Folha de Jacarandá - Ano XIX - n.15 - 2015

TROCANDO IDEIAS
“Eu acho que nós bois, assim como os cachorros, as
pedras, as árvores, somos pessoas soltas, com beiradas,
começo e fim. O homem, não: o homem pode se ajuntar
com as coisas, se encostar nelas, crescer, mudar de
forma e de jeito… o homem tem partes mágicas… são as
mãos… eu sei”.
Conversa com bois – Guimarães Rosa
Ah, as mãos. Elas que nos apresenta o desconhecido, que nos
faz sentir as maiores e melhores sensações, nos torna artistas,
se grande nos remete a infância, se pequeno nos faz acreditar
que somos capazes e que o mundo pode e deve ser mágico.
Não é de hoje que apoiamos o uso das mãos na rotina
do pequeno, lembro quando ainda estávamos grávidos, e
pensávamos na introdução alimentar, optamos pelo BLW
(Baby Led Weaning), é lindo presenciar o bebê se alimentando
sozinho, sentindo a textura de cada alimento, levando com as
próprias mãos a manga até a boca, rindo alto cada vez que a
manga escapa da mão e cai na cadeira, no chão, na mesa...
Foi na introdução alimentar de Felipe que passamos a valorizar
ainda mais a sensação de utilizar a mão no novo.
E a primeira vez na praia? A mão cheia de areia que
rapidamente levada à boca faz a criança sentir o gostinho do
mar.
Depois que passamos a vivenciar esse mundo, pudemos
perceber que a busca por atividades lúdicas com o uso das
mãos é grande e a oferta nem se fala. Oficinas de culinária,
oficinas de sensações, ateliê de artes, fábrica de brinquedos...
Isso é ótimo. Mas o dito “mãos na massa” pode e deve ser
praticado no ambiente da criança, na cozinha, no quarto,
na sala, na hora do banho... E você não precisa ser nenhum
artista para fazer isso acontecer, concorda?
Por mais que a primeira cena que lhe venha à cabeça seja a
da criança riscando o sofá, as paredes, pintado às louças, os
cachorros e etc, ao limitar esse tipo de experiência também
perde-se a oportunidade de ensinar a criança as noções de
limites de tempo e espaço.
Já pensou o quanto pode ser prazeroso a construção de um
brinquedo em família? Aquela velha caixa de papelão que iria
para o lixo, pode virar um carrinho, um pebolim, um violão ou
simplesmente um objeto para criança pintar e explorar.
Que tal inserir nos afazeres da semana, um dia de culinária?
Eles curtem muito! Aqui, uma vez por semana Felipe fica
responsável por fazer o pão, o bolo ou a carne moída. Sim,
tudo isso com a mão na massa, mãos para fazer bolinhas,
mãos para temperar e mãos para misturar os ingredientes
do bolo. São nessas brincadeiras que as crianças passam a
conviver com o “proibido” e entender o motivo pelo qual eles
ainda não podem manusear a faca, ligar o fogão ou brincar
com copos de vidro. E enquanto a comida está no
forno/fogo, você pode puxar um banquinho e chamá-lo para
ajudar na louça. Criança adora a combinação: água x sabão x
esponja.
Penso que não precisamos de muito para fazer isso acontecer.
As possibilidades são infinitas. Massinhas caseiras, pintura
com as mãos, brinquedos fabricados, plantar mudinhas, cobrir
objetos com adesivos, arrumar o guarda roupa. E quanto ao
espaço? Pode ser ali, aqui ou lá. Você não precisa morar em
uma casa com quintal e área verde, o “ateliê temporário” pode
ser montando no meio da sua sala, acredite.
A criança conseguirá desenvolver o passo a passo da
brincadeira, sem necessariamente ser guiado por um adulto
em tudo que for explorar. Guarde os objetos ao alcance de
suas mãos.
Proporcione a liberdade do criar e deixe a criança ser o agente
da atividade desenvolvida, imaginando, fantasiando e vivendo
a realidade, construindo diversas interpretações para um
mesmo ato, desenvolvendo o lado motor, cognitivo e afetivo e
consequentemente conhecendo o limite de suas mãos.
O retorno é extremamente gratificante. Quadros pintados,
cheiro de tinta pela casa, carrinhos de papelão, aquele bolo
fresquinho feito pelo filho, pinturas nos azulejos do banheiro,
coleção de aventais, e uma criança que adora colocar a mão
na massa.
Isso só despertou ainda mais a vontade de marcar um encontro
de pais e filhos com a mão na massa? Topam?
Depoimento: Renata Pereira
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