPIO CONSTITUCIO-<<strong>br</strong> />
NAL DA FUNÇÃO SOCIAL.<<strong>br</strong> />
PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDA-<<strong>br</strong> />
DE E RAZOABILIDADE - A LEI TEM POR<<strong>br</strong> />
FINALIDADE ORDENAR O ESPAÇO PÚBLI-<<strong>br</strong> />
CO E REGULÁ-LO NO QUE DIZ RESPEITO<<strong>br</strong> />
- PAISAGEM URBANA - CONTROLE DE<<strong>br</strong> />
POLUIÇÃO VISUAL - NÃO SE VISLUMBRA<<strong>br</strong> />
QUALQUER EXCESSO.<<strong>br</strong> />
Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009<<strong>br</strong> />
75
CASTANHEIRO, I. C.<<strong>br</strong> />
(TJSP, 10ª Câmara <strong>de</strong> Direito Público -<<strong>br</strong> />
Apelação Cível nº. 766.659-5/1-00-V. 15.660,<<strong>br</strong> />
v.u., j. em 11/08/08)<<strong>br</strong> />
ATO ADMINISTRATIVO – PUBLICIDA-<<strong>br</strong> />
DE URBANA - PRETENSÃO DA EMPRESA<<strong>br</strong> />
AO RECONHECIMENTO DO DIREITO DE<<strong>br</strong> />
TER SUAS ATIVIDADES REGIDAS PELAS<<strong>br</strong> />
NORMAS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS<<strong>br</strong> />
APLICÁVEIS E DO DIREITO DE MANU-<<strong>br</strong> />
TENÇÃO DOS ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS<<strong>br</strong> />
REGULARES E RESPECTIVAS ESTRUTU-<<strong>br</strong> />
RAS EXISTENTES, BEM COMO À DECLA-<<strong>br</strong> />
RAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE<<strong>br</strong> />
DA LEI MUNICIPAL N° 14.223/06 (CIDADE<<strong>br</strong> />
LIMPA)- INOCORRÊNCIA.<<strong>br</strong> />
O Plenário <strong>de</strong>sta Corte reconheceu a constitucionalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
da Lei Municipal n° 14.223/06,<<strong>br</strong> />
tendo sido apreciado pelo C. Órgão Especial no<<strong>br</strong> />
Inci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Inconstitucionalida<strong>de</strong> n° 163.152-<<strong>br</strong> />
0/3-00, sendo a ação que se funda na inconstitucionalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
da lei improce<strong>de</strong>nte.<<strong>br</strong> />
Decisão mantida.<<strong>br</strong> />
Recurso negado<<strong>br</strong> />
(TJSP, 1ª Câmara <strong>de</strong> Direito Público, Apelação<<strong>br</strong> />
n° 806 542 5/8-00, v.u., j. em 02/12/08).<<strong>br</strong> />
MANDADO DE SEGURANÇA - Preventivo<<strong>br</strong> />
- Liminar - Lei Municipal <strong>de</strong> São Paulo n.°<<strong>br</strong> />
14.223/06 (Projeto “Cida<strong>de</strong> Limpa”), a vedar a<<strong>br</strong> />
colocação <strong>de</strong> anúncios em imóveis públicos e<<strong>br</strong> />
privados – Pretensão <strong>de</strong> inconstitucionalida<strong>de</strong> -<<strong>br</strong> />
Ausência <strong>de</strong> ilegalida<strong>de</strong>, vício ou arbitrarieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
- Falta <strong>de</strong> prova da regularida<strong>de</strong> do anúncio - Interesse<<strong>br</strong> />
público que <strong>de</strong>ve se so<strong>br</strong>epor ao interesse<<strong>br</strong> />
particular - Revogada liminar concedida em<<strong>br</strong> />
primeiro grau - Tratando-se <strong>de</strong> lei em vigor (Lei<<strong>br</strong> />
Municipal <strong>de</strong> São Paulo n° 14 223/06), a vedar<<strong>br</strong> />
colocação <strong>de</strong> anúncios, <strong>de</strong> forma indiscriminada,<<strong>br</strong> />
em imóveis públicos e privados, não há como se<<strong>br</strong> />
manter liminar concedida em mandado <strong>de</strong> segurança<<strong>br</strong> />
contra órgão público, sob o fundamento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> impedimento ao livre exercício <strong>de</strong> profissão<<strong>br</strong> />
(“propaganda e marketing”) e outras pon<strong>de</strong>rações,<<strong>br</strong> />
ante o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> policia tocante à Municipalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
(artigos 23, I, 30, I e 182, caput e § 2°,<<strong>br</strong> />
da Constituição Fe<strong>de</strong>ral) e o interesse público<<strong>br</strong> />
a so<strong>br</strong>epor-se ao interesse particular (TJSP, 10ª<<strong>br</strong> />
Câmara <strong>de</strong> Direito Privado, A.I. 623.643-5/5-00,<<strong>br</strong> />
j. em 05/03/07)<<strong>br</strong> />
PUBLICIDADE URBANA - LEI MU-<<strong>br</strong> />
NICIPAL N° 14.223/06 - COMPETÊNCIA<<strong>br</strong> />
