10compreen<strong>de</strong>r um pouco mais do funcionamento discursivo, dos processos <strong>de</strong> significação e<strong>de</strong>sdobramentos do tema tratado neste espaço.Há pouca compreensão sobre como é construído o imaginário que atravessadiscursos sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> indígena na escola, tanto no discurso do professor como dosautores do livro didático. Outra questão a ser tematizada é o fato <strong>de</strong> que os livros didáticosomitem a presença <strong>de</strong> uma das principais etnias que compõe o povo brasileiro. Há umprocesso <strong>de</strong> negação, <strong>de</strong> silenciamento da voz indígena nestes materiais e pesquisas sobre estaquestão são necessárias, uma vez que muitos pesquisadores (apenas para exemplificar alguns<strong>de</strong>les: C. M. F. Bittencourt, B. Freitag, V. R. Motta; W. F. Costa, etc.) apontam o livrodidático como uma das principais ferramentas <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> muitos professores <strong>de</strong>ste país.Também Oliveira (2003, p. 25) alerta:[...] o “índio” é mostrado através <strong>de</strong> ampla varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> artefatos,constituída por jornais, revistas, livros didáticos, programas <strong>de</strong>televisão, selos e cartões postais etc., e os discursos que circulamnessas produções se tramam numa re<strong>de</strong>, inventando conceitos,produzindo i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Já convém marcar a presença <strong>de</strong> estratégiaspedagógicas perpassando os discursos que circulam nesses artefatos,que não po<strong>de</strong>m ser tomados como “inocentes” ou banais.Essa mesma autora, apoiada em Foucault (1979), diz que os conceitos articuladosnessas produções resultam <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> práticas discursivas estabelecidas socialmentee, portanto, a partir <strong>de</strong> “relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r” que, por sua vez, possibilitam a quem tem maisforça (força essa representada através das mais variadas formas e sentidos) atribuir aos“outros” seus significados. Sendo a escola um dos espaços institucionalmente autorizado para<strong>de</strong>bater o assunto, quais discursos lá circulam sobre o índio? Quais “olhares” as disciplinas <strong>de</strong>Língua Portuguesa, <strong>de</strong> História e Geografia do Ensino Fundamental lançam quando abordama questão?Na perspectiva da Língua Portuguesa, <strong>de</strong> acordo com a análise <strong>de</strong> Coelho (2003,p. 91 et seq.), na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX o Brasil per<strong>de</strong>u oportunida<strong>de</strong>s quando
11reivindicava autonomia para o português do Brasil porque os métodos empregados nas<strong>de</strong>scrições do léxico brasileiro foram ina<strong>de</strong>quados, apesar <strong>de</strong> o momento histórico seroportuno para tal solicitação. Seus estudos exemplificam que na história da produção doconhecimento lingüístico <strong>de</strong>ve-se levar em conta diferentes dimensões dos processos <strong>de</strong>produção do conhecimento (a dos temas, a dos sujeitos, a dimensão cronológica, a dametalinguagem entre outras). Seu corpus <strong>de</strong> análise se compôs <strong>de</strong> dicionários e trechos <strong>de</strong>artigos publicados entre os anos 1852 a 1890 e seus estudos <strong>de</strong>monstram que nem sempre aquestão indígena foi insignificante para o discurso lingüístico.Quero registrar, com este comentário, que quando há interesses políticos por partedos programas do Governo ligados ao tema, estes estudos ganham importância. O contráriotambém é verda<strong>de</strong>iro. Atualmente, as poucas discussões limitam-se às questões legais sobreterritórios e alguns estudos sobre línguas basicamente, esquecendo-se <strong>de</strong> toda umaconstituição i<strong>de</strong>ntitária <strong>de</strong> um povo.A leitura do artigo <strong>de</strong> Gualberto e Almeida (2003) referindo-se aos seus estudossobre os mitopônimos (topônimos relativos às entida<strong>de</strong>s mitológicas) mostrou como os nomes<strong>de</strong> lugares possibilitam a compreensão e interpretação <strong>de</strong> costumes, tradições e crenças <strong>de</strong> umpovo. Conheci, através da pesquisa <strong>de</strong>stas autoras, alguns significados da nomenclatura <strong>de</strong>localida<strong>de</strong>s em torno da escola on<strong>de</strong> atuo. Percebi que não há questionamentos, estudos oucuriosida<strong>de</strong> sobre o que nos ro<strong>de</strong>ia, mas já se tornou natural (por esquecimento, apagamento)o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> tradições populares tão ricas da cultura local. Assim como quaseninguém sabe sobre sua história local (topônimos, festas como a do boi-<strong>de</strong>-mamão, artesanato<strong>de</strong> palha e renda, lendas típicas etc.), também <strong>de</strong>sconhecem e não questionam <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem acultura que se está adotando (oriunda do mo<strong>de</strong>lo capitalista, do marketing, da tv em suamaioria). Não cabe aqui fazer julgamentos, mas o que se vê é um crescente apagamento dai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local provocado pelo comercial e, muitas vezes, reforçado pelos discursos <strong>de</strong> quem
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