V - Jornal de Leiria

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| V | I | V | E | R | 2 | JORNAL DE LEIRIA | 5 DE JULHO DE 2007 Abertura A palavra como arma Hip hop é a gasosa que me faz andar É o sol lá em cima à noite é o meu luar É a razão yo de eu estarmos aqui Hip hop é usar um nome que não estava no B.I. Vestir XL usar chapéus ao contrário Hip Hop é usar palavras que não vêm no dicionário É acordar às tantas para fazer um ganda beat É copiar os passos de dança do Beat Street Dizer o que mais ninguém diz É não ter dinheiro mas mesmo assim ser feliz É ouvir um som e ficar tipo em transe É uma definição que não está bem ao nosso alcance É passar numa rua e deixar lá um tag Hip hop é desafiar o MC que se segue É modo de vida, modo de ser, modo de estar Hip hop é o que sou e o que sou vou continuar... Boss AC, Sou eu e és tu Textos: Jacinto Silva Duro Fotografias: Ricardo Graça Rico em mensagens interventivas, opiniões, poemas, desabafos líricos, poemas e poesia pura, o hip-hop é um estilo muitas vezes incompreendido, mas que tem, em Leiria vários talentos prometedores que pretendem transformar a região num dos principais pólos de criação musical. O primeiro passo foi o 4 Vertentes. Na sexta-feira, o auditório da delegação de Leiria do Instituto Português da Juventude (IPJ) acolheu um festival apoiado pelo JORNAL DE LEIRIA cujo objectivo era dar a conhecer os artistas locais e as quatro componentes do hip-hop: Dj, MC, graffit e breakdance. Ser artista do hip-hop é como diz o rapper português Boss AC, na sua canção Sou eu e és tu: “Breakdance, Graffiti, DJ, MC, Beatbox; streetwear, rimar no m.i.c.; A discoteca a deitar por fora, o people com as mãos no ar; O DJ a mixar a pôr a tropa a dançar.” Este estilo musical que nasceu nos ghettos negros norteamericanos como forma de contestação, nos anos 70, do século XX, usa a palavra para de chamar a atenção para problemas sociais, pobreza, droga ou criminalidade. Mas também pode ser uma porta para a alma do rapper, poeta urbano, muitas vezes incompreendido e maldito. “O hip-hop tem sido mediatizado da forma mais errada. As pessoas que estão fora do contexto e que não percebam nada do assunto, tomam contacto com os rappers da MTV, com os carros, com as morenas, as jóias, canções de amor que mais se assemelham a assédio sexual, e com as armas. Automaticamente vão associar o estilo a algo violento e superficial e não a mensagens interventivas, opiniões, poemas, desabafos líricos, poemas e poesia pura. É a primeira impressão e é essa que fica”, diz XL um dos rappers que organizou o 4 Vertentes. CONTESTAÇÃO AO VIETNAME Um dos elementos do hip- -hop é o breakdance, dança de estilo livre que nasceu nos Estados Unidos, nos anos 70, como contestação à guerra do Vietname. Um dos movimentos mais conhecidos, por exemplo, passa por fazer o pino e simultaneamente rodopiar sobre a cabeça, com as pernas estendidas, mimetizando os helicópteros, muito utilizados nesse conflito. Já o rapper é o músico que funde a figura do Dj (Disc-jokey, aquele que passa os discos), com a do Mc (mestre de cerimónias). É um poeta urbano atento aos temas actuais. A maior parte das pessoas associa o graffiti a um qualquer risco na parede da cidade, com um nome, declaração de amor a uma Maria ou Joana, ou insultos à virtude da mãe de alguém. Mas tudo isso não passa de riscos sem nexo. “O graffiti é uma expressão de arte urbana muito complexa, executada por artistas talentosos”, explica XL. É a arte do writter de dominar a lata, com uma única oportunidade de riscar a tela - a parede urbana, sem erros, sem defeitos. A MINHA POESIA É O MEU ESPELHO Jóni Silva ou XL (gosta de roupas largas), descobriu o hip- -hop em 2000. “Na sua essência mais pura, sem a moda”. Interessou-se pelo estilo e decidiu seguir a sua vocação de rapper. O esforço compensou e actualmente, com apenas 20 anos, é o único artista de Leiria a ter trabalhos publicados. “Tive sorte”, diz. Um convite para o festival Hip-hop stars 2005, catapultou-o para o palco ao lado de nomes sonantes do hip-hop como Sam the Kid, Nell Assassin ou Chullge. Neste momento, afirma, tem seis álbuns prontos na gaveta e prepara-se para editar o seu terceiro disco. “A minha poesia é o meu espelho. Sou igual a mim mesmo, não invento nada. Uso a minha imaginação para usar recursos estilísticos” tal como acontece com outros rappers, o que conta é a personalidade.” Na escola, umas das suas disciplinas favoritas era o Português. Adora a maneira como se podem construir imagens baseadas na palavra. Na poesia. Acima de tudo, considera-se um rapper, poeta moderno, descodificador das mensagens de outros poetas urbanos. A inspiração no hip-hop vem do âmago do rapper. Este fala de temas pessoais, desabafos, opiniões e sugestões para soluções dos problemas da sociedade. Aos jovens, XL deixa um conselho: “nunca ponham a car- Sugestões de bons sons: RAPPERS NACIONAIS Valete; Dilema, Chullge, Bob The Ray Chance, Royalistic RAPPERS AMERICANOS Mos def Talib Quali Ness RAPPERS ESPANHOIS Nach Scratch Falso Alarma Jeff Dealema RAPPERS FRANCESES Cinic Hit Bacardi NTM AM