DO MUNICÍPIO PARA LEGISLAR SOBRE<<strong>br</strong> />
ASSUNTOS DE INTERESSE LOCAL - CONS-<<strong>br</strong> />
TIITUCIONALIDADE DA LEI. O município<<strong>br</strong> />
não legislou so<strong>br</strong>e propaganda comercial, mas<<strong>br</strong> />
sim regulamentou a publicida<strong>de</strong> urbana, que é<<strong>br</strong> />
assunto <strong>de</strong> interesse local e, portanto, <strong>de</strong> competência<<strong>br</strong> />
do município, nos termos do art. 30,<<strong>br</strong> />
I, da CF. - PUBLICIDADE URBANA - LEI<<strong>br</strong> />
MUNICIPAL N° 14.223/06 - INOCORRÊN-<<strong>br</strong> />
CIA DE VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA<<strong>br</strong> />
LIVRE CONCORRÊNCIA, OU DO LIVRE<<strong>br</strong> />
EXERCÍCIO DA ATIVIDADE ECONÔMICA<<strong>br</strong> />
- INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO A DI-<<strong>br</strong> />
REITO ADQUIRIDO - POSSIBILIDADE DE<<strong>br</strong> />
APLICAÇÃO DA NOVA LEI A RELAÇÕES<<strong>br</strong> />
FIRMADAS ANTES DE SUA ENTRADA<<strong>br</strong> />
EM VIGOR.<<strong>br</strong> />
RECURSO AO QUAL SE NEGA PROVI-<<strong>br</strong> />
MENTO (TJSP, 1ª Câmara <strong>de</strong> Direito Público,<<strong>br</strong> />
Apelação com Revisão n° 714.853.5/1-00, v.u,<<strong>br</strong> />
j. em 12/08/08)<<strong>br</strong> />
Diagnóstico do papel do po<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />
público na poluição <strong>visual</strong>:<<strong>br</strong> />
sugestões <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> da<<strong>br</strong> />
poluição <strong>visual</strong> <strong>pelas</strong> cida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
No <strong>enfrentamento</strong> da poluição <strong>visual</strong> não<<strong>br</strong> />
há dúvidas, a nosso ver, que o mais importante<<strong>br</strong> />
papel é o do município, pois é ali que o indivíduo<<strong>br</strong> />
resi<strong>de</strong>nte e trabalha, entrando em contato com<<strong>br</strong> />
todas as circunstâncias positivas e negativas<<strong>br</strong> />
do meio que o circunda. Portanto, as condições<<strong>br</strong> />
estéticas do meio ambiente são interesses<<strong>br</strong> />
eminentemente locais. Nesse contexto, nada<<strong>br</strong> />
obstante vinculado a diretrizes da legislação<<strong>br</strong> />
fe<strong>de</strong>ral (artigo 21, XX e artigo 24, § 1º), da CF)<<strong>br</strong> />
e, eventualmente, estadual (artigo 24, § 2º) so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
proteção estética e paisagística, às quais não<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>rá contrariar, com base no artigo 30, incisos<<strong>br</strong> />
I, II, VIII e IX, da Carta Magna, o município<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>rá elaborar uma legislação mais restritiva<<strong>br</strong> />
quanto à exploração <strong>de</strong> sua paisagem urbana,<<strong>br</strong> />
para fins publicitários, eleitorais, informativos,<<strong>br</strong> />
culturais etc.<<strong>br</strong> />
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A POLUIÇÃO VISUAL: FORMAS DE ENFRENTAMENTO PELAS CIDADES<<strong>br</strong> />
Consi<strong>de</strong>rando que o artigo 23, inciso VI,<<strong>br</strong> />
da Constituição Fe<strong>de</strong>ral atribui à União, Estados,<<strong>br</strong> />
Distrito Fe<strong>de</strong>ral e Municípios competência comum<<strong>br</strong> />
para “proteger o meio ambiente e combater<<strong>br</strong> />
a poluição em qualquer <strong>de</strong> suas <strong>formas</strong>”, bem<<strong>br</strong> />
como <strong>de</strong>ve proteger as paisagens naturais notáveis<<strong>br</strong> />
(artigo 23, III), o município po<strong>de</strong>rá combater<<strong>br</strong> />
e punir a poluição <strong>visual</strong> utilizando-se, na medida<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> suas competências, todo o arcabouço legislativo<<strong>br</strong> />
que mencionamos em capítulo próprio.<<strong>br</strong> />
Quando não for <strong>de</strong> sua atribuição a aplicação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado diploma legal <strong>de</strong>verá instar o<<strong>br</strong> />
ente fe<strong>de</strong>rativo competente a agir, enviando-lhe<<strong>br</strong> />
representação <strong>de</strong>vidamente instruída com as<<strong>br</strong> />
