OBSERVATORIO DO ANALISTA EM REVISTA - 4 EDICAO

Renda-se. Entregue-se ao desconhecido
ferida
O silêncio na música, a pausa, é um
momento poderoso, dizem os apreciadores
com ouvido mais refinado.
Infelizmente, e para constrangimento
de alguns refinados, meu ouvido
cheio de zumbidos e ecos de outras
vozes não alcança o poder desse
silêncio que "emoldura e valoriza a
música" (Alcides Lisboa).
E o que dizer da ausência em uma
imagem, do espaço vazio? Se uma
imagem vale mil palavras, sua
ausência teria valor? Somos capazes
de atribuir sentido a um espaço em
branco?
A obra ferida ou como eliminar
alguém da sua vida, de Rafael
Fernandes, criada entre 201 0 e
2011 , foi exposta no Palácio das
Artes, Belo Horizonte, em junho e
julho de 201 2, na mostra fotográfica
segue-se ver o que quisesse.
A série mostra nove fotografias de
um casamento - com data impressa
de out/82. São fotos tradicionais da
cerimônia religiosa, feitas dentro de
uma igreja decorada com flores e
fitas. Na parede do fundo, onde se
imagina o altar, alguns quadros com
imagens abstratas. Não há quadros
e estátuas de santos, sugerindo não
se tratar de uma igreja católica.
Reforçando essa impressão, a cerimônia
é realizada por dois homens
vestidos com terno e gravata, não se
vê um padre com batina.
As fotografias mostram os noivos
entrando na igreja, os ritos do
casamento e a saída. Também
aparecem convidados nos bancos de
madeira, distribuídos em duas
fileiras, separadas por um corredor
central.
São fotos em cores, mas tem
aparência envelhecida, desbotadas e
sem brilho. As imagens não indicam