4 vertentes Refrão Tenho quatro vertentes, mas tenho um só nome, Sou um movimento urbano que se chama hip-hop, Breakdance, graffiti, Dj e Mc, Mantenham-me puro porque foi assim que nasci. roça à frente dos bois. Tentem fazer algo bem recheado. Não apostem em coisas vazias de significado.” O Mc aposta no freestyle e no punch-line, onde se tenta colocar acima do adversário. Um pouco como fazia o rapper branco norte-americano Emminem no filme 8 mile, baseado em episódios da sua vida. O punch-line pode ser dirigido a alguém ou ser usado para se auto-promover. Existe ainda o beef, espécie de arma de arremesso onde o Mc envia “recados” a outros “Mestres de cerimónia”. Normalmente, tratam- -se de trabalhos gravados e publicados. A resposta não tarda. Movimento hip-hop Mc Breakdance Dj Graffiti “Mestre de cerimónias”, mais conhecido por rapper Única dança do movimento hip- -hop. Os dançarinos são denominados B-Boys ou B-Girls Leiria capital do hip-hop Disc-jokey. Domina técnicas como o scratch e beatjugglin, assim como a produção dos instrumentais (beats) Com o apoio do JOR- NAL DE LEIRIA, 94FM, Instituto das Drogas e Toxicodependência, Tribos Urbanas, Just Tatoos, Omni e IPJ, o 4 Vertentes subiu ao palco do IPJ, na sexta-feira, pouco passava das 21:30 horas, com lotação esgotada. O evento tinha como objectivo colocar em evidência as quatro vertentes do hip-hop. Imaginado pelas cabeças de quatro Mcs: os “Mestres de cerimónia” Dark, Friman, MDS e XL. Tudo começou com a ideia de Friman de realizar um concerto intimista e reservado no auditório da delegação de Leiria do IPJ. A ideia amadureceu e evoluiu para um espectáculo mais sério, que colocou em evidência os vários nomes do hip-hop de Leiria. “Queremos ser um dos principais centros de divulgação do estilo em Portugal, depois de Lisboa, Porto e Quarteira. Temos artistas com consistência e qualidade em Leiria”, explica XL. Um crescendo que MDS considera positivo e merecedor de apoio. Razão pela qual os quatro artistas resolveram juntar o útil ao agradável no 4 Vertentes. Agarraram a oportunidade de mostrar que o hip-hop, não corresponde às danças de ginásio, ou à música que se escuta na série juvenil Morangos com açúcar. “Já ouvi chamar banda de hip-hop aos D'zert”, ironiza o rapper XL. Dada a quantidade de pessoas que encheram o auditório do IPJ e a qualidade dos Djs, Mcs, B- boys, B-girls e writters, agora a aposta da organização é conseguir transformar o 4 Vertentes num festival anual. Desta vez, ao ar livre, com edição de DVDs e Cds com os temas escutados no evento. Componente artística visual do movimentio hip- -hop. Os graffiti não são qualquer rabisco, fruto do spray de uma lata de tinta, mas sim de uma criação complexa que é considerada arte Vim dos bairros mais duros, mais fodidos e brutos, Nos Estados Unidos comecei a dar os meus frutos, Anos 70, século vinte, em plena esquina, Juntei toda a vontade de intervir numa batida. Sou a denúncia dos podres da sociedade, Sou o sindicato das classes mais baixas da cidade, Tenho quatro formas diferentes para me expressar, 4 soldados competentes com quem posso batalhar. Writer, desenhador urbano, dá a vida a paredes mortas, Faz da cidade a galeria das suas obras, Van Gogh dos nossos tempos, no cimento ataca, Perseguido por trocar o pincel por lata. Mc, sentinela urbano, contador de histórias, Batalhas verbais com derrotas e vitórias, Rei do vocabulário, discursa para massas, Interventivo pensador, descobridor de farsas. B-Boy, ginasta urbano, proezas mortais, Mestre de todos os movimentos corporais, Mente sã em corpo são, breakdance na área, Exercício físico numa competição diária. Dj, rei das batidas urbanas, Põe o vinil no play para a cabeça que abanas, Movimenta multidões, Scratch em 33-45 rotações. XL (Tema criado para o Festival 4 Vertentes e que explica a essência do hip-hop) JORNAL DE LEIRIA | 5 DE JULHO DE 2007 | V | I | V | E | R | 3 |
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