provas dos fatos ilícitos <strong>de</strong>nunciados.<<strong>br</strong> />
É papel da municipalida<strong>de</strong> disciplinar e<<strong>br</strong> />
fiscalizar a<strong>de</strong>quadamente, diga-se com o rigor<<strong>br</strong> />
que a situação específica mereça, a afixação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
anúncios publicitários em locais como: vias <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
tráfego <strong>de</strong> elevado fluxo; monumentos públicos,<<strong>br</strong> />
bens e locais tombados e suas adjacências;<<strong>br</strong> />
pontes, viadutos e passarelas; árvores das vias<<strong>br</strong> />
públicas; postes, torres ou qualquer estrutura<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>stinada a suportar re<strong>de</strong>s aéreas dos meios <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
comunicação e <strong>de</strong> energia elétrica; cemitérios;<<strong>br</strong> />
proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> semáforos, sempre que possam<<strong>br</strong> />
confundir visão ou interpretação, tudo em conformida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
com o Plano Diretor das cida<strong>de</strong>s e o<<strong>br</strong> />
Código <strong>de</strong> O<strong>br</strong>as.<<strong>br</strong> />
Também não po<strong>de</strong> ser olvidada, pelo Po<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />
Público, a preparação das gerações futuras para<<strong>br</strong> />
lidar com o problema da paisagem <strong>visual</strong> (com<<strong>br</strong> />
atitu<strong>de</strong>s preventivas como educação e repressivas),<<strong>br</strong> />
com a colaboração, ainda que compulsória,<<strong>br</strong> />
dos meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massas, dos educadores,<<strong>br</strong> />
dos intelectuais, das universida<strong>de</strong>s etc.<<strong>br</strong> />
Também <strong>de</strong>verá o Po<strong>de</strong>r Público municipal<<strong>br</strong> />
buscar algum grau <strong>de</strong> consenso em relação à<<strong>br</strong> />
beleza <strong>de</strong> elementos naturais 31 em geral (vegetação,<<strong>br</strong> />
céu, lagos, rios e praias) e até <strong>de</strong> elementos<<strong>br</strong> />
artificiais (monumentos, prédios históricos com<<strong>br</strong> />
características marcantes <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado estilo e<<strong>br</strong> />
fachadas <strong>visual</strong>mente <strong>de</strong>sobstruídas), através <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
audiências públicas por bairros ou regiões, com<<strong>br</strong> />
participação <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> diversos ramos<<strong>br</strong> />
(comissão multidisciplinar), da população e dos<<strong>br</strong> />
comerciantes locais, para somente <strong>de</strong>pois disso<<strong>br</strong> />
se elaborar projetos <strong>de</strong> leis seguindo, em linhas<<strong>br</strong> />
gerais, as conclusões <strong>de</strong>ssas audiências (visa-se<<strong>br</strong> />
eliminar, ao máximo, o grau <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />
o autoritarismo dos agentes públicos).<<strong>br</strong> />
Sendo função do Po<strong>de</strong>r Público zelar pelos<<strong>br</strong> />
interesses da maioria com relação aos da minoria<<strong>br</strong> />
em questões privadas, às quais geralmente<<strong>br</strong> />
ce<strong>de</strong> em razão da pressão <strong>de</strong> grupos influentes<<strong>br</strong> />
e atuantes no espaço da cida<strong>de</strong>, a conclusão<<strong>br</strong> />
é a <strong>de</strong> que o Po<strong>de</strong>r Público tem sido omisso.<<strong>br</strong> />
Importante ferramenta para o combate às omissões<<strong>br</strong> />
dolosas e culposas quanto à fiscalização e<<strong>br</strong> />
combate aos danos ambientais à paisagem urbana<<strong>br</strong> />
é a utilização das punições previstas na Lei <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Improbida<strong>de</strong> Administrativa, que po<strong>de</strong>rá ser<<strong>br</strong> />
utilizada nas ações civis públicas movidas pelo<<strong>br</strong> />
Ministério Público na <strong>de</strong>fesa do meio ambiente<<strong>br</strong> />
artificial e natural.<<strong>br</strong> />
Pensando ter <strong>de</strong>monstrado, com as limitações<<strong>br</strong> />
da singeleza inicialmente proposta, as<<strong>br</strong> />
principais causas da poluição <strong>visual</strong>, seus efeitos<<strong>br</strong> />
e <strong>formas</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>, especialmente<<strong>br</strong> />
pelos municípios, que <strong>de</strong>tém po<strong>de</strong>r fiscalizador<<strong>br</strong> />
concorrente com os <strong>de</strong>mais entes fe<strong>de</strong>rativos e<<strong>br</strong> />
competência legislativa concorrente em virtu<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
do interesse eminentemente local, resta aos<<strong>br</strong> />
mem<strong>br</strong>os e servidores do Po<strong>de</strong>r Público Municipal<<strong>br</strong> />
lançarem mão do instrumental jurídico<<strong>br</strong> />
aqui mencionado e, se necessário, criar outros<<strong>br</strong> />
para implementarem a efetiva <strong>de</strong>fesa do meio<<strong>br</strong> />
ambiental cultural e artificial.<<strong>br</strong> />
Nesse diapasão, vale transcrever as<<strong>br</strong> />
valiosas observações <strong>de</strong> Ignez Conceição Ninni<<strong>br</strong> />
Ramos e <strong>de</strong> José Afonso da Silva, na or<strong>de</strong>m a<<strong>br</strong> />
seguir transcritas:<<strong>br</strong> />
Não há legislação no mundo que possa<<strong>br</strong> />
compensar a falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> política.<<strong>br</strong> />
Enquanto a poluição <strong>visual</strong> for tratada<<strong>br</strong> />
como a paciente que ainda não inspira<<strong>br</strong> />
cuidados, a paisagem urbana continuará<<strong>br</strong> />
sofrendo <strong>de</strong> doença terminal. Retar-<<strong>br</strong> />
31<<strong>br</strong> />
MINAMI, Issao; GUIMARÃES, João Lopes Júnior. A importância da Paisagem. Disponível em . Acesso em: 09 mai. 2003<<strong>br</strong> />
Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009<<strong>br</strong> />
77
CASTANHEIRO, I. C.<<strong>br</strong> />
dar o tratamento po<strong>de</strong>rá inviabilizar a<<strong>br</strong> />
cura 32<<strong>br</strong> />
“Uma cida<strong>de</strong> não é um ambiente <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
negócios, um simples mercado on<strong>de</strong> até<<strong>br</strong> />
a paisagem é objeto <strong>de</strong> interesses econômicos<<strong>br</strong> />
lucrativos, mas é, so<strong>br</strong>etudo,<<strong>br</strong> />
um ambiente <strong>de</strong> vida humana, no qual<<strong>br</strong> />
se projetam valores espirituais perenes,<<strong>br</strong> />
que revelam às gerações porvindouras<<strong>br</strong> />
a sua memória”. 33<<strong>br</strong> />
Assim, espera-se <strong>de</strong> todos os operadores<<strong>br</strong> />
do Direito e dos agentes públicos, especialmente<<strong>br</strong> />
aqueles atuantes na área urbanística e<<strong>br</strong> />
na ambiental, que lancem mão do seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
petição e/ou dos instrumentos jurídicos disponíveis,<<strong>br</strong> />
promovendo as ações administrativas<<strong>br</strong> />
cabíveis, representações e/ou recomendações<<strong>br</strong> />
à(s) autorida<strong>de</strong>(s) competente(s), para que sejam<<strong>br</strong> />
tomadas as medidas apropriadas em prol da<<strong>br</strong> />
paisagem urbana, propiciando melhores condições<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> bem-estar aos habitantes<<strong>br</strong> />
das cida<strong>de</strong>s, que segundo o IBGE são cerca <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
82% da população <strong>br</strong>asileira. Diante <strong>de</strong>ssa provocação,<<strong>br</strong> />
a continuida<strong>de</strong> da omissão por parte<<strong>br</strong> />
da(s) Autorida<strong>de</strong>(s) po<strong>de</strong>rá caracterizar ato <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
improbida<strong>de</strong> administrativa (artigo 11, incisos I<<strong>br</strong> />
e II, da Lei nº 8.429/92).<<strong>br</strong> />
32<<strong>br</strong> />
RAMOS, Ignez Conceição Nini. Poluição Visual. Disponível em . Acesso em: 09 mai.<<strong>br</strong> />
2003<<strong>br</strong> />
33<<strong>br</strong> />
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo, Malheiros, 1997, p 274<<strong>br</strong> />
78 Revista Internacional <strong>de</strong> Direito e Cidadania, n. 4, p. 63-78, junho/